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8
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
H58
A história das barragens no Brasil, Séculos XIX, XX e XXI : cinquenta anos do Comitê Brasileiro de Barragens /
[coordenador, supervisor, Flavio Miguez de Mello ; editor, Corrado Piasentin]. - Rio de Janeiro : CBDB, 2011.
524 p. : il. ; 29 cm
Inclui índice
ISBN 978-85-62967-04-7
1. Barragens e açudes - Brasil - História. 2. Comitê Brasileiro de Barragens - História. I. Mello, Flavio
Miguez de. II. Piasentin, Corrado. III. Comitê Brasileiro de Barragens. III. Título: Cinquenta anos do Comitê
Brasileiro de Barragens
11-6197. CDD: 627.80981
CDU: 627.82(81)
20.09.11 22.09.11 029752
Comitê Brasileiro de Barragens - CBDB Agradecimentos
O Comitê Brasileiro de Barragens externa seus agradecimentos 
às empresas abaixo relacionadas pelo apoio que possibilitou 
a confecção deste livro que resume o desenrolar de importante 
segmento da História do Brasil. 
Arcadis Tetraplan S/A
Banco Bradesco S/A
Camargo Corrêa Energia e Construções S/A
CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais 
CESP - Companhia Energética de São Paulo
CHESF - Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
Construtora Norberto Odebrecht S/A
Construtora Queiroz Galvão S/A
Construtora Andrade Gutierrez S/A
COPEL - Companhia Paranaense de Energia
DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas 
Eletrobras - Centrais Elétricas Brasileiras S/A
Eletronorte - Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A
Engevix Engenharia S/A
Furnas Centrais Elétricas S/A
Geobrugg Ag - Protection Systems 
Grupo Energia
Intertechne Consultores S/A.
Itaipu Binacional
Jeene Juntas Impermeabilizações Ltda.
Light S/A
Mc Bauchemie Brasil
Mendes Júnior Trading e Engenharia S/A
Norte Energia S/A
Pires Giovanetti Engenharia e Arquitetura Ltda.
Sto Antonio Energia
DIRETORIA CBDB
Presidente: Erton Carvalho 
Vice-Presidente: Fabio De Gennaro Castro 
Diretor Secretário: Paulo Coreixas Junior 
Diretor Técnico: Brasil Pinheiro Machado 
Diretor de Comunicações: Miguel Augusto Z. Sória 
Diretor Adjunto: Marcos Luiz Vasconcellos 
Diretor Adjunto: Ademar Sérgio Fiorini
FICHA TÉCNICA
Coordenador / Supervisor: Flavio Miguez de Mello
Editor: Corrado Piasentin
Projeto Gráfico: Modonovo Design - Marina Hochman 
Diagramação: Modonovo Design - Marina Hochman / Natália Seiblitz
Revisão de texto: Margarida Corção
Gráfica: Impressul Indústria Gráfica
índiceíndice Prefácio
Apresentação
Síntese do Desenvolvimento da Implantação 
das Barragens no Brasil
A Comissão Internacional de Grandes Barragens - 
Oitenta e Três Anos de Excelência
História do Comitê Brasileiro de Barragens
Um Século de Obras contra as Secas
As Barragens Construídas pelo DNOCS
Resumo da História Remota da 
Hidroeletricidade no Brasil
Usina Hidroelétrica de Marmelos 
Usina Hidroelétrica de Angiquinho
Usina Hidroelétrica de Itapecuruzinho
A Light no Rio de Janeiro, 
a Cidade Luz Sulamericana
A São Paulo Light, Fomentadora de Progresso
As Barragens do Departamento Nacional 
de Obras de Saneamento - DNOS
A História da CHESF, Indutora do 
Progresso do Nordeste
Furnas no Século XX
A Eletronorte e as Barragens da 
Região Amazônica
A História das Barragens no Paraná
Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG
98
112
124
88
9
12
16
48
56
66
76
130
142
150
166
188
206
226
250
Companhia Estadual de Energia Elétrica 
do Rio Grande do Sul - CEEE
Companhia Energética de São Paulo - CESP
Companhia Força e Luz 
Cataguazes-Leopoldina - Energisa
Companhia Paulista de Força e Luz - CPFL
Breve Memória sobre a Usina de Itaipu 
1966 - 2010
As Pequenas Centrais Hidroelétricas no Brasil
A Nova Face das Empresas Estatais 
frente à Expansão da Oferta de 
Energia Hidroelétrica no País 
As Barragens de Rejeitos no Brasil: 
Sua evolução nos últimos anos
A Evolução do Licenciamento Ambiental 
de Barragens no Brasil
A Evolução da Legislação 
Aplicada às Barragens 
Centros de Pesquisas Tecnológicas 
Aplicadas a Barragens - Introdução 
CEHPAR - 50 Anos de muito Trabalho
Centro de Tecnologia de Furnas em Goiânia
O Laboratório de Hidráulica HIDROESB - 
Saturnino de Brito SA
O Instituto de Pesquisas Hidráulicas - IPH
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas do 
Estado de São Paulo - IPT 
272
284
292
304
308
346
354
368
396
406
412
414
426
432
436
446
Laboratório de Hidráulica Experimental e 
Recursos Hídricos de Furnas - LAHE 
O Laboratório CESP de Engenharia Civil - 
LCEC
Anexos
Anexo 1 - Entrevistas
Eduardo Larrosa Bequio
Guy Maria Villela Paschoal
Hélio Mendes de Amorim
João Camilo Penna
José Candido Capistrano de Castro Pessoa
Luiz Carlos Queiroz
Mario Santos
Murillo Dondici Ruiz
Olavo Augusto Vieira
Anexo 2 - Depoimentos
José Gelazio da Rocha e Antônio Dias Leite
Anexo 3 - Diretorias do CBDB
Anexo 4 - Seminários Nacionais de 
 Grandes Barragens 
Anexo 5 - Simpósios sobre Pequenas e 
 Médias Centrais Hidroelétricas 
Anexo 6 - Congressos Internacionais e 
 Reuniões Anuais e Executivas 
 Anexo 7 - Sócios Coletivos e Mantenedores
454
464
474
477
483
485
488
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493
506
509
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514
516
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520
522
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
9
Prefácio Prefácio
Em comemoração aos 50 anos de existência do Comitê Brasileiro de Barragens – CBDB – filiado à 
International Commission on Large Dams (ICOLD), apresentamos o livro “A História das Barragens no 
Brasil - Séculos XIX, XX e XXI”. Pretendemos, assim, registrar a história das barragens brasileiras, 
resgatando os principais personagens que contribuíram para o desenvolvimento da nossa engenharia, 
envolvendo não só homens públicos, mas também empreendedores do setor privado e pesquisadores.
As barragens surgiram em decorrência da necessidade de se usufruir dos benefícios do uso múltiplo 
dos recursos hídricos para a população brasileira. O livro retrata as primeiras barragens construídas 
no Nordeste, a partir de 1887, onde o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) 
teve um papel importante com a construção de açudes para irrigação, abastecimento de água das 
cidades e pequenos núcleos populacionais. Essa política, que previa a formação de reservatórios no 
semi-árido nordestino, teve como uma das principais finalidades a permanência do sertanejo no seu 
ambiente natural, amenizando os processos migratórios para a Região Sudeste do País. Além da 
contribuição nos métodos construtivos das barragens, principalmente as de maciços de terra, houve 
um grande desenvolvimento nas áreas de hidrologia e meteorologia. A SUDENE, dirigida pelo 
economista Celso Furtado na década de 1960, implementou um plano de desenvolvimento regional 
embasado em estudos dos recursos naturais, envolvendo mapeamentos pedológicos, águas de 
superfície e subterrânea, climatologia, hidrologia, piscicultura, entre outras ciências que serviram de 
suporte para projetos de irrigação e construção de barragens.
O livro aborda com abrangência o desenvolvimento tecnológico para a construção das barragens 
brasileiras a partir de 1950, quando se iniciou o desenvolvimento do setor elétrico brasileiro. 
O primeiro trabalho de inventário dos rios da Região Sudeste foi elaborado pela Canambra Engineering 
Consultants Limited, grupo de grande competência, que colaborou, juntamente com algumas empresas 
brasileiras, na formação dos nossos engenheiros na área de recursos hídricos e projetos de barragens. 
No Brasil foram iniciadas as construções de grandes barragens, apoiadas em estudos e projetos 
de alta qualidade. Os técnicosbrasileiros foram influenciados principalmente pelas organizações 
americanas United States Bureau of Reclamation e US Army Corps of Engineers. Paralelamente, para 
suporte tecnológico desses empreendimentos, foram criados vários centros de pesquisas, os 
quais fazem parte dos pontos importantes abordados nesta publicação. O aparecimento e o 
desenvolvimento das empresas construtoras de barragens constituem fatos de grande relevância.
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
10
Este livro registra as primeiras hidroelétricas construídas no país, selecionadas por região. 
Apresenta, também, uma significativa documentação sobre o Departamento Nacional de Obras 
e Saneamento (DNOS) extinto no inicio da década de 1990, o qual realizou vários trabalhos 
apreciáveis nas áreas de abastecimento de água, irrigação e geração de energia elétrica, sendo 
também responsável pelas obras de controle de cheias em todo país. As empresas subsidiárias da 
ELETROBRAS: FURNAS, CHESF, ELETRONORTE e ELETROSUL, bem como as dos estados 
de Minas Gerais (CEMIG), São Paulo (CESP), Rio Grande do Sul (CEEE) e Paraná (COPEL), 
aparecem documentadas com a história de suas formações, incluindo os empreendimentos 
realizados e as respectivas estratégias de desenvolvimento.
A usina de Itaipu Binacional, pertencente ao Brasil e ao Paraguai, está retratada com a sua 
história e importância, não só para a geração de energia elétrica, como também para a 
integração dos dois países. 
Destaca-se na Região Amazônica o relato do projeto e construção da usina de Tucuruí, a maior 
hidroelétrica brasileira, dotada de eclusas para a navegação do rio Tocantins, realçando a importância 
da Região Amazônica como continuidade do uso dos nossos recursos hídricos. 
A preocupação do CBDB em defesa do desenvolvimento sustentável do País está comentada nos 
tópicos sobre a evolução do licenciamento ambiental para os empreendimentos hidráulicos, no que 
se refere à construção das barragens e seus impactos. A legislação sobre a segurança das barragens, 
que faz parte do programa de trabalho do CBDB, é também citada nesta publicação.
Finalmente, este livro é dirigido a um público abrangente, visando, principalmente, o leitor 
interessado na história contemporânea do desenvolvimento brasileiro, sem a exigência de que 
ele seja possuidor de conhecimentos técnicos sobre o tema.
Erton Carvalho PREsIDENTE DO CBDB
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
Reservatório de Tucuruí
13
Apresentação
Flavio Miguez de Mello
“Águas são muitas, infi nitas... E em tal maneira é grandiosa que, 
querendo, a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que 
tem.” Pero Vaz de Caminha, 1500.
Apresentação
Com a proximidade do cinquentenário do Comitê Brasileiro de 
Barragens CBDB surgiu, em reunião do Conselho Deliberativo, 
a proposta do engenheiro Manuel de Almeida Martins de que 
se editasse um livro comemorativo versando sobre a história da 
engenharia de barragens no Brasil. A proposição foi aceita com 
entusiasmo, cabendo a mim a tarefa de produzir o livro e publicá-lo 
no aniversário de cinquenta anos do CBDB, em outubro de 2011. 
Outras entidades publicaram livros de escopo semelhante: a ABMS 
publicou Cinquenta Anos de Geotecnia em 2000 e a ABGE publicou 
a Edição Comemorativa dos Trinta Anos, em 1998.
Este livro é lançado em difícil momento para os investidores, 
estatais e privados, em empreendimentos para qualquer das di-
versas fi nalidades de barragens dadas às vigentes difi culdades de 
aprovação, licenciamento e distorções legais que propiciam prio-
rização soluções mais poluentes, de questionável segurança e de 
menor economicidade. A propósito, cabe realçar as palavras de 
Paulo Skaff, presidente da FIESP ao analisar as tendências 
atuais (2011) do setor elétrico: “O Brasil assiste a desqualifi cação de 
suas fontes de energia mais competitivas e abundantemente disponíveis. Essa 
distorção já contaminou a legislação ambiental brasileira e, mais recentemente, 
comprometeu o planejamento energético. O Brasil está desperdiçando impor-
tantes potenciais hídricos ao limitar, emocionalmente, o dimensionamento dos 
reservatórios das barragens.” No mesmo sentido, a ministra Miriam 
Belchior, do Planejamento alertou (2011): “Acreditamos que será 
possível, de fato, Belo Monte ser um exemplo de implantação de usina hi-
droelétrica na Região Amazônica ... exceto os que tenham uma posição 
ideológica e não técnica (sobre meio ambiente), os demais serão convencidos 
de que está sendo feito todo o esforço, envolvendo todos os atores, para 
que a implantação de Belo Monte seja um sucesso de sustentabilidade 
social e ambiental.”
No início dos trabalhos, a Diretoria do CBDB emitiu uma circular 
a todos os sócios comunicando a intenção de publicar este livro e 
incentivou os associados a se apresentarem como voluntários na 
preparação dos diversos capítulos que haviam sido programados. 
Como voluntários não apareceram, e como o assunto a ser abor-
dado no livro é demasiadamente extenso no tempo, superando 
um século, e no espaço, por abranger o vasto território nacional, 
tive que selecionar alguns voluntários que gentilmente aceitaram 
a tarefa e desempenharam a função de redatores com maestria 
e objetividade. Entretanto, mesmo assim, como são muitos os aspec-
tos enfocados, o livro acabou apresentando uma certa concentração 
de capítulos em um autor.
Ao iniciar a tarefa me deparei com grandes difi culdades provenien-
tes das importantes perdas para a Profi ssão de inúmeros expoen-
tes da engenharia nesses pouco mais de dez anos que separam as 
publicações das outras associações da edição do livro do CBDB. 
Essas perdas de quase uma geração inteira de notáveis pioneiros 
dos tempos das mais importantes conquistas tecnológicas e da 
fase pioneira da implantação de grandes barragens para as mais 
diversas fi nalidades bem como da época das grandes difi culdades 
para identifi cação, planejamento, projeto, construção e operação 
de barragens e reservatórios, fi zeram com que a tarefa se tornas-
se árdua em função da busca de documentos, relatórios, foto-
C I N Q U E N T A A N O S D O C O M I T Ê B R A S I L E I R O D E B A R R A G E N S
14
grafias e depoimentos que formassem as bases para o relato de 
uma história de mais de um século de conquistas que merecem 
registro. Os que atualmente atuam em implantação de barragens 
podem não imaginar que, por exemplo, para visitar pela primei-
ra vez o local da hidroelétrica de Salto Grande em Minas Gerais, 
o engenheiro John Cotrim gastou duas semanas a cavalo.
Por sorte tive o privilégio de conviver profissionalmente com 
alguns dos mais destacados atores daquele período e que já nos 
abandonaram. Estive com alguns desses atores com frequên-
cia em certas longas fases do exercício profissional tais como 
os engenheiros Flavio H. Lyra, John R. Cotrim, Léo A. Penna, 
Arthur Crocchi, E. Von Ranke, Victor F.B. de Mello, Carlos Al-
berto Pádua Amarante, Epaminondas Mello do Amaral Filho, 
Theophilo Benedicto Ottoni Netto, Antônio José da Costa Nunes, 
Francisco de Assis Basílio, José Machado e José Cândido Castro 
Parente Pessoa com os quais tive oportunidades de angariar va-
liosos depoimentos sobre aspectos de vivências profissionais pas-
sadas. Com vários outros atores do passado tive contatos menos 
extensos, mas de elevado interesse no relato de experiências pro-
fissionais tais como Mário Penna Bhering, César Cals de Oliveira 
Filho e consultores como Manuel Rocha e Porland Port Fox. 
Usina hidroelétrica Serra do Facão
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
15
Desses contatos pude extrair há anos, informações de elevado 
conteúdo histórico, algumas das quais relato neste livro. Esses 
contatos, dos quais guardorecordações as mais preciosas, foram 
em parte devidos à minha atuação profissional na engenharia, 
à minha atuação na Universidade e às minhas atividades no 
CBDB e em outras entidades técnicas. No CBDB, embora não 
seja o mais velho, devo certamente ser o mais antigo por ter sido 
chamado muito jovem a apoiar as atividades em sua sede. Prova-
velmente foram esses fatores que levaram o Conselho do CBDB a 
me indicar como responsável pela edição desse livro. Alguns relatos 
apresentados em capítulos deste livro foram obtidos diretamente 
desses contatos dos que nos precederam na Profissão. O livro 
foi enriquecido com textos, entrevistas e informações de al-
guns dos mais destacados profissionais que atuam na engenharia 
de barragens em nosso País.
Procurei congregar neste livro narrativas sucintas, porém objetivas, de 
todas as principais atividades que resultaram na implantação de tantas 
barragens que trouxeram progresso e bem estar ao nosso povo desde 
o Século XIX. Considerando que a história recente é mais conhecida 
por aqueles que acessarem esse livro, é de se notar que há, em quase 
todos os capítulos, uma ênfase maior na história remota, de mais difícil 
caracterização. Dessa forma há uma ênfase nas primeiras barragens para 
saneamento, para controle de cheias e, principalmente, para combate 
às trágicas consequências ocasionadas pelas secas e para produção de 
energia elétrica. Sobre esse aspecto há um capítulo resumindo as primei-
ras hidroelétricas nas diversas regiões do País, com destaque para as 
primeiras usinas hidráulicas para fornecimento público de energia 
elétrica: Marmelos no Sul-Sudeste, construída ainda no Século XIX 
por Bernardo Mascarenhas, Angiquinho implantada no Nordeste 
por Delmiro Gouveia e Itapecuruzinho, implementada na Re-
gião Amazônica por Newton Carvalho, pai do atual presidente 
do CBDB, engenheiro Erton Carvalho. O relato mais detalhado 
dessas barragens pioneiras retrata a imagem das imensas dificul-
dades logísticas de acesso, de obtenção de materiais e de aqui-
sição de equipamentos. Mesmo assim, os que nos precederam 
conseguiram, nas mais adversas condições, implantar barragens e 
hidroelétricas em até menos de um ano, prazos presentemente ina-
creditáveis dadas as atuais delongas e dificuldades legais, de aprova-
ção, de concessão e de licenciamento ambiental, além de oposições 
dos auto-proclamados ambientalistas nacionais e estrangeiros.
Com uma longa história tão rica a ser resumida num espaço tão 
curto, o livro inevitavelmente contém omissões pelas quais des-
de já peço desculpas. Não foi possível mencionar todos os atores 
e relatar todas as inúmeras atividades de implantação de barragens 
que ocorreram por mais de um século nesse tão vasto território 
nacional. Presentemente, só considerando as grandes barragens, 
no Brasil há bem mais de mil dessas estruturas em operação 
e, se consideradas as barragens de rejeitos, ultrapassa-se a casa 
das duas mil grandes barragens.
O presente livro é resultado do apoio e do incentivo de muitas pes-
soas entre as quais cabe destacar especialmente a constante com-
preensão e apoio de minha esposa, das quatro filhas que passaram 
mais de um ano sem minha participação em atividades de fins de 
semana. Agradeço também aos dirigentes e funcionários do CBDB, 
o editor Corrado Piasentin, a revisora de texto Margarida Corção 
e o conselheiro Aurélio Alves de Vasconcelos, presentes e atuantes 
desde a primeira hora. Agradecimentos são devidos aos autores 
dos capítulos e aos entrevistados que contribuíram decisivamente 
para a viabilização do livro. Cabe ainda agradecer os importantes 
apoios recebidos de diversos profissionais entre eles Alberto Jorge 
C. T. Cavalcanti, Alberto Sayão, Ana Teresa Ponte, André Luiz Fa-
biani, Carlos Henrique Medeiros, Carlos Mazzaro, Cleber José de 
Carvalho, Delphim Mazon Fernandes, Flavio Pilz, Fernando Pires 
de Camargo, Gisele Miranda Gomes Reis, Gualter Pupo, Gustavo 
Nasser Moreira, Heloisa Ottoni, Henrique Frade, Hilton Ahiran da 
Silveira, John Denys Cadman, José Carlos de Miranda Reis Neto, 
Jerson Kelman, João Paulo Maranhão Aguiar, José Gelazio da Rocha, 
José João Rocha Afonso, Julia Ferrer Leal de Araujo, Leila Lobo de 
Mendonça, Mair Melo Andrade, Margaret Rose Mendes Fernandes, 
Nicole Schauner, Og Pozzoli, Paulo Coreixas Jr., Ricardo Ivan Bicu-
do, Rosana Libânio, Sandra Pereira, Sérgio Pimenta, Simone Idalgo 
Machado, Talvani Hipólito Nolasco Filho, Teresa Malveira, Vânia 
Rosa Costa, Viviani Siqueira Vecchi e Walton Pacelli de Andrade. 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
16
17
Síntese do Desenvolvimento 
da Implantação das 
Barragens no Brasil
Flavio Miguez de Mello
Síntese do Desenvolvimento 
da Implantação das 
Barragens no Brasil
O País e seus recursos hídricos
O Brasil é um território contínuo de forma quase quadrada, a 
maior parte do qual se situa no hemisfério sul, desde 4° de latitude 
norte a 33º de latitude sul e de 40 º a 75º de longitude oeste, compre-
endendo 8,5x106 km². Esse grande território tem uma longa fron-
teira com todos os países da América do Sul à exceção do Equador 
e do Chile, com uma extensa costa banhada pelo Oceano Atlân-
tico ao longo de 8.500 km. O País abriga a quinta maior popula-
ção do mundo. A maior parte dos seus 190 milhões de habitantes 
vive na Região Sudeste onde as maiores cidades estão localizadas. 
Como o País é de tão grande superfície, há diferentes aspectos natu-
rais tais como, por exemplo, a quantidade e frequência de precipita-
ções, os recursos hídricos, o clima, a geologia, o relevo e a vegetação. 
O ambiente varia das planícies alagadas da Amazônia Equatorial e 
do Pantanal ao Planalto Central, da cadeia de montanhas próximas 
à costa no Sudeste até as planícies do Sul e do Meio Oeste, variando 
de áreas úmidas ao vasto semi-árido do interior do Nordeste.
“We trust that the results of the study will help the 
power industry of South Central Brazil to develop on 
a sound basis in the years that lie ahead.”
 
“Acreditamos que os resultados do estudo auxiliarão nos anos 
vindouros o desenvolvimento da indústria de geração do Centro-Sul 
do Brasil sobre uma base sólida”
John K. Sexton, engenheiro chefe da Canambra, 1966.
A parte central da Região Amazônica é cortada de oeste para leste 
pelo rio Amazonas, o mais caudaloso e mais longo rio do mun-
do, com uma descarga média superior a 200.000 m³/s, formado 
por dois grandes rios, o Solimões que drena os Andes peruanos 
e bolivianos e o Negro. Os mais importantes tributários desses 
rios e os rios da bacia do rio Tocantins que flui de sul para norte, 
constituem-se nos grandes recursos hídricos do norte do Brasil, 
apresentando descarga específica média de 35 l/s.km².
A leste desta região encontra-se a região semi-árida do nordeste 
brasileiro cujos rios são em geral intermitentes, podendo apre-
sentar descargas específicas médias tão baixas quanto 3 l/s.km². 
Nessa área, denominada Polígono das Secas, a incidência solar 
supera as 3000 horas por ano, a precipitação média anual pode ser 
de 400 mm ou menos. Nessa área a evaporação média pode atingir 
2000 mm/ano e, juntamente com evapotranspiração, pode 
ser responsável pelo consumo de até 92% das precipitações. A pe-
quena espessura da cobertura de solo faz com que haja dificuldade 
em reter a umidade e, como o substrato cristalino é pouco permeável, 
só é possível acumular águas subterrâneas em regiões de rochas 
com fraturas profundas, sendo geralmente esta água insuficiente e 
de baixa qualidade. Quase todos os rios do Nordeste, com exceção 
dos rios São Francisco (que é proveniente do Sudeste) e Parnaí-
ba, têm regime intermitente em pelo menos parte de seus cursos. 
Barragem de finalidades múltiplas de Pedra 
do Cavalo no rio Paraguaçu naBahia
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
18
Nesses rios intermitentes, no caso de barragens não muito altas, o 
tratamento de fundação pode ser feito na primeira estação seca du-
rante a construção e a barragem construída durante a estação seca 
seguinte, muitas vezes sem requerer estruturas de desvio e ensecadeiras.
No resto do País as descargas específicas variam de 12 l/s.km² 
a 30 l/s.km².
Nos últimos 40 anos o País tem participado intensamente da econo-
mia internacional, variando entre a oitava e a décima maior econo-
mia do mundo. As secas no Nordeste e o desenvolvimento do País 
foram os fatores determinantes para a implantação do grande nú- 
mero de barragens construídas desde a última década do século XIX.
Um olhar para o passado remoto
A mais antiga barragem que se tem notícia em território bra-
sileiro foi construída onde hoje é área urbana do Recife, PE, 
possivelmente no final do Século XVI, antes mesmo da invasão 
holandesa. Conhecida presentemente como açude Apipucos, 
aparece em um mapa holandês de 1577. Apipucos na língua tupi 
significa onde os caminhos se encontram. A barragem original 
foi alargada e reforçada para permitir a construção de uma im-
portante via de acesso ao centro do Recife. Há referências tam-
bém ao dique Afogados construído no rio Afogados, um braço 
do rio Capiberibe, por Harman Agenau por 6000 florins para 
acesso a um forte também na atual região urbana do Recife. 
O dique tinha três metros de altura e cerca de 2 km de extensão, 
tendo sido concluído em dezembro de 1644; em 1650 sofreu 
transbordamento por ocasião de uma grande cheia, tendo cola-
psado em vários pontos.
Figuras 1a e 1b - Barragem de Apipucos na cidade do Recife. A mais antiga barragem 
que se tem registro no Brasil
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
19
As obras contra as secas
O ano de 1877 foi o início da maior tragédia nacional devido a 
fenômeno natural: A Grande Seca no Nordeste com duração 
superior a três anos deixou cicatrizes que até hoje são nítidas. 
O estado do Ceará, uma das áreas mais atingidas, na época com 
1,5 milhão de habitantes, perdeu mais de um terço da sua popula-
ção de maneira trágica, tendo sido palco de migrações em massa 
de fl agelados. Somente a partir de meados dos anos oitenta do 
século passado passou-se a saber que as secas são devidas ao 
fenômeno conhecido por El Niño no Pacífi co Sul. Muitos anos 
antes, outro intenso El Niño foi responsável pela retirada dos 
invasores holandeses de onde é hoje a costa do Ceará. Em 1880, 
logo após a Grande Seca, o Imperador D. Pedro II que esteve 
na área atingida, nomeou uma comissão para recomendar uma 
solução para o problema das secas no Nordeste. As principais 
recomendações foram a construção de estradas para que a popu-
lação pudesse atingir o litoral e a construção de barragens para 
suprimento de água e irrigação no Polígono das Secas cuja área 
é superior a 950.000 km². Isso marcou o início do planejamen-
to e projeto de grandes barragens no Brasil. A primeira dessas 
barragens foi Cedros, situada no Ceará e concluída em 1906. 
Centenas de barragens foram construídas desde a Grande Seca no 
Nordeste. Na primeira década do século XX uma membrana de 
alvenaria ou de concreto era usualmente usada como elemento 
impermeabilizante interno de barragens de terra. A pequena al-
tura das barragens e a rocha sã nos leitos dos rios minimizavam a 
necessidade de tratamento de fundação. A rocha sã em geral en-
contrada nas ombreiras, em vários projetos, conduziu à adoção de 
vertedouros de superfície simplesmente escavados em rocha sã. 
Os anos 50 e 60 do século passado foram os anos dourados na cons-
trução de barragens para combate às secas. No fi nal do Século XX 
o DNOCS executou sua última barragem, Castanhão cuja fi nalidade 
principal foi o abastecimento de água da cidade de Fortaleza.
Recentemente foi lançado o projeto de derivação de parte das des-
cargas do rio São Francisco para o Polígono das Secas. Esse gran-
de rio que nasce na Região Sudeste em Minas Gerais, tem no seu 
trecho inferior uma descarga média de longo termo de cerca de 
2000 m³/s. No seu estágio fi nal a derivação será de 3,2% desta des-
carga para as regiões de seca. Serão construídas diversas barragens, 
diques, canais, estações de bombeamento e casas de força para 
Figura 2 - Barragem de Cedros, uma das duas mais 
antigas grandes barragens do Brasil (1906)
Figura 3 – Barragem de Castanhão para 
abastecimento de água à cidade de Fortaleza, CE
C I N Q U E N T A A N O S D O C O M I T Ê B R A S I L E I R O D E B A R R A G E N S
20
geração de energia. Serão bombeados 63,5 m³/s do rio São Fran-
cisco. Durante as estações chuvosas na bacia do rio São Francisco 
poderão ser bombeadas até 127 m³/s .
A maioria das grandes barragens do Brasil (pela classificação da 
CIGB) encontra-se na Região Nordeste, a maior parte delas em 
aterro compactado, sem serem muito altas. 
As primeiras barragens para produção 
de energia elétrica
Nas regiões Sul e Sudeste a implantação de barragens foi prin-
cipalmente direcionada para produção de energia elétrica. No 
final do Século XIX começaram a ser implantadas pequenas 
usinas para suprimento de cargas modestas e localizadas, to-
das com barragens de dimensões discretas. A primeira usina 
da Light entrou em operação em 1901, no rio Tietê, para su-
primento de energia elétrica à cidade de São Paulo. Inicialmen-
te denominada Parnaíba e depois Edgard de Souza, a usina, 
quando inaugurada, tinha 2 MW instalados; sua barragem ori-
ginal com 12,5 m de altura, era de alvenaria de pedra consti-
tuída por grandes blocos de rocha gnáissica solidarizados com 
argamassa, sendo, em grande parte de sua extensão, um verte-
douro de soleira livre. Em 1954 a antiga usina foi substituída por 
unidades de recalque e a barragem alteada para 18,5 m através 
de reforços em contrafortes e com vertedouro com três compor-
tas de segmento de capacidade conjunta de 800 m³/s. No final 
do século passado, em função das intensas alterações nos co-
eficientes hidráulicos de sua área de drenagem devido à ur-
banização da cidade de São Paulo e das cidades vizinhas, o 
vertedouro foi redimensionado com considerável acréscimo de 
capacidade. Até os anos cinquenta todas as empresas de energia 
elétrica eram privadas e as suas usinas eram situadas principal-
mente nas regiões Sul e Sudeste. A maior parte das barragens 
eram estruturas de concreto gravidade ou de alvenaria de pe-
dra, não muito altas. Presentemente (2011) há 1206 MW ins-
talados em hidroelétricas de mais de 50 anos de idade. Muitas 
dessas unidades estão sendo agora reabilitadas e repotencia-
das. As primeiras grandes barragens do País foram Cedros 
acima mencionada e Lajes, que entrou em operação em 1906 
no estado do Rio de Janeiro com o objetivo de derivar as 
águas do ribeirão das Lajes para da usina de Fontes no Rio de 
Janeiro, na época uma das maiores do mundo.
Em 1934 o decreto federal nº 24643 conhecido como Código de 
Águas e o cancelamento da cláusula ouro que protegia as empre-
sas concessionárias dos efeitos da desvalorização da moeda nacio-
nal, passaram a desencorajar diretamente os investidores do setor 
elétrico. Devido à contenção tarifária e à fragilidade do capital 
nacional, passou a haver insuficiência de oferta de energia nas 
décadas seguintes. Os danos ao progresso da Nação foram inten-
sos e irrecuperáveis, tendo sido causado intenso estrangulamento 
na expansão de oferta de energia elétrica. Esse estrangulamen-
to fez com que o governo federal e alguns governos estaduais 
criassem empresas de energia elétrica. Assim, o setor elétrico foi 
aos poucos sendo estatizado.
Logo após a II Guerra Mundial, a Light, concessionária da mais 
desenvolvida região doPaís, construiu diversas barragens e 
grandes casas de forças subterrâneas no Rio de Janeiro e em 
São Paulo. Para esses empreendimentos consultores individu-
ais prestaram importante apoio tais como Karl Terzaghi, Arthur 
Casagrande e Portland Port Fox.
Desde o início dos anos cinquenta as concessionárias estatais pas-
saram a se concentrar em empreendimentos de grandes vultos. 
Por esse motivo as mais importantes contribuições no sentido de 
desenvolvimento de tecnologias de projeto, construção e opera-
ção de barragens são principalmente devidas à implantação de 
hidroelétricas. Em 1960, devido à desastrosa e desastrada políti-
ca de restrição tarifária iniciada pelo Código de Águas que incluiu 
o não reconhecimento de remuneração de capital empregado em 
obras de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, 
a capacidade instalada no território nacional era de apenas 5.000 MW, 
dos quais 3.700 MW provinham de hidroelétricas.
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
21
A evolução do conhecimento dos recursos 
hidroenergéticos. O legado da Canambra
Na primeira metade do século passado, dada a escassez de mapea-
mento e as dificuldades logísticas, os recursos hídricos em território 
brasileiro eram pouco conhecidos e não tinha havido ainda estudos 
sistemáticos que posteriormente, a partir dos anos sessenta, passaram 
a ser designados por estudos de inventário. A Light, responsável pelo 
suprimento de energia elétrica às mais importantes regiões no Rio de 
Janeiro e em São Paulo, efetuava estudos dispersos, tendo inclusive 
atingido as Sete Quedas, sem o conhecimento dos potenciais do rio 
Grande e do rio Paranaíba, muito mais próximos. Nessa época, John 
Cotrim, diretor técnico da Cemig, organizou uma expedição pelo rio 
Grande entre dois potenciais conhecidos: os locais das usinas de Itu-
tinga e de Peixoto. Nessa expedição foi identificado o local de Furnas 
Figura 4 – Barragem e reservatório de Lajes, uma das duas 
grandes barragens mais antigas do Brasil (1906)
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
22
que posteriormente deu origem à empresa de mesmo nome. A desco-
berta desse potencial causou espanto no meio técnico da época. Como 
reflexo desse levantamento veio o objetivo da Cemig de efetuar um 
levantamento dos recursos hidroenergéticos de Minas Gerais. A Cemig 
solicitou apoio financeiro ao Programa das Nações Unidas para o 
Desenvolvimento (UNDP sigla em inglês). Ao abrigo desse recurso 
financeiro, Cemig assinou, em 2 de novembro de 1962, um con-
trato com a Canambra Engineering Consultants, um consórcio entre as 
empresas consultoras canadenses, Montreal Engineering Company Ltd. 
e G.E. Crippen & Associates Ltd. e a americana Gibbs & Hill Inc., para 
que fosse realizado o inventário dos recursos hidroenergéticos em 
Minas Gerais. Com a sugestão do Banco Mundial que atuou nesse inven-
tário como agente executivo do UNDP, de estender os estudos à toda 
Região Sudeste considerando a importância desses estudos para a 
otimização dos investimentos em geração de energia elétrica e como 
todos os rios que nascem em Minas Gerais atravessam outros estados, 
o governo federal se interessou vivamente pela iniciativa da Cemig e, 
em 3 de junho do ano seguinte, os estudos foram estendidos à toda a 
Região Sudeste através de um contrato assinado entre a Canambra e 
Furnas. Para tanto, o ministro Gabriel Passos das Minas e Energia e os 
governadores dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro 
e Guanabara assinaram em 1 de março de 1963 o Plano de Opera-
ção. Inicialmente conhecido como ONU-Cemig, os estudos passaram 
a ser conhecidos como Canambra. Com esse propósito, o UNDP 
disponibilizou recursos da ordem de US$ 2,7 milhões, havendo a contra-
partida em moeda nacional no equivalente a US$ 3,8 milhões.
Três grupos foram formados, um em Belo Horizonte, um em São 
Paulo e um no Rio de Janeiro. Os dois primeiros grupos acima mencio-
nados desenvolveram o inventário dos recursos hidroenergéticos em 
relatórios independentes e o grupo sediado no Rio de Janeiro usou 
os resultados obtidos adicionados a investigações de outras possíveis 
fontes geradoras, inclusive termoelétricas a carvão, a óleo e usinas 
nucleares, para formatar o programa final de desenvolvimento ener-
gético da Região Sudeste. A área total investigada foi de 1,1 milhão 
de quilômetros quadrados cobrindo 28.000 km de rios, usando 
3.700 horas de voos de reconhecimento, englobando 510 locais de 
barragem dos quais 264 foram levantados com melhor precisão, 
o que demandou aerofotografias de uma área de 516.000 km². Fo-
ram identificados como viáveis potenciais que somados atingiram 
40.000 MW. Os estudos de inventário constituíram-se em atividade 
sem precedente, tendo direcionado o desenvolvimento hidroener-
gético da região. Nas fases posteriores de implantação das usinas, a 
maioria esmagadora dos estudos realizados pela Canambra foi 
posteriormente aprofundada nas etapas sucessivas de projeto den-
tro das diretrizes inicialmente estabelecidas. O relatório final foi 
entregue por J.K. Sexton, diretor da Canambra, a John Cotrim, 
chefe do Comitê de Direção dos Estudos, em dezembro de 1966. 
Considerando o sucesso dos estudos desenvolvidos na Região Su-
deste, a Canambra foi contratada para efetuar estudo de mesmo es-
copo para a Região Sul. Posteriormente, nos anos setenta, empresas 
nacionais realizaram estudos de inventário hidroenergéticos nas regi-
ões Norte e Nordeste. A partir dos anos oitenta os estudos anteriores 
começaram a ser revisados e densificados em quase todo o território 
nacional. Progressivamente as condicionantes ambientais foram 
ganhando espaço nas definições de projetos em inventários. Um 
exemplo típico foi a revisão do inventário do rio Paraibuna em Minas 
Gerais que havia sido feito nos anos oitenta. A partir de poucos anos 
Figura 5 – Grupo de Minas Gerais da Canambra trabalhando 
no escritório central da Cemig
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
23
após seu término, os projetos que pelas exageradas dimensões de 
seus reservatórios inundariam centros urbanos e grandes extensões 
de obras de infraestrutura viária, foram progressivamente alterados 
para reservatórios de menores dimensões, maior número de usinas 
com quedas mais modestas e pequenos trechos inaproveitados. Fo-
ram definidos os aproveitamentos de Picada, Sobragy, Cabuy, Monte 
Serrat, Bonfante e Santa Fé com pequenas áreas inundadas. Apesar 
de pequena perda energética em relação à partição de queda proposta 
nos anos oitenta, os empreendimentos passaram a ser econômica e 
ambientalmente viáveis, tendo sido implantados a partir do início dos 
anos noventa. Na usina que fica mais a jusante foi possível a compati-
bilização inédita do aproveitamento energético com a canoagem, qua-
se sempre objetivos antagônicos. Durante os dias de fim de semana, 
feriados e noites de lua cheia, são liberados para a canoagem pela bar-
ragem de derivação a descarga de 50 m³/s, ideal para a prática da cano- 
agem, garantindo melhores condições do que as condições naturais.
7a
7b
7c 7d
Figura 6 - John Cadman fotografado por John Cabrera, atolados na beira 
do rio, mostrando as dificuldades logísticas durante os levantamentos de 
campo efetuados pela Canambra
Figura 7a - PCH Monte Serrat no 
rio Paraibuna, Rio de Janeiro e 
Minas Gerais
Figura 7b - PCH Bonfante 
no rio Paraibuna, Rio de Janeiro 
e Minas Gerais
Figura 7c - PCH Santa Fé 
no rio Paraibuna, Rio de Janeiro 
e Minas Gerais
Figura 7d – Rafting no rio 
Paraibuna sobre a soleira vertedora da 
barragem de derivação de Santa Fé 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
24
Influenciada por essasalterações, a ANEEL contratou a Es-
cola Politécnica da UFRJ em 2000 para reestudar toda a bacia 
do rio Paraíba do Sul com atenção especial aos impactos am-
bientais, a menos das usinas existentes ou aprovadas entre as 
quais o complexo de Simplício. Dessa revisão dos inventários 
existentes resultou o projeto de mais de cinquenta novos apro-
veitamentos, em sua maioria esquemas de baixa queda para 
torná-los ambientalmente viáveis. Dentre os aproveitamentos 
de baixa queda destacam-se as PCHs gêmeas Queluz e Lavri-
nhas, assim denominadas por terem todos os equipamentos 
idênticos. Essas PCHs, com 30 MW cada, construídas no rio 
Paraíba do Sul a montante do reservatório do Funil, foram 
concluídas em 2011 e tiveram seus reservatórios condicionados 
pela infraestrutura viária do local.
Figuras 8a e 8b – PCH Queluz antes e depois do enchimento do reservatório. Em primeiro plano a ferrovia de concessão da MRS 
e ao fundo a ponte da rodovia Presidente Dutra BR-116
Figuras 9a e 9b - PCH Lavrinhas antes e depois do enchimento do reservatório. Em primeiro plano a ferrovia de concessão da MRS 
e ao fundo a rodovia Presidente Dutra BR-116
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
25
Alterações nos critérios tarifários e a 
consequente ampliação de implantação 
de hidroelétricas
 Nos anos sessenta e setenta, devido ao estabelecimento do cri-
tério da verdade tarifária introduzido no início do governo Cas-
telo Branco por Bulhões de Carvalho e Roberto Campos, um 
impressionante número de grandes hidroelétricas foram constru-
ídas e entraram em operação, algumas das quais entre as maiores 
do mundo na época.
Nos anos oitenta e noventa um menor número de hidroelétricas entra-
ram em operação devido à carência de recursos financeiros das estatais 
causada principalmente pelos impactos na economia nacional devi-
dos aos dois choques do petróleo e a crescente inflação. Entretanto, a 
concentração de investimentos em poucos, mas grandes empreendi-
mentos, continuou, resultando no que mostra a tabela a seguir.
Figura 10 – Local da usina hidroelétrica de Furnas no início de sua construção. 
A partir da esquerda Flavio H.Lyra, Juscelino Kubitschek de Oliveira, 
John R. Cotrim, Benedito Dutra e outros. Todos olhando para o fotografo 
a menos de Flavio H. Lyra preocupado com a concepção do projeto 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
26
Figura 11 – Casa de força e vertedouro da usina hidroelétrica de Tucuruí
Figura 12 – Usina hidroelétrica de Salto Santiago no rio Iguaçu
Figura 13 – Usina hidroelétrica de Itá em final de construção
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
Legenda:
N Região Norte 
S Região Sul 
SE Região Sudeste 
NE Região Nordeste
CO Região Centroeste
TE barragem de terra
ER barragem de enrocamento com núcleo de terra
BEFC barragem de enrocamento com face de concreto
CG barragem de concreto gravidade
CCR barragem de concreto compactado com rolo
GA barragem de concreto em gravidade aliviada
CF barragem de concreto em contrafortes
TABELA 1
Maiores Hidroelétricas em Operação em 2011
Hidroelétrica Potência Região Tipo de Barragem
 (MW)
Tucuruí 8.370 N TE/CG
Itaipu (Brasil) 7.000 S GA/CG/CT/ER/TE
Ilha Solteira 3.444 SE/CO TE/CG
Xingó 3.162 NE BEFC
Paulo Afonso IV 2.462 NE TE/CG
Itumbiara 2.082 SE/CO TE/CG
São Simão 1.710 SE/CO TE/CG
Foz do Areia 1.676 S BEFC
Jupiá 1.551 SE/CO TE/ER/CG
Porto Primavera 1.540 SE/CO TE/CG
Itá 1.450 S BEFC
Itaparica 1.479 NE TE/CG
Marimbondo 1.440 SE TE/CG
Salto Santiago 1.420 S ER
Água Vermelha 1.396 SE TE/CG
Segredo 1.260 S BEFC
Salto Caxias 1.240 S CCR
Furnas 1.216 SE ER
Emborcação 1.192 SE/CO ER
Salto Osório 1.078 S ER
Sobradinho 1.050 NE TE/CG
Estreito 1.050 SE ER
27
Extensos reservatórios foram criados para algumas dessas grandes 
hidroelétricas. Tais reservatórios passaram a propiciar benefícios de 
regularização de vazões e, consequentemente, otimização de operação 
e confiabilidade no suprimento de energia elétrica.
Figura 14 – Usina hidroelétrica de Sobradinho. 
Reservatório de maior área do Brasil
Figura 15 – Reservatório 
da usina hidroelétrica de 
Serra da Mesa, o de 
maior volume do Brasil 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
TABELA 2
Maiores Reservatórios
Barragem Área (km²) Volume (km³) Extensão (km)
Sobradinho 4.214 34 350 
Tucuruí 3.007 50 170
Balbina 2.360 17 225
Porto Primavera 2.250 20 250
Serra da Mesa 1.784 54 116
Itaipu* 1.350 29 170
*Incluindo a parte do reservatório sobre território paraguaio.
28
Desde pouco antes do início dos anos oitenta o governo federal 
e os governos estaduais passaram a enfrentar grandes dificulda-
des para prover recursos necessários para a implantação de novas 
usinas e de sistemas de transmissão. Um dos casos extremos ocor-
reu na implantação da hidroelétrica de Emborcação que, perante 
à reiterada ameaça da Eletrobras em não cumprir o contrato de fi-
nanciamento com a Cemig, esta denunciou a Eletrobras ao Banco 
Mundial. Considerando as funestas e intensas consequências ao 
País em outros empreendimentos financiados pelo Banco Mundial, 
a Eletrobras foi obrigada a cumprir o contrato. Nas obras federais 
houve intensa concentração de recursos na construção das maiores 
usinas, nomeadamente em Itaipu e Tucuruí, e depois em Xingó, 
ficando as demais obras federais sujeitas às verbas de desmobili-
zação. Essas verbas correspondiam aos valores que seriam des-
pendidos caso as obras viessem a ser paralisadas. Como esses 
valores eram insuficientes para manter o ritmo ideal de constru-
ção, essas obras ficaram sujeitas a vultosos dispêndios devido aos 
acréscimos de custo de construção e à maior incidência de juros 
durante a construção, tendo afetado negativamente as empresas 
contratadas para fornecimento de serviços e de bens de capital. 
A hidroeletricidade nos anos recentes
Em 1996, através da Lei 9427, uma importante modificação ocor-
reu no setor elétrico com a criação da Agência Nacional de Ener-
gia Elétrica. Pouco depois foi instituída a Agência Nacional de 
Águas e o Operador Nacional do Sistema, entidade, teoricamente 
privada, que atua na coordenação e no controle da operação das 
geradoras e dos sistemas de transmissão. Uma segunda alteração 
na legislação ocorreu em 2004 mantendo o processo de licitação 
para novos projetos, mas tornando-se vencedor aquele que apre-
sentasse a menor tarifa, ficando assim concessionário da usina ou 
do sistema de transmissão. As transações de compra e venda de 
blocos de energia no sistema interligado de transmissão são fei-
tas sob os auspícios do Mercado Atacadista de Energia através 
de contratos bi-laterais de curta duração. Todo o planejamento 
concernente a privatização, alterações operacionais e licitações 
para concessões têm sido processado pela ANEEL. Uma em-
presa federal (EPE - Empresa de Pesquisa Energética) foi criada para 
o desenvolvimento do planejamento do setor elétrico. Presen-
temente empresas de geração, de transmissão, de distribuição, 
de comercialização e outros investidores são encorajados a im-
plantar usinas de geração e sistemas de transmissão, bem como 
comercializar a energia produzida ou transmitida.
Devido ao sistema ser interligado em grande parte do territó-
rio nacional, as novas hidroelétricas, além de suprirem energia na 
sua região, promovem benefícios para outras áreas. Como resulta-
do, um vasto sistema de transmissão em alta tensão e em extra alta 
tensão promove a interligação de várias regiões do País ao sul do 
rio Amazonas unindo os dois maiores sistemas nacionais: o Norte/
Nordesteao Sul/Sudeste/Centroeste. Está programada para fu-
turo próximo a interligação entre a margem sul e a margem norte 
do rio Amazonas. Em 2008 mais de 95% da população tinha aces-
so a serviço público de eletricidade compreendendo mais de 99% 
dos municípios. Uma grande parte do território brasileiro, com 
exceção de sistemas isolados na Região Norte, é servido por mais 
de 90.000 km de sistemas de transmissão interconectados em 
230 kV, 345 kV, 440 kV, 500 kV e 750 kV.
Em novembro de 2008 a capacidade instalada no País era de 
104.816 MW em 1768 usinas geradoras das quais 706 eram hidroelé-
tricas, 1042 termoelétricas e duas termonucleares. Nos últimos 10 anos 
a média anual do aumento da capacidade instalada foi de 3652 MW. 
Há poucos anos atrás bem mais de 90% da capacidade instalada provinha 
de usinas hidroelétricas. Ao final de 2008 essa proporção caiu para 74% 
devido ao planejamento para a diversificação de fontes geradoras e às 
dificuldades de obtenção de licenciamentos ambientais para barra-
gens e reservatórios. Em abril de 2011 a capacidade total instalada no 
País passou a ser de 112.398 MW. Entretanto, a carga de impostos 
na geração de energia elétrica é de cerca de 45% da tarifa cheia, o que 
faz com que, apesar do grande número das grandes usinas hidroelétri-
cas que operam há mais de 30 anos estarem teoricamente depreciadas, 
a energia elétrica disponibilizada no Brasil possa ser a mais cara do 
mundo devido principalmente a essa elevada carga tributária. Impostos, 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
29
taxas e contribuições mandatórias em uma conta de consumo de ener-
gia elétrica em residência de classe média quando comparada ao custo 
direto da energia fornecida, se situam no entorno de 85%. Presente-
mente (meados de 2011) a tarifa média para a indústria no Brasil é de 
R$ 329/MWh, 134% superior à média das tarifas industriais nos ou-
tros países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) que se situam em 
R$140,7/MWh. Em estudo recente a FIRJAN considerou críticos os 
níveis dos quatorze encargos cobrados sobre a energia elétrica. 
