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Direito Constitucional 
Avançado
Prof. Paulo Máximo
Doutorando na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Mestre em Direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA)
Pós-graduações em Estudos Diplomáticos e Direito Internacional pelo CEDIN
Graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Juiz Federal lotado na 3º Relatoria da 1ª Turma Recursal das Seções Judiciárias do AP/PA
paulomaxim0
Paulo Máximo
@paul0maximo
paul0maximo@gmail.com
Apresentação da disciplina
Revisão conceitual
UNIDADE I: Teoria Geral do Controle de Constitucionalidade 
As premissas do controle de constitucionalidade 
Tipos de inconstitucionalidade 
Inconstitucionalidade quanto ao objeto: formal ou material. 
Inconstitucionalidade quanto à conduta: por ação ou por omissão. 
Inconstitucionalidade quanto à relação que mantém com a Constituição: direta ou indireta (por derivação ou reflexa). 
Espécies de controle de constitucionalidade 
Controle Preventivo de Constitucionalidade 
Controle Preventivo Político 
Controle Preventivo Judicial 
Controle Repressivo de Constitucionalidade 
Controle Repressivo Político 
Controle Repressivo Judicial
UNIDADE II: Controle Difuso de Constitucionalidade 
A influência do sistema norte-americano (Judicial Review) 
Efeitos da decisão final de mérito do STF em sede difusa 
A legitimação para o controle difuso de constitucionalidade 
A arguição incidental de inconstitucionalidade como causa de pedir 
A decisão final de mérito do STF e o papel do Senado Federal em sede de controle difuso 
A cláusula de reserva de plenário e a cisão funcional de competência 
O controle difuso de constitucionalidade em sede de ação civil pública 
UNIDADE III: Controle Abstrato de Constitucionalidade
A influência do sistema kelseniano-austríaco 
Elementos comuns das ações de controle abstrato de constitucionalidade 
A legitimação para o controle abstrato de constitucionalidade 
A decisão final de mérito do STF no controle abstrato e a possibilidade de modulação temporal dos seus efeitos 
A ação direta de inconstitucionalidade genérica (ADI) 
Objeto da ação direta de inconstitucionalidade 
O papel do Advogado-Geral da União (AGU) e do Procurador-Geral da República (PGR) em sede de ADI 
UNIDADE III: Controle Abstrato de Constitucionalidade - continuação
A ação declaratória de constitucionalidade (ADC) 
Objeto e pressuposto da ação declaratória de constitucionalidade 
A natureza dúplice da ADI e da ADC 
A arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) 
Espécies ou modalidades de ADPF: Autônoma e Incidental 
Da aplicação do princípio da subsidiariedade em sede de ADPF 
A ação direta interventiva (ADINT) 
Competência para o julgamento da ADINT 
Legitimação em sede de ADINT 
Hipóteses de ADINT
UNIDADE IV: Remédios Constitucionais
A figura jurídica do Habeas Corpus 
A doutrina brasileira do habeas corpus 
O conceito constitucional e as hipóteses de cabimento do HC 
Legitimidade ativa e passiva em sede de habeas corpus 
As modalidades de habeas corpus (preventivo e repressivo) 
O instituto jurídico do habeas data 
O conceito constitucional, modalidades e hipóteses de cabimento 
A legitimação ativa e passiva em sede de habeas data 
O habeas data como uma das exceções ao princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional 
UNIDADE IV: Remédios Constitucionais - continuação
O remédio constitucional do mandado de segurança (MS) 
O conceito constitucional do mandado de segurança 
Legitimidade ativa e passiva em sede de mandado de segurança 
Características e hipóteses de cabimento do Mandado de Segurança 
As modalidades de mandado de segurança
A figura jurídica da ação popular (AP) 
Conceito constitucional e características da ação popular 
Legitimidade ativa e passiva em sede de ação popular 
Competência em sede de ação popular 
UNIDADE IV: Remédios Constitucionais - continuação
O mandado de injunção e a ação direta de inconstitucionalidade por omissão em perspectiva comparada 
Características principais da ação direita de inconstitucionalidade por omissão (ADO) 
Características principais do Mandado de Injunção (MI) 
Comparando os efeitos da ADO e do MI 
UNIDADE V: Neoconstitucionalismo e dogmática pós-positivista 
A teoria constitucional e seu perfil de evolução 
O constitucionalismo garantista e o Estado liberal de Direito 
O constitucionalismo welfarista e o Estado social de Direito 
O neoconstitucionalismo e a superação do positivismo jurídico 
Força normativa da Constituição, paradigmas de racionalidade discursiva e fatos portadores de juridicidade 
A insuficiência do positivismo jurídico na solução dos problemas constitucionais da atualidade 
UNIDADE V: Neoconstitucionalismo e dogmática pós-positivista - continuação
A colisão de normas constitucionais de mesma hierarquia
A estratégia hermenêutica da ponderação harmonizante e o princípio da concordância prática 
A estratégia hermenêutica da ponderação excludente e o princípio da proporcionalidade 
O ativismo judicial e a área metajuriscional do legislador democrático
Texto
Constituição
Leis especiais
Doutrina
Manuais
Artigos
Jurisprudência
Direito comparado
STF
Regimentos
Revisão Conceitual
Constituição em seu Sentido jurídico:
Hans Kelsen aloca seu conceito de Constituição no mundo do dever ser, e não no mundo do ser, caracterizando-a como fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais.
A concepção de Kelsen torna a palavra Constituição em dois sentidos: 
Lógico-jurídico: Constituição significa norma fundamental hipotética. Serve, portanto de fundamento lógico transcendental da validade da Constituição jurídico-positiva.
Plano lógico-jurídico situa-se em nível do suposto, do hipotético.
Jurídico-positivo: A Constituição é a norma positivada suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas. Ou seja, a lei nacional em seu mais alto grau.
Plano jurídico-positivo é corporificado pelas normas postas.
Kelsen concebe o Direito como um verdadeiro escalonamento de normas, sendo a constituindo o fundamento de validade das outras, numa verticalidade hierárquica. 
Uma norma, de hierarquia inferior, busca o seu fundamento de validade na norma superior e esta, na seguinte, até chegar à Constituição, que é o fundamento de validade de todo o sistema infraconstitucional.
O fundamento de validade da Constituição não se situa no mundo do ser, mas sim no mundo do dever-ser. 
A norma hipotética fundamental, situa-se no plano lógico, e não no jurídico positivo, caracterizando-se como fundamento de validade de todo o sistema, determinando-se a obediência a tudo o que for posto pelo Poder Constituinte Originário.
Constituição
Lei ordinária e complementar
Decreto regulamentador
Resolução Ministerial
Portaria do Diretor de Divisão
Ordem do Chefe de Seção
Constituição sem seu sentido material e formal:
Carl Schmitt aponta que do ponto de vista material, o que importa para se definir se uma norma tem caráter constitucional será o seu conteúdo, pouco importando a forma pela qual foi aquela norma introduzida no ordenamento jurídico.
Portanto, será constitucional a norma que defina e trate das regras estruturais da sociedade, de seus alicerces fundamentais. 
O critério formal, por sua vez, refere-se à denominada lei constitucional.
Não interessando o conteúdo da norma, mas a forma como foi introduzida no ordenamento jurídico. 
Assim, as normas constitucionais serão aquelas introduzidas pelo poder constituinte, sendo, portanto, incorporadas na Constituição.
Constituição como ordem jurídica fundamental de uma comunidade:
Na tentativa de consagrar um conceito que contemple, a um só tempo, o conteúdo material e a realidade normativa da Constituição, Konrad Hesse define-a como ordem jurídica fundamental da coletividade. 
Enquanto ordem jurídica fundamental, a Constituição:não pode ser reformada ou derrogada por leis ordinárias;
nenhuma disposição do ordenamento jurídico ou ato estatal poderá contradizê-la;
todos os poderes públicos, inclusive o Poder Legislativo, estão vinculados aos seus termos.
Materialmente, traz apenas um marco do conjunto de princípios concretos e elementos básicos do ordenamento jurídico da sociedade.
Contudo, a Constituição não é um sistema fechado, regulamentando apenas aquilo que se afigura relevante e carecedor de uma definição (MENDES, 2017, p. 1110).
Essa característica lhe atribui uma abertura.
Por fim, enquanto as normas jurídicas infraconstitucionais se valem de um fundamento de validade externo (acima) à elas, as normas constitucionais não dependem senão de sua própria força e das suas garantias.
Contudo, caso haja algum descumprimento dessas normas, o sistema prevê um guardião da Constituição, que está situado acima ou à margem do equilíbrio dos demais poderes. 
Classificação das Constituições sob o critério da alterabilidade:
Este critério recebe da doutrina diversas outras denominações tais como mutabilidade (Michel Temer; Luiz Alberto David Araujo e Vidal Serrano Nunes Júnior) estabilidade (José Afonso da Silva e Alexandre de Moraes) e consistência (Pinto Ferreira).
Constituições rígidas: que exigem, para a sua alteração um processo legislativo mais árduo, mais solene, mais dificultoso do que o processo de alteração das normas não constitucionais.
A exceção da Constituição de 1824 todas as Constituições brasileiras forma rígidas.
Constituições flexíveis: não possuem um processo legislativo de alteração mais dificultoso do que o processo legislativo de alteração das normas infraconstitucionais. 
Não há hierarquia entre Constituição e lei infraconstitucional.
Semiflexível ou semirrígida: é aquela Constituição que é tanto rígida como flexível, ou seja, algumas matérias exigem um processo de alteração mais dificultoso do que o exigido para alteração das leis infraconstitucionais, enquanto outras não requerem tal formalidade. 
