Buscar

Prévia do material em texto

ABORDAGENS EM PACIENTES COM COMPROMETIMENTO SISTÊMICO – Módulo 2. 
DISTÚRBIOS CARDIOVASCULARES 
Hipertensão 
A hipertensão leve/estágio 1 (pressão arterial sistólica menor que 160 mmHg 
ou diastólica menor que 100 mmHg – paciente ASA II) geralmente não limita a 
realização da cirurgia bucal, tanto eletiva quanto de urgência. O manejo 
deste paciente inclui o uso de um protocolo de redução de ansiedade e o 
monitoramento dos sinais vitais. 
1. Aferir a PA antes do procedimento. 
2. Aferir novamente 5 minutos após a injeção anestésica (que não poderá 
ultrapassar a dose de 0,04 mg de adrenalina/consulta). 
3. Senão houver alteração da PA, poderemos dar continuidade ao 
procedimento. 
No caso de pacientes com hipertensão moderada/estágio 2 (pressão arterial 
sistólica menor que 180 mmHg e diastólica menor que 110 mmHg – paciente 
ASA III), a cirurgia eletiva (remoção cirúrgica de terceiro molar) só deverá ser 
realizada após a consulta com médico de referência. Assim, o controle da 
pressão arterial pode ser feito e o paciente classificado como ASA III poderá 
ser classificado como ASA II. Nos casos de cirurgia de urgência (extração por 
dor), a cirurgia poderá ser realizada, mas com maior cautela, seguindo o 
monitoramento descrito no quadro acima e o protocolo de controle de 
ansiedade. 
A cirurgia bucal eletiva em pacientes com hipertensão grave/estágio 3 
(pressão arterial sistólica maior que 180 mmHg e a diastólica maior que 110 
mmHg) deve ser adiada até que a pressão esteja controlada. Uma cirurgia 
bucal de emergência em pacientes hipertensos graves deve ser realizada em 
um ambiente muito bem controlado ou em um hospital, para permitir que o 
paciente seja cuidadosamente monitorado durante a intervenção. 
O QUE É UM PROTOCOLO DE REDUÇÃO DE ANSIEDADE? 
Série de ações que propicie acolhimento ao paciente. Um ambiente tranquilo, 
onde o paciente se sinta à vontade, uma conversa calma e esclarecedora, 
anestesia local realizada de forma cautelosa e criação de vínculo com o 
paciente são alguns exemplos. 
Em casos extemos, pode-se fazer o uso de medicações ansiolíticas (Midazolam 
e Diazepam). 
Em casos de pacientes com hipertensão leve ou moderada, muitas vezes, não 
há contraindicação do uso de vasoconstritores e sim, indicação de redução 
de vasoconstritor e realização de protocolo de ansiedade. 
POR QUÊ? A liberação de adrenalina endógena do paciente causada pela 
ansiedade e pela sensação de dor é extremamente danosa nestes casos e 
muito mais prejudicial para o paciente que a utilização reduzida de 
vasoconstritor. 
Utilizar a dose de 0,04 mg de adrenalina/consulta é seguro e permite analgesia 
adequada para que o paciente não libere quantidades elevadas de 
adrenalina endógena. 
Disritmias 
A disritmia é qualquer alteração do ritmo cardíaco e/ou da frequência 
cardíaca. Pacientes que são propensos a sofrerem ou sofrem de disritmias 
cardíacas geralmente possuem história de doença cardíaca isquêmica e 
necessitam de modificações no protocolo de tratamento odontológico. 
Limitar a dose de adrenalina por consulta a 0,04 mg é uma das medidas: 
4,4 tubetes com adrenalina 1:200.000 
2,2 tubetes com adrenalina 1:100.000 
1 tubete com adrenalina 1:50.000 
Além disso, esses pacientes podem fazer uso de anticoagulantes ou serem 
portadores de um marcapasso cardíaco permanente. 
Os marcapassos não são contraindicações para a cirurgia bucal e não 
existem evidências que demonstrem a necessidade de profilaxia antibiótica 
em pacientes portadores de marcapasso. Equipamentos elétricos, como bisturi 
elétrico ou os que emanam micro-ondas não devem ser utilizados próximos do 
paciente ou devem ser reprogramados previamente. 
Angina pectoris 
A angina é uma dor causada pela obstrução do suprimento arterial para o 
coração. Esta obstrução leva a uma discrepância entre a demanda de 
oxigênio requisitada pelo coração e a capacidade das artérias coronárias em 
supri-la. 
A maior demanda de oxigênio pelo coração pode estar aumentada, por 
exemplo, por exercício, ansiedade ou durante a digestão de uma grande 
refeição. 
O cirurgião-dentista tem a responsabilidade de utilizar todas as medidas 
preventivas disponíveis ao tratar o paciente que possui história de angina, de 
forma a reduzir a possibilidade de que um procedimento cirúrgico 
desencadeie um episódio de angina: 
✓ Obter uma cuidadosa história sobre a angina do paciente (saber a 
frequência, a duração e a gravidade da angina, a resposta aos 
medicamentos ou atividade diminuída e quais episódios que já 
causaram angina ao paciente). 
✓ O médico do paciente deve ser consultado. 
✓ Se a angina ocorre somente durante exercícios moderados a intensos e 
responder facilmente as medicações, os procedimentos cirúrgicos 
bucais podem ser realizados. 
✓ Entretanto, se o episódio de angina ocorrer durante exercícios mínimos, 
se várias doses de medicações orais são necessárias para aliviar o 
desconforto torácico ou se o paciente possui angina instável (que se 
manifesta em repouso ou piora significativa), a cirurgia eletiva deve ser 
adiada até que uma consulta médica seja realizada. 
✓ Ter disponível, no consultório ou na unidade de saúde, medicamentos 
para alívio dos sintomas de angina: dinitrato de isossorbida ou spray de 
nitrogliocerina. 
 