Entre 2015 e 2017 muitas das concessões das maiores hidroelétricas 
e dos sistemas de transmissão estarão vencidas. Pela legislação em vi-
gor essas concessões retornarão à União que deverá efetuar licitações 
para definição de novos concessionários. As hidroelétricas a serem 
licitadas já estarão totalmente depreciadas, o que, pelo espírito da 
Lei, deverá fazer com que as tarifas venham a ser consideravelmente 
reduzidas. As atuais concessionárias terão que se adaptar à nova 
realidade. Prevê-se que em 2015 cerca de 20% do parque gerador, 
70.000 km de linhas de transmissão e 33% dos contratos de distri-
buição deverão ter suas concessões licitadas. Em abril de 2011 as 
grandes concessionárias como CESP, CEMIG e COPEL forma-
ram um grupo para discutir o problema e tentar influenciar uma 
alteração na legislação visando prorrogações das concessões. Fur-
nas, por exemplo, poderá perder até 52% do seu atual faturamento 
caso as concessões que vencem no período acima mencionado, 
não venham a ser renovadas. Essas concessões, no caso de Furnas, 
compreendem a 5000 MW em seis usinas, além de ativos em siste-
mas de transmissão. Tem havido por parte das atuais concessionárias 
e de governos estaduais, intenso lobby para a manutenção das atu-
ais concessões. Por outro lado a FIESP defende que a legislação 
não venha ser alterada ou violentada e que as licitações sejam feitas; 
considera que com as licitações as tarifas despencarão a níveis de 
20% dos atuais, pois os investimentos na construção das usinas e 
nos sistemas de transmissão já foram amortizados há muito tempo. 
Para tanto, a FIESP entrou com representação no TCU solicitando 
intervenção para que providências sejam tomadas no sentido de 
garantir a execução das licitações de concessão. Entretanto, um dos 
principais problemas é que, com o elevadíssimo nível dos encargos 
sobre o fornecimento da energia elétrica, a intensa redução das tarifas 
que beneficiaria os contribuintes e recolocaria a competitividade da in-
dústria nacional no mercado externo, faria com que o governo perdesse 
arrecadação o que não costuma ser aceito pelos políticos da situação.
Desde a última década do século XX, um grande número de in-
vestidores têm atuado na implementação de pequenas centrais 
hidroelétricas até o limite de 30 MW instalados. A esmagado-
ra maioria dessas pequenas usinas tem modestos reservatórios, 
pequenas barragens, vertedouros de superfície em lâmina livre 
e casas de força em posição remota em relação às barragens.
Figura 17 – Barragem da PCH Ivan Botelho II 
(Palestina) em Minas Gerais
Figura 16 - PCH Calheiros 19 MW no rio Itabapoana, 
entre os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
30
Hidroelétricas de porte médio são também atraentes a investido-
res privados por apresentarem, em relação às empresas estatais, 
menores custos internos. 
Grandes hidroelétricas estão presentemente sendo construídas. 
As hidroelétricas de Jirau e Santo Antônio, situadas no rio Ma-
deira a montante de Porto Velho terão, no seu conjunto, cerca de 
6900 MW instalados. O rio Madeira drena uma extensa área 
da Cordilheira dos Andes na Bolívia. Os vertedouros dessas 
duas barragens foram dimensionados para as descargas de-
camilenares de 82.600 m³/s e 84.000 m³/s, sendo cada um 
equipado com 20 comportas de segmento de 20 m x 25,2 m. 
Ambas casas de força abrigarão unidades bulbo operando pra-
ticamente a fio d’água. Os reservatórios com área de 258 km² e 
271,3 km², inundarão terrenos da Floresta Amazônica. Entre-
tanto, a relação entre área inundada em km² e a capacidade 
instalada em MW é de cerca de 0,08, extremamente baixa em 
comparação com a média nacional.
Encontra-se em início de construção a hidroelétrica de Belo 
Monte que terá a capacidade instalada de 11.233 MW no rio 
Xingu, um dos maiores tributários do rio Amazonas. Esse apro-
veitamento está sendo estudado há trinta anos. Por restrições 
ambientais e com a finalidade de se conseguir o licenciamento 
ambiental, a barragem de Babaquara que regularizaria o rio 
Xingu a montante de Belo Monte, teve seu projeto abando-
nado e a área do reservatório de Belo Monte que inicialmente 
era de 1225 km², passou para 516 km². O empreendimento 
afetará 4300 famílias urbanas e 800 famílias rurais. A hidroe-
létrica de Belo Monte terá baixa relação entre a área do reser-
vatório e a capacidade instalada: 0,05 km²/MW. A média na-
cional é de 0,49 km²/MW. Outras grandes hidroelétricas como 
Tucuruí (0,29 km²/MW), Itaipu (0,10 km²/MW) e Serra da 
Mesa (1,40 km²/MW) embora com relações modestas, apre-
sentam índices mais elevados. A ausência de reservatórios de 
regularização no rio Xingu faz com que o fator de capacidade 
seja muito baixo. Localizada nas proximidades de Altamira, no 
Pará, a usina aproveitará a queda na grande curva do Xingu. 
Pelo projeto em processo de licenciamento, serão implanta-
das duas casas de força, uma com 11.000 MW com unidades 
Francis sob 87,5 m de queda líquida e outra, denominada casa 
de força complementar, com 233 MW com unidades bulbo sob 
11,5 m de queda l íquida. A descarga remanescente é a 
maior que se tem notícia, 700 m³/s, que fluirão pela casa de 
força complementar.
18 – PCH Cachoeira em Rondônia, pequena estrutura (barragem) de derivação
Figura 19 – Usina hidroelétrica de Monjolinho com vertedouro do tipo lateral 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
31
Figura 20 – Usina hidroelétrica de Santa Clara em Minas Gerais
Figura 21 – Barragem vertedoura da hidroelétrica 
de Picada em Minas Gerais
Figura 22 – Obras da usina hidroelétrica de 
Santo Antônio no rio MadeiraC i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
32
A hidroelétrica de Estreito, também situada na Amazônia, projeta- 
da para 1087 MW instalados encontra-se (maio de 2011) em início 
de operação comercial após quatro anos de atrasos devido a demo-
ras no licenciamento ambiental e a paralisações referentes a ações 
judiciais e a atos de ocupação indevida de seu canteiro de obra. 
A auto-produção de energia elétrica tem movimentado em anos re-
centes várias empresas de grande vulto como a Vale, a Petrobrás, 
a CSN, a Votorantim e muitas outras. Um exemplo marcante é a 
Companhia Brasileira de Alumínio CBA que por longo período foi o 
maior auto-produtor de energia elétrica do País. No início dos anos 
quarenta a família Carvalho Dias e o empresário, engenheiro e político 
José Ermírio de Moraes fundaram a CBA para exploração da jazida 
de bauxita que havia sido identificada nas terras dos Carvalho Dias 
nas proximidades de Poços de Caldas, MG, e montar uma fábrica 
de alumínio, indústria eletrointensiva. Em 1942 o DNAEE determi-
nou que a São Paulo Light suprisse de energia elétrica a fábrica que 
estava projetada para ser construída no município de Mairinque, SP. 
Como a São Paulo Light não dispunha de energia para garantir o 
fornecimento à CBA, esta requereu a concessão do rio Juquiá-Guaçu 
e do seu afluente Assungi. A concessão só foi outorgada em 1952.
Em conversa com o autor, o engenheiro Antônio Ermírio de Mo-
raes externou as dificuldades que encontrou, sendo um empreen-
dedor privado, para a obtenção da concessão. Afirmou ainda que 
considerava estratégico ter a garantia de produção de pelo menos 
50% da energia necessária à sua indústria.
Assim, a CBA deu início à implantação de uma série de usinas no rio 
Juquiá-Guaçu: em 1958 entrou em operação a hidroelétrica de França 
com 24 MW, em 1963 Fumaça com 36,4 MW, em 1974 Alecrim com 
72 MW, em 1978 Serraria com 24 MW, em 1982 Porto Raso com 
28,4 MW, em 1986 Barra com 40,4 MW e, finalmente, em 1989 Iporanga 
com 36,87 MW. Nesse período, em 1974, a CBA adquiriu da São Paulo 
Light a hidroelétrica de Itupararanga com 55 MW. Com os principais po-
tenciais do rio Juquiá-Guaçu explorados, a CBA partiu para o médio rio 
Paranapanema, tendo construído as hidroelétricas de Piraju com 80 MW 
que entrou em operação em 2002 e Ourinhos em operação desde 2006. Figura 23 – Barragem da usina hidroelétrica de Barra no rio Juquiá, em São Paulo
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
33
Figura 24 - Barragem da 
usina hidroelétrica de Fumaça, 
no rio Juquiá, em São Paulo
Figura 25 – Projeto da barragem da usina hidroelétrica de Barra Figura 26 – Projeto da barragem da usina hidroelétrica de Fumaça
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
34
Os projetos das hidroelétricas da CBA no rio Juquiá-Guaçu fo-
ram todos de concepção italiana, com barragens de concreto de 
gravidade aliviada. Além do acompanhamento constante do en-
genheiro Antônio Ermírio de Moraes, o executivo da empresa era 
o médico Miguel Carvalho Dias que contava com a importan-
te colaboração de vários engenheiros de destaque na profi ssão 
entre eles Carlos Mazzaro, Newton Sady Busetti, Edilberto Mau-
rer e Valério Mortara para o qual o autor teve o privilégio de 
entregar o título de engenheiro eminente pela Associação dos 
Antigos Alunos da Politécnica em 2000. 
Barragens de rejeitos
Atividades de mineração representam um importante segmen-
to na economia nacional. Devido à legislação ambiental, um 
grande número de barragens de rejeitos foram construídas ou 
estão presentemente em construção. A barragem do Germano, 
a maior do País, que atualmente (maio de 2011) está com 155 m 
de altura é projetada para atingir 170 m de altura no seu estágio 
fi nal. Embora não haja um registro de barragens de rejeitos no 
País, são conhecidas mais de 700 barragens em Minas Gerais 
e pelo menos 150 outras nos demais estados da Federação. 
O método de construção mais empregado é o método de mon-
Figura 27 – Antônio Ermirio de Moraes principal 
executivo do Grupo Votorantim, detentor da CBA
Figura 28 - Usina 
hidroelétrica de 
Piraju no rio 
Paranapanema 
entre São Paulo 
e Paraná
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
35
tante. Entretanto, para rejeitos finos a muito finos como na mi-
neração de ouro, o método de jusante é empregado. Um projeto 
não usual foi adotado para a disposição de rejeitos em mina de 
urânio em Poços de Caldas. Foi adotada uma barragem de 
terra e enrocamento compactados, com três filtros chaminé 
internos, para ser construída em três fases. Para impedir que 
a água de chuva se misturasse com a água percolada pelo ma-
ciço da barragem e pela sua fundação, água esta que tem que 
ser tratada, o talude de jusante da barragem foi projetado 
para ser coberto com uma face de concreto.
Controle de cheias
Por muitos anos desde 1944, o Departamento Nacional de Sa-
neamento, órgão do Ministério do Interior, foi ativo em empre-
endimentos de controle de cheias envolvendo a construção de 
barragens, polders e drenagens. As barragens foram construídas 
principalmente com o objetivo de evitar cheias em áreas populosas. 
Os dois mais destacados empreendimentos foram o sistema de 
controle de cheias do rio Itajaí em Santa Catarina, que inclui 
três barragens que são somente usadas para controlar as des-
cargas afluentes, o sistema de proteção de cheias da cidade de 
Recife em Pernambuco, que compreende três barragens de ter-
ra. O critério de projeto que em geral era adotado objetivava o 
controle das cheias de período de recorrência de 100 anos ou a 
maior cheia que tivesse sido registrada. Em 1990 as ativida-
des desse Departamento foram abruptamente encerradas e o 
Departamento extinto. Nos primeiros anos dos anos noventa 
diversas barragens que antes eram controladas pelo DNOS fi-
caram sem qualquer controle e sem responsável pela operação e 
segurança. Durante a estação chuvosa de 2009 uma grande cheia 
ocorreu na bacia do rio Itajaí e as três barragens não foram su-
ficientes para controlar toda a descarga afluente. Severas con-
sequências em grande área alagada no baixo vale do Itajaí com-
preenderam impressionantes perdas de propriedades. Presente-
mente estados e prefeituras que, em geral, não são capacitados 
técnica e financeiramente, têm de enfrentar por conta própria 
os problemas de controle de cheias.
Vias navegáveis
A navegação interior permanece sendo o método de transporte mais 
usual na Região Amazônica onde há longos e caudalosos rios que 
podem ser usados ao longo do ano todo. Nesse grupo de rios se 
encontram todo o rio Amazonas, seus formadores os rios Solimões 
e Negro, bem como extensos trechos inferiores dos seus afluentes, 
principalmente nos trechos sobre terrenos sedimentares recentes. 
Nas outras regiões, os poucos empreendimentos de navegação 
interior existentes são em geral anexos a hidroelétricas. As duas 
principais bacias com eclusas instaladas em hidroelétricas são as dos rios 
Tietê e Paraná, em São Paulo e do São Francisco, no Nordeste.
Paisagismo
Desde a construção, em 1958, da barragem de Pampulha em que 
criou um belo espelho d’água na cidade de Belo Horizonte, algu-
mas pequenas barragens foram construídas no coração de outras 
cidades para criação de lagos artificiais como elemento paisagístico. 
O maior e mais famoso desses lagos artificiais é o reservatório de 
Paranoá, na capital federal.
Figura 29 - Eclusas da barragem de Três Irmãos sobre o rio Tietê
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
36
Obras de abastecimento de água
Barragens têm sido construídas como parte de sistema de abaste-
cimento de água para zonas urbanas eindustriais. O mais destaca-
do desses sistemas é o sistema de Cantareira para abastecimento 
de água da grande São Paulo e cidades do vale do Piracicaba. Esse 
sistema foi construído nos anos setenta e compreende sete gran-
des barragens de terra, sete túneis escavados em rochas gnaíssicas 
e graníticas numa extensão total de 29 km e uma grande estação de 
recalque subterrânea com capacidade de 33 m³/s. Os dois maio-
res sistemas do Rio de Janeiro aproveitam as barragens da Light 
construídas entre o início do século (sistema Lajes), e as barragens 
do sistema de derivação dos rios Piraí e Paraíba do Sul (siste-
ma PPD). Outro sistema importante é o de Belo Horizonte 
compreendendo obras hidráulicas de vulto, com captações em 
barragens no rio das Velhas e no rio Manso. Um sistema que me-
rece menção é o sistema para o abastecimento d’água da cidade de 
Fortaleza. O sistema inclui a barragem de terra do Castanhão 
com trecho em concreto compactado com rolo, concluída em 
1999 com 72 m de altura, represando 4,46 bilhões de metros cúbicos 
de água sob uma superfície de 325 km² no nível d’água máximo nor-
mal. O sistema necessitou da construção de 256 km de canais para 
suprimento de 22 m³/s para a cidade e para projetos de irrigação, 
descarga essa que corresponde a 90% de permanência. O mais recente 
empreendimento de vulto para abastecimento de água é a barra-
gem João Leite construida em concreto compactado com rolo, 
com 53,5 m de altura e vertedouro de soleira livre sobre a barra-
gem. A barragem possibilita o acréscimo de 5,33 m³/s de reforço 
ao abastecimento das principais cidades do estado de Goiás.
Merece menção a barragem do Ribeirão João Leite, concluida 
em 2009, a qual é destinada ao abastecimento de água da cidade 
de Goiânia. O artigo técnico sobre o projeto e a construção desta 
barragem de CCR com 53,50 m de altura e alas de terra faz parte 
da publicação do CBDB Main Brazilian Dams III. 
Figura 30 – Barragem do 
Ribeirão João Leite para 
o abastecimento d’água 
da cidade de Goiânia
Figura 31 - Barragem 
de Pindobaçu na Bahia, 
aproveitamento de 
finalidades múltiplas
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
37
Entretanto, um estudo recentemente concluído pela Agência Nacio-
nal de Águas revelou que a situação do abastecimento de água em 
55% dos 5565 municípios brasileiros está se agravando e deve-
rá estar insuficiente em 2015. Serão necessários investimentos de 
R$ 22 bilhões para garantir a oferta de água de qualidade adequa-
da até o ano de 2025. O maior problema da área de saneamento 
básico, entretanto, se concentra na coleta e tratamento de esgoto 
uma vez que são poucas as cidades que dispõem de estações com 
capacidade de tratamento de porcentagens consideráveis dos es-
gotos coletados. Esse estudo da Agência prevê a necessidade de 
investimentos superiores a R$ 50 bilhões até 2025 tendo em vista o 
precário estado dos sistemas de esgoto sanitário de quase todos 
os municípios brasileiros. A esmagadora maioria dos esgotos é 
lançada em corpos d’água (rios, lagos e oceano) sem tratamento.
Finalidades múltiplas
Barragens com finalidades múltiplas eram raras no cenário na-
cional devido à estanqueidade dos órgãos federais e estaduais na 
definição dos empreendimentos hidráulicos. O primeiro gran-
de exemplo de barragem implantada com finalidades múlti-
plas foi Três Marias com objetivos de regularização do rio São 
Francisco, beneficiamento à navegação interior e geração de 
energia elétrica. Dessa forma, premido por necessidade de ini-
ciar as obras de Três Marias e de Furnas, o governo Juscelino 
Kubitschek foi forçado a definir recursos federais para a implan-
tação da barragem, do vertedouro e do reservatório, enquanto 
a Cemig arcou com a casa de força.
Figura 32 - Barragem 
de Mirorós na Bahia, 
aproveitamento 
para irrigação e 
abastecimento de água
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
38
Reservatórios 
interligados de 
Paraibuna e 
Paraitinga
Outro exemplo é a barragem de Pedra do Cavalo na Bahia que con-
tribui para o controle de cheias, o abastecimento de água, a produção 
de energia, a regularização e a irrigação. Importantes empreendi-
mentos de finalidades múltiplas são as barragens do alto e médio rio 
Paraíba do Sul, Paraitinga, Paraibuna, Santa Branca, Jaguari e Fu-
nil que contribuem para a regularização de descargas, controle 
de cheias, geração de energia elétrica e possibilitam o abastecimento 
do Grande Rio de Janeiro.
A evolução dos segmentos de bens de 
capital e de prestação de serviços 
Toda essa atividade em projeto, construção e operação de barragens, 
bem como em fabricação e montagem de equipamentos, incentivou 
a engenharia brasileira, tão dependente de apoio estrangeiro na primei-
ra metade do século XX, a se tornar uma das líderes mundiais nesse 
setor. Muitas empresas brasileiras de projeto e construção se ex-
pandiram durante a segunda metade do século XX e presentemente 
ocupam relevante posição no cenário internacional. Neste mesmo 
período diversas fábricas de equipamentos mecânicos, elétricos e ele-
trônicos se estabeleceram no País e têm suprido a demanda interna 
e exportado equipamentos para diversos outros países. 
Nos últimos 20 anos do século passado o País atravessou um perío-
do de severa estagnação econômica quando vinte empreendimentos 
com barragens do setor elétrico tiveram sua construção suspensa 
por falta de recursos financeiros. Durante esses anos muitas em-
presas brasileiras desenvolveram com sucesso atividades no ex-
terior em países de todos os continentes. Depois de passado esse 
período, a engenharia brasileira voltou a ter um mercado interno 
robusto com alguns dos maiores projetos do mundo atual tais como 
as hidroelétricas de Jirau, Santo Antonio, Estreito e Belo Monte, 
além de diversas hidroelétricas de pequeno e médio porte.
Figura 33b 
– Barragem e 
casa de força de 
Paraibuna
Figura 33a – Barragem de Paraitinga 
no final de sua construção
Figura 33c – Diques 
durante o primeiro 
enchimento do reservatório
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
39
O desenvolvimento e o desmonte da 
engenharia consultiva
Os estudos e projetos de barragens no País tiveram duas origens 
distintas. No Nordeste, tanto no DNOCS quanto na CHESF, 
havia predominância da engenharia nacional com grandes 
contingentes de engenheiros formados em nossas escolas, mes-
mo que inicialmente carentes de experiência. Nota-se que os 
projetos do DNOCS eram feitos na sua sede no Rio de Janei-
ro antes da mudança para Fortaleza, com influência de eventuais 
consultores provenientes do U.S. Bureau of Reclamation. 
Os projetos da CHESF, principalmente na sua primeira hi-
droelétrica, Paulo Afonso I, foram feitos no canteiro de obra 
por equipe nacional com influência de alguns engenheiros es-
trangeiros recrutados como imigrantes após o término da Se-
gunda Grande Guerra Mundial e de outros que trouxeram 
marcante influência francesa. Entretanto, nesses dois casos, a força de 
trabalho e a responsabilidade técnica eram essencialmente nacionais. 
Na Região Sudeste, os projetos da Light e da AMFORP eram ni-
tidamente comandados, no início do Século XX, por americanos. 
A organização da AMFORP veio influenciar na organização da 
CEMIG, em Minas Gerais, através do engenheiro John Cotrim 
que também trouxe, em seguida, essa experiência organizacional 
para Furnas. 
Tanto a CEMIG quanto Furnas tiveram seus primeiros grandes 
projetos elaborados por empresas consultoras americanas. Aos pou-
cos, foram se formando importantes e bem estruturadas empresas 
consultoras nacionais que passaram a atuar nas linhas de frente 
dos grandes empreendimentos hidroelétricos dessas duas em-
presas concessionárias.Outras empresas do setor elétrico con-
tavam com projetos desenvolvidos por consultoras suíça, alemã, 
portuguesa e italiana. Em São Paulo, o governo estadual orientava 
os projetos dos anos cinquenta para empresas brasileiras ou para 
um conjunto de consultores individuais, por bacias hidrográficas. 
Quando finalmente foi enfrentado um projeto de grandes propor-
ções, a equipe do contratante, especialmente o engenheiro José 
Gelazio da Rocha, incentivou os consultores independentes das 
barragens do rio Pardo a formar uma empresa que pudesse desen-
volver a contento o projeto da hidroelétrica de Jupiá, no rio Paraná, 
de dimensões inusitadas para a época. 
Figura 34 - Barragem de finalidades múltiplas de Funil
Figura 35 - John Reginald Cotrim jovem na EBASCO 1942-44
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
40
As hidroelétricas projetadas pelo DNOS no Sul e na Bahia, também 
já contavam com expressivo contingente de engenheiros brasileiros. 
Os anos setenta se caracterizaram por um enorme desenvolvimen-
to da consultoria brasileira. Nessa época as empresas de projeto 
assumiam crescentes responsabilidades em um grande número de 
projetos de envergadura, principalmente no setor elétrico. Esse 
desenvolvimento acelerado foi em parte condicionado por lei de 
proteção ao mercado de consultoria e projeto, conseguida durante 
o governo de Costa e Silva. A Associação Brasileira de Consul-
tores de Engenharia - ABCE analisava cada contratação de con-
sultoria externa para detectar se havia similar nacional. Essa lei só 
foi cancelada sem alarde e sem anúncio no governo Sarney para 
os projetos do programa de irrigação de um milhão de hectares.
Nos anos setenta quase dez consultoras brasileiras figuravam en-
tre as maiores do mundo. Por outro lado, as consultoras brasileiras 
tinham como obstáculo a lei da informática que prejudicou so-
bremodo o desenvolvimento da produção de projetos e, de 
acordo com o então senador Roberto Campos, tornou o contra- 
bandista um herói nacional. 
Quase todo esse desenvolvimento era calcado em contratos cost 
plus com empresas estatais do setor elétrico. Essa modalidade con-
tratual foi introduzida pelas empresas americanas de consultoria 
na segunda metade dos anos cinquenta. Por esse tipo de contrato 
a consultora era remunerada pelo custo do serviço baseado nos 
salários de suas equipes técnicas multiplicados por um fator que 
representava os impostos, os encargos sociais e as despesas diretas, 
com a adição do seu lucro em função do trabalho efetivamente de-
senvolvido. As consultoras a cada mês recebiam antecipadamente 
de acordo com a programação aprovada e prestava conta ao final 
de cada mês. Dessa forma passou a haver elevada segurança con-
tratual mesmo em regime inflacionário que se acentuou a partir do 
governo JK. Dessa forma praticamente não havia necessidade de 
capital de giro, a inflação não era sentida e o risco de inadimplência 
era muito reduzido. Entretanto, esse tipo de contrato veio causar 
o desmanche das empresas consultoras na década seguinte. 
Em 1979 foi instituído o teto salarial nas empresas estatais, teto 
este que era o salário direto nominal do Presidente da República, 
na época o general Figueiredo. Como o salário direto nominal do 
Presidente não era muito elevado, os salários nas estatais passaram 
Figura 36 - Usina hidroelétrica de Volta Grande no rio Grande
Figura 37 - Usina hidroelétrica de Itapebí no rio 
Jequitinhonha, na Bahia
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
41
a ser achatados. Por terem salários achatados, os funcionários das 
estatais federais contratantes de serviços de consultoria passaram 
a não aprovar nos contratos reajustes salariais dos empregados 
das empresas contratadas. Como a inflação era intensa, as consul-
toras passaram a sofrer pressões dos dois lados: as suas equipes 
demandando reajustes salariais corretos e os clientes não apro-
vando esses reajustes nos contratos. O equilíbrio financeiro dos 
contratos das consultoras foi rapidamente corroído. 
A letra desse tipo de contrato pelo custo significava que deveria 
haver reembolso pelos acréscimos de custos devido à inflação. 
A inflação se intensificava a cada período, tendo chegado a um 
pico de mais de 80% ao mês e ao impressionante e quase ina-
creditável, para os que não vivenciaram, índice de 13 trilhões e 
342 bilhões por cento no período de apenas quinze anos que an-
tecederam ao Plano Real. As consultoras, através da Associação 
Brasileira de Consultores de Engenharia - ABCE, pleiteavam in-
cessantemente fórmulas de reajustes sem encontrar eco em mui-
tas das empresas contratantes. Nessas empresas uma posição de 
clarividência foi assumida pelo engenheiro João Alberto Ban-
deira de Mello que atuava na Eletrobras e que propunha que, 
além do correto reajustamento, houvesse também o justo reem-
bolso dos elevados juros que as consultoras já estavam pagando 
ao sistema financeiro. Essa proposição sequer foi considerada e 
só após muito tempo, já com as consultoras descapitalizadas e 
endividadas, é que uma correção parcial foi admitida nos contra-
tos, mesmo assim após 45 dias da entrega da respectiva fatura, 
ou seja, até 75 dias da execução dos serviços. 
Adicionando a esses aspectos deletérios, sobreveio, nos anos oiten-
ta, a crise financeira das estatais, principalmente das federais, no-
meadamente as que não tinham grandes gerações de energia como 
era o caso da Light e de FURNAS. Essas outras empresas passa-
ram a atrasar sistematicamente o pagamento das faturas, em várias 
ocasiões por mais de cinco meses. Como para as consultoras, nos 
contratos pelo custo, os seus técnicos não podiam acumular horas 
trabalhadas para somente faturá-las quando houvesse recursos nas 
caixas das contratantes, os faturamentos tinham que ser mensais. 
Incrivelmente neste País os impostos incidem no ato do faturamen-
to, mesmo que não venha haver pagamento. As consultoras tinham 
que recolher impostos por serviços que não eram pagos ou que 
seriam pagos meses depois, corroídos por uma inflação galopante.
No advento do governo Sarney houve um dos muitos planos he-
terodoxos no qual teoricamente a inflação seria nula. Foram cria-
dos os “fiscais do Sarney” que acusavam às autoridades eventuais 
aumentos de preços. As contratantes do setor elétricos viraram 
“fiscais do Sarney” e unilateralmente abateram os multiplica-
dores dos contratos alegando que a partir daquele instante não 
mais haveria inflação. Entretanto, esses multiplicadores haviam 
sido estabelecidos nos anos cinquenta quando a inflação antes do 
governo Juscelino ainda era muito baixa. 
Finalmente, no auge da crise das contratantes estatais federais, as 
consultoras foram chamadas para receber parte de alguns atra-
sados pagos em títulos que eram chamados de moeda podre, 
pois valiam no mercado apenas uma pequena fração de seu valor 
de face, em geral cerca de 25%, mesmo assim quando e só 
quando eram usados nos programas de privatização. Dessa for-
ma, o governo federal desovou empresas nos programas de 
privatização ganhando dos dois lados.
Daquelas grandes empresas de consultoria de engenharia que fi-
guravam como das maiores do mundo, algumas foram reduzidas 
a níveis pequenos e várias fecharam, tendo originado forte de-
semprego no ramo da engenharia e tendo sido criado o termo 
“o engenheiro que virou suco.”
Mas outros profissionais se reuniram em pequenas empresas, algu-
mas delas atuando em segmentos específicos. Algumas dessas em-
presas foram gradativamente crescendo e hoje já apresentam grande 
número de profissionais engajados. 
Os contratos, entretanto, devido a essa experiência desastrosa, não 
mais foram de remuneração pelo custo; presentemente a esmaga-
dora maioria dos contratos por prestação deserviços de consultoria 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
42
é por preço fixo, o que transfere para a consultora um risco que 
deveria ser do empreendedor.
A partir dos anos oitenta as consultoras menos atingidas pelos im-
pactos acima relatados voltaram-se para o mercado externo com 
o objetivo de substituir os contratos nacionais. Algumas empresas 
tiveram sucesso e hoje estão presentes em vários continentes. 
O desenvolvimento das empresas de 
construção
Semelhantemente ao que ocorreu nas atividades de estudos e 
projetos, a construção de barragens no Nordeste foi efetivada 
principalmente com equipes do próprio empreendedor, seja o 
DNOCS ou a CHESF. No caso do DNOCS, apenas em algumas 
poucas barragens consideradas de grande vulto na época, empre-
sas estrangeiras foram contratadas para executar as obras civis. 
O DNOCS construiu mais de duas centenas de grandes barra-
gens com recursos humanos e equipamentos próprios. Entretanto, 
as obras mais recentes que datam do final do século passado, 
foram implantadas por empresas privadas de construção.
A partir de sua fundação até a conclusão da hidroelétrica de Moxo-
tó, a CHESF construiu com equipe própria suas barragens e usinas. 
A partir dessa época, dado o desenvolvimento das construtoras 
nacionais, estas passaram a ser contratadas para todas as demais obras.
No Sudeste as construtoras estrangeiras foram utilizadas pela 
Light e pela AMFORP em suas hidroelétricas que são mais 
antigas, todas com construções compreendidas do início até 
meados do século passado.
Da mesma maneira, ainda nos anos cinquenta, Furnas contratou 
para a usina que deu nome à empresa, uma construtora britânica 
associada a uma empreiteira brasileira. Para essa usina, na época uma 
das maiores do mundo em capacidade instalada, em altura da bar-
ragem e em potência dos seus equipamentos de geração, outra em-
presa brasileira com experiência restrita à construção de estradas 
foi contratada para erguer a barragem auxiliar de Pium-I, tendo 
socorrido os empreiteiros principais na elevação rápida do núcleo 
da barragem de Furnas. Com a experiência adquirida essa empre-
sa assim como outras que se capacitaram, já nas obras seguintes, 
assumiram a condução das construções.
Figura 38 - Usina hidroelétrica de Xingó no rio São Francisco
Figura 39 – Usina hidroelétrica de Furnas logo 
após o enchimento do reservatório
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
43
A CHEVAP, encarregada da implantação da barragem em 
abóbada de Funil, contratou uma empresa nacional para a bar-
ragem principal e outra empresa nacional para a barragem de 
terra de Nhangapi, na época a segunda maior barragem desse 
tipo no País. Furnas, ao assumir a responsabilidade da cons-
trução da usina do Funil, substituiu a empresa construtora da 
barragem principal por uma empresa dinamarquesa, hoje de 
controle nacional.
A CEMIG, ao ser instituída, assumiu usinas de portes pequeno 
e médio que vinham sendo implantadas por empresas nacionais. 
Sua primeira grande obra, a usina de Três Marias, foi constru-
ída por empreiteira americana, mas posteriormente, empresas 
brasileiras passaram a ser contratadas à exceção da hidroelétri-
ca de São Simão que, após acirrada concorrência internacional, 
foi delegada a uma empresa italiana. 
As grandes empresas brasileiras atravessaram a recessão econô-
mica e a desaceleração das obras no País nas décadas de oitenta e 
noventa, partindo com muito sucesso para empreendimentos no 
exterior. Com a intensificação dos investimentos em obras hidráu-
licas no País, as empresas construtoras têm atuado com intensidade 
semelhante à do passado, nos anos setenta. A ampla dissemina-
ção de pequenas e médias centrais hidroelétricas que ocorreu nas 
duas últimas décadas, fez com que surgisse considerável número 
de novas construtoras no País. 
Perspectivas para o futuro
As dificuldades no licenciamento ambiental e as incertezas que sem-
pre rondam os processos de aprovação de projetos hidroelétricos 
têm causado impressionante perda na matriz energética limpa que 
costumava orgulhar o País. São muitas novas centrais geradoras 
termoelétricas poluidoras, entretanto de muito mais fácil licencia-
mento ambiental e aprovação na ANEEL, inclusive as térmicas 
a óleo e a carvão. Há duas usinas nucleares em operação e uma 
em construção. Essas usinas têm sofrido das indecisões políticas, 
todas elas tendo tido seus cronogramas de implantação constan-
temente refeitos e suas obras se arrastado por duas a três décadas, 
 Figura 40 - Barragem da usina hidroelétrica de Mascarenhas de Moraes, 
antiga Peixoto, concluída em 1956. Na margem esquerda o 
vertedouro complementar, construído em 2002
Figura 41 - Usina hidroelétrica de São Simão
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
44
onerando sobremaneira os seus custos pela forte incidência dos 
juros sobre os capitais investidos durante as suas prolongadas 
construções. Entretanto, Angra II que levou 24 anos em constru-
ção, pode operar até hoje (maio de 2010) há mais de uma década 
sem licenciamento ambiental e sem licenciamento da CNEN. 
O acréscimo de capacidade de geração em empreendimentos sem 
possibilidade de armazenamento de energia, tais como usinas 
eólicas, térmicas, nucleares e hidroelétricas a fio d’água, sinali-
zam para dificuldades de atendimento de demanda na ponta em 
diversos centros de carga no País. Para o bem da economia e 
do meio ambiente, há imperiosa necessidade de se ultrapas-
sar as resistências dos que se dizem ambientalistas e se voltar 
à implantação de hidroelétricas com grandes volumes úteis de 
reservatório para se recuperar a capacidade de regularização de 
vazões e, consequentemente, de energia. O atual modelo do se-
tor elétrico contribui para essas dificuldades por não contemplar 
qualquer remuneração para a regularização de descargas que 
beneficiem a operação do sistema interligado.
Pelo atual planejamento energético o País enfrenta a necessi-
dade de instalação de cerca de 5000 MW/ano. Tendo em vista 
esse desafio, as classes dirigentes têm pressionado licenciamen-
tos ambientais de grandes centrais geradoras como ocorreu 
nas duas usinas em construção no rio Madeira e presente-
mente na hidroelétrica de Belo Monte cujo licenciamento 
está sendo obtido por etapas, o que é no mínimo inusitado: o 
único licenciamento obtido até agora (maio de 2011) foi con- 
cedido em janeiro de 2011 para instalação do canteiro de obra. 
Isso, associado às interrupções provenientes de ações judiciais 
ou do Ministério Público ocorrendo na maior hidroelétrica 
em construção, comprova a incerteza dos empreendedores em 
assumir tais riscos. Embates entre membros do governo e do 
licenciamento ambiental têm provocado demissões em vá-
rios níveis, até no nível ministerial. Eventuais paralisações, 
devidas à ação de vândalos em canteiros de obra e ao Ministé-
rio Público que questiona licenças ambientais, contribuem para 
a elevação de prazos e de custos já que os juros reais no Brasil 
permanecem há décadas como o mais elevado do mundo, hoje 
em 6,8% a.a., quase três vezes superior ao do segundo colocado, 
a Hungria, com 2,4% a.a. 
As perdas de energia elétrica no sistema interligado e nos sis-
temas de distribuição atingem em 2011 cifras elevadas, entre 
15% e 17% da geração. Parcela expressiva dessa perda vem de 
ligações ilegais. Além de serem esperados acréscimos de consu-
mo devido ao desenvolvimento industrial, verifica-se também 
que o consumo domiciliar médio no Brasil ainda é muito inferior 
ao de países desenvolvidos, sendo pouco mais de um décimo do 
americano, e pouco inferior ao verificado na Rússia e na África 
do Sul. Estima-se que o consumo total de energiaelétrica no 
País evolua em média com acréscimos de 4,8% ao ano, passan-
do dos 456,5 TWh verificados em 2010 para 730 TWh em 2020. 
O consumo médio residencial deverá passar dos 154 kWh/mês 
em 2010 para 191 kWh/mês em 2020. Entretanto, o máximo 
histórico de 180 kWh/mês registrado antes do racionamento 
de 2001 só deverá ser ultrapassado em 2017.
No passado recente (2000 a 2011) tem sido registrado im-
pressionante número de apagões, vários dos quais abrangen-
do extensas regiões densamente habitadas. Considerando 
a relativa fragilidade dos sistemas de transmissão e as cres-
centes demandas na ponta de carga, prevê-se a continuidade 
e mesmo o agravamento dessa situação. 
O controle de cheias permanece nebuloso no futuro próximo. 
A falta de um órgão de âmbito nacional para controlar e implemen-
tar obras hidráulicas com esse objetivo é imperioso já que os cursos 
d’água são em geral intermunicipais e mesmo inter estaduais. 
O setor elétrico através do ONS despacha algumas hidroelétri-
cas levando em conta o controle de cheias. O exemplo mais ní-
tido são as hidroelétricas do vale do rio Paraíba do Sul cujo rio 
principal, por atravessar uma sucessão de importantes cidades de 
médio porte e servir de abastecimento de água a grandes núcleos 
urbanos, tem uma regra operativa que privilegia a regularização 
de vazões e o controle de cheias. 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
45
Historicamente a implantação de eclusas para navegação interior 
sempre vieram a reboque de algumas hidroelétricas ao contrário 
do que acontece em países europeus cuja tradição da navegação 
fluvial sempre esteve arraigada ao desenvolvimento viário, vindo 
como sub-produto a geração de energia elétrica. Consolidando essa 
deformação brasileira, tramita no Congresso um projeto de lei 
que obriga os investidores em hidroelétricas de implantar siste-
mas de navegação onde possível, onerando ainda mais as novas 
usinas hidroelétricas.
As constantes e recentes valorizações das commodities no mercado 
internacional indicam para o futuro a permanência das atividades 
em mineração e, consequentemente, da construção de barragens 
de rejeitos cada vez maiores e mais frequentes.
As deficiências previstas no curto prazo para o abastecimento da 
crescente demanda por água nas cidades e distritos industriais, 
têm feito com que planejadores do setor considerem alternativas 
dispendiosas, incluindo a captação de água de baixa qualidade a 
grandes distâncias (médio Tietê para São Paulo e sub-médio Pa-
raíba do Sul para o Rio de Janeiro), com grandes recalques (Ju-
quiá para São Paulo) ou na regeneração de águas em estações de 
tratamento de esgotos (Alegria para o Rio de Janeiro), por 
exemplo, onerando sobremaneira as futuras captações, aduções 
e tratamentos de água.
Homenagem aos membros de juntas de 
consultores
Durante o projeto e construção das mais importantes barragens 
brasileiras, engenheiros e geólogos consultores de grande proje-
ção na profissão, brasileiros e estrangeiros, participam de juntas 
de consultores. Depois de Karl Terzaghi, Arthur Casagrande e 
Figura 42 - A partir da esquerda os consultores da São Paulo Light: Samuel Chamecky, Karl Terzaghi, 
Othelo Machado e Casemiro Munarski (Foto do Acervo Paulo Chamecki)
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
46
Figura 43 - Arthur Casagrande, John Cabrera, 
Gurmukh Sarkaria e Flavio H. Lyra 
em inspeção de campo em Itaipu
Figura 44 - Professor Manuel Rocha, pesquisador, fundador 
e diretor geral do Laboratório de Engenharia Civil sediado 
em Lisboa. Destacada atuação na CIGB e em consultoria 
de barragens em vários paises, inclusive no Brasil.
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
47
Portland Fox mencionados acima, outros consultores participa-
ram de juntas tais como Roy Carlson, Manuel Rocha, Charles 
Blanchet, James Libby, James Sherard, Barry Cooke, Don Deere, 
Victor F. B. de Mello e Flavio H. Lyra que são aqui mencionados 
como homenagem àqueles que já faleceram. 
Esses profissionais altamente qualificados deram valiosas contri-
buições ao projeto e construção de grandes barragens e formaram 
engenheiros e geólogos brasileiros que presentemente trabalham 
como consultores no Brasil e no exterior. 
Figura 45 - Rubens Vianna de 
Andrade, Flavio H. Lyra, Arthur 
Casagrande e Julival de Moraes em 
inspeção nas obras de Itumbiara
Figura 46 - Consultor Roy 
Carlson por ocasião da sua 
condecoração pelo governo 
brasileiro entre Carlos 
Alberto de Padua Amarante 
e Victor F. B. de Mello 
durante o XII SNGB, em 
São Paulo abril de 1978 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
Os 5 primeiros 
presidentes da CIGB 
de 1931 a 1961 
4 5
1. G. Mercier - França - 1931-1934
2. M. Giandotti - Itália - 1937-1940
3. A. Coyne - França - 1946-1952
4. G.A. Hathaway - EUA - 1952-1958
5. J.F.R. Pinto - Portugal - 1958-1961
1 2
3
49
A Comissão Internacional 
de Grandes Barragens -
Oitenta e três anos de excelência
Flavio Miguez de Mello
A Comissão Internacional 
de Grandes Barragens -
Oitenta e três anos de excelência
A Comissão Internacional de Grandes Barragens CIGB nasceu na França, 
numa época em que havia intensa atividade em implantação de barragens, 
notadamente na Europa e nos Estados Unidos. Nos anos vinte muito havia 
que ser aprendido em projeto e construção de barragens e o intercâmbio de 
conhecimentos passou a ser de nítida importância. Na época, a mecânica 
dos solos e a geologia de engenharia não haviam ainda sido fundadas, 
os critérios de projeto de estruturas de concreto eram rudimentares e a 
hidráulica fluvial enfrentava pela primeira vez na maioria dos países 
que implantavam barragens e reservatórios, obras em rios muito caudalosos. 
Corria o ano de 1925 quando, em reunião da Associação Francesa para 
o Progresso da Ciência ocorrida em Grenoble, foi manifestada a importância 
do estabelecimento de uma comissão de caráter internacional voltada 
para grandes barragens. Em 1926, em assembléia da Conferência 
Mundial de Energia em Basel, a delegação francesa apresentou formalmente 
a proposta de criação da Comissão Internacional de Grandes Barragens. 
A proposição foi aceita, assim como o apoio ofertado pelo governo francês, 
tendo sido instituído o Comitê Francês de Grandes Barragens sob a 
Societé Hydrotechnique de France. A proposta foi formalmente aceita 
pela Conferência Mundial de Energia no ano seguinte, 1927, na 
assembléia de Cernobbio (Itália). 
Figura 1 - Reunião Executiva no Rio de Janeiro, 1966 - 
Flavio Lyra, presidente do CBGB e G. Brown, presidente CIGB
Figura 2 - Reunião Executiva no Rio de Janeiro, 1966 - G. Brown, 
presidente CIGB, Flavio Lyra, presidente do CBGB, Mauro Thibau, 
ministro de Minas e Energia e John Cotrim, presidente de Furnas 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
50
A assembléia que constituiu a CIGB ocorreu no dia 6 de julho 
de 1928 com a participação de seis países: Estados Unidos, França, 
Itália, Reino Unido, Romênia e Suíça. A assembléia do Conselho 
Executivo da Conferência Mundial de Energia aprovou a CIGB 
por unanimidade em Londres no dia 3 de outubro de 1928. Desde 
então, reuniões executivas foram realizadas todos os anos a menos 
dos anos exceto durante a II Guerra Mundial, de 1940 a 1944. 
Já demonstrando seu dinamismo, a CIGB promoveu seu primei-
ro congresso internacional em Estocolmo em 1933. Desde então 
a cada três anos a CIGB promove seus congressos que são, reco-
nhecidamente, de elevado interesse técnico sobre assuntos os mais 
atuais. Seus anais são verdadeirasseções transversais da tecnologia 
de cada época que nos permitem visualizar o desenvolvimento dos 
conceitos e critérios de projeto e de construção de barragens. Como 
exemplos históricos pode-se mencionar os trabalhos de Karl Ter-
zaghi de 1933 sobre as investigações das características dos solos 
quanto a sua viabilidade para a construção das barragens de terra e de 
Wolmar Fellenius sobre cálculo de estabilidade de barragens de terra. 
Em 1967, considerando seu já grande vulto, a CIGB passou a se 
tornar independente da Conferência Mundial de Energia. Do seu 
primeiro estatuto até o estatuto de 1967 poucas alterações signifi-
cativas ocorreram. Encontra-se presentemente (2011) em propo-
sição por um comitê ad hoc novo estatuto que vem corrigir lacunas 
do estatuto vigente. Desde sua fundação com apenas cinco países 
membros, a CIGB vem continuamente crescendo, tendo atingi-
do 26 países antes da II Guerra, 56 países em 1967, 56 países em 
1980, 72 países em 1990, 81 países em 2000 e 92 países em 2010, 
 cifra esta que representa mais de 90% da população mundial.
Além dos seus anais de congressos e simpósios, a CIGB publica 
boletins sobre temas específicos, fruto do trabalho dos seus comi-
tês técnicos que congregam profissionais os mais destacados em 
diversos países do mundo, tornando, assim, esses documentos 
em relatórios do estado da arte sob o ponto de vista global.
A CIGB mantém atualizado o registro mundial de grandes barragens 
(barragens com mais de 15 m de altura ou em condições especiais) 
contendo as principais características das barragens em todos os 
países membros e em alguns países não membros da CIGB. Desse 
registro não constam apenas as barragens de rejeitos. Apesar do re-
gistro das barragens no Brasil estar incompleto, o registro da CIGB 
atualizado em 2010 revela a importante posição do Brasil relativa 
a outros países com mais de mil grandes barragens construídas:
Figura 3 - 14° Congresso CIGB Rio de Janeiro 1982 – Pierre Londe 
(presidente) e Joannes Cotillon (secretário geral)
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
1 CHINA > 40 000
2 USA 9 265
3 íNDIA 5 101
4 JAPãO 3 076
5 CORéIA DO SUL 1 302
6 CANADá 1 166
7 áFRICA DO SUL 1 114
8 BRASIL 1 011
9 ESPANHA 987 
10 TURQUIA 741
11 FRANçA 623
12 MéXICO 583
13 ITáLIA 542
14 REINO UNIDO 519
15 AUSTRáLIA 507
16 IRã 501
51
Desde a sua fundação a CIGB teve 22 presidentes, sendo dois 
brasileiros (F. Lyra e C. Viotti), 126 vice presidentes, sendo seis 
brasileiros (F. Lyra, D. Fernandes, F. Miguez, F. Budweg, C. Viotti e 
E. Maurer) e dez secretários gerais, todos franceses. A participação 
brasileira se fez sentir desde os anos sessenta em participações em 
diversos comitês da CIGB. Desses comitês foram coordenadores 
(chairmen) F. Lyra, F. Budweg, J.F. Silveira e F. Miguez.
A CIGB sempre teve como foco a promoção e divulgação da 
tecnologia de planejamento, projeto, construção e operação de 
barragens. Nos anos sessenta a CIGB passou também a enfatizar 
a segurança e a reabilitação de barragens, nos anos setenta passou 
a ser grande divulgadora de progressos na engenharia ambiental, 
nos anos oitenta liderou a divulgação tecnológica aplicada a barra-
gens de rejeitos de mineração, nos anos noventa também abriu os 
campos de compartilhamento dos recursos hídricos de rios transna-
cionais e de gestão integrada da água, conscientização do público e 
na primeira década do Século XXI, abriu discussão sobre mudanças 
climáticas globais e planejamento de recursos hídricos escassos. 
Figura 4 - K. Höeg, ex-presidente da CIGB 
Figura 5 - Reunião do Comitê de Meio 
Ambiente da CIGB em Madrid, 1973. 
Desde o final dos anos 60 a CIGB dedica 
especial atenção aos temas socioambientais. 
Na foto os dois primeiros presidentes deste 
Comitê Flavio H. Lyra e Pierre Londe. 
Entre os dois, o autor
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
52
A CIGB fechou o ano de 2010 com 92 comitês nacionais que, 
no seu conjunto, congregam mais de 10.000 membros individu-
ais dentre os mais destacados profissionais que presentemente 
atuam em empresas públicas e privadas, universidades, institui-
ções de pesquisa, consultoras, construtoras, fabricantes, agências 
governamentais e organizações não governamentais.