Fixas: São aquelas que somente podem ser alteradas por um poder de competência igual àquele que a criou, isto é, o poder constituinte originário. 
São conhecidas como constituições silenciosas, porque não estabelecem, expressamente, o procedimento para sua reforma.
Transitoriamente flexíveis: são as suscetíveis de reforma, com base no mesmo rito das leis comuns, mas apenas por determinado período. 
Ultrapassado o lapso, o documento constitucional passa a ser rígido.
Imutáveis: são as constituições onde se veda qualquer alteração, constituindo-se relíquias históricas e que se pretendem eternas, sendo também denominadas de permanentes, graníticas ou intocáveis.
Superrígida: para Alexandre de Moraes a Constituição Federal de 1988 pode ser considerada como superrígida, uma vez que em regra poderá ser alterada por um processo legislativo diferenciado, mas excepcionalmente, em alguns pontos é imutável (CF, art. 60, § 4º - cláusulas pétreas).
Poder Constituinte originário:
Para Gilmar Mendes poder constituinte originário é a autoridade máxima da Constituição, reconhecida pelo constitucionalismo, do qual advém a força política capaz de estabelecer e manter o vigor normativo do Texto. 
Essa magnitude que fundamenta a validez da Constituição, desde a Revolução Francesa, é conhecida pelo nome de poder constituinte originário.
O conceito de poder constituinte originário é devedor dos estudos de Sieyès, autor do opúsculo “Que é o Terceiro Estado?”, considerado um verdadeiro manifesto da Revolução Francesa.
Sieyès enfatiza que a Constituição é produto do poder constituinte originário, que gera e organiza os poderes do Estado (os poderes constituídos), sendo, até por isso, SUPERIOR A ELES. 
Sieyès se propunha a superar o modo de legitimação do poder vigente, baseado na tradição, por um poder político que tem uma decisão originária, não vinculada ao Direito preexistente, mas à nação, como força que cria a ordem primeira da sociedade. 
Para isso, cercou o conceito de poder constituinte originário de predicados colhidos da teologia, ressaltando a sua desvinculação a normas anteriores e realçando a sua onipotência, capaz de criar do nada e dispor de tudo ao seu talante.
Características:
Gilmar Ferreira Mendes aponta três características básicas que se reconhecem ao poder originário: 
Inicial:
 Ilimitado (ou autônomo); e
 Incondicionado.
É inicial, porque está na origem do ordenamento jurídico. 
É o ponto de começo do Direito de um Estado. 
Por isso mesmo, o poder constituinte não pertence à ordem jurídica não está regido por ela. 
Se ele não se inclui em nenhuma ordem jurídica, não será objeto de nenhuma ordem jurídica. 
O Direito anterior não o alcança nem limita a sua atividade. Por isso ilimitado.
Podendo decidir o que quiser, de igual sorte, não pode ser regido nas suas formas de expressão pelo Direito preexistente, daí se dizer incondicionado.
Para Gilmar Mendes que o caráter ilimitado, deve ser entendido em termos. 
Essa características diz respeito à liberdade do poder constituinte originário com relação a imposições da ordem jurídica que existia anteriormente. 
Mas haverá limitações políticas inerentes ao exercício do poder constituinte.
As premissas do controle de constitucionalidade 
Premissas do controle de constitucionalidade:
Luís Roberto Barroso destaca que um sistema pressupõe uma unidade. 
Essa unidade só ocorrerá quando as partes desse sistema convivem de maneira harmoniosa.
O abalo da harmonia sistêmica deflagra mecanismos de correção com o objetivo do retorno ao status quo ante.
Para Luís Roberto Barroso o controle de constitucionalidade é o mais importante desses mecanismos, pois afere a compatibilidade entre uma lei ou ato normativo e a Constituição.
O controle de constitucionalidade parte de duas premissas:
A rigidez constitucional; e
A supremacia da Constituição.
Rigidez constitucional:
A rigidez constitucional é um pressuposto do controle de constitucionalidade, na medida em que uma Constituição rígida não pode ser alterada pelo mesmo processo de alteração da legislação ordinária.
O procedimento de alteração da Constituição brasileira é mais complexo, pois insere empecilhos formais e materiais para a reforma constitucional.
		Lei ordinária	Emenda constitucional
	Turnos de votação por Casa do Congresso Nacional	1	2
	Quórum de aprovação	Maioria simples ou relativa
Mínimo de 129 Deputados e 21 Senadores	3/5 dos membros da Casa
Mínimo de 308 Deputados e 49 Senadores
	Iniciativa	De regra ampla	Rol taxativo
	Limites materiais	As normas constitucionais	As cláusulas pétreas
Supremacia da Constituição:
Como consequência do princípio da supremacia constitucional, nenhuma lei ou ato normativo – a rigor, nenhum ato jurídico – poderá subsistir validamente se for incompatível com a Constituição. (BARROSO,2013, p. 232).
A Constituição é o ápice do ordenamento jurídico e fundamento de validade das demais normas jurídicas de um Estado.
Da análise de conformidade de uma norma jurídica com a Constituição é possível dois resultados:
Compatibilidade vertical; e
Incompatibilidade vertical.
Há autores como Dirley da Cunha Júnior que inserem ainda como pressupostos do controle de constitucionalidade:
A existência de uma Constituição formal e escrita;
A compreensão da Constituição como norma jurídica fundamental; e
A instituição de, pelo menos, um órgão com competência para o exercício dessa atividade de controle.
Dos critérios aventados, os dois primeiros encontram-se inseridos nos pressupostos já explicados.
Já o terceiro (previsão de um órgão competente para sua realização) diz respeito à necessidade de a Constituição prever o órgão com a função de afastar as normas inconstitucionais. 
No Brasil, um projeto de texto normativoconsiderado inconstitucional poderá ser afastado, preventivamente, tanto pelo Poder Legislativo quanto pelo Executivo.
Uma vez publicado o texto, a preponderância do controle da constitucionalidade do ato passa ao Poder Judiciário.
Jurisdição constitucional e controle de constitucionalidade:
Para Luís Roberto Barroso, as locuções jurisdição constitucional e controle de constitucionalidade não são sinônimas.
Há entre elas uma relação entre gênero e espécie.
O termo jurisdição constitucional designa a aplicação da Constituição por juízes e tribunais (BARROSO, epub, p. 25), que poderá ser feita de forma
Direta: quando a norma constitucional, por si só, discipline a situação da vida; ou 
Indireta: quando a Constituição sirva de referência para atribuição e sentido a uma norma infraconstitucional ou de parâmetro para sua validade. 
Para o autor, apenas na situação de aplicação indireta, em que a Constituição serve de parâmetro de validade ou referência para atribuição de sentido de uma norma infraconstitucional, haverá o controle de constitucionalidade.
Constitucionalidade e inconstitucionalidade:
Constitucionalidade e inconstitucionalidade designam conceitos de relação: a relação que se estabelece entre uma coisa – a Constituição – e outra coisa – um comportamento – que está ou não conforme, que cabe ou não cabe no sentido, que tem nela ou não a sua base. (MIRANDA, 2013, p. 7)
[...]a ideia de inconstitucionalidade (ou de constitucionalidade), por encerrar um conceito de relação [...] supõe o exame da compatibilidade vertical de um ato, dotado de menor hierarquia, com aquele que se qualifica como fundamento de sua existência, validade e eficácia. (ADI 1588, Relator: Min. Celso de Mello. Decisão monocrática. Julgamento: 11/04/2002. Publicação: DJ de 17/04/2002 pp-00009).
Há quem (Rui Barbosa, Gilmar Mendes) insira na noção de inconstitucionalidade a sanção advinda da incompatibilidade.
Contudo, como bem pontua Uadi Lammêgo Bulos, não se pode confundir a causa (desconformidade) com o efeito (o vício propriamente dito). 
Em 1888 Dicey já expunha que a noção de inconstitucionalidade variava de local para local:
Na Inglaterra a inconstitucionalidade designa a opinião de alguém oposta ao espírito da constituição britânica, ferindo os costumes locais.
Amplia-se o âmbito de paradigma, incluindo os costumes da terra (common law).
No entanto, tal incompatibilidade pode não ensejar uma infração à legalidade e, com isso, a nulidade do ato.
Na França, o termo inconstitucionalidade é sinônimo de simples censura.
 Nos Estados Unidos a inconstitucionalidade é uma transgressão dos atos legislativos, que acarreta sua nulidade. 
Portanto, Uadi Lammêgo Bulos (2018, epub, p. 140) ressalta que a inconstitucionalidade é um juízo de valor.
Uma avaliação entre paradigma (Constituição) e paragonado (ação).
A desconformidade (causa) gera o vício (efeito), e não o contrário (BULOS, 2018, p. 140).
Portanto, é possível que uma lei viciada esteja em consonância com o parâmetro de controle (a Constituição). E que uma norma sem vícios esteja em desacordo com a Constituição, sendo, portanto, inconstitucional.
O Plenário (...) julgou improcedente ação direta ajuizada contra a Lei 12.684/2007 do Estado de São Paulo, que proíbe o uso de produtos, materiais ou artefatos que contenham quaisquer tipos de amianto no território estadual. Além disso, declarou incidentalmente a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 9.055/1995, que permite a extração, industrialização, comercialização e a distribuição do uso do amianto na variedade crisotila no País (...). 
