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Vilmar Ferreira A FORÇA DAS GERAÇÕES COMO BASE DO NEGÓCIO 4 Prepare-se para uma história que é mais do que uma inspiração. Conhecer a trajetória de Vilmar Ferreira e a maneira como ele construiu seu império, o Grupo Aço Cearense, cativa o coração e a mente de qualquer futuro ou atual empreendedor. E que bom que seja assim! Afinal, uma trajetória de sucesso que tem como alicerces a ética e a geração de valor social não é algo que se veja todos os dias. RESUMO 5Vilmar Ferreira Nascido no município de Marco, no Ceará, Vilmar Ferreira aprendeu desde cedo a se virar para não dormir de barriga vazia. Quarto filho de treze irmãos, desde os seis anos já ajudava a família com os trabalhos na roça. Depois, descobriu a vocação para comércio e negociação quando se mudou para Fortaleza. Naquela época, ele nem imaginava que construiria a maior distribuidora independente de aço e seus derivados no Brasil. 6 Para entender o sucesso desse negócio é preciso desvendar a figura de Vilmar e olhar para sua ascendência, representada pela figura do pai e da mãe. Um acontecimento na infância ilustra quem são seus pais. Certo dia, dona Edite estava preparando o jantar para os treze filhos e o marido. Casa simples, fogão à lenha, tudo o que se tinha para aquela refeição era um pouco de feijão. Mas naquela noite a escassez de alimentos teria dedar conta de mais uma pessoa:um andarilho que passava faminto em frente à casa da família Ferreira. Seu pai, ao ver aquela figura errante e franzina, o chamou para jantar. 7Vilmar Ferreira Dona Edite se indignou, dizendo ao marido: “Mal temos o que dar de comer às crianças!” A fala dela não era por mesquinharia, mas por desespero. Ao vera aflição da esposa, o pai de Vilmar respondeu: “Então, dê a esse fraco homem minha porção de comida.” Foi assim que o pequeno Vilmar aprendeu o que era a verdadeira riqueza da vida de um homem: a nobreza do ato de partilhar o que se tem, mesmo que pouco, com aqueles que têm menos. 8 A vida de um menino de seis anos no interior do sertão cearense pode ser bem mais árida do que o solo que ele pisa. Numa casa humilde, num planalto ensolarado na cidade de Marco, distante 220 quilômetros de Fortaleza, já naquela idade Vilmar dividia o dia entre o trabalho na casa para ajudar a mãe e os estudos. Dona Edite era uma trabalhadora incansável. 9Vilmar Ferreira Dedicava-se às atividades de dona de casa ao mesmo tempo em que operava uma máquina de tear que produzia cordas trançadas de um tipo palha, chamadas tucum. Das quatro horas da manhã até o fim da noite, todos os dias, ela estava lá preparando o tucum que o marido levava de jumento para as costureiras da região. Era a venda desse material que sustentava a família. Resistente, o tucum é forte e maleável, o que permite uma enorme variedade de uso. Por essas características, lembra um fio de aço. Vilmar demorou a aprender a fazer o tucum,pelo menos um bom o bastante para o crivo da mãe, mulher que ele reconhece como forte e de um apurado tino para o comércio. O menino a ajudava na confecção das longas fitas, que, quando costuradas sobre uma tela, viravam sacas de palha que serviam de embalagem para o transporte e o armazenamento de farinha, feijão, açúcar, rapadura, milho e outros alimentos comercializados na região. Com o tempo, começou a costurar algumas sacas e a vendê-las,tudo sob a orientação da mãe, que lhe dava dicas de como negociar os produtos. 10 Para desespero de todos, certo dia um incêndio tomou conta do paiol. A família Ferreira viu o fogo consumir até o assoalho do casebre onde dona Edite trabalhava. Talvez esse tenha sido o primeiro de muito futuros episódios de reinvenção de si e da vida por que Vilmar passaria. Seu pai era um homem muito zeloso com as coisas,que cuidava da casa e dos poucos bens com carinho e dedicação. Extremamente religioso, orava ao acordar. A fé manteve sua crença de que aquele incêndio não havia consumido nada além do que as coisas materiais. 11Vilmar Ferreira O homem ensinou o filho a ir à missa aos domingos, a pedir a benção e a rezar o terço de joelhos no chão batido, todas as noites. Vilmar foi assim forjado na fé do pai. O que faltava àquele homem de hábitos simples em peso e tamanho sobrava em força de vontade para o trabalho. 12 Era um homem da roça, de referências humildes. Por isso, o filho, desde cedo, o indagava a respeito de algumas coisas. O garoto não compreendia, por exemplo, porque o pai optava pelo plantio de mandioca, uma planta que demora muito para semear, crescer, colher, e que no fim, quando processada em farinha, tem um preço de venda muito baixo. Isso não fazia sentido aos olhos do rapaz, que parecia predestinado a questionar as coisas mais óbvias e a enxergar o que ninguém mais estava vendo. O menino, de olhar crítico e gana por fazer sempre melhor, foi educado para valorizar o trabalho e o fruto desse esforço, além de amar ao próximo e se dedicar aos outros. Já adolescente, Vilmar foi ajudar o pai na roça. Sob o sol escaldante do sertão cearense, o rapaz teve a vida atravessada por um acontecimento que se tornaria o divisor de águas de sua história. Um golpe de foice dado errado e o chão quente e seco de terra dura foi banhado pelo sangue que escorria de seu pé. O pai, homem que sempre mantinha a serenidade, se desesperou ao ver seu quarto filho se esvaindo em sangue. Ele lembrou, naquele instante, que havia perdido o próprio pai também na roça, de infarto. 13Vilmar Ferreira Ele tinha quinze anos, a mesma idade de Vilmar no momento do acidente. Aos prantos, com o filho desfalecido em seus braços, ergueu o corpo do rapaz e clamou: “Meu filho, se Nossa Senhora permitir, prometo que você nunca mais põe os pés nesta roça.” A fé inabalável daquele homem novamente guiou suas palavras e seus gestos. 14 O pedido de socorro se tornou uma profecia. Vilmar nunca mais pisou na roça com os próprios pés, apesar de continuar a trabalhar em casa. Ele queria ganhar dinheiro para ajudar a família, então pegou uma vaca que tinha, vendeu e fez desse ganho o começo de seu negócio. Assim, comprava um boi, matava, separava as partes e saía de manhã para vendê-las de casa em casa. Quando via que tinha mais alguém nas redondezas fazendo o mesmo, ia mais longe. Caminhava quanto fosse preciso para desaguar todos os seus produtos. Descobriu-se comerciante e percebeu que no interior não teria futuro. Aos dezoito anos, pegou um ônibus e desembarcou sozinho em Fortaleza, onde começou como empregado e depois comprou uma pequena lojinha, tornando-se comerciante. Ele mantinha contato com a família por carta. Queria saber de todos. Com a prosperidade do comércio, em 1974, toda a família começou a se mudar para Fortaleza,seguindo os passos do empreendedor e destemido Vilmar. Nesse momento, ele vendeu a 15Vilmar Ferreira lojinha e abriu um depósito de bebidas, algo que contrariou o pai, que não considerava bom mexer com esse tipo de produto. Como um bom comerciante vende qualquer coisa, em menos de uma semana Vilmar vendeu o ponto de bebidas e montou um depósito de material de construção. Naquele momento, percebia que esse era um negócio bom, pois o país estava em crescimento. Muitas construções e obras estavam acontecendo por toda a cidade, e revender produtos de aço parecia promissor.Daí em diante, sua trajetória foi meteórica, mas não fácil. Passou por inúmeros desafios que o obrigaram a constantemente reinventar seu negócio e sua atuação. 16 Hoje, ainda à frente do Grupo Aço Cearense, empresa que está entre as seis maiores do mercado siderúrgico brasileiro, Vilmar enfrenta, ao lado da filha caçula, Aline, os desafios da perpetuação do negócio. A jovem executiva, sucessora do pai por indicação dos próprios irmãos,parece ter herdado dele o gene que transforma a dor em força interior. Aos oito anos, a menina acordou e percorreu todo o corredor da casa, em direção à voz do pai que conversava com um amigo. Sorrateira, caminhou com seus pés pequeninos até quase a sala e, então, parou, ao ouvir seu herói confidenciar ao colega que o momento de seu nascimento fora de profunda decepção, uma vez que o bebê era uma menina. Ao ouvir aquilo, a garota saiu correndo em direção ao quarto e lá se trancou. Chorou por horas a fio, sem contar a ninguém o motivo de tamanho pesar. 17Vilmar Ferreira As lágrimas daquele dia se transformaram num lamento da alma, silencioso e privado; um segredo nunca dividido com ninguém, até que ela atingisse os trinta e poucos anos. Já adulta, num processo de autoconhecimento, Aline tomou coragem de tocar nessa ferida para poder se curar da dor. Ela crê que aquelas palavras que a fizeram sofrer por tanto tempo foram o motor para conquistar a confiança e a admiração do pai. A dor a fez lutar, tal qual o pai sempre fizera. Neste material, há os seguintes conteúdos: Parte 1 Conheça a história de vida de Vilmar Ferreira e sua forma de encarar as adversidades. Saiba como o autoconhecimento poderá ajudar a encontrar equilíbrio, com Pepi Brassanini.1 Parte 2 Entenda as fortalezas que guiam Vilmar Ferreira e de que maneira sua crença na ética forjou seu caminho. Em seguida, descubra como a ética pode fortalecer seu negócio, com o professor Paulo Luciano de Andrade Minto. 