Figura 6 - 70° Reunião Anual CIGB - Foz 
do Iguaçu 2002 - Ospina (ex vice-presidente) 
recebendo homenagem do presidente Varma
Figura 7 - Congresso de Brasília 
23O CIGB 2009 – Mesa da 
Questão 90 - Arthur Walz, Flavio 
Miguez de Mello, Maria Bartsch, 
Margaret Rose Mendes Fernandes
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
53
Figura 9 - Homenagem ao professor Victor F. 
B. de Mello no 23O CIGB, Brasília 2009
Figura 8 - Congresso de Brasília 23o CIGB 
2009 – Da esquerda para direita Edilberto 
Maurer (pres.CBDB), Pham Hong Giang 
(pres. Comitê do Vietnam), Luis Berga (pres. 
CIGB), Jia Jinsheng (pres.eleito CIGB)
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
54
Figura 10 - Presidente Varma, 
secretário geral J. Lecornu e a 
secretária Nicole Schauner
Figura 12 - A secretária Margarite Chapelle recebendo 
homenagem em 1967, uma placa entregue por sua filha 
Nicole Schauner (ao microfone) que a substituiu após 25 
anos de serviço desde 1948. Nicole assumiu a secretaria 
da CIGB em 1967 permanecendo até o presente (2011). 
As duas foram responsáveis pelo eficiente suporte à 
CIGB ao longo dos últimos 63 anos
Figura 11 - Congresso de Brasília 23O CIGB 
2009 - Michel de Vivo secretário geral e 
Luis Berga presidente da CIGB
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
6. C. Marcello - Itália - 1961-1964
7. J. Guthrie Brown - Reino Unido - 1964-1967
8. G.T. McCarthy - EUA - 1967-1670
9. J. Toran - Espanha - 1970-1973
10. C.F. Gröner - Noruega - 1973-1976
11. F.H. Lyra - Brasil - 1976-1979
12. P. Londe - França - 1979-1982
13. C.A. Dagenais - Canadá - 1982-1985
14. G. Lombardi - Suíça - 1985-1988
15. J.A. Veltrop - EUA - 1988-1991
16. W. Pircher - áustria - 1991-1994
17. T.P.C. van Robbreck - áfrica do Sul - 1994-1997
18. K. Höeg - Noruega - 1997-2000
19. C.V.J. Varma - índia - 2000-2003
20. C.B. Viotti - Brasil - 2003-2006
21. L. Berga - Espanha - 2006-2009
CIGB - Presidentes de 1961 a 2009 
6
10
14
18
7
11
15
19
8
12
16
20
9
13
17
21
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
56
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
56
Flavio H. Lyra e Delphim M. Fernandes. Os responsáveis pela 
consolidação e pelos primeiros anos de sucesso do CBDB
57
História do Comitê 
Brasileiro de Barragens
Flavio Miguez de Mello
História do Comitê 
Brasileiro de Barragens
A pré-história
Em 1936, o engenheiro Francisco Saturnino de Brito Filho, 
ao regressar do Segundo Congresso Internacional de Grandes 
Barragens realizado pela Comissão Internacional de Grandes Bar-
ragens CIGB em Washington, USA, trouxe consigo o firme propó-
sito de criar em nosso País uma entidade filiada à CIGB. Na época 
a CIGB tinha apenas 26 comitês nacionais e havia intensa ativida-
de de projeto e construção de barragens em todos os países mais 
evoluídos. Saturnino de Brito, maravilhado com as perspectivas 
dos benefícios para o Brasil que eram decorrentes da ampla di-
vulgação de experiências de outros países, conseguiu encontrar 
receptividade do engenheiro Luiz Vieira que conduziu a então 
instituída Comissão Brasileira de Grandes Barragens. 
Entretanto, após poucos anos e ainda nos anos trinta, com o 
afastamento do engenheiro Luiz Vieira do Departamento Na-
cional de Obras Contraas Secas DNOCS, a Comissão Brasileira 
de Grandes Barragens teve suas atividades paralisadas, não 
mais tendo contato com a CIGB e acumulando seguidos débi-
tos financeiros não cobertos por mais de vinte anos referentes 
às contribuições anuais à CIGB.
Somente em 1957, por iniciativa do engenheiro José Cândido Cas-
tro Parente Pessoa, então diretor geral do DNOCS, a Comissão 
Brasileira de Grandes Barragens veio a ser reativada. Foi indicado 
para presidente da Comissão o engenheiro Casemiro José Munar-
ski que na época estava fazendo o projeto da barragem de Orós, 
empreendimento de maior destaque no País. O engenheiro 
Antônio Alves de Noronha, que presidia a Associação Brasileira de 
Pontes e Grandes Estruturas, convocou um grupo para reorganizar 
a Comissão, tendo convidado a Associação Brasileira de Mecânica 
dos Solos para integrar esse grupo. O engenheiro Chamenski, que 
presidia a Associação Brasileira de Mecânica dos Solos, envidou 
esforços para conjugar essa associação com a Comissão. Nesse 
período de cinco anos a Comissão ficou vinculada ao Ministério 
de Viação e Obras Públicas. Por esse motivo havia dificuldades da 
Figura 1 – Saturnino de Brito Filho e Theophilo Benedicto Ottoni Netto
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
58
manutenção das obrigações financeiras da Comissão com a CIGB, 
obrigações estas que novamente não vinham sendo cumpridas. 
Os primeiros anos da história 
O grupo constituído pelas associações de Pontes e Grandes Estruturas 
e de Mecânica dos Solos elaborou os estatutos do Comitê Brasileiro 
de Grandes Barragens CBGB e trabalhou para que fossem arreca-
dados recursos financeiros que cobrissem os débitos com a CIGB. 
Dessa forma, na última hora, os recursos levantados junto a em-
presas privadas foram entregues à CIGB no dia anterior à abertura 
da reunião executiva de 1961. Constava da pauta da reunião executiva 
a nova exclusão da representação brasileira dos quadros da CIGB. 
A CIGB retirou da pauta a nova exclusão da representação brasileira 
e o CBGB pode participar dessa reunião executiva e do VII Con-
gresso Internacional, ambos realizados em Roma, época em que a 
CIGB apresentava crescente participação de comitês nacionais 
que naquele ano já eram 48.
O estatuto do CBGB foi aprovado em assembléia realizada 
no Clube de Engenharia no dia 25 de outubro de 1961. Pelo 
estatuto o conselho era composto por 12 membros, três indicados 
pela ABMS, três indicados pela APGE e seis eleitos em assembléia 
pelos sócios individuais. A diretoria, composta pelo presidente, 
dois vice-presidentes, um diretor secretário e dois diretores tesoureiros 
era eleita pelo conselho, sendo os membros da diretoria partici- 
pantes do conselho. Nessa primeira assembléia foi eleita por aclama-
ção uma diretoria presidida por Antônio Alves de Noronha que teve 
como secretário o engenheiro Lucio Washington. A assembléia 
seguinte foi convocada para o dia 24 de janeiro de 1962. Nessa 
segunda assembléia foi eleita a diretoria presidida pelo engenheiro 
Flavio Henrique Lyra da Silva, tendo como diretor secretário 
Sydney Gomes dos Santos que foi substituído por Delphim 
Mazon Fernandes a partir de 25 de março de 1963.
Figura 2 – Casemiro José Munarski ao 
lado de João Alberto Bandeira de Mello
Figura 3 - Antônio Alves de Noronha, primeiro presidente 
do CBDB de outubro de 1961 a início de 1962 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
59
O grande impulso que estava ocorrendo no Brasil no campo da 
implantação de barragens no pós-guerra e principalmente nos anos 
cinqüenta, notadamente no Nordeste com a construção de açudes 
com dimensões sensivelmente superiores aos anteriormente cons-
truídos e com a necessidade de promover a instalação de grandes 
hidroelétricas, tornou-se necessária a difusão de conhecimentos 
na área da engenharia de barragens e de tecnologias correlatas. 
Dessa forma, uma atuação efetiva junto à CIGB foi encarada como 
uma necessidade premente. Antes dessa fase, as barragens eram de 
dimensões mais modestas (a primeira barragem com altura superior 
a 50 m foi Boqueirão das Cabaceiras, na Paraíba, em 1956) e as 
hidroelétricas eram de pequeno e médio portes para os padrões atuais. 
Foi nessa época que, com parcos recursos humanos, grandes açudes 
começaram a ser construídos como Orós e Banabuiú (Arrojado 
Lisboa), ambos no Ceará, e hidroelétricas de grandes proje-
ções a nível internacional estavam começando a ser projetadas 
e construídas como Furnas, Três Marias, Jupiá e Paulo Afonso. 
O País estava entrando em uma era de realizações de grande vulto. 
A necessidade de uma associação técnica ativa no campo das bar-
ragens era indispensável para a evolução da tecnologia nacional. 
O CBGB passou a ter importante suporte de Furnas já que o 
presidente do CBGB era diretor técnico de Furnas e seu diretor 
secretário no CBGB era seu principal assistente na diretoria técnica 
de Furnas. A sede do CBGB passou a ser parte de uma sala da 
diretoria técnica de Furnas. Os engenheiros Flavio Lyra e 
Delphim Fernandes, presidente e diretor secretário respectiva- 
mente, permaneceram nesses cargos por quatro diretorias até 1976 
quando o engenheiro Flavio Lyra, por ter sido eleito presidente 
da CIGB, se afastou da presidência do CBGB.
Os eventos nacionais
Desde 1962 o CBGB passou a atuar nos moldes da CIGB, 
promovendo seminários nacionais de grandes barragens e apoian-
do atividades de comissões técnicas. Os trabalhos apresentados 
nos seminários são o perfil do desenvolvimento da tecnologia apli-
cada a projeto e construção de barragens no País. Nos primeiros 
seminários o número de trabalhos era modesto mas, a partir 
do Sexto Seminário em 1970, o número de trabalhos passou a 
ser expressivo, constituindo uma importante contribuição para a 
divulgação de experiências profissionais. Em cada sessão técnica 
sempre houve um relato do respectivo tema feito por um profis- 
sional de reconhecida experiência e destaque no âmbito 
nacional. Nos primeiros cinco seminários os temas eram li-
mitados a apenas três. A partir do VI Seminário realizado no 
Rio de Janeiro em novembro de 1970 e até a presente data, 
os seminários passaram a ter quatro temas. 
Interessante notar pelo temário do primeiro seminário realizado 
em julho de 1962, o estágio inicial da tecnologia no País. 
Os temas foram: Métodos de investigação de fundações de barragens; 
Disponibilidade, no Brasil de organizações e de equipamentos 
para construção de grandes barragens; Disponibilidade, no Brasil, 
de laboratórios para ensaios e experiências, ligados ao projeto e à 
construção de barragens.
Figura 4 – Antônio José da Costa Nunes, 
vice-presidente do CBGB em vários mandatos 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
60
Já no Segundo Seminár io , rea l izado em São Paulo em 
junho de 1963 aparece a dedicação do CBGB à segurança 
de barragens com o tema Acidentes em barragens. Essa 
dedicação passou a ser manifestada em diversos seminários 
posteriores assim como temas relativos à tecnologia de estu-
dos, concepção, cálculo e construção de barragens e operação 
de reservatórios.
A auscultação de barragens apareceu a partir do IV Seminário 
realizado no Rio de Janeiro em outubro de 1985. Temas 
sobre meio ambiente passaram a ser freqüentes já a partir 
do VIII Seminário, realizado em São Paulo em novembro 
de 1972. A partir de 1980, no XIII Seminário realizado no 
Rio de Janeiro, barragens de rejeitos passaram a freqüentar 
os temários. 
Considerando a importância da maximização de benefícios 
propiciados pelas barragens, desde o XIV Seminário realizado em 
Olinda os usos múltiplos de reservatórios passaram a ser realçados. 
Análises derisco começaram a ser discutidas desde 1987 no XVII 
Seminário Nacional realizado em Brasília. Como reflexo das altera-
ções no modelo do setor elétrico, a partir de 1997 passaram a serem 
discutidos temas institucionais e o retorno com maior intensidade 
de investimentos privados na implantação e operação de barra-
gens hidroelétricas. Os esforços do CBDB pelo estabelecimento 
de uma legislação sobre a segurança de barragens e das interfaces 
com órgãos concedentes e de licenciamento ambiental passaram 
a ser debatidos nos seminários mais recentes já no Século XXI.
Após os nove primeiros seminários realizados no eixo Rio de 
Janeiro e São Paulo, a diretoria do CBGB passou a realizar seminá-
Figura 5 – Mesa de abertura do 
XIII SNGB – Rio de Janeiro 
1980 – Flavio H. Lyra, Carlos 
A. P. Amarante, Delphim M. 
Fernandes, Licinio M. Seabra
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
61
rios em diversos outros centros, com grande sucesso. Dessa forma 
foram realizados 10 seminários no Rio de Janeiro, 3 em São Paulo, 
dois em Curitiba, dois em Fortaleza, dois em Belo Horizonte, um 
em Olinda, um em Brasília, um em Aracajú, um em Foz do Iguaçu, 
um em Salvador e um em Belém. 
Considerando as crescentes atividades de implantação de 
pequenas centrais hidroelétricas, o CBGB passou a organizar 
simpósios sobre pequenas e médias centrais hidroelétricas a 
partir de 1998.
Os eventos internacionais
Consol idando sua projeção internacional , o CBGB tem 
colaborado efetivamente com a CIGB pela participação em diversos 
comitês técnicos desde os anos sessenta. Com esse mesmo objetivo, 
o CBGB editou importantes livros sobre barragens brasileiras: 
Topmost Dams of Brazil (1978), Dams in Brazil (1982), Dams in the 
Northeast of Brazil (1982), Main Brazilian Dams (1982), Large 
Brazilian Spillways (2002), Main Brazilian Dams II (2000), as duas 
edições de Highlights of Brazilian Dam Engineering (2000 e 2006), 
Diversion of Large Brazilian Rivers (2009), Main Brazilian Dams III 
(2009), Desvios de Grandes Rios Brasileiros (2009), Dicionário de 
Barragens (2010). Também foram publicadas diversas traduções 
dos boletins técnicos do CIGB.
Quanto a eventos internacionais, o CBGB teve seu batismo em 
1966 na reunião executiva da CIGB realizada no Rio de Janeiro 
com extremo sucesso. Na ocasião os participantes tiveram a 
oportunidade de visitar obras de grande vulto que estavam em 
construção no País. 
Em 1982 o CBGB foi novamente anfitrião de uma reunião 
executiva no Rio de Janeiro, seguida de um congresso internacional. 
Mais uma vez os participantes ficaram vivamente impressionados 
com o vulto das obras que foram incluídas nas diversas viagens 
de estudo. Nessa ocasião, pela primeira vez foi realizado um 
simpósio em reunião executiva da CIGB, o que se tornou prá-
tica em reuniões posteriores. O Simpósio foi sobre arranjos 
de barragens em vales estreitos.
Figura 6 - 34a Reunião Executiva - Rio de Janeiro 
1966 Flavio Lyra e J. Guthrie Brown
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
62
Em 2002 novamente o CBDB promoveu uma reunião 
anual da CIGB, desta vez em Foz do Iguaçu com o Inter-
nat ional Symposium on Reservoir Management in Tropical and 
Sub-Tropical Regions. 
Em 2009 novamente o Brasi l foi sede de reunião anual 
e do congresso internacional da CIGB, tendo também 
real izado o International Symposium on Dams and Reservoirs for 
Multiple Purposes.
Figura 7 – Simpósio Internacional sobre Arranjos 
de Barragens em Vales Estreitos – Rio de Janeiro 
1982 – Marcos Schwab e Leo Penna
Figura 8 - 14o Congresso Internacional CIGB – Rio 
de Janeiro 1982 – coronel Mauro Moreira, general 
Costa Cavalcanti, Delphim M. Fernandes, João 
Alberto Bandeira de Mello, Carlos Alberto de Padua 
Amarante, John Cotrim e Pierre Londe
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
63
A evolução institucional do Comitê
Semelhantemente à CIGB que se separou da Conferência Mundial 
da Energia, no final dos anos sessenta, o Comitê deixou de ter os 
conselheiros indicados pela ABMS e pela ABPGE. 
Objetivando uma ampliação de suas atividades que demanda-
riam maiores recursos financeiros, em 1976 o Comitê lançou 
a campanha de angariação de sócios coletivos e mantenedores 
que, pelo estatuto da época tinham tantos votos em assembléias 
quanto as cotas subscritas. Na primeira eleição de conselho 
realizada em Fortaleza em 1976, uma chapa montada pela 
Eletrobras colocou no conselho todos os membros menos o 
Flavio Lyra. Pouco depois houve nova alteração dos estatutos, 
passando os sócios coletivos e mantenedores serem restritos 
a elegerem seis membros do conselho. 
A partir dos anos noventa, com o objetivo de dinamizar a atuação 
do CBDB em todas as regiões, foram criados os núcleos regionais. 
Presentemente são os seguintes núcleos regionais:
Núcleo Regional - Bahia
Núcleo Regional - Ceará
Núcleo Regional - Goiais/Distrito Federal
Núcleo Regional - Minas Gerais
Núcleo Regional - Paraná
Núcleo Regional - Pernambuco
Núcleo Regional - Rio De Janeiro
Núcleo Regional - Rio Grande Do sul
Núcleo Regional - santa Catarina
Núcleo Regional - são Paulo
Os núcleos têm mantido importantes atividades em suas regiões, 
destacando-se palestras e simpósios de elevado interesse. Em 1999 
o nome do Comitê Brasileiro de Grandes Barragens CBGB foi 
alterado para Comitê Brasileiro de Barragens CBDB de forma a 
abranger também as barragens de menor porte inclusive aquelas da 
grande maioria das pequenas centrais hidroelétricas.
Figura 9 - 70a Reunião Anual CIGB – 
Foz do Iguaçu 2002 – 
Cassio Viotti (presidente CBDB)
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
64
Em 1999 o nome do Comitê Brasileiro de Grandes Barragens 
CBGB foi alterado para Comitê Brasileiro de Barragens CBDB de 
forma a abranger também as barragens de menor porte inclusive 
aquelas da grande maioria das pequenas centrais hidroelétricas.
A cada período de três anos, o CBDB, ao renovar seu conselho, 
tem seis de seus conselheiros eleitos pelos sócios mantenedores e 
coletivos e doze eleitos pelos sócios individuais. Os membros da 
diretoria saem desses conselheiros eleitos, havendo a possibilidade 
de serem nomeados até dois diretores adjuntos com funções 
específicas. Os ex-presidentes são membros do conselho.
Presentemente (março de 2011) o CBDB conta com um quadro 
social composto por 1088 sócios individuais, 18 sócios coletivos e 
35 sócios mantenedores.
Figura 10 - Sessão de abertura do XXVI Seminário Nacional de Grandes Barragens - 
Goiânia 2005. Da esquerda para direita: José Pedro Rodrigues de Oliveira presidente 
de Furnas, Dilma Roussef ministra de Minas e Energia, Marconi Perillo governador 
de Goiás, Edilberto Maurer presidente do CBDB
Figura 11 - Como sempre realizado em eventos do 
CBDB, visita técnica a obras ( barragem de Itaipu)
Figura 12 - Homenagem ao dr. Flavio H. Lyra – Rio de Janeiro 2004 
– Maria Lyra e Heloi José Fernandes Moreira (diretor da Escola 
Politécnica da UFRJ, onde Flávio H. Lyra se formou em engenharia)
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
65
Figura 15 - Dirigentes e 
ex-dirigentes do CBDB 
em exposição técnica. 
Nos eventos nacionais e 
internacionais o CBDB 
promove sempre 
exposições técnicas de 
elevado interesse
Figura 13 - Homenagem ao dr. Flavio H. Lyra – Rio de Janeiro 2004 – 
Erton Carvalho (diretor CBDB), Cassio Viotti (presidente da CIGB) e 
Delphim Fernandes (ex-presidente do CBGB)
Figura 14 - Conselheiros do CBDB com familiares em um 
dos eventos sociais que são sempre realizados em seminários, 
simpósios e congressos
C i n q u e n t a a n o s d o C o m it ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
66
Açude de Cedros, no Ceará. Vista da barragem, do seu dique e de seu sangradouro. Primeira obra de barragem para combate às secas 
no País. Em operação desde 1906, a barragem é, juntamente com Lajes, no estado do Rio de Janeiro, a mais antiga grande barragem 
construida no Brasil 
67
Um Século de Obras 
contra as Secas
Flavio Miguez de Mello
Um Século de Obras 
contra as Secas
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte” 
Engenheiro Euclides da Cunha
O Nordeste é uma região com 1.548.672 km² que corresponde a 
18,2% do território nacional, incluindo a totalidade dos estados 
do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Per-
nambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Em função de características 
climáticas, áreas do norte do estado de Minas Gerais e leste do estado 
de Tocantins são assemelhadas ao Nordeste. Em números redon-
dos, o Nordeste pode ser dividido em três partes: O semi-árido com 
cerca de 800.000 km², o semi-úmido com cerca de 600.000 km² 
e o úmido com os restantes 200.000 km². O semi-árido é com-
preendido pelo Polígono das Secas que tem 936.933 km² e onde 
chove em média menos do que 800 mm/ano. 
As secas são registradas desde o descobrimento. A primeira seca 
historicamente constatada foi em Pernambuco em 1583. Seguiram-
se quatorze secas no Século XVIII, doze no Século XIX e dezoito 
no Século XX. Uma das secas remotas foi responsável pela expul-
são dos holandeses que tentaram se estabelecer no Ceará. Uma 
curiosa tentativa de minorar o sofrimento dos sertanejos com 
as secas ocorreu em julho de 1859 quando, por encomenda do 
Governo Imperial, o navio francês Splendide desembarcou no por-
to de Fortaleza 14 camelos que vieram para procriarem e apoiar as 
populações no transporte pela caatinga do semi-árido. Entretanto, 
essa tentativa fracassou pela falta de adaptação dos camelos ao 
solo duro e pedregulhoso.
As secas deixaram marcas que não se apagam por mais que os 
anos passem. A Grande Seca que ocorreu de 1877 a 1879 ceifou a 
vida de mais da metade das 1.754.000 pessoas que residiam na área 
atingida pela tragédia. Esse foi de longe a maior catástrofe gerada 
por fenômenos naturais que ocorreu no País. A tentativa de de-
bandada da população interiorana redundou na morte pelos 
caminhos e na proliferação de doenças como o tifo, o paratifo e a 
varíola. Na seca de 1915 pereceram 27 mil cearenses e 75 mil 
emigraram para a Amazônia.
Em 1856 o Governo Imperial instalou a Comissão Científica 
de Exploração para coordenar os estudos e analisar as soluções 
para o problema das secas. A Comissão recomendou que fossem 
efetuadas a melhoria do sistema de transportes, a construção de 
açudes, a instalação de estações meteorológicas e a transposição das 
águas do rio São Francisco para a bacia do rio Jaguaribe. Antes 
dessa Comissão havia apenas um posto pluviométrico em Recife 
operando desde 1842 e outro em Fortaleza desde 1849. Esses pos-
tos em áreas litorâneas não eram referências para a região do semi-
árido. O primeiro posto no interior já sob influência da Comissão 
foi o de Quixeramobim, no Ceará, instalado em 1896. As melhorias 
nos sistemas de transporte foram discretas em função inicialmente 
da precária situação financeira ocasionada pela Guerra da Tríplice 
Aliança e, posteriormente, pelo governo republicano. Quanto à cons-
trução de açudes, foram iniciadas apenas as obras da barragem de 
Cedro em 1884 que só foram concluídas em 1906. As obras de 
transposição das águas do rio São Francisco só agora, no início do 
Século XXI, mais de cem anos depois, estão sendo iniciadas, mes-
mo assim sob forte oposição ambiental. Dessa forma, quando a 
mais intensa e prolongada seca atingiu o semi-árido, em 1877, não 
havia meios de transporte eficientes para a retirada das popula-
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
68
ções interioranas, o primeiro açude não estava concluído e não 
havia registros pluviométricos no semi-árido. A população do inte-
rior, depois de meses de seca, não mais conseguiu se retirar para o 
litoral, ocasionando mortes em larga escala.
A Grande Seca (1877-1879) de devastadoras conseqüências im-
pactou o Governo Imperial, tendo o próprio imperador Pedro II 
estado no local assolado pela seca. Importante consignar que em 
sessões sob o comando do Conde D’Eu no Instituto Politécnico 
situado na Corte, foi debatido amplamente o problema das se-
cas no Nordeste. Cabe aqui realçar algumas posições decorrentes 
desses debates. Os debates retroagiram à proposta de Gabaglia de 1861 
que compreendia a perfuração de poços artesianos e a implantação 
de barragens. O professor André Rebouças havia escrito em 1877 
o trabalho “As Secas nas Províncias do Norte”. Rebouças reconhe-
cia a necessidade de ações imediatas, principalmente naquela época 
de início de mais uma seca; defendia a construção de obras estrutu-
rais, integradas e definitivas, incluindo poços artesianos, residências 
cujos telhados captassem águas de chuva direcionadas para cister-
nas, construção de barragens e canais, implantação de ferrovias e 
até dessalinização de água do mar. O engenheiro e escritor 
Manuel Buarque de Macedo preconizou que o tesouro imperial 
não dispunha de recursos para implantar tantos projetos, defendendo 
a implantação de açudes menores e estradas distritais. O engenhei-
ro Zózimo Barroso propôs a construção de uma rede de grandes 
açudes. O geólogo Silva Coutinho também defendeu a construção 
de grandes barragens. O senador Pompeu e o engenheiro Henri-
que de Beaurepaire Rohan salientaram a importância do refloresta-
mento extensivo da região. O professor André Rebouças destacou 
também a importância da instalação de rede telegráfica e melhorias 
nos portos da província do Ceará para possibilitar a implantação de 
vias férreas; enfatizou também a necessidade de construção de 
abrigos e de alimentação para os flagelados. 
O Século XX foi iniciado com outra seca no Nordeste. Como de 
costume, só em época de calamidades é que obras e organismos 
governamentais são efetivados. Assim, a partir de 1904, foram 
criadas três comissões: a Comissão de Açudes e Irrigação, a Co-
missão de Perfuração de Poços, e a Comissão de Estudos e Obras 
Contra as Secas. Essas comissões foram aglutinadas em 1906 na 
Superintendência de Obras Contra os Efeitos das Secas. Os pre-
cários resultados observados levaram, em 21 de outubro de 1909, 
pela idealização de Francisco Sá, Pires do Rio e Arrojado Lisboa, 
à criação pelo governo de Nilo Peçanha, da Inspetoria de Obras 
Contra as Secas IOCS, embrião do Departamento Nacional de 
Obras Contra as Secas DNOCS. 
O primeiro inspetor chefe da IOCS foi o dinâmico engenheiro 
Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa que, devida à carência de recursos 
humanos na época, convocou renomados profissionais do Sudeste e 
do exterior para o desenvolvimento de estudos bastante completos, 
abrangendo a hidrologia, a geologia, a pedologia, a botânica, a sociologia, 
a antropologia e a economia. Durante dez anos a IOCS se dedicou a obras 
de infra-estrutura e promovia apoio aos flagelados assolados pelas secas.
Em 1919, no governo de Epitácio Pessoa, esse órgão passou a se 
denominar Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas IFOCS. A 
IFOCS manteve a construção de açudes, tendo implantado mais de 
vinte açudes públicos com destaque para Forquilha e Quixeramobim, 
ambos no Ceará, complementando alguns dos açudes com piscicultura 
incipiente e mesmo irrigação que já havia sido iniciada no açude de 
Cedro. Com a eleição de Artur Bernardes à presidência da República 
em 1922, houve a suspensão de todas as obras e a IFOCS qua-
se desaparece; seu sucessor, Washington Luiz, eleito em 1926, dá 
prosseguimento ao processo de inanição da IFOCS. Registra-seque 
durante os oito anos desses dois mandatos, a soma dos recursos des-
tinados à IFOCS representou apenas 20% dos recursos despendidos 
nos dois últimos anos do governo de Epitácio Pessoa que os antecedeu. 
Nesse período de carência de recursos sobressai-se, em desenvolvi-
mento tecnológico, o aparecimento da “Formula de Aguiar” que serviu 
de base aos estudos posteriores de hidrologia e dimensionamento 
de açudes por muitas décadas ao longo do Século XX. Processando 
dados hidrológicos principalmente das bacias hidrográficas dos rios 
Quixeramobim e Jaguaribe, o engenheiro Gonçalves Aguiar elabo-
rou notável análise hidrológica de caráter determinístico publicada 
em trabalho intitulado Estudo Hidrométrico do Nordeste Brasileiro.
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
69
Figura 1 - Barragem Lima Campos 
em construção em 1932
Figura 2 - 
Barragem do Choró 
em construção em 
1933. Face de 
montante com lajes 
de concreto
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
70
Figura 3 - Inauguração do Açude Público 
Boqueirão em 1957 com a presença do 
pres. Juscelino Kubitschek e do ministro 
Lúcio Meira da viação e obras públicas
Figura 4 - Açude 
Choró – Vista do 
talude de montante 
ao final da construção 
em 1934
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
71
Com o golpe de estado de 1930, assume a presidência Getúlio 
Vargas que nomeia José Américo de Almeida para o Ministério de 
Viação e Obras Públicas que, por sua vez nomeia o engenheiro 
Artur Fragoso de Lima Campos inspetor geral da IFOCS. Em 
1932 Lima Campos faleceu em acidente aéreo, tendo sido substituí-
do pelo engenheiro Augusto da Silva Vieira. Em 1932 ocorreu uma 
seca severa e o canteiro de obra da barragem de Patu que havia sido 
paralisada em 1923, se transformou em um campo de concentração, 
um cemitério de quinze mil mortos-vivos. A barragem foi concluída 
em 1986, 65 anos após o início de suas obras. Seu reservatório, com 
71,8 milhões de metros cúbicos de capacidade daria para atender 
60% da atual população de Senador Pompeu mas, segundo Fran-
cisco Luís de Araújo, residente da Empresa de Assistência Agro-
pecuária do Ceará, a irrigação se devidamente implantada po-
deria beneficiar três mil famílias, quando apenas 36 famílias são 
presentemente beneficiadas com a irrigação.
A seca de 1932 marcou profundamente os que sobreviveram aos 
campos de concentração. Os campos foram criados pela IFOCS em 
Fortaleza, Quixadá, Quixeramobim, Cariús, Ipu, Patu e Crato, no 
Ceará, para evitar que os flagelados inchassem as cidades. Cerca-
dos por muros e por arames farpados, os flagelados se espremiam 
como uma massa esquálida e faminta; morriam de desnutrição e de 
doenças diversas nos “currais de fome”. Propositalmente ignora-
dos pela historiografia oficial, os campos de concentração ainda 
estão vivos na memória dos poucos sobreviventes. Hoje há esfor-
ços para que seja tombado o conjunto de edificações na barragem 
de Patu, onde a empresa inglesa Dwight P. Robinson implantou 
um canteiro de obra, uma usina termoelétrica, escritório, depósito 
de explosivos e casas para seus executivos. Os ingleses se retiraram 
com a paralisação das obras ordenada pelo governo de Artur Ber-
nardes. O maior campo de concentração era o de Crato que chegou 
a ter 65 mil flagelados. Entretanto, o primeiro campo de concentração 
que se tem notícia foi o campo de Urubu que foi instalado na seca 
de 1915. Naquela época Fortaleza era conhecida por “loura despo-
jada pelo sol” e como ninguém gostaria de visitar a cidade inundada 
por flagelados, foi formado o campo de concentração do Urubu. 
Há relatos de mortes por febre tifóide de mil pessoas em uma 
só noite no campo do Urubu. Raquel de Queiroz usou a expres- 
são campo de concentração em seu romance “O Quinze” escri-
to em 1930, portanto, antes da seca de 1932, o que comprova a 
prática nos primeiros anos da República. No livro “Barragem 
do Patu, os Descaminhos de uma Obra”, Adriano Bezerra relata 
o ocorrido em 1932 no campo de concentração em Senador 
Pompeu onde os corpos das vítimas da sede e da fome eram jo-
gados em valas coletivas após a extração dos fígados que eram 
destinados a exames médicos. Os guardas só davam um farelo 
amarelo, sangue de boi e carne da cabeça de gado como comi-
da. Uma epidemia de piolho levou o governo a ordenar que 
as cabeças fossem raspadas. Era comum passarem em redes 
mais de trinta mortos por dia cujos corpos eram jogados em 
valas comuns. Os flagelados que reclamavam das condições a 
que eram sujeitos, eram classificados como infratores, sendo vio-
lentamente penalizados e recolhidos ao sebo, uma pequena gaiola 
de varas. Os detentos nos campos de concentração eram reduzidos 
a pele e osso como os filmados pelas tropas americanas ao chegarem 
aos campos de concentração nazistas na II Guerra Mundial.
Em dezembro de 1945 o presidente José Linhares e seu ministro 
Maurício Joppert da Silva transformam a Inspetoria no Departa-
mento Nacional de Obras Contra as Secas DNOCS que, a partir 
do ano seguinte sob o governo Dutra se mantém com recursos 
exíguos e praticamente limitados às obras de construção de açu-
des, sem dar seguimento a obras de irrigação e de piscicultura, não 
havendo recursos para formação de mão de obra, não houve fi-
nanciamento para a mecanização para a lavoura e a pecuária, não 
aconteceu a difusão de insumos, não foram criadas estruturas de 
estocagem, não houve meios suficientes para a expansão de obser-
vações e estudos hidrológicos, não se promoveu acesso a crédito, 
não se promoveu a monetarização do mercado interiorano que fun-
cionava à base de escambo. Nesse período de penúrias o Departa- 
mento foi dirigido por Luiz Vieira e Vinícius Berrêdo.
Com o retorno de Getúlio Vargas à presidência, desta vez eleito, o 
orçamento do DNOCS, ainda que insuficiente, foi duplicado em 
relação ao orçamento deixado pelo seu antecessor. Dessa maneira 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
72
foram retomadas ou iniciadas as obras de diversas barragens 
tais como Orós, Araras, Banabuiu, Boqueirão das Cabaceiras e 
Cocorobó. Nesse período tiveram início os estudos da hidroelétrica 
de Boa Esperança, posteriormente transferida para a COEBE e, 
depois incorporada à CHESF.
Ao assumir o governo federal, Juscelino Kubitschek, obcecado 
pela sua meta síntese de construção de Brasília, drenou de todos 
os lados recursos necessários para a implantação da nova capital. 
O DNOCS não ficou isento a essa insaciável drenagem de recursos 
e algumas de suas obras ficaram sem recursos e sem crédito. 
A mais notável delas, Orós, teve o seu colapso anunciado com 
meses de antecedência pelos dirigentes do DNOCS dada a inca-
pacidade financeira e de crédito para concluir a barragem antes 
do período de chuvas. 
Figura 5 - Barragem 
Quixeramobim
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
73
rompeu em 1961 a concessão de subsídios à construção de açudes 
particulares por regime de cooperação e desacelerou a implanta-
ção de açudes públicos. No governo de João Goulart o DNOCS 
passa à categoria de autarquia em junho de 1963 e passa a trabalhar 
sob a coordenação da SUDENE em ocasiões de emergência.
Após a deposição do governo Goulart, o DNOCS passa a ser 
gerido por sucessivos coronéis do Exército pouco versados nos 
problemas do semi-árido. A modalidade tradicionalmente adota-
da de executar os empreendimentos por administração direta foi 
abolida e o efetivo do Departamento passou a entrar em ociosi-
dade. Nos governos seguintes a maior atribuição do DNOCS foi 
a de implantar perímetros irrigados.
Em 1999 assumiu o governo o general João Batista Figueiredoe, 
em seguida, em paralelo ao segundo choque do petróleo, ocorreu a 
severa seca entre os anos de 1980 a 1983. A mais importante obra 
desse período foi a construção da barragem de Açu no Rio Gran-
de do Norte, com a capacidade de 2,4 bilhões de metros cúbicos 
de acumulação. Durante a construção, apesar das advertên-
cias da empresa encarregada da fiscalização e de seu consultor 
Mr. Holtz, engenheiro de carreira no U.S. Bureau of Reclamation, 
uma argila de baixa resistência foi colocada anexa ao núcleo da 
barragem se prolongando para montante em forma de tapete im-
permeabilizante. Ao final da construção, antes do enchimento do 
reservatório, houve o colapso do talude de montante da barragem por 
falta de resistência da camada de solo do tapete impermeabilizante. 
As autoridades tentaram culpar o consultor, mas o engenheiro 
José Candido Castro Parente Pessoa logrou provar na delegacia 
perante a um juiz de direito, a inocência do referido consultor 
que havia desaconselhado a execução do tapete.
Com a chegada de José Sarney à presidência da República é lançado 
o programa de irrigação de um milhão de hectares. Para esse pro-
grama foi sorrateiramente e oficiosamente quebrada a proteção à 
engenharia brasileira conseguida por lei no governo Costa e Sil-
va. Diversas empresas consultoras estrangeiras desembarcaram 
no País para surpresa da Associação Brasileira de Consultores 
A SUDENE concorreu com eficiência para a divulgação leviana 
da idéia de que a capacidade dos açudes então existentes seria sufi-
ciente para atender à demanda de água do semi-árido para qualquer 
seca que viesse a acontecer. A política de implantação de açudes 
foi, então, brecada até que as secas intensas ocorridas no início 
dos anos oitenta demonstraram o equívoco dessa postura.
O governo Jânio Quadros, além de praticar uma injustificada caça 
às bruxas com relação aos dirigentes do período anterior, inter-
Figura 7 - Açude Banabuiu
Figura 6 - Açude Mãe d’água
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
74
de Engenharia. Nesta época o autor desse capítulo era o diretor 
da ABCE encarregado da proteção à engenharia nacional. 
A viabilidade da existência do DNOCS passou a ser agenda do 
governo Fernando Collor de Mello que se instaurou em 1991. Foi 
instalada uma comissão parlamentar mista tendo resultado daí 
o relatório de Beni Veras que recomendava a manutenção do 
DNOCS, mas sujeito a profundas modernizações. As moderniza-
ções foram estudadas, mas não foram implantadas no curto governo 
Itamar Franco nem no primeiro governo de Fernando Henri-
que Cardoso, apesar de neste governo ter ocorrida significativa 
redução de diretores e cargos gratificados. No primeiro dia do se-
gundo governo Fernando Henrique Cardoso, 1 de janeiro de 1999, 
o DNOCS é finalmente extinto por medida provisória, acabando 
longa agonia. Entretanto, devido a impressionante mobilização de 
diversos setores da sociedade civil do Nordeste, e do peso do Nor-
deste no parlamento, o DNOCS foi ressuscitado em maio de 1999, 
mas sem dotações orçamentárias suficientes, ficando o órgão 
nos limites da sobrevivência. A única obra importante foi conseguida 
pela bancada cearense no congresso: o açude Castanhão inaugurado 
ao apagar das luzes do segundo governo de Fernando Henrique. 
Esse açude e o longo canal de adução das águas à cidade de Forta-
leza executado em tempo recorde de acordo com o planejamento 
do engenheiro José Cândido Pessoa, fortaleceu politicamente o 
então governador Ciro Gomes e o lançou na política Federal. 
Assim, a era FHC deixou duas grandes marcas na Autarquia: a 
sua traumática dissolução com seu posterior ressurgimento e 
a construção da maior barragem do semi-árido brasileiro que incluiu 
a utilização rara em nosso País, de diques fusíveis.
Nos dois governos Lula houve reestruturação do DNOCS, mas 
não houve obras de barragens. A SUDENE que havia sido extinta 
por medida provisória em maio de 2001, foi novamente criada em 
janeiro de 2007 com o objetivo de reassumir o planejamento regional. 
A diretoria do DNOCS alertou em 2008 que eram urgentes as 
obras de recuperação dos açudes Estevam Marinho e Mãe D’Água 
sob o risco de se tornarem inoperantes e causarem danos irrepará-
veis a bens e a vidas humanas, pois há mais de 40 anos não eram 
feitas manutenções nessas barragens. Dois anos depois as obras 
foram feitas com dispensa de licitação. Ao ser lançado o PAC – 
Plano de Aceleração do Crescimento com uma verba de um bilhão 
de reais em 2010, os recursos humanos da instituição não puderam 
acompanhar a disponibilidade financeira pela sua carência de es-
trutura e de pessoal. Na sua época mais ativa, entre 1940 a 1960, 
o órgão chegou a ter dezessete mil funcionários e fazia as obras por 
administração direta, com equipe própria. Hoje os funcionários da 
ativa não passam de mil e oitocentos, havendo mais de doze mil apo-
sentados e pensionistas. Depois de passar trinta anos sem renovar 
seus quadros, a DNOCS pediu abertura de concurso para seiscentas 
vagas, mas o Ministério do Planejamento limitou a 92. Essa medida 
não substituiu devidamente os terceirizados, que tiveram que ser 
demitidos, pois vinham prestando serviços para a atividade fim 
do órgão, o que é vedado pela legislação em vigor. O diretor geral 
Elias Fernandes lamenta: “todos os meus funcionários têm cabeça 
branca”. Da falta de condições do DNOCS e dos perversos cenários 
das secas surgiram construções de açudes particulares e por outros 
órgãos federais e estaduais. Implantados em condições questioná-
veis, bastou que as precipitações em 2009 fossem 59% superiores 
à média anual para que houvesse o colapso de 50 açudes só 
em Canindé, no sertão central do Ceará. Em Targinos, Ceará, 
14 barragens colapsaram, muitas delas do INCRA. 
Cabe realçar a influência do United States Bureau of Reclamation 
USBR no combate às secas do Nordeste brasileiro. O USBR foi 
a primeira instituição americana dedicada ao estudo e desenvolvi-
mento de recursos hídricos. Sua missão é o desenvolvimento de 
projetos de barragens de regularização e irrigação do árido oeste 
dos Estados Unidos. Ao longo do Século XX o USBR implantou 
centenas de barragens e mais de duzentos projetos de irrigação 
no oeste americano. Seu criador em 1898, John Wesley Powell 
deu origem a uma das mais destacadas instituições de engenharia 
já formada. Engenheiros do DNOCS e de outras instituições bra-
sileiras, inclusive o autor, foram treinar nos seus escritórios, labora-
tórios e obras. Alguns dos mais destacados profissionais do USBR, 
tais como Jack Hilf, W. Holtz e Hoffmann, estiveram dando 
assistência técnica às obras de barragem do DNOCS. 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
75
As causas das secas no Nordeste ficaram desconhecidas até a 
primeira metade dos anos 80 quando foi detectada a influência da 
permanência de temperaturas mais elevadas da água no oceano 
Pacífico na latitude do Peru, fenômeno conhecido desde os tem-
pos coloniais como El Niño. Um El Niño mais prolongado causa 
no território brasileiro secas no Norte e Nordeste e cheias no Sul. 
A partir dessa época as secas passaram a ser previsíveis. 
Ao analisar as atividades realizadas no combate às secas verifica-se 
que a descontinuidade na administração das agências de fomento 
e a alternância dos recursos disponibilizados fazem com que obras 
iniciadas há várias décadas são descontinuadas ou retardadas. Barra-
gens iniciadas ou projetadas no governo de Epitácio Pessoa como 
Pedra Branca e Patu foram concluídas muitas décadas depois. 
A barragem de Orós cuja proposição é dessa época, teve suas obras 
interrompidas. Quando da primeira fase de construção que eram para 
ser uma barragem de alvenaria, nasceu no canteiro de obrao Theophilo 
Benedicto Ottoni Netto que, como engenheiro sênior, viria projetar o 
vertedouro da barragem. A barragem de Castanhão teve sua construção 
proposta em 1910 e só foi executada quase 100 anos depois.
Entretanto, nas fases em que o governo federal propiciou condições 
financeiras adequadas, a IFOCS e seu sucessor DNOCS mostrou 
intensa atividade, sendo responsável pela implantação de mais de 
220 grandes barragens (de acordo com a classificação da CIGB), 
o que significa cerca de 20% das grandes barragens brasileiras. 
Figura 8 - Jack Hilf e José Candido Pessoa. Exemplo de colaboração 
do US Bureau of Reclamation para o DNOCS
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
7676
77
As Barragens Construídas 
pelo DNOCS
Flavio Miguez de Mello“Em 1896 há de haver mil rebanhos correndo da praia para o 
sertão; então o sertão virará praia e a praia virará sertão.” 
Antônio Conselheiro
O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas e as inspetorias 
que o antecederam foram os órgãos que mais barragens implanta-
ram no Brasil. Com o objetivo de promover condições de fixação 
dos nordestinos cultivando o semi-árido, 214 grandes barragens 
(de acordo com a classificação da Comissão Internacional de 
Grandes Barragens) foram implantadas até 1982. Essa cifra mos-
tra intensas fases de elevada atividade e outras fases de estagnação, 
em função do maior ou menor interesse do governo federal.
Nos cento e vinte anos de atividades no combate aos malefícios 
das secas, atividades que foram originadas das drásticas conse-
qüências da Grande Seca que ocorreu de 1877 a 1889, muitas 
barragens com características extremamente interessantes foram 
construídas. Nos primeiros anos do século passado as barragens eram 
de alvenaria de pedra, chamadas na época de barragens de peso, 
ou maciços baixos de terra cujo elemento impermeabilizante era 
um diafragma central de alvenaria. No caso de haver ombreira em 
rocha sã, o sangradouro podia ser simplesmente escavado numa 
das ombreiras, dispensando-se revestimentos. Considerando que 
apenas os rios São Francisco, que flui desde Minas Gerais e o rio 
Parnaíba que divide os estados do Piauí do Ceará são perenes, os 
demais cursos d’água do Nordeste são de regime intermitente, 
a construção de barragens era, em geral, feita em duas etapas: 
no primeiro ano se procedia a limpeza e o tratamento de fundação 
e, no segundo ano, após o recuo das águas, se fazia as obras no 
leito do rio e nas margens. Até meados do século passado as 
barragens eram de alturas modestas, sendo que só nos anos 50, 
em Boqueirão das Cabaceiras, foi implantada a primeira barragem 
de altura superior a 50 m. Como são muitas barragens, para o 
presente livro o autor selecionou as barragens do açude de Cedro 
por terem sido as primeiras grandes barragens do Nordeste e as 
mais bonitas até hoje, a barragem de Orós por ter tido impressio-
nante acidente durante sua construção, a barragem de Engenheiro 
Ávidos pelo seu arrojado projeto original, a barragem de Cocorobó 
pelos motivos que determinaram a sua implantação e a barragem 
do Castanhão por ser a última grande barragem construída 
pelo DNOCS antes da publicação deste livro.
As barragens do açude de Cedro
Logo após o término da Grande Seca, em 1880, o Governo Impe-
rial encomendou ao engenheiro Jules Revy uma seleção de locais 
para implantação de barragens com o objetivo da formação de 
açudes. Dentre os locais selecionados sobressaiu-se o sítio onde foi 
implantado o açude de Cedro. Já em 1882 o primeiro projeto 
estava pronto. Esse projeto, entretanto, foi modificado pelo enge-
nheiro Ulrico Mursa, da Comissão de Açudes e Irrigação. As obras 
foram iniciadas em novembro de 1890 e foram concluídas em 1906, 
As Barragens Construídas 
pelo DNOCS
Sangradouro de Castanhão
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
78
sob a direção do engenheiro Bernardo Piquet Carneiro, após para-
lisações. O açude só foi verter (sangrar) pela primeira vez em 1924 
o que demonstra que, pela falta de dados hidrológicos na época 
do projeto, o açude ficou super-dimensionado.
O açude se localiza no rio Sitiá do sistema Jaguaribe, controlando 
uma área de drenagem de 224 km², com uma superfície de 
17,45 km², uma capacidade de acumulação de 126.000.000 m³ e 
uma profundidade média pouco superior a 7 m.
A barragem principal é em arco gravidade de alvenaria, de longo 
raio de curvatura de 254 m; sua altura é de 18 m sobre as funda-
ções em sienito são, sua extensão de crista é de 415 m, seu vo-
lume é de 60.000 m³. O vertedouro (sangradouro) é também em 
alvenaria, de gravidade, com 7,5 m de altura e com lâmina livre pela 
crista; seu comprimento é de 209 m e seu volume é de 9.925 m³. 
Há ainda dois diques de terra, um em cada margem do rio, deno-
minados Barragem Sul com altura de 17 m, comprimento de crista 
de 243 m e volume de 40.724 m³ e Barragem da Lagoa do Forbes 
com 4 m de altura, 464 m de extensão e 8.473 m³ de volume. 
A alvenaria de pedra em sua crista, seu eixo curvo e os peque-
nos pilares com as grossas correntes aliados à Pedra da Galinha 
Choca na margem direita da barragem e à esquerda do vertedouro 
formam um conjunto arquitetônico de rara beleza. 
Figura 1 – 
Açude de Cedro
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
79
A barragem de Engenheiro Avidos, 
antiga São José de Piranhas
A barragem é localizada no rio Piranhas, no município de Cajazeiras, 
Paraíba, controlando uma área de drenagem de 1124 km². O projeto foi 
concebido pelos engenheiros Luis Vieira e Vinícius Berrêdo, com a 
colaboração de Moacyr Avidos, Regis Bittencourt e Lohengrin Chaves. 
tando muitos matacões e elevada permeabilidade e a margem direita é 
constituída por um gnaisse intemperizado. O projeto original da 
barragem compreende um maciço de terra a montante com talude 
variável de cima para baixo de 2:1, de 2,5:1 e de 3:1, um núcleo de 
concreto sob a linha de centro da barragem constituindo-se o prin-
cipal elemento de impermeabilização, e um maciço de enrocamento 
no espaldar de jusante com talude de 1,6:1. A barragem tem 44 m 
de altura e 340 m de extensão. Na ombreira esquerda as escavações 
atingiram a 14 m de profundidade. O vertedouro era de crista livre, 
com ogiva de concreto de 160 m de extensão e cuja calha era constituída 
por um revestimento do talude jusante em lajes articuladas de concreto 
armado projetado para um pico de cheia da ordem de 800 m³/s e situ-
ado na parte central do corpo da barragem. As tomadas d’água são em 
duas torres cilíndricas controladas por comportas que aduzem a água 
para duas tubulações em células de concreto armado.