O Colegiado salientou que, no tocante à competência legislativa para normatizar a matéria, a necessidade de busca, na Federação, de um ponto de estabilidade entre centralização e descentralização. Dessa forma, compete concorrentemente à União a edição de normas gerais e aos Estados-membros suplementar a legislação federal no que couber (...). Somente na hipótese de inexistência de lei federal é que os Estados-membros exercerão competência legislativa plena (...). Sobrevindo lei federal dispondo sobre normas gerais, a lei estadual terá sua eficácia suspensa naquilo que contrariar a federal (...). De igual modo, aos Municípios compete legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar a legislação federal ou estadual no que couber (...). 
(...) No caso, a Lei 9.055/1995 admite, de modo restrito, o uso do amianto, de modo que a legislação local não poderia, em tese, proibi-lo totalmente. Porém, no momento atual, a legislação nacional sobre o tema não mais se compatibiliza com a Constituição, razão pela qual os Estados-membros passaram a ter competência legislativa plena sobre a matéria até que sobrevenha eventual nova lei federal.
A Corte ressaltou que o processo de inconstitucionalização da Lei 9.055/1995 se operou em razão de mudança no substrato fático da norma. A discussão em torno da eventual necessidade de banimento do amianto é diferente da que havia quando da edição da norma geral. Se, antes, tinha-se notícia de possíveis danos à saúde e ao meio ambiente ocasionados pela utilização da substância, hoje há consenso em torno da natureza altamente cancerígena do mineral e da inviabilidade de seu uso de forma segura. 
Além disso, atualmente, o amianto pode ser substituído por outros materiais (...), sem propriedade carcinogênica e recomendados pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Portanto, revela-se a inconstitucionalidade material superveniente da Lei 9.055/1995, por ofensa ao direito à saúde (...) ao dever estatal de redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança (...) e à proteção do meio ambiente (...). 
Diante da invalidade da norma geral federal, os Estados-membros passam a ter competência legislativa plena sobre a matéria, até sobrevinda eventual de nova legislação federal. Como a lei estadual questionada proíbe a utilização do amianto, ela não incide no mesmo vício de inconstitucionalidade material da lei federal.[ADI 3.937, rel. p/ o ac. min. Dias Toffoli, j. 24-8-2017, P, Informativo 874.]
= ADI 3.406 e ADI 3.470, rel. min. Rosa Weber, j. 29-11-2017, P, Informativo 886
Inconstitucionalidade e ilegalidade:
Os dois termos designam transgressões normativas (BULOS, 2018, p. 141).
Contudo, a inconstitucionalidade refere-se à contrariedade à Constituição.
Já a ilegalidade, tem como paradigma a incompatibilidade de um ato com um preceito legal.
Conclui-se, portanto, que a inconstitucionalidade é uma forma qualificada de ilegalidade (BULOS, 2018, p. 141).
A distinção dos termos é importante em virtude das possibilidades de análise da conduta pelo Poder Judiciário.
Classificação das espécies de inconstitucionalidade:
Quanto à conduta;
Quanto à origem do defeito;
Quanto à sua extensão;
Quanto ao momento de edição da norma;
Quanto ao prisma de apuração.
Quanto à conduta:
Inconstitucionalidade por ação: é praticada uma conduta incompatível com a Constituição.
ex.: a promulgação de uma lei.
Inconstitucionalidade por omissão: a Constituição determina a realização de uma conduta, mas ela não é feita. 
ex.: regulamentação do direito de greve dos servidores públicos.
Quanto à origem do defeito:
Inconstitucionalidade formal, orgânica, procedimental, instrumental ou nomodinâmica: quando o ato normativo infraconstitucional tem um defeito atinente ao procedimento de sua elaboração. 
ex.: Iniciativa de lei do Presidente da República para fixar ou modificar o efetivo das Forças Armadas, CF, art. 61, § 1º, I.
Inconstitucionalidade material, substancial, de conteúdo ou nomoestática: o teor da norma infraconstitucional afronta uma norma (explícita ou implícita) da Constituição. 
ex.: O art. 5º da Lei nº 12.034/09, que previa a impressão do voto ao eleitor, foi declarado inconstitucional por comprometer a garantia do voto secreto(ADI 4543, Rel. Min. Carmem Lúcia).
Quanto à sua extensão:
Inconstitucionalidade total: quando incidente em toda a lei ou ato normativo.
	Ex.: A Lei complementar que criou o IPMF.
Inconstitucionalidade parcial: atinge apenas uma fração da lei ou ato normativo, subsistindo outros dispositivos no mesmo ato.
Ex. A expressão “de qualquer natureza” do § 12 do art. 100 da Constituição, inserido pela EC, 62/09, relativa à atualização monetária dos débitos fazendários.
Inconstitucionalidade parcial horizontal ou quantitativa: quando há partes verbalmente separadas. 
	
	Ex.: art. 1º, I do Estatuto da OAB.
Inconstitucionalidade parcial vertical ou qualitativa: quando o preceito legal pode ser dividido em segmentos ideais relevantes para efeito de fiscalização.
	Ex.: art. 24, § 3º do Estatuto da OAB.
A atualização monetária dos débitos fazendários inscritos em precatórios segundo o índice oficial de remuneração da caderneta de poupança viola o direito fundamental de propriedade (CF, art. 5º, XXII), na medida em que é manifestamente incapaz de preservar o valor real do crédito de que é titular o cidadão. (...) Declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução da expressão "independentemente de sua natureza", contida no art. 100, § 12, da CF, incluído pela EC 62/2009, para determinar que, quanto aos precatórios de natureza tributária, sejam aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre todo e qualquer crédito tributário. [ADI 4.425, rel. p/ o ac. min. Luiz Fux, j. 14-3-2013, P, DJE de 19-12-2013.] Vide RE 870.947, rel. min. Luiz Fux, j. 20-9-2017, P, DJE de 20-11-2017, Tema 810 Vide ADI 4.425 QO, rel. min. Luiz Fux, j. 25-3-2015, P, DJE de 4-8-2015 
Jorge Miranda (2013, p.35) destaca que o termo inconstitucionalidade parcial ou total pode referir-se ainda ao tempo de aplicação da norma.
	
Inconstitucionalidade total: quando a inconstitucionalidade atinge todo o tempo de vigência de uma lei. 
Inconstitucionalidade parcial: quando atinge apenas em um determinado período de tempo limitado.
	Ex.: art. 92, parágrafo único do CPP.
O autor destaca ainda que em relação à inconstitucionalidade por omissão ela será:
Total: quando consiste na falta absoluta de medidas legislativas ou atos que dêem cumprimento ao comando constitucional;
Parcial: em que há a falta de cumprimento do comando constitucional quanto a alguns de seus aspecto ou dos seus destinatários.
Quanto ao momento de edição da norma:
Pressupõe a análise das normas anteriores à Constituição, utilizada como parâmetro.
Inconstitucionalidade originária: a Constituição é promulgada antes da norma a ser analisada.
Inconstitucionalidade superveniente: analisa-se a norma anterior à Constituição vigente. É uma tese admitida em Portugal e não no Brasil, que trata o caso como de recepção ou não da norma pela atual Constituição (teoria kenesiana). 
Quanto ao prisma de apuração:
Inconstitucionalidade direta: quando há uma relação direta entre o preceito analisado e a Constituição.
Constituição
Lei/ato normativo
Inconstitucionalidade indireta: quando existe um ato interposto entre a norma impugnada e a Constituição. Podendo ser:
Inconstitucionalidade indireta consequente: a inconstitucionalidade de um ato decorre da inconstitucionalidade de outro.
Constituição
Lei
Decreto
Inconstitucionalidade indireta reflexa ou oblíqua: o ato é ilegal e indiretamente incompatível com a Constituição. 
Constituição
Lei
Decreto
Controle de constitucionalidade 
Caso Bonham:
Luiz Guilherme Marinoni destaca que o controle dos atos estatais, inclusive os do Parlamento, pelo Estado-juiz, era conhecido na tradição do common law desde o início do século XVII.
O autor cita como exemplo o caso Bonham, em que o célebre juiz Edward Coke declarou que “as leis estão submetidas a um direito superior, o common law, e que quando elas os desrespeito, não nulas e destituídas de eficácia” (MARINONI, 2018, p. 945).
O caso Bonham é, para Luiz Guilherme Marinoni, um exemplo primitivo de uma lógica parecida à realizada atualmente pelo juiz submetido à Constituição e aos direitos fundamentais.
A distinção entre a supremacia do parlamento inglês e francês:
Para a real compreensão do controle de constitucionalidade, é necessário distinguir o movimento de supremacia do Parlamento, em suas concepções inglesa e francesa. 
A Revolução Gloriosa, de 1688, conferiu ao parlamento inglês uma posição de supremacia em relação à Monarquia.
Contudo, tal prevalência não enfraqueceu o judiciário inglês, que havia se unido ao legislativo contra o poder do monarquia.
Na Revolução Francesa, a supremacia do Parlamento se voltou tanto à Monarquia quanto ao Judiciário, considerando que, no ancien régime, os juízes eram indicados pelo rei. 
Na França buscou-se a substituição de um poder absoluto por outro (Assembleia Soberana).
Por não serem dignos de confiança, os juízes franceses eram proibidos de interpretar as leis para não distorcê-las, e desse modo enfraquecer as pretensões do novo regime (pautado pela supremacia do Parlamento).
Para Luiz Guilherme Marinoni, na Revolução Gloriosa não houve necessidade de afirmação da prevalência da lei (feita pelo Parliament) sobre os juízes, mas sim a força do direito comum sobre o poder real.
Portanto, o resultado da revolução foi a reafirmação da common law.
O rei está limitado ao Direito inglês.