Protocolo de atendimento para paciente com história de angina: 
1. Consultar o médico do paciente 
2. Usar protocolo de redução de ansiedade 
3. Ter comprimidos ou spray disponíveis. 
4. Não atender o paciente após uma grande refeição. 
5. Assegurar uma anestesia local efetiva antes de iniciar a cirurgia e limitar 
a quantidade de adrenalina – 0,04 mg. O paciente não poderá sentir 
dor, pois isto poderá desencadear um episódio de angina. 
6. Monitorar rigorosamente os sinais vitais. 
7. Manter contato verbal com o paciente durante todo o procedimento. 
Insuficiência cardíaca congestiva (cardiomiopatia hipertrófica) 
Ocorre quando o miocárdio doente se torna incapaz de corresponder ao 
débito cardíaco exigido pelo corpo ou quando uma demanda excessiva é 
exigida do miocárdio normal. 
Os sintomas incluem ortopneia (distúrbio respiratório que causa encurtamento 
a respiração quando o paciente está em posição supina), dispneia noturna 
paroxística (dificuldade respiratória 1 ou 2 horas após assumir a posição 
supina) e edema nos tornozelos. 
Pacientes com insuficiência cardíaca congestiva compensada por dieta e 
tratamento medicamentoso podem realizar cirurgia bucal ambulatorial com 
segurança. Um protocolo redutor de ansiedade e suplementação com 
oxigênio são úteis. Os pacientes com ortopneia não devem ser colocados na 
posição supina durante qualquer procedimento. 
A cirurgia para pacientes com cardiomiopatia hipertrófica não compensada 
deve ser adiada até que a compensação seja alcançada ou que os 
procedimentos possam ser realizados em ambiente hospitalar. 
Protocolo de atendimento para paciente com insuficiência cardíaca 
congestiva: 
- Adiar o tratamento odontológico até que a função cardíaca tenha 
melhorado e o médico acredite que o tratamento seja possível. 
- Conferir quais medicamentos o paciente utiliza. 
- Usar protocolo de redução de ansiedade. 
- Evitar posição supina. 
- Limitar a dose de adrenalina a 0,04 mg/consulta. 
 