Consta que o padre Cícero havia dito que a barragem iria colapsar. 
Realmente, o reservatório era mantido em nível baixo a maior parte 
do tempo. A barragem havia sofrido recalques e os movimentos 
provocaram a abertura de juntas na laje do vertedouro. Esses deslocamen-
tos se acentuaram após a passagem da cheia de 1963 que chegou, no seu 
pico, a uma sobre-elevação de cerca de 0,30 m sobre a crista do vertedouro, 
o que correspondeu a uma hidrógrafa defluente com pico de apenas 
55 m³/s. Nesse ano, após a cheia, o engenheiro O. Rice do US Bureau 
of Reclamation, em inspeção à barragem, recomendou que fosse cons-
truído um novo vertedouro na ombreia direita. Foi efetuado um novo 
estudo hidrológico para verificação da hidrógrafa de projeto, tendo sido 
definida uma hidrógrafa com pico de 1610 m³/s. Como esta era, nos países 
ocidentais, uma das quatro barragens com vertedouro sobre o aterro e a 
única das quatro que sobreviveu durante quase 30 anos de uso, como as 
sondagens no aterro da barragem revelaram graus de compactação ina-
dequados, comoa descarga de projeto deveria ser o dobro da descarga 
original e como essa descarga de projeto era quase 30 vezes superior à descar-
ga ocorrida em 1963, foi decidido que o vertedouro sobre a barragem seria 
substituído por um vertedouro lateral provido de duas comportas de segmen-
to de 9 m x 10 m que descarregam as descargas vertidas em uma calha em 
concreto armado e dissipação em salto de esqui, o que correspondeu a 
uma escavação de 300.000 m³ e a um volume de concreto de 16.000 m³. 
As principais condicionantes do projeto eram: não exigir fundação 
em rocha sã e o elevado custo devido às dificuldades logísticas para 
suprimento de cimento ao local da barragem. No local da barragem a 
margem esquerda é composta por um quartzito decomposto, apresen-
Figura 2 – O engenheiro Moacyr Monteiro Avidos
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
80
Figura 5 - Açude Piranhas 
durante sua construção 
em 1936. Vista do 
talude de jusante
Figura 3 - Açude Piranhas durante sua construção 
em 1936. Vista do talude de montante
Figura 4 - Açude Piranhas – Saída das 
galerias da tomada de água
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
81
A barragem de Orós
A barragem de Orós é situada no rio Jaguaribe, conhecido como o 
maior rio intermitente do mundo, no interior do estado do Ceará, 
a 450 km da capital Fortaleza. Sua principal finalidade é perenizar 
o rio e promover a irrigação nos trechos médio e baixo de seu vale. 
Como finalidades secundárias há a piscicultura e aproveitamento 
hidroelétrico. Desde os tempos do Império e nos primeiros anos 
da república uma barragem no boqueirão de Orós vinha sendo 
considerada. Houve um primeiro anteprojeto desenvolvido no 
início da Inspetoria de Obras Contra as Secas do qual não se tem 
notícia por ter se perdido em incêndio ocorrido em dezembro 
de 1912 na Primeira Seção dessa Inspetoria. A idéia inicial de uma 
barragem de eixo reto situada na entrada do boqueirão foi abando-
nada em 1913, em vista dos resultados das sondagens executadas 
pelo engenheiro britânico Louis Philips e pelo engenheiro José 
Gomes Parente. Essas sondagens indicaram no leito do rio uma 
cavidade no seu topo rochoso de 40 m preenchida por aluviões. 
A cerca de 200 m a jusante do eixo retilíneo original essa cavidade 
apresenta profundidades de até 80 m. Para fugir da cavidade duas 
alternativas de eixo foram indicadas: eixo reto na parte jusante do 
boqueirão ou eixo acentuadamente curvo na entrada do boqueirão. 
Em 1919, motivado pela intensa seca que impactou a região, o 
governo federal contratou a empreiteira americana Dwight P. Ro-
binson & Co. para elaborar um novo projeto e implantar a obra 
sob a supervisão dos engenheiros Charles W. Comstock e J. A. 
Sargent. A barragem seria em alvenaria de concreto ciclópico execu-
tada com apoio de cabo aéreo cujas torres foram instaladas nas duas 
ombreiras. Todos os trabalhos de levantamentos e prospecções e 
de projetos de infra-estrutura tais como as instalações das resi-
dências e escritórios, acessos rodoviários, ferrovia, eletrificação e 
canteiro de obra, foram feitos pelos engenheiros A. Pyles, José Visetti, 
C. P. Cunha, José Wright e George Shobinger.
Nessa fase inicial de construção participava da equipe o enge-
nheiro Augusto Benedicto Ottoni. Durante essa fase, no interior 
do Ceará, nasceu seu filho, Theophilo Benedicto Ottoni Netto, 
que viria a ser destacado engenheiro hidráulico e professor 
emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, formando 
um sem número de engenheiros, incluindo seus filhos, uma 
neta e o autor desse capítulo. Curiosamente, como será mencio-
nado adiante, o engenheiro Theophilo teria atuação de destaque 
no projeto do vertedouro da barragem de Orós quase cinqüenta 
anos depois do seu nascimento. 
A excepcional cheia ocorrida em 1924 destruiu ensecadeiras e 
parte do canteiro de obra, tendo havido, no janeiro seguinte, drástico 
corte de verbas e a conseqüente paralisação das obras no governo 
de Arthur Bernardes. 
Em 1930 estudos adicionais foram realizados sob a orientação 
do engenheiro Luis Augusto Vieira.
Em 1932 materiais e equipamentos foram retirados de Orós para 
as construções dos açudes de Pilões, Piranhas e São Gonçalo. 
A barragem de Orós deixou de ser prioridade mesmo com a 
intensa seca de 1932. Posteriormente equipe do engenheiro 
Luiz Vieira elaborou dois estudos, um com barragem de terra e outro 
com barragem de concreto gravidade, ambos com eixo retilíneo a 
jusante do boqueirão para evitar a espessa camada de aluvião que 
havia sido detectada nos estudos iniciais.
Em 1940 foi concluído um túnel com 1600 m de extensão ligan-
do Orós ao açude de Lima Campos cuja capacidade de irrigação 
estava esgotada. 
Estudos e investigações geotécnicas efetuadas pelo engenheiro 
Arthur W. Schneider levaram a professor Casemiro José Munarski 
a conceber o projeto de uma barragem de terra zonada com 
grande curvatura em planta para montante com o objetivo de fugir 
da espessa camada de aluvião. Em outubro de 1958 as fundações 
da barragem estavam escavadas e tratadas. O maciço da barragem 
seria erguido após a estação chuvosa seguinte, no decorrer de 1959. 
Apesar de dispor de um túnel de desvio, Orós foi programada para 
ter seu maciço totalmente construído em um período seco, como 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
82
era comum nos rios intermitentes do Nordeste. O próprio DNOCS 
construía a barragem com equipamentos provenientes da recém 
concluída construção da barragem de Araras.
A barragem, projetada com 54 m de altura e taludes de 2,5:1 e 2:1 
respectivamente a montante e a jusante, ambos abrandados em cotas 
inferiores, foi executada com espesso núcleo de argila arenosa com-
pactada em camadas de 15 cm e taludes externos em enrocamento que 
envelopava, nos espaldares de montante e de jusante, zonas de solo 
arenoso compactados em camadas de 30 cm de espessura. O túnel de 
desvio situado na ombreira esquerda, tornou-se a tomada d’água e foi 
revestido posteriormente com chapa de aço, apresentando a jusante 
uma bifurcação para um descarregador de fundo e para a instalação 
de uma pequena hidroelétrica que só foi licenciada cinqüenta anos 
depois. Como mencionado acima, na margem direita do reservatório 
havia sido construído um túnel que conduz descargas do rio Jaguaribe 
ao açude de Lima Campos com o objetivo de reforçar as vazões 
para irrigação das áreas a jusante desse açude.
Entretanto, devido à incrível concentração de recursos federais 
para a construção de Brasília, denominada pelo presidente Juscelino 
Kubitschek de meta síntese, os demais empreendimentos governa-
mentais ficaram com desmedidas carências de recursos. O DNOCS 
passou a ter sérios problemas na manutenção do ritmo de cons-
trução por falta de recursos financeiros para concluir a barragem a 
tempo, tendo perdido também o crédito junto a fornecedores. 
Debalde foram os alertas da direção do DNOCS e de seu diretor 
geral, engenheiro José Cândido Castro Parente Pessoa, quanto ao 
perigo da não conclusão da barragem antes do período chuvoso. 
No final do período chuvoso, com a barragem ainda incompleta e 
sem ser possível as águas afluentes atingirem a cota da soleira do 
vertedouro ainda em escavação, a barragem começou a ser galga-
da. Era nos primeiros minutos da madrugada do dia 26 de março 
de 1960. Os esforços para conter o colapso da barragem foram 
inúteis. Cerca de 40% do volume do maciço já executado foi 
erodido. Várias cidades situadas a jusante foram invadidas pelas 
águas oriundas do colapso da barragem. 
Destaca-se a eficiente atuação das forças armadas no resgate das 
populações residentes a jusante da barragem.As informações 
disponíveis dão conta de que apenas um óbito foi registrado, 
tendo sido por infarto. O acidente e suas conseqüências impactaram 
a opinião pública e muitos recursos foram angariados de populares 
e remetidos às vítimas do acidente. A campanha em muitas cidades 
do País tinha o lema “Orós precisa de nós”. No âmbito externo, real-
çam-se as atitudes de países no apoio às vítimas do rompimento 
Figura 6 - Galgamento da 
barragem de Orós
Figura 7 - Barragem de Orós 
após a ruptura
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
83
da barragem de Orós: Estados Unidos, Reino Unido, França, 
Alemanha Ocidental, União Soviética e Vaticano.
A barragem foi rapidamente reconstruída entre julho de 1960 
e janeiro de 1961, tendo sido inaugurada pelo presidente 
Juscelino Kubitscheck. Apesar de ter sido o responsável 
pela carência de recursos que ocasionou o colapso da barragem 
com graves consequências para as populações de jusante, há 
um monumento em bronze com a estátua do presidente em 
tamanho natural.
Entretanto, o sangradouro permaneceu sem ser revestido de 
concreto. A rocha local é composta por xistos da série Ceará, 
destacando-se quartzitos xistosos dobrados e extremamente 
fraturados. Pouco após a reconstrução da barragem, o ver-
tedouro apenas escavado, era protegido por uma pequena 
ensecadeira. Em visita ao local em época em que o reservatório 
estava com elevado nível d’água, uma alta autoridade federal 
mandou abrir a ensecadeira. A água escoando a elevadas ve-
locidades sobre a rocha altamente fissurada, provocou grande 
erosão regressiva que quase comprometeu a estabilidade da 
ombreira esquerda.
Mais uma vez, após a emergência, recursos foram destinados a 
concluir a obra do vertedouro. O projeto foi encomendado ao 
Laboratório Hidrotécnico Saturnino de Brito – HIDROESB e 
idealizado pelo Professor Theophilo Benedicto Ottoni Netto 
aproveitando em parte a configuração da encosta erodida e 
desenvolvendo uma concepção de elogiável arquitetura 
hidráulica, testada em modelo reduzido. Figura 8 - Erosão na área do vertedouro antes do revestimento de concreto
Figura 9 – Saturnino de Brito Filho, Juarez Távora, Theophilo 
Benedicto Ottoni Netto e José Cândido Parente Pessoa em visita 
ao modelo hidráulico reduzido do vertedouro de Orós
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
84
Figura 11 – Vertedouro 
de Orós em operação
Figura 10 – Açude de Orós
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
85
A barragem de Cocorobó
Na última década do Século XIX foram travados vários combates 
entre forças militares do estado da Bahia e, posteriormente, do 
Exército Brasileiro contra jagunços seguidores da figura mística de 
Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido por Antônio Conse-
lheiro. Inicialmente pacíficos, desarmados e militarmente despre-
parados, os seguidores de Antônio Conselheiro rechaçaram quatro 
investidas e expedições das forças armadas, tendo sido finalmente 
aniquilados em seu arraial denominado Belo Monte. Esse terrível 
episódio de nossa história é magistralmente narrado por Euclides 
da Cunha que foi testemunha ocular da terceira expedição coman-
dada pelo sanguinário coronel Antônio Moreira César, o corta 
cabeças, que já havia assassinado mais de cem habitantes de Nossa 
Senhora do Desterro, cidade posteriormente denominada Floria-
nópolis em homenagem ao ditador da ocasião, e, cem anos após, 
também descrita com maestria por Mario Vargas Llosa, prêmio 
Nobel de literatura em 2010.
Consta que o pedido da construção da barragem de Cocorobó 
partiu do chefe político local durante a visita, em 1940, do presidente 
Getúlio Vargas à região e ao segundo Arraial de Canudos, cons-
truído em 1909 por parentes e sobreviventes do massacre. Getúlio 
teria perguntado a Isaias Canário o que poderia ser feito por Canudos 
e recebeu como resposta: “Um açude Senhor Presidente.”
Os estudos do DNOCS indicaram o boqueirão Cocorobó como o 
sítio mais indicado para a construção da barragem. Na época, em ne-
nhum momento foi cogitado que o sítio selecionado iria submergir o 
que havia restado de Belo Monte, incontestavelmente de elevado va-
lor histórico. Principalmente após a construção, a seleção do local foi 
questionada por diversos pesquisadores e historiadores, havendo duas 
correntes distintas: a primeira acusa o governo federal de tentar apa-
gar da memória nacional o triste incidente de Canudos, escondendo 
sob as águas a participação do Exército no conflito. A segunda de-
fende a idéia de que o boqueirão era o local mais apropriado para a 
implantação do açude. Mesmo no local selecionado, o volume d’água 
acumulado pelo açude não é suficiente para atender a exploração de 
todo potencial de solo agricultável a jusante, como ficou evidenciado 
nas estiagens ocorridas entre 1994 e 2000 quando as demandas fizeram 
com que o espelho d’água atingisse níveis muito baixos, aparecendo 
as antigas construções, principalmente a parte superior da igreja de 
Antônio Conselheiro bombardeada por canhões do Exército. 
A barragem, concluída em 1968, é uma estrutura de terra compac-
tada, com 34 m de altura, 643 m de extensão de crista e volume de 
reservatório de 245,3 milhões de metros cúbicos. Na realidade, há 
Figura 12 – Prisoneiros da guerra de Canudos
Figura 13 – Estátua 
de Antônio Conselheiro, 
tendo ao fundo o açude 
de Cocorobó 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
86
pareceres de engenheiros e mesmo de arqueólogos como Paulo 
Zanettini e Erica Gonzáles, que certificam que o local selecionado 
é na realidade o mais apropriado para a implantação da barragem: 
a jusante o vale é muito aberto e com espessas camadas de sedimentos 
e a montante não havia local tão propício para um reservatório. 
Entretanto, houve um depoimento do diretor geral do DNOCS no 
início da construção da barragem ao autor deste capítulo, que justifica a 
interpretação de que a barragem teria sido construída para afogar a me-
mória da Guerra de Canudos concluída em 5 de outubro de 1897. Era 
mesmo tentador tentar apagar qualquer registro do massacre dos habi-
tantes de Belo Monte. Ao final da guerra, mesmo aqueles que se rende-
ram com a promessa de não serem mortos, homens, mulheres e crianças 
foram cruelmente degolados pelas tropas do Exército sob o comando 
do general Artur Oscar de Andrade Guimarães no incidente conhecido 
por gravata vermelha. Segundo o engenheiro Euclides da Cunha que 
esteve no teatro da guerra, “aquela campanha (do Exército) foi o maior 
crime praticado em território brasileiro.” 
O engenheiro José Cândido Castro Parente Pessoa contou que no início 
das obras da barragem conversou muitas vezes com o Pedrão, principal 
jagunço de Antônio Conselheiro na fase final dos confrontos com o 
Exército. Após o aniquilamento do arraial e de seus ocupantes, Pedrão que 
havia saído para combater a quinta expedição que chegava com soldados 
do Rio Grande do Sul, se refugiou nos limites do Piauí com o Maranhão 
até que uma anistia permitiu que ele retornasse a Canudos. Pedrão 
faleceu e inaugurou o modesto cemitério que havia sido feito como 
um dos equipamentos urbanos necessários para a construção da 
barragem. Como havia sido o primeiro a falecer após a conclusão 
do cemitério, o engenheiro José Cândido candidamente indicou a 
cova número um para acolher o falecido. Pouco tempo depois aden-
tra um coronel do Exército no escritório do referido engenheiro e 
passa uma descompostura nele por ter enterrado na primeira cova 
do longínquo cemitério da obra “um inimigo da república”. 
Barragem do Castanhão
Os primeiros estudos do Castanhão datam de 1910 quando o 
geólogo americano Roderic Crandall realizou paraa Inspetoria 
de Obras Contra as Secas, estudos de locais para implanta-
ção de açudes no Nordeste. Nesse trabalho ele identificou o 
boqueirão do Cunha como sendo um local para implantação 
de uma barragem que promovesse alguma regularização e que 
Figura 14 – Açude 
de Castanhão
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
87
derivasse as águas do rio Jaguaribe. Oitenta anos após, nos 
anos noventa, o projeto da barragem foi concluído e sub-
metido a intensas e extensas discussões para a obtenção do 
licenciamento ambiental. Além da extensa área do reservatório, 
o principal impacto foi a necessidade de reassentamento 
de quinze mil pessoas que eram residentes na área a ser ala-
gada, incluindo a totalidade da sede municipal de Jaguaribara. 
O projeto foi aprovado no Conselho Estadual do Meio 
Ambiente em dezembro de 1992 por doze votos a favor e oito 
contra. Em novembro de 1995 foi expedida a ordem de serviço 
autorizando o início da construção.
A descrença e a desconfiança permaneciam na população local e os 
opositores mantinham todas as ações possíveis para evitar que a obra 
fosse iniciada. Para contornar essas dificuldades foi constituído um 
colegiado que funcionou como um parlamento, acompanhando as 
obras com reuniões públicas mensais em que as manifestações eram 
livres. As discussões que foram mantidas no colegiado se transforma-
ram em um documento de importância histórica com 6000 páginas 
de transcrições de debates, 300 páginas de atas de reunião e 360 fitas 
gravadas. As principais decisões do colegiado foram relativas ao 
estabelecimento de uma tabela para indenizações de proprieda-
des, à seqüência de pagamentos e às prioridades no processo de 
transferência da população, incluindo a seleção do local de cada nova 
moradia, além do redesenho do município de Jaguaribara que teve 
cerca de 60% de sua área alagada. Nesse aspecto foi importante a 
transferência de áreas dos municípios vizinhos de Alto Santo, 
Morada Nova e Jaguaretama para o município de Jaguaribara.
A barragem do Castanhão foi concluída em 1999. A barragem é uma 
longa estrutura de terra compactada com um trecho em concreto 
compactado com rolo, com 3.450 m de extensão e 72 m de altura. 
O vertedouro em concreto gravidade é provido de 12 comportas 
de segmento de 10 m por 11,55 m, tendo capacidade de escoar a 
descarga de projeto de 12.345 m³/s com sobre-elevação de 6 m. 
O reservatório na El. 100 (nível máximo normal de regularização) pos-
sui uma área de 325 km² e represa 4,46x109 m³. O canal de derivação 
se estende por 256 km com a capacidade adução de 22 m³/s.
Agradecimento
O autor agradece à engenheira Ana Teresa Ponte pelas foto-
grafias e informações.
Referências
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Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – 
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Paulino, M. A. – Orós, Histórico sobre a Construção do 
Açude, Conviver, 2009
Sola J. A. – Canudos, uma Utopia no Sertão – Editora Con-
texto, 1989
Figura 15 – Açude de Castanhão
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
88
89
Resumo da História Remota 
da Hidroeletricidade no Brasil
Flavio Miguez de Mello
blico, pela primeira vez no País, uma experiência de geração e utili-
zação de energia elétrica que se tem notícia em território nacional. 
A energia gerada foi utilizada para acender uma lâmpada, demons-
trando que a eletricidade poderia trazer benefícios inestimáveis à 
sociedade. Os que presenciaram a experiência, embora surpresos, 
certamente não poderiam imaginar a dependência que a socieda-
de viria a ter da eletricidade nos dias atuais. Cinco anos depois, 
em 1862, ocorreu na Praça da Proclamação, hoje Praça Tiradentes, 
próxima ao prédio da Escola Central, uma nova demonstração 
pública de iluminação baseada em energia elétrica, por ocasião 
da inauguração da estátua eqüestre de Dom Pedro I.
Em 1879 foi efetuado o primeiro emprego comercial do dínamo 
pela Edison Electric Light Co. em Nova York. Nesse mesmo ano, 
Dom Pedro II concedeu a Thomas Alva Edison a concessão para 
introduzir no Brasil os equipamentos de sua revolucionária invenção 
e inaugurou a iluminação elétrica da estação da Estrada de Ferro 
Pedro II, atual estação ferroviária situada na Avenida Presidente 
Vargas, no Rio de Janeiro, na época sob a direção de Francisco 
Pereira Passos. Essa foi a primeira instalação de iluminação elétrica 
de caráter permanente que foi instalada no País. 
Em 1881, por ocasião da viagem de Dom Pedro II a Minas Gerais, 
o diretor Claude Henry Gorceix da Escola de Minas e Metalurgia 
de Ouro Preto, fez acender uma lâmpada com energia proveniente 
de um dínamo acionado pelos detentos da cadeia local.
A primeira instalação no País de iluminação com base em energia 
elétrica em área externa foi efetivada em 1881 no Jardim do Campo 
da Aclamação, atualmente Praça da República, no Rio de Janeiro, 
Os primeiros tempos - Século XIX
Recuamos à distante época dos meados do Século XIX quando 
não havia ainda exploração econômica de energia elétrica no mundo. 
Nessa época o Brasil vivia no segundo reinado sob um impera-
dor extremamente interessado em todos os domínios da cultura, 
da ciência e da tecnologia. Não raro Dom Pedro II freqüentava 
eventos técnicos na Faculdade de Medicina e na Escola Central, 
esta precursora das atuais Academia Militar das Agulhas Negras 
e Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro - 
UFRJ. A Escola Central era situada no Largo de São Francisco de 
Paula, no coração da cidade do Rio de Janeiro, prédio da UFRJ 
hoje tombado pelo seu valor histórico e conhecido como Alma 
Mater da Engenharia Brasileira. É do conhecimento de historiadores 
o intenso interesse do Imperador pelos desenvolvimentos tecnológi-
cos que na época encontravam ampla divulgação na Escola Central. 
Por ocasião de eventos no prédio, o Imperador chegava a ocupar a 
sala frontal do segundo pavimento (na época o prédio era de dois 
pavimentos), até hoje conhecida como a sala do trono, de onde 
despachava com sua equipe de governo.
No ano de 1857, por ocasião de uma homenagem ao Imperador 
Dom Pedro II no prédio da Escola Central, foi realizada em pú-
Resumo da História Remota 
da Hidroeletricidade no Brasil
Usina hidroelétrica de Tombos em Minas Gerais. 
Vista do canal de adução para a casa de força.
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
90
pela Diretoria Geral dos Telégrafos, através de 16 lâmpadas de arco 
voltáico supridas por dois dínamos acionados por um locomóvel.
Em 1883, o Professor Armand de Bovet, da Escola de Minas e 
Metalurgia de Ouro Preto, contratado na Europa diretamente pelo 
governo imperial como um dos docentes para aquela Escola, instalou 
no ribeirão do Inferno, na bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha, 
no município de Diamantina, Minas Gerais, a mais antiga usina 
hidroelétrica do País e uma das mais antigas do mundo. A usina 
dispunha de uma barragem que criava uma queda de cerca de 5 m, 
casa de força abrigando duas máquinas Gramme de 8 CV cada, com 
1500 rpm, gerando em corrente contínua, acionadas por uma 
roda d’água de madeira com 3,25 m de diâmetro. A transmissão 
era a mais longa do mundo na época, com 2 km de extensão (a trans-
missão da primeira usina de Niagara Falls tinha 1,5 km). A energia 
gerada movimentava duas bombas de desmonte a jatod’água para 
exploração de diamante e, após pouco tempo, passou a ser utilizada 
também em iluminação. Essa foi a primeira usina hidroelétrica no 
Brasil, pioneira de um desenvolvimento impar no século seguinte. 
No dia 24 de junho de 1883, Dom Pedro II inaugurou, em Campos 
dos Goytacazes, uma usina termoelétrica dotada de três dínamos, 
com capacidade total de 52 kW. A iluminação pública contava com 
39 lâmpadas de 2000 velas cada. Ao longo de todo Século XIX a 
iluminação não sofreu sequer uma paralisação noturna, sendo a 
primeira verificada nas noites de 10 e 11 de junho de 1901.
No dia 15 de novembro de 1884, a empresa Real & Portella 
colocava em funcionamento a iluminação pública da cidade de 
Rio Claro no Estado de São Paulo, através de 10 lâmpadas de arco 
voltaico de 2000 velas cada.
Em 1887 a empresa Companhia Fiat Lux iniciou um serviço de ilumi-
nação pública em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, com energia elétrica 
gerada por uma termoelétrica com capacidade instalada de 160 kW.
Em 1887 foi instalada uma pequena usina termoelétrica no Largo 
de São Francisco de Paula, no Rio de Janeiro, de propriedade da 
Companhia Força e Luz. Essa usina manteve uma centena de lâm-
padas na região central da cidade com energia produzida por um 
dínamo de 50 CV. Entretanto, a operação dessa usina teve vida 
efêmera, não chegando a durar um ano sequer.
Também em 1887 entrou em operação a usina hidroelétrica do 
ribeirão dos Macacos, localizada em Honório Bicalho, atual mu-
nicípio de Nova Lima, Minas Gerais. A usina, de propriedade da 
Compagnie des Mines d’Or du Faria, aproveitava uma queda de cerca 
de 40 m acionando uma roda d’água de 20 pás que movimentava 
dois dínamos Gramme com potência total de 500 CV. A energia 
era destinada às atividades de mineração, iluminação e esgotamento 
de água nos túneis da mina de ouro e, posteriormente, à iluminação 
das residências do acampamento da empresa.
Ainda em 1887, Dom Pedro II acionou a ligação de 60 lâmpadas 
da Edison Electric Co. na Exposição Industrial que foi instalada 
no edifício do Paço, então ocupado pelo Ministério da Viação, 
na atual Praça 15 de Novembro, no Rio de Janeiro.
No dia 7 de setembro de 1889 teve início o emprego da hidroele-
tricidade para serviço público no País pela iniciativa de Bernardo 
Mascarenhas, industrial estabelecido em Juiz de Fora. Nessa data 
foi colocada em operação no rio Paraibuna, a usina hidroelétrica 
Marmelos com 252 kW de capacidade em duas unidades gerado-
ras acionadas por duas rodas d’água. A barragem, hoje substituída 
por uma estrutura de concreto gravidade, era um maciço de enro-
camento impermeabilizado na face de montante por uma laje de 
madeira composta de pranchas aparelhadas. A usina encontra-se 
desativada há décadas, sendo hoje um pequeno museu mantido pela 
CEMIG à beira da rodovia União Indústria, outro marco histórico 
do progresso nacional, este devido a Mariano Procópio que obteve 
do governo imperial concessão para construir e explorar a rodovia 
inicialmente utilizada por viaturas de tração animal.
Em 1893 era colocada em operação a hidroelétrica Luiz Queiroz 
no rio Piracicaba, na zona urbana da cidade de Piracicaba, São Paulo. 
Não havia barragem. A adução era feita por um desvio no 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
91
curso do rio próximo à sua margem 
esquerda. A casa de força abriga quatro 
unidades de potências e procedências 
diversas somando 2,88 MW.
Em 1895 entrou em operação a hidroelétrica 
de Corumbataí, no município de Rio Claro, 
São Paulo. Duas barragens, uma no ribeirão 
Claro e outra no rio Corumbataí, tinham seus 
pequenos reservatórios unidos por um túnel 
escavado em rocha. A casa de força abriga 
duas unidades de capacidades distintas 
que somam 1,7 MW. 
Até a virada do Século XIX para o Século 
XX as primeiras cidades por unidades da 
Federação que tiveram serviços públi-
cos contínuos de força e luz foram, pela 
ordem cronológica, Campos dos Goytaca-
zes, no Rio de Janeiro (1883), Rio Claro, em 
São Paulo (1884), Porto Alegre, no Rio 
Grande do Sul (1887), Juiz de Fora, em 
Minas Gerais (1889), Curitiba, no Para-
ná (1892), Maceió, em Alagoas (1895) e 
Estância, em Sergipe (1900). 
O início do Século XX 
(até 1913)
Na virada do Século XIX para o Século 
XX a população brasileira de 17 milhões 
de habitantes era predominantemente ru-
ral, situada não muito afastada do extenso 
litoral nacional e servida por uma rede 
ferroviária de 14.000 km, uma das mais 
extensas do mundo na época. A energia 
representava pouco na economia nacional 
retratada pelas importações de carvão e de querosene que atingiam a apenas 6% e 2% do 
total das importações do País. A abundância de lenha e a aparente ausência de reivindicações 
populares para universalização dos serviços de eletricidade faziam com que não houvesse, 
por parte do poder público, preocupações com o suprimento de energia. Com uma 
atividade de exploração puramente extrativista dos recursos florestais com base em desma-
tamento da Mata Atlântica de forma dispersa e sem registros oficiais, não se desenvolvia a 
mineração de carvão e nem se considerava possibilidades da existência de reservas de petróleo. 
O ambiente político era favorável a concessão a empresas privadas, independente da nacio-
nalidade, para serviços públicos e exploração de recursos naturais. Como não havia legislação 
específica, as concessões de serviços de energia elétrica eram dadas pelo governo central, 
por governos estaduais e mesmo por governos municipais. Nessa época estavam sendo 
iniciadas várias atividades de implantação de novos serviços de energia elétrica principalmente 
no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas Gerais por empreendedores nacionais e 
estrangeiros. Destes últimos, destaque é devido ao grupo que se tornou a São Paulo Light e a 
Rio Light. A primeira concessão do grupo foi dada pela Câmara Municipal de São Paulo 
para serviços de transporte urbano em veículos movidos a eletricidade. Essa concessão 
da São Paulo Railway Light and Power Co. Ltd., formada em Toronto, Canadá, propiciou a 
vinda do principal executivo Frederick Pearson que trouxe o advogado e empreendedor 
Figura 1 – Usina hidroelétrica de Marmelos
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
92
canadense Alexander Mackenzie e os engenheiros Hugh 
Cooper e Robert Brown. A empresa passou a operar no País 
ao abrigo da autorização concedida em 1895 pelo presidente 
Campos Sales. Nos últimos anos do Século XIX foram iniciadas 
as obras da primeira usina hidroelétrica da empresa no Brasil, 
no rio Tietê, a jusante da cidade de São Paulo, denominada 
na época Parnaíba, hoje Edgard de Souza, que teria inicialmente 
2.000 kW instalados. Essa usina foi sucessivamente ampliada 
até atingir 16 MW instalados. Seu objetivo inicial era atender 
às necessidades da rede de transportes urbanos e iluminação 
da cidade de São Paulo.
No Rio de Janeiro a primeira hidroelétrica foi Fontes, instalada pela 
Light em 1905 com a finalidade de proporcionar iluminação pública 
e residencial bem como tração para os bondes da capital federal. 
Em 1908 a usina já tinha 12 MW instalados, sendo ampliada para 
24 MW em 1909, tornando-se uma das maiores hidroelétricas do 
mundo. A barragem era em arco-gravidade situada no alto Ribeirão 
Das Lajes, com vertedouro de lâmina livre em sua crista.
As hidroelétricas que eram instaladas no início do Século XX eram 
destinadas a suprir de energia elétrica centros isolados, tendo sido 
instaladas por prefeituras ou por pequenos empresários para atendi-
mento às demandas das suas fábricas. Nesses casos, o excesso de energia 
era destinado à iluminação pública e domiciliar. Desta maneira 
surgiram os primeiros concessionários privadosnacionais de energia 
elétrica nas regiões Sul e Sudeste. Com esse perfil de consumo e com 
os elevados custos da época em que todos os equipamentos eram im-
portados, as hidroelétricas eram em geral de portes muito modestos e 
tinham casas de força em posição remota em relação às barragens. 
A quase totalidade delas e suas áreas de concessão foram sendo 
incorporadas por empresas maiores, tendo sido, na quase totalidade, 
desativadas anos depois.
No Estado do Rio de Janeiro nesse início do Século XX destacam-
se, a de Lajes, a implantação das hidroelétricas de Piabanha, Hans 
e Coronel Fagundes. A segunda hidroelétrica instalada no estado 
foi Piabanha, construída no rio Piabanha pelos Guinle em 1908. A 
barragem é uma soleira vertedoura de gravidade em pedra arga-
Figura 2 - 
Barragem e 
Reservatório 
de Lajes 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
93
massada com 25 m de extensão e altura de 6,7 m. A casa de força 
abriga duas unidades Francis duplas gêmeas de 3 MW cada.
Em 1911 os Arp instalaram a hidroelétrica de Hans no ribeirão 
Santo Antônio, em Muri, município de Friburgo com o objetivo de 
suprir a fábrica de linhas de energia, tendo assumido em seguida a 
concessão de serviço público do município. A barragem é em con-
creto gravidade com soleira vertente livre e a casa de força abriga 
uma unidade Francis horizontal de 294 kW. 
Em 1912 os Guinle implantaram a hidroelétrica de Coronel 
Fagundes no rio Fagundes, município de Paraíba do Sul, muito 
próxima à hidroelétrica de Piabanha. Nessa obra trabalhou o en-
genheiro Flavio Lyra, pai do então menino Flavio Henrique Lyra 
que brincava no canteiro de obra e já se familiarizava com barra-
gens e hidroelétricas, campo de conhecimento em que se tornaria 
uma das mais altas expressões mundiais a partir da segunda 
metade do Século XX. A barragem é em gravidade de pedra ar-
gamassada e concreto, com altura de 13 m e 80 m de extensão. 
Figura 3 - Casa de Força de Fontes 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
94
Nos 30 m centrais a barragem é vertedoura em crista 
livre. A casa de força abriga duas unidades Francis 
de eixo horizontal de 2,4 MW cada.
No início do Século XX em Minas Gerais destacam-se 
as hidroelétricas de Maurício e Tombos. A hidroelétri-
ca de Maurício foi implantada em 1908 no rio Novo, 
município de Leopoldina pela Cia. Força e Luz 
Cataguazes-Leopoldina. A construção foi supervisio-
nada pelo engenheiro Otávio Carneiro, assessorado 
pelos engenheiros Pedro Leivas, Alfredo do Paço, 
Osvaldo Lynch e Henrique Fox Drumond. A barragem 
com 6 m de altura era vertedoura com crista livre 
situada na crista da cachoeira da Fumaça. A potência 
instalada era de 1,3 MW.
Em 1912 foi instalada a usina hidroelétrica de 
Tombos no rio Carangola, município de Tombos. 
A barragem, situada na crista da cachoeira de 
Tombos, é em concreto gravidade de peque-
na altura, constituindo-se em vertedouro de 
soleira livre. A casa de força abriga dois grupos 
geradores num total de 2,88 MW instalados. 
No estado do Paraná há referência à hidroelé-
trica Serra da Prata, instalada por ingleses em 
1910 na vertente da Serra do Mar em Paranaguá. 
Com capacidade de 510 kW, a hidroelétri-
ca passou em 1932 da Cia Melhoramentos 
Urbanos de Paranaguá para a Cia Melho-
ramentos Paulistas, para a prefeitura de 
Paranaguá, para o Departamento de Águas e 
Energia Elétrica e para a COPEL, sendo 
desativada em 1970. Em 1911 foi inaugurada 
a hidroelétrica de Pitangui para suprir de 
energia elétrica a cidade de Ponta Grossa. 
Figura 4 - Barragem de Piabanha. Os contrafortes em primeiro plano são reforços recentes
Figura 5 - Barragem de Coronel Fagundes
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
95
Em Santa Catarina, para suprimento de Blumenau, entrou 
em operação em 1913 a primeira unidade da hidroelétrica 
de Salto Weissbach no rio Itajaí Açú. A barragem é uma soleira 
vertedoura de altura apenas suficiente para promover a derivação 
de parte das descargas para a tomada d’água que conduz as 
águas captadas para as turbinas que são alojadas em casa de 
força abrigada na margem direita. As turbinas de fabricação 
J.M. Voith são Francis gêmeas de eixo vertical com potência 
de 1470 kW cada sob a queda nominal de 10,5m com engoli- 
mento de 19,4 m³/s. 
No estado do Rio Grande do Sul as primeiras barragens que se 
tem notícia para produção de energia elétrica foram construídas 
a partir de 1911 e entraram em operação em 1912. A barragem 
Inglês com 4 m de altura e 55 m de extensão, em alvenaria de 
pedra e concreto ciclópico foi implantada no município de 
Cruz Alta tendo sua casa de força a potência instalada de 268 kW 
e a barragem Picada 48, com apenas 2,7 m de altura e 41,5 m 
de comprimento, em alvenaria de pedra, foi construída no 
município de Dois Irmãos tendo sua usina a capacidade de 200 kW.
O Estado de São Paulo se destaca nos primeiros anos do Século 
XX por um expressivo números de pequenas hidroelétricas como 
as usinas de Santa Alice que começou a operar a partir de 1907, as 
usinas de Socorro, Rio Novo e Monjolinho, em 1909, Itatinga, São 
Valentim e Marmelos II em 1910, Capitão Preto, Macaco Branco, 
Salto Pinhal, San Juan, São Joaquim e Brotas, em 1911, Salto Grande, 
Bocaina, Votorantim, Chibarro, Esmeril, Turvinho Batista e Sodré, 
em 1912, Gavião Peixoto, Boa Vista e Quilombo, em 1913. As 
barragens dessas usinas eram de altura modesta, em geral de gravi-
dade em alvenaria de pedra, poucas com contrafortes localizados. 
A maioria dos vertedouros era sem controle, sendo soleiras li-
vres implantadas nos leitos dos rios. A maioria dessas usinas tinha 
menos do que 1000 kW instalados em sua primeira etapa, a metade 
delas tive ampliações de capacidade instalada em etapas poste-
riores, mas sempre ficando com potências inferiores a 6 MW. 
Desse conjunto de usinas pioneiras, as hidroelétricas de 
Monjolinho, Marmelos II, Salto Pinhal e Bocaina foram desativadas 
nos anos oitenta e noventa do século passado. O destaque dentre 
essas usinas é Itatinga, com cinco unidades Pelton com potência 
nominal de 3 MW cada sob 640 m de queda bruta, mas 
apresentando no conjunto, 10 MW de potência efetiva. A usina 
encontra-se implantada na vertente oceânica da Serra do Mar, 
envolvida por densa floresta da Mata Atlântica, no município de 
Figura 6 - Barragem vertedoura e canal de adução de Tombos
Figura 7 – Usina hidroelétrica 
de São Valentim
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
96
Figura 8 – Usina hidroelétrica de Brotas
Figura 9 – Usina hidroelétrica 
de Gavião Peixoto
Figura 10 – Usina hidroelétrica 
de Boa Vista
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
97
Bertioga, SP. O reservatório é formado por duas barragens 
de alvenaria de pedra argamassada com vertedouro de so-
leira l ivre. O conjunto arquitetônico da casa de força é 
majestoso, sendo o acesso o mesmo utilizado desde o início 
das obras em 1890, feito por via férrea a partir da margem direita 
do rio Itapanhau, próximo à rodovia BR-101. A usina foi 
implantada com o objetivo principal de suprir o porto de Santos 
de energia elétrica. 
Em 1913 entra em operação a primeira hidroelétrica do Nordeste 
Angiquinho, construída por Delmiro Gouveia na margem alagoa-
na da cachoeira de Paulo Afonso, com 1,1 MW instalados. A casa 
de força foi implantada no trecho médio da escarpa granítica da 
margem esquerda do salto principal. A energia produzida era dire-
cionada para a fábrica de linhas e para a vila residencial na localidade 
de Pedra, hoje Delmiro Gouveia.
Essas pequenas hidroelétricas aproveitando quedas d’água naturais 
e operandoseus reservatórios a fio d’água, tiveram expressivo 
desenvolvimento nos primeiros anos do Século XX, tendo passado 
de 306 em 1920 para 1009 em 1930. 
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tricas no Estado de São Paulo – Comissão de Serviços Públicos 
de Energia, 2000.
Saveli, M. - Sinopse Histórica da Eletricidade no Brasil, 1976. Figura 11 – Usina hidroelétrica de Angiquinho
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
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Usina Hidroelétrica 
de Marmelos
Adelaide Linhares de Carvalho Carim
Introdução
O Brasil foi um dos pioneiros na exploração da energia elétrica. 
Essa história iniciou-se no final do século XIX, quando 
Dom Pedro II inaugura, em 1879, na Estação Central da Estrada 
de Ferro D. Pedro II, atual Estrada de Ferro Central do Brasil no 
Rio de Janeiro, a primeira instalação de iluminação elétrica permanente 
do país, em substituição aos 46 bicos de gás existentes. Neste mesmo 
ano Thomas Alva Edison havia construído a primeira central elétrica 
para utilização na iluminação pública na cidade de Nova Iorque.
Em 1881, foi instalada pela Diretoria Geral dos Telégrafos a primei-
ra iluminação externa pública do país, em trecho da atual Praça da 
República, na cidade do Rio de Janeiro. 
Em 1883 o imperador Dom D. Pedro II inaugurou, na cidade de 
Campos (RJ), o primeiro serviço público municipal de iluminação 
elétrica do Brasil e da América do Sul. A energia era fornecida 
por uma usina termoelétrica. 
Em Minas Gerais, o interesse pela nova fonte de energia intensificou-
se. Empresas de mineração e fábricas têxteis promoveram, nesse 
período, a construção de unidades de produção de energia 
hidroelétrica visando a autoprodução. No ano de 1883 entrou 
em operação a primeira usina hidroelétrica no país, localizada no 
Ribeirão do Inferno, afluente do rio Jequitinhonha, na cidade de 
Diamantina, destinada à extração de minério na região. Esta usina 
foi desativada cento e quatro anos mais tarde em 1987. Posterior-
mente mais algumas usinas entram em operação; em 1885 a Usina 
Hidroelétrica da Companhia Fiação e Tecidos São Silvestre, no 
município de Viçosa, a Usina Hidroelétrica Ribeirão dos Macacos, 
em 1887, ambas em Minas Gerais e a Usina Termoelétrica Velha 
Porto Alegre, em 1887, no Rio Grande do Sul.
Mas a primeira hidroelétrica de maior porte construída na América 
do Sul, destinada à produção de energia para utilidade pública, foi 
a Usina Hidroelétrica Marmelos no rio Paraibuna, às margens da 
estrada União e Indústria, na cidade de Juiz de Fora (MG). A usina 
de Marmelos, hoje Marmelos-Zero, entrou em operação em 
Usina Hidroelétrica 
de Marmelos
Figura 1 - “Marmelos Zero” - Primeira Usina Hidroelétrica da América 
do Sul destinada à produção de energia para utilidade pública 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
100
5 de setembro de 1889, por iniciativa do industrial Bernardo 
Mascarenhas, dois meses antes da proclamação da república e 
apenas 7 anos depois da hidroelétrica de Appleton em Wisconsin 
na America do Norte. 
Bernardo Mascarenhas foi o responsável pela instalação de 
Marmelos, marco zero da energia hidroelétrica no Brasil, e 
fundador da já extinta CME - Companhia Mineira de Eletri-
cidade em 1888. A Companhia Mineira de Eletricidade foi de 
extrema importância para a industrialização de Juiz de Fora. 
A cidade de Juiz de Fora no final do 
século XIX
A inauguração da usina de Marmelos veio se somar ao pioneiris-
mo desta cidade, que começou a ser escrito quando o bandeirante 
Garcia Dias Paes traçou o chamado Caminho Novo que passava 
pela margem do Rio Paraibuna, para ligar o porto do Rio de Janeiro 
até a principal região mineradora (Vila Rica, Sabará, Mariana, 
Diamantina e tantas outras). Ao longo deste caminho, às margens 
do Paraibuna, foram erguidos pequenos povoados, como Matias 
Barbosa, Santo Antônio do Paraibuna - que em 1965 se tornava Juiz 
de Fora - Barbacena e outras. Estes eram locais de descanso dos 
tropeiros que passavam pela região. Por meio deste caminho 
que efetivamente a história de Juiz de Fora se inicia.
Juiz de Fora prosperou grandemente devido à cafeicultura; havia 
grandes fazendas de café que eram as bases da economia local. 
Com a cafeicultura, novos investimentos foram trazidos para a ci-
dade, como a Rodovia União Indústria, construída pelo engenheiro 
Mariano Procópio Ferreira Lage e pela Companhia União Indús- 
tria, em 1861. Neste ano, Dom Pedro II e representantes ilustres 
da Corte e da Companhia União Indústria percorreram em di-
ligência os 144 quilômetros da primeira rodovia macadamizada 
brasileira, entre as cidades de Petrópolis e Juiz de Fora. Sua inau-
guração trouxe a mão de obra qualificada dos imigrantes alemães, 
que iniciaram o processo industrial da cidade, com a inserção de 
Figura 2 - Juiz de Fora 
em 1875
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
101
algumas fábricas. Mais tarde vieram os italianos e com eles am-
pliaram outros setores como o comércio e a prestação de servi-
ços. A estrada deu origem também ao primeiro guia de viagens 
do Brasil, escrito pelo alemão Revert Henrique Klumb, fotógrafo 
do imperador, e intitulado “Doze Horas em Diligência - Guia do 
Viajante de Petrópolis a Juiz de Fora”. A Estrada União Indústria 
existe até hoje em vários e extensos trechos, tendo sido substituída 
como ligação rodoviária entre Petrópolis e Juiz de Fora pela BR-040.
Posteriormente, a construção da ferrovia Dom Pedro II em 1875, 
promoveu a comunicação entre a cidade e a corte, que ficava 
neste momento no Rio de Janeiro. Outro beneficio da estrada foi 
a melhoria no escoamento da produção cafeeira da Zona da 
Mata Mineira até o Rio de Janeiro. 
Em 1878 funcionavam seis estabelecimentos de ensino, em 1881 
ganhava telégrafo, fórum e jornais. Em 1980 os serviços urbanos 
foram ampliados com bondes de tração animal, telefones urbanos, 
em 1883, e em 1884, o telégrafo.
Em 1888 Juiz de Fora ganhava a Companhia Têxtil Bernardo 
Mascarenhas e o Banco de Crédito Real, e em 1889 a primeira 
usina hidroelétrica para iluminação pública da América do Sul. 
Todos estes empreendimentos foram realizados por iniciativa do 
industrial Bernardo Mascarenhas. A cidade de Juiz de Fora se ilu-
minava para o mundo, antes mesmo até que algumas importantes 
cidades européias. As figuras a seguir mostram Juiz de Fora em 
1893 e a Av. Barão de Rio Branco em 1903 ambas pertencentes 
ao acervo do Museu Mariano Procópio.
Figura 3 - Panorâmica de Juiz de Fora – 1893 
Figura 4 - Av. Barão 
de Rio Branco -1903
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
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Bernardo Mascarenhas
Bernardo Mascarenhas nasceu em 1846, na fazenda São Sebastião, 
região de Curvelo, filho de Antônio Gonçalves da Silva Masca-
renhas e de Policena Moreira da Silva Mascarenhas, é o décimo 
filho dentre os 13 filhos do casal. 
Aos 12 anos iniciou seus estudos no colégio Caraça, considerado 
à época, um dos melhores de Minas Gerais. Com 18 anos, recebeu 
de seu pai 26contos de reis, como fazia com os demais filhos ao 
completar esta idade, dinheiro para iniciar a vida como criador de gado 
e comércio de sal.
A partir da experiência adquirida com os teares de madeira, 
tocados a mão na fazenda de seu pai, convida dois irmãos para 
montarem em sociedade uma indústria têxtil, utilizando as mais 
novas tecnologias da época. 
Para aprender sobre tecelagem, viajou para os Estados Unidos 
onde ficou por 1 ano e meio. Neste período estudou idiomas, 
mecânica, física, visitou fábricas, adquiriu os maquinários desejados 
e voltou para o Brasil e, no ano de 1872 em Sete Lagoas, inaugurou 
as instalações da fábrica têxtil da companhia Cerdo. Alguns anos 
mais tarde, viaja para a Europa e Estados Unidos com a incumbên-
cia de atualizar-se, adquirir novos equipamentos e conhecer a utili-
zação da eletricidade na indústria textil. É criada então em Curvelo 
a companhia Cachoeira (1877). 
Em 1882 foi aprovada a lei das sociedades anônimas no Brasil e 
em 1883 fez-se a fusão das empresas (Cedro e Cachoeira), constituindo 
a primeira S.A. privada no país.
