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Trabalho de Filosofia Contemporânea I

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
TRABALHO FINAL
HISTÓRIA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA I
Professora: Regina Schöpke
Aluna: Cristiane Ferreira Verdugal
 Matrícula: 201610619011
DEUS, HOMEM E NATUREZA EM SPINOZA
 A filosofia é herdeira dos pré-socráticos, personalidades de filósofos que ajudaram a enxergar o mundo através de novas perspectivas, no surgimento da filosofia a palavra deixa o campo da enunciação e vai para o campo do diálogo, atuando como força de resistência à tirania e ao despotismo.
 A tese do Devir Universal, trazida por Heráclito (cerca de 540-480 a.C.) da cidade de Éfeso na costa da Lídia ,um pré-socrático, que veio de uma família aristocrática, era contrário aos princípios democráticos, nos lembra de que nada existe estável e definitivo na natureza, tudo se encontra em contínua mudança, assim não é possível entrar duas vezes no mesmo rio, pois nós e o rio não seremos mais os mesmos, dessa forma, Heráclito nos mostra que tudo flui, entretanto, quando no percurso filosófico, chegamos a Sócrates, através dos textos de Platão, há uma combinação, entre a filosofia dos seus antecessores Parmênides e Heráclito. Parmênides (cerca de 515-450 a. C.) que sustentava a prevalência da razão na interpretação do mundo e negava a veracidade da interpretação sensível, onde considerava um erro deixar-se enganar pelos sentidos e considerar a realidade em devir, contrapondo a filosofia nômade do Devir de Heráclito. 
 Platão (428-347 a.C.) de Atenas, nos diz através de Sócrates (470-399 a.C.), que o mundo está em devir, porém, que o Ser está fora do mundo, a forma Homem não tem nenhuma transformação, o que se transforma é a matéria que se deteriora, para Platão, todo o conhecimento seria uma reminiscência, anamnese em Grego, todo conhecimento adquirido seria uma recordação , um modo de rememorar o que está nas formas puras, entretanto, no plano da matéria, as formas atuam como limite que quando em seu início estão mais próximas ao mundo das ideias e com o passar do tempo vão se afastando desse estado ideal.
 Prosseguindo no tempo Cronos, considerando todas as importantes influencias dos pensadores citados, em Spinoza (1632-1677) nascido em Amsterdã, filho de rica família judaica refugiou-se na Holanda para escapar a perseguição da Inquisição, nele, vemos como caminho para o homem, o reencontro com a natureza e o fluxo do eterno movimento que está vibrante em toda parte.
 Em Spinoza, desde o início de sua filosofia, tem como princípio, o interesse ético na construção do pensamento, além disso, no tocante ao homem como modo de ser finito de uma substância infinita, afirma que o “conhecimento da união que a mente tem com a natureza inteira”¹, partilhamos desse conhecimento, o homem integrado, sendo efetivamente natureza, Deus ou Natureza, ”Deus sive natura”. O homem é um modo finito do próprio modo de existir infinito que é Deus, a Substância, a Causa Primeira, Causa Sui causa de Si mesmo, A potência produtiva, Deus possui atributos infinitos e os seres humanos possuem como atributos, pensamento e extensão, os animais são modos de Deus, nós somos parte, também modos Dele, da própria Natureza Divina que age por pura necessidade da sua natureza, assim como nós, e retornamos à vida em sua produção, que se faz e refaz, sendo esse o Eterno Retorno, como Nietzsche ( Alemanha 1844 – 1900) nos descreve. O panteísmo filosófico de Spinoza , onde conhecer a si mesmo é conhecer Deus, diferentemente do Criador transcendente do cristianismo, quando Sócrates aparece no cenário Ateniense com a perspectiva do mundo das ideias e com a sua metafísica, institui uma visão da transcendência no homem, que mais tarde seria apropriada e adaptada para o universo cristão que traz uma tradição de sistemas fechados, sua hierarquia e seus dogmas, atuando como elemento despotencializador e limitador da liberdade humana, prendendo o homem em sua teia de hábitos e obediência.
 Conhecendo-nos, somos munidos por ideias , conhece-te a ti mesmo, é Socrático, mas conhecer a natureza, é conhecermo-nos, esse conhecimento nos leva a ideias adequadas que nos aproximam cada vez mais do nosso autogoverno, como senhores de nós mesmos, aumentando também a nossa alegria e potencializando-nos para agir, fortalecendo-nos para a conquista da liberdade, que nunca nos é concedida a priori, para Spinoza o homem não nasce livre, a liberdade é uma conquista, dessa forma, ele se opõe a metafísica tradicional e a crença no livre arbítrio, crença essa, que confere ao homem a ideia de domínio de suas ações e paixões e dessa forma possibilitaria não sofrer os efeitos das leis causais pelas quais somos afetados, assim como todas as coisas naturais. Ao criarem ideias falsas que impedem a subordinação às leis da Natureza, elas trazem a censura e o desprezo pela natureza humana, que tornam a moral,um composto 