O controle dos atos das colônias a partir do Direito Inglês:
As colônias inglesas eram regidas por Cartas, sendo proibidas de editar normas contrárias ao Direito Inglês.
Para Luiz Guilherme Marinoni (2018, p. 947), a supremacia do Parlamento inglês, nas colônias se fazia na impossibilidade de aplicação judicial das leis das colônias contrárias ao direito inglês.
Com a declaração de independência das 13 Colônias, as Cartas foram substituídas por novas Constituições.
Os juízes, até então habituados em declarar a nulidade de leis contrárias às Cartas e ao common law inglês, mantiveram sua prática, agora utilizando como parâmetro as novas Constituições.
Afirma-se que o princípio da supremacia do parlamento inglês, ao sobrepor o direito inglês à produção legislativa das colônias, acabou por fazer surgir, nos Estados Unidos, o seu oposto, ou seja, o princípio da supremacy of the Judiciary. (MARINONI, 2018, p. 949)
Contudo, Marinoni ressalta que o controle jurisdicional das leis coloniais se dava a partir do common law, ao qual também era submetido o próprio Parlamento inglês, considerando a distinção do princípio da supremacia dos parlamentos inglês e francês.
Assim sendo, não houve uma troca de princípios ou substituição do princípio da supremacia do Parlamento para o judiciário.
Um juiz ao afastar um excesso do monarca ou uma lei colonial, privilegiava ou reafirmava a common law (Law - Direito) e não a lei (law) do parlamento, propriamente dita.
O judicial review e o princípio da separação dos poderes:
Tanto o desenho institucional dos Estados Unidos, após a revolução americana, quanto o francês, advindo da Revolução francesa, têm raiz na concepção de Montesquieu de separação de poderes. 
Contudo, o papel do Poder Judiciário desses dois Estados são completamente distintos.
A Revolução Francesa buscou expurgar o direito anterior.
O direito comum foi substituído pelo direito nacional. 
Além disso o direito francês necessitava de legitimidade, fundamentada na subordinação do poder do juiz ao poder do parlamento.
O direito francês foi imaginado como uma legislação clara e completa, em que ao juiz caberia apenas sua aplicação no caso concreto.
Por isso era vedado ao juiz estender ou ampliar o alcance da lei.
Em caso de obscuridade ou ausência de lei, o magistrado deveria apresentar a questão ao Legislativo para que fosse feita a interpretação autorizada.
O Código Napoleônico, de 2.281artigos e o Código Prussiano, elaborado por Frederico II, o Grande, em 1793, com 17.000 artigos são os exemplos de completude imaginados à época.
Além disso, na França, em 1790 foi criada a Corte de Cassação, com o intuito de cassar decisões que destoassem do direito criado pelo parlamento.
Embora chamada de Corte, esse órgão não fazia parte do Poder Judiciário, por se tratar de uma instituição com a finalidade de proteger a supremacia da lei.
Sua finalidade era apenas de cassar ou anular decisões contrárias ao sentido da lei.
A Cour de Cassation não tinha poderes para substituir a decisão do órgão jurisdicional.
A Revolução Americana foi um movimento contrário ao Parlamento Inglês. 
Ademais, os juízes americanos contavam com a confiança do povo e atuavam de forma progressista, contra o abuso dos governantes. 
O pressuposto jusnaturalista da Constituição americana e a distinção entre poderes constituinte e constituídos:
Luiz Guilherme Marinoni (2018, p. 958) explica que, para além das características distintas das sociedades francesa e americana, a matriz jusnaturalista da Constituição influenciou diretamente no desenvolvimento do judicial review estadunidense.
Desde a declaração de independência de 1776, há referências às Leis da Natureza, como fundamento de separação entre as colônias e a Inglaterra.
Sendo a Constituição uma Lei Fundamental que contém direitos fundamentais para o desenvolvimento do homem, é proibido sua negação e violação pelo poder estatal, inclusive o Legislativo.
Além disso antes de se pensar na relação entre os Três poderes do Estado, há uma relação anterior entre Poder Constituinte e poderes constituídos que deve ser respeitada.
Por isso o Legislativo não poderia alterar a Constituição, por uma lei ordinária.
Assim sendo, ainda que não haja previsão expressa na Constituição americana, a lógica do texto, conciliada com a doutrina e a jurisprudência, fez brotar o poder judicial de revisão constitucional das leis (MARINONI, 2018, p. 960)
O caso Marbury v. Madison: a doutrina Marshall
A Suprema Corte americana nasceu para ser o órgão judiciário de última instância.
Em seu surgimento o órgão não havia sequer prédio próprio.
Com o passar dos anos e com a evolução jurisprudencial, a Corte passou a se concentrar em questões constitucionais preponderantemente.
Em 1803 foi dado o primeiro passo da Suprema Corte Americana para a instituição do modelo de justiça constitucional que influenciou diversos países, inclusive o Brasil.
Foi no julgamento do caso Marbury v. Madson, em que a Suprema Corte analisou a contraposição de uma lei em face da Constituição Americana de 1787, sendo desenvolvida a chamada Doutrina Marshall.
Uadi Lammêgo Bulos (2018, p. 194) destaca que essa não foi a primeira vez que leis foram declaradas nulas quando contrárias à Constituição nos Estados Unidos:
Em 1780 a Justiça de New Jersey reputaram nulas leis contrárias à Constituição.
Em 1782 a justiça da Virgínia declarou inconstitucionais, e com isso, nulas, leis estaduais.
Em 1787 a Suprema Corte da Carolina do Norte invalidou lies contrárias aos artigos da Confederação.
Contextualização
A Constituição norte-americana não normatizou a organização e estrutura do judiciário federal, trazendo apenas a previsão de que a Suprema Corte tem competência originária para julgar embaixadores, outros ministros públicos, cônsules e Estados da Federação, e competência recursal para os demais casos não previstos expressamente.
Essa omissão ocorreu em função da disputa entre federalistas e antifederalistas quanto à dimensão e poderes conferidos à União.
 
Preferiu-se, então que o desenho institucional do judiciário federal fosse elaborado pelo Congresso. 
O Judiciary Act de 1789 foi a primeira legislação editada pelo Congresso a tratar da organização do Judiciário federal. 
O sistema contemplado pela lei estabeleceu três níveis jurisdicionais: 
1ª instância: estavam os juízes distritais, ao menos um por Estado ou grande cidade, competentes para julgar causas de menor monta. 
2ª instância: as Circuit Courts, que não se tratavam, à época, de tribunais de apelação, cuja competência abrangia os chamados casos de diversidade, envolvendo questões interestatais e lides entre cidadãos e estrangeiros. 
Última instância: a Suprema Corte, cujas competências vinham delineadas na Constituição Federal. 
O Judiciary Act de 1789 também investiu a Suprema Corte da competência para expedir writs of mandamus em face de pessoas que ocupassem cargos federais “sob a autoridade dos Estados Unidos”.
Nas eleições presidenciais de 1800, o partido federalista, liderado por John Adams e Alexander Hamilton, sofre sua primeira derrota, desde a entrada em vigor da Constituição de 1787, para os republicanos-democratas, de Thomas Jefferson e James Madison.
Os republicanos-democratas também conquistaram a maioria dos cargos nas duas casas do Congresso.
A data da posse do novo Presidente seria apenas em 4 de março do próximo ano.
Em 13 de fevereiro de 1801, o Congresso, ainda federalista, editou uma lei que: 
ampliava a competência dos juízes federais de 1ª instância;
criava 16 novos cargos no Judiciário Federal de 2ª instância (Circuit Courts); 
modificava a estrutura anterior desses tribunais. 
reduzia o número de juízes da Suprema Corte de seis para cinco; e
vedou a ocupação dos cargos nas Circuit Courts por Chief Justices, uma prática até então adotada.
Em 27 de fevereiro, o Congresso editou outra lei que:
criou 42 cargos de juízes de paz; e
Subdividiu o Distrito de Columbia em dois condados, Washington e Alexandria.
O presidente John Adams efetuou suas nomeações que foram todas, aprovadas pelo Senado, nos dias 2 e 3 de março (véspera da posse de Jefferson).
Adams nomeou ainda seu Secretário de Estado, John Marshall, Presidente da Suprema Corte (Chief Justice).
John Marshall ficou encarregado de dar a investidura de todos os juízes de paz.
Alguns incumbentes não chegaram a ser investidos antes da posse de Jefferson, tendo as notificações permanecido no gabinete de Marshall, entre eles o de William Marbury, de Maryland.
Ao tomar posse Jefferson determinou a James Madison, seu novo Secretário de Estado, que suspendesse imediatamente a entrega das notificações.
Em março de 1802, o Congresso editou a lei conhecida como Repeal Act que:
revogou o Ato Judiciário de 1801;
restabeleceu a estrutura anterior do Judiciário Federal e
Aboliu os 16 novos cargos da magistratura federal que haviam sido criados.
Em abril do mesmo ano, o Congresso, sob a alegação de estar reformando o calendário de atuação da Suprema Corte, editou o Ato Judiciário de 1802, suspendendo as sessões da Corte de junho e dezembro de 1802, postergando as sessões da Corte até fevereiro de 1803, para evitar o julgamento do Repeal Act.
Marbury, ajuizou ação perante a Suprema Corte, requerendo um writ of mandamus em face de Madison para obrigá-lo a cumprir a ordem de comissionamento expedida pelo governo anterior e proceder à sua investidura como juiz de paz do Distrito de Columbia.
A decisão do caso
A Suprema Corte americana tinha que resolver três questões jurídicas:
Marbury teria direito à investidura no cargo de Juiz de Paz?