Figura 5 - Bernardo 
Mascarenhas
Figura 6 - Companhia 
Têxtil Bernardo 
Mascarenhas inaugurada 
em maio de 1888
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
103
Bernardo Mascarenhas mudou-se para Juiz de Fora em 1886 e ad-
quiriu o terreno próximo do Rio Paraibuna e da Rodovia União 
Indústria, onde pretendia montar uma indústria de tecidos. Neste 
local, mais tarde, seria erguida a primeira usina hidroelétrica da Amé-
rica do Sul. O empresário adquiriu outro terreno perto da estação 
ferroviária, local mais propício para o escoamento da produção de 
tecidos. A antiga Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas apre-
senta rigorosa simetria com um corpo central em três pavimentos 
e ladeado por suas extensas alas horizontais em dois pavimentos.
Bernardo Mascarenhas buscava outras fontes de energia em 
substituição à energia usada que até então era à base de que-
rosene. Em 1886, Mascarenhas e o banqueiro Francisco 
Batista de Oliveira recebem aprovação junto à câmara muni-
cipal para explorar a Cachoeira dos Marmelos para produção 
elétrica e a concessão para a iluminação da cidade e obteve 
a revisão do contrato original, tendo em vista o uso da iluminação 
elétrica, em substituição à iluminação a gás. “Me conside-
rarei muito feliz se for o primeiro a transmitir força elétrica, pratica-
mente utilizável, no Brasil ou talvez na América do Sul” (trecho da 
carta de Mascarenhas em 1887). 
Bernardo Mascarenhas projetou e especificou a usina, fazendo 
um esboço de próprio punho de como ela seria, aproveitando 
os recursos naturais de seu terreno, que se localizava próximo à 
cachoeira de Marmelos. Doou este terreno para a CME Compa-
nhia Mineira de Eletricidade, também fundada por ele em janeiro 
de 1888. A CME foi a responsável pela construção da usina de 
Marmelos Zero e foi presidida por Mascarenhas até seu falecimento. 
No dia 22 de agosto de 1889, foi realizada a primeira experiência 
com a eletricidade e em 5 de setembro de 1889 ocorreu a inaugu-
ração oficial. A nova usina além de atender à iluminação pública 
da cidade atenderia as máquinas da Companhia Têxtil Bernardo 
Mascarenhas, inaugurada em maio de 1888. 
Bernardo Mascarenhas faleceu no dia 9 de outubro de 1899 
de um ataque cardíaco fulminante. 
“A fábrica de eletricidade será provida de dois excelentes dína-
mos movidos por duas turbinas verticais ou de eixos horizontais, 
devendo ter força bastante para alimentar 50 lâmpadas de arco 
de 1000 velas e quinhentas ditas incandescentes de 16 velas.”
(Trecho de memorial de Bernardo Mascarenhas para Max 
Nothman & Co., encomendando o material para a usina)
Figura 7 - Esboço da hidroelétrica Marmelos Zero 
por Bernardo Mascarenhas
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
104
Posteriormente, foram montadas outras usinas no mesmo local 
para atender inteiramente à crescente demanda de consumo, 
como será descrito em seguida. 
O edifício da Cia. Mineira de Eletricidade, denominado “Castelinho”, 
foi construído em 1890, quando ocorreu a inauguração do motor 
elétrico, que iria ser colocado na fábrica Bernardo Mascarenhas 
como força propulsora. A edificação, em dois pavimentos, lembra 
a arquitetura medieval .
Descrição geral da usina
Geologia
A geologia ao longo do rio e suas margens é constituída por 
afloramentos de rochas charnockíticas, gnáissicas, granulitos e 
anfibolitos do Complexo Juiz de Fora e parte do embasamento 
Pré-Cambriano indiferenciado, ambos de idade Pré-Cambriana. 
As rochas charnockíticas são gnaisses que sofreram desidratação e 
descalcinação durante metamorfismo de alta temperatura e 
pressão média a alta (fácies granulito). Este complexo charno-
ckítico acha-se intercalado por faixas com espessuras variádas de 
granulitos, migmatito, quartzito e entrecortados por diques de 
anfibolito, gabro e outras rochas básicas e ultrabásicas.
As rochas do complexo charnockítico e do embasamento crista-
lino possuem sistemas de fraturas, planos de fraqueza e a típica 
esfoliação esferoidal que se interceptam originando blocos de 
rocha sã de dimensões variadas, disseminados no manto intempe-
rizado ao longo das encostas e principalmente soltos no leito do 
rio Paraibuna. Nas ombreiras e encostas da barragem é comum 
um manto de solo de 5 a 10 m de espessura. O solo residual é 
constituído de areia siltosa, de cor amarelada com alto grau de 
erodibilidade. De modo geral, o relevo nas proximidades das 
usinas caracteriza-se por altas colinas de topos arredondados, 
vertentes concavo-convexo e drenagem dentrítica. 
Figura 8 - Usina de Marmelos - Primeira usina hidroelétrica da 
América do Sul destinada à produção de energia para utilidade pública 
e força motriz para indústria 
Figuras 9 e 10 - Edifício da 
Cia. Mineira de Eletricidade, 
denominado “Castelinho”.
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
105
Localização e dados técnicos históricos 
A usina hidroelétrica de Marmelos está localizada no rio Paraíbuna, 
afluente do rio Paraíba do Sul a 7 km de Juiz de Fora e a 290 km 
de Belo Horizonte MG, tem como coordenadas geográficas 
Latitude 21º 43’ Sul e Longitude 43° 19’ Oeste. 
A usina foi projetada inicialmente com uma capacidade de geração 
de 250 kW distribuída em dois grupos geradores monofásicos de 
125 kW, fabricados pela Westinghouse, operada sob tensão de 
1000 Volts, na frequência de 60 Hz. 
Um terceiro grupo gerador com a capacidade de 125 kW foi ins-
talado em 1892, quando Juiz de Fora possuia 180 lâmpadas na 
iluminação pública e 700 para uso particular. Esta usina, denomi-
nada Usina Zero, foi desativada em 1896, após a inauguração de 
Marmelos 1, construída pouco abaixo da usina desativada.
Marmelos 1 contou inicialmente com duas unidades geradoras 
bifásicas de 300 kW cada, acionadas por turbinas Francis. 
Em 1898, a usina iniciou o fornecimento de energia para a fábrica 
de Mascarenhas após a aquisição do primeiro motor elétrico 
instalado no Brasil. Este motor de 30 HP de potência era de 
fabricação da Westinghouse. Outro motor elétrico de 20 HP, de 
fabricação ital iana, foi adquirido na ocasião pela f irma 
Pantaleone Arcuri & Timponi. O acionamento elétrico dessas 
fábricas representou à época outro marco histórico, pois a 
maioria das indústr ias têxteis era movida a vapor com 
complicados sistemas de transmissão para as máquinas e 
muitas ainda eram acionadas por rodas d’água.
Nesta época, a cidade de Juiz de Fora passou a viver um intenso desen-
volvimento industrial o que demandava aumento na oferta de energia. 
Em 1905 foi instalada a terceira unidade com capacidade de 
300 kW, no momento em que a CME adquiria a companhia debondes de tração animal de Juiz de Fora, visando transformá-la 
em linhas elétricas. Em 1910, Marmelos atinge a potência de 
1200 kW com a entrada em operação da quarta máquina de 
fabricação da Westinghouse, como as demais.
Em 1915 o engenheiro Asdrúbal Teixeiras de Souza projetou a 
segunda usina Marmelos 2, que foi inaugurada inicialmente com 
dois grupos geradores de 600 kW de potência cada, fabricados 
pela empresa americana General Electric e turbinas tipo Francis de 
1000 HP, fabricadas pela alemã J. M. Voith. A casa de força 
foi construída em prédio contíguo ao da usina Marmelos 1. 
Com o aumento da geração a CME ampliou sua área de influência 
na Zona da Mata Mineira, tornando-se concessionária dos serviços 
de eletricidade de Matias Barbosa, Mar de Espanha, Bicas e Guarará. 
Em 1921 e 1922, ampliou-se a potência da usina de Marmelos 2 
com a instalação da terceira e quarta unidades geradoras, com 
capacidade de 600 kW cada uma com as mesmas características 
técnicas das duas anteriores. 
Em 1948, foi construída a quinta unidade, com capacidade de 
1600 kW, instalada em uma casa de força adjacente à Usina 1, 
sendo denominada Usina 1-A. Esta unidade geradora era composta 
por uma turbina tipo Francis dupla, fabricada pela empresa americana 
James Leffel e um gerador de fabricação da General Electric.
Marmelos 2 passou então a dispor de capacidade instalada de 4.000 kW. 
Em 1952, dois anos após a construção da usina de Joasal, também 
em Juiz de Fora, última usina construída pela CME, a usina de 
Marmelos 1 foi desativada.
A usina de Marmelos como é denominada atualmente é com-
posta pelas antigas Usinas 2 e 1-A e passou a ser operada pela 
CEMIG em 1980, quando obteve a sua concessão através do 
decreto MME 700725 de 08/07/80.
As figuras a seguir ilustram os equipamentos eletromecânicos da 
usina de Marmelos.
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
106
Figura 12 -Turbina e gerador da unidade 5 da antiga Usina 1 A 
Figura 11 - Interior da 
casa de força da antiga 
Usina 2 de Marmelos
Figura 13 - Gerador da unidade 1 a 4 da antiga Usina 2
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
107
Figura 15 - Regulador de velocidade da excitatriz Usina 2
Figura 14 - Excitatriz nº 2 semelhante a 
uma unidade geradora hidráulica - Usina 2
Figura 16 - Painel original das unidades 1 a 4 e 
excitatrizes 1 e 2, inoperante
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
108
Arranjo geral atual 
A barragem para a formação do reservatório operado a fio d’água é 
constituida por uma estrutura do tipo gravidade em alvenaria de pedra 
com 51 m de extensão e altura máxima de 7,5 m, fundada em rocha 
sã pouco fraturada. O arranjo da barragem partindo da ombreira 
esquerda para a direita se constitui por uma descarga de fundo de 
acionamento motorizado (2,5 x 2,5 m), seguida por um vertedouro 
de crista livre com 20 m de comprimento, e por um trecho, tam-
bém em alvenaria de pedra, onde estão localizadas a antiga tomada 
de água para o canal de adução da usina Zero e a tomada de água 
do túnel de adução da usina de Marmelos. 
O circuito hidráulico de geração, localizado na margem direita, é 
composto por um túnel escavado em rocha, seguido por um canal de 
adução e duas tubulações forçadas que conduzem a água até as 
unidades geradoras, vencendo um desnível de 51 m entre o nível máximo 
do reservatório e o eixo das tubulações forçadas na entrada das turbinas.
Barragem e vertedouro
A barragem é do tipo gravidade, de alvenaria de pedra, com 
um trecho em crista livre vertente com comprimento de 20 m e 
vazão de 134 m³/s. Possui uma descarga de fundo motorizada 
(2,5 x 2,5m), com capacidade de 58 m³/s, localizada na margem 
esquerda. Sobre o vertedouro existe uma passarela que possibili-
ta a colocação de flash-boards de até 2,5 m de altura divididos em 
10 vãos ao longo de todo o comprimento da estrutura, que permitem 
o aumento da capacidade do reservatório em períodos secos.
Tomada de água
A tomada de água do túnel adutor, localizada na margem direita, é 
uma estrutura em alvenaria de pedra possuindo uma comporta moto-
Figura 17 – Vista aérea de montante da usina
Figura 18 - Vista de jusante da barragem e do 
descarregador de fundo na margem esquerda.
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
109
rizada tipo deslizante (4,50 x 4,20 m) formada por painéis de madeira. 
Próximo a essa estrutura existe um descarregador de fundo.
Canal de adução desativado
Localizado e incorporado à barragem, na sua margem direita e 
junto à tomada de água do túnel adutor, possui uma comporta de 
madeira acionada manualmente e muro em alvenaria de pedra.
Túnel e canal de adução
O túnel adutor tem extensão de 215,80 m e seção em ferradura 
com 10 m², totalmente escavado em rocha e revestido lateralmente 
com concreto. Na continuação do túnel existe um canal de adução 
com 283,40 m de extensão, dos quais 94,40 m são a céu aberto. 
O trecho coberto, 189 m, situado sob a rodovia, tem seção em ferra-
dura semelhante à do túnel. O trecho a céu aberto, em alvenaria de 
pedra, tem seção de 3,60 x 3,20 m.
Câmara de carga
Entre o canal de adução e as tubulações forçadas, o circuito hi-
dráulico de geração conta com uma câmara de carga em alvenaria 
de pedra. Possui duas comportas na tomada de água, operadas 
manualmente, e uma terceira comporta para a regularização do 
nível de água. Na parte direita da estrutura existe um vertedouro 
complementar, cujas vazões são absorvidas por um canal de concreto.
Tubulações forçadas
Existem duas linhas de tubulações forçadas partindo da câmara 
de carga, uma com diâmetro de 1,30 m (tubulação 1) e outra com 
diâmetro de 1,50 m (tubulação 2). O comprimento de cada uma 
delas é de 125,40 m, em planta. Na tubulação nº 2 existe uma bi-
furcação com diâmetro de 1,30 m e 81,44 m de comprimento, 
que alimenta a unidade geradora nº 5, situada na Casa de Força 1-A.
Casa de força
As estruturas da usina de Marmelos (Marmelos Zero, Marmelos 1, 
Marmelos 1A e Marmelos 2) estão localizadas ao longo do rio 
Pa raibuna e foram assentadas em maciços rochosos sãos. 
A casa de força da usina de Marmelos, em alvenaria de pedra, 
é formada por dois blocos distintos: um deles, com área total de 
273 m², abriga quatro unidades geradoras de 600 kW cada e casa 
de força da antiga Usina 2. As turbinas são tipo Francis, de eixo 
horizontal e engolimento de 1,9 m³/s. O outro bloco, que foi a 
casa de força da Usina 1-A, possui uma área total de 201,76 m², 
abriga uma unidade geradora de 1600 kW. A turbina é tipo 
Francis, de eixo horizontal e engolimento de 4,67 m³/s.
A casa de força da antiga Usina 1, também em alvenaria de pedra, 
hoje é utilizada como almoxarifado. A casa de força de Marmelos 
Zero foi edificada em nível abaixo da Estrada União e Indústria. 
Suas paredes são em alvenaria de tijolos maciços aparentes, sobre 
embasamento de pedra, sendo vazadas por vãos com vergas em arcos 
abatidos em seqüência ritmada. A cobertura de duas águas é recoberta 
por telhas francesas e tem os beirais ornamentados por lambrequim. 
Uma pequena torre de seção quadrada e telhado de quatro águas 
marca a construção. Hoje é Museu da Usina de Marmelos.
Canal de fuga
As paredes do canal de fuga das antigas Usina 1-A e Usina 2 são 
em alvenaria de pedra. 
A Figura 19 a seguir é uma vista geral da usina de Marmelos 
(casas de força e tubulações forçadas).
O Museu Usina de Marmelos Zero
A CEMIG (na época Centrais Elétricas de Minas Gerais) adquiriu 
a usina em 1980. A usina de Marmelos Zero se transformou em 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
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1983 num espaçocultural e museu, após seu tombamento, 
neste mesmo ano, pelo Patrimônio Histórico Artístico e Cul-
tural do município de Juiz de Fora. Em 2005, a usina ganhou 
um segundo tombamento, desta vez, concedido pelo Insti-
tuto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas 
Gerais (IEPHA). Esses tombamentos demonstram a suma rele-
vância de sua preservação como um prédio histórico. O acervo 
do museu é composto por objetos particulares de Mascare-
nhas, livros de ata e contabilidade dos primeiros acionistas da 
CME, contas de luz, rascunho da planta da usina, máquina de 
escrever e de calcular, teodolito, tripés de madeira, painel de 
controle de energia e uma réplica de um gerador utilizado na 
época, cuja fabricação era da Westinghouse, além de várias fo-
tografias que mostram a construção da usina, assim como fotos 
de Bernardo e sua família e painéis com pequenos textos 
informativos. O museu tem como propósito preservar a 
memória tecnológica e científica da cidade, assim como desta-
car a figura importante de Bernardo como sendo o precursor 
desta idealização e realização deste sonho, no qual a cidade 
de Juiz de Fora foi escolhida para ser a primeira a se iluminar.
Desde o ano 2000, a administração do museu está a cargo da 
Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF. O convênio firmado 
entre a UFJF e CEMIG (atualmente Companhia Energética 
de Minas Gerais) tem como meta aprimorar o atendimento ao 
público que visita o museu, mantendo-o aberto diariamente. 
O Museu Usina Marmelos Zero encontra-se localizado às mar-
gens da Rodovia União-Indústria, no bairro Retiro, próximo ao 
trevo da cidade de Bicas. Está aberto das 8:30 h às 17:00 h, in-
clusive nos finais de semana e feriados. De segunda a sexta-feira 
podem ser agendadas visitas monitoradas por acadêmicos da 
UFJF, por meio do telefone (31) 3229-7606. 
O prédio da fábrica de tecidos de Mascarenhas também se encon-
tra preservado. Após a morte de Mascarenhas o prédio passou por 
Figura 19 – Vista geral das casas de força da usina hidroelétrica 
de Marmelos: antigas casa de força 1, 2 e 1A.
Figura 20 - Museu de Marmelos Zero (antiga 
casa de força Marmelos Zero)
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
111
ampliações e modernizações. A fábrica encerrou suas atividades 
em janeiro de 1984, deixando como patrimônio sua sede, que 
foi utilizada para pagamento de dívidas junto ao governo. A mo-
bilização de artistas, jornalistas e intelectuais fizeram com que 
o imponente prédio, localizado na Avenida Getúlio Vargas 200, 
fosse transformado em um centro cultural em 1987. 
Referências 
CEMIG – Inventário civil – SR/SE Usina Hidrelétrica de 
Marmelos Relatório Final Novembro 1983.
CEMIG - Usina de Marmelos - Estudo de Viabilidade de 
Recapacitação e Modernização - 1ª Etapa : Diagnóstico da 
Situação Atual da Instalação - Setembro 1993.
Cemig Notícia – Mais Energia Para uma Grande Cidade Juiz 
de Fora - Edição Especial Junho de 1980. 
Umada, Fernanda Borges Ferreira Murilo Keith - História das 
Hidrelétricas no Brasil - Universidade Tecnológica Federal do 
Paraná Campo Mourão, 2009.
Lima, Silvânia Duarte – Educação e Turismo uma Forma de 
Conhecer a História da Usina de Marmelos – Departamento de 
Geociências – UFJF, 2001
http://www.memoria.eletrobras.com/index.asp
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-da-
eletricidade-no-brasil/historia-da-eletricidade-no-brasil-5.php
http://www.ebah.com.br/historia-das-hidreletricas-no-br-
pdf-a91646.html 
www.pjf.mg.gov.br/patrimonio/usina_marmelos.htm
www.ufjf.br/centrodeciencias/museu-usina-marmelos-zero/
http://wikimapia.org/701437/pt/Usina-Marmelos
http://www.conotec.com.br/juizdefora.html
http://www.asminasgerais.com.br
Figura 22 - Canal de adução desativado
Figura 21 - CCBM - Centro Cultural Bernardo Mascarenhas
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
Usina hidroelétrica de Angiquinho na cachoeira de Paulo Afonso 
em diferentes regimes do rio São Francisco
113
Usina Hidroelétrica 
de Angiquinho
Aurélio Alves de Vasconcelos 
Usina Hidroelétrica 
de Angiquinho
Introdução
Inaugurada em 26 de janeiro de 1913, Angiquinho foi a primeira 
usina hidroelétrica do Nordeste, localizada na margem alagoana 
da cachoeira de Paulo Afonso, no Rio São Francisco, próximo ao 
atual Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, operado pela Chesf. 
A Usina Hidroelétrica de Angiquinho tinha capacidade de gerar 
1.500 HP (1.102 KW), constituída por três grupos geradores sendo o 
primeiro de 175 kVA, o segundo de 450 kVA e, o último, de 625 kVA, 
aproveitando uma queda d’água de uma altura de 42 metros, 
com tensão de saída em 3.000 Volts. Tinha como objetivo fornecer 
energia elétrica a indústria têxtil Companhia Agro Fabril Mercantil 
de propriedade do industrial Delmiro Gouveia, localizada na cidade 
de Pedra, no estado de Alagoas, atual Delmiro Gouveia em sua 
homenagem. Sua energia era suficiente para suprir, além da indústria, 
a bomba d’água que abastecia a cidade, distante aproximadamente 
24 km da cachoeira, e também a Vila Operária da fábrica. A usina ocupa-
va uma área de 253 hectares e possuía dois conjuntos de instalações, um 
com 11 casas e 1 escola, e outro com 2 casas, almoxarifado, subestação 
elevadora, casa de bomba e escada de acesso à casa de força.
A partir de 30 de novembro de 2006, as edificações com o acervo 
interno e externo e toda a área do Complexo de Angiquinho foi 
tombado e integrado ao Patrimônio Histórico Artístico e Natu-
ral do Estado de Alagoas. O ousado projeto, que continua de pé 
no meio da caatinga, com sua casa de força encravada nas rochas 
Figura 1 – Vista geral da Usina Hidroelétrica de Angiquinho
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
114
íngremes nas margens do cânion do rio São Francisco, levou o 
desenvolvimento para a região que até então só conhecia a luz tênue 
de candeeiro. Hoje, Angiquinho, além de ser área de preservação 
cultural, é um pólo de turismo histórico, educacional, ambiental e 
cultural. Resgata e cria uma grande oportunidade para todos que 
desejam conhecer a história da eletricidade do Brasil.
Figura 2 – Casa de força da Usina 
Hidroelétrica de Angiquinho
Figura 3 - Guindaste usado na fase de construção 
e montagem da casa de força
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
115
História
No início do século XX, coube ao capitalista Delmiro Gouveia (1863-
1917), com sua proeza de transformar as idéias em realidade, construir 
o empreendimento pioneiro no campo da hidroeletricidade em pleno 
sertão nordestino, a Usina Angiquinho, cuja finalidade seria fornecer 
energia para a fábrica têxtil produtora das linhas Estrela, bem como 
iluminar sua Vila Operária, ambas da Pedra, no sertão alagoano. 
Fugido do Recife por desavenças políticas, ele buscou refúgio em 
Alagoas, onde foi bem recebido pela oligarquia local.
Delmiro Gouveia refugiou-se no sertão alagoano, precisamente em 
1903, quando fixou residência no vilarejo denominado Pedra, onde, 
em breve, seria instalado um curtume para armazenar peles. Logo, 
consegue recuperar a fortuna perdida no Recife, com investimentos 
no comércio exportador de “courinhos” (artigos de pele de bode 
e cabra) e com amparo financeiro de ricos financiadores norte- 
americanos. Tomado pelo ímpeto de realizar proezas, sua vida não 
seria senão uma conseqüência da prática de ousar.
Inicialmente, Delmiro procurou sondar as potencialidades da região 
para poder colocar em ação a realização de seu sonho. Por volta de 
1909, recebeu uma delegação de técnicos norte-americanos, em 
caráter sigiloso, para estudos no rio São Francisco e na cachoeira de 
Paulo Afonso, chefiada pelo capitalistaMr. Moore e sob a supervisão 
técnica do engenheiro Stewart. Sabe-se que os estudos contemplaram 
a viabilidade do aproveitamento hidrelétrico de um trecho do rio, em 
virtude do surgimento de condições técnicas e econômicas.
Confirmadas as vantagens, restou acertar as condições comerciais, 
visando uma cooperação sob a forma de joint-venture, constituída 
com capital nacional e estrangeiro, cujo objetivo principal era 
“empreender, em grande escala, o aproveitamento e exploração do vale do 
rio São Francisco, ou seja, a industrialização da energia hidroelétrica da 
cachoeira de Paulo Afonso e um vasto plano agrícola-industrial conexo”. 
Assim, o referido projeto consistia em abastecer e iluminar ci-
dades da região, além de mover indústrias próximas à cachoeira 
e a outros planos de irrigação de terras locais. Apesar dessas conside-
rações, os norte-americanos só participariam, de fato, com a expressa 
autorização dos estados fronteiriços ao rio.
Essa foi a condição para a participação do capital norte-americano 
no projeto. Contudo, não contava Delmiro com a recusa do 
Governador de Pernambuco, Dantas Barreto. Diante da negativa, 
Delmiro chegou até a justificar a proposta do projeto de eletrificação 
Figura 4 - Fruto de um caso extraconjugal, Delmiro Augusto da Cruz Gouveia nasceu 
em Ipu, hoje distrito de Pires Ferreira, no Ceará, em 5 de junho de 1863. Era descrito 
como um homem sempre disposto a assumir grandes compromissos.
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
116
do Recife, mas não foi suficiente, já que o Governador cate-
goricamente relutou: “O negócio que o senhor propõe é tão vantajoso 
para o Estado que deve envolver alguma velhacaria”. Em decorrência, os 
estrangeiros pularam fora. Superada a recusa, Delmiro resolveu, 
então, encabeçar outro projeto ousado. Então, voltou-se para um 
projeto de construção de uma usina hidroelétrica, para alimentar 
uma fábrica de linhas em pleno sertão.
Delmiro conseguiu obter vários privilégios do Governo do Estado 
 de Alagoas, entre os quais o direito de explorar as terras improdu-
tivas na cidade de Água Branca, Alagoas; a concessão para captar 
o potencial hidrelétrico da cachoeira de Paulo Afonso e produzir 
eletricidade; e a isenção de impostos referentes à sua fábrica de linhas 
de costura Estrela, na localidade de Pedra, situada a 23 km da 
cachoeira. Entre 1910 e 1911, todas essas concessões foram transfor-
madas em decretos-lei pelo Estado de Alagoas.
A obra foi realizada mediante concessão do estado de Alagoas ao 
abrigo do decreto nº 520 de 12/08/1911 de acordo com a Constituição 
Federal de 1891. Após a morte por assassinato de Delmiro Gouveia, 
a produção de linha de coser foi prejudicada, mas a usina permaneceu 
intacta, não passando de lenda o lançamento dos equipamentos da 
fábrica e da usina, pelos ingleses, dentro da cachoeira de Paulo Afon-
so. A usina permaneceu no local e os equipamentos da fábrica anos 
depois foram levados para São Paulo. O decreto nº 503, do mesmo 
ano, havia concedido a isenção de impostos pelo período de dez 
anos para a exploração de uma fábrica de linhas de costura.
Houve reações contrárias à implantação desse aproveitamento 
hidrelétrico da cachoeira, sobretudo por parte das imprensas alago-
ana e carioca que publicavam manchetes com veementes protestos 
sobre o assunto. Geralmente, o discurso girava em torno da responsa-
bilidade jurídica sobre a exploração do Rio São Francisco, bem como 
dos consequentes impactos ambientais e econômicos. A tribuna 
da Câmara Federal também foi palco de embaraçosos discursos, 
furiosos debates e fracassadas conclusões acerca da célebre conces-
são de aproveitamento da maravilhosa queda d’água. No entanto, 
coube a Delmiro, através da firma Iona & Cia., concretizar o so-
nho da eletrificação. Boa parte desse aval deve-se aos esforços e à 
petulância de dois alagoanos, o deputado federal Demócrito 
Gracindo e o consultor jurídico do Estado Alfredo de Maya, os 
quais souberam como poucos resistir às críticas e fundamentar 
seus argumentos na Câmara e na Imprensa. 
Para construir Angiquinho, Delmiro foi à Europa adquirir o maqui-
nário necessário, e acabou por contratar um engenheiro italiano, Luigi 
Borella, para projetar a empreitada. Também foram contratados 
engenheiros e técnicos franceses para montar a usina. Como a casa 
de máquinas da usina ficaria no paredão do cânion do São Francisco, 
local de difícil acesso, houve quem duvidasse do sucesso da obra.
Contrataram-se, junto à firma inglesa W. R. Bland & Co. os proje-
tos iniciais das obras. A parte hidráulica com a alemã J. M. Worth 
e a suíça Piccard Pictet & Co. Equipamentos elétricos ficaram a car-
go da empresa alemã Bergmann & Co. e da suíça Brown Boveri & Co. 
As turbinas foram encomendadas às casas Bromberg e Siemens 
Schukert & Co. As tubulações foram fabricadas pela competen-
te empresa alemã Mannesmann. Já o maquinismo da fábrica veio 
da companhia Dobson & Barlow, da Inglaterra.
Para a montagem dos equipamentos da usina, Delmiro requisitou 
a experiência estrangeira do técnico Anton Wer, da Alemanha, e 
do engenheiro Emilio Levermann. Em 1912, o engenheiro italiano 
Luigi Borella veio treinar o corpo técnico e dirigir o complexo hi-
drelétrico. Por conseguinte, as caixas com as máquinas e equipamen-
tos, vindos da Europa, cruzaram o Atlântico até o porto da cidade 
de Penedo (AL). Em seguida, foram colocadas em uma barca que 
subiu o rio São Francisco até atracar na lapinha do sertão, Piranhas.
Na etapa seguinte, os equipamentos foram transportados de trem 
através da Estrada de Ferro Paulo Afonso até chegar na estação da 
Vila da Pedra. Por fim, para a conclusão da longa travessia, o maqui-
nário da usina percorreu os 24 quilômetros que os separavam até a 
Cachoeira de Paulo Afonso, em carroções puxados por juntas de 
bois, com a necessária construção de pontes e estradas adequadas 
para permitir sua passagem. 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
117
Quem foi Delmiro Gouveia (1863-1817)
Delmiro Augusto da Cruz Gouveia nasceu no dia 5 de junho de 
1863, na fazenda Boa Vista, município de Ipu, Ceará, filho natural de 
Delmiro Porfírio de Farias e Leonilda Flora da Cruz Gouveia.
Em 1868, transferiu-se com sua mãe para a cidade de Goiana, 
em Pernambuco e depois para o Recife, tangidos pelas secas que 
periodicamente ocorrem no sertão nordestino e pela morte do pai, 
quando ele tinha apenas quatro anos de idade. Em 1872 muda-se 
para Recife. Em 1875, quando tinha apenas 12 anos de idade abando-
na o lar materno e se lança no mundo à procura de emprego que lhe 
permitisse sobreviver com o mínimo de folga para proporcionar o seu 
aprendizado, base de sua capacitação necessária a vencer os diversos 
desafios com que sonhava e que nele tinham a firmeza das idéias-fixas.
De família pobre, teve que trabalhar cedo para se manter e ajudar 
a mãe. Foi bilheteiro da estação Olinda do trem urbano chamado 
maxambomba, trabalhando também na estação de Apipucos, 
bairro do Recife, onde adquiriu posteriormente, quando já acu-
mulava riqueza suficiente, um palacete que hoje é propriedade da 
Fundação Joaquim Nabuco, onde funciona o Instituto de 
Documentação. Trabalhou ainda como despachante de barcaças. 
Interessado na compra e venda de couro e peles de cabras e 
ovelhas vai para o interior de Pernambuco, casando-se, em 1883, 
com Anunciada Cândida de Melo Falcão, na cidade de Pesqueira.
Dedicou-se ao comércio e exportação de couro e peles, inicial-
mente como empregado da família Lundgren e depois por conta 
própria, mantendo um grande número de compradores por toda a 
região Nordeste do Brasil.
Fundou, em 1896, a Casa Delmiro Gouveia & Cia, passando a destruir 
a concorrência no setor e ficando conhecido comoo Rei das Peles. 
Dispondo de capital, se engajou politicamente e partiu para outros 
empreendimentos. Foi o responsável pela urbanização do bairro 
do Derby, no Recife, onde só havia manguezais: abriu estradas, 
ruas, construiu casas e um grande mercado modelo sem similar 
no Brasil, o Mercado Coelho Cintra, com 264 compartimentos 
alugados a comerciantes de alimentos e de outros tipos de 
mercadoria, inaugurado no dia 7 de setembro de 1899.
Os baixos preços praticados no mercado incomodaram a 
concorrência, havendo por isso desentendimentos com o então prefei-
to do Recife, Esmeraldino Bandeira e em decorrência, conflitos com 
o poderoso Rosa e Silva, presidente do Senado Federal e vice- 
presidente da República, o que culminou com o incêndio do 
mercado, no início de 1900.
Figura 5 - Delmiro da Cruz Gouveia
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
118
Hoje, após a reforma realizada em 1924, o prédio do antigo 
mercado abriga o quartel general da Polícia Militar de Pernam- 
buco (Figura 6).
Autoritário e de temperamento difícil, à medida que enriquecia 
criava mais inimigos. 
Em 1901, perseguido e com problemas no casamento refugiou-se 
durante um ano na Europa.
Separado da esposa, em 1902, aos 39 anos, raptou a adolescente 
Carmela Eulina do Amaral Gusmão, fugindo para Alagoas e 
fixando-se na Vila da Pedra, uma localidade a cerca de 280 km de 
Maceió e que na época só possuía seis casas. Passou a comprar e 
exportar couro e peles, utilizando o Porto de Jaraguá, em Maceió.
Em 1909, inicia os estudos para aproveitamento econômico da 
cachoeira de Paulo Afonso. Em 26 de janeiro de 1913, capta 
energia elétrica na queda do Angiquinho, no lado alagoano, através 
de uma pequena usina geradora de eletricidade, puxando a rede 
elétrica até a sua fazenda.
Inaugurou, em 1914, uma pequena fábrica têxtil para produção 
de linha, com a marca Estrela, que logo dominou o mercado 
nacional, impondo-se também nos mercados da Argentina, Chile, Peru, 
depois Bolívia, Barbados e até nas Antilhas e Terra Nova. 
A fábrica era um modelo de organização, com diversos pavilhões 
onde ficavam os teares, uma vila operária, ambulatório médico, 
cinema e ringue de patinação.
Não querendo ficar isolado e para ajudar no desenvolvimento das 
suas atividades industriais, construiu cerca de 520 km de estradas 
carroçáveis e introduziu o automóvel no sertão. 
Embarcava sua produção através de porto de Piranhas, utilizan-
do a ferrovia que ligava Jatobá (atual Itaparica) a Piranhas para 
transportá-la.
Levou a energia elétrica para a povoação onde ficava a fábrica e 
depois até a Vila da Pedra.
Passou a idealizar e desenvolver projetos para a implantação de 
uma hidroelétrica que abastecesse o Recife de energia, o que cau-
sou desentendimentos com o então governador de Pernambuco, 
Dantas Barreto, que o acusava de estar procurando aproveitar-se do 
seu governo e, por isso, rompeu relações com o industrial.
Seu temperamento sempre difícil, além da tensão em que vivia, e 
da falta de apoio governamental, produziram uma série de atritos 
e inimizades, que culminaram com o seu assassinato à bala, no dia 
10 de outubro de 1917, aos 54 anos de idade, no terraço da sua casa 
na Vila da Pedra, hoje município de Delmiro Gouveia.
Angiquinho atualmente
Em outubro de 1958 a usina Angiquinho perdeu a concessão do 
aproveitamento parcial da cachoeira de Paulo Afonso, mas con-
Figura 6 - Prédio do antigo mercado que 
agora abriga o quartel general da Polícia 
Militar de Pernambuco
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
119
tinuou a distribuir eletricidade para a cidade de Delmiro Gouveia 
(antiga vila da Pedra) até 1960, quando foi por fim desativada.
Por intermédio da CHESF e da prefeitura de Delmiro Gouveia, foi 
elaborado um projeto de recuperação histórica que inclui a restau-
ração da usina, da Furna dos Morcegos, onde dizem que Lampião 
se escondeu, contudo a presença dos cangaceiros na área de Angi-
quinho já foi praticamente desmentida, pois não se encontrou qual-
quer indício dessa passagem. Depoimentos de cangaceiros do bando 
afirmaram que estiveram naquela área, mas nunca se esconderam na 
Furna dos Morcegos. Além disso, seria incoerente um bando 
tão articulado como o de Lampião se esconder em um local que 
tem apenas uma única entrada.
Segundo o projeto de recuperação denominado “Projeto de gestão 
de Angiquinho”, a usina foi transformada em um ponto de visita-
ção turística, que além de proporcionar ao turista comum uma vista 
diferenciada da cachoeira, bem como atrair profissionais e leigos 
com interesse de conhecer a história das hidreléricas no Brasil.
Figura 7 - A casa força 
de Angiquinho localizada 
à margem alagoana da 
cachoeira de Paulo Afonso
Figura 8 - Escada de 
acesso à casa de força
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
120
A Chesf, que investiu R$ 1,5 milhão na 
recuperação da usina, passou a gestão de 
Angiquinho à Fundação Delmiro Gouveia 
(FDG), que liderou o movimento pelo 
resgate do acervo. “A luta agora é para 
que Angiquinho de ixe a f i la de espera 
pelo decr eto do gover no f ederal e Minis-
tério da Cultura para o tombamento nacio-
nal” , assinala Edvaldo Nascimento, 
coordenador da FDG.
Passear no sítio histórico de Angiquinho 
é mover as rodas da história. Nas entra-
nhas da usina saem paisagens lunáticas, 
águas muito limpa mostram o fundo 
translúcido do Velho Chico. São pedras 
e rochas e tocas de rio para todos os 
lados (Figura 13).
Figura 9 – Prédios da usina recuperados
Figura 10 – Interior 
da casa de força
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
121
Figura 11 – Gerador
Figura 12 – Turbina 
de eixo horizontal
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
122
Figura 13 - Vista do cânion a partir da casa de força
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
123
O coração começa a bater mesmo na escadaria de metal, que desce 
45 metros abaixo das rochas, no caminho da velha casa das má-
quinas, que abriga os três geradores Brown Boveri e as turbinas 
Piccard Pictet, que alimentavam a usina, fruto da cabeça do 
cearense Delmiro Gouveia.
A descida é adrenalina pura, escadas em espiral, com plataforma 
para mirante, de onde os olhos captam uma imagem inesquecível 
do que resta da cachoeira de Paulo Afonso, ou parte dela. A visão 
do Velho Chico cercado por cânions e corredeiras é colossal, e 
uma cachoeira transborda na entrada do lago da usina, que iluminou 
boa parte da região até nos anos 60.
A casa de máquinas continua presa às rochas e é o ponto culminante 
do passeio. Entrar naquele prédio arrojado e quase secular é sen-
tir segurança e êxtase. Principalmente ao abrir as janelas da casa e 
correr o olho nas rochas, no rio e na bela cachoeira.
Referências
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do complexo Angiquinho (HTML). Folha Sertaneja (03 de 
dezembro de 2006). Página visitada em 6 de janeiro de 2008. 
2. Projeto Gestão de Angiquinho (HTML) (2008). Página 
visitada em 6 de janeiro de 2008. 
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de pouso de boiadas a redenção do Nordeste - Câmara 
Municipal de Paulo Afonso, Paulo Afonso-BA, 1995. 
4. Revista Continente Documento – Ano I, nº 11 – 2003.
5. Jornal Chesf – CER – Ano IV – nº 235 – junho a 
novembro/2006.
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Paulo Afonso I: Imagens de uma epopéia. Rio de Janeiro: 
Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, 2008. 
7. Fernandes, Adriana Sbicca; Szmrecsányi, Tamás (orgs.). 
Empresas, empresários e desenvolvimentoeconômico no 
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São Paulo: hucitec/Abphe, 2008. 
8. Magalhães, Gildo. Força e luz: eletricidade e 
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na República Velha. São Paulo: ed. Unesp, 2000.
9. Sant’ana, Moacir Medeiros de. Pequena história de 
Delmiro Gouveia, o “Rei do Sertão”. Maceió: imprensa oficial, 
1961. 
10. Silva, Davi Roberto Bandeira. Ousadia no Nordeste: A 
Saga Empreendedora de Delmiro Gouveia. Maceió: Fiea/
Gijs, 2007.
11. Site www.controvérsia.com.br
12. http://www.turismo.al.gov.br/sala-de-imprensa/noticias/
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em-delmiro-gouveia/(Texto de Mário Lima) acessado em 
17/02/2011).
13. http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.
php?option=com content&vieu=article&id=6068Itemid
=195(Texto de Semira Adler Vainsencher pesquisadora da 
Fundação Joaquim Nabuco) Acessado em 17/02/2011.
Figura 14 - Subestação Elevadora de Angiquinho
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
125
Usina do Itapecuruzinho - 
A primeira hidroelétrica da 
Amazônia
Erton Carvalho
Usina do Itapecuruzinho - 
A primeira hidroelétrica da 
Amazônia 
Esta usina está localizada no rio Itapecuruzinho, afluente do rio 
Manoel Alves Grande, que desemboca no rio Tocantins pela 
margem direita, no município de Carolina, estado do Maranhão. 
Foi concebida e projetada no período de 1937/1938 e teve a sua 
construção realizada no período de 1939/1940. A usina foi constru-
ída aproveitando uma queda de 11,50 m (Figura 1). As obras civis 
foram constituídas por um canal lateral de forma trapezoidal, com 
88 m de comprimento e um desnível de 0,30 m, dimensionado para 
aduzir uma vazão de 2,44 m3/s, que terminava com uma pequena 
tomada d’água seguida de um conduto forçado com capacidade 
de 1,22 m3/s. No local foi implantada uma casa de força que abri-
gava uma turbina Francis de 110 kW, com rendimento de 75%, 
acionando, através de um sistema de polias, um gerador de 120 kVA, 
380/220 V, freqüência de 50 Hz e com a velocidade de 750 rota-
ções por minuto. As Figuras 2, 3, 4 e 5 mostram a casa de força e 
seu interior, hoje completamente abandonada e em péssimo estado 
de conservação. O quadro de comando era de ferro perfilado com 
painel de mármore polido. Contava, também, com uma pequena 
subestação que tinha um único transformador trifásico de 11.000 V. 
A linha de transmissão da usina para a cidade de Carolina tinha 
Figura 1 - Cachoeira 
do Itapecuruzinho
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
126
Figura 2 - Casa de força
Figura 3 - Turbina 
Francis 110Kw
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
127
28,5 km, sendo que as perdas no transporte da energia foram 
estimadas em 5,2%. A linha foi implantada com postes de aroeira 
a uma distância média de 50 m. Na cidade, através de uma 
subestação abaixadora, a rede pública de distribuição de energia 
era de 220/110 V.
História
A cidade de Carolina, situada no extremo sul do Maranhão, 
à margem direita do rio Tocantins, conheceu, nos anos quarenta, 
sua fase áurea, como a maioria das cidades ribeirinhas banhadas 
pelo grande rio, único meio de transporte existente na região. 
Em 1937, Newton Carvalho, homem de idéias progressistas, 
iniciou sua luta para convencer um grupo de conterrâneos da 
necessidade de construir em Carolina uma usina hidroelétrica, 
aproveitando a bela cachoeira existente no rio Itapecuruzinho, 
situada a 33 km da cidade. 
Naquela época (1937), o Brasil possuia apenas uma potência insta-
lada de 847 MW, correspondendo a 0,75% da atual, sendo 192 MW 
em usinas térmicas e 755 MW em hidroelétricas. Excluindo os 
grandes centros urbanos, na maioria das cidades, o fornecimento 
de energia era restrito ao período das 18 às 21 horas. Tratava-se, 
portanto, para aquela sociedade local de uma obra bastante audacio-
sa. Mesmo assim, Newton Carvalho colocou esse empreendimento 
como a grande meta de sua vida. Vale ressaltar aqui que Carolina 
era uma das cidades consideradas de oposição ao interventor 
do estado, Paulo Ramos, e sua classe política bastante temerária 
quanto às atitudes do citado interventor. Os sócios pretenden-
tes exigiram que Newton Carvalho obtivesse do interventor uma 
autorização para que a usina fornecesse energia para a cidade. 
A partir daí, ele fez várias viagens a São Luiz, capital do estado, 
não tendo conseguido ser recebido por aquela autoridade. 
Por interferência de Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, 
arcebispo do Maranhão, a audiência acabou sendo realizada 
com sucesso, o que permitiu dar andamento ao início dos trabalhos.
Figura 4 - Gerador de 120 KVA
Figura 5 - Gerador e painel de controle 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
128
Em 1938, Newton Carvalho foi ao Rio de Janeiro, então capital 
federal, para estudar junto à companhia alemã Siemens a viabilida-
de do empreendimento. Viajou às próprias custas e contou com a 
ajuda de um comerciante alemão, proprietário da Casa Beckgis, para 
negociar com a empresa a consolidação do projeto e a compra dos 
equipamentos necessários para a construção da usina. 
Retornando do Rio de Janeiro com os dados da usina nas mãos, 
organizou a firma em 1939, registrando-a no dia 11 de julho do 
mesmo ano, na Junta Comercial do Maranhão. A empresa de nome 
Hidroelétrica Itapecuru Ltda., foi então organizada para fornecer 
energia elétrica ao município de Carolina, com o aproveitamento 
da referida cachoeira. O capital inicial de 340 contos de réis, 
dividido inicialmente entre oito sócios, teve, posteriormente, 
a cooperação de mais seis sócios, cada um contribuindo com 
10 contos de réis, totalizando 14 sócios.
A concessão para o empreendimento ocorreu em 16 de novembro 
de 1939, quando o presidente Getúlio Vargas e seu ministro 
Fernando Costa assinaram o decreto no 4.888, publicado no 
Diário Oficial do dia 8 de fevereiro de 1940, que outorgou à 
sociedade o direito de explorar o referido aproveitamento até a po-
tência de 285 kW. O projeto previa a colocação de duas unidades de 
143 kW, mas inicialmente só foi instalada uma unidade de 110 kW.
Voltando novamente à capital federal, Newton Carvalho adquiriu 
da Siemens todos os equipamentos para a instalação da usina. Trans-
portados por via marítima até o porto de Belém, seguiram através 
do rio Tocantins até Carolina, tendo as embarcações atravessado 
várias cachoeiras, dentre elas a de Itaboca, onde hoje está localizada 
a usina de Tucuruí. Quando passava pela cachoeira de Itaguatins, 
perto da cidade de Porto Franco, um dos pesados transformado-
res da subestação caiu no rio. Desprovido de equipamentos para 
içá-lo, foi empreendida uma luta titânica para retirá-lo da água. 
O sucesso dessa operação só foi possível pelo fato de Newton 
Carvalho conhecer e fazer uso do princípio de Arquimedes. Com 
auxilio de mais uma embarcação, esvaziava-as e enchendo-as de água 
até chegar ao limite de transbordamento tracionava o transforma-
dor e, em seguida, esvaziava a embarcação, permitindo, assim, que 
o equipamento subisse pelo empuxo a que era submetido. 
Após verdadeira epopéia, finalmente o maquinário chegou a 
Carolina. Para alcançar o lugar escolhido, travou-se outra batalha 
com o transporte dos equipamentos em pequenos caminhões 
através de caminhos intricados, utilizados pelos sertanejos locais. 
Foi assim instalada, às margens do pequeno rio Itapecuruzinho, 
a primeira usina hidroelétrica da Amazônia. 
Para a construção da linha de transmissão foi aberta uma picada da 
cidade até o local da usina, com o auxílio de um velho teodolito de 
propriedade do professor José Queiroz, utilizado em um trabalho 
de topografia para a ferroviaPirapora-Belém, a qual nunca saiu do 
papel. O rumo da linha de transmissão foi definido por um piloto 
da Condor, companhia aérea alemã, que fazia voos entre Carolina 
e Belém. Foram lançados sacos de areia com bandeiras vermelhas 
para demarcar o referido caminho. Em sua grande maioria esses 
marcadores não foram encontrados. Newton Carvalho, ele mes-
mo, elaborou a planta da cidade e implantou a rede pública e o 
sistema de distribuição de energia residencial.
O Decreto nº 15.790, de novembro de 1941, autorizou o funcio-
namento da usina e a sua inauguração se deu em 15/11/1941, 
com uma linha de transmissão de aproximadamente 30 km.
Biografia
Por detrás desta pequena central hidroelétrica, se esconde um 
episódio heróico que bem reflete a época e o momento histórico 
em que foi construída. Seu idealizador e executor (Figura 6) teve 
que vencer obstáculos quase intransponíveis para implantar na 
Região Amazônica a primeira usina hidroelétrica, em plena 
ditadura do então presidente Getúlio Vargas. 
Newton Alcides de Carvalho provinha de família numerosa. 
Nasceu em Carolina, em 26 de julho de 1900. Era um dos onze filhos 
do casal Alípio Alcides de Carvalho e Rosa Sardinha de Carvalho. 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
129
Seu pai era originário da cidade de Caxias do Maranhão e sua mãe 
era oriunda de berço português, nascida em Vianna do Castelo, 
norte de Portugal. A formação do homem visionário, que pensa-
va adiante do seu tempo, não era comum à época: tinha conclu-
ído apenas o curso ginasial, o qual lhe proporcionou sólida base 
cultural voltada para as ciências exatas. Autodidata, dedicou-se 
com afinco ao estudo da matemática, da física e da engenharia, 
tendo adquirido por conta própria noções de inglês e alemão. 
Em sua cidade natal, lecionou matemática e escrituração mercantil 
a jovens conterrâneos. Ali, participou, também, da construção de 
uma usina açucareira, ao mesmo tempo em que desenvolvia ativi-
dades comerciais. Ainda não havia atingido quarenta anos quando 
resolveu vender todos os seus bens para conseguir tornar real o 
sonho de executar o projeto da construção da pequena usina 
hidroelétrica em Carolina. 
Não tendo sido ressarcido de seus investimentos, Newton Carva-
lho, decepcionado com a alta inadimplência dos consumidores de 
energia, principalmente com a da iluminação pública, em 1944, 
resolveu transferir-se com a família, a esposa Eliza Ayres de 
Carvalho e seus filhos, para o interior do estado de Goiás.