18 Parte 3 Saiba os diferenciais de Vilmar e da Aço Cearense e como isso é importante para atender a seus clientes. Ao fim, descubra como é possível prosperar vendendo para pequenas e médias empresa, com Marcelo Lombardo.3 Parte 4 Descubra de que modo um empresário como Vilmar Ferreira encara as dificuldades no caminho.Complemente seu saber aprendendo como é possível se estabelecer num mercado já dominado por grandes empresas, com Marcelo Furtado.4 Parte 5 Aprenda como Vilmar Ferreira supera os desafios do negócio. Adquira maior compreensão sobre a gestão de custos e sua relevância para a perpetuação de seu negócio, com Maurício Galhardo.5 Parte 6 Compartilhe a visão de futuro de Vilmar Ferreira e aprenda a alinhar a gestão de negócio com essa proposição, com Alessandro Saaed.6 19Vilmar Ferreira Resumo Sumário Parte 1 –Família Ferreira: de geração em geração, a perpetuação de valores e crenças pautadas pela ética Como encontrar o equilíbrio por meio do autoconhecimento Os dez poderes Parte 2 – Vilmar Ferreira é como o aço: uma refinada mistura entre resistência e flexibilidade Como valores éticos podem fortalecer o seu negócio O que fazer para que o negócio se mantenha dentro de padrões éticos? Parte 3 – As diferenças que importam são aquelas que verdadeiramente fazem a diferença! O resto é o resto Como vender para pequenas e médias empresas 04 19 21 27 29 35 45 60 75 SUMÁRIO 20 A comunicação com as PMEs Como vender para uma PME O funil de vendas Parte 4 – Quando seu pior pesadelo se torna sua maior realização Como ser bem-sucedido num mercado liderado por grandes empresas? Parte 5 – A cada obstáculo, um novo motivo para renovar as energias e seguir em frente Gestão de custos: como estruturar seu negócio Custos fixos e custos variáveis Parte 6 – O amanhã que se constrói no hoje sem perder de vista os valores do passado Como construir o futuro do negócio ancorado no presente Os seis pilares que sustentam o futuro de qualquer negócio 77 80 81 89 98 105 115 122 130 141 145 21Vilmar Ferreira Família Ferreira: de geração em geração, a perpetuação de valores e crenças “Penso muito nos outros, tenho necessidade de ver os outros bem, e me sinto bem vendo os outros bem. Fico feliz com aquela felicidade.” Vilmar Ferreira 22 Recordar a infância é algo que emociona Vilmar Ferreira, pois foi um período de sofrimento e privações. Essas recordações trazem à tona algumas lágrimas. Uma das poucas coisas que ele recorda e que fazem brotar um sorriso em seu rosto é que, apesar de ser o quarto filho, queria mesmo era ser o primeiro. Esforçava-se para ser mais rápido e útil que os irmãos mais velhos. Ele queria se destacar nas tarefas da casa que ajudavam os pais. A saúde do pequeno rapaz, porém, parecia refreá-lo em seus anseios. Aos dois anos, foi desenganado. Uma desidratação quase o levou. Depois, aos nove, por conta de uma infecção. O mesmo aconteceu novamente aos doze, quando passou alguns dias em coma. Foi uma infância repleta de desafios em relação à própria saúde. 23Vilmar Ferreira Dessa adversidade tão concreta nasceu a força interna de Vilmar, que sempre o impeliu a fazer algo diferente. Ele diz: “Não é demagogia, mas minha fé sempre me disse que fui um instrumento de Deus. ”Filho de um homem muito religioso e humilde, aprendeu o valor da ajuda ao próximo desde cedo. Quando havia leite, o pai dividia o pouco que tinha com outras pessoas, algo que mobilizou o menino. Talvez por isso ele se esforçasse tanto nas tarefas da casa – quando o pai pedia que ele buscasse uma lata de água no poço, ele trazia duas. Sempre fez esse pouco a mais,um tipo de comprometimento com aqueles que estão junto com ele nas dificuldades. Desde cedo, Vilmar sentia que poderia fazer algo diferente e melhor pela família. Não que tivesse clareza, quando adolescente, sobre o caminho exato que deveria seguir. A única coisa que sabia era ser possível e que queria muito mudar o rumo da própria história. 24 O golpe de enxada no pé e a promessa do pai foram decisivos para que o garoto começasse a desenvolver a veia de comerciante. Naquele momento, a família Ferreira passava por muitas dificuldades financeiras. Vilmar sabia que não podia ficar parado e que era preciso ajudar a família. Foi quando o pai vendeu uma vaca mais forte e comprou outra mais fraquinha. Com a diferença dessa transação, Vilmar comprou alguns ovos e surrões e começou um pequeno comércio de compra e venda de produtos de mercearia. Ele não sabia ao certo para quem vender nem como, mas isso não o impediu de fazer. Às cinco horas da manhã, acordava, matava um porco sozinho, separava os pedaços, embalava e saía logo cedo de casa em casa vendendo suas mercadorias. Na volta, comprava outro porco, ovos e produtos que no dia seguinte estariam novamente na porta dos clientes. 25Vilmar Ferreira À época, Vilmar não tinha noção de que aquilo que fazia era empreender, mas sabia que estava trabalhando e que ganhava algum dinheiro com isso. De certa forma, tinha muito prazer nessa atividade comerciante, pois sempre se motivou por ganhar dinheiro e, com isso, poder dar passos maiores. As dificuldades que a vida impõe, depois de uma infância banhada de privações, se tornaram até pequenas. 26 Vilmar claramente entende as dificuldades sofridas como algo que lhe deu mais energia para ir em frente. Como diz,“não se pode ser morredor nem se deve fragilizar. Há momentos difíceis, é claro,mas nessas horas é preciso reconhecer que se está em dificuldade, recompor as forças, acelerar a criatividade e voltar a crescer. Quando se volta a crescer depois de um período ruim, torna-se maior”. A cidadezinha de Marco se tornou pequena para os sonhos de Vilmar, que decidiu ir para Fortaleza com dezoito anos. Seu comércio informal prosperava. Na época, tinha aproximadamente cinquenta cabeças de porco e umas cinco vacas, o que lhe dava uma pequena estabilidade para arriscar. Vendeu os porcos e as vacas, pagou os juros de umas dívidas dos pais e saiu rumo à capital cearense, carregando consigo o apoio do pai, a aflição da mãe e a fé de que tudo daria certo. Logo no primeiro emprego, num comércio pequeno de bairro, foi apelidado de pimenta,porque nunca parava quieto. Fez supletivo,dedicou-se aos estudos e ao trabalho incansavelmente. Ao ganhar conhecimento de como se administrava um negócio, partiu definitivamente em busca de seu próprio lugar ao sol. 27Vilmar Ferreira Como encontrar o equilíbrio por meio do auto- conhecimento First class - Pepi Brassanini O autoconhecimento parece algo distante e inalcançável para muita gente,mas isso é uma falácia. A verdade é que o processo de mergulhar dentro de si mesmo, para identificar aquilo que se tem de bom e de ruim – como qualquer outro ser humano que habita a Terra–, é algo relativamente simples quando aceitamos olhar para nós mesmos. Esse movimento de voltarmos à atenção sobre nós mesmos revela nossas sombras, a admiti- las é algo assustador, mas também um ato de liberdade. Sombras são todos os julgamentos, a teimosia, os medos – questões que atrapalham nossa evolução e muitas vezes estão centradas em crenças, traumas e vivências do passado. Não há nada errado em guardar as recordações daquilo que se passou,porém as feridas não precisam 28 ser um impedimento para o desenvolvimento de nosso melhor potencial. Nossos padrões de comportamento estão relacionados a nossos hábitos e a tudo o mais que colocamos sobre nossos próprios ombros. Olhar para isso e perceber que é possível caminhar de forma mais leve e humilde é um modo de lidar com as sobras, para que elas possam ser dissipadas. Resiliência É a força que vem de dentro, do interior. Essa energia não vem de fora, de uma família. No caso de Vilmar, a fé lhe dava constância e força para se manter em seu caminho. Fé não é desespero;há de se tomar cuidado para não confundir uma coisa com outra. O desespero não permite bons juízos. Vilmar mostra que a resiliência é algo que cresce com o tempo: quanto mais caminhamos, mais conseguimos caminhar. 29Vilmar Ferreira São poderes que precisamos saber trabalhar em nossas vidas, de maneira a torná-los positivos. 1) Julgamento Quanto julgamos a tudo e a todos? O julgamento nunca é um elogio, é sempre algo negativo. 2) Cobranças O tempo todo estamos cobrando algo ou alguém, muitas vezes a nós mesmos. A cobrança minimiza as conquistas, fazendo-as parecer insatisfatórias. 3) Críticas São destinadas a quem está ao redor e a nós mesmo. A crítica muitas vezes quebra os laços familiares e sociais. Os dez poderes 30 4) Apegos A quantas coisas estamos apegados? A questão é pensar até onde vai se levar todas essas coisas, com que objetivo. Desapegar-se de coisas e pessoas que não estão dando certo, ao menos por ora, é importante. 5) Teimosia Muitas vezes não ouvir um chamado interno, do coração, e a insistência de olhar determinada situação somente pela razão. Muitos caminhos mentais nos enganam. 31Vilmar Ferreira 6) Controle Porque tudo precisa, o tempo todo,ser controlado? Como confiar ao outro o controle das coisas e muitas vezes da vida? Tudo aquilo que achamos ter certeza, muitas vezes não é – e as coisas mudam, pois a vida é uma eterna mudança. Quando saímos do controle e damos controle à vida, ela flui. Não controle tudo; apenas siga em frente em seu caminho. 7) Comparação Olhar sempre para a grama do vizinho, para a vida do outro, é um dos aspectos mais próximos da inveja.Quanto mais sentem essa energia, mais as coisas vêm dessa forma. 32 8) Reclamação Uma reclamação é um clamor por algo que já foi,é um olhar para o passado,o que mantém a mente e a vida num movimento de retrocesso. 9) Preguiça A preguiça impede que se faça algo a mais por si mesmo, como uma trava que dificulta chegar à vida a que se almeja. 10) Indisciplina A indisciplina praticamente engloba todos os outros poderes anteriores, pois impele que se volte sempre às mesmas questões. Estar no agora é estar com atenção e dedicação totalmente voltadas para o presente,para o que precisa ser feito neste momento. 