Caso Marbury tivesse direito à posse no cargo, haveria remédio no ordenamento para assegurar-lhe o exercício de seu direito?
Se tal remédio postulado estiver previsto no ordenamento, será ele um writ a ser expedido pela Suprema Corte?
Saindo da lógica entre preliminares e mérito, Marshal enfrentou inicialmente a questão de mérito da causa, entendendo que Marbury tinha direito a ser nomeado juiz de paz para o Distrito de Columbia.
Para Marshall os cargos de juiz de paz no Distrito de Columbia haviam sido criados pelo Congresso. 
As investiduras eram atos complexos, perfectibilizados pela assinatura do Presidente Adams, uma vez quea indicação já havia sido devidamente confirmada pelo Senado.
Em seguida Marshall ponderou que, se Marbury tem um direito, é necessário ter um instrumento processual para protegê-lo.
Questionou-se, portanto, se o writ of mandamus poderia ser tal instrumento, utilizado pela Suprema Corte.
Marshall distinguiu dois tipos de atos do Executivo:
Atos que têm natureza política ou que a Constituição coloquem sob exclusiva discricionariedade do Executivo;
 Atos resultantes de dispositivos da Constituição ou da lei que imponham ao Executivo um determinado dever.
Para Marshall só se poderia analisar o writ of mandamus quando ele se tratar da segunda classe de atos do Executivo.
Marshall prossegue em seu voto, afirmando que o comissionamento havia se revestido de todas as exigências legais e, portanto, a retenção da entrega da notificação de seu comissionamento constituía evidente violação a um direito de Marbury.
 A conclusão, portanto, foi a de que havendo um oficial do Estado cometido um ato ilegal, furtando-se a cumprir um dever de ofício, o instrumento processual legal para repeli-lo seria o writ of mandamus.
Por fim, Marshall analisa a competência da Suprema Corte, para aferir se ela poderia analisar o writ of mandamus.
Marshall invoca e afirma o poder institucional da Suprema Corte de rever (review) atos legislativos do Congresso da União e determinar sua nulidade caso incompatíveis com a Constituição Federal.
	It is emphatically the province and duty of the judicial department to say what the law is. (...) If, then, the courts are to regard the constitution, and the constitution is superior to any ordinary act of legislature, the constitution, and not such ordinary act, must govern the case to which they both apply.
Marshall ressalta então que, a Constituição é (a lei) suprema de uma nação, ela está em um patamar superior ao ordenamento.
Não poderia então uma lei alterar as normas constitucionais, pois do contrário, a lei se sobreporia à Constituição.
Portanto, o Judiciary Act de 1789, que conferiu competência originária à Suprema Corte, para o julgamento do writ of mandamus, por alterar a competência originária da Corte, prevista na Constituição, seria com ela incompatível, isto é, inconstitucional.
Com base nesse raciocínio, a Suprema Corte americana:
Se esquivou de uma disputa política;
Reafirmou a rigidez da Constituição; 
Destacou a superioridade da Constituição em relação aos poderes constituídos e demais normas do ordenamento jurídico.
Exortou o poder do Poder Judiciário de afastar uma lei contrária à Constituição em casos concretos, em virtude de sua função de interpretar as leis e eliminar conflitos entre elas.
Principais críticas à decisão do caso Marbury v. Madison:
A decisão proferida por Marshall foi duramente criticada pelos seguintes motivos (BARROSO, 2009, p. 31):
Marshall deveria se dar por impedido, em razão de sua função no decorrer dos fatos;
A decisão foi estruturada em uma sequência ilógica pois a questão processual encerrou o caso e não o contrário.
Havia argumentos infraconstitucionais que impediriam a investidura do cargo.
A incompetência da Corte ou o descabimento do writ poderiam ser reconhecidos por outras razões.
Falta de legitimidade democrática no desempenho desse papel pelo Poder Judiciário.
Consequências do caso Marbury v. Madison:
Apesar de criticada a decisão de Marshall ensejou:
O posterior reconhecimento da Suprema Corte de sua competência de controlar os atos, leis e decisões estaduais em face da Constituição e das leis federais.
Estabeleceu a competência do Judiciário para rever atos do Executivo e do Legislativo à luz da Constituição.
Entregou à Suprema Corte o papel de último intérprete da Constituição.
O controle judicial de constitucionalidade na Europa Continental:
Para Luiz Guilherme Marinoni, uma das razões de o controle de constitucionalidade da Europa, ser exercido por Cortes Constitucionais, criadas especificamente para esse fim, se dá pela ausência da regra do stare decisis.
Stare decisis ou vinculação do precedentes, refere-se à obrigatoriedade dos juízes e tribunais aplicarem a decisão do tribunal de nível maior, quando mantidos os contornos fáticos de um litígio.
 Outro motivo, e talvez, o mais importante, refere-se à demora do desenvolvimento da ideia de supremacia da Constituição. 
No final do século XVII, o princípio da separação de poderes na Europa ocidental foi compreendido de forma rígida.
Na França, por exemplo, como os juízes eram vistos com desconfiança, a soberania nacional foi entregue ao Parlamento, por ser o órgão com legitimidade popular.
Não havia também a noção de Constituição rígida, no sentido de que o Parlamento estaria limitado e condicionado a uma fonte jurídica acima dele (a Constituição).
Por tais motivos, apenas em 1920 a Áustria desenvolve a ideia de controle de constitucionalidade, exercido de forma concentrada em uma única Corte.
Sistema austríaco de controle de constitucionalidade:
O sistema concentrado de constitucionalidade, também chamado de sistema austríaco, foi desenvolvido por Hans Kelsen, e previsto na Constituição da Áustria de 1920.
Kelsen tinha uma concepção de constituição formal.
A Constituição era vista como norma jurídica que se coloca no ápice do ordenamento jurídico.
Essa ideia culminou na criação de um órgão competente para analisar a compatibilidade do texto maior com a produção legislativa.
Criou-se então a Corte Constitucional (o Verfassungsgerichtshof).
Considerando a ideia da análise abstrata das norma, isto é, a comparação da lei com a Constituição, sem um caso concreto, a lógica kenesiana concluía que a decisão do tribunal não teria efeitos retroativos.
O papel da Corte Constitucional era apenas o de expulsar uma norma incompatível com a Constituição do ordenamento jurídico.
Por isso, a Corte Constitucional era comparada com um legislador negativo.
A legitimidade para requerer essa análise pela Corte foi conferida:
Ao governo federal: em relação às leis estaduais; e 
Aos governos estaduais: em relação às leis federais.
Inicialmente não era possível questionar a constitucionalidade de uma lei que servia de pressuposto à resolução de um litígio perante outros juízes ou tribunais.
Portanto, em seu primórdio, faltava um controle concreto de constitucionalidade nesse sistema.
Apenas em 1929, conferiu-se à Corte Suprema e à Corte Administrativa, o poder de requerer à Corte Constitucional, o exame de constitucionalidade de uma lei, tida como prejudicial à solução de um litígio.
A Corte Suprema e a Corte Administrativa, não poderiam examinar a constitucionalidade das leis.
Elas poderiam apenas requerer essa análise para a Corte Constitucional. 
Juízes e tribunais intermediários estavam submetidos ao princípio da supremacia do parlamento.
NÃO poderiam fazer outra coisa, que não aplicar a lei, ainda que a considerasse inconstitucional.
Europa pós-Segunda Guerra Mundial:
Após a Segunda Guerra Mundial, as novas Constituições passaram a trazer princípios gerais de justiça, de aspiração ética e política.
Houve a atribuição da força normativa das Constituições.
As Constituições italiana, de 1948 e alemã, de 1949, instituíram modelos de controle de constitucionalidade similares ao austríaco.
A competência para a declaração da inconstitucionalidade das leis foi reservada exclusivamente a uma Corte Constitucional, tendo sua decisão eficácia erga omnes.
A Corte Constitucional foi incumbida de zelar pela supremacia da Constituição, impedindo a sobrevivência de leis que a desrespeitem (MARINONI, 2018, p. 971). 
Tanto o modelo alemão, quanto o italiano, possibilitaram o controle concreto de constitucionalidade.
Ambos possibilitaram a todos os juízes o poder e o dever de requereremà Corte Constitucional, a análise da constitucionalidade de uma lei.
Portanto, em tais sistemas, nenhum juiz é obrigado a aplicar a lei que entenda inconstitucional. 
Porém nenhum juiz poderá realizar o controle de constitucionalidade, sendo essa uma competência exclusiva da Corte Constitucional.
Uadi Lammêgo Bulos destaca (2018, p. 196) que o sistema austríaco é mais fecundo que se possa imaginar, pois prevê mais dois instrumentos distintos para a análise da constitucionalidade pela Corte Constitucional, ao lado do controle misto.
Recursos constitucionais:
Beschwerde: exauridas as instâncias ordinárias, é possível sua utilização para combater atos administrativos abusivos, regulamentos, leis ou tratados inconstitucionais.
Individualantrag: é um recurso individual, criado em 1975, para impugnar leis ou regulamentos que contrariem de modo direito direitos individuais.
Nesse caso a medida só pode ser usada quando não houver outra via judicial cabível para defender o direito lesado (princípio da subsidiariedade).
Requerimentos governamentais: os Governos Federais e estaduais instam a Corte para saber se um ato é da competência da União ou dos Estados. 
Trata-se de um controle tipicamente preventivo. 
Uadi Lammêgo Bulos (2018, p. 197) aponta como principais características do modelo austríaco:
Leis federais, estaduais e regulamentos administrativos podem ser objeto de controle de constitucionalidade.