Ali, construiu as usinas hidroelétricas das cidades de Anicuns 
(1948/1949) e de Santa Cruz de Goiás. Elaborou, ainda, projetos 
para as usinas de Campos Belos e Babaçulândia, obras porém não 
realizadas. Em 1949, já radicado em Goiânia, trabalhou na Secretaria 
de Educação no planejamento e construção de 248 prédios escolares 
na zona rural. Diversificando suas atividades, elaborou, também, 
um projeto para a exploração industrial do babaçu. No período de 
1961 a 1965 exerceu a função de chefe-geral da limpeza pública 
da capital do estado. Estruturou o serviço de coleta e destino do 
lixo, apresentando um estudo sobre o aproveitamento do mesmo, 
através de tratamento mecânico e biológico, baseado no método di-
namarquês, conhecido por “Dano”, altamente avançado para a época. 
Faleceu em 25 de outubro de 1969, vít ima de acidente 
automobilístico, antes mesmo de completar 70 anos. Deixou 
para a posteridade um exemplo de homem probo, determinado, 
corajoso e realizador. 
Referências
1. Notas da família Carvalho
2. Artigo do jornalista Waldir Braga no jornal “Folha do 
 Maranhão do Sul” (25/Julho a 03/Agosto de 1996)
3. Revista Século XX “Gente que fez Carolina” de Paulo 
 Noleto Queiroz, Outubro de 2000.
4. Memória Técnica da Usina de Itapecuruzinho, cópia 
 datada de 1939.
Figura 5 - Newton Alcides de Carvalho
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
130
131
A Light no Rio de Janeiro,
a Cidade Luz Sulamericana
Armando José da Silva Neto e Flavio Miguez de Mello
O desenvolvimento da construção, operação e manutenção de 
usinas hidroelétricas no Brasil tem um dos capítulos mais im-
portantes na criação de uma empresa chamada The Rio de Janeiro 
Light and Power Co. Ltd, em 30 de maio de 1905.
Liderada pelo advogado canadense Alexandre Mackenzie e 
pelo engenheiro americano Frederick Stark Pearson, residen-
tes no Brasil havia cinco anos, coube a tarefa de implantar e 
por em funcionamento no Brasil a empresa que seria referên-
cia no desenvolvimento da engenharia brasileira de barragens 
e usinas hidroelétricas.
Em 1908 foi lançado o primeiro grande desafio: a construção no 
Ribeirão das Lajes, da usina de Fontes, no Município de Piraí, no 
Estado do Rio de Janeiro. Essa usina, na época de sua instalação 
era a maior hidroelétrica da América Latina e a segunda maior do 
mundo. A barragem era uma estrutura de concreto gravidade em 
arco de 100 m de raio, com 32 m de altura e crista com 234 m 
dos quais 134 m eram vertedouro de lâmina livre.
A potência instalada era de 12 MW, mas podendo chegar a 15 MW. 
Em 1909 foi ampliada com a instalação de mais três unidades 
geradoras, elevando sua capacidade para 24 MW. O gerente do 
empreendimento foi o engenheiro Clint H. Kearny, recomendado 
pelo engenheiro Pearson.
A Light no Rio de Janeiro,
a Cidade Luz Sulamericana
“Ter-se-á de reconhecer a importância da contribuição da Light,
que deu grandeza ao sistema elétrico brasileiro com projetos 
ousados, mesmo em comparações internacionais.”
Antonio Dias Leite, 2007
Figura 2 - Frederick 
Stark Pearson, 
primeiro presidente 
(1904-15) 
Figura 1 - Alexander Mackenzie, fundador e 
segundo presidente (1915-28)
Casa de força de Fontes. Concepção artística do 
engenheiro José Carlos de Miranda Reis Neto
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
132
Em 1914 foi concluída a barragem de Tócos no rio Pirai 
e um túnel com 8,4 km de extensão, na época o mais lon-
go túnel hidráulico do mundo. Esse túnel passou a derivar 
as águas do rio Pirai para o reservatório de Lajes, possibilitando 
o aumento de capacidade de Fontes para 55 MW. 
Os dois escritórios da LIGHT nas cidades do Rio de Ja-
neiro e de São Paulo foram reunidos em um só visando a 
ampliação da geração de energia hidráulica já que a 
demanda naquela época não parava de aumentar em função 
do desenvolvimento que estava ocorrendo no País.
Figura 3 - Barragem de Lajes construída em 1906 
Figura 5 – Saída do túnel de Tócos 
Figura 4 - Barragem de Tócos vista de montante
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
133
Em 1921 a LIGHT foi autorizada a construir uma nova usina 
hidroelétrica nos municípios de Carmo, RJ e Além Paraíba, MG 
no rio Paraíba do Sul a 150 km da cidade do Rio de Janeiro. A cons-
trução da usina ficou a cargo do engenheiro Asa W. Kenney Billings, 
que era especializado em obras hidráulicas e seus equipamentos. 
Inaugurada em julho de 1924, a usina tem um canal de adução com 
2,5 km de extensão constituído por diques de terra compactada 
e trechos em concreto, do lado norte. Com três comportas tipo 
setor que até hoje são as maiores do mundo, o vertedouro principal é 
localizado na margem esquerda. As comportas se encontram 
em operação até os dias de hoje. Há vertedouros de menores capaci-
dades equipados com comportas Stoney.
Figura 6 - Engenheiro Asa White Kenney Billings 
Figura 7 - Construção da usina hidroelétrica Ilha dos Pombos em 1924
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
134
Com as ampliações realizadas em setembro de 1937, a usina 
de Ilha dos Pombos atingiu a potência instaladade 167 MW sob 
31 m de queda bruta.
Após mais de 55 anos de operação, nos anos 90, foi executada uma 
reabilitação completa da barragem e de suas comportas, bem como uma 
repotenciação da usina com aumento da capacidade instalada.
Em março de 1940, a LIGHT foi autorizada a ampliar a Usina de Fontes.
Figura 8 - Usina hidroelétrica de Ilha dos Pombos – Uma das três comportas setor, as maiores do mundo
Figura 9 - Usina hidroelétrica de Ilha dos Pombos tendo 
seus vertedouros reabilitados. Vista de montante.
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
135
O projeto do engenheiro Billings 
elevou em 26 m a Barragem de La-
jes, aumentando a capacidade de 
armazenamento do reservatório para 
1.052 milhões de metros cúbicos.
A ampliação constou de três novas 
unidades, cada uma com 39 MW, 
elevando a potência instalada para 
172 MW. O alteamento da barragem 
que passou da soleira vertedora 
livre em arco gravidade para uma 
barragem em contrafortes de 63 
m de altura, implicou também na 
construção da barragem e do dique 
de Cacaria, na barragem do Rio da 
Prata, no Dique 4 e no Dique 5. 
A obra foi concluída em 1958. Para 
permitir a construção foi neces-
sário desocupar a pequena cidade 
tombada de São João Marcos no 
município de Rio Claro. O reser-
vatório havia sido idealizado para 
ser utilizado para regularizar as 
descargas que seriam derivadas do 
rio Paraíba do Sul. Entretanto, o re-
servatório jamais foi completamente 
cheio por dois motivos: o abaste-
cimento de água para a cidade do 
Rio de Janeiro havia passado a 
depender das descargas efluentes 
da casa de força de Fontes sem 
outro tratamento que não a clo-
ração e a necessidade de obras 
adicionais para garantir a estabi-
lidade da barragem de Cacaria e 
do Dique 4. Essas obras foram 
finalmente executadas nos anos 80. 
Figura 10 - Início do 
alteamento da barragem 
de Lajes
Figura 11 - Barragem de 
Lajes após a conclusão 
do alteamento
136
Apesar dos bons serviços prestados e do estrangulamento das 
tarifas a partir do Código de Águas em 1934, a Light enfrentava 
opositores de todas as correntes políticas, desde extremados 
esquerdistas que se intitulavam de nacionalistas, até o líder da UDN, 
Carlos Lacerda, que se referia a ela como “o Polvo Canadense”. 
Nesse cenário, à Light não eram concedidas novas concessões, 
embora ela tenha estudado em detalhe potenciais no médio rio 
Paraíba do Sul (Funil, Sapucaia e Simplício) e efetuado estudos que 
cobriram extensas áreas do território nacional, desde a vertente oceâ-
nica da Serra do Mar até as Sete Quedas. Esse cerceamento de novas 
concessões e a necessidade de ampliação da geração determinaram 
a adoção do artifício de se conceber uma ampliação da usina de 
Fontes pela derivação de descargas dos rios Pirai e Paraíba do Sul. 
Essa foi a obra de engenharia mais importante no final dos anos 40 
e início dos anos cinqüenta. Inaugurada em 1953, resultou na am-
pliação de geração em Fontes com a instalação de três unidades 
Francis de 39 MW cada, denominada Fontes Nova e na implantação 
da casa de força subterrânea de Nilo Peçanha que, sob a queda bruta 
de 310 m, aumentou em 378 MW o Complexo de Lajes. Presentemen-
te as antigas unidades Pelton de Fontes estão desativadas, restando 
apenas as três unidades Francis de Fontes Nova e as seis unidades de 
Nilo Peçanha, todas Francis de eixo vertical.
Figura 12 - Casa de força de Fontes 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
137
Para esta fase da ampliação uma série de obras foram 
executadas, destacando-se a elevatória de Santa Cecília, 
a barragem de Sant’Ana, no rio Pirai construída em 
apenas dois meses, a elevatória de Vigário que dis-
põe de unidades reversíveis, as terceiras instaladas no 
mundo depois das unidades de Traição e Pedreira em 
São Paulo, também instaladas pela Light, a construção 
da barragem Terzaghi e do dique Vigário, projeto em 
que Karl Terzaghi introduziu filtros chaminés em 
barragens de terra, e a casa de força subterrânea de 
Nilo Peçanha, de grandes dimensões para a época, 
que contou com a importante colaboração do geólogo 
Portland Port Fox. Embora constasse do projeto ori-
ginal, a segunda casa de força de Nilo Peçanha ainda 
não foi construída, ficando as usinas de Fontes Nova e 
Nilo Peçanha com elevado fator de capacidade. Figura 13 - Barragem de Santa Cecília
Figura 14 - Barragem Santana 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
138
Em fevereiro de 1967 intensa precipitação provocou inúmeros 
deslizamentos nas encostas da Serra das Araras na área das usi-
nas, bloqueando os canais de fuga de Fontes e de Nilo Peçanha. 
O refluxo de lama inundou a casa de força de Nilo Peçanha causando 
a paralisação da usina por vários meses para a recuperação dos 
equipamentos totalmente feita pelos técnicos da Light. Realça-se a 
coragem dos operadores e a tenacidade da equipe da Light na 
recuperação das instalações cuja operação era comandada pelos 
engenheiros Walter Stukembruk e Henrique Smoka, ambos 
de elevada competência e dedicação.
Para que a derivação das águas do rio Paraíba do Sul fosse licen-
ciada, a Light teve que promover a regularização do rio pela im-
plantação da barragem de Santa Branca e contribuído com 40% do 
Figura 15 - Desvio Paraíba-Piraí - Elevatória de Vigário, 
ao fundo dique do Vigário e a barragem Terzaghi
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
139
investimento na construção das barragens de Paraitinga e 
Paraibuna, no trecho paulista da bacia hidrográfica do rio Paraíba 
do Sul. Somente nos anos 90 a Light instalou as unidades 
geradoras em Santa Branca.
Em 1961 foi concluída a usina de Ponte Coberta, posteriormen-
te denominada de Pereira Passos, com 99 MW instalados sob 
36 m de queda bruta, aproveitando as águas turbinadas do 
Complexo de Lajes. A barragem de terra tem 52 m de altura e 
231 m de crista. As estruturas de concreto da tomada d’água e do 
vertedouro, este com 330 m³/s de capacidade de descarga, 
são situadas na margem esquerda do reservatório. Curiosamente 
a Light esperou a posse do presidente Castelo Branco em 1964 
para oficialmente inaugurar a usina.
Considerando as dificuldades acima mencionadas na obtenção 
de novas concessões, essa usina foi inicialmente denominada 
Lajes Auxiliar.
Figura 16 - Presença do Terzaghi (ao fundo) no campo durante a 
construção da barragem que tem o nome em sua homenagem
Foto 18 - Inauguração da hidroelétrica Nilo 
Peçanha, Ministro Apolonio Salles, 
J.R. Nicholson, João Monteiro 
Figura 17 - Canal de fuga de 
Nilo Peçanha em 1967
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
140
No final do século passado foi desenvolvido o projeto da 
PCH Paracambi, mais uma hidroelétrica no leito do ribei-
rão Das Lajes que presentemente (2011) encontra-se em 
construção. Essa hidroelétrica terá 25 MW instalados com 
elevado fator de capacidade.
A Light foi estatizada em 1966 e privatizada em maio 
de 1996, tendo passado de grupos francês, americano e 
nacional para, presentemente, ser de controle integral- 
mente nacional.
Figura 20 - Pres. Castelo Branco 
e Gallotti, presidente da Light, 
em visita de inspeção após 
o acidente de 1967
Figura 19 - João Gonçalves de Sousa, ministro extraordinário para 
coordenação dos órgãos regionais, General Ernesto Geisel, chefe da casa militar, 
Marechal Castelo Branco, presidente da República, Antônio Gallotti, 
presidente da Light e Geremias Fontes, governador do Estado do Rio de Janeiro 
em inspeção nas usinas geradoras da Light no dia4 de fevereiro de 1967, 
após os acidentes ocasionados pelas intensas precipitações. 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
141
Figura 22 - Inundação da casa de força de 
Nilo Peçanha, inspeção de barco
Figura 23 - O atual
presidente da Light após
ter dirigido a ANA e a
ANEEL, professor da
UFRJ, Dr. Jerson
Kelman, ao ser agraciado
com o título de Engenheiro
Eminente pela Associação
dos Antigos Alunos da
Politécnica, em 2010
Figura 21 - Construção da 
barragem de terra de Ponte 
Coberta, parte da hidroelétrica 
Pereira Passos
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
142
Alexander Mackenzie, fundador e 
segundo presidente (1915-28) 
Armando José da Silva Neto e Flavio Miguez de MelloArmando José da Silva Neto e Flavio Miguez de Mello
143
Flavio Miguez de Mello
A São Paulo Light, 
Fomentadora de Progresso
“They (Light) say now that they 
could deliver half a million more 
horse-power from this place alone 
(Cubatão); and this is but one of the 
several places that stand around 
São Paulo and sell more power to 
its elbow”  Rudyard Kipling*
* “Eles (Light) afirmam agora que 
podem fornecer meio milhão de cavalos-vapor 
somente deste local (Cubatão); e esse é apenas 
um dos diversos lugares que se situam no 
entorno de São Paulo e que poderão vender 
mais energia para todos seus cantos.”
Em 1899 o advogado canadense Alexander Mackenzie fundou a 
The São Paulo Railway, Light & Power Company e iniciou imediata-
mente a construção da hidroelétrica de Parnaíba, posteriormente 
denominada Edgard de Souza, situada na cachoeira do Inferno, 
no rio Tietê e inaugurada em 1901. 
A barragem foi construída em alvenaria de pedra com verte-
douro de superfície livre em quase toda a extensão de sua crista. 
A capacidade instalada inicial era de 2 MW. Em 1954 a antiga casa 
de força foi substituída por uma estação de recalque com unida-
des reversíveis e a barragem foi alteada em seis metros através de 
contrafortes e lajes planas, passando a ter 18,5 m de altura. Foram 
introduzidas três comportas de segmento com capacidade de 
800 m³/s. Nos anos 80, considerando a extrema alteração nos 
coeficientes de escoamento da área de drenagem devida à inten-
sa ocupação urbana da cidade de São Paulo e de cidades vizinhas, 
nova importante reabilitação foi feita, tendo sida aumentada 
a capacidade de descarga do vertedouro. Edgard de Souza foi a 
primeira de uma série de obras hidráulicas executadas nas pro-
ximidades da cidade de São Paulo dos últimos dois anos do 
século XIX até meados do Século XX. 
A São Paulo Light, 
Fomentadora de Progresso
Figuras 1a e 1b - Desde os primeiros anos a Light constituiu diversas outras empresas de serviços em 
São Paulo e no Rio de Janeiro, incluindo fornecimento de gás, telefonia, serviços de bondes e ônibus. 
Nas fotografias L.H. Anderson, superintendente geral da São Paulo Gas Company e G.E. Seylaz, 
tesoureiro presidente da Companhia Telefônica Brasileira.
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
144
Com o objetivo de regularizar as afluências à usina de Edgard 
de Souza, foi construída em 1906 a barragem de Guarapiranga 
situada no principal afluente do rio Pinheiros, tributário do rio Tie-
tê. A barragem é de terra com 15,6 m de altura e 1500 m de crista. 
Seu volume de 505.000 m³ foi proveniente de área de empréstimo 
escavada à mão, o solo foi transportado por tração animal e com-
pactado apenas com a passagem das carroças. Como elemento de 
impermeabilização foi executada uma cortina de estacas prancha 
na linha de centro da barragem. Uma cheia extraordinária nos 
anos oitenta fez com que fosse executado um vertedouro adicional 
na ombreira esquerda.
No início da segunda década do século passado, a Light adquiriu 
da Empresa de Eletricidade de Sorocaba a concessão da hidroelétrica 
de Itupararanga e concluiu as obras em 1914 com três unidades de 
11,1 MW cada. 
A intensa estiagem de 1924 fez com que Asa White Kenney Billings, 
engenheiro americano de elevada competência que vinha de obras 
na Espanha e no México, construísse, em apenas onze meses, 
a hidroelétrica de Rasgão, com duas unidades de 9,3 MW, aprovei-
tando canal escavado pelos escravos de um proprietário de terras na 
região de nome Fernão Paes de Barros quase um século antes com a 
esperança nunca concretizada de achar ouro no leito do rio Tietê. 
O canal ficou sendo conhecido por Rasgão, tendo posteriormente 
dado nome à barragem e à usina. A Light descobriu duas unidades 
Francis de 9 MVA em fabricação no exterior, as comprou e as 
trouxe para São Paulo. A logística era muito difícil, a maior carroça 
transportava no máximo 15 toneladas e as estradas eram de tráfego 
precário. A época era convulsionada por movimentos revolucioná-
rios tenentistas como o de 5 de julho que ocupou São Paulo por 
semanas. O País entrava em estado de sítio. A coluna Miguel Costa – 
Prestes iniciava a sua longa marcha. O canal aberto à mão teve que 
ser ampliado e as fundações escavadas, o que demandava explosivos 
nessa época tão explosiva. A barragem, com 20 m de altura é em 
arco gravidade. A usina, inaugurada em 1925, tinha o caráter provi-
sório, mas operou até 1961 quando foi paralisada devido a excesso 
de percolação sob a tomada d’água da usina. Nos anos oitenta 
as estruturas civis da barragem e das duas tomadas d’água do canal 
de adução e da casa de força foram reabilitadas tendo em vista o 
elevado estado de deterioração e os preocupantes resultados das 
análises de estabilidade que foram realizadas. A barragem teve trata-
mento de concreto projetado no paramento de montante, injeções 
de calda de cimento sob a laje executada no pé de montante e teve 
reforço por atirantamento, a tomada d’água do canal de adução 
teve reforço em seus contrafortes e a tomada d’água da casa de força 
teve tratamento de sua fundação por injeção de calda de cimento a 
alta pressão com cracagem do solo, tratamento este que só havia 
sido feito na fundação da barragem de Balbina. A casa de força foi 
também reabilitada e voltou a operar em 1989.
O maior empreendimento foi conduzido por Billings: o chamado Pro-
jeto da Serra que aproveitava descargas derivadas da bacia do rio Tietê 
para a baixada Santista. O empreendimento foi feito em duas etapas: 
a usina de Cubatão e a usina de Henry Borden que operavam em pa-
ralelo. De montante para jusante, o circuito inicia-se pela barragem de 
Figura 2 – Ferdinand M.G. Budweg 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
145
Pirapora no rio Tietê a montante do reservatório de Rasgão. Essa barragem 
represa as águas até a estação de recalque de Edgard de Souza, reverten-
do o curso do rio Tietê. Essa barragem de 43 m de altura em concreto 
gravidade, concluída em 1956, é provida de um vertedouro de superfície 
com duas comportas de segmento de 830 m³/s de capacidade. Com as 
expressivas alterações dos coeficientes de escoamento que ocorreram em 
sua área de drenagem devido à intensa ocupação urbana que passou de 
3,6 milhões de habitantes em 1955 para 15 milhões em 1990, houve a 
necessidade de ampliação da capacidade de descarga vertida e a proteção 
à cidade de Pirapora do Bom Jesus que se situa logo a jusante da bar-
ragem. Essa cidade era inundada a partir de descargas de 480 m³/s. 
A condicionante de projeto era conseguir um esquema que permitisse 
o deplecionamento do reservatório antes da chegada do pico da cheia, 
sendo esta amortecida no reservatório previamente rebaixado. Conside-
rando a impossibilidade do deplecionamento do reservatório durante a 
construção por serem baixas (6,40 m) as duas comportas de segmen-
to que ocupam quase toda extensão da crista dabarragem, a solução 
Figura 3 – Esquema do lake piercing
Figura 4 – Execução da ensecadeira dentro do túnel
Figura 5 – Instante da detonação do septo de rocha 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
146146
encontrada pelo engenheiro Ferdinand M.G. Budweg foi 
a execução de um lake piercing, solução única no País. 
As obras foram realizadas no início dos anos noventa, 
tendo sido escavado um túnel de jusante para montante 
com extensão de 168 m e seção de 48 m² pela ombreira 
direita até bem próximo ao fundo rochoso do reserva-
tório onde, de acordo com o projeto original, deveria ter 
sido escavada uma depressão (rock trap) para receber a 
rocha quando da abertura final. Em seguida foram insta-
ladas duas comportas de segmento no interior do túnel, 
foi construída uma ensecadeira de terra no interior 
Figura 6 – Saída do túnel em operação Figura 7 - Vertedouro da barragem de Pirapora
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
147
do túnel para proteção das comportas quando da detonação final 
e detonada uma carga que abriu a entrada do túnel pelo fundo 
do reservatório. 
A obra que incluiu também alargamento da calha natural do rio a 
jusante da barragem, foi concluída com sucesso em 1993, não 
mais ocorrendo inundações na cidade de Pirapora do Bom Jesus. 
A capacidade de descarga da barragem passou para 1450 m³/s.
O circuito hidráulico do Projeto da Serra inclui a barragem e 
a estação de recalque de Edgard de Souza, situada a montante 
de Pirapora. Essas duas barragens fazem com que o rio Tie-
tê flua de jusante para montante, penetrando no rio Pinhei-
Figura 8 – A estação de recalque 
de Edgard de Souza
Figura 9 - Barragem de Pedreira 
ou do Rio Grande
Figura 10 – Miller 
Lash, presidente de 
1925 a 1941
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
148
ros que também flui de jusante para montante pela ação das 
elevatórias de Traição e Pedreira implantadas no período 
1938-1940, alimentando a represa de Billings e daí o reservatório 
da barragem de Rio Das Pedras. 
A barragem de Pedreira ou do Rio Grande é constituída por dois 
aterros hidráulicos, um em cada lado das estruturas de concreto da 
estação de recalque, com 25 m de altura e contendo um diafragma de 
concreto armado central que vai das fundações até o nível d’água má-
ximo normal do reservatório de Billings. O diafragma, além de ser um 
elemento impermeabilizante, foi também concebido como “protec-
tion against burrowing animals and ants” (proteção contra roedores 
e formigas) como afirmou Billings em palestra realizada em Lon-
dres em 1936. Além dessa barragem, o reservatório de Billings é 
fechado por outras 13 barragens ou diques, quatro dos quais feitos 
como aterros hidráulicos e os restantes por transporte animal e com-
pactação apenas pelo tráfego das carroças. As águas estocadas na 
represa de Billings acessam o reservatório da barragem de Pedras 
situada na crista da serra do Mar onde o rio das Pedras inicia uma 
sucessão de cachoeiras e corredeiras em direção à Baixada Santista. 
A barragem de Pedras é uma estrutura de concreto em arco gravida-
de com 35 m de altura concluída em 1926, represando as águas na 
elevação 728,50 m. O Projeto da Serra era concluído pela condução 
das vazões com 710 m de queda bruta para as casas de força de 
Cubatão, a céu aberto com oito unidades no total de 661 MW, e 
Henry Borden, subterrânea, com seis unidades idênticas de 88 MW 
Figura 11 – Sir Herbert Couzens, 
presidente de 1941 a 1944
Figura 13 - A. Gallotti, último presidente da Light 
envolvendo Rio de Janeiro e São Paulo (1965 a 1974)
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
149
cada. Todas unidades são com turbinas Pelton. A usina de Henry 
Borden era a ampliação da usina de Cubatão. A instabilidade natural 
das encostas da Serra do Mar foi um dos fatores para que Karl 
Terzaghi recomendasse que a casa de força de Henry Borden 
fosse subterrânea.
Dignas de nota são as unidades das elevatórias de Traição e Pedreira 
que foram as primeiras unidades reversíveis a serem instaladas no mun-
do, seguidas pelas quatro unidades da elevatória de Vigário, instaladas 
pela Rio Light em 1953.
Nos anos recentes, por imposições ambientais, o bombeamen-
to para o reservatório de Billings foi praticamente suprimido, 
sendo restrito a ocasiões de ocorrência de precipitações intensas 
com o objetivo de minimizar as consequências das enchentes 
na cidade de São Paulo e no vale do rio Tietê. Houve, portanto, 
perda de geração do Projeto da Serra que tanto progresso 
garantiu a São Paulo.
Figura 12 - Seção transversal da 
elevatória de Traição
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
150
151
Figura 1 – Barragem 
de Macabú
As Barragens do Departamento 
Nacional de Obras de 
Saneamento - DNOS
Paulo Poggi Pereira
A origem
O Departamento Nacional de Obras de Saneamento - DNOS foi 
um órgão federal que, entre 1940 e 1990, construiu obras hidráu-
licas para diversos fins em todo o Brasil, incluindo grande número 
de barragens. Ele originou-se de uma comissão, criada em 1933, 
para o saneamento da baixada fluminense, cujos extensos alagadi-
ços formavam um ambiente favorável à procriação de mosquitos 
transmissores da malária, que na época era doença endêmica na 
região em torno da cidade do Rio de Janeiro. Os trabalhos se des-
tinavam a drenar as terras e protegê-las contra inundações, prin-
cipalmente mediante abertura de canais e construção de diques. 
A ênfase no objetivo sanitário levou, em certos casos, a dimensio-
nar a drenagem apenas para escoar as águas da chuva em um prazo 
que impossibilitasse a reprodução dos mosquitos e permitisse a 
utilização da terra para criação de gado, que na época era a principal 
atividade econômica da região. Com a redução da população de 
mosquitos a malária foi erradicada a ponto de muitas pessoas não 
saberem hoje que ela existiu. 
Por outro lado, após a Segunda Guerra Mundial, os municípios da 
Baixada Fluminense permitiram a urbanização destas terras com 
loteamentos inadequados, que não levaram em conta a vulnerabili-
dade a inundações de parte da área, o que faz com que hoje muitos 
logradouros, moradias e empresas sejam periodicamente inundados.
Em 1940 a Comissão para o Saneamento da Baixada Fluminen-
se, em grande parte devido à atuação de seu diretor, Engenheiro 
Hildebrando de Araujo Góes, foi transformada no Departamento 
As Barragens do Departamento 
Nacional de Obras de 
Saneamento - DNOS
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
152
Nacional de Obras de Saneamento, que continuou trabalhando 
ativamente na Baixada, mas estendeu sua atuação para todo 
o território nacional. 
A partir de 1944 o DNOS foi encarregado de construir barra-
gens para usinas hidroelétricas, apoiando programas de eletrifi-
cação dos estados; naquela época ainda não existia a Eletrobras 
nem outro organismo com a atribuição de aplicar recursos 
federais em eletrifi cação.
Depois foram sendo atendidas solicitações para construção de bar-
ragens de outras fi nalidades, o que fez do DNOS, ao longo de seus 
50 anos de existência, a entidade nacional que construiu barragens 
com a maior diversidade de funções.
Nos itens seguintes são apresentadas informações sobre estas barra-
gens, reunidas de acordo com suas fi nalidades, e ao fi nal será descrita 
sumariamente a sistemática utilizada para realizar os trabalhos de 
construção e a atuação dos engenheiros que lideraram o DNOS.
Hidroeletricidade
Quando acabou a Segunda Guerra Mundial o DNOS começou a 
construir barragens do programade eletrificação do estado do 
Rio Grande do Sul, passando depois a atuar em outros estados. 
O Quadro 1 apresenta a localização e as características principais 
destas obras. Com uma única exceção todas elas foram feitas de 
con creto, aproveitando o fato de que os locais de implantação eram 
ro chosos, com boas condições de fundação para barragens deste tipo.
A primeira barragem de grande porte foi a de Capingui, concluída 
em 1949; é do tipo arco-gravidade, construída em concreto sim-
ples com relativamente pouco cimento. Não se dispunha de areia 
adequada no local nem muita experiência neste tipo de concreto 
na época; face à necessidade de cumprir prazos, o concreto desta 
primeira obra não foi feito com a necessária impermeabilidade,
tendo sido impermeabilizado posteriormente mediante injeções 
de calda de cimento.
Duas destas barragens foram feitas com concreto ciclópico, con-
feccionado com brita de granulometria pouco mais graúda do que 
o normal no qual, logo após seu lançamento e durante sua vibração, 
os operários colocavam manualmente pedras de mão. Era difícil 
fi scalizar os trabalhos de modo a garantir a correta colocação das 
pedras de mão; por este motivo, em todas as outras obras foi 
utilizado equipamento capaz de preparar e colocar concreto feito 
com agregados maiores, e não foram adicionadas as pedras de mão.
Uma vez que as tensões que ocorrem numa barragem tipo gravida-
de, não muito alta, são pequenas, não exigindo grande resistência, 
adotou-se dosagens modestas, não mais que 200 kg de cimento 
por m3, para fazer frente ao alto custo do cimento na época, 
e evitar que o aquecimento que ocorre durante sua hidratação 
aquecesse o concreto além do limite aceitável, o que poderia resultar 
na abertura de trincas no maciço; com este mesmo objetivo limita-
va-se a espessura de cada camada de concreto colocada durante a 
construção, havendo casos em que foi de apenas um metro. 
Uma providência necessária nas obras feitas no planalto do 
Rio Grande do Sul foi interromper a concretagem quando a 
temperatura ambiente ficava muito próxima de zero graus 
centígrados, porque o cimento poderia ter sua pega prejudi-
cada pelas temperaturas excessivamente baixas.
Como de costume, ocorreram problemas técnicos imprevistos nas 
obras, os quais foram sendo resolvidos pelos engenheiros do órgão. 
Uma solução interessante foi a estabilização provisória do teto 
de um túnel que tinha 1200 m de extensão e seção circular com 
9,00 m de diâmetro após ser revestido. A rocha local era basalto, 
bastante resistente, mas com fi ssuras. Alguns dias após a escavação 
de alguns metros do túnel, soltavam-se blocos de rocha do teto, 
o que eventualmente acidentou alguns operários. 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
153
Figura 2 – Barragem de Glicério
A solução encontrada foi implantar uma abóbada de concreto 
simples bombeado, apoiando o teto nas paredes laterais, algumas 
horas após a abertura de cada trecho de túnel. Nos Estados Unidos 
eram realizadas estabilizações deste tipo perfurando a rocha do 
teto do túnel e introduzindo nos furos hastes metálicas especiais, 
chamadas roof bolts, que prendiam os blocos de rocha superficiais 
à rocha mais distante da superfície da escavação. O sistema emprega-
do evitou colocar os operários em risco perfurando o teto do túnel, 
dispensou a importação de roof bolts, foi executado com equipamento 
e material disponível na obra, e funcionou perfeitamente, impedindo 
quaisquer outros desabamentos.
Uma novidade tecnológica que o DNOS precisou enfrentar foi a 
construção da barragem de Ernestina, que consistia em um muro 
vertical de concreto protendido, engastado na rocha de fundação.
O projeto foi proposto como variante, na concorrência para 
execução da obra, pela empresa Estacas Franki, cujo diretor técnico 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
154
Figura 3 - Seção transversal 
da barragem de Pedra
à época era o professor Costa Nunes, que foi ao longo de toda a 
vida um grande engenheiro entusiasta de tecnologia de ponta.
A barragem foi construída pela empresa proponente e funcionou 
adequadamente, mas este tipo de obra nunca mais foi adotado, 
preferindo-se sempre soluções mais simples e menos ousadas. 
Com exceção da barragem de Canastra, que foi construída em 
contrafortes sustentando lajes planas de concreto armado, todas 
as demais obras para hidroeletricidade foram do tipo gravidade, 
construídas em concreto simples.
A única barragem mais sofisticada foi a de Pedra, no Rio de Contas, 
na Bahia, uma estrutura tipo gravidade aliviada, com uma altura 
máxima de 65 m a partir da fundação rochosa.
O projeto original desta obra previa um maciço de enrocamen-
to apoiado em fundação de areia, com uma delgada camada de 
britas e pedras arrumadas separando o enrocamento da areia 
da fundação. O diretor geral do DNOS na época, Engenheiro 
Camilo de Menezes, ficou compreensivelmente apreensivo com 
relação à solução dada para a fundação; comentou que só ficaria 
tranqüilo se o projeto previsse a remoção da areia e a colocação 
do enrocamento diretamente sobre a rocha subjacente. Como não 
havia condições para alterar o projeto, foi admitida a apresentação 
de variantes na concorrência para execução da obra, e venceu a 
barragem tipo gravidade aliviada.
Em 1973 o DNOS encerrou suas atividades na construção de 
barragens destinadas a hidroeletricidade, uma vez que já existia 
entidade federal com a incumbência específica de promover a ele-
trificação do país. Na última obra de que participou, barragem de 
Passo Fundo, o DNOS ficou encarregado apenas da orientação 
 técnica e da fiscalização das obras, provindo os recursos da Eletrobras 
e do governo do estado do Rio Grande do Sul. 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
155
Figura 4 – Barragem de Pedra
Abastecimento de água a cidades
O Quadro 2 relaciona as barragens construídas pelo DNOS para 
abastecer cidades, informando a localização das mesmas, suas 
características e os anos de conclusão das obras; algumas delas 
têm características interessantes.
A Barragem do Rio das Velhas, integrante da tomada d’água 
do sistema adutor construído pelo DNOS para abastecer 
Belo Horizonte, Minas Gerais, é de concreto armado, dotada de 
comportas, e tem fundação em terra. Sua característica mais marcante 
é a calha do rio ter sido bifurcada em duas alças mediante dragagem; 
a duplicação destina-se a ter uma alça conduzindo lentamente água 
para ser captada, enquanto na outra alça vão sendo removidos os 
sedimentos que se depositaram enquanto ela esteve em operação, 
e escoam para jusante as vazões excedentes do rio.
As barragens de Riachão e Pacoti formam um único reservatório, 
que regulariza a contribuição do Rio Pacoti, a qual é depois aduzida 
por gravidade, através de um túnel, ao reservatório que abastece 
Fortaleza, Ceará. O sangradouro é do tipo labirinto, formado por 
um muro vertical engastado em uma laje horizontal ancorada na 
rocha de fundação; o sangradouro foi localizado, no único local 
da área onde existe rocha a profundidade adequada, ponto este 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
156
Figura 5b – Usina hidroelétrica de Passo Fundo - condutos forçados
Figura 5a – Usina hidroelétrica de Passo Fundo - casa de força e adução
encontrado através de uma extensa, porém simples, pesquisa 
realizada por sondagens a percussão. Aproveitando a existência de 
rocha de boa qualidade no local, dispensou-se o revestimento do 
canal de restituição, deixando-se a água escoar pelo terreno após 
seu vertimento, só tomando precauções para impedir que a água 
se aproximasse do maciço da barragemdo Pacoti.
A barragem de Juturnaíba, no rio São João, fornece água para 
abastecimento das cidades da Região dos Lagos, no Estado do 
Rio de Janeiro. Da mesma forma que a barragem acima 
mencio nada, ela foi projetada após uma campanha de furos de 
sondagem a percussão, realizados ao longo do eixo previsto para 
a obra, com o objetivo de conhecer os locais onde havia rocha 
subjacente. Só foi encontrada rocha em uma pequena ilha, na qual 
foi então implantado o sangradouro em labirinto, a tomada d’água 
e a descarga de fundo, obras estas realizadas em concreto, com fun-
dação em rocha. O restante da barragem foi construído em terra, 
sobre fundação de argila mole.
Irrigação
O grande sucesso do DNOS em matéria de irrigação foi o projeto 
que irriga aproximadamente 15.000 hectares de arroz no município 
de Camaquã, no Rio Grande do Sul. A barragem do Arroio Duro 
fornece água para essa irrigação; com base no volume acumulado, 
é avaliada, em cada ano, a área que pode ser irrigada, autorizando-
se então o respectivo plantio. A barragem é de terra, com funda-
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
157
ção também em terra. Para controlar as infiltrações na fundação, 
além de outros cuidados habituais, o projeto previu uma cortina 
delgada de solo-cimento para vedação e um filtro instalado em 
uma trincheira situada no pé do talude de jusante, que recolhe-
ria as infiltrações, caso a cortina não funcionasse adequadamente. 
Algumas medições de pressão intersticial na fundação, realizadas 
após a entrada em operação da obra, não indicaram funcionamento 
adequado da cortina de vedação, mas a barragem não apresentou 
nenhum problema, graças ao bom funcionamento do filtro. 
Quando foi projetada a barragem de Juturnaíba, mencionada no 
ítem sobre abastecimento urbano, planejou-se implantar irrigação 
de hortigranjeiros em uma área localizada na margem esquerda 
do canal do rio São João, imediatamente a jusante da barragem. 
Esta área podia ser abastecida de água por gravidade, a partir da barra-
gem, e sua cota era suficientemente alta para ter boa drenagem, o que é 
indispensável para evitar a salinização do solo. Quando estavam termi-
nando as negociações com uma cooperativa, para implantar o projeto, 
foi desapropriada uma área de mais de 20.000 ha para formar a reserva de 
mico-leão dourado de Poço d’Antas; esta desapropriação incluiu a área 
onde se previa o projeto de irrigação. Foi solicitada a sua liberação, 
mediante substituição por outra área equivalente para compor a 
reserva, mas este pedido não foi atendido, abortando assim o proje-
to de irrigação. Alguns anos depois os jornais noticiaram a chegada 
de mico-leões dourados importados da Flórida, Estados Unidos, 
para povoar a reserva de Poço D’Antas. A atual contribuição da 
barragem para irrigação resume-se em disponibilizar água para os 
fazendeiros que quiserem irrigar suas plantações captando água 
no rio São João, a jusante da barragem. 
Entretanto, com o crescente desenvolvimento de Cabo Frio e 
outras cidades litorâneas, o reservatório de Juturnaíba tornou-se 
fundamental para abastecimento urbano de água na denominada 
Região dos Lagos do Estado do Rio.
O Quadro 3 relaciona as barragens construídas pelo DNOS 
para irrigação, e informa suas localizações, características e 
ano de conclusão.
Controle de cheias
As primeiras barragens para controle de cheias do DNOS foram 
construídas no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, para proteger 
Blumenau e outras cidades do Vale.
Iniciou-se pela Barragem Oeste, em concreto gravidade, para 
depois construir em terra a Barragem Sul e finalmente a 
Barragem Norte; o DNOS não terminou a construção desta 
última, mas o Estado de Santa Catarina a concluiu em 1992 e 
ela está funcionando a contento.
Infelizmente os locais onde podiam ser construídas barragens 
naquele vale não possibilitavam controlar a maior parte da bacia 
contribuinte. Terminou sendo necessário complementar as barragens 
com dragagem do rio Itajaí a jusante de Blumenau, para abaixar 
satisfatoriamente o nível d’água naquela cidade. Infelizmente o 
DNOS foi extinto antes de completar esta dragagem, que só foi 
executada entre as cidades de Blumenau e Gaspar, sem beneficiar 
esta última cidade nem a área a jusante da mesma.
Outras barragens para controle de cheias foram as de Tapacurá, 
Goitá e Carpina, na bacia do Rio Capibaribe, no Estado de 
Pernambuco. Tapacurá é utilizada também para fornecer água 
destinada ao abastecimento de Recife, e Goitá é utilizada para 
reter vinhoto, sub-produto malcheiroso da indústria de cana de 
açúcar, que é liberado somente quando as vazões do rio Capibaribe 
aumentam a ponto de serem capazes de diluir e dar escoamento ao 
vinhoto sem criar problemas ambientais.
O controle de cheias de Recife incluiu, além das barragens, a cana-
lização do rio Capibaribe na área urbana daquela cidade; o rio teve 
sua capacidade aumentada mediante regularização e alargamento 
de sua calha, e substituição de duas pontes, relativamente curtas, 
por outras de maior vão. Estas obras aumentaram a capacidade da 
calha, possibilitando não só escoar sem extravasamento as vazões 
provenientes da área da bacia contribuinte não controlada pelas 
barragens, como também operar as mesmas liberando vazões 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
158
Figura 6 – Barragem e diques de Tapacurá
relativamente grandes, retendo em seus reservatórios apenas uma 
fração da cheia condizente com a capacidade dos mesmos.
Algumas outras barragens do DNOS fazem controle de cheias 
como objetivo secundário, sendo o caso das barragens de Pedra, 
Pampulha, Flores, Passaúna e Juturnaíba.
A última barragem de controle de inundações construída pelo 
DNOS foi Arroio Gontam, na cidade de Bagé, RS, concluída em 
1982. Trata-se de uma barragem de concreto simples tipo gravi-
dade, cujo reservatório só enche quando ocorrem chuvas fortes, 
retendo os deflúvios e liberando-os aos poucos, evitando assim, 
inundações a jusante. A característica especial desta obra é o fato 
do reservatório estar situado em terras do Exército, que permitiu 
sua eventual inundação, para evitar enchentes na cidade.
O Quadro 4 relaciona as barragens construídas pelo DNOS 
para controle de cheias e informa suas localizações, características 
e ano de conclusão.
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
159
Figura 7 – Barragem e Sangradouro de Arroio Duro
Figura 8 – Barragem de Carpina 
Finalidades diversas
O Quadro 5 relaciona barragens construídas com finalidades 
diversas, informando suas localizações, características técnicas e 
ano de conclusão; nos parágrafos abaixo menciona-se a fi nalidade 
das mesmas e acrescenta-se alguns detalhes.
A mais importante destas barragens é a do Canal São Gonçalo, 
o qual drena a Lagoa Mirim, situada no extremo sul do Brasil e é 
partilhada com o Uruguai. Esta lagoa é usada intensivamente como 
fonte de água para irrigação de arroz em ambos os países, e, du-
rante a estiagem, frequentemente entrava água salgada do oceano 
na lagoa, pelo Canal de São Gonçalo, prejudicando a irrigação.
C I N Q U E N T A A N O S D O C O M I T Ê B R A S I L E I R O D E B A R R A G E N S
160
Após entendimentos com a República do Uruguai, o Governo 
incumbiu o DNOS de construir uma barragem para impedir 
a entrada de água salgada na Lagoa. A barragem foi localizada a 
montante da cidade de Pelotas, de modo a não interferir no acesso 
marítimo àquela cidade, mas a curta distância, para permitir fácil 
captação e adução de água doce para abastecimento de Pelotas e 
do porto de Rio Grande; o grande desenvolvimento que aconte-
ceu recentemente nesta última cidade aumentou a importânciada 
disponibilidade garantida de água doce criada pela barragem. 
O projeto previu uma eclusa, para permitir a continuação da navegação 
fluvial; uma fábrica de cimento situada em Porto Alegre é abastecida com 
matéria prima vinda do Uruguai em barcaças que passam pelo Canal.
O barramento é de pequena altura, e atravessa o canal, com 231 m 
de comprimento. A barragem é constituída por uma estrutura de 
concreto com uma cortina profunda de concreto armado, engastada 
em fundação de areia e cascalho, no topo da qual foram instaladas 
comportas basculantes. Em cota um pouco mais alta há uma passarela 
onde estão instalados mecanismos de comando das comportas. Quando 
necessário, as comportas são abertas para deixarem escoar o eventual 
excesso de água da Lagoa Mirim, e são fechadas na estiagem para 
impedir que a água salgada do Oceano Atlântico penetre na Lagoa. 
Para executar a obra foi aberto um canal de desvio com 120 m de 
largura e a calha do rio foi inteiramente aterrada no local previsto 
para a barragem. Após a conclusão dos trabalhos a areia usada para 
o aterramento foi retirada completamente e o canal de desvio foi 
reaterrado. A região é aluvionar, e, por causa disso, houve 
empenho em construir a obra exatamente na calha do rio, uma vez 
que qualquer mudança de posição poderia provocar divagações do 
leito do rio com graves conseqüências. 
Outra barragem que impede a salinização de manancial de água 
doce é a do rio Pericumã, ao lado da cidade de Pinheiro, Maranhão; 
existe ali uma área alagada, onde é obtida água para o abasteci-
mento da cidade, criação de gado e irrigação; o alagado também 
é utilizado para navegação. 
Periodicamente ocorrem grandes estiagens, que resultam em 
retração da lâmina d’água do alagado e intrusão de língua salina 
proveniente do oceano, prejudicando ou interrompendo as 
utilizações de água acima mencionadas.
A barragem possui comportas que são fechadas por ocasião das 
estiagens, mantendo o espelho d’água, impedindo a penetra-
ção da língua salina e garantindo a disponibilidade de água doce. 
Para manter a navegação, um dos dissipadores de energia das 
comportas funciona também como eclusa, possibilitando o acesso 
de embarcações vindas do mar até a cidade de Pinheiro.
A barragem do Canal da Flecha tem como finalidade controlar o 
nível da água na Lagoa Feia, que recebe a contribuição de grande 
parte dos rios e canais da planície existente entre a margem direita 
do rio Paraíba do Sul e o mar, na região de Campos – Rio de Janeiro; 
esta lagoa integra a drenagem da área, mas serve também como fonte 
de água para irrigação, o que torna importante controlar seu nível.
A barragem de Chapéu D’Úvas controla parcialmente as cheias do 
rio Paraibuna e aumenta a vazão de estiagem do rio, o que propor-
ciona um acréscimo de energia firme em cinco usinas hidroelétricas 
existentes a jusante, além de aumentar a disponibilidade de água 
para o abastecimento de água de Juiz de Fora, MG.
A pequena Barragem de Santa Lucia foi construída na zona urbana 
de Belo Horizonte, com a dupla finalidade de controlar as cheias do 
rio Leitão e reter seus sedimentos. Os movimentos de terra realizados 
na bacia do rio Leitão, durante a urbanização da mesma, produziam 
muitos sedimentos que assoreavam a calha do rio, prejudicando seu 
escoamento. Esses sedimentos passaram a ficar retidos no reservató-
rio da barragem de Santa Lúcia; depois de alguns anos, o reservató-
rio da referida barragem ficou completamente assoreado. Por outro 
lado, ao longo destes anos a urbanização ficou mais consolidada e 
diminuiu a produção de sedimentos que causavam problemas.
A barragem que existia na Pampulha, em Belo Horizonte, MG, 
rompeu por erosão interna em 1954, e o DNOS a reconstruiu. Suas 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
161
finalidades são recreação, lazer e paisagismo, e realiza também con-
trole de cheias, amortecendo as vazões do rio Pampulha, que correm 
paralelamente à pista do aeroporto da cidade a jusante da barragem.
A Barragem Mãe D’Água foi construída para fornecer água para o 
laboratório do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul.
A barragem do Flores, que é um afluente do rio Mearim, controla 
parte das vazões que escoam pelo rio Mearim, ajudando a diminuir 
as enchentes que inundam a cidade de Bacabal e pode ser usada 
para aumentar a vazão do rio Mearim durante a estiagem, facilitando 
assim a navegação; além disso, fornece água para irrigação.
A organização dos trabalhos
A construção das barragens sempre foi realizada por empresas em-
preiteiras, mas nos primeiros 25 anos de construção de barragens os 
trabalhos de fiscalização, incluindo a locação, medição e controle de qua-
lidade das obras, foram realizados por funcionários do próprio DNOS.
As instalações para construção de cada barragem incluíam um 
conjunto de casas onde ficavam alojados o engenheiro residente, 
o topógrafo, o laboratorista e os demais funcionários. 
Tendo em vista que as atividades do DNOS se desenvolviam em pra-
ticamente todos os estados da Federação, e face à precariedade do 
Departamento dos Correios e Telégrafos (DCT) e do sistema telefô-
nico, existentes na época, o DNOS montou uma rede de rádio que 
chegou a ter 50 estações, para comunicação entre seus escritórios. 
Havia estações de rádio nas barragens e outras obras importantes, 
que tinham assim possibilidade de comunicação diária com os 
escritórios regionais e mesmo com a sede do órgão, no Rio de Janeiro. 
Sempre foi uma preocupação dos dirigentes promover a capa-
citação dos engenheiros do órgão, para que pudessem cumprir 
adequadamente suas tarefas. Neste sentido recorreram, entre ou-
tras entidades, ao IPT de São Paulo, para proporcionar estágios em 
seus laboratórios de solos e concreto, ao US Bureau of Reclamation 
dos Estados Unidos e até mesmo à UNESCO.