33Vilmar Ferreira O caminho da cura O caminho da cura está em gerenciar a própria saúde integral, de maneira a driblar os dez poderes anteriormente descritos, livrando-se da reatividade. Para ajudar no processo de autocura, devem-se seguir os seguintes passos: 34 Mantenha uma respiração consciente Não encurte a respiração, mantendo-a somente na altura do peito. Isso intensifica a ansiedade, pois é uma respiração meramente fisiológica. Transforme a respiração num ato consciente, completando os pulmões de ar, levando-o até o abdômen. Isso ajuda o movimento de expansão e relaxamento do corpo. Relaxamento É preciso sair do ciclo automático de atividades, de culpa ou cobrança, para que o corpo encontre um momento de conforto em si. O relaxamento é importante para alívio do estresse e da adrenalina. Meditação É possível meditar até no trânsito;não precisa estar parado, com a coluna.Meditar é estar no momento presente e dar aos pensamentos o espaço no agora. Esvaziar-se de pensamento é algo que se desenvolve com tempo e a prática da meditação. A autocura traz vários benefícios, entre eles:efeito calmante,equilíbrio entre emoção e razão, aumento da concentração (foco), relaxamento,diminuição da insônia e regulação hormonal. 35Vilmar Ferreira Uma refinada mistura entre resistência e flexibilidade: Vilmar Ferreira é como o aço “Sempre entendi que minha dignidade tinha de estar acima de meus valores materiais.” Vilmar Ferreira 36 O menino da roça chegou à capital de seu estado natal sem saber ao certo o que faria,mas não demorou a descobrir: era preciso ganhar experiência e aprender. Sua habilidade natural de ser um bom negociador precisava ser lapidada, e para isso ele sabia que precisaria investir tempo. Conseguiu uma oportunidade num comércio de bairro. Um dos atendentes havia entrado em férias, e o então futuro patrão de Vilmar disse que ele poderia ficar lá durante esse período. Ele aceitou trabalhar como empregado numa pequena loja só para aprender. Como seu capital era pouco e as reservas,pequenas, era preciso aprender antes de se arriscar,pois ele já sabia que queria ter o próprio negócio. 37Vilmar Ferreira Vilmar aceitou ganhar um terço de um salário mínimo – o que na época era, aproximadamente, dez cruzeiros por semana – em troca de absorver tudo o que pudesse de ensinamentos. Ligeiro em tudo o que fazia e disposto a mostrar ao dono do comércio seu valor como empregado, o menino franzino da roça foi se mostrando forte e capaz. Assim, o período que inicialmente era de trinta dias se estendeu por mais de dezoito meses. Quando foi pedir as contas, o patrão não quis aceitar. Mas aquele lugar já havia se tornado pequeno demais para os sonhos do rapaz, que queria crescer. Juntou as economias que tinha e abriu o próprio ponto de comércio. Tudo caminhava bem no novo negócio até que começou a levar toda a família – os doze irmãos, cunhados, sobrinhos e pais – para a capital. Era 1974. Uma avenida grande começara a ser aberta bem em frente ao ponto onde pretendia abrir sua loja. Percebendo que isso desviaria sua clientela, tratou de passar o negócio logo para frente. 38 Para começar o próximo empreendimento, Vilmar precisava de um pouco mais de capital. Pediu que o pai vendesse sua parte das terras, herança do avô, a fim de se capitalizar. Com isso, ganhou fôlego para começar novamente, em outro ramo,e abriu um depósito de bebidas. Era algo pequeno, e ele passou por um incidente cinco meses depois. Dois funcionários, sob gerência de uma de suas irmãs – então com dezesseis anos –, desviaram parte do estoque de bebidas e deixaram de honrar com algumas negociações acordadas. Vilmar, ao voltar de licença, tomou as rédeas dos negócios novamente e honrou com as dívidas feitas pelos ex-funcionários. Em menos de seis meses, voltou a prosperar. 39Vilmar Ferreira Parecia que tudo ia bem,até que seu pai, ao tomar conhecimento do negóciodo filho, o aconselhou a mudar de ramo, pois considerava a bebida algo ruim para as pessoas. A visão do pai, de ética e moral, de religião e caridade, sempre influenciou demais Vilmar. O velho não era um homem empreendedor, mas tinha valores sólidos e muita convicção. A refinada mistura de intuição e razão é um aspecto preponderante do pensamento de Vilmar, que consegue instintivamente perceber as oportunidades, mas completa esse saber com deduções racionais e muitas vezes financeiras. Ele demorou dois dias para tomar a decisão de vender o negócio da bebida, pois compreendia o apelo do pai ao mesmo tempo em que observava que o comércio de bebidas era limitado por margens muito pequenas. 40 É essa mágica fórmula que permite a um visionário como Vilmar tomar uma decisão rápida sem errar. Ele diz que, mesmo após decidir, é capaz de voltar atrás rapidamente se perceber que algo não estava correto ou que havia muito risco no caminho que escolheu. Tudo numa velocidade admirável. Como diz Aline, sua filha: “É uma convicção de que o sentimento dele está certo. Ele busca a fundamentação do que sente em fatos, e normalmente esse casamento dá muito certo.” Vilmar ouvira falar que o ramo do aço era bom e estava em crescimento. Conversou com algumas pessoas e buscou se informar. 41Vilmar Ferreira Foi assim que, em menos de uma semana, já estava com uma casa de material de construção aberta ao público. Sempre soube que uma de suas fortalezas é saber comprar bem. Para ele, tudo começa na compra; é preciso ganhar dinheiro já na compra. Essa visão diferenciava seu pensamento do de seus concorrentes: ele preferia ganhar em escala, no volume negociado – na compra ou na venda –, enquanto os concorrentes buscavam margens de lucro altas.Essa é uma convicção de gestão que o guia até os dias de hoje. Algumas características da atuação de Vilmar Ferreira que merecem destaque são: intuição versus razão,convicção, rapidez de decisão, visão além do lugar-comum e credibilidade ao longo do tempo. 42 Acostumado a tantos recomeços e a um constante reinventar-se, Vilmar sempre busca olhar o que há de positivo e negativo nas situações.Sempre leva em consideração os dois lados, mesmo nas negociações comerciais, ao ponto de a equipe de vendas questionar que, em algumas situações, perderá dinheiro. Quando isso acontece,sua resposta é sempre a mesma: “Vamos perder um pouco agora para ganhar muito no futuro.” 43Vilmar Ferreira Ao assumir esse tipo de risco, ele vê as coisas de uma forma que ninguém mais vê – como algo maior, às vezes distante e até sutil, mas que renderá frutos promissores no futuro. Para Tom Arrais, diretor financeiro do Grupo Aço Cearense, Vilmar é um líder que tem duas características marcantes: vislumbrar o que está além, por trás das coisas óbvias, e rapidez, o que não significa pressa. Ele tem agilidade na tomada de decisão, principalmente nos momentos de crise – algo que ajuda na superação. Mas, quando tudo está tranquilo e estável, quanto mais rápido se decide, mas rápido se chega a mercados em que muitos ainda não estão. A história de Vilmar acumula mais acertos do que erros,o que é importante para o sucesso em longo prazo. Por exemplo, ele recorda que chegou a montar uma loja na cidade de São José dos campos, em São Paulo, mas que rapidamente percebeu que não era um bom negócio. 44 Em vez de insistir, voltou atrás e investiu o tempo e os recursos em outras frentes de atuação. Ou seja, em sua trajetória há muita sagacidade para os começos, mas também para os fins, para o momento de abrir mão, de desfazer, de aceitar que determinado caminho não faz mais sentido. Parte dessa desenvoltura que Vilmar apresenta para iniciar ou terminar seus negócios está alastrada na fé, em acreditar nas coisas, em si mesmo, e em sua disposição para conseguir as coisas na vida. A fé tem um papel preponderante em sua história de sucesso e é fator determinante para sua atuação ética, algo reconhecido nacional e internacionalmente. Ficará evidente, ao longo de todo o desenrolar deste enredo, que a ética sempre foi uma guia para suas atitudes e sua gestão. 45Vilmar Ferreira Como os valores éticos podem fortalecer seu negócio First class Luciano Minto Muitos filósofos e pensadores brasileiros discutem as virtudes éticas como conceitos. Diferentemente do será abordado aqui – condutas práticas no mundo dos negócios –,pode-se aprofundar nesse assunto, de maneira conceitual e abstrata, por meio desses pensadores.Para refletirmos sobre as questões práticas da ética no mundo dos negócios, é preciso estabelecer alguns conceitos iniciais. 46 Ética É algo que está vinculado às ações, ou seja,a práxis. Como campo de estudos, engloba a totalidade dos saberes humanos e, por isso, está presente no cotidiano das pessoas – nas decisões em família, no trabalho e na política. Suas primeiras definições e reflexões derivam da Grécia antiga, e seu significado literal, derivado da palavra grega ethos, é “bom costume”. Moral É um conjunto de regras que orientam os indivíduos de uma mesma sociedade, de forma a nortear suas atitudes de acordo com o que aquele determinado grupo – que pode ser uma sociedade ou uma empresa – compreende e aceita como certo ou errado, permitido ou proibido etc. 47Vilmar Ferreira Politicamente correto “É uma criação ideológica característica de sociedades que perderam o norte dos padrões morais e acabaram por impor regras casuísticas tópicas, que só conseguem estabelecer limites arbitrários. Batizado com outros nomes ou disfarçado de alguma forma de censura, o politicamente correto sempre existiu em sociedades que viveram momentos distópicos, quando a ausência de cenários futuros deixou de ensejar padrões morais estáveis. O resultado é um moralismo nervoso que se manifesta aqui e ali, meio esquizofrênico, tópico, que não sabe bem a que veio e que, na maioria, nunca resultou em coisa boa” (Elias Thomé Saliba).9 48 Quais são as principais dificuldades de empreender no Brasil? A resposta a essa pergunta é complexa e pode despertar paixões. Mas, de maneira muito generalista, é possível dizer que iniciar um novo negócio em terras brasileiras requer atenção especial a três fatores:alta concorrência, complexidade legislativa e regulatória, burocracia.Olhar esses três pontos juntos nos faz pensar que o contexto brasileiro é relativamente hostil a quem dá os primeiros passos no mundo dos negócios. 