 
Infarto do miocárdio 
A abordagem cirúrgica de um paciente que teve infarto inicia-se com uma 
consulta ao médico do paciente. Geralmente, recomenda-se que os 
procedimentos cirúrgicos eletivos sejam adiados até pelo menos 6 meses após 
o infarto. 
→ O risco de ocorrer um novo infarto diminui ao máximo por cerca de 6 meses, 
especialmente se o paciente estiver realizando um acompanhamento 
adequado. 
Após os 6 meses do infarto, o tratamento do paciente é semelhante ao de um 
paciente com angina. 
Acidente vascular cerebral (AVC) 
Pacientes que sofreram um acidente vascular cerebral são sempre suscetíveis 
a novos acidentes neurovasculares.Assim como no infarto do miocárdio, a 
realização de anestesia local e procedimento cirúrgico oral menor em 
paciente que teve AVC inicia-se com uma consulta ao médico do paciente. 
Geralmente, recomenda-se que os procedimentos cirúrgicos eletivos maiores 
sejam adiados até pelo menos 6 meses após o AVC. 
Como identificar um AVC? 
Os principais sinais de alerta para qualquer tipo de AVC são: 
- Fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente 
em um lado do corpo. 
- Confusão mental. 
- Alteração da fala ou compreensão. 
- Alteração da visão. 
- Alteração do equilíbrio, coordenação, tontura ou alteração no andar. 
- Dor de cabeça súbita, intensa, sem causa aparente. 
Com agir? 
▪ Observar se a boca está torta. 
▪ Pedir para levantar o braço e notar dificuldade de realizar o 
movimento. 
▪ Atentar para alterações de fala e de compreensão. 
▪ Ligar para o samu. 
DISTURBIOS ENDÓCRINOS 
Diabetes melito 
O diabetes é causado pela subprodução de insulina ou pela resistência 
dos receptores de insulina. O diabetes é divido em diabetes insulino-
dependente (tipo 1) e diabetes não-insulino-dependete (tipo 2). 
Os procedimentos cirúrgicos devem ser realizados no início do dia, 
utilizando-se um programa de redução de ansiedade. O paciente deve ser 
instruído a fazer uma refeição normal e fazer o uso normal de suas 
medicações. Além disso, é extremamente importante realizarmos ou 
solicitarmos a aferição de glicose do paciente antes de qualquer 
intervenção cirúrgica, pois a descompensação irá contraindicar o 
procedimento. 
Ainda, anestésicos com adrenalina devem ser evitados, mesmo em 
pacientes com a doença compensada. A adrenalina provoca a quebra de 
glicogênio em glicose, podendo resultar em hiperglicemia. Por isso, tende-
se a escolher a prilocaína com felipressina ou mepivacaína sem 
vasoconstritor. 
As pessoas com diabetes bem controlado não são mais suscetíveis a 
infecções do que as pessoas que não tem diabetes, mas elas têm maior 
dificuldade de conter infecções. A dificuldade em controlar infecções é 
mais significativa nas pessoas com diabetes não controlado. Portanto, uma 
cirurgia bucal eletiva deve ser adiada em pacientes com diabetes não 
controlado até que essa alteração esteja corrigida. 
1. Adiar a cirurgia até que o diabetes esteja controlado e consultar o 
médico do paciente anteriormente a qualquer momento. 
2. Agendar uma consulta de manhã e evitar consultas longas. 
3. Usar um protocolo de redução de ansiedade. 
4. Monitorar sinais vitais e sinais de hipoglicemia antes, durante e após a 
cirurgia. 
5. Manter a comunicação verbal com o paciente durante a cirurgia. 
6. Orientar o paciente a tomar o seu desjejum normal antes da cirurgia e 
tomar a dose usual de insulina. 
Hipertireoidismo 
Os pacientes com doença na glândula tireoide tratada podem submeter-se a 
cirurgia bucal com segurança. Entretanto, pacientes com evidência clínica de 
hipertireoidismo ou com hipertireoidismo não tratado possuem 
contraindicação no uso de adrenalina. Obs: limitar a quantidade de 
epinefrina. 
 SINAIS CLÍNICOS INICIAIS DE HIPERTIREOIDISMO: 
 Cabelos finos e quebradiços, hiperpigmentação cutânea, 
sudorese excessiva, taquicardia, palpitação, perda de peso, instabilidade 
emocional, exftalmia (globo ocular saliente) e edema na região na tireoide. 
HIPOTIREOIDISMO: cabelo seco, irritabilidade, cansaço, pele seca e áspera. 
HIPERTIREODISMO: perda de peso, olhos salientes, suores, pescoço inchado. 
Insuficiência suprarrenal 
As doenças do córtex suprarrenal podem causar insuficiência suprarrenal. 
Sintomas (primária): fraqueza, perda de peso, fadiga e hiperpigmentação 
cutânea e das mucosas. 
 No entanto, a causa mais comum de insuficiência suprarrenal é a 
ADMINISTRAÇÃO CRÔNICA DE CORTICOSTEROIDES (insuf s. secund). Muitas 
vezes, os pacientes que ingerem corticosteroides regularmente apresentam 
“faces em forma de lua”, “giba de búfalo” e uma pele fina e translúcida. 
A sua incapacidade de aumentar os níveis de corticoide endógeno em 
resposta ao estresse fisiológico pode fazer com que se tornem: hipotensos, 
sujeitos a sincope, nauseados e febris durante a cirurgia bucal prolongada. O 
médico do paciente deve ser consultado em relação a necessidade de uma 
suplementação com esteroides. Em geral, os procedimentos menos invasivos 
necessitam somente de um protocolo de redução de ansiedade. Dessa forma, 
os esteroides suplementares não são necessários para a maioria dos 
procedimentos odontológicos. 
DISTÚRBIOS PULMONARES 
Asma 
A asma se caracteriza por episódios de estreitamento das vias aéreas 
menores, o que produz sibilo (ruído característico da asma, semelhante a um 
assobio agudo) e dispneia (dificuldade de respirar caracterizada por 
respiração rápida e curta) a partir da estimulação emocional, imunológica, 
infecciosa e química. 
Os pacientes com asma devem ser questionados em relação aos fatores 
desencadeantes, frequência e gravidade dos ataques, medicações utilizadas 
e a resposta aos medicamentos. 
A cirurgia bucal eletiva deve ser adiada se uma infecção do trato respiratório 
ou sibilo estiverem presentes. 
Quando a cirurgia for realizada, um protocolo de redução de ansiedade deve 
ser seguido, pois a ansiedade poderá ser o ponto gatilho para o início de uma 
crise de asma. Se o paciente fizer uso de esteroides, devemos encaminhar o 
paciente para uma consulta com seu médico de referência para que o 
mesmo possa avaliar uma possível suplementação com corticosteroides 
durante o período transoperatório. 
A bomba de inalação pessoal do paciente deve estar disponível durante a 
cirurgia e fármacos como epinefrina injetável devem constar em um kit para 
emergências do consultório ou unidade de saúde. 
O uso de AINES (anti-inflamatórios não esteroidais) devem ser evitados porque 
frequentemente eles precipitam ataque de asma em indivíduos sensíveis. 
1. Adiar o tratamento odontológico até que asma esteja bem controlada e o 
paciente não tenha sinais de infecção no trato respiratório. 
2. Auscultar o tórax bilateralmente com estetoscópio para detectar ruídos. 
3. Se o paciente faz ou fez uso crônico de corticosteroides, entrar em contato 
com o médico de referência para ver a necessidade de realizar profilaxia 
antibiótica. 
4. Usar protocolo de redução de ansiedade. 
6. Manter um inalador com broncodilatador facilmente acessível. 
 
Doença pulmonar obstrutiva crônica 
É a obstrução da passagem do ar pelos pulmões e geralmente é causada por 
uma exposição de longo prazo a irritantes pulmonares, como por exemplo a 
fumaça do cigarro. Estes pacientes frequentemente se tornam dispneicos 
durante exercícios leves a moderados, possuem tosse crônica e podem emitir 
ruído durante a respiração. 
Quando pacientes com DPOC que fazem uso de corticosteroides precisam de 
tratamento odontológico, o cirurgião-dentista deve entrar em contato com o 
médico referência do paciente e considerar o uso de suplementação 
adicional antes de uma cirurgia bucal. Sedativos, hipnóticos e narcóticos que 
deprimem a respiração devem ser evitados. 
Os pacientes podem precisar ser mantidos sentados em uma posição ereta na 
cadeira odontológica para serem capazes de lidar com a secreção pulmonar 
comumente abundante. Por fim, não se deve utilizar suplementação com 
oxigênio em pacientes com DPOC grave durante a cirurgia, a menos que o 
médico recomende. 
1. Adiar o tratamento até que a função pulmonar tenha melhorado. 
2. Usar um protocolo de redução de ansiedade, mas evitar o uso de depressores 
respiratórios (Ex: Diazepam). 
3. Se o paciente faz uso crônico de corticosteroides, tratá-lo como se fosse um 
paciente com insuficiência suprarrenal (descrito nos distúrbios endócrinos). 
4. Evitar colocar o paciente na posição supina até se certificar que ele possa 
tolerá-la. 
5. Manter um inalador com broncodilatador em local acessível. 
6. Monitorar deperto as frequências respiratória e cardíaca. 
7. Agendar o paciente para o período da tarde para permitir a eliminação de 
secreções. 
DISTÚRBIOS HEMATOLÓGICOS 
Coagulopatias hereditárias 
Em muitos pacientes o sangramento prolongado após a extração dentária 
pode ser a primeira evidência de que existe um distúrbio sanguíneo. A história 
de epistaxe (sangramento nasal), formação fácil de hematomas, 
sangramento menstrual intenso e sangramento espontâneo devem alertar o 
cirurgião-dentista par a possibilidade de realização de uma investigação 
laboratorial de coagulação antes da cirurgia. 
Quanto aos exames de sangue que devemos estar atentos, temos: 
- Tempo de protrombina (avalia a via extrínseca da coagulação, 
determinando a tendência de coagulação do sangue). 
- Tempo de tromboplastina parcial (avalia a eficiência da via intrínseca para 
formação do coágulo de fibrina). 
- INR (relação entre o tempo de protrombina do paciente e um valor padrão 
deste tempo). 
Valores de referência 
Tempo de protrombina (TP): 10 a 14 segundos 
Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa): 25 a 34 segundos. 
INR: 1. 
Se houver suspeita de uma coagulopatia, o médico de referência do paciente 
ou um médico-hematologista deve ser consultado para que seja realizado o 
diagnóstico e tratamento adequado. O tratamento de pacientes com 
coagulopatias que necessitam de cirurgia bucal depende da natureza do 
problema hematológico. 
DEFICIÊNCIAS DE FATORES ESPECÍFICOS (hemofilia A, B ou C OU doença de 
Von Willebrand): geralmente são tratadas com administração perioperatória 
de um fator de reposição e pelo uso de agentes antifibrinoliticos (condutas 
definidas pelo médico do paciente). 
DEFICIÊNCIA PLAQUETÁRIA QUANTITATIVA: pode ser um problema cíclico 
e o médico irá orientar quanto ao tempo adequado para a cirurgia eletiva. Os 
pacientes com contagem baixa de plaquetas crônica podem precisar de 
transfusões. 
Nestes casos, a anestesia local deve ser administrada por infiltração local, em 
vez de bloqueio regional, para diminuir a possibilidade de lesão a grandes 
vasos, o 
que pode levar a um sangramento prolongado após a injeção e à formação 
de hematoma. 
 