Nos seus últimos 15 anos de atividade o DNOS passou a con-
tratar empresas para realizar os trabalhos técnicos de controle da 
construção de barragens. Os engenheiros do órgão passaram a 
fiscalizar o trabalho das consultoras que realizavam os trabalhos 
topográficos, de laboratório, de controle dos serviços, etc.
Em pelo menos duas obras, a empresa consultora procurou evitar 
relacionamento entre seus engenheiros e os engenheiros da empre-
sa construtora, proibindo inclusive que fizessem refeições juntos. 
Não se sabe se esses cuidados eram realmente necessários, mas 
ambas as barragens ficaram em excelentes condições.
A orientação técnica do DNOS foi muito influenciada pelo 
Engenheiro Otto Pfafstetter, funcionário do órgão, autor de muitos 
projetos de obras importantes, podendo-se citar as barragens En-
genheiro José Batista Pereira, Tapacurá e São Gonçalo. Foi autor de 
importantes trabalhos técnicos, como o livro “Chuvas Intensas no 
Brasil”. Outro trabalho muito interessante dele foi um sistema para de-
signação de número de registro de trechos de cursos d’água, destinado 
à organização de cadastro nacional de cursos d’água; esta numeração 
parte da foz dos rios e segue para montante, ao invés de partir das 
cabeceiras, as quais, muitas vezes, são de difícil definição. Este sistema 
não é utilizado no Brasil, mas meia dúzia de outros países o adotaram.
Sendo o DNOS um órgão nacional, seus engenheiros tinham que 
viajar com freqüência, quase sempre de avião, face às grandes 
distâncias a percorrer e à deficiência das estradas. Antes da adoção 
de motores a jato e equipamentos modernos para voo por 
instrumentos aconteciam muitos acidentes. 
O primeiro deles foi com José Maia Filho, morto em 1950 ao 
regressar de uma viagem para contato com a Administração 
Central do DNOS, em um avião Constellation da VARIG, que bateu 
em um morro tentando pousar em Porto Alegre com pouca visibi-lidade. Ele dirigia o Distrito do Rio Grande do Sul, e seu nome foi 
dado a uma barragem que o DNOS construiu naquele estado.
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
162
Figura 9 - 
Hildebrando de 
Araújo Góes, primeiro 
Diretor do DNOS 
Figura 10 - Engenheiro 
Camilo de Menezes, 
Diretor-Geral 
do DNOS de 
1946 a 1961
Muitos anos depois houve um abaixo assinado pedindo para dar 
o nome do Diretor de Obras do DNOS na época, engenheiro 
Raimundo Cláudio Correia Leitão a uma barragem que ia ser constru-
ída no estado onde ele havia nascido. O Diretor Geral encaminhou 
o assunto ao homenageado, que respondeu escrevendo que prefe-
ria continuar vivo, uma vez que há uma lei proibindo dar nome de 
pessoas vivas a obras do governo. O Diretor-Geral solicitou que o 
arquivo lhe remetesse os documentos referentes a este assunto de 
volta, após passado um ano, como às vezes fazia. Antes de trans-
correr um ano o engenheiro Leitão, a quem se queria homenagear, 
morreu num desastre de avião em serviço. Foi então dado o seu nome 
à barragem, conforme havia sido solicitado.
Os Gestores 
O primeiro Diretor do DNOS foi Hildebrando de Araújo Góes, 
que assumiu a chefia da Comissão de Saneamento da Baixada 
Fluminense na sua fundação em 1933, e promoveu sua transfor-
mação em Departamento Nacional de Obras de Saneamento em 
1940, quando Getúlio Vargas era Presidente da República. Dirigiu o 
órgão até o ano de 1946, quando foi ser prefeito do Rio de Janeiro, 
que na época era a capital federal. Ele estabeleceu o sistema de 
trabalho pelo qual as obras eram executadas por empresas, em 
vez de serem construídas por administração direta, como fazia o 
Departamento Nacional de Obras contra as Secas naquela época. 
Os funcionários do DNOS orientavam e fiscalizavam os trabalhos, 
fazendo inclusive os levantamentos topográficos necessários para 
isto. Como a grande maioria das empresas não dispunha de esca-
vadeiras para abertura de canais, o DNOS começou a adquirir este 
equipamento e contratar sua operação com empreiteiros.
Camilo de Menezes, engenheiro do órgão, foi o Diretor-Geral 
seguinte, tendo ficado 15 anos no cargo. Expandiu as atividades do 
DNOS para quase todos os Estados e enfrentou com sucesso o 
desafio da construção de grande número de barragens, com 
problemas tecnológicos ainda pouco conhecidos no país. Após 
deixar a direção do DNOS, foi presidente da CHEVAP e diretor da 
Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense.
Uma característica comum aos dois primeiros diretores foi 
continuar estudando assuntos de engenharia enquanto exerciam 
a direção do órgão.
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
163
Figura 11 - Geraldo 
Bastos da Costa Reis, 
Diretor Geral 
do DNOS
Em 1961 o presidente Jânio Quadros nomeou Diretor Geral do 
DNOS o engenheiro do DNER Geraldo Bastos da Costa Reis, com 
a missão de transformar o órgão em autarquia, o que conseguiu fazer 
apesar da renúncia de Jânio Quadros. 
Um aspecto interessante de sua gestão foi a compra de 200 esca-
vadeiras marca Nobas, da Alemanha Oriental, ao preço total de 
sete milhões de dólares, pagos em café. Faziam parte da compra 
peças sobressalentes no valor de um milhão de dólares. Estas 
máquinas prestaram bons serviços de 1964 até a extinção do 
DNOS em 1990, necessitando como grandes reparos apenas a 
substituição periódica dos motores quando acabava sua vida útil e 
a recomposição da mesa sobre a qual girava o conjunto formado 
pela cabine e a lança. Provavelmente o fabricante das máquinas não 
empregava técnicas de obsolescência programada. 
Após a revolução de 1964 sucederam-se na direção do órgão qua-
tro diretores que ficaram pouco tempo, sendo três deles militares. 
Em 1967 assumiu o cargo Carlos Krebs Filho, engenheiro do DNOS 
que imprimiu notável organização aos trabalhos. Fez com que as 
obras e serviços executados para o órgão fossem pagos na ordem 
cronológica da apresentação das respectivas medições e faturas 
na tesouraria. Na sua gestão foram concluídas dez barragens, 
incluindo a Barragem de Pedra, no rio de Contas, estado da Bahia 
e a Barragem de Tapacurá, no estado de Pernambuco; inaugurou as 
obras da adutora do rio das Velhas, que aumentou substancialmente 
o abastecimento de água a Belo Horizonte.
Em 1974 outro engenheiro da casa, Harry Amorim Costa, assumiu a 
direção do DNOS e manteve a mesma sistemática de trabalho. Na sua 
gestão foi concluída a construção da Barragem do São Gonçalo. Deixou 
o cargo para assumir o governo do estado de Mato Grosso do Sul.
Assumiu então Jefferson de Almeida, que seria o último engenheiro 
da casa a dirigir o DNOS, o que fez com grande competência, 
ajudado por sua longa experiência como Diretor Geral Substituto. 
Na sua gestão foram concluídas as barragens de Carpina, Goitá, 
Pacoti e Riachão acima mencionadas. 
Nos governos dos presidentes João Figueiredo e José Sarney 
sucederam-se no DNOS diretores que não eram engenheiros 
do serviço público federal, mas que se dedicaram ao trabalho 
com afinco e realizaram excelentes administrações. Foram eles: 
- José Reinaldo Carneiro Tavares, em cuja gestão foram execu-
tados aterros para saneamento de favelas no Rio de Janeiro, foram 
realizadas obras de defesa contra inundações em cidades às mar-
gens do rio São Francisco e tiveram início os estudos do governo 
federal para transposição do rio São Francisco para o Nordeste 
semi-árido; saiu para ser superintendente da Sudene, depois ministro 
dos Transportes e, mais tarde, governador do estado do Maranhão; 
- Vicente Fialho, que desenvolveu atividades voltadas para 
irrigação no Nordeste e deixou a direção para ser ministro da 
Irrigação, depois ministro de Minas e Energia e deputado federal; 
- Paulo Baier, que deu prosseguimento às atividades relacionadas 
à irrigação no Nordeste e deu grande impulso às obras de controle 
de cheias no Vale do Itajaí; dirigiu o DNOS até sua extinção.
Ao tomar posse em 1990 o presidente Collor, determinou a extinção 
do DNOS. As obras e os serviços que o órgão estava executando 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
164
Figura 12 - Inauguração de uma barragem no Nordeste, vendo-se da esquerda para a direita o Gen. José Costa 
Cavalcanti, Ministro do Interior, o engenheiro Carlos Krebs Filho, Diretor-Geral do DNOS de 1967 a 1974 
e o engenheiro Jefferson de Almeida, que viria a ser Diretor-Geral do DNOS em 1978-1979
foram paralisados. Mais de cem escavadeiras de propriedade do DNOS ficaram paradas 
no campo, até enferrujar completamente no lugar onde se encontravam. O arquivo 
técnico do DNOS, que tinha perto de 40.000 desenhos de projeto de obras, foi 
entregue ao Arquivo Nacional, ficando sem condições de ser consultado. 
Muitas empresas de engenharia que estavam prestando serviços ou executando obras 
ficaram numa situação financeira dificílima. Resumindo, foi destruída uma organização 
que produzia obras e serviços extremamente benéficos e necessários, sem que fos-
se criada uma alternativa. Por sorte, somente duas barragens estavam em construção 
naquele momento: a Barragem de Chapéu D’Uvas, em Minas Gerais e a Barragem Norte, 
em Santa Catarina. Esta última chegou a ter sua vila residencial do canteiro de obras inva-
dida por índios naquela ocasião. Entretanto, graças à atuação dos estados mencionados, 
a construção dessas duas barragens foi concluída alguns anos mais tarde.
QUADRO 1 - BARRAGENS PARA HIDROELETRICIDADE
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
IVAÍ Ivaí Julio Castilhos 3.000 155 3,50 38.000 1948
IJUIZINHO Ijuizinho Santo Ângelo 1.900 150 3 58.000 1948
CAPINGUÍ Capinguí 18.800 220 22 40.000.000 1949
GUARITA
Guarita
2.000 100 4,50 51.0001949
FORQUILHA Forquilha Marc. Ramos 4.275 125 3 4.250 1949
DIVISA Divisa 22.000 239 25 20.000.000 1950
SALTO / BUGRES
Santa Cruz
31.500 600 11,50 15.000.000 1951
ERNESTINA Jacuí
Passo Fundo
Passo Fundo Muro de Concreto Protendido 8.500 400 15 250.000.000 1954
CANASTRA Canela Contrafortes / Concreto Armado 11.500 174
24
370.000 1956
SANCHURI Sanchuri Uruguaiana Terra 119.900 896 6 61.000.000 1956
JOÃO AMADO
Guarita Passo Missões
Passo Missões 5.800
200 11
10.000.000 1957
BLANG
Santa Cruz
S. F. Paula
S. F. Paula
S. F. Paula
76.500 507 17 50.000.000 1957
PASSO DO AJURICABA Ijuí Ijuí 2.800/14.000 164 9 5.000.000 1960
JOSÉ MAIA FILHO Jacuí Espumoso 57.600 432
24
10.000.000 1961
BORTOLAN Antas Poços Caldas 9.000
200 11
15.000.000 1956
ANIL Jacaré Oliveira
MG
MG
MG
800 113 8 400.000 1959
PAI JOAQUIM Araguari Sacramento 10.500 188 15 390.000 1960
MACABU Macabu Glicério RJ
Gravidade / Concreto Ciclópico
Gravidade / Concreto Ciclópico 80.000 256 539.000.000 1960
GARCIA Garcia Angelina 16.300 100 19
20
6.500.000 1962
LARANJEIRAS Santa Maria
Santa Maria
Canela 24.000 193 24,50 26.000.000 1965
PEDRA Contas Jequié BA Gravidade Aliviada / Concr. Simples 350.000 440 65 1.750.000.000 1970
FURNAS DO SEGREDO Jaguarí Jaguarí 30.000
582
3.000.000 1972
PASSO FUNDO Passo Fundo São Valentim
Gravidade / Concreto / Terra
Gravidade / Concreto / Terra 130.00/511.30 646 40
15
22
1.560.000.000 1973
XANXERÊ Chapecozinho Xanxerê
SC
SC
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
Gravidade / Concreto Simples
42.700 505 17.700.000
......ITÚ ItaquíItaquí
RS
RS
RS
RS
RS
RS
RS
RS
RS
RS
RS
RS
RS
RS
RS
RS
RS
RS
35.000
582 22
80.000.000
......
NOME
LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS
CURSO 
D'ÁGUA MUNICIPIO UF TIPO / MATERIAL
VOLUME DO 
MACIÇO(m³)
EXTENSÃO 
COROAMENTO 
(m)
ALTURA 
MÁXIMA 
(m)
ACUMULAÇÃO 
RESERVATÓRIO 
(m³)
Nº
ANO DE 
CONCLUSÃO
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
165
QUADRO 2 - BARRAGENS PARA ABASTECIMENTO URBANO
QUADRO 3 - BARRAGENS PARA IRRIGAçãO
QUADRO 4 - BARRAGENS PARA CONTROLE DE CHEIAS
QUADRO 5 - BARRAGENS COM FINALIDADES DIVERSAS
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
BATATÃ Batatã São Luís MA 390.000 485 17 4.500.000
PRETO DO CRICIUMA Rio Preto Jequié BA Arco Gravid. / Concreto Ciclópico 104
SANTA BÁRBARA Santa Bárbara Pelotas RS Terra Homogênea 196.000 715 10
10
16.000.000
RIO DAS VELHAS Velhas Nova Lima MG Enrocamento 500 100 1,5
RIO DAS VELHAS II Velhas Nova Lima MG Concreto Armado 12.000 42 9 165.000
MAESTRA Maestra Caxias do Sul RS Terra Zoneada 430.000 295 28 5.500.000
VACACAÍ MIRIM Vacacaí Mirim Santa Maria RS Terra Homogênea 1.350.000 300 28,3 5.450.000
VAL DE SERRA Ibicuí Santa Maria RS Concreto Armado 3.340 438 15 2.800.000
TAPACURÁ Tapacurá São Lourenço PE Gravidade / Concreto Simples 105.000 320 35 167.000.000
RIO DAS VELHAS III Velhas Nova Lima MG Concreto Armado 7.000 42 9 186.000
PACOTI Pacotí Pacatuba
Terra
Terra
Terra
2.950.360 1595 30 370.000.000
RIACHÃO Riachão Pacatuba CE
CE
Terra
1.264.440 650 30 70.000.000
JUTURNAIBA São João Silva Jardim RJ
Terra
1.900.000 3.800 12 126.000.000
XARÉU Água Pluvial Fern. Noronha PE Gravidade / Concreto Simples
****
****
****
****
****
****
****
**** ****
****
****
**** ****
PASSAÚNA Passúna Araúcária PR
1 1957
2
3 1969
4 1970
5 1970
6 1971
7 1972
8 1972
9 1973
10 1977
11 1979
12 1979
13 1979
14
15 1989
NOME
LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS
CURSO 
D'ÁGUA MUNICIPIO UF TIPO / MATERIAL
VOLUME DO 
MACIÇO(m³)
EXTENSÃO 
COROAMENTO 
(m)
ALTURA 
MÁXIMA 
(m)
ACUMULAÇÃO 
RESERVATÓRIO 
(m³)
Nº
ANO DE 
CONCLUSÃO
1 CEDRO Truçu Acopiara
CE
Gravidade / Concreto Simples 7.000 150 12 4.000.000 1955
2 CARNAUBA Carnauba Acopiara CE Gravidade / Concreto Simples 3.500 40 14 8.000.000 1956
3 RIVALDO CARVALHO Condado Catarina
CE
Gravidade / Concreto Simples 41.500 390 17 30.000.000 1965
4 ARROIO DURO Duro Camaquã RS Terra Homogênea 2.053.000 1.450 21 148.000.000 1965
5 JOSÉ BATISTA PEREIRA Ceará Mirim Poço Branco RN Terra Zoneada 1.940.000 920 45 135.000.000 1970
NOME
LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS
CURSO 
D'ÁGUA MUNICIPIO UF TIPO / MATERIAL
VOLUME DO 
MACIÇO(m³)
EXTENSÃO 
COROAMENTO 
(m)
ALTURA 
MÁXIMA 
(m)
ACUMULAÇÃO 
RESERVATÓRIO 
(m³)
Nº
ANO DE 
CONCLUSÃO
1 OESTE Itajai Oeste Taió SC
Gravidade / Concreto simples 93.000
422 25 78.500.000 1972
2 SUL Itajai Sul Ituporanga SC
Terra
758.000 438 43,50 97.500.000 1975
3 CARPINA Capibaribe Carpina PE Terra / Zoneada 2.887.000 1720 42 270.000.000 1978
4 GOITÁ Goitá Gloria do Goitá PE Gravidade / Concreto Simples 108.000 220 38 52.000.000 1978
5 GONTAN Gontan Bagé RS
Gravidade / Concreto Simples 93.000
150 16 290.000 1982
6 NORTE Hercilio Ibirama SC
Terra
1.580.000 365 63 263.000.000 1992
NOME
LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS
CURSO 
D'ÁGUA MUNICIPIO UF TIPO / MATERIAL
VOLUME DO 
MACIÇO(m³)
EXTENSÃO 
COROAMENTO 
(m)
ALTURA 
MÁXIMA 
(m)
ACUMULAÇÃO 
RESERVATÓRIO 
(m³)
Nº
ANO DE 
CONCLUSÃO
1 SANTA LÚCIA Leitão Belo Horizonte
MG Terra Homogênea
60.000 115 20 700.000 1956
2 PAMPULHA Pampulha Belo Horizonte MG
Terra Homogênea
570.000 400 15 16.000.000 1958
3
MÃE D'ÁGUA Afl. Dilúvio Viamão RS Terra Homogênea 27.000 200 9 500.000 1962
4 SÃO GONÇALO São Gonçalo Pelotas RS
Concreto Armado
13.500 218 6,20 **** 1977
5 FLEXA Canal Flexa Campos RJ Concreto Armado 3.400 130
3
**** 1980
6 PERICUMÃ Pericumã Pinheiro MA
Concreto Armado
16.800 137,5 29,4 63.000.000 1982
7 FLORES Flores Joselandia MA
Terra Homogênea
775.000.000 1988
8 CHAPÉU D'UVAS Paraibuna Juiz de Fora
MG
Terra Homogênea
2.000.000 400 43 153.000.000 1994
NOME
LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS
CURSO 
D'ÁGUA MUNICIPIO UF TIPO / MATERIAL
VOLUME DO 
MACIÇO(m³)
EXTENSÃO 
COROAMENTO 
(m)
ALTURA 
MÁXIMA 
(m)
ACUMULAÇÃO 
RESERVATÓRIO 
(m³)
Nº
ANO DE 
CONCLUSÃO
166
167
Flavio Miguez de Mello
A História da CHESF, 
Indutora do Progresso 
do Nordeste
O Nordeste na primeira metade 
do século XX
Até a entrada dos anos 50 do século XX o Brasil permanecia sendo 
um arquipélago de regiões economicamente ativas com parcas 
conexões entre si a menos da malha ferroviária que integrava a 
Região Sudeste, escassas rodovias rudimentares regionais e o trans-
porte de cabotagem que atingia o litoral mais povoado e penetrava 
pelos rios amazônicos. Neste contexto, a exemplo das diversas 
bitolas das ferrovias implantadas no país, os sistemas elétricos operavam 
em 60 Hz e 50 Hz. Nessa época, castigado pelas freqüentes secas 
resultantes de extensas estiagens o desenvolvimento do Nordeste 
era incipiente. As geradoras de energia elétrica na primeira metade do 
Século XX eram de pequeno porte e de operação precária.
Na virada do Século XIX para o Século XX já se destacava o 
potencial hidroenergético da cachoeira de Paulo Afonso na qual 
o rio São Francisco despencava com uma vazão média plurianu-
al superior a 2000 m³/s em vários braços porsobre uma espessa 
camada de rocha granítica sã. Anos antes, ainda no Século XIX, 
a imponente e magnífica queda d’água chamava atenção dos 
visitantes que para lá se deslocavam enfrentando grandes distân-
cias dos centros urbanos, atravessando com dificuldades o sertão 
nordestino. Dentre esses visitantes o de maior destaque foi o 
Imperador D. Pedro II, no dia 20 de outubro de 1859. Em meados 
do século passado a cachoeira ainda despertava admiração. 
O jornalista Alceu Amoroso Lima relatou no periódico “O Jornal” 
declarações de três estrangeiros que estiveram a admirar a 
pujança da queda d’água: um francês disse “C’est très chic”, um 
hindu exclamava “I t i s ju s t wonder fu l” e um americano 
perguntou “How much hydropower is lost here every day?”. 
Essa visão do americano foi percebida bem antes, nos primeiros 
anos do Século XX pelo inglês Richard George Reidy que requereu 
ao governo federal a concessão para exploração do potencial da 
cachoeira de Paulo Afonso para instalação progressiva de indústrias 
e serviços. O requerimento foi indeferido em 1910. Pouco após o 
engenheiro Francisco Pinto Brandão solicitou a concessão do apro-
veitamento da cachoeira para produção de energia elétrica para uma 
empresa sua a ser implantada na região com a denominação de Em-
presa Hidro Elétrica Agrícola Industrial do Brasil. O requerimento 
foi também indeferido pelo governo federal em 1913.
Foi nesse contexto que também em 1913, o cearense Delmiro 
Gouveia colocou em operação a pequena usina hidroelétrica de 
Angiquinho, com 1.500 HP (1.102 KW) para gerar energia para 
A História da CHESF, 
Indutora do Progresso 
do Nordeste
“O rio São Francisco é o mais brasileiro dos rios” 
Engenheiro Euclides da Cunha
Figura 1 – Usina de Angiquinho
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
168
sua fábrica de linhas de costuras situada na localidade de Pedra, nas 
proximidades da cachoeira de Paulo Afonso. A usina, erguida na 
cachoeira, aproveitava uma queda parcial e uma pequena parcela da 
vazão afluente. A obra foi realizada mediante concessão do estado de 
Alagoas ao abrigo do Decreto nº. 520 de 12/08/1911 de acordo com 
a Constituição Federal de 1891. Após a morte por assassinato de Del-
miro Gouveia, a produção de linhas de costura foi prejudicada, mas a 
usina permaneceu intacta, não passando de lenda o lançamento dos 
equipamentos da fábrica e da usina, pelos ingleses da Machine Cotton, 
dentro da cachoeira de Paulo Afonso. A usina permaneceu no local e 
os equipamentos da fábrica, anos depois, foram levados para São Paulo.
Antes disso, mesmo na monarquia, não houve nenhuma idéia 
de aproveitamento do potencial da cachoeira. O Imperador quando 
a visitou, não havia tecnologia para a implantação de geração 
de energia hidroelétrica. Na República, com a conhecida 
pobreza de combustíveis fósseis da época, a omissão passou 
a ser pouco compreensível.
No início dos anos vinte do século passado o Serviço Geológico e 
Mineralógico do Ministério da Agricultura efetuou um levantamento 
preliminar do potencial hidroenergético do rio São Francisco entre 
Juazeiro e Paulo Afonso que concluiu com a possibilidade de implan-
tação de grandes centrais hidroelétricas, maiores do que as existentes 
na época, mesmo em países mais evoluídos. Isto possibilitaria a irrigação 
das áreas ribeirinhas e também o início de industrialização do Nordes-
te, o que ainda não havia em outras partes do território nacional cuja 
economia era essencialmente agrícola. A equipe era constituída pelos enge-
nheiros Antonio José Alves de Souza, Jorge de Menezes Werneck, Jayme 
Martins de Souza, Mário Barbosa de Moura e Mengalvio da Silva 
Rodrigues. O levantamento foi um marco para o desenvolvimento do 
Nordeste, tendo sido efetuado em região agreste no tempo do cangaço, 
inclusive do bando de Virgulino Ferreira, o Lampião. O Serviço Geoló-
gico e Mineralógico deu origem mais tarde à Divisão de Águas, precur-
sora do Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica DNAEE 
que por sua vez, foi substituído em passado recente pelas Agências, 
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e Nacional de Águas (ANA).
No início dos anos quarenta a tendência era a de promover a 
construção de uma grande usina em Itaparica (que só se tornou rea-
lidade nos anos setenta). A partir de 1943 o ministro da Agricultura, 
Apolônio Sales, cujo Ministério incluía o Setor Elétrico comandou 
a campanha para a construção de uma hidroelétrica na cachoeira de 
Paulo Afonso. Forte oposição a essa idéia veio de diferentes áreas, 
uma das mais importantes, a capitaneada pelo engenheiro civil e eco-
nomista por vocação Eugênio Gudin com a justificativa de que os 
parcos recursos federais deveriam ser concentrados no Sudeste onde 
já havia grande demanda reprimida de energia elétrica. Apolônio Sa-
les esteve, em 1944, no Tennessee Valley Authority, autarquia americana 
implantada pelo presidente Franklin D. Roosevelt como indutora de 
desenvolvimento para a saída da grande depressão econômica que 
ocorreu a partir de 1929 nos Estados Unidos, onde coletou subsídios 
para a entidade a ser criada para atuar no vale do São Francisco no Brasil.
O desequilíbrio entre o Nordeste e o Sudeste do país passou a ser 
cada vez mais nítido, agravado pela dificuldade nos transportes que 
se faziam sobretudo por mar, mas que, durante a Segunda Grande 
Guerra, ficaram prejudicados devido aos ataques de submarinos 
alemães e italianos nas nossas águas costeiras, submarinos esses 
abastecidos por navios argentinos sob o manto de sua neutralidade. 
Esse abastecimento em alto mar foi confirmado em 1982 pelo oficial 
da marinha alemã que comandava as operações no Atlântico Sul, 
o contra almirante Jaigen Rohwer. O Nordeste ficou isolado do resto do 
país. Naquela época, após a Constituição de 1934, as concessões para 
geração de energia elétrica passaram a ser federais sob atribuição do 
Ministério da Agricultura. Em 1945, com o fim da II Grande Guerra, 
o Brasil questionava o regime de exceção do Estado Novo que havia 
marcado eleições para dezembro. O ministro Apolônio Sales, a cujo 
ministério a política de energia elétrica estava subordinada, procura-
va sensibilizar as lideranças políticas para a idéia da exploração do 
potencial da cachoeira de Paulo Afonso. O Presidente Getúlio Vargas 
comandava o Estado Novo no qual Apolônio Sales era Ministro da 
Agricultura. Há versão que narra que Apolônio Sales havia solicitado 
a Getúlio Vargas a assinatura do Decreto de criação da CHESF em 
30 de setembro por ser ele, Apolônio, devoto de Santa Terezinha, 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
169
na época, festejada naquela data (hoje é 01 de outubro). Já Apolônio 
Sales em conversa informal em 1976 com Eunápio Queiroz, então 
diretor superintendente de Sobradinho, narrou que, embora 
conhecedor de que Getúlio Vargas era agnóstico e que o dia de 
Santa Terezinha havia passado, usou o seguinte argumento – 
“Presidente, amanhã é dia de São Francisco. Ele ficará contente vendo que 
o senhor criou no Nordeste do Brasil uma companhia com o nome dele”. 
O Decreto Lei º 8.031 de criação da CHESF foi assinado no 
dia 4 de outubro de 1945, mas com data do dia anterior.
A empresa podia ser formada, mas o Estado Novo estava próximo 
do fim. Getúlio Vargas foi deposto e tomou posse como Presidente 
da República o ministro José Linhares do Superior Tribunal Federal. 
Na seqüência ocorreram eleições gerais no país, sendo o General 
Eurico Gaspar Dutra, eleito e empossado Presidente da República.
Com a posse do Gal. Dutra, o advogado Afrânio de Carvalho, 
chefe de gabinete do ministro da Agricultura, Daniel de Carvalho, 
procurou incluir como prioritários os aproveitamentos hidrelétricos 
de PauloAfonso, no Nordeste, e Cachoeira Dourada no rio Paranaíba, 
no Centro Oeste, este para suprimento do que seria a futura capital 
brasileira no Planalto Central.
Entretanto, continuava a oposição ao empreendimento hidrelétrico 
no Nordeste e à empresa criada em 3 de outubro de 1945. O mi-
nistro Souza Costa, por exemplo, afirmara que seria um desperdício 
gastar recurso no projeto. Diversos depoimentos dão conta de que 
um forte argumento que sensibilizou o general Dutra com relação 
a Paulo Afonso pode ter sido o que aventava a possibilidade de uma 
secessão do Nordeste das demais regiões do Brasil, dada a disparidade 
daquela região com as regiões Sul e Sudeste. Mantinha-se a oposição 
do agora ministro Eugênio Gudin por considerar que este tipo de 
empreendimento deveria ser feito pela iniciativa privada e que os 
investimentos em geração de energia elétrica deveriam priorizar a 
região Sudeste, que atravessava intenso racionamento e não o 
Nordeste onde nem mercado havia. Outros opositores combateram 
a idéia usando como argumento a reconhecida incapacidade gerencial 
do governo, o que seria agravado num tipo de empreendimento em 
que nunca antes havia se envolvido. Dificuldades adicionais também 
proviam do próprio ex-ministro Apolônio Sales a apoiar, no final de 
1946, a idéia de considerar como projeto definitivo um estudo extre-
mamente sumário da usina localizada no Braço da Velha. Esse fato 
originou a negativa do ministro da fazenda Correia e Castro do pedido 
de verbas para o Ministério da Agricultura para a execução do projeto. 
Superadas todas as dificuldades, no dia 15 de março de 1948, 
ou seja, quase três anos após sua criação, foi realizada a Assem-
bléia Geral de Constituição da CHESF, depois de um árduo 
trabalho, também comandado por Apolônio Sales, obtendo a 
adesão de estados e municípios do Nordeste para a integralização 
do capital da empresa.
O início da CHESF
O Presidente Dutra entregou o comando da CHESF a um profissio-
nal de reconhecida capacidade e idoneidade com total liberdade de 
indicar os demais membros da diretoria e dessa maneira, indicações 
de origem político partidárias ficaram afastadas. O Decreto 8.031 de 
03/10/1945 concedia à CHESF a exploração de um trecho de cerca 
de 500 quilômetros entre Piranhas – Alagoas no baixo rio São Fran-
cisco e Juazeiro – Bahia no sub-médio rio São Francisco. A concessão, 
também assinada no mesmo dia 3 de outubro de 1945, para transmitir 
e comercializar a energia hidroelétrica produzida em Paulo Afonso, 
definiu um círculo inicial de cerca de 450 quilômetros de raio no 
interior do qual se inseriam as capitais dos estados de Alagoas, Bahia, 
Pernambuco e Sergipe. Posteriormente esse círculo expandiu-se até 
atingir Natal – capital do Rio Grande do Norte e finalmente 
Fortaleza – capital do Ceará. No final do século XX quando entrou 
em vigor o novo modelo do setor elétrico com concessões por usina, 
por linha de transmissão e por subestação a CHESF era responsável 
por produzir e transportar energia elétrica para 8 estados do 
Nordeste (Piauí , Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, 
Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia).
Ao trecho de concessão Piranhas – Juazeiro foram acrescentados 
em 1972 mais 350 quilômetros, ainda no submédio rio São Fran-
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
170
cisco entre as cidades de Juazeiro e Xique Xique, ambas na Bahia, 
onde a CHESF construiu e opera a hidroelétrica de Sobradinho, 
resultando que entre Xique Xique (limite montante) e Piranhas 
(limite jusante) se inserem as usinas hidroelétricas de Sobradinho, 
Luiz Gonzaga (Itaparica), Apolônio Sales (Moxotó), Piloto, Paulo 
Afonso I, II, III e IV e Xingó.
Em 1948, obedecidas às orientações do Presidente Dutra, foi elei-
to Presidente da CHESF o engenheiro Antônio José Alves de 
Sousa, do Ministério da Agricultura, onde tinha sido encarrega-
do das concessões de energia elétrica. Esse engenheiro, formado 
na Escola de Minas de Ouro Preto, tinha, em 1921, no governo 
Epitácio Pessoa, efetuado um levantamento topográfico da 
Cachoeira de Paulo Afonso. Alves de Sousa assumiu o comando 
da empresa com o programa inicial de destinar o fornecimento de 
Figura 2 - Engenheiro Antônio 
Alves de Souza, primeiro 
presidente da CHESF
Figura 3 - A cachoeira de Paulo 
Afonso antes das obras da 
CHESF. Na margem esquerda 
as instalações de Angiquinho 
e no cânion a casa de força
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
171
energia exclusivamente a Pernambuco e imediatamente propôs 
estender o fornecimento a outros pontos do nordeste inclusive a 
Salvador. Graças à vigilância do governador Otávio Mangabeira, 
da Bahia, e políticos como Luiz Vianna Filho, Clemente Mariani, 
Juraci Magalhães e Pereira Lira, além de Pernambuco, os estados da 
Bahia, Alagoas e Sergipe foram beneficiados com a energia elétrica 
gerada em Paulo Afonso, logo nos primeiros meses após o início 
de operação, em fins de 1954. 
Alves de Souza compôs a sua diretoria com o coronel engenheiro 
Carlos Berenhauser Junior (diretor comercial), Adozindo Magalhães 
de Oliveira (diretor de administração) e Octávio Marcondes Ferraz 
(diretor técnico) e como consultor jurídico Afrânio de Carvalho. 
O presidente Dutra manteve a sua palavra de não interferir na com-
posição da diretoria, adotando essa postura até o final do seu manda-
to. O diretor de administração, pelo seu falecimento, foi substituído 
pelo consultor jurídico. Somente após a posse do presidente Jânio 
Quadros, em 1961, a diretoria passaria a sofrer modificações.
De início, sediada no Rio de Janeiro, a diretoria técnica, com a co-
laboração dos engenheiros Domingos Marchetti, Gentil Norberto, 
José Villela e Júlio Miguel de Freitas, passou a atuar mais diretamente, 
a partir de 1949, no próprio local das obras. Ao longo do tempo 
outros engenheiros foram incorporados à diretoria técnica como 
Hernani Gusmão, Othon Soares, Dermeval Resende, Hilton Fiú-
za de Castro, Hermínio Lorentz Kerr, Hélio Gadelha de Abreu e 
Nédio Lopes Marques. 
Entre as alternativas de projetos que foram consideradas para 
construção da usina de Paulo Afonso, foi selecionada a que previa 
uma extensa barragem de concreto de gravidade com um vertedouro 
de superfície incorporado e atravessando um arquipélago de ilhas a 
montante da cachoeira, uma adução em túneis, uma casa de força 
subterrânea e a restituição a jusante da cachoeira. A barragem Leste 
com 3117m de extensão tem sua ombreira na margem esquerda e 
atravessa o braço principal onde escoava cerca de 90% da descarga 
do rio, o braço do Quebra e o braço do Taquari, atingindo as pro-
ximidades da cachoeira. A outra parte da barragem, com 1277m 
de comprimento, atinge a margem direita atravessando o braço 
Capuxu, formando um funil num comprimento total de 4394m. 
A tomada d’água fica situada no encontro desses dois trechos da 
barragem. A adução é feita por três túneis verticais de 4,8m de 
diâmetro com joelho de 90° para alimentar três turbinas Francis 
situadas em casa de força subterrânea. A barragem atravessa diversas 
ilhas e suas comportas assinalam os braços originais do rio. São 26 
comportas de vertedouro, sendo 10 delas no braço principal, 
8 no braço Quebra, 6 no Taquari e 2 no Capuxu. O reservatório 
assim formado tem apenas 11 km² de área. 
Um aspecto a destacar foi o fato do IPT ter prestado assistência 
tecnológica à construção dessa usina, realizando ensaios de defor-
mação diametral sofrida por câmaras escavadas em rocha, quando 
submetidas a pressão interna. Estes ensaios, realizados em 1951, 
marcaram o nascimento da Mecânica das Rochas no Brasil.
Dentro da concepção original foram posteriormente executadas 
outras duas casas de força também subterrâneas denominadasPaulo Afonso II e Paulo Afonso III, passando a original a ser 
denominada de Paulo Afonso I.
Posteriormente, foi implantada mais uma usina denominada 
Paulo Afonso IV, cujo reservatório foi formado captando águas do 
reservatório de Moxotó, através de um canal artificial, transforman-
do o centro da cidade de Paulo Afonso em uma ilha, cercada por 
usinas hidroelétricas. A Usina de Moxotó, construída no início dos 
anos 70 do século passado, foi implantada a montante da bacia 
de decantação (reservatório Delmiro Gouveia), que alimenta as 
usinas de Paulo Afonso I, II e III, e é constituída de barragem, uma 
casa de força e um descarregador de fundo provido de comportas 
de segmento, constituindo-se em uma barragem móvel.
Para suprimento de energia ao acampamento e ao canteiro de obra 
da primeira usina, a CHESF contou com a geração da usina 
de Angiquinho com 1,1 MW que havia sido instalada por Delmiro 
Gouveia em 1913 e de outra pequena hidroelétrica denominada 
Usina Piloto, esta com operação iniciada em outubro de 1949, tendo 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
172
uma unidade geradora de 2,0 MW, com possibilidade de instalação 
de uma segunda máquina. A Usina Piloto foi projetada e construída 
pelos engenheiros J. Leal Corrêa e Leopoldo Schimmelpheng e 
passou a fornecer energia elétrica para a obra e seu acampamento, 
para a cidade de Glória e, complementando Angiquinho, para a 
fábrica de linhas que havia sido implantada por Delmiro Gouveia 
no povoado de Pedra (hoje cidade de Delmiro Gouveia, Alagoas). 
Em março de 1960, depois de quase 47 anos de operação, a usina 
de Angiquinho foi desativada pela CHESF, após seus equipamen-
tos terem sido danificados por uma forte enchente. O sítio desta 
usina teve seu tombamento histórico decretado pelo estado 
de Alagoas e atualmente é ponto de visitação turística na região, sob 
a administração da Fundação Delmiro Gouveia. 
Ao longo de todo o projeto e construção de Paulo Afonso I e con-
tinuando durante quatro décadas, permaneceu em operação no Cen-
tro de Formação da CHESF em Paulo Afonso, um laboratório de 
modelos hidráulicos reduzidos, de inestimável valor para as defini-
ções de projeto e construção. Atualmente, as instalações do modelo 
reduzido das usinas de Paulo Afonso podem ser vistas durante 
visitas turísticas e escolares agendadas previamente com a CHESF.
Além do capital financeiro inicialmente subscrito para formação 
da CHESF e reconhecidamente insuficiente, foram efetuados 
aumentos de capital e conseguidos empréstimos junto ao 
Eximbank, no BIRD e no Banco Nacional de Desenvolvimento 
Industrial, para permitir a construção da usina e funcionamento 
da empresa. Além da previsão insuficiente de recursos por 
parte do governo federal, ocorreu ainda pronunciada inadimplên-
cia de aportes financeiros que haviam sido assumidos por estados 
e municípios nordestinos por subscrição de ações da CHESF, 
apesar de serem esses estados e municípios os mais beneficia-
dos com a implantação da primeira usina de Paulo Afonso. Esse 
desinteresse financeiro permaneceu mesmo após a entrada 
em operação da usina. 
No início da construção de Paulo Afonso I as escavações para a im-
plantação da casa de força subterrânea foram comandadas pelo enge-
Figura 4 - Usina piloto 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
173
nheiro Domingos Marchetti, especialista em túneis. As ensecadeiras 
propostas pelo engenheiro Gentil Norberto, foram executadas sob 
a supervisão dos engenheiros Roberto Montenegro e Reginaldo 
Sarcinelli. Importante contribuição para a concepção do projeto e para a 
execução das obras foi dada pelos que trabalharam no modelo reduzido 
sob a orientação do engenheiro francês André Balança, detentor de 
profundos conhecimentos de hidráulica adquiridos na sua formação 
em Grenoble. André Balança se fixaria no Brasil até seu falecimento, 
tendo contribuído em inúmeros empreendimentos hidrelétricos, princi-
palmente através de empresas de consultoria.
A construção de Paulo Afonso exigiu a presença de milhares de 
trabalhadores e também atraiu outros milhares de pessoas que 
afluíam ao local da usina à procura de trabalho, estabelecendo-se 
ao lado do acampamento da CHESF, um crescente conjunto de 
casebres, em parte cobertos por sacos de cimento vazios surgindo 
no linguajar popular a Vila Poty e a Vila Zebu, ambas marcas de 
cimento. A CHESF participou do apoio à melhoria de vida dos 
moradores das novas vilas, contribuindo com assistência social e a implantação de recursos básicos requeridos, dentro das realidades 
da época. A vila Poty é hoje o centro da cidade de Paulo Afonso, 
uma das mais prósperas do estado da Bahia, e a vila Zebu, povoado 
do município de Delmiro Gouveia.
Os estudos hidráulicos para o barramento do rio determinaram a 
aplicação de ensecadeiras celulares de estacas prancha. A impossi-
bilidade de execução de batimetria, devido à velocidade de escoa-
mento (cerca de 3,5 m/s) e profundidade do rio nas imediações das 
cachoeiras (10 m a 12 m), além da irregularidade do fundo rocho-
so, dificultavam a execução da ensecadeira como fora projetada. 
O modelo reduzido definiu a solução considerando a montagem 
de um flutuante chamado localmente de “Navio”, com 18 m de 
comprimento, 12 m de altura e peso de 350 t, construído na França 
e montado no local da obra. Esse flutuante foi imerso no rio em 
posição previamente definida através de controle por cabos de aço 
fixados nas margens, esquerda e direita. O flutuante afundado des-
viou as correntes mais intensas e possibilitou a instalação das estacas 
prancha sem que essas vergassem, uma vez que foi bastante reduzida a 
velocidade das águas nestes locais. À medida que as células iam sendo 
Figura 5 - Início da obra em 1950 com Marcondes Ferraz e 
Alves de Souza (primeiro e segundo da esquerda)
Figura 6 - Visita do pres. Dutra ao lado de Alves de Souza. 
De costas, Marcondes Ferraz 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
174
executadas barrando e estrangulando a seção do rio, a velocidade da 
água ia aumentando progressivamente, atingindo valores de 8,5 m/s. 
A solução do “Navio” que protegera a construção das células por 
montante não mais seria aplicável. Decidiu-se pela implantação de 
uma estrutura metálica em treliça semi-flexível, posicionada a jusante 
da linha de centro da ensecadeira celular em construção. Essa treliça 
passou a reter blocos de pedra de grandes dimensões lançados na cor-
rente do rio e retidos por redes apoiadas na treliça. Com a diminuição 
da velocidade de escoamento, a ensecadeira de estacas prancha pôde 
então ser concluída. Em depoimento ao autor o engenheiro Rubens 
Vianna de Andrade que, quando jovem participou da construção de 
Paulo Afonso I, disse que o esquema de desvio tinha sido realmente 
muito ousado, e que uma escavação de canal com estrutura de desvio 
como feito em Itaipú teria sido um esquema mais garantido. O fecha-
mento do rio São Francisco, com o término da ensecadeira foi divulgado 
para toda a nação e meio técnico de engenharia. Essa vitória da 
engenharia brasileira foi comunicada durante uma sessão do Clube de 
Engenharia no Rio de Janeiro, a qual foi interrompida para que a notícia 
fosse conhecida pelos presentes que vibraram com o êxito da solução 
de engenharia, com calorosos aplausos.
Outra alternativa que havia sido estudada para fechamento desse 
trecho final do rio era a da construção de um obelisco com uma das 
Figura 9 - Construção da ensecadeira 
celular com apoio do navio defletor
Figura 7 - Montagem do navio defletor
Figura 8 - Montagem da guia das estacas prancha
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
175Figura 10 - Construção da ensecadeira celular
Figura 11 - Construção da ensecadeira celular
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
176
Figura 12 - Construção 
da ensecadeira celular – 
Carga hidráulica de 9 m
Figura 13 - Construção da 
ensecadeira celular
Figura 14 - Ensecadeira celular concluída e 
fase inicial do fechamento do rio
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
177
Figura 15 - Início do lançamento da treliça para 
fechamento do rio
Figura 16 - Treliça posicionada para 
fechamento do rio
Figura 17 - Fase final do 
fechamento do rio
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
178
faces reproduzindo da melhor maneira possível, o fundo do rio e colo-
cado em pé em uma das margens do rio. Ao ser derrubado espe rava-se 
que esse obelisco obstruísse quase totalmente o fl uxo de água.
Importante realçar que o consultor do Banco Mundial, Mr. Dunn, 
da American Engineering Co., desaconselhara os dois métodos para 
o ensecamento do leito do rio. Essa posição fora transmitida ao 
ministro Oswaldo Aranha que tivera contato com Mr. Black, pre-
sidente do banco, durante a visita a Washington do presidente da 
CHESF, engenheiro Alves de Souza, para atender a convocação 
feita pelo banco. Aproveitando o fato de que o banco havia chamado 
Alves de Souza a Washington sem dar conhecimento da pauta da 
reunião e sem a convocação do diretor técnico, engenheiro 
Marcondes Ferraz, o que foi caracterizado como deslize de ética, 
o esquema de desvio foi mantido. Esse fato gerou a substituição 
do representante do banco em Paulo Afonso, Mr. Adolph 
Ackermann que se opusera ao esquema de desvio do rio, 
por Mr. Bass, de elevada competência e distinto cavalheirismo.
Cinquenta anos após o desvio do rio, o engenheiro Rubens Vianna 
de Andrade que, quando jovem na profi ssão, participou da epopéia 
do desvio em Paulo Afonso, com sua vasta experiência posterior-
mente em diversos desvios de grandes rios inclusive o desvio do 
rio Paraná em Itaipú, admitiu ao autor que o esquema que foi em-
pregado em Paulo Afonso não teria sido o mais recomendado nem o 
mais seguro. Pensava em esquema semelhante ao de Itaipú com 
escavação de canal de desvio com aplicação da rocha escavada na 
barragem e a construção de estrutura de fechamento nesse canal.
No dia 4 de agosto de 1954, na fase final de construção e 
com o desvio já equacionado, a Conferência Mundial de 
Energia que na época ainda incluía a Comissão Internacional 
de Grandes Barragens, efetuou uma visita técnica a Paulo 
Afonso. Nessa visita, o diretor da CHESF, advogado Afranio 
de Carvalho, concluiu o discurso de recepção à delegação 
com as seguintes palavras, antecipando-se a John Lennon: 
“As the World Power Conference represents the triumph of cooperation 
over isolationism, we are pleased to note that, in a way, a common 
and generous inspiration is the source of both your and our success. 
Let us hope that in the passing of time the same ideal penetrates into 
the mind and heart of all men so that mankind may live in peace, 
decency and liberty.”
No dia 20 de setembro de 1954 foi iniciado o enchimento do 
reservatório, com o fechamento das comportas. Quando, a jusante 
das comportas o leito do rio ficou seco, um dos muitos que 
estavam assistindo o evento atravessou a pé o leito do rio empu-
nhando a bandeira nacional, demonstrando a importância daquele 
momento histórico. No dia 1° de dezembro era ligado o primeiro 
circuito que atenderia Recife e poucos dias após era energiza-
da a linha de transmissão para Salvador. A inauguração de Paulo 
Afonso ocorreu no dia 15 de janeiro de 1955 em solenidade 
comandada pelo Presidente da República, João Café Filho.
Além do francês André Balança que chegou com 29 anos e fi cou 
para sempre no Brasil, uma legião estrangeira prestou importan-
tes serviços para a CHESF nos seus primeiros anos, formada 
principalmente por imigrantes europeus após a II Grande 
Guerra Mundial, requisitados na Ilha das Flores, reduto na baía 
da Guanabara onde os estrangeiros eram recebidos e triados. 
Dessa legião estrangeira participaram Cyrill Iwanow, Abdank 
Abzantovsky e Andre Bijnik. 
Além de sua vital importância econômica e social para todo o 
Nordeste, Paulo Afonso passou a ser visitado por vastos 
contingentes de pessoas para apreciar a grandeza das obras ali 
implantadas. Considerando essa afl uência de visitantes, o profes-
sor Amauri Menezes que assumiu a diretoria técnica durante as 
ampliações de Paulo Afonso, iniciou uma grande transformação 
do entorno da usina em vasto ambiente de agradável paisagismo 
implantando dezenas de pequenos lagos, intensa arborização 
pública e jardim zoológico, além de preservar as realizações da dire-
toria anterior, como o laboratório de modelo reduzido e a fazenda 
modelo, criada por Apolônio Sales para difusão de conhecimento 
e transferência de tecnologia para produtores rurais e pecuaristas 
do sertão do São Francisco.
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
179
A notável beleza da cachoeira com suas diferentes quedas em seu 
estado natural ainda hoje pode ser vista por ocasião de cheias 
extravasadas pelos vertedouros. A primeira imagem da cachoeira 
foi captada em 1647 pelos pincéis de Franz Post, notável pintor 
vindo na comitiva pessoal de Maurício de Nassau. Dom Pedro II 
quando esteve na cachoeira em 1859 reproduziu a imagem que 
vislumbrava a lápis em seu diário de viagens.
A expansão da CHESF
A partir de 1953 a CHESF iniciou as negociações para obtenção de 
recursos junto ao governo federal para o primeiro plano de expansão 
de Paulo Afonso que incluía a terceira unidade da primeira casa de 
força e a construção da segunda casa de força denominada Paulo 
Afonso II que, como as que se seguiriam, seria também subterrânea.