49Vilmar Ferreira Não se pode generalizar, pois cada empreendedor é único em sua história e em sua forma de ver o mundo,mas em geral, logo no início, é comum que o empreendedor busque se adaptar a tudo isso e dar conta de várias coisas ao mesmo tempo. Ele sacrifica a família, o dia a dia e a vida em prol de um sonho. O que se observa, porém, é que muitas vezes, nessa rotina massacrante e caótica, para tingir patamares de excelência e de sucesso, é dispendioso e difícil corresponder a tudo isso. Se as coisas estão indo bem e os números fecham no fim do mês, por mais complicado que seja o ato de empreender dentro dos padrões, é comum que tudo caminhe da maneira correta. Mas, quando os números não fecham– por inúmeras razões –, os empreendedores começam a buscar manobras, como desconto em títulos, agiotas, paralisação dos recolhimentos tributários a que estão submetidos, supressão indevida de direitos trabalhistas e busca por fornecedores mais baratos, mesmo que a matéria-prima seja ilícita. 50 Na ânsia de recuperar os investimentos iniciais e na vontade legítima de viabilizar seu negócio, esse empreendedor, sem respaldo ético, lança mão de todos os subterfúgios possíveis. Ele não quer desistir (quem quer?), e muitas vezes não percebe que está transformando seu negócio numa atividadeilegal.É uma triste realidade que assola muitos negócios em nosso país. Alguns reflexos práticos da atividade empreendedora ética para o ambiente dos negócios são: envolvimento pessoal na cultura da empresa,engajamento dos colaboradores, empresa consciente, comunicadores qualificados,capilaridade nas redes sociais,cultura de consumo, rejeição aniquilada e satisfação dos consumidores. O empreendedor que se vale de boas práticas e sabe comunicar isso permeia todo o corpo de empregados e acaba impregnando de maneira positiva todos os colaboradores. Obviamente, isso permite que o engajamento dos empregados seja maior. 51Vilmar Ferreira Cria-se um círculo virtuoso de zelo e cuidado, de crescimento e resultados para todos. E por que isso é importante? Porque, na sociedade de hoje, quando os resultados dos negócios são benéficos somente para si, podem ser questionados. O consumidor qualificado, que procura empresas éticas e responsáveis, é um formador de opinião importante e busca empresas que correspondam ao seu papel social, que se preocupem em dar resultados com impacto social positivo e, obviamente, com atenção ao meio ambiente. Na medida em que se adotam padrão de excelência e ética nos negócios, cria-se um engajamento que permeia toda a cadeia de stakeholders– algo preponderante para a perpetuação das empresas num mercado cada vez mais competitivo. Como defende Luciano Minto: “Quem não tem ética não tem amigo;[...] 52 quem é antiético tem parceiro não no sentido empresarial, mas de crime, cúmplices. No ambiente destituído de ética, vincula-se a cúmplices, e não a pessoas que ajudam num mesmo propósito. O cúmplice está ali para um resultado, que, se insatisfatório, ele se voltará contra nós.” Quando falamos em crimes corriqueiros – roubos, homicídios, latrocínios e questões semelhantes –, é possível enxergar uma relação direta entre a impunidade na condenação desses crimes e a perpetuação dos índices relacionados a eles. Apenas dez por cento dos crimes no Brasil são desvendados. Destes, alguns resultam em condenações e outros, por questões processuais,resultam em absolvições. Contudo, 53Vilmar Ferreira quando se fala do ambiente empresarial, essa lógica não pode ser aplicada de forma tão veemente. O Estado é eficaz, muitas das vezes, em fiscalizar e punir os desvios de comportamento das empresas. O grau de tolerância às condutas empresariais é menor do que às condutas sociais. É mais fácil reprimir uma atividade empresarial ilegal. Por essa razão, é preciso ter em mente que as atividades do empreendimento precisam estar completamente estruturadas e de acordo com leis e normas vigentes. Seguir tais leis e regras é necessário para que o negócio se perpetue de forma saudável e longeva. Ter capacidade técnica para entender todos os meandros legislativos e processuais do seu mercado é condição sine qua non para isso. 54 Afinal, o que é compliance? A palavra sugere um conceito complexo,mas a verdade é que seu significado é simples. Trata-se de um modelo de gestão que busca adequar todas as ações de uma empresa a boas práticas de negócios, tanto externas – legislação trabalhista e responsabilidade social – quanto internas – visão, missão e cultura. Para 55Vilmar Ferreira ser mais direto, compliance é fazer as coisas da maneira correta. Implementando uma política de compliance em sua empresa, define-se “a imagem que a instituição tem a respeito de si mesma e do seu futuro”, afirmam os autores Ana Paula Candeloro, Maria Martins de Rizzo e Vinícius Pinho no livro Compliance 360. Além disso, fazem-se valer valores e cultura da organização, o que gera crescimento e garante a credibilidade da empresa diante de funcionários, parceiros e clientes. 56 Empresas que fazem compliance cultivam uma forte cultura organizacional e usam métodos que garantem sua adequação jurídica. Um setor de compliance dentro de uma empresa, por exemplo, garante que leis trabalhistas, documentação regulamentada e responsabilidade fiscal sejam sempre respeitadas,além de trabalhar para identificar e corrigir falhas, a fim deque a conformidade jurídica – fator essencial a qualquer empresa que deseja credibilidade – seja uma realidade, nunca uma dor de cabeça. O compliance também pode ser uma ferramenta de vantagem competitiva para as empresas, oferecendo transparência na hora de fazer parcerias e fechar negócios, mantendo a confidencialidade de informações compartilhadas e respeitando a propriedade intelectual. Grandes empresas, como a Google, disponibilizam em seus sites toda a sua política de compliance. 57Vilmar Ferreira O que fazer para que o negócio se mantenha dentro de padrões éticos pode ser resumido em: capacitação técnica; conhecimento do produto e do mercado; políticas claras de atuação; planejamento tributário, legal e organizacional; qualidade; preço; competitividade; atividades conscientes; participação social.Os riscos da falta de ética nos negócios são reais. Empresas nascem e morrem por transgressões éticas. A maior parte das empresas que não sobrevive estava desatenta a esses pontos. Uma das maiores virtudes dos comportamentos éticos é trazer pessoas engajadas para os projetos e os desafios. Somente a conduta ética vai possibilitar que uma empresa, se futuramente negociada em seu mercado, possa, numa due diligence, ser vendida sem encargos que venham a diminuir seu valor, evitando incidência sobre o preço dos negócios. 58 Diligência prévia é o processo de investigação de uma oportunidade de negócio que o investidor deverá aceitar para poder avaliar os riscos da transação. Embora tal investigação possa ser feita por obrigação legal, o termo normalmente se refere a investigações voluntárias.10 Quando se atua de forma ética, agrega-se valor ao negócio, e não são somente valores intangíveis. Fidelidade de clientes e parceiros, engajamento dos empregados, reputação de mercado – tudo isso se converte em valor de marca e faz com que determinado negócio tenha maior valor de mercado. 59Vilmar Ferreira A falta de ética gera alguns riscos, como: A falta de ética gera alguns riscos, como: desconsideração da personalidade jurídica e sansões penais e cíveis (multas). Luciano Minto frisa que “ser ético não é só uma obrigação de cunho interno, mas uma exigência do próprio mercado”. desconsideração da personalidade jurídica e sansões penais e cíveis (multas). Luciano Minto frisa que “ser ético não é só uma obrigação de cunho interno, mas uma exigência do próprio mercado”. 60 As diferenças que importam são aquelas que verdadeiramente fazem adiferença. O resto é o resto 61Vilmar Ferreira O que faz com que seu negócio e sua oferta de produtos ou serviços seja única? Será que é o preço? Ou a qualidade? Será que dizer que sua empresa tem profissionalismo é realmente uma vantagem competitiva, ou mais do mesmo? Quando se olha para a história de Vilmar Ferreira e da Aço Cearense, os diferencias que tornam essa empresa única saltam aos olhos. Eles são percebidos por todos os públicos que se relacionam com a empresa. Neste caso, em que se está analisando um empreendimento e seu fundador, é comum que a figura do criador se confunda com a da criatura – a Aço Cearense é o que Vilmar é. Em dado grau, os atributos positivos – e, claro, também os negativos – de uma dessas entidades se sobrepõem à da outra, numa fusão entre as pessoas física e jurídica. 