Apenas normas vigentes podem ser fiscalizadas na via abstrata;
O Tribunal Constitucional controla apenas as inconstitucionalidades por omissão parcial, isto é, casos em que houve violação ao princípio da igualdade.
Não é possível juízo subjetivo na seara do controle de constitucionalidade.
Não é possível invocar princípios jusnaturalistas como parâmetro de controle de constitucionalidade (ao contrário do alemão);
A decisão de inconstitucionalidade tem efeitos ex nunc.
Utiliza-se a interpretação conforme à Constituição, para evitar apenas os significados reputados inconstitucionais, mantendo-se a norma do ordenamento jurídico.
Apenas a declaração de inconstitucionalidade, no caso concreto, na via de exceção tem efeitos retroativos.
A Constituição austríaca permite ao Tribunal estabelecer um prazo máximo de um ano para o início dos efeitos da cassação do ato inconstitucional.
Principais características do Modelo Português:
Portugal introduziu o controle difuso na Europa, na Constituição de 1911 (inspirada na Constituição brasileira de 1891).
A partir da Constituição de 1976 passou a vigorar um modelo híbrido.
É possível que, no caso concreto a questão inconstitucional seja suscitada pela parte, pelo Ministério Público ou de ofício pelo juiz.
Os efeitos da decisão de declaração de inconstitucionalidade tem efeitos inter partes.
Se o Tribunal Constitucional declarar, por três vezes, desenvolve-se o processo de controle com efeitos erga omnes, por iniciativa de qualquer juiz ou do Ministério público.
Principais características do Modelo Francês:
Predomina o controle concentrado exercido pelo Conseil Constitutionnel. (para Uadi Lammêgo Bulos, esse controle é eminentemente político).
O controle abstrato é eminentemente repressivo.
É possível um controle preventivo, no decorrer do processo legislativo.
Após 2010, o Consiel passou a realizar o controle constitucional concreto e a posteriori, tornando-se uma verdadeira Corte Constitucional.
Principais características do Modelo Alemão:
O Tribunal Constitucional (Bundesverfassungsgericht) é o órgão com competência para o controle de constitucionalidade.
Ele é composto por duas câmaras de oitos juízes, eleitos para um mandato de 8 anos.
Metade dos membros é eleita pelo Parlamento e a outra metade pelo Conselho Federal.
O controle abstrato (abstrakte Normenkontrole) é feito através de representação dos Governos federal ou estadual, ou de 1/3 dos membros do Parlamento.
O controle concreto de normas (konkrete Normenkontrole) é suscitado por um tribunal, que deve sustar o feito, caso repute a lei inconstitucional.
Fazem parte desse controle os dissídios interpretativos entre tribunais estaduais ou dos tribunais com o Tribunal Constitucional.
Através da qualificação de normas, o Tribunal Constitucional decide se uma lei integra ou não o direito federal.
Através da Verificação de norma, o Tribunal Constitucional decide, à requerimento de uma Corte de Justiça, se uma norma de Direito Internacional, pertence à seara do Direito Federal.
Através do controle das prognoses legislativas, o Tribunal Constitucional alemão procede a análsie de fatos legislativos históricos, fatos atuais e eventos futuros, perquerindo fatores estáveis e dinâmicos do litígios, indagando assim a verdadeira intenção das partes envolvidas no litígio.
O controle judicial de constitucionalidade no Brasil:
O modelo de justiça constitucional brasileiro é um dos mais complexos e completos do mundo, fruto de uma evolução histórica e da conciliação de influências dos modelos americano e austríaco.
A Constituição de 1824:
A Constituição de 1824 não previa um sistema de controle de constitucionalidade.
Influenciada pelas ideias francesas de Benjamin Constant, a Constituição “buscou consagras a soberania do Parlamento”.
O art. 15, nº 8º e 9º da Constituição de 1824 atribuía ao Poder Legislativo a competência de “fazer leis, interpretá-las, suspendê-las e revoga-las”.
Por outro lado, a Constituição previu também o Poder Moderador “chave de toda organização política”, com a incumbência de manter “a independência, equilíbrio e harmonia dos demais Poderes”, nos termos do art. 98.
 Havendo a “suprema inspeção” do Imperador aos três poderes, não fazia sentido a incumbência ao Judiciário de analisar o controle da constitucionalidade.
Caso houvesse a necessidade, essa providência seria exercida pelo Poder Moderador (CUNHA JÚNIOR, 2017, p. 264).
Constituição de 1891:
Com clara influência da Constituição norte-americana, a Constituição de 1891 incorporou no Brasil o sistema difuso de constitucionalidade.
A rigor, Dirley da Cunha Júnior (2017, p. 264) ressalta que o controle de constitucionalidade fora inserido no sistema nacional já na Constituição Provisória de 22 de junho de 1890 (Decreto nº 510).
O Decreto nº 848 de 1890, que organizava a Justiça Federal, dispunha em seu art. 9º, parágrafo único, sobre a competência do Supremo Tribunal Federal de julgar recurso que questionasse a validade ou a aplicação de tratados e leis federais e a decisão do tribunal do Estado contrários à Constituição.
A Constituição de 1891 reproduziu o disposto no Decreto nº 848/1890.
Ainda havia dúvida sobre a competência do Judiciário, coube a Ruy Barbosa tal esclarecimento:
A redacção é claríssima. Nella se reconhece, não só a competencia das justiças da União, como a das justiças dos Estados, para conhecer da legitimidade das leis perante a Constituição. Somente se estabelece, a favor das leis federaes, a garantia de que, sendo contraria á subsistencia delias a decisão do tribunal do Estado, o feito pode passar, por via de recurso, para o Supremo Tribunal Federal. Este ou revogará a sentença, por não procederem as razões de nullidade, ou a confirmará pelo motivo opposto. Mas, numa ou noutra hypothese, o principio fundamental é a auctoridade, reconhecida expressamente no texto constitucional, a todos os tribunaes, federaes, ou locaes, de discutir a constitucionalidade das leis da União, e applica-las, ou desapplica-las, segundo esse critério. (BARBOSA, p. 58, 1893)
A primeira sessão do STF ocorreu no dia 28-2-1891, no Rio de Janeiro, no antigo Edifício da Relação, à rua do Lavradio, as 13 horas, em sessão extraordinária, na qual se reuniram os 15 ministros (MORAES, 2013, p. 202).
A Lei nº 221, de 1894, explicitou em seu art. 13, § 10, a sistemática do controlede constitucionalidade.
A reforma de 1926, por sua vez, inseriu o art. 60, § 1º, a, na Constituição de 1891, onde expressamente consta a competência do STF para o julgamento de recursos que questionassem a vigência ou validade das leis federais em face da Constituição, ou decisão de tribunal do Estado que lhes negasse aplicação.
Consolidou-se um amplisistema de controle difuso de constitucionalidade no Direito Brasileiro (MENDES, 2017, p. 1177).
Não havia possibilidade, portanto, de controle in abstrato das normas.
Ruy Barbosa (1893) destacava à época que “o judicial review consistia em um poder de hermenêutica e não um poder de legislação”.
Constituição de 1934:
A Constituição de 1934 manteve o controle difuso incidental de constitucionalidade dos atos normativos como regra.
A Constituição previu ainda que a declaração de inconstitucionalidade somente poderia ser pronunciada por maioria absoluta dos membros dos Tribunais.
O texto constitucional conferiu ao Senado Federal a competência para a suspensão em todo país, da execução, no todo ou em parte, de lei ou ato declarado inconstitucional pelo STF. 
Tal fórmula buscou resolver o problema de falta de eficácia geral das decisões de inconstitucionalidade, proferidas pelo STF.
Buscou-se equilibrar o papel do Judiciário, em declarar a inconstitucionalidade de uma norma, com o do Legislativo, para atribuir efeitos erga omnes a essa decisão.
Além disso, a necessidade de maioria absoluta, também fortaleceu o Legislativo.
Havia ainda vedação expressa de conhecimento pelo Poder Judiciário, de questões exclusivamente políticas (art. 68).
A Constituição de 1934 introduziu ainda um instrumento do modelo austríaco de constitucionalidade.
Através da representação interventiva, buscava-se uma declaração de inconstitucionalidade para evitar a intervenção federal
A Constituição condicionava a eficácia da lei interventiva, de iniciativa do Senado Federal, à declaração de sua constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal.
Caberia ao Procurador Geral da República tal representação, nos casos de ofensa aos chamados princípios constitucionais sensíveis.
Para Gilmar Mendes, esse controle judicial configurava um sucedâneo do direito de veto, atribuído ao Supremo Tribunal Federal.
A intervenção deixava de ser um juízo meramente político, aferindo contornos jurídicos.
Constituição de 1937:
A Constituição de 1937 é considerada um retrocesso no constitucionalismo brasileiro (MENDES, 2017, p. 1179).
Foi mantido o quórum especial da declaração de inconstitucionalidade e o sistema difuso como regra.
Permitiu ao Presidente da República submeter ao Parlamento a reapreciação da decisão que declarou a inconstitucionalidade de uma lei. 
Se, pelo voto de 2/3 de cada uma das Casas Legislativas, fosse confirmada a validade da lei, tornava-se insubsistente a decisão do Poder Judiciário que decretou a inconstitucionalidade (art. 96, parágrafo único).
Permitiu ao Presidente da República submeter ao Parlamento a reapreciação da decisão que declarou a inconstitucionalidade de uma lei. 
Se, pelo voto de 2/3 de cada uma das Casas Legislativas, fosse confirmada a validade da lei, tornava-se insubsistente a decisão do Poder Judiciário que decretou a inconstitucionalidade (art. 96, parágrafo único).