Após doze anos na direção técnica da CHESF e sendo um dos 
principais artífices do que ficou sendo conhecida como a epopéia 
de Paulo Afonso, Marcondes Ferraz foi destituído em 1960 por 
Juscelino Kubitschek como presidente da república. O afastamen-
to teve motivação política, por ter Marcondes Ferraz apoiado o 
presidente da República Carlos Luz, no seu efêmero governo de 
dois dias e participado da fuga no cruzador Tamandaré após o 
primeiro dos dois golpes desferidos pelo general Henrique 
D. T. Lott que depôs dois presidentes. 
Quando Jânio Quadros foi eleito em 1960, o ministro João Agripi-
no, promoveu alterações na diretoria da CHESF, tendo convidado 
Marcondes Ferraz para a presidência, convite declinado com o 
argumento de que não se deveria deslocar um homem do gabarito 
de Alves de Souza. Ao saberem que haveria mudanças na direto-
ria, todos os diretores se demitiram e realçaram a importância da 
Figura 18 - O aproveitamento de Paulo Afonso em seu estágio final
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
180
continuidade de gestão que seria garantida pela permanência 
de Alves de Souza na presidência. Ele foi mantido e os demais 
diretores foram substituídos por Amauri Menezes, na diretoria 
técnica, Fausto Alvim na diretoria administrativa e Ivan Macedo 
Melo na diretoria comercial.
Com o rio São Francisco domado em 1954, as ampliações que 
se sucederam foram muito mais simples. Novas casas de força 
subterrâneas foram se sucedendo, Paulo Afonso II concluída 
em 1968, Paulo Afonso III inaugurada em 1972 pelo presidente 
Emílio Garrastazu Médici, e concluída em 1974, Paulo Afonso IV 
cujas obras civis foram concluídas em 1979, e a usina inaugurada 
em 1980 pelo presidente João Batista Figueiredo, tendo a última 
das seis unidades geradoras entrado em operação em 1983.
A usina de Paulo Afonso IV, situada a cerca de1,5 km a jusante 
das suas precursoras, difere destas por captar, por meio de um ca-
nal, água no nível do reservatório da usina de Moxotó implantada 
a montante da bacia de decantação Paulo Afonso I, II e III. Ao se 
projetar a barragem de Paulo Afonso IV verificou-se que, devido 
principalmente às características torrenciais do rio Moxotó, afluente pela 
margem esquerda do rio São Francisco na região de Paulo Afonso, des-
cargas de até 10.000 m³/s em hidrógrafas de cheia de pequenos volumes 
poderiam se somar ao pico de cheia afluente ao reservatório de Moxotó. 
Como essa condição excepcional não havia sido considerada no projeto 
da barragem de Paulo Afonso, o vertedouro de Moxotó foi dimensionado 
para a mesma descarga de projeto da barragem das usinas de Paulo Afon-
so I, II e III (25.000 m³/s). Para garantir o escoamento da cheia máxima 
possível, o canal de adução entre os reservatórios de Moxotó e 
Figura 19 – A usina hidroelétrica de Moxotó
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
181
de Paulo Afonso IV foi ampliado para permitir o fluxo adicional 
de 10.000 m³/s, garantindo também o simultâneo escoamento de 
possível cheia gerada na bacia do rio Moxotó, sendo projetado e 
construído um vertedouro de 10 000 m³/s de capacidade na 
barragem de Paulo Afonso IV. Na ocasião da concepção do projeto 
não foi considerada a construção de um obra de barragem 
para o controle de cheias do rio Moxotó que teria trazido importan-
tes benefícios econômicos à construção de Paulo Afonso IV e aos 
vertedouros de jusante, Xingó já em operação e Pão de Açucar, presen-
temente em fase de inventário.
O reservatório da barragem de Moxotó, situado a montante de Pau-
lo Afonso I, II e III, foi construído para promover a regularização 
semanal das vazões e possibilitar através do canal de adução aci-
ma descrito, a derivação do fluxo d’água para a tomada d’água e 
vertedouro da usina de Paulo Afonso IV. As obras civis da usina de 
Moxotó foram iniciadas em 1971 e concluídas em 1974. A usina é 
composta por duas barragens de enrocamento com núcleo de argi-
la, separadas por uma ilha, uma das barragens contendo a tomada 
d’água e casa de força e a outra o descarregador de fundo (barragem 
móvel) controlado por comportas de segmento. As quatro unidades 
geradoras, de 100 MW cada, entraram em operação em 1977. 
Posteriormente foi constatada a presença de reação álcali-agregado 
ocasionando expansão do concreto, o que exigiu a execução de 
serviços para convivência com esse fenômeno e manutenções peri-
ódica nas unidades geradoras, monitorando os efeitos da expansão 
e garantindo o aumento da vida útil da casa de força. Uma equipe de 
técnicos da CHESF e consultores (Aurélio Vasconcelos, Alberto Jorge 
Cavalcanti, Ricardo Barbosa e João Francisco Silveira), dedicaram-se 
aos estudos e acompanhamento, formando um apreciável acervo 
sobre a reação álcali-agregado, em empreendimentos de engenharia. 
A barragem de Moxotó se situa a cerca de 2 km a montante da 
barragem do Complexo Paulo Afonso I, II, III. Foi necessária a 
construção de um núcleo urbano para transferência da população 
da cidade de Glória-BA, inundada com a formação do reservatório. 
Em 1983 a usina de Moxotó passou a ser denominada oficialmente de 
Usina Apolônio Sales em homenagem ao criador da CHESF.
As sucessivas ampliações em Paulo Afonso passaram a demandar 
descargas afluentes mais regularizadas. As alternativas seriam a 
construção das hidroelétricas e reservatórios de Itaparica (em cota 
elevada), mais econômica, ou de Sobradinho ambas no rio São 
Francisco e a montante de Paulo Afonso e Moxotó. A solução ado-
tada pelo setor elétrico, a partir de relatório do Comitê de Estudos 
Energéticos do Nordeste foi a construção da barragem de Sobra-
dinho inicialmente sem casa de força por ser a solução de menor 
investimento para a regularização do rio. O planejamento energético 
foi influenciado também pelo baixo custo do petróleo, época do 
chamado “milagre brasileiro“, quando o barril de petróleo foi co-
tado a menos de US$ 2,00, estimulando a construção de usinas 
termoelétricas junto aos grandes centros de consumo. Essa opção 
não prosperou em função do aumento de preços pela OPEP e 
da deflagração da guerra do Yom Kippur. Em maio de 1974 a CHESF 
recebeu instruções para motorizar Sobradinho, recomendações 
plenamente atendidas, ocorrendo o enchimento do reservatório de 
Sobradinho em 1978 e início de geração de energia em 1979. 
Em meados de 1971 a Eletrobras havia determinado a estruturação 
de uma superintendência sob o comando do engenheiro Euná-
pio Peltier de Queiroz que havia criado a Centrais Elétricas do Rio 
de Contas, na Bahia, e implantado com sucesso a hidroelétrica de 
Funil e que teria como missão implantar o empreendimento de 
Sobradinho. Essa decisão da Eletrobras, que entre outros motivos 
buscava tirar do comando da Diretoria Técnica da CHESF uma das 
duas obras gigantescas e simultâneas (Sobradinho e Paulo Afonso IV), 
causou constrangimentos na subsidiária. Os dirigentes da Eletrobras, 
Mário Bhering e Pinto Aguiar foram sensibilizados pelos argumentos 
de Apolônio Sales, então presidente da CHESF, e criaram, com apoio 
de Léo Amaral Penna, uma solução de compromisso: a concessão da 
hidroelétrica de Sobradinho seria da CHESF. Além disso, o trabalho 
conjunto de Apolônio Sales e Eunápio Queiroz, que haviam sido 
companheiros no Congresso Nacional, neutralizou as componentes 
negativas desta divisão. Eunápio Queiroz e Ernani Gusmão, além de 
João Paulo Maranhão de Aguiar, Norman Costa, Japhet Diniz, Gláu-
cio Furtado, Hilton Silveira, Paulo Pacheco e Margarida Maria Dantas 
de Oliveira, conduziram a implantação da hidroelétrica de Sobradinho.
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
182
Uma barragem de terra zoneada flanqueia as estruturas de con-
creto gravidade da tomada d’água e dos vertedouros de fundo e 
superfície, num arranjo característico de hidroelétrica brasileira em 
vale aberto. No local da barragem de Sobradinho e em toda a 
área do seu reservatório o rio São Francisco apresentava margens 
abatidas em vale muito aberto, o que, mesmo limitando a altura 
da barragem e definindo a usina como de baixa queda, gerou um 
reservatório de grandes dimensões com volume acumulado de 
34,1 bilhões de metros cúbicos e extensa área alagada de 4.214 km2 
possibilitando, com uma depleção de até 12 metros, um significativo 
aumento de descargas garantidas para as usinas a jusante. A casa 
de força de Sobradinho teve a entrada de sua primeira máquina 
em operação em novembro de 1979 e a última unidade geradora 
em março de 1982, atingindo seus 1050 MW de capacidade 
instalada. Apesar de se situar a cerca de 50 km a montante de 
Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), portos terminais do trecho navegá-
vel entre Pirapora - Minas Gerais e o sub médio rio São Francisco, 
o Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis, sucedido 
pela Portobrás, exigiu e assumiu os custos de implantação de uma 
grande eclusa de navegação, concluída em 1980.
O reservatório de Sobradinho, tão importante para a segurança 
do suprimento de energia ao Nordeste, que na época era um 
sistema isolado do resto do País, gerou impactos sócio-ambientais 
de porte. Foi necessário a relocação das cidades de Casa Nova, 
Remanso, Sento Sé e Pilão Arcado e de outros pequenos povoa-
Figura 20 - A usina hidroelétrica Sobradinho
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
183
dos situados às margens do rio São Francisco, com a transferência 
das suas populações. Ao todo foram 11.400 famílias (cerca de 
70.000 pessoas) reassentadas para formação do reservatório. 
O usina de Sobradinho permitiu a interligação das regiões 
Nordeste e Norte através de linha detransmissão entre Sobradinho 
e Tucuruí. Como Tucuruí ainda estava em construção quando 
Sobradinho iniciou sua operação, durante cerca de quatro anos, 
antecedendo à inauguração de Tucuruí, o canteiro e acampamento 
dessa hidroelétrica, a cidade de Belém do Pará e cidades vizinhas 
foram abastecidas com energia elétrica gerada em Sobradinho, 
proporcionando significativa economia de petróleo.
A construção da barragem de Sobradinho trouxe importante 
contribuição para a engenharia nacional de barragens ao ter 
seu núcleo impermeável executado com argila dispersiva, única 
disponível na área em quantidades compatíveis com os volu-
mes requeridos. Técnicos brasileiros da CHESF e da Projetista 
(Esmeraldino Pereira, Antonio Martins, Hilton Silveira, Hi-
romito Nakao, Hamilton Oliveira, Guy Bordeaux e Pedro 
Tanajura) com a consultoria e acompanhamento de um dos 
mestres mundiais da engenharia de solos – James L. Sherard, 
no escritório e no campo, desenvolveram estudos, avaliações 
e tarefas de controle de laboratório e construção dos maciços, 
que garantiram todos os requisitos de qualidade e segurança 
na utilização de argila dispersiva. 
Além do papel importante na redução de piques de cheia e interliga-
ção Norte – Nordeste, em Sobradinho foi construída a tomada d’água 
que abastece o mais bem sucedido projeto público de irrigação no 
Brasil – o Projeto Nilo Coelho, com área irrigável de 25.000 hectares.
Com Sobradinho ainda em fase de construção a CHESF iniciou 
em 1975 no rio São Francisco e a cerca de 40 km a montante de 
Figura 21 - A usina hidroelétrica 
de Itaparica
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
184
Paulo Afonso as obras para implantação da hidroelétrica de 
Itaparica, sob comando de Eunápio Queiroz. Tendo em vista a 
extensa área de reservatório de 834 km², houve a necessidade do 
assentamento da população ribeirinha que teve que ser desaloja-
da. Foram construídas as novas cidades de Petrolândia, Itacuruba, 
Rodelas e o povoado de Barra do Tarrachil, abrigando cerca de 
36.000 pessoas. O Empreendimento Itaparica foi realizado num 
período de intensas dificuldades financeiras do setor elétrico estatal, 
motivo pelo qual as obras se prolongaram muito além do que fora 
previsto no planejamento de construção. 
O vale aberto do rio foi barrado por um extenso maciço de 
enrocamento com núcleo de saprolito compactado ladeando as 
estruturas de concreto gravidade da tomada d’água e do vertedou-
ro. Somente em 1988 foi fechado o reservatório e entraram em 
operação as primeiras unidades. Nesse ano a usina foi inaugurada 
pelo presidente José Sarney e atingiu plena capacidade em 1990 
com seis unidades geradoras de 246,6 MW cada, já com a denomi-
nação de Usina Hidroelétrica Luiz Gonzaga, homenagem ao grande 
compositor e cantor nordestino.
A jusante de Paulo Afonso o rio São Francisco escavou profun-
do e estreito cânion de paredes rochosas de elevadas qualidades 
geomecânicas, que atingem até 200m de altura. No após guerra, 
em 1951, o engenheiro Gerdes, da Kaiser, vislumbrou a construção 
de uma hidroelétrica nesse cânion. A indústria americana Reynolds 
Metals propôs a construção dessa hidroelétrica numa das partes mais 
estreitas do cânion com uma barragem em arco. Essa usina teria 
como finalidade a geração de grandes blocos de energia para uma 
unidade fabril de produção de alumínio a ser implantada na região. 
A concessão teria sido para autoprodutor por 30 anos e reverteria 
à União no entorno de 1985. Houve forte resistência política dos 
que consideravam que essa concessão não atendia aos interesses 
do Brasil e do Nordeste, capitaneada pelo político baiano, Clemente 
Mariano e pelo industrial e político paulista José Ermírio de Moraes 
com os argumentos de que haveria prejuízo da incipiente indústria 
nacional e que absorveria grande consumo de energia com pequena 
utilização de mão de obra. Com tanta oposição, a usina e a indústria 
não foram adiante. Somente em 1975 foram contratados pela 
CHESF, sob a supervisão de Felício Limeira de França e a 
coordenação do engenheiro José Geraldo Araújo, os estudos 
preliminares para seleção de local e de alternativas de projeto. 
Os trabalhos foram apoiados por uma junta de consultores com-
posta por James Libby, James Sherard, Manuel Rocha, Armando 
Lencastre e Don Deere que, com a empresa consultora, recomendou, 
por mais econômica, a construção de uma barragem em abóbada 
com casas de forças subterrâneas nas duas margens. Dada a carência 
de experiência nacional em barragens em abóbada e como o esque-
ma com barragem de enrocamento no final do cânion era viável, foi 
decidida a implantação dessa segunda alternativa de projeto que se 
situa imediatamente a montante das sedes municipais de Piranhas 
– Alagoas e Canindé do São Francisco – Sergipe, a Usina de Xingó, 
constituída por uma barragem com 145 m de altura, de enrocamento 
com face de concreto e com desvio por túneis escavados na margem 
direita onde também foi localizada a casa de força, abrigando seis 
unidades de 527 MW cada que entraram em operação entre 1994 e 
1997. O nível d’água do reservatório da hidroelétrica de Xingó foi 
definido pelo valor aceitável de afogamento do canal de fuga de 
Paulo Afonso IV com conseqüente redução de geração nessa usina. 
Ao lado da tomada d’água para geração de energia elétrica foram 
implantadas duas tomadas para os projetos de irrigação Califórnia 
e Jacaré Curituba, ambos no estado de Sergipe e viabilizados pela 
elevação de mais de 120 metros no nível d’água no cânion.
Além das hidroelétricas acima mencionadas e implantadas pela 
CHESF, outras foram incorporadas à CHESF ao longo dos anos. 
Essas usinas, a menos de Angiquinho já mencionada, que teve sua 
operação iniciada em 1913 e desativada em 1960 devido a uma 
inundação, e da antiga pequena usina existente em Itaparica, que 
abastecia um núcleo agrícola e operou de 1945 até a década de 
1970 e foi alagada pelo reservatório da nova hidroelétrica em 1988, 
todas as demais usinas incorporadas pela CHESF se situam em 
outros rios do Nordeste. Essas hidroelétricas foram: Bananeiras 
(inundada pela usina hidroelétrica Pedra de Cavalo, do Grupo Vo-
torantim) no rio Paraguaçu na Bahia, Boa Esperança no rio Parna-
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
185
íba na divisa dos estados do Maranhão e Piauí, as Funil e Pedra no 
rio de Contas no sul da Bahia, Curemas a partir dos açudes 
públicos Estevam Marinho e Mãe-d’água do DNOCS nos 
rios Piancó e Aguiar na Paraíba e Araras no açude público 
Paulo Sarasate do DNOCS no rio Acaraú no Ceará.
A hidroelétrica de Bananeiras, situada no rio Paraguaçu, a montante 
da cidade de Cachoeira, havia entrado em operação em 1920 e teve 
9 MW instalados para suprir o Recôncavo Baiano. Essa usina foi 
transferida da COELBA para a CHESF em 1967 e desativada em 
1981 por interferência com a hidroelétrica de Pedra do Cavalo, 
de maior potência, que foi implantada no local.
A usina hidroelétrica de Boa Esperança, situada no rio Parnaíba 
entre os estados do Maranhão e do Piauí, teve origem na iniciativa 
do DNOCS de criar uma comissão para inventariar as possibilidades 
de implantação de hidroelétricas no rio Parnaíba. Dessa iniciativa 
nasceu a Companhia Hidro Elétrica de Boa Esperança COHEBE, 
a partir de Grupo de Trabalho formado pelo DNOCS e pela 
SUDENE, com a participação dos estados do Piauí e Maranhão 
e do Ministério de Minas e Energia, representado pela Eletrobras. 
Em julho de 1963 a COHEBE foi formalmente constituída e sua 
primeira diretoria foi composta por César Cals de Oliveira Filho, 
Walter Barros da Silva, Hilton Ahiran da Silveira e Ebenezer Gueiros. 
A usina de Boa Esperança teve suas obras iniciadas em 1964, e sua 
Figura 22 - Ausina hidroelétrica de Xingó 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
186
primeira etapa com duas unidades de 54 MW de potência unitária foi 
concluída em 1970 proporcionando energia abundante e confiável 
aos estados do Maranhão e Piauí . Em 1972 Alde de Castro Salgado, 
então vice presidente executivo da CHESF, assumiu a presidência da 
COHEBE avançando no processo de absorção dela pela CHESF, 
previsto no planejamento do setor elétrico e reforçado pela interli-
gação elétrica CHESF – COHEBE, atingida com a energização de 
LT 230 kV Teresina – Sobral – Fortaleza. Para não onerar os consu-
midores, o passivo da COHEBE foi coberto com recursos da reserva 
legal para desapropriação de empresas de energia elétrica, e com a passa-
gem para o Patrimônio da União do imobilizado não ligado diretamente 
à geração. Ela encontrou apoio na Eletrobras através dos seus direto-
res Mario Bhering, Pinto Aguiar e Antônio Carlos Bastos. Em 1973 a 
COHEBE foi então absorvida pela CHESF. Anteriormente, após a 
morte do ex-presidente Castelo Branco, a casa de força passara a 
ser denominada Presidente Castelo Branco, mantendo-se para o 
empreendimento a denominação Usina de Boa Esperança. Esse 
procedimento foi replicado quando da morte do deputado federal 
Milton Brandão, grande defensor desta usina, que foi homenageado 
com a denominação Barragem Milton Brandão. Somente em 1991 as 
duas últimas unidades geradoras de 63,65 MW cada, entraram em 
operação, complementando a necessidade de expansão da geração para 
a região, atendida pelas hidroelétricas do rio São Francisco através de 
linha de transmissão 500 kV Sobradinho – Boa Esperança.
De modo semelhante ao que aconteceu com Paulo Afonso 
na década de 1940, a construção de Boa Esperança sofreu 
grande oposição dos que consideravam que a demanda dos 
estados do Nordeste Ocidental (Maranhão e Piauí) não 
justificava a implantação de um empreendimento desse vulto, 
o que explica a grande defasagem entre as instalações das 
unidades geradoras. Em oposição a esses, haviam os que 
a legavam que a us ina ser i a um inves t imento p ione i ro 
fomentador de progresso para a região.
A usina hidroelétrica de Funil no rio de Contas, no sul da Bahia, foi 
implantada inicialmente com 20 MW em 1962 e posteriormente 
ampliada para 30 MW em 1970, composta por três unidades 
geradoras de 10 MW cada, sendo transferida da COELBA para 
a CHESF em 1980. A barragem é uma estrutura de concreto 
gravidade incluindo a tomada d‘água e o vertedouro em vale 
relativamente fechado.
A usina de Pedra também no rio de Contas, a montante da 
usina de Funil , possui apenas uma unidade geradora de 
20 MW cuja entrada em operação aconteceu em novembro 
de 1978, sendo suas obras civis iniciadas em setembro de 1976. 
A barragem tem múltipla finalidade e além de geração de 
energia, permite a regularização do rio para controle de 
enchentes, abastecimento d’água e ir r igação agrícola. A 
barragem é do tipo contrafortes de concreto com 24 blocos 
dos quais os sete blocos centrais são vertentes, dotados de 
comportas de segmento. 
A usina de Curemas com duas unidades geradoras totalizando 
3,5 MW encontra-se situada a jusante da barragem dos açudes 
públicos Estevão Marinho e Mãe-d’Água, nos rios Piancó e Aguiar, 
no estado da Paraíba. Teve suas obras iniciadas pelo DNOCS em 
1939. Em 1957 a hidroelétrica entrou em operação tendo sido 
incorporada pela CHESF em 1969.
A hidroelétrica de Araras, com duas unidades geradoras totalizando 
4 MW, encontra-se situada a jusante da barragem do açude público 
Paulo Sarasate, no rio Acaraú, no Ceará. As obras foram iniciadas 
pelo DNOCS em 1956. A usina só entrou em operação em 1967 
e em 1969 foi incorporada à CHESF.
Novos tempos – século XXI
A partir de 2006, dentro do novo modelo do Setor Elétrico 
Brasileiro, a CHESF voltou a investir e participar de grandes em-
preendimentos de geração de energia elétrica, sendo acionista 
minoritária nas usinas hidroelétricas de Dardanelos, Jirau e Belo 
Monte, todas na modalidade de consórcio privado, formando socie-
dades de propósito específico (SPE).
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
187
Na usina hidroelétrica Dardanelos a CHESF participa em socie-
dade com a Neoenergia e a Eletronorte. A usina está localizada 
na margem esquerda do rio Aripuanã, no noroeste do Mato 
Grosso, na Região Amazônica, tendo uma capacidade instalada 
de 261 MW, sendo composta de 5 unidades geradoras, quatro 
delas de 58 MW cada e uma de menor porte de 29 MW. 
Na usina hidroelétrica Jirau a CHESF participa em sociedade com 
a GDF Suez, a Eletrosul e a Camargo Corrêa. A usina está sendo 
construída no local denominado ilha do Padre, no rio Madeira, a 
120 km de Porto Velho, em Rondônia, na região amazônica. Sua 
capacidade instalada é de 3.450 MW com 46 unidades Bulbo de 
75 MW cada, dispostas em duas casas de força, uma na margem 
esquerda e outra na margem direita. Seu vertedouro possui 44 vãos 
e permite uma descarga de vazão de projeto de 85.800 m3/s.
Finalmente, no Complexo Hidrelétrico de Belo Monte a CHESF 
se associou a outras 18 empresas. A usina será construída no 
rio Xingu, no Pará, na região amazônica, possuindo três sítios, um 
deles denominado Pimental onde ocorrerá o barramento do rio 
Xingu, composto de casa de força complementar e vertedouro, 
outro composto do canal de adução e interligação e o último com-
posto do reservatório intermediário e sítio Belo Monte com a 
usina principal. A potência instalada total de Belo Monte é de 
11.233 MW, com dezoito unidades geradoras de potência unitária 
611,1 MW, com turbinas Francis na casa de força principal 
denominada Belo Monte e 6 unidades geradoras de potência unitária 
38,85 MW, com unidades Bulbo na casa de força complementar.
Figura 23 - Vista aérea da 
hidroelétrica de Xingó 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
188
189
Furnas no século XX
Flavio Miguez de Mello
Desde os primórdios da produção de energia elétrica no País até 
pouco depois da II Grande Guerra Mundial, a energia elétrica era 
praticamente só gerada por empresas privadas, a maioria delas nacio-
nais, mas as duas maiores eram de capital canadense (Light) e ame-
ricano (AMFORP American Foreign Power). Havia também inúmeros 
pequenos autoprodutores rurais. Esse cenário começou a se tornar 
crítico a partir do Código de Águas que, tendo sido adotado em 
1934, criou desequilíbrio econômico nos contratos de concessão de 
fornecimento de energia elétrica, tirando o incentivo da iniciativa 
privada em promover acréscimos de investimento de geração, trans-
missão e distribuição de energia elétrica. Nessa época o País começou 
a deixar de ser apenas essencialmente rural para iniciar a industria-
lização que, por sua vez, gerou crescente aceleração urbana que 
passou a pressionar por demanda de energia elétrica. Com as restri-
ções tarifárias, as companhias de energia elétrica passaram a enfren-
tar problemas no atendimento da crescente demanda, fazendo com 
que, já nos anos 40, alguns estados como São Paulo e Minas Gerais 
principalmente, começassem a criar empresas estatais de energia elé-
trica. A situação da Light, por exemplo, a maior concessionária do 
País na época, evidenciava esse cenário. Apesar de procurar aumen-
tar sua oferta de energia elétrica, essa oferta era inferior à demanda 
que crescia acima da capacidade de investimento da concessionária. 
Furnas no século XX
“No Brasil nunca se fez nada demasiadamente grande.”
Leopoldo Miguez
Reservatório de Serra da Mesa, o maior 
do País com capacidade de 54,4x 109 m3 
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
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Desse modo, estimuladas pela própria Light e com perspectivas 
de racionamentos, as indústrias passaram largamente a instalar gru-
pos geradores Diesel. Só em São Paulo, em 1954, havia cerca de 
100 MW instalados pela indústria em grupos Diesel que represen- 
tavam quase 20% da capacidade instalada da São Paulo Light.
As sinalizações de déficit passaram a ser evidentes, sendo agravadas 
pela inexistência de interligação dos sistemas das concessionárias. 
Mesmo na Light, os sistemas do Rio de Janeiro e de São Paulo eram 
em frequências diferentes. Havia apenas uma pequena conversora de 
muito baixa capacidade entre os dois sistemas.
Nos anos cinquenta, o governo federal que havia criado a CHESF 
para explorar o potencial do rio São Francisco em Paulo Afonso, foi 
seguido pelas fundações da CEMIG (1951), COPEL (1953), USELPA 
(1953), EFE (1954), CHERP (1955) e Escelsa (1956).
No início do governo Kubitschek, em 1956, ficou claro que a 
diferença entre a capacidade em construção e a demanda projeta- 
da exigia o início, em muito curto prazo, de obra que acrescentas- 
se cerca de 1000 MW na Região Sudeste. A solução estava no 
local recém descoberto pela CEMIG, em reconhecimento do 
potencial do rio Grande entre a hidroelétrica de Itutinga e o re- 
manso do reservatório de Peixoto. O local foi identificado por 
Francisco Noronha e Anton Rydland em viagem exploratória 
sugerida por John Cotrim, então diretor técnico da CEMIG. 
No local havia as corredeiras de Furnas que se situavam em vale 
apertado de encostas íngremes, em cujas margens o engenheiro 
José Mendes Júnior costumava pescar, nas proximidades de 
sua fazenda. Os dois engenheiros pernoitaram na fazenda e rece-
beram de Mendes Júnior indicações sobre o local das corredeiras. 
Este se mostrou excepcional para uma grande usina com grande 
reservatório de regularização.
Os estudos iniciais mostraram que a capacidade instalada seria quase 
um terço da capacidade instalada nacional. O vulto das obras que 
seriam necessárias para erguer uma das maiores hidroelétricas do 
mundo na época era muito superior à capacidade das empresas 
Figura 1 - Francisco 
Noronha e Anton 
Rydland no local 
de Furnas 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
191
estaduais na época. O mercado a atender era primeiramente São 
Paulo que se encontrava em situação mais crítica e depois os demais 
estados da Região Sudeste. Esses aspectos fizeram com que ficasse 
claro que a empresa a ser constituída deveria ser federal.
Lucas Lopes, então presidente do BNDE, e John Cotrim, de dire-
tor técnico da CEMIG para presidente de Furnas, selecionaram os 
principais membros da nova empresa, sem influências políticas e 
procurando não sacrificar a CEMIG, em cumprimento à promessa 
feita ao professor Cândido Holanda, sucessor de Lucas Lopes na 
presidência da CEMIG. Apesar de ser diretor da CEMIG, Flavio 
Lyra que residia no Rio de Janeiro, foi selecionado como diretor 
técnico. Para cuidar da administração, das finanças e dos supri-
mentos, foi convidado o engenheiro Benedito Dutra. O famoso 
tripé de Furnas estava formado, sendo pessoas perfeitamente in-
tercambiáveis dadas a formação e a experiência dos três. Os três 
constituiriam a diretoria executiva de Furnas.
A primeira oposição a Furnas veio do governo de Minas Gerais, 
à época exercido por Bias Fortes. Ele queria garantir que Três 
Marias fosse feita antes de Furnas para ter certeza de que seria con-
cluída. Além disso, ele era contra grandes áreas alagadas em Minas 
para gerar energia para outros estados: costumava dizer que que-
riam “fazer de Minas a caixa d’água do Brasil”. Ele temia que o governo 
federal não tivesse recursos para as duas obras simultaneamente 
e criou toda sorte de obstáculos para atrasar o início de Furnas até 
que Três Marias estivesse em construção e em estágio irreversível. 
Lucas Lopes articulou um esquema de participação da Comissão 
do Vale do São Francisco em Três Marias, o que foi um presen-
te do governo federal para a CEMIG. A Comissão pagaria pelo 
reservatório e pela barragem, enquanto que a CEMIG apenas 
aportaria recursos para a construção da casa de força situada ao 
pé da barragem. Isso tinha justificativa uma vez que Três Marias 
era um empreendimento de finalidades múltiplas.
Mas a oposição do governador Bias Fortes continuava. Seu der-
radeiro lance foi exigir que a sede de Furnas fosse localizada em 
Minas Gerais. No impasse, já que Belo Horizonte na época não 
dispunha da infra-estrutura adequada, veio a idéia de finalmente 
concordar com o governador que então parou de se opor e a em-
presa pode ser finalmente constituída. Enquanto ele pensava que 
tinha trazido a empresa para Belo Horizonte, a sede foi para Passos, 
pequena cidade nas proximidades do local da usina, e o escritório 
central ficou instalado no Rio de Janeiro. As atas das assembléias 
eram referidas a Passos apenas nominalmente. Essa situação só foi 
normalizada cerca de vinte anos depois com a transferência oficial 
da sede para o Rio de Janeiro.
As negociações políticas com São Paulo foram mais fáceis, mas 
também tiveram seu preço. Quando tudo estava pronto para a 
fundação da empresa, o governador Jânio Quadros disse que só 
autorizaria a participação de São Paulo na empresa se Lucas Lo-
pes fosse falar com ele pessoalmente. Lopes e Cotrim foram a São 
Paulo e, depois de serem mostrados os benefícios para o estado 
que seriam trazidos por Furnas, Jânio disse que só entraria no 
projeto se houvesse garantias que o governo federal investisse 
também nos projetos do estado que eram os aproveitamentos 
hidroelétricos de Urubupungá e Caraguatatuba. Lucas Lopes teve 
que concordar. O aproveitamento de Urubupungá foi feito, tendo 
resultando nas usinas de Jupiá e Ilha Solteira. O aproveitamento de 
Caraguatatuba não saiu do papel por ser derivação de descargas 
Figura 2 – John Cotrim , Bias Fortes, 
Candido Holanda e Flavio H. Lyra
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
192
da bacia do rio Paraíba do Sul para o oceano, com graves impactos 
para as regiões a jusante no Vale do Paraíba.
Resolvidas as participações estaduais, foram negociadas as par-
ticipações da Light e da AMFORP que, para qualquer aumen-
to de capital, necessitariam de alteração no gargalo tributário 
a que eram sujeitas. Essas alterações foram impedidas pelos 
parlamentares que se designavam como nacionalistas e a par-
ticipação dessas duas empresas foi sendo diluída pela renúncia 
de investimentos adicionais.
Uma reunião em Alfenas com a comunidade local foi a antevisão 
das atuais audiências públicas. Por Furnas participaram os enge-
nheiros Cotrim, Lyra, L. C. Barreto de Carvalho e Julival de Moraes 
que encontraram um clima de hostilidade inédito até aquela época. 
Participaram da reunião que se estendeu até a madrugada muitos 
proprietários de terras da região e advogados que os incitavam 
com o objetivo de angariar clientes em ações contra a empresa 
que estava sendo constituída, bem como políticos que tinham suas 
bases na área, além do engenheiro Souza Dias, diretor da CELUSA, 
empresa de energia do estado de São Paulo, que defendia que era 
melhor para São Paulo que investimentos fossem feitos em obras 
estaduais e não em obras federais; pelas suas mãos, o advogado 
Noé Azevedo se tornou patrono de muitos proprietários e muni-
cípios em uma ação cominatória que visava impedir a construção 
da barragem de Furnas.
Menção é devida a outras pessoas que tiveram destaque na forma-
ção da empresa, tais como João da Silva Monteiro, diretor da Light, 
Maurício Bicalho, diretor da CEMIG, Mário Lopes Leão, chefe 
do planejamentoelétrico do governo de São Paulo, José Luiz 
Bulhões Pedreira, Sérgio Otaviano de Almeida, Emerson Nunes 
Coelho, Carlos Mário Faveret, José Pilz Filho, Ernani da Motta 
Rezende, Delphim Mazon Fernandes e Jarbas Di Piero Novaes.
Em reunião com o presidente JK realizada no palácio Rio Negro, 
em Petrópolis, foi apresentada por Lucas Lopes a estrutura orga-
nizacional da empresa. A diretoria executiva seria composta por 
John Cotrim na presidência, Flavio H. Lyra na diretoria técnica 
e Benedito Dutra na diretoria de administração e finanças. Além 
desses diretores executivos, haveria diretores representando os ou-
tros principais investidores: a Light, e os estados de Minas Gerais e 
São Paulo. Juscelino então perguntou: “E eu? Não sobrou nada 
para mim aí nessa diretoria?” Lucas Lopes esclareceu: “Não temos 
Figura 3 – JK e Lucas Lopes reunidos com os 
indicados para diretoria de Furnas por ocasião 
da constituição da companhia. Da esquerda João 
Monteiro, Lucas Lopes, Juscelino Kubitschek, 
John Cotrim, Flavio Lyra e Benedito Dutra 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
193
Figura 4 - Flavio H. Lyra, José 
Pilz Filho, piloto e convidado
Figura 5 - Assis 
Chateaubriand e Flavio 
H. Lyra em solenidade 
no canteiro de obra de 
Furnas
Figura 6 - Delphim Mazon 
Fernandes e senhora 
em 1966
C I N Q U E N T A A N O S D O C O M I T Ê B R A S I L E I R O D E B A R R A G E N S
194
como mexer na diretoria, mas você tem as vagas do conselho de admi-
nistração e do conselho fiscal.” Disse então o presidente Jusceli-
no: “Ah bom, então Lucas, quero você na presidência do Conselho de 
administração.” E indicou alguns nomes para compor os dois 
conselhos respeitando os que, representando os investidores, 
já constavam das duas relações.
Furnas conseguiu do BIRD, em outubro de 1958, um empréstimo 
de US$ 73 milhões, quantia impressionante para a época, o maior 
empréstimo feito pelo BIRD para um só empreendimento até 
então. Os recursos em moeda nacional vieram do BNDE e do 
Fundo Federal de Eletrificação. Na maior parte do tempo os 
residentes de Furnas na obra foram Rodrigo Mário Penna de 
Andrade e Franklin Fernandes Filho. A construção seguiu um 
projeto muito bem concebido que resultou em uma alta barragem de 
enrocamento com núcleo de terra no leito do rio, concentrando na 
margem esquerda as estruturas do vertedouro e da tomada d’água. 
O canal de adução a essas estruturas foi escavado em cota elevada, 
propiciando enrocamento para a barragem. Entretanto, para se can-
didatar ao empréstimo do BIRD, foi enviado às pressas, no início 
dos estudos, um dos arranjos que estavam sendo considerados: 
barragem de concreto gravidade, mais convencional na época, e 
vertedouro com seis comportas de segmento com capacidade total 
de 13.000 m³/s. Com o aprofundamento dos estudos hidrológicos 
verificou-se que não seria possível a ocorrência de uma descarga 
superior a 10.500 m³/s no local da barragem. O diretor técnico 
propôs ao BIRD a eliminação de um vão do vertedouro, mas o enge-
nheiro responsável por esse empreendimento no BIRD, traumatizado 
por já ter perdido uma barragem por ruptura causada por transbor-
damento, não aceitou que a redução fosse efetuada. Com isso, além 
dos gastos com a escavação, o concreto e a comporta do vertedouro 
e do acréscimo de calha desnecessários, houve inflação de capacidade 
de descarga nos vertedouros a jusante.
Um marco importante para a engenharia hidráulica brasileira foi 
a seleção do laboratório que deveria desenvolver os ensaios em 
modelo hidráulico reduzido. A indicação dos projetistas era de um 
laboratório nos Estados Unidos, uma vez que não havia experiên-
cia nesse setor da engenharia no Brasil para encarar os ensaios de 
uma obra dessa magnitude. Flavio Lyra, conhecedor da capaci-
dade do professor Theophilo Benedicto Ottoni Netto e de seus 
ex-alunos, assumiu a responsabilidade da execução dos ensaios no 
Brasil pelo Laboratório Saturnino de Brito. Como o laboratório 
era instalado no subsolo de um prédio situado na rua Araujo Porto 
Alegre, no Centro da cidade do Rio de Janeiro, houve a necessidade 
de se construir os modelos em área do laboratório do Departamen-
to Nacional de Portos e Vias Navegáveis, situado no Caju. Esse foi 
o primeiro grande passo para a formação de várias gerações de 
excelentes engenheiros hidráulicos no País.
Além da barragem principal e do conjunto tomada d’água e verte-
douro, o reservatório é fechado com a barragem de terra de Pium-I 
que impede que as águas afluam para a área de drenagem do rio 
São Francisco. Inicialmente essa barragem seria construída nas 
cercanias da pequena cidade de Capitólio. O projeto teve que ser 
mudado devido à pressão da população da cidade, revoltada com a 
Figura 7 - Visita do presidente Juscelino 
Kubitscheck à hidroelétrica de Furnas 
no início de sua obra 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
195
possibilidade de ser impactada pela obra. Entretanto, com o pas-
sar do tempo, a população verificou as muitas melhorias que Fur-
nas havia introduzido em outras cidades na área do reservatório e 
pressionou em sentido contrário para que a barragem retornasse 
ao local originalmente selecionado para que houvesse em Capitó-
lio os benefícios propiciados às outras cidades. Tarde demais, não 
mais havia tempo para alterações. A cidade de Capitólio ficou às 
margens do reservatório, sujeita à imagem desagradável das áreas 
que afloravam quando o reservatório era deplecionado. Cerca de 
vinte anos após o reservatório ter sido formado, assumiu a vice-
presidência da República e o Ministério de Minas e Energia o político 
mineiro e engenheiro Aureliano Chaves que pressionou Furnas 
para construir a pequena barragem de Boa Esperança com a fina- 
lidade de manter o nível d’água constante em frente à cidade de 
Capitólio, um de seus redutos políticos. Durante a construção hou-
ve uma ruptura da fundação em argila muito compressível, sendo 
o vertedouro, na reconstrução da barragem, sido deslocado para 
um local onde ocorria rocha competente.
Figura 8 - Vista aérea de Furnas nos primeiros anos de operação. 
A montante do canal de acesso à tomada d’água e ao vertedouro, 
o morro dos Cabritos em fase inicial de erosão.
C i n q u e n t a a n o s d o C o m i t ê B r a s i l e i r o d e B a r r a g e n s
196
A respeito da barragem de Pium-I um episódio interessante 
ocorreu muitos anos depois de sua construção. O governo Fer-
nando Henrique Cardoso se propunha privatizar o setor elétrico 
estatal federal, inclusive a usina de Furnas. O ex-presidente 
Itamar Franco, na época governador de Minas Gerais, apesar de ter 
iniciado o programa de grandes privatizações quando era presiden-
te, com a bem sucedida privatização da CSN, se colocou frontal-
mente contrário à privatização do setor elétrico, principalmente de 
Furnas, concessionária de várias hidroelétricas em Minas Gerais, 
a começar por Furnas. No seu esforço político contra a privatização, 
mobilizou uma força policial para a região de Pium-I com equi-
pamentos de terraplanagem e ameaçou abrir a barragem fazendo 
com que as águas do rio Grande represadas pela barragem de 
Furnas fossem afluir para a bacia do rio São Francisco. Ao adotar 
essa inédita postura afirmava que por ser engenheiro, saberia efe-
tuar essa sabotagem com eficiência. A derivação do rio Grande, 
se realmente executada, prejudicaria enormemente todas as usinas a 
jusante de Furnas, três das quais concessões da CEMIG. A pressão 
política foi grande e a privatização de geradoras do setor elétrico 
nessa fase se limitou à Eletrosul.
Voltando aos anos sessenta. Como havia oposição ao empreendi-
mento mesmo depois dele já consolidado, o fechamento do reserva-
tório foi sigilosamenteprogramado para o dia 9 de janeiro de 1961. 
No dia anterior membros da diretoria se deslocaram para a obra. 
O avião de Furnas não pôde decolar do aeroporto Santos Dumont. 
Foi acionado um avião da Líder que costumava fazer o trajeto 
entre Rio e Furnas. O piloto que naturalmente acompanhava as 
atividades de construção, vendo os VIPs congregados no avião, 
comentou que deveria ser para o fechamento do reservatório. 
Esse ingênuo comentário fez com que Cotrim entrasse em de-
sespero dizendo que a operação já era do conhecimento geral. 
O piloto afirmou que ele não sabia de nada e que apenas supôs 
que o fechamento do reservatório iria ocorrer vendo quem eram 
os passageiros no avião. Na guarita da obra foi montado um esque-
ma do tipo operação padrão para impedir ou retardar ao máximo 
a entrada de qualquer pessoa estranha. O esquema funcionou muito 
bem, pois até o carro que conduzia o Cotrim foi barrado, só tendo 
sido liberado quando Flavio Lyra, que vinha atrás em outro carro, 
disse para o guarda abrir a cancela. Quando foi impedido de en-
trar, John Cotrim disse para o guarda: “Eu sou o Cotrim”. O guarda, 
que não conhecia o presidente da empresa e seguindo instru-
ções disse: “Nem Cotrim nem Delphim, aqui não pode entrar ninguém.” 
Perto das 24 horas, Flavio Lyra com um megafone começou a 
comandar o fechamento dos dois túneis de desvio. A operação 
ocorreu com sucesso. Ainda não havia amanhecido quando chegou 
na portaria um oficial de justiça com um mandato para impedir 
o fechamento do reservatório. Depois de perder muito tempo na 
operação padrão da portaria, o oficial de justiça entregou o man-
dato. Flavio Lyra disse a ele que ele havia chegado tarde pois não 
havia mais qualquer possibilidade física de retirar as comportas 
que já estavam com bem mais de 20 m de água sobre elas. O oficial 
de justiça se retirou, John Cotrim também saiu no meio da manhã. 
Flavio Lyra ficou na obra para acompanhar o desempenho do fe-
chamento. No meio do dia chegou na obra o então governador de 
Minas Gerais, Magalhães Pinto, que, ou comprometido com o 
mandato de segurança acima mencionado ou querendo ter colhi-
do dividendos políticos na operação de fechamento, passou uma 
descompostura no diretor presente, Flavio Lyra, que aguentou 
firme tal estupidez. Tempos depois, por ocasião da inaugura-
ção da usina, já sem problemas de oposição ao empreendimento, 
o governador Magalhães Pinto foi convidado junto a outros governa-
dores, ministros e demais autoridades.
Poucos dias depois começou o pesadelo na execução dos plugues 
dos dois túneis de desvio. Em cada um dos dois túneis, quando os 
plugues estavam quase concretados, ocorreram explosões que acar-
retaram acréscimos substanciais e crescentes de vazão que indicavam 
que alguma coisa havia colapsado no túnel, na parte a montante 
dos plugues. Após extensos trabalhos, os vazamentos foram con-
trolados pela colocação de tetrápodos, enrocamento grosso, enroca-
mento fino, areia e argila, nessa ordem, a montante das comportas 
de desvio. Essa longa operação para solucionar o mais importante 
acidente que até então havia ocorrido em obras no País fez com 
que o engenheiro Flavio Lyra, ao final desse período tivesse fi-
cado grisalho. Na conclusão dos serviços, o engenheiro Franklin 
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
197
Fernandes Filho, ao adentrar num túnel com outras pessoas, viu 
uma delas cair. Foi então descoberta a causa das explosões: mistura 
de oxigênio com gás metano acumulado nos túneis, proveniente 
da decomposição de matéria orgânica da área do reservatório. 
Com a elevação do nível d’água na área do reservatório, houve 
efetiva colaboração das Forças Armadas na retirada de algumas pes-
soas que, embora avisadas, permaneciam na área que estava sendo 
alagada. Centros urbanos como a cidade de Guapé e a vila de 
São José da Barra haviam sido reconstruídas com melhores habita-
ções e equipamentos urbanos às margens do reservatório. Entretanto, 
naquela vila, por exemplo, havia um habitante que teimava em 
permanecer na casa que já havia sido comprada e paga por 
Furnas. Dizia ele que “nem a cheia de 1930 trouxe água até aqui e 
não será essa tal de Furnas que fica a léguas de distância, que vai 
trazer água até a minha roça. Se a água vier até aqui eu bebo ela 
todinha.” Teve que ser tirado à força.
Cenas como essas não eram incomuns na época. A Companhia 
Paulista de Força e Luz, do grupo AMFORP, para a visualização 
dos residentes antes do fechamento do reservatório de Peixoto, 
hidroelétrica anterior e a jusante de Furnas, fincou estacas brancas 
de madeira em diversos pontos onde a linha d’água iria atingir 
quando da formação do reservatório. Na última hora foi reporta-
do que ainda havia um teimoso na área do reservatório. Aos que 
lá foram ter com ele, foi dito: “Seu Doutor, o senhor não garan-
tiu que as águas iriam subir até a estaca branca?” Após a resposta 
afirmativa, ele acrescentou: “Pois assim seja. Eu peguei a estaca e 
finquei ela lá em baixo.”
O projeto e a obra de Furnas foram executados com grande sucesso. 
A regularização promovida pelo reservatório beneficiou sobremodo 
os potenciais a jusante propiciando a ampliação da capacidade insta-
lada de Peixoto (Mascarenhas de Moraes) e viabilizando os muitos 
e grandes aproveitamentos a jusante que foram todos construídos 
até Itaipu com exceção de Ilha Grande no rio Paraná que, apesar de 
ter tido iniciadas as obras, não foi construída por ter sido criado um 
parque nacional na área que seria o reservatório.
Apesar do importante acidente nos túneis de desvio, a usina e 
seu sistema de transmissão associado entraram em operação como 
programado, tendo salvado o estado de São Paulo de uma concreta 
ameaça de forte racionamento. Nessa ocasião eram impressionantes 
as fotografias dos reservatórios em São Paulo completamente deple-
cionados, principalmente os da São Paulo Light, com barcos enca-
lhados na lama do fundo dos reservatórios. A usina foi inaugurada 
pelo presidente Castelo Branco em 12 de maio de 1965.
Como consultores internacionais para o projeto e a obra, Furnas 
contou com o canadense Richard L. Hearn, o austríaco Arthur 
Casagrande e o americano Portland Port Fox.
Muitos anos se passaram e a encosta do morro dos Cabritos, 
quase frontal à barragem apresentava constante e acelerada erosão 
com desplacamento de material. Um desses desplacamentos cau-
sou uma onda que incidiu contra a barragem. Com o progresso da 
erosão foi se formando um grande monólito que, se incidisse no 
reservatório poderia, de acordo com o modelo hidráulico reduzi-
do, provocar uma onda de até 30 m sobre a barragem. Toda a área 
instável foi então removida.
A Companhia Paulista de Força e Luz detinha a concessão do 
aproveitamento hidroelétrico de Estreito situado no rio Grande 
a jusante da usina de Peixoto. A partir de acordo entre as duas com-
panhias, a concessão foi transferida para Furnas que, naquela época, 
1965, estava mais bem estruturada para executar a construção. 
A obtenção dessa concessão foi obtida graças ao elevado desempe-
nho da empresa na construção de Furnas e quebrou a orientação 
governamental de que Furnas se limitaria à implantação da usi-
na de Furnas e à sua operação. Mais uma vez houve uma corrida 
contra o tempo para que a usina de Estreito entrasse em opera-
ção para evitar colapso no suprimento de energia elétrica à Região 
Sudeste. A barragem de enrocamento com núcleo de terra fe-
cha o vale e as estruturas do vertedouro com capacidade de 
12.950 m³/s e da tomada d’água foram implantadas cada uma em 
uma das margens, ambas com largos canais de acesso que pro-
piciaram os enrocamentos necessários à barragem. Nessa obra 
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