Terapêutica anticoagulante 
 
Estes fármacos podem ser utilizados por pacientes com necessidade de 
anticoagulação, por pacientes que realizam hemodiálise ou podem ser 
administrados por outro motivo e gerarem efeitos anticoagulantes de forma 
secundária (como é comum nos casos de uso do ácido acetilsalicílico). 
 
Fármacos como o ácido acetilsalicílico (AAS), geralmente, NÃO necessitam ser 
interrompidos. 
Pacientes que fazem uso de heparina normalmente tem sua cirurgia adiada 
até que a heparina circulante esteja inativa (6 horas se a heparina for de 
administração intravenosa e 24 horas se a heparina for de administração 
subcutânea). O sulfato de protamina, que reverte os efeitos da heparina, 
também pode ser utilizado se houver a necessidade da realização de uma 
cirurgia bucal de emergência que não pode esperar até que a heparina seja 
naturalmente inativada. 
Os pacientes que fazem uso de varfarina deverão ter uma estreita relação 
entre o médico e o cirurgião-dentista. Normalmente, a conduta é a 
interrupção do uso de varfarina de 2 a 5 dias antes da cirurgia planejada. Mas 
isto deverá ser definido pelo médico do paciente. 
- Se o INR estiver entre 0 e 3, a cirurgia bucal pode ser realizada. 
- Se o INR estiver maior que 3, a cirurgia deve ser adiada até que se aproxime 
de 3. 
Além disso, devem ser colocadas substâncias trombogênicas na ferida 
cirúrgica 
e o paciente deve ser bem orientado quanto ao período pós-operatório. O 
25 
tratamento com varfarina pode ser reiniciado um dia após a cirurgia, 
dependendo 
do trauma cirúrgico e da pactuação com o médico do paciente. 
Recomendações de abordagens frente a pacientes com 
distúrbios hematológicos. 
ATENÇÃO! 
 