62 Por exemplo, ao homem Vilmar são atribuídas algumas características: agilidade na tomada de decisão, inquietude frente às adversidades, simplicidade e humildade, ética, credibilidade, busca pelo bem comum e fé inabalável. De que forma o negócio da Aço Cearense se dá? Com agilidade, inquietude, simplicidade, humildade, ética, credibilidade, buscapelo bem comum e com uma fé inabalável. A história da empresa é repleta de momentos em que esses diferenciais aparecem como ponto-chave para superação dos desafios – dos pequenos aos grandes, das estratégias mais complicadas às simples atitudes do dia a dia. 63Vilmar Ferreira Essa forma de ser e de fazer o negócio se converteu em dois diferencias tangíveis, que se materializam em duas estratégias do negócio que caem como uma luva para o perfil de clientes da Aço Cearense;de um lado, a questão da logística; do outro, a linha de crédito. Nesse momento da história, a empresa havia se posicionado num nicho específico do mercado: atender às PME revendedoras de produtos de aço no Norte e Nordeste do país. Essas empresas nunca foram bem-atendidas pelos grandes players, que preferiam ganhar em margem, e não 64 em volume. Vilmar viu aí seu filão de atuação, pois sempre acreditou que atender a poucos e grandes clientes aumentava o risco – quando se tem poucos clientes, que representam grande parte dos lucros, num momento de crise fica-se à mercê da instabilidade econômica deles. Em seu entendimento, atender ao pequeno varejo pulveriza e dilui o risco. De modo geral, quem atendia a esse tipo de cliente eram distribuidoras de médio e pequeno porte, que já estavam no fim da cadeia fornecedora e, por isso, praticavam preços muitas vezes inviáveis. É uma fatia do mercado que se caracteriza pelo “pinga-pinga”: um cliente para quem ninguém quer dar crédito – graças ao alto risco de inadimplência – e que dá trabalho atender – em decorrência de enorme pulverização geográfica. 65Vilmar Ferreira Para se estabelecer nesse setor das PMEs, Vilmar tinha de sanar as dores dessas empresas. Sozinho, um pequeno ou microempreendedor não tem fôlego financeiro para o fluxo de caixa, não tem espaço para armazenar grandes estoques – o que limita seu poder de negociação –, e o custo do transporte pode ser oneroso demais. Ao lado de Vilmar, esses potenciais clientes poderiam ter todos os seus problemas resolvidos, logo, ambos, ganhavam com essa relação. Por exemplo, enquanto o Serasa concede um crédito de mais de 100 mil reais para esse empreendedor, Vilmar concede cerca de 1 milhão. Para atender a uma carteira de mais de 22 mil clientes, muitos se valem das linhas de crédito da Aço Cearense, a empresa de Vilmar teve de 66 estruturar com uma área de crédito e cobrança bem maior do que é comum observar no setor da siderurgia. Afinal, dá muito mais trabalho analisar a concessão de crédito para mil clientes pequenos, que normalmente não têm as informações organizadas e auditadas. Com essa estrutura única, a Aço Cearense consegue atender a essa gama de pequenos clientes com velocidade. Como Vilmar diz: “O cliente final tem de acreditar muito em mim. Se ele vier aqui e eu não tiver o material de que precisa, é capaz de ele não me procurar mais. Por isso a gene se estruturou com um grande estoque e com uma logística rápida.” Mesmo quando um cliente se torna inadimplente, Vilmar tenta não o limá-lo. Ao contrário, busca 67Vilmar Ferreira entender o momento pelo qual aquele pequeno empresário está passando, observa se trata de uma dificuldade circunstancial e se o cliente está verdadeiramente se empenhando em resolver. Nesses casos, prefere ajudá-lo, muitas vezes ensinando princípios de negócio para que o cliente possa ter melhores resultados. Essa atitude gera um laço de gratidão, que deságua em fidelidade de longo prazo. Muita da experiência de Vilmar e da Aço Cearense é compartilhada com o cliente, no intuito de torná- los mais competentes na administração e na condução do próprio negócio. A fidelidade gera indicações,e isso vai ampliando organicamente a rede de clientes. 68 O primeiro voo a gente nunca esquece O ramo do aço ia bem. Alpha,11 que era fabricante e tinha uma planta de produção em Pernambuco, vendia seus produtos para sua rede de distribuição própria e outros gigantes do ramo. Um pequeno revendedor, como Vilmar era à época, tinha de se submeter aos preços praticados por esses intermediários. Com suas margens apertadas, ele começou a vislumbrar a possibilidade de comprar direto da fábrica,sabendo que isso faria toda a diferença para seus resultados. O representante comercial da época disse a Vilmar que não poderia atendê-lo porque a Alpha não estava abrindo a oportunidade de cadastro de novos clientes. Vilmar insistiu, e a negativa do representante permaneceu. Então, indignado, ele comprou uma passagem de Fortaleza para 69Vilmar Ferreira Recife – era a primeira vez que colocava os pés num avião. Além do deslumbre com a experiência nunca experimentada anteriormente, carregava consigo uma capanga com todas as economias, todo o dinheiro de que dispunha, acumulado com o esforço de trabalho dele e dos irmãos. O valor era próximo a 50 mil dólares, se convertido para os dias de hoje. Essa quantia era o bastante para comprar 50 toneladas de aço, ou seja, duas carretas de produtos. Chegando a Recife, Vilmar foi direto para a fábrica da Alpha. Com a cara e a coragem, pediu para falar com alguém da área comercial. Primeiro, foi atendido por um gerente, que alegou que nada poderia fazer. Ele insistiu. Depois, foi a vez de um diretor dar a ele a mesma resposta.Foram mais de duas horas de insistência, de muita conversa e de muito convencimento. Frente a mais uma negativa, Vilmar se viu em desespero. Uma forte emoção tomou conta de seu coração e ele chorou – verdadeira e copiosamente, chorou em frente àqueles que lhe negavam a oportunidade de continuar a ir 70 em frente com seu sonho. Sabia que permanecer comprando das distribuidoras seria uma sentença de morte para seus sonhos de crescimento. A Alpha cedeu, mas impôs uma condição bastante específica: todas as compras de Vilmar deveriam ser pagas em cash, na fábrica. E foi assim que tudo aconteceu dali em diante. Quinzenalmente, ele pegava todo o dinheiro da venda dos produtos e ia direto para a fábrica comprar uma nova remessa. Mais de um ano e meio depois de sua primeira ida a Recife, um superintendente da Alpha o chamou e disse que ele se tornaria, enfim, um cliente da carteira da gigante siderúrgica,o que significava a possibilidade de acesso à linha de crédito. O crescimento foi grande e rápido. A estratégia nesse momento era baixar o preço para ganhar clientes e fidelizá-los. 71Vilmar Ferreira Por ter sido um pequeno revendedor durante anos, Vilmar tinha muita clareza das dores desse tipo de negócio. Ao crescer e se posicionar para atender a esse setor do mercado, sabia o que deveria oferecer como diferencial e que a logística teria de ser um de seus pontos fortes, o que se tornou a pedra fundamental de seu modelo e a base de crescimento. Estabelecer esse tipo de relação requer muita credibilidade, algo que sempre construiu ao longo do tempo. Desde a tratativa com um cliente que reclamou do peso do produto até reprimir o comportamento desonesto de um vendedor que buscava negociar um produto além do que o cliente precisava, Vilmar nunca abriu mão da 72 ética e de relações de ganha-ganha – algo que nunca foi apenas um discurso, mas um forte norteador de suas atitudes. Também conhecida como “terra da galinha-choca”, “terra dos monólitos” ou “cidade rainha do sertão central”, Quixadá fica a 167 km da capital Fortaleza. Essa foi a distância percorrida por Vilmar, de carro, à época em que um cliente atendido pela Aço Cearense ligou diretamente para ele reclamando do peso dos produtos entregues pela empresa. Ao ouvir a queixa, ele não teve dúvidas: era preciso ir até lá esclarecer o ocorrido. Ao chegar ao cliente, Vilmar fez questão de repesar todo o produto que havia sido entregue. Qual não foi sua surpresa ao observar que abalança do cliente, por estar rente ao solo, em algumas pesagens apontava um peso menor 73Vilmar Ferreira porque parte dos vergalhões ficava encostada no chão. Esclarecido o mal-entendido, Vilmar pôde retornar com a consciência e o coração tranquilos. Ele não conseguiria dormir enquanto não tivesse resolvido essa questão, que para ele era ética. Colaboradores novos costumam ser afoitos para corresponder às expectativas dos chefes. Não foi diferente nesse caso, quando um jovem vendedor recém-contratado pela equipe comercial da Aço Cearense estava empenhado em dar ótimos resultados. Mas, para isso, ele tentou fazer uma venda para um cliente, cujo conhecimento técnico sobre os produtos era menor, de alguns materiais que estavam além daquilo de que o cliente precisava. A diferença era pouca, financeira e tecnicamente,bastando ao cliente comprar 74 “Nesta empresa, esse tipo de prática não tem lugar. Vamos vender ao cliente o que ele precisa. A necessidade dele é a de um vergalhão menor, então vamos vender um vergalhão menor.” vergalhões de determinado diâmetro. Ao saber de tal prática, Vilmar não demorou a interceder e educar o rapaz em início de carreira. Ele disse: 75Vilmar Ferreira Como vender para pequenas e médias empresas First class Marcelo Lombardo Dois dados para refletir antes de iniciar: existem mais de 16milhões de PMEs no Brasil, e,segundo o SEBRAE, 26% delas quebram nos dois primeiros anos de atuação– por falta de conscientização, de educação, de acesso à tecnologia a baixo custo e por complicações legislativas.O que esses dois pontos, juntos, indicam? Que há um enorme mercado potencial nas PMEs, mas que elas precisam de parcerias verdadeiras com seus fornecedores. Estudar de que maneira atuar com as PMEs não é o mesmo que estudar estratégias de vendas para B2B – que são vendas complexas, de grande porte, cujos ciclos de fechamento de uma negociação são longos. Também não é a mesma coisa que estudar de que formas e aborda o consumidor, 76 aquilo que se entende por B2C – que, em resumo, olha para questões como PDV e estratégias de diversificação de canais. É preciso compreender as PMEs