(¹ Citação encontrada no livro Os Filósofos Clássicos da Filosofia que foi reproduzida do §1 do Tratado da Reforma do Entendimento).
 de noções de obrigação, castigo, recompensa e culpa, justamente o oposto das ideias adequadas que nos libertam.
 O movimento da vida que eleva a nossa potência de ser, ou o nosso conatus, através dos bons encontros que nos trazem a alegria que se expressa no florir do vegetal, no brincar do animal, assim como no da criança e no homem (humano) adulto, sendo mais do que um grande contentamento, sendo também, força. Em direção oposta, temos o que nos despotencializa e nos rouba de nós mesmos, nos entristecendo, são os maus encontros, nas palavras de Gilles Deleuze (Paris, 1925 – 1995) quando discorre a respeito do papel da consciência para Spinoza, ele nos diz: “...E isso porque a consciência é naturalmente o lugar de uma ilusão. A sua natureza é tal que ela recolhe efeitos, mas ignora as causas” e ainda: “...como seres conscientes, recolhemos apenas os efeitos dessas composições, sentimos alegria quando um corpo se encontra com o nosso e com ele se compõe quando uma ideia se encontra com a nossa alma e com ela se compõe inversamente, sentimos tristeza quando um corpo ou uma ideia ameaçam a nossa própria coerência”. 
 A nossa vida vai depender da natureza do conhecimento que adquirimos e dos afetos que nos compõe. O conhecimento vindo da imaginação nos ilude sobre a nossa real situação como seres da Natureza causando paixões violentas que são além de instáveis, alienantes e que nos expõe as coisas exteriores. O conhecimento intelectual, entretanto, nos possibilita afetos ativos que moderam a força das paixões e nos conduz a beatitude, o autêntico contentamento interior e nos leva ao amor intelectual por Deus.
 Spinoza também é contrário à ideia de uma primazia da alma em relação ao corpo, em que o corpo deve padecer para que a alma se eleve, essa visão tem suas origens no platonismo, e em muitas tradições continua vigente até os dias atuais. Na tese espinozista denominada paralelismo demonstrada em sua obra Ética, nos é revelado que o que é ação na alma, é também necessariamente, ação no corpo, pois não conhecemos a nossa alma, portanto, não há superioridade de um em relação ao outro, assim como não sabemos o que pode a alma, não sabemos o que pode um corpo.
 Concluindo, a nossa despretensiosa reflexão acerca de certos aspectos do pensamento de Spinoza, venho de forma sintética a reafirmar que somos modos finitos de uma substância infinita, portanto não nos encontramos separados de Deus, que embora não seja o Deus tradicional Criador, e sim Deus como Natureza, está constantemente criando, devo aqui relembrar a importância da alegria em nossas vidas, alegria essa que se produz através de bons encontros e que nos potencializam para agir.
 Lembrando ainda, que devido a fatores como alegria e conhecimento, e que conhecer a nós mesmos é também conhecer a Deus e esse processo nos conduz a verdadeira liberdade, portanto a felicidade real.
 Como humanos, desejamos a felicidade e a liberdadecomo bens a serem conquistados através de uma vida composta de bons encontros que elevarão o nosso conatus, ou a nossa potência de ser.
 Não estamos separados, apartados uns dos outros ou de Deus, um animal ou uma criança são tão unos com a natureza quanto um ser humano adulto, portanto o que afeta a vida desses seres, afeta de alguma forma a vida de todos os demais, não sendo o homem, o ente mais elevado dentro da nossa nave terra, portanto devemos repensar o nosso lugar no mundo e a nossa relação com tudo o que nos cerca e do qual nós somos também parte.
 
BIBLIOGRAFIA
1. Schöpke, Regina. Alegria A Verdadeira Resistência. Confraria do Vento.
2. Gleizer, Marcos André. Metafísica e Conhecimento ensaios sobre Descartes e Espinosa. EdUerj.
3. Pecoraro, Rossano. Os Filósofos Clássicos da Filosofia de Sócrates a Rousseau. Editora Vozes.
4. Nicola, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filosofia Das origens à idade moderna. Editora Globo.
5. Deleuze, Gilles. Espinosa Filosofia Prática. Editora Escuta.

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