Em todos os casos que envolvem pacientes com distúrbios hematológicos, 
devemos ter a seguinte atuação durante o procedimento cirúrgico: 
- Realizar suturas em massa (aplicar uma maior quantidade pontos de sutura 
para melhor estabilização do coágulo). 
- Aplicar curativos compressivos (como a compressão pós-operatória com 
gaze). 
- Ter disponível substâncias coagulantes tópicas (como esponjas hemostáticas, 
cera para osso, gelatinas e selantes de fibrina ou trombina). 
- Monitorar a ferida por 2 horas para assegurar a formação inicial do coágulo. 
- Instruir o paciente sobre como prevenir o deslocamento do coágulo (não 
realizar exercícios físicos, não se expor ao calor e ao sol, realizar repouso 
absoluto por 48 horas, realizar alimentação líquida/pastosa nos primeiros dias 
pós-operatórios e aplicação de gelo nas primeiras 24 horas). 
DISTÚRBIOS RENAIS E HEPÁTICOS 
Insuficiência renal 
Os pacientes com insuficiência renal necessitam de diálise renal periódica. As 
cirurgias odontológicas eletivas devem ser realizadas no dia posterior a diálise 
e em combinação com o médico de referência. Isso permite que a heparina 
(anticoagulante) usada durante a diálise seja metabolizada. Além disso, o 
médico poderá solicitar antibioticoterapia profilática. Os fármacos 
nefrotóxicos ou que dependem de metabolização/excreção renal devem ser 
evitados ou utilizados em doses reduzidas para evitar toxicidade sistêmica. 
Protocolo de atendimento para paciente com insuficiência 
renal e de pacientes que realizam hemodiálise. 
1. Atenção ao uso de fármacos*. 
2. Adiar o tratamento odontológico até 1 dia após a diálise. 
3. Consultar o médico a respeito do uso de profilaxia antibiótica. 
4. Monitorar a pressão sanguínea e a frequência cardíaca. 
Hepáticos 
O paciente com lesões hepáticas graves (resultantes de doenças infecciosas, 
abuso de álcool ou congestão vascular/biliar) necessita de cuidados especiais 
antes da cirurgia odontológica ser realizada. Cada paciente deverá ser 
avaliado de forma particular, visto que a gravidade do distúrbio hepático é 
variável. Ainda, alguns distúrbios hematológicos podem estar associados a 
estes pacientes e, por isso, a solicitação de exames sanguíneos é bastante 
importante. 
PACIENTES TRANSPLANTADOS 
O paciente transplantado geralmente utiliza uma variedade de fármacos para 
preservar a função do tecido transplantado. Esses pacientes recebem 
corticosteroides e podem precisar de corticosteroides suplementares no 
período transoperatório. A maioria desses pacientes também faz uso de 
agentes imunossupressores, que podem fazer com que infecções se tornem 
mais graves. Assim, o uso de antibióticos e hospitalização precoce 
normalmente são utilizados. 
O médico do paciente deve ser consultador em relação a necessidade da 
utilização de profilaxia antibiótica. 
A ciclosporina A, um fármaco imunossupressor administrado após o transplante 
de órgãos, pode causar hiperplasia gengival. O cirurgião-dentista deve 
reconhecer esse problema para que não atribua erroneamente a hiperplasia 
gengival somente a problemas de higiene. 
Protocolo de atendimento para pacientes transplantados. 
1. Adiar o tratamento até que o médico do paciente libere; 
2. Evitar o uso de fármaco tóxicos para órgão transplantado; 
3. Considerar o uso de suplementação com corticosteroides, de acordo 
com a recomendação médica; 
4. Estamos atentos a presença de hiperplasia gengival induzida por 
ciclosporina A. 
5. Considerar o uso profilático de antibióticos, particularmente para 
pacientes que fazem uso de agentes imunossupressores. 
PACIENTES ONCOLÓGICOS OU QUE FAZEM USO DE MEDICAMENTOS 
ANTIRREABSORTIVOS 
Radioterapia 
As complicações bucais da radioterapia podem ser classificadas como 
agudas e crônicas. 
Como exemplos de agudas, temos infecções oportunistas (como candidíase e 
herpes) e mucosite. Já nas crônicas, observamos diminuição da atividade 
funcional das glândulas (causando xerostomia e dificuldade de deglutição de 
alimentos), cáriede radiação, osteorradionecrose e trismo. 
Importante ressaltar que as manifestações bucais da radioterapia ocorrem 
somente nos casos de tratamento envolvendo cabeça e pescoço, quando as 
glândulas salivares e maxilares estão no campo de radiação. Sendo assim, é 
importante entrar em contato com a equipe médica responsável pela 
radioterapia para obter mais informações a respeito de como este tratamento 
está sendo ou foi conduzido. 
 QUIMIOTERAPIA 
Esta modalidade de tratamento poderá ter vários efeitos colaterais. 
Como os medicamentos são administrados na circulação sanguíneo, seus 
efeitos são sistêmicos. Dessa forma, as possíveis complicações poderão ser 
notadas independentemente do local do corpo que apresente a origem 
primária do câncer. 
Como complicações agudas, temos hemorragias, infecções oportunistas 
(como candidíase e herpes), mucosite, xerostomia e perda de paladar. 
E, como sequelas crônicas, osteonecrose associada ao uso de medicamentos 
antirreabsortivos e alterações na odontogênese podem ser citadas. 
Abordagem de atendimento ao paciente oncológico: 
DICA: antes de iniciarmos esta etapa e realizarmos qualquer tipo de 
procedimento, devemos lembrar que a equipe médica do paciente sempre 
deverá ser contatada, para melhor discussão e planejamento do caso. 
Meu paciente está realizando terapia oncológica, mas apresenta 
necessidade de exodontia em caráter de urgência: 
O que fazer? 
1) A equipe médica deverá ser contatada para que seja possível definir 
quando realizar a abordagem cirúrgica, ou seja, quando o paciente 
apresentar boa contagem celular (hemograma completo e plaquetas) e 
níveis desejáveis dos exames laboratoriais; 
 