naquilo que elas são, respeitando suas características únicas. É disso que vamos falar. Por isso, seja bem-vindo ao mundo do B2PMEs. As PMEs normalmente nascem de um técnico ou de um vendedor bem-sucedido, alguém que conhece a fundo a operação de um negócio ou o mercado no qual tal negócio se insere. Ou seja, no DNA do pequeno empresário, dificilmente há traços de um gestor empresarial. Isso significa que o pequeno e o médio empresário são pessoas que carregam no negócio suas paixões.Caso se compreenda isso, tudo será muito mais fácil na relação com as PMEs. 77Vilmar Ferreira A comunicação com o as PMEs Se comunicação não é aquilo que se fala, mas o que o outro entende, é preciso compreender algumas características das PMEs que refletem em sua estrutura e em sua gestão, para, assim, poder escolher a melhor forma de se comunicar com elas. 78 Estrutura centralizada PMEs são PMEs porque são pequenas. Então, normalmente, a estrutura envolvida no processo de compra é enxuta, e a decisão fica concentrada em poucas pessoas, se não somente em uma. O que isso nos ensina? É preciso ir a fundo ao entendimento dessa pessoa: quem ela é? Do que gosta? Do que tem medo em relação ao negócio? Essa compreensão vai ajudar a definir como se comunicar, de maneira eficaz e assertiva, com essa pessoa que decide pelas compras. Lembre-se: identifique se essa pessoa têm um perfil mais técnico ou mais comercial e adapte a linguagem e os apelos de venda a isso. 79Vilmar Ferreira DNA do Negócio PMEs são PMEs, e isso as faz ser muito particular. Então, para se relacionar com essas empresas, é preciso decifrar seu DNA. Compreender suas estruturas, suas crenças,suas dificuldades e fortalezas, seu mercado e os concorrentes. Isso é vital para ter clareza quanto ao que comunicar (sobre seu negócio) para esse potencial cliente. Algumas características importantes são:identificar o DNA de seu interlocutor (técnico, comercial ou gestor),compreender as paixões e as motivações por trás do empreendimento e criar comunicações de abordagem educativa que possam atraí-lo. 80 Como vender para uma PME? Numa grande empresa, o processo de concorrência e compra está estabelecido e estruturado. É você seguir a cartilha passo a passo.Acontece que esse grau de organização não existe na maior parte das PME. Por isso, a melhor estratégia de vendas para um PME é aquela que se adéqua à estratégia de compras do potencial cliente. Ou seja, a capacidade de adaptação é tudo nesse momento.Encare isso como uma enorme oportunidade, pois se pode construir lado a lado com o cliente a melhor forma de o negócio acontecer – diminuindo, inclusive, o prazo do ciclo de vendas. Com o tempo, será possível consolidar algumas premissas ou boas práticas, baseadas naquilo que deu mais certo nas negociações anteriores. Esse conhecimento acumulado ajudará nas futuras relações com outras PMEs. Ao fazer isso, cria-se aquilo que se chama “funil de vendas”. 81Vilmar Ferreira É uma ferramenta de gestão que expressa as fases ou os estágios do ciclo de vendas. Cada uma dessas etapas reflete a jornada de seu comprador,o caminho desde o primeiro contato com sua empresa até o momento final, da entrega do produto ou do serviço. Uma dica valiosa para desenhar o funil de vendas é se colocar no lugar do cliente em cada passo.Como diz o ditado, calce os sapatos do cliente. Pergunte-se: como eu gostaria de ser abordado nesse momento? O que eu precisaria para a tomada da decisão? Que prazo eu, como cliente, gostaria de encontrar? O funil de vendas 82 Quando se pensa um processo, é preciso lembrar que as fases, para acontecerem com eficácia, dependem das informações transmitidas de um estágio para o outro. A comunicação entre as etapas do funil de vendas é um fator determinante para o sucesso final, que é a conversão do negócio. Certifique-se de que processos, políticas e ferramentas utilizados ao longo desse trajeto sejam eficientes na transmissão da informação. De forma geral, todo processo de vendas tem três grandes etapas,o que significa que seu funil de vendas deve ter, no mínimo, três fases. Veja-as descritas abaixo. 83Vilmar Ferreira Abordagem É a geração de leads em si, a prospecção (todos esses termos são sinônimos). Como se acessa a primeira vez seu cliente e quais são os argumentos que utilizará para fazê-lo considerar seu produto ou serviço numa próxima compra? Aqui, ter clareza de seus diferenciais competitivos é de enorme importância. Tenha tudo isso na ponta da língua. A definição do canal de abordagem é uma questão a ser pensada. Como toda PME é única, as formas de aproximação são múltiplas. Além disso, elas estão pulverizadas e, muitas vezes, dispersas geográfica e mercadologicamente. Isso significa que uma estratégia comercial de massa não funciona para atingi-las. 84 Aqui, a estratégia de marketing tem de ser muito mais parecida com uma mira a laser do que com uma bala de canhão.Há uma tendência muito forte na atualidade a usar o marketing digital como estratégia de divulgação. As redes sociais têm uma grande abrangência, mas é preciso considerar se se trata do melhor canal – se não há muitos concorrentes seus usando essa mesma estratégia. Talvez seu canal de vendas ou a mídia ideal para seu negócio não seja a publicidade, e sim, por exemplo, uma parceria com alguém que influencia as decisões de seu potencial cliente. Apresentação Esse momento precisa ser pensado como aquele instante precioso em que se está em frente ao potencial cliente e será preciso apresentar o produto ou serviço. Pense: o que é mais relevantepara ser dito ou mostrado? O que há em sua oferta, para além do produto ou do serviço em si – o valor agregado que o torna único)? É tentador, nesse momento, começar a apresentação falando diretamente do produto ou do serviço, afinal a máxima diz que tempo é dinheiro. Então, é natural ir direto ao ponto. Mas é fundamental não partir do princípio de que sua solução é aquilo de que o cliente necessita. Antes, pergunte-lhe sobre as dificuldades e os desafios que enfrenta. Peça que conte sobre o cenário em que seu produto ou serviço 85Vilmar Ferreira se encaixa – por exemplo, se sua empresa for de soluções de tecnologia, convide o potencial cliente para falar sobre como tem sido o dia a dia dele coma tecnologia e o que enxerga que poderia ser diferente. Isso é a base de uma venda consultiva, que é muito mais eficaz do que a venda técnica. Conforme as repostas e os relatos do potencial cliente, modula-se o que se dirá e escolhem-se pontos e diferenciais que devem ser investidos na apresentação. Para cada problema por relatado, endereça-se a solução especifica que se pode oferecer. Fazer isso possibilita ao potencial cliente sentir que seu produto ou serviço é exatamente aquilo de que ele precisa. Conversão É a etapa de fechar o negócio. Nela, há de ter clareza sobre as possibilidades de negociação: qual é a flexibilidade possível quanto a preço e prazo?Como o núcleo decisório é pequeno, os aspectos emocionais são muito relevantes. Boa parte do processo decisório nesse tipo de estrutura já é tomada com base em aspectos muito subjetivos. 86 Por fim, considere que, para a conversão, dois pontos são essenciais. Primeiro, o timing, que está relacionado à necessidade do cliente, mas que, num contexto econômico frenético como o que se vive na atualidade, torna-se algo muito perecível – ou seja, a necessidade de hoje pode não ser a de amanhã. Assim, entender o timing correto da venda é fundamental. Segundo, manter domínio sobre o processo de vendas que se estabeleceu – já que nas PMEs as estruturas são enxutas (logo, há sobreposição), é preciso mostrar segurança e domínio para o potencial cliente. O cérebro reptiliano e a tomada de decisão de tudo aquilo que se fala, apenas 10% é absorvido conscientemente pelo ouvinte. A culpa disso é de algo de nome esquisito: cérebro reptiliano. Essa é a parte mais primitiva da estrutura cerebral do homo sapiens e responsável pela tomada de decisão frente às situações de sobrevivência. Na nossa espécie, isso significa que é a parte reptiliana que nos diz “fique e lute” ou “corra e fuja” 87Vilmar Ferreira quando deparamos com as ameaças do dia a dia. Para tomar essa decisão, o cérebro segue um fluxo, como o desenhado abaixo.12 88 Olhando para esse fluxograma, fica claro o caminho que se deve percorrer no cérebro reptiliano de seu prospect .Sua oferta tem de ser surpreendente e instigante. Os benefícios técnicos e os argumentos de venda se tornam apenas uma justificava, na cabeça do possível cliente, para uma decisão que muitas vezes já foi tomada antes. Tabela 1 – As quatro grandes armadilhas de uma venda (ou tudo aquilo que sempre se quis saber quanto ao que evitar, mas ninguém nunca falou) 89Vilmar Ferreira Quando o pior pesadelo se torna a maior realização “Foi quando todos os grandes grupos de aço do Brasil estavam contra mim. Foi muito difícil, realmente. Mas nessa hora é não esmorecer.” Vilmar Ferreira 90 Depois de comprar as cinquenta toneladas de Aço da Alpha em 1979 e começar a crescer vertiginosamente, todos os grandes players do mercado nacional passaram a encarar Vilmar como uma ameaça. Em 1986, a estrutura de distribuição desses grandes produtores estava sofrendo perdas consideráveis com o avanço de Vilmar nos mercados do Ceará e de todo o Nordeste, bem como com estratégia de preço baixo e alta rotatividade. Para se proteger, seu principal fornecedor à época começou a também abaixar os preços, a fim de conquistar uma parcela da clientela de Vilmar. Só que a estrutura organizacional de Vilmar era pequena e eficaz, por isso ele conseguia se manter na competição. 