Para Gilmar Mendes criou-se uma verdadeira modalidade de revisão constitucional.
A lei confirmada acabava tendo, na prática, força de emenda constitucional.
A rigor, o quórum de alteração da Constituição era de maioria absoluta (menor que o necessário para revalidar a lei).
Portanto, o que se buscava era, a um só tempo, validar a lei e cassar os julgados (NUNES, apud MENDES, 2017, p. 1180).
Em 1939 Getúlio Vargas publicou o Decreto-Lei nº 1.564 suspendendo o efeitos de decisões do STF que declararam a inconstitucionalidade de lei que dispunha sobre o imposto de renda.
O mandado de segurança perdeu a qualidade de garantia constitucional.
O Código de Processo Civil, de 1939, excluiu ainda da apreciação judicial, na via mandamental, os atos do Presidente da República, dos ministros de Estado, dos governadores e interventores dos Estados.
Constituição de 1946:
Com a redemocratização, a Constituição de 1946 restaurou a supremacia do Poder Judiciário em matéria de controle de constitucionalidade (CUNHA JÚNIOR).
Preservou-se a exigência de quórum qualificado para a declaração de inconstitucionalidade.
Foi mantido o modelo difuso-incidental de 1891.
Foram reinseridas as inovações trazidas pela Constituição de 1934 (representação interventiva e suspensão erga omnes de execução de lei declarada inconstitucional).
Na representação interventiva, houve uma alteração do procedimento e de titularidade.
Coube a competência do Procurador Geral da República a titularidade da representação, no caso de violação dos princípios constitucionais sensíveis.
A intervenção federal subordinava-se à declaração de inconstitucionalidade do ato pelo Supremo Tribunal Federal.
A maior inovação nesse período constitucional se deu com a Emenda Constitucional nº 16/65.
Inaugurou-se o controle abstrato de constitucionalidade dos atos normativos federais e estaduais, através da representação genérica de inconstitucionalidade, similar ao modelo kenesiano.
Coube ao STF o julgamento da compatibilidade das normas e atos federais e estaduais em face da Constituição Federal.
Aos Tribunais de Justiça, foi dada a competência para julgamento da compatibilidade das leis e atos estaduais e municipais em face das constituições estaduais.
Constituição de 1967/69:
Não houve mudança significativa da Constituição de 1967/69 na jurisdição constitucional.
Ampliou-se a representação interventiva, para abarcar, além dos princípios constitucionais sensíveis, o provimento da execução das leis federais.
Transferiu para o Presidente da República a competência de suspensão do ato estadual.
Retirou a competência do Tribunal de Justiça de controle abstrato de constitucionalidade de leis estaduais e municipais.
A Emenda Constitucional nº 1/69 reinseriu a competência do controle abstrato aos TJs.
Já a Emenda Constitucional nº 7/77 introduziu a representação para fins de interpretação de lei ou ato normativo federal ou estadual.
Buscou-se evitar a proliferação de demandas, com a interpretação dada pelo STF (BULOS, 2018, p. 204).
A mesma emenda trouxe expressamente o poder de deferimento de medidas cautelares pelo STF, em sede de controle abstrato.
Constituição de 1988:
Com a redemocratização, a Constituição de 1988 ampliou, significativamente, os mecanismos de proteção judicial e de controle de constitucionalidade das leis e atos normativos (MENDES, 2017, p. 1191).
Houve ainda o reforço do modelo abstrato de constitucionalidade.
Como ações constitucionais, estão previstas:
Habeas corpus: destinado a proteção do indivíduo contra atos que impliquem em restrições de seu direito de locomoção.
Habeas dada: destinado à garantia do direito de autodeterminação sobre informações (instrumento criado pela CF/88).
Mandado de segurança: destinado a proteção de direito líquido e certo, não protegido por habeas corpus ou habeas data.
Mandado de segurança coletivo: que tem como legitimados, partidos políticos com representação no Congresso nacional, organização sindical, entidade de classe ou associação em funcionamento a mais de um ano, em defesa de seus membros.
Mandado de injunção: destinado a proteção de pessoas físicas e jurídicas para exercerem prerrogativas, direitos e liberdades constitucionais inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, impedidos de exercício por falta de norma regulamentadora.
Ação popular: que visa anular ato da Administração Pública considerado lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
Ação deimpugnação de mandato eletivo: feitar por qualquer cidadão, no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída com as provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
Ação civil pública: destinada a tutela jurídica dos interesses e direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.
Além dos instrumentos citados, a representação interventiva foi mantida sob a roupagem de Ação Direita de Inconstitucionalidade Interventiva, pressuposto para a intervenção federal, em razão do descumprimento dos princípios constitucionais sensíveis.
Em sede do controle abstrato de constitucionalidade ocorreram as seguintes alterações:
Ampliada a legitimidade ativa para a ação direta de constitucionalidade.
Inserida a ação direita de inconstitucionalidade por omissão.
A Emenda Constitucional nº 3/93 inseriu a chamada ação declaratória de constitucionalidade.
A mesma emenda inseriu a chamada arguição de descumprimento de preceito fundamental, com o objetivo de afetar a análise abstrata do direito pre-constitucional pelo Supremo Tribunal Federal.
Classificação dos modelos de controle de constitucionalidade: 
Quanto a natureza do órgão;
Quanto ao parâmetro de controle;
Quanto ao momento de execução;
Quanto ao(s) órgão(s) que exerce(m) o controle judicial;
Quanto a forma ou modo de controle judicial; e
Quanto aos efeitos da declaração de inconstitucionalidade.
Quanto à natureza do órgão: 
Controle político ou não judicial: feito por órgãos que não integram o Poder Judiciário. Há quem o denomine de “modelo francês”. 
Controle judicial, jurisdicional: feito por órgãos integrantes do Poder Judiciário.
Luís Roberto Barroso aponta que, não é porque o Conselho Constitucional, não faz parte do Poder Judiciário, que ele não exerça a jurisdição propriamente dita. Ademais, desde 2008 (com vigência a partir de 2010) admite-se na França a chamada Questão Prioritária de Constitucionalidade (QPC), que configura-se em um controle exercido no decorrer de um processo.
Portanto, o Conselho Constitucional, ainda que formalmente seja fora da estrutura do Poder Judiciário, exerce jurisdição na prática.
Quanto ao momento de execução: 
Controle repressivo, sucessivo ou a posteriori: realizado após a promulgação do ato normativo. 
Quanto ao momento de execução: 
Controle preventivo ou prévio: exercido quando do antes do aperfeiçoamento do ato normativo. 
No modelo brasileiro há preponderância do controle político.
Pelas Comissões de Constituição e Justiça e Plenários das Casas do Congresso Nacional;
Pelo Presidente da República, como fundamento do veto (veto jurídico);
Excepcionalmente pelo STF, em sede de mandado de segurança, em relação a emenda à constituição tendente a abolir cláusula pétrea (CF, art. 60, § 4º) – (MS 34063 AgR, Relator: Min. Edson Fachin, julg.: 01/07/2016
A preponderância de atuação é do controle judicial, sendo admitida ainda:
Pelo chefe do Poder Executivo, mediante a recusa direta de aplicação de norma inconstitucional, para não incorrer em crime de responsabilidade.
Pelo Poder Legislativo
através da sustação de atos do Executivo, sob o fundamento de abuso do exercício do poder regulamentar (CF, art. 49, V); 
na análise dos requisitos de relevância e urgência de medidas provisórias (CF, art. 62, § 5º);
por intermédio do Tribunal de Contas, que é órgão auxiliar do Poder Legislativo.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA PROVISÓRIA. REVOGAÇÃO. PEDIDO DE LIMINAR. 
- Por ser a medida provisória ato normativo com força de lei, não e admissível seja retirada do Congresso Nacional a que foi remetida para o efeito de ser, ou não, convertida em lei. 
- Em nosso sistema jurídico, não se admite declaração de inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo com força de lei por lei ou por ato normativo com força de lei posteriores. O controle de constitucionalidade da lei ou dos atos normativos e da competência exclusiva do poder judiciário. Os poderes executivo e legislativo, por sua chefia - e isso mesmo tem sido questionado com o alargamento da legitimação ativa na ação direta de inconstitucionalidade -, podem tão-só determinar aos seus órgãos subordinados que deixem de aplicar administrativamente as leis ou atos com força de lei que considerem inconstitucionais. (...)
(ADI 221 MC, Relator(a):  Min. MOREIRA ALVES, TRIBUNAL PLENO, julgado em 29/03/1990, DJ 22-10-1993 PP-22251 EMENT VOL-01722-01 PP-00028) 
Súmula 347: O tribunal de contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder público.
Lei inconstitucional - Poder Executivo - Negativa de eficácia.
O poder executivo deve negar execução a ato normativo que lhe pareça inconstitucional.(REsp 23121/GO, Rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, Primeira Turma, STJ, julgado em 06/10/1993, DJ 08/11/1993, p. 23521)
Quanto ao parâmetro de controle: 
Busca-se definir a norma que servirá de objeto da comparação de compatibilidade:
Parâmetro formal amplo: interessa saber se todas as normas presentes na Constituição podem servir para a análise da constitucionalidade da norma infraconstitucional.
Parâmetro formal restritivo: apenas algumas normas da Constituição poderão servir para o confronto analítico com a lei. Ex.: Bélgica 
Parâmetro material: analisa-se o conteúdo das normas e não necessariamente sua posição formal. Com isso normas fora da Constituição, que detém natureza constitucional (limitação do poder do Estado, através de outorga de direitos fundamentais ou de sua organização) servem para análise da legislação interna.