2) Realizar antibioticoterapia profilática; 
 
3) Cuidado impecável com biossegurança durante a abordagem cirúrgica; 
 
4) Evitar a realização de ostectomia; 
 
5) Ao realizar a sutura da ferida, sempre tentar realizar fechamento por 
primeira intenção (união dos bordos cirúrgicos). Se possível, realizar 
sutura com fio mononylon 5-0, para evitar acúmulo de placa bacteriana 
e estimular melhor cicatrização. 
 
6) Dependendo do trauma cirúrgico (ex: realização de ostectomia ou 
odontossecção), realizar antibioticoterapia pós-operatória; 
 
7) Prescrição de bochechos de clorexidina aquosa 0,12% de 12/12 
horas por 14 dias. 
 
Ainda, podemos lançar mão de terapias não invasivas, como: 
- Coronectomia/sepultamento de raízes (remoção da coroa dentária + 
endodontia da raiz remanescente) 
- Exodontia atraumática com uso de elásticos ortodônticos (técnica 
descrita nos artigos disponíveis em Material Complementar). 
GESTAÇÃO E LACTAÇÃO 
A primeira preocupação na realização de um tratamento odontológico em 
uma paciente grávida é a prevenção de lesões ao feto. As duas áreas do 
tratamento cirúrgico oral com potencial para criar danos fetais são: a 
radiografia odontológica e a administração de fármacos. 
1°opção é adiar qualquer cirurgia odontológica eletiva para depois do parto, 
evitando assim qualquer risco para o feto. No entanto, se a cirurgia for 
inadiável, alguns cuidados devem ser tomados para diminuir a exposição fetal 
a fatores teratogênicos, como a proteção adequada durante os exames de 
imagem e atentar a lista de medicações contraindicadas. 
Se possível, evitar abordagens no primeiro e terceiro trimestre de gravidez, ou 
seja, sempre dar preferência ao segundo trimestre. Caso opte-se pela 
realização de algum procedimento, os sinais vitais da paciente devem ser 
monitorados, com particular atenção para qualquer elevação da pressão 
arterial (um possível sinal de pré-eclâmpsia). 
A paciente pode necessitar de um posicionamento especial na cadeira 
odontológica, pois se for colocada em posição próxima da supina, o 
conteúdo uterino pode causar compressão, comprometendo o retorno 
venoso para o coração. Interrupções frequentes para permitir que a paciente 
esvazie a bexiga urinária são comumente necessárias devido a pressão fetal 
exercida sobre a bexiga urinária. 
Quando o assunto é anestesia local, temos maior segurança quando 
utilizamos lidocaína associada a epinefrina. Prilocaína e Articaína não devem 
ser usadas, pois poderão estimular a metahemoglobinemia. Com relação aos 
vasoconstritores, noradrenalina e felipressina estão contraindicadas, a primeira 
possui um risco de diminuição da irrigação placentária e a segunda apresenta 
ações ocitócicas (aumento das contrações uterinas). 
No período da lactação, pós-parto, a maior preocupação no atendimento 
odontológico se dá quanto a medicação utilizada e a possibilidade de 
transmissão ao bebê. 
QUADRO 21