91Vilmar Ferreira Apesar da sólida relação com a Alpha à época – Vilmar era um cliente fiel e rentável –, essa parceria teve um fim sofrido.O gigante gaúcho cortou o fornecimento a Vilmar, na esperança de tirar do mercado esse competidor que estava se tornando uma pedra no sapato – o modelo de negócios da Alpha era baseado numa rede de distribuidores próprios, e eram eles que estavam amargando resultados ruins com a atuação da Aço Cearense. Sem ter como comprar de sua maior e mais antiga parceira, Vilmar começou a diversificar os fornecedores. Mas todas as grandes produtoras, uma a uma – mesmo as estatais, que à época começavam a ser privatizadas, um movimento que favoreceu a concentração do mercado nacional em poucos players privados –, pararam de fornecer aço para Vilmar, numa estratégia orquestrada para que ele ficasse sem crédito comercial para o rotativo e, assim, fosse estrangulado financeiramente. 92 Acuado, com todas as portas sendo fechadas, qual era saída? Desistir? Não, não existia essa alternativa, depois de tudo que já havia sofrido e construído. Em 1988, em meio a essa que foi a pior crise por que seu negócio passou, ele chegou a pensar que não aguentaria nem conseguiria se reposicionar. Vilmar perdeu o sono, os negócios e mercado, mas não perdeu a fé nem a capacidade de olhar para além do óbvio e, onde ninguém imagina, encontrar uma fresta para a saída. Afinal, como diz sua filha: “Ele não é morredor e encontrou uma solução.”13 A saída foi olhar para o mercado internacional. Com boas condições comerciais, mas enormes desafios quanto à qualidade dos produtos – que não eram certificados – e às questões regulatórias, a estratégia de importar aço parecia uma insanidade. 93Vilmar Ferreira Assim, o mais improvável aconteceu: a dificuldade comercial imposta pelos fabricantes locais de aço, em vez de levar à falência aquele concorrente forte no mercado de distribuição, determinou as condições para que Vilmar abrisse o mercado a produtos internacionais. Nascia, em 1996, a Aço Cearense ela é conhecida hoje. Vilmar sabia que precisava comprar bem. Mais do que saber vender, ele enxergava que era a boa compra o que lhe permitia fazer boas vendas posteriormente. Então,o primeiro desafio foi definir onde comprar uma matéria-prima com boas condições comerciais e de qualidade. O mercado de aço nacional, até então, era pautado na venda de longos, ou seja, de vergalhões – tanto que Vilmar comprava dos fabricantes locais os tubos de aço para a revenda. Mas, nesse momento 94 em que era imperativo se reinventar, ele olhou para os produtores internacionais e percebeu que havia a possibilidade de importar planos, ou seja, bobinas de aço,as quais posteriormente seriam beneficiadas e transformadas nos tubos e nos vergalhões para a venda. O projeto, de tão inusitado, despertou a curiosidade dos próprios concorrentes. No primeiro carregamento de matéria-prima importada que chegou ao porto, vinda da Argentina, não era só Vilmar quem estava lá para acompanhar o desembarque.Do porto de São Paulo, o material ia para Minas Gerais ser beneficiado e, de lá, para Fortaleza,onde seria vendido. Era uma logística complicada e cara. Dava lucro, mas com margens muito apertadas. Desde então, outros momentos de dificuldades foram enfrentados por ele e sua equipe. Em 2000, em meio à crise que assolou boa parte 95Vilmar Ferreira das economias e dos mercados mais estáveis do planeta, a Aço Cearense sofreu com a flutuação do câmbio, uma vez que as importações são feitas em dólares. O principal fornecedor à época, uma trade alemã, cortou todo o fornecimento de diversas matérias-primaspara o Brasil, incluindo o aço de Vilmar. Uma gestão mais austera e eficaz ajudou a Aço Cearense a passar por tal momento, e logo em seguida, em 2001, as certificações para importação de longos foram concluídas – uma batalha de dois anos que vinha sendo travada nos tribunais entre Vilmar e os gigantes nacionais, que ainda se esforçavam coletivamente para blindar o mercado. 96 Era a oportunidade de Vilmar retornar a esse mercado, que tão bem conhecia da época de distribuidor. Os desafios de operar num setor extremamente complexo e competitivo, como o ramo da siderurgia, se converteram em aprendizados. Segundo Vilmar, eles podem ser elencados em dois pontos: Atuar por etapas Para cada dificuldade ou novo obstáculo, deve-se resolver o que se coloca como uma pedra naquele trecho da estrada, a fim de que isso não atrapalhe o caminho como um todo. Resolver as questões uma a uma é algo que dá a confiança de que é possível ir em frente, sempre. 97Vilmar Ferreira Formar uma equipe forte e competente Enfrentar desafios técnicos requer conhecimento aprimorado. No caso das importações que se iniciavam, Vilmar foi buscar no mercado um profissional que entendesse dessa atividade que ele nunca havia desempenhado. Nesse mesmo momento, os membros da família que trabalham na empresa foram gradualmente afastados para que a profissionalização pudesse se dar. Nesse cenário tão adverso, a credibilidade construída ao longo do tempo foi um fator decisivo para que o mercado internacional lhe abrisse as portas. Esse capital imaterial é a principal salvaguarda das empresas quando as condições se tornam adversas. 98 Como ser bem-sucedido num mercado liderado por grandes empresas? First class Marcelo Furtado Já imaginou querer iniciar um negócio num mercado em que só há grandes players, os quais ditam as regras e dominam os preços? Essa constatação, de início, pode ser encarada como um fator inquestionável para desistir. Mas não precisa ser bem assim. Existem maneiras, técnicas e teorias que podem ajudar a transformar essa dificuldade numa grande e rentável oportunidade de atuação, assim como fez Vilmar. Então, nada de se ver como o patinho feio da história.Arregace as mangas e mãos à obra! 99Vilmar Ferreira Reconhecer os pontos fortes de ser um novo entrante, para saber melhor aproveitá-los, é condição sine qua non. Por exemplo, as grandes empresas têm maior capacidade de investimentos, sem dúvidas, o que significa maior fluxo de caixa e margens mais estabelecidas. Mas elas são morosas, graças às grandes estruturas, por isso é possível se valer de maior agilidade – tanto na adaptação a novas demandas do mercado quanto na tomada de decisão e na flexibilidade comercial. Da mesma forma, enquanto os grandes players se valem de uma marca forte e de uma penetração antiga no mercado, o novo concorrente pode se valer mais da inovação, oferecendo não só produtos e serviços diferentes, mas principalmente maneiras novas de fazer o negócio, com processos mais ágeis e eficazes. Isso dará um portfólio mais especializado e assertivo. 100 Ou seja, as empresas dominantes têm pontos fortes, mas as entrantes também podem ter. É preciso que isso seja corretamente identificado e mapeado,tornando-se os alicerces de seu crescimento. Aqui, podemos lembrar as palavras de Sun Tzu, autor de A arte da guerra:“Se teus inimigos forem mais poderosos e mais fortes, não os ataque. Evite cuidadosamente o que pode redundar num conflito generalizado.”14 A estratégia a ser adotada num cenário em que há concorrentes grandes e já estabelecidos é criar um nicho específico dentro do mercado – ao menos por ora, até que se disponha de fôlego para dar passos maiores, afinal enfrentar diretamente os gigantes ou seguir as mesmas rotas por eles traçadas é menos inteligente do que possa parecer. 101Vilmar Ferreira Há alguma vantagens em identificar e atuar num nicho de mercado específico, com o custo de entrada menor, proposta de valor mais tangível, domínio mais rápido e lucrativo e não desgaste com frente a grandes competidores. Para isso, existem três passos que podem ser adotados como norteadores. O ponto de partida é estudar o mercado e identificar em que setor é possível atuar. Ao identificar os pontos de insatisfação dos clientes,pode-se delimitar um espaço de atuação no qual uma solução inovadora e atrativa faça a diferença. Ao se estabelecer num setor do mercado que é pequeno, há menores chances de lidar com concorrentes muito grandes. Seguindo por essa lógica, é possível se tornar dominante nessa porção específica do mercado. 102 E, o melhor, esse setor, inicialmente pequeno, pode com o tempo se tornar cada vez maior. Por isso, deve-se escolher um nicho de mercado que tenha um potencial de crescimento rápido, evitando que se fique estagnado ao longo do tempo. A seguir, concentrado num setor menor, vai-se naturalmente se tornando mais especializado.Isso garante que se consiga atender às necessidades dos clientes, além de gerar um círculo virtuoso de crescimento, pois, quanto mais compreender as dores específicas dos clientes, mais poderá oferecer soluções únicas – e mesmo customizadas. Dessa forma, tem-se uma compreensão mais aprofundada do cliente ao longo do tempo. Nesse contexto, um ponto importante que merece destaque é a questão da distribuição. Muitas vezes, é preciso romper com as formas clássicas e desenvolver novas maneiras de atingir o cliente- consumidor. O terceiro passo é se estruturar muito bem para dominar o nicho em que se instalou. Para isso,é 103Vilmar Ferreira preciso manter o foco e não cair na tentação de mudar de estratégia prematuramente, o que pode significar passar a concorrer com os grandes players antes de um período de maturação. Torne cada vez mais consistente e adequado seu produto ou serviço, refine sua política de preços (margem, custo, despesas etc.) e se certifique da distribuição. Tudo isso fará com que sua proposição de valor se torne algo cada vez mais tangível ao cliente. Este é o coração de sua entrega: o valor que seu produto ou serviço oferece ao cliente ou ao consumidor. Pode-se resumir esta first class em três pontos: procure um nicho de mercado pequeno, que não atraia competidores mas que com potencial de crescimento;conheça a fundo as necessidades dos clientes; tenha certeza de que pode dominar esse mercado – refine a oferta. 