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1 Ivina Marcella DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO BREVE INTRODUÇÃO Definida como uma afecção crônica secundária ao refluxo patológico de parte do conteúdo gástrico para o esôfago e/ou órgãos adjacentes (faringe, laringe, árvore traqueobrônquica) ,acarretando um espectro variável de sinais e sintomas esofágicos e/ou extraesofágicos que podem ser acompanhados ou não de lesões teciduais (ex.: esofagite). O refluxo pode ser dividido em: O refluxo gastroesofágico casual de curta duração (que geralmente ocorre durante as refeições),é dito como fisiológico, sendo tipicamente assintomático Já o refluxo interprandial recorrente, de longa duração, costuma originar sintomas como • Pirose • Regurgitação que resultam da agressão à mucosa esofágica promovida pelo material refluído. DIAGNÓSTICO A DRGE pode se apresentar no exame endoscópico com: • Com erosões • Sem erosões (forma não-erosiva) Na forma não-erosiva o diagnóstico torna-se mais difícil, devendo-se considerar as queixas clínicas do paciente. Nesse caso, a presença de pirose/regurgitação com freqüência mínima de 2 vezes/semana, por período igual ou superior a 4 semanas, sugere o diagnóstico de DRGE. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA) E BIÓPSIA DE ESÔFAGO Possui uma baixa sensibilidade para o diagnóstico de DRGE (cerca de 50%),mas é muito importante no diagnóstico diferencial com outras enfermidades, particularmente o câncer de esôfago. VANTAGENS • Possibilitar a coleta de biópsias, as quais são imprescindíveis para diagnosticar esôfago de Barrett e adenocarcinoma esofágico. • Amplamente disponível e facilmente executável. As lesões que podem ser visualizadas ao exame endoscópico são as seguintes ■ erosões: definidas como solução de continuidade limitada à mucosa, com pelo menos 3 mm de diâmetro, com depósito de fibrina e permeação neutrofílica do epitélio; ■ úlceras: definidas como solução de continuidadeque atinge pelo menos a camada muscular da mucosa,com presença de tampão e tecido de granulação; ■ estenose péptica; ■ esôfago de Barrett A existência de numerosos tipos de classificação endoscópica espelha a dificuldade existente na uniformização dos diagnósticos. Em nosso meio, as mais empregadas são: 2 Ivina Marcella • Savary-Miller • Los Angeles EXAME RADIOLÓGICO CONTRASTADO DO ESÔFAGO o exame radiológico tem importância apenas em casos de esofagite complicada, sendo útil na avaliação morfológica de: • Estenoses • Úlceras e retrações • Hérnia hiatal. Pode detectar alterações mais grosseiras da motilidade esofágica, especialmente quando há suspeita de acalasia ou megaesôfago associados. A indicação deste método é mais restrita ao esclarecimento do significado da disfagia e odinofagia como sintomas de alarme. É útil também na averiguação do paciente no pré e pós-operatório de fundoplicatura. PHMETRIA DE 24 HORAS Não é mais considerada o padrão de referência para a DRGE, mas ainda é o melhor método disponível para caracterizar o refluxo gastroesofágico, ele permitir a correlação dos sintomas com os episódios de refluxo. Por meio da pHmetria prolongada, é possível quantificar a exposição da mucosa esofágica ao ácido. Este exame está indicado nas seguintes situações: • Pacientes com sintomas típicos de DRGE que não apresentam resposta satisfatória ao tratamento medicamentoso e nos quais o exame endoscópico não revelou dano à mucosa esofágica. Nestes casos, o exame deve ser realizado na vigência da medicação (inibidor da bomba de prótons); • Pacientes com manifestações extra- esofágicas sem presença de esofagite ao exame endoscópico. Nestes casos, é recomendada a realização de exame pHmétrico com dois ou mais canais sensores de pH para caracterizar simultaneamente o refluxo gastroesofágico e supra-esofágico; • pré-operatório de casos bem caracterizados em que o exame endoscópico não caracterizou esofagite. 3 Ivina Marcella IMPEDANCIOMETRIA A medida da impedância intraluminal foi recentemente introduzida como mais uma técnica de investigação do refluxo gastroesofágico e duodenogastroesofágico. O método possibilita: • A investigação do movimento do conteúdo gástrico independentemente da medida do pH, permitindo, o diagnóstico de refluxo não-ácido, bem como a altura alcançada pelo refluxato. • Permite o diagnóstico de refluxo gasoso e líquido simultaneamente. O método consiste na medida de impedância elétrica entre pares de eletrodos na presença de líquido e/ou ar. Com o equipamento posicionado no lúmen esofágico, a impedância entre os pares de eletrodos diminui rapidamente na presença de líquido ou aumenta rapidamente na presença de ar. É possível que a impedanciometria venha desempenhar, no futuro, papel importante no diagnóstico da natureza do refluxo. A sua utilização,é ainda bastante limitada em termos práticos. MANOMETRIA ESOFÁGICA Utilizado com a finalidade de avaliar a motilidade esofágica. Atualmente, as indicações desse exame na DRGE são limitadas e são basicamente as seguintes: ■ investigação da eficiência da peristalse esofágica em pacientes com indicação de tratamento cirúrgico,com o objetivo de permitir ao cirurgião considerar a possibilidade de fundoplicatura parcial; ■ determinação da localização precisa do esfíncter inferior do esôfago para permitir a correta instalação do eletrodo de pHmetria; ■ investigação apropriada da presença de distúrbio motor esofágico associado, tais como as doenças do colágeno e o espasmo esofágico difuso. BILITEC A bilimetria prolongada do esôfago foi um método tido como promissor na avaliação do refluxo duodenogástrico na década passada. O exame visava identificar o refluxo biliar por espectrofotometria. • Dificuldades técnicas na realização do exame e a falta de uma indicação clara para sua utilização limitaram muito seu uso, sendo atualmente muito pouco utilizado na prática clínica. TESTE TERAPÊUTICO Pacientes com menos de 40 anos de idade, portadores de manifestações clínicas típicas de DRGE e sem sinais de alarme podem ser considerados para receber teste terapêutico com medicação inibidora da bomba de prótons(IBP), em dose plena diária por 4 semanas como conduta inicial, em conjunto com as medidas comportamentais 4 Ivina Marcella O teste é considerado positivo quando são abolidos os sintomas inicialmente presentes, sugerindo fortemente o diagnóstico de DRGE. COMPLICAÇÕES Costumam ser mais freqüentemente em indivíduos que não procuram auxílio médico, em casos refratários ao tratamento ou que não o seguem corretamente. As complicações mais comuns são: • Esôfago de Barrett • Estenose • Úlceras • Sangramento esofágico TRATAMENTO O tratamento da DRGE tem como objetivos principais: • Alívio dos sintomas, • Cicatrização das lesões • A prevenção de recidivas e complicações O tratamento visa à melhora na função motora esofágica, estímulo da depuração ácida e elevação da pressão basal do esfíncter inferior do esôfago. Outras premissas, como aumentar a salivação, podem levar a melhor depuração esofágica e tamponamento do ácido refluído, assim como acelerar o esvaziamento gástrico pode reduzir o potencial agressivo do suco gástrico. PSIUU!! É fundamental que o paciente seja esclarecido da natureza crônica de sua enfermidade e sobre a necessidade de modificações em seu estilo de vida para o sucesso do tratamento. TRATAMENTO CLÍNICO MEDIDAS COMPORTAMENTAIS E DIETÉTICAS São medidas que visam eliminar ou reduzir certos alimentos, medicamentos e hábitos que favoreçam o aparecimento do refluxo. • É importante enfatizar a necessidade de evitar refeições volumosas, ricas em gorduras, aguardar 1 ou 2 horas após as refeições antes de se deitar e cessar o consumo de tabaco TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Os fármacos visam à neutralização ou à eliminação do ácidorefluído ou, ainda, à melhoria dos distúrbios motores que podem acompanhar essa enfermidade. INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS (IBP) • são consideradas as drogas de primeira escolha no tratamento da DRGE • . Os IBP inibem a produção de ácido pelas células parietais do estômago, reduzindo a agressão ao esôfago, representada pelo ácido. Em praticamente todos os estudos em que esse grupo de medicamentos é comparado com outra classe (bloqueadores dos receptores H2 da histamina, procinéticos, antiácidos), os IBP demonstram melhores índices de cicatrização com baixa incidência de efeitos adversos. 5 Ivina Marcella Tais medicamentos só bloqueiam as bombas de próton ativas e, portanto, devem ser administrados sempre antes de uma refeição, já que o principal fator ativador de tais bombas é o alimento. BLOQUEADORES DOS RECEPTORES H2 DA HISTAMINA (ARH2) Os ARH2 atuam bloqueando os receptores da histamina existentes nas células parietais, sendo eficazes como bloqueadores da secreção ácida basal e estimulada. Os mais utilizados em nosso meio são: • A ranitidina, • Famotidina • Cimetidina. Os ARH2 são medicamentos seguros, com baixa freqüência de efeitos adversos e preço acessível. A limitação desses medicamentos deve-se à baixa eficácia em casos mais graves e ao mecanismo de tolerância, que pode aparecer com o uso crônico, restringindo sua utilização como terapia de manutenção. Resultados aparentemente melhores são obtidos na associação desse grupo de medicamentos com outras classes. PROCINÉTICOS Os procinéticos apresentam • A propriedade de elevar a amplitude das contrações peristálticas do corpo esofágico, • Acelerar o esvaziamento gástrico e elevar a pressão no EIE. No entanto, não têm influência sobre o relaxamento transitório do EIE. A metoclopramida é o agente procinético mais antigo,apresentando ação sobre a musculatura lisa e o esfíncter inferior do esôfago. Apresenta alguns efeitos adversos indesejáveis devido à ação sobre o sistema nervoso central,como sonolência e efeitos extrapiramidais. A domperidona é um derivado metronidazólico da metoclopramida com ação limitada no sistema nervoso central, com menores efeitos colaterais. TRATAMENTO CIRÚRGICO As evidências têm demonstrado que não existem diferenças significativas entre os resultados dos tratamentos clínico e cirúrgico em um prazo de até 13 anos. O tratamento cirúrgico está indicado: • Nos pacientes que respondem satisfatoriamente ao tratamento clínico,mas não podem ou não querem continuar com o referido tratamento. • Pacientes que não respondem ao tratamento farmacológico, em geral não são bons candidatosàs intervenções cirúrgicas. • O tratamento cirúrgico também está indicado nas grandes hérnias hiatais, nas formas complicadas de DRGE, com estenose e/ou úlcera e,obviamente, na presença de adenocarcinoma