É o chamado bloco de constitucionalidade.
 Com a criação da União Europeia, o direito comunitário (supranacional) deve prevalecer em face do direito interno (inclusive a Constituição).
Na Alemanha, é possível analisar, inclusive a inconstitucionalidade das normas constitucionais (Teoria de Otto Bachof).
Na França (CUNHA JÚNIOR, 2017, p. 270), compõem o bloco de constitucionalidade abrange:
A Constituição de 1958;
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789;
O Preâmbulo da Constituição de 1946;
Os Princípios Fundamentais reconhecidos pelas Leis da República;
A Carta do Meio Ambiente de 2004.
Quanto à forma ou modo de controle: 
Controle concreto, incidental ou em via de exceção: a inconstitucionalidade é arguida no contexto de um processo ou ação judicial a questão configura um incidente, uma questão prejudicial que deve ser decidida em momento anterior ao pronunciamento do mérito.
Controle em abstrato, principal ou direto: a constitucionalidade constitui o objeto autônomo e exclusivo da atividade cognitiva do órgão judicial sem nexo de dependência para com outro litígio.
Quanto ao objeto do controle: 
Dirley da Cunha Júnior (2017, p. 270) ressalta que de regra as Constituições organizam seus sistemas de defesa, adotando o controle de constitucionalidade dos atos normativos:
Os que veiculam normas;
Os atos editados pelos poderes públicos.
Há países em que o controle de constitucionalidade abrange atos decorrentes da autonomia da vontade (vide a teoria dos efeitos horizontais dos direitos fundamentais).
Outro ponto é a vedação expressa em alguns Estados, do controle de constitucionalidade de atos políticos. 
Por fim, há países que admitem também o controle das omissões constitucionais. 
Quanto ao(s) órgão(s) que exerce(m) o controle judicial: 
Controle difuso: é aquele exercido por qualquer juiz ou tribunal, respeitada sua competência. Chamado de sistema americano.
Controle concentrado: é exercido por apenas um órgão. Chamado de sistema austríaco ou kenesiano.
Controle misto (?): ocorre quando há uma fusão dos dois modelos. 
Para maioria da doutrina, é o sistema adotado no Brasil. 
Para a corrente minoritária o sistema brasileiro não deixou de ser difuso, pois todos os tribunais ainda mantiveram sua competência para a realização do controle(MARINONI, 2012, p. 774).
Quanto à finalidade: 
Dirley da Cunha Júnior (2017, p. 85) afirma que o controle, em relação à sua finalidade pode ser:
Subjetivo: quando a finalidade de seu exercício restringe-se à defesa de um direito ou interesse particular e não propriamente a Constituição.
Objetivo: quando a finalidade do controle destina-se exclusivamente à defesa objetiva da Constituição.
No Brasil, prevalece o controle subjetivo quando feito por via de exceção, de defesa ou incidental. Já no controle abstrato ou principal a finalidade é objetiva.
Quanto aos efeitos da declaração de inconstitucionalidade (Jeremy Waldorn): 
Controle constitucional forte: a declaração de inconstitucionalidade tem o poder de retirar a norma do ordenamento jurídico (quando realizado em abstrato) ou de obstar sua aplicação no caso concreto posto a julgamento (controle incidental).
Controle constitucional médio: a declaração não impede a aplicação da norma no caso concreto, mas o Tribunal emite uma “declaração de incompatibilidade”. 
O Ministro do governo pode utilizar essa declaração como autorização para iniciar um procedimento legislativo abreviado para remediar a incompatibilidade. (ex.: Reino Unido após incorporar a Convenção Europeia dos Direitos Humanos pelo Human Rights Act).
Controle constitucional fraco: a norma não pode deixar de ser aplicada pelos juízes, que só podem esforçar-se em exercícios interpretativos. 
Ademais, ainda que expeçam alguma declaração, elas não têm influência no processo legislativo. (Ex.: Nova Zelândia).
Quanto à legitimidade ativa: 
J. J. Gomes Canotilho (2004, p. 902) explica que há legitimidade universal, quando qualquer do povo pode, através de “ação popular” impugnar a constitucionalidade de um ato. 
Já a legitimidade restrita se dá quando apenas determinadas entidades ou cidadãos podem questionar a constitucionalidade. 
No Brasil, é possível a declaração incidental de inconstitucionalidade, em uma ação popular.
O pedido principal da ação popular não poderá ser a declaração de inconstitucionalidade, mas questão prejudicial para a análise do mérito.
A ação popular (...) não pode ser utilizada como alternativa à não propositura de uma ação direta de inconstitucionalidade, sob pena de uma ampliação indevida do rol de legitimados previsto no art. 103 da Constituição da República. Tal instrumento processual tem como objetivo anular atos administrativos lesivos ao Estado, e não a anulação de atos normativos genéricos. [AO 1.725 AgR, rel. min. Luiz Fux, j. 24-2-2015, 1ª T, DJE de 11-3-2015.] Vide Rcl 1.017, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 7-4-2005, P, DJ de 3-6-2005 Vide ADI 769 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 22-4-1993, P, DJ de 8-4-1994
Para Canotilho (2004, p. 902) a legitimidade no controle difuso incidental é restrita ao juiz, Ministério Público e partes submetidas a juízo.
Portanto, segundo a classificação do autor, pode-se concluir que no direito brasileiro a legitimidade é restrita.
Efeitos do controle de Constitucionalidade: 
J. J. Gomes Canotilho (2004, p. 903) distingue os sistemas pela amplitude do efeito da declaração de inconstitucionalidade.
Controle com efeitos gerais, erga omnes (Allgemeinwirkung): a decisão elimina a norma do ordenamento jurídico, sendo exercida pelo Tribunal Constitucional uma “competência de rejeição”.
Controle com efeitos particulares, sistema de desaplicação ou de eficácia inter partes: os efeitos da decisão controla a validade da norma apenas na solução do caso concreto. 
 Nessa hipótese a decisão aproveita apenas as partes litigantes. 
J. J. Gomes Canotilho (2004, p. 904) distingue os sistemas pelo efeito temporal da declaração de inconstitucionalidade.
Controle com efeitos prospectivos: a decisão corresponde à anulação da eficácia do ato tido por inconstitucional, tendo o efeito da invalidade efeitos ex nunc. Típico do sistema kenesiano.
Controle com efeitos retroativos: a decisão declara a nulidade do ato impugnado, invalidando todos seus efeitos. Efeitos típicos do sistema americano.
A última distinção feita por J. J. Gomes Canotilho (2004, p. 904) refere-se à natureza do ato de inconstitucionalidade:
Efeitos declaratórios: considerando que o ato inconstitucional é absolutamente nulo (null and void), qualquer juiz ou tribunal apenas declara a nulidade do ato.
Efeitos constitutivos: trata-se da regra geral no controle austríaco de constitucionalidade. 
	
	O Tribunal Constitucional anula um ato normativo que, até o momento de sua decisão é considerado válido e eficaz.
No Brasil, a regra geral da decisão de inconstitucionalidade é a de nulidade absoluta do ato, próprio do sistema americano de controle.
Contudo, Pedro Lenza (2017, p. 286) destaca que, ao lado do princípio da nulidade, que privilegia a supremacia da Constituição, há também outros valores de igual importância, como a segurança jurídica e a boa-fé objetiva.
A doutrina apontava então que a ineficácia absoluta da lei inconstitucional não poderia ser entendida em termos absolutos, considerando que os efeitos de prático da norma produzida, muitas vezes, não podem ser suprimidos.
Essa lógica levou o legislador a inserir previsão expressa no art. 27 da Lei nº 9.868/99, permitindo o Tribunal Constitucional excepcionar o princípio da nulidade.
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
A referida norma, ainda que atinente ao procedimento de controle abstrato da constitucionalidade, vem sendo aplicada, por analogia, no controle incidental. 
(...) INCOMPATIBILIDADE ENTRE A POPULAÇÃO E O NÚMERO DE VEREADORES. INCONSTITUCIONALIDADE, INCIDENTER TANTUM, DA NORMA MUNICIPAL. EFEITOS PARA O FUTURO. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. 7. Inconstitucionalidade, incidenter tantun, da lei local que fixou em 11 (onze) o número de Vereadores, dado que sua população de pouco mais de 2600 habitantes somente comporta 09 representantes. 8. Efeitos. Princípio da segurança jurídica. Situação excepcional em que a declaração de nulidade, com seus normais efeitos ex tunc, resultaria grave ameaça a todo o sistema legislativo vigente. Prevalência do interesse público para assegurar, em caráter de exceção, efeitos pro futuro à declaração incidental de inconstitucionalidade. Recurso extraordinário conhecido e em parte provido. (RE 197917, Relator(a):  Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 06/06/2002, DJ 07-05-2004 PP-00008 EMENT VOL-02150-03 PP-00368)
REFERÊNCIAS:
BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2016.
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de direito constitucional. 11 ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2017.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 21 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2017.
MENDES, Gilmar Ferreira. e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 12. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2017.
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. vol. III, tomo VI, Coimbra: Coimbra Editora, 2013.
BARBOSA, Ruy. Os actos inconstitucionaes do Congresso e do Executivo ante a Justiça Federal. Rio de Janeiro: Companhia Impressora, 1893.
MORAES, Alexandre de. Jurisdição constitucional e tribunais constitucionais; garantia suprema da Constituição. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
CALAZANS, Paulo Murillo. Marbury vs. Madison: um breve exame histórico, político e jurídico. In: Âmbito Jurídico, Rio