104 A cada obstáculo, um novo motivo para renovar as energias e seguir em frente “Não há nada na vida que não tenha uma brecha, que não tenha espaço para recuperar o que foi perdido ou reparar uma situação.” Vilmar Ferreira 105Vilmar Ferreira Novos mercados, novos negócios e novos desafios. Compreender as atuais dificuldades de Vilmar Ferreira e sua equipe à frente da Aço Cearense implica olhar para dois contextos. O primeiro, o mercado internacional e a hegemonia chinesa; o segundo, os desafios locais da economia brasileira, que vem sendo duramente impactada desde 2014. Apesar de representarem desafios diferentes, um tem forte influência sobre o outro, o que torna impossível isolá-los numa análise. O mercado internacional, muito flutuante e instável, demandou que Vilmar e a Aço Cearense superassem novos obstáculos. A China, que ao longo dos últimos anos se tornou a maior produtora e exportadora de aço do mundo – na ordem de quase 50% de todo o mercado global –, imprimiu o ritmo dos negócios e ditou as regras comerciais. 106 Um país cujo custo da mão de obra, por ser tão excessiva e fortemente desregulamentada, é ínfimo pode se dar ao luxo de praticar preços irrisórios. E foi isto que a potência oriental fez: jogou o valor de seu produto lá para baixo, desestabilizando todo o mercado siderúrgico internacional. Isso tornou muito mais complexaa atuação das empresas brasileiras. Para ilustrar o poder econômico chinês na siderurgia, basta saber que um dia de toda a produção brasileira equivale a quinze dias de produção chinesa. Sim, a cada quinze dias, a China produz uma quantidade de aço equivalente à produção brasileira de um ano. Isso fez com que os custos do aço chinês fossem muito, muito baixos durante esse período, tornando quase impossível uma competição justa e saudável. Foi essa conjuntura que detonou a crise mundial no mercado do aço. 107Vilmar Ferreira No mercado interno, o aço também sofreu revezes. Por se tratar de um setor visceralmente ligado ao desenvolvimento econômico – uma vez que é insumo primário para indústrias como a da construção civil, a automotiva, a de linha branca e a de óleo e gás –,durante os períodos de aquecimento econômico as margens do produto tendem a ficar acima do PIB. O problema é que a lógica inversa também é válida: durante períodos de crises, esse é um mercado que sangra mais do que a média, acumulando fortes baixas. 108 Por isso, a crise econômica de trouxe impactos de enorme magnitude para o setor do aço. Para passar por esse maremoto, a Aço Cearense se viu obrigada a reduzir custos e manter o foco certeiro na oferta dos produtos com as melhores margens,a fim de evitar grandes perdas. Parte dessa solução, que parece simples no papel, demandou de Vilmar um esforço sobre-humano. Como está em deu DNA a criação de valor social, e como sua empresa tem fortes valores relacionados à família, a decisão de reduzir o quadro de funcionários em quase um quarto feriu esse homem que parece inabalável. 109Vilmar Ferreira Suas lágrimas de pesar se fizeram presente no dia do anúncio dos desligamentos e ainda brotam aos olhos quando se lembra de tudo isso. Mas Vilmar não sente vergonha de chorar. Ele sabe que parte de seu legado está ligado à humildade e à simplicidade, portanto se mostrar humano para as pessoas com quem trabalha não lhe soa como sinal de fraqueza. Pelo contrário. Todas essas oscilações do mercado do aço dos últimos anos fizeram com que a Aço Cearense, ao melhor estilo de Vilmar, se reinventasse inúmeras vezes.Um bom exemplo disso foi o momento em que essa gigante percebeu que a volatilidade do mercado internacional era um risco. Nesse tipo de estrutura de negócio, não se tem controle sobre muitas variáveis – especificamente, nesse caso, sobre o preço da matéria-prima. Isso é uma grande fragilidade para um negócio cujas margens precisam ser bem-administradas. 110 Foi nessa época que Vilmar vislumbrou que era preciso ter uma solução local, uma alternativa à importação. Observando isso, a sagacidade do empresário fez com que se antecipasse a uma possível dificuldade futura. Antes que algum problema de fato se estabelecesse, a Aço Cearense deu mais um importante passo e fundou a Siderúrgica Norte Brasil S.A (Sinobrás), em 2006. É claro que não se inaugura uma planta produtiva dessa envergadura do dia para a noite, como num passe de mágica. A Sinobras já era um projeto em gestação desde 2004, um desejo embrionário, mas que as circunstâncias daquele momento transformaram em realidade. Não se tratava mais apenas de uma forte e eficiente empresa de distribuição de aço,e sim de um player perspicaz na fabricação e no beneficiamento do produto, que nasce fora dos grandes grupos que sempre dominaram o mercado nacional. 111Vilmar Ferreira E qual foi a maior dificuldade, nas palavras de Vilmar, para a consolidação desse mega empreendimento, que parecia utópico? Ele responde: “A maior dificuldade é os outros não acreditarem. O mercado dizia que não iria sair, alguns colaboradores diziam que não iria sair. Mas isso me deu mais força.” O primeiro tarugo fabricado pela Sinobrás foi brindado pelos colaboradores com champanhe, a prova de que o sonho desse homem visionário se tornou o sonho de todos os que estão envolvidos. 112 A Sinobrás é produtora de aços longos e a primeira siderúrgica integrada da região Norte-Nordeste do Brasil. Em 2008, em plena crise econômica brasileira, teve um forte crescimento. Sua criação deu à Aço Cearense melhores condições de negociação, uma vez que eliminou a dependência do produto internacional. O desafio que se impõe agora é entender como vender de maneira mais eficaz, pois não é mais somente um distribuidor –há um mix de clientes, diretos e indiretos. Outro ponto é descobrir como ocupar o mercado deixado pelas empresas que não sobreviveram ao período da crise financeira. 113Vilmar Ferreira A Sinobrás tem capacidade produtiva de 380 mil toneladas de aço, com um mix de produtos comercializados em todas as regiões do Brasil e um atendimento logístico diferenciado. Com a produção de aço voltada para o mercado nacional, a empresa teve, no último ano, um faturamento de R$ 1,1 bilhão, consolidando-se como uma das grandes indústrias do Pará. Atualmente, emprega 1.300 pessoas e gera 16.700 empregos indiretos, colaborando com o fluxo econômico e a geração de renda.15 114 Mesmo sendo um empresário que passou por tantos momentos de desafios, quando Vilmar é indagado sobre a maior dificuldade da vida, relata sua separação. Para um homem tão ligado à família, ainda que o processo não tenha implicado litígio, o desligamento foi algo marcante. O impacto desse momento foi grande, mas ele manteve o assunto apartado dos negócios, por mais que vidas pessoal e profissional sempre estejam, de certa forma, implicadas. Como ele costuma dizer: “Frente à crise, lembre-se de que tudo passa. Tenha fé, acredite em si, reveja seus conceitos e o que errou no passado. Esse é um momento de correção e de reflexão. Diga: ‘Vou conseguir, isso vai passar’, e no dia seguinte já acorda outra pessoa. Esse período não será para sempre”. 115Vilmar Ferreira Para compreender o tema da gestão de custos, é preciso partir de uma premissa que diz que“o preço final de um serviço prestado ou produto vendido depende de quanto é investido para que ele exista”. Quando não tem uma gestão de custos eficaz, a empresa pode cobrar valores que não condizem com a realidade, prejudicando margens de lucro, volume de vendas ou andamento geral do negócio. Essa é uma contextualização feita pela organização Endevor e fundamental para o entendimento dos ensinamentos que se seguem. Gestão de custos: como estruturar seu negócio First class - Mauricio Galhardo 116 A citação acima nos ensina que, para ter uma boa gestão de custos, é preciso fazer inicialmente a formação do preço,o cálculo do preço que será praticado na venda. Esse valor precisa condizer coma realidade de atuação da empresa.O custo de venda que se tem “na prática” precisa ser o mesmo daquele que está projetado “na teoria”. Por quê? Porque, se ele for maior – se se tiver um gasto maior para vender do que aquilo que se planejou –, haverá prejuízo; se for menor – se se tiver um gasto bem menor do que o se previu –, pode-se praticar preços muito altos, irreais para seu mercado de atuação. É por isso que a gestão de custos é tão importante para a precificação do produto. 117Vilmar Ferreira Uma vez que uma das principais premissas de uma empresa é gerar lucro, a fim de que haja a perpetuação do negócio, é necessário compreender de que maneira isso é possível. Veja o diagrama abaixo,16 que ajudará a perceber a relação direta de tudo isso. 118 Observe que, para gerar lucro, existem dois caminhos clássicos, ensinados em qualquer livro de administração: uma via é a diminuição dos gastos; a outra, o aumento das vendas. Simples, não? Basta escolher um desses caminhos e seguir, certo? Errado! O que se mostra mais eficaz ao longo do tempo é fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Pode parecer que adotar ambas as práticas concomitantesimplicará um trabalho e um esforço redobrado. Mas não é assim. Quando se olha para as duas variáveis simultaneamente, o esforço sobre cada uma delas se torna menor. Considerando o que está na parte de cima do diagrama,aquilo que está relacionado ao aumento das vendas – tecnicamente, o incremento da receita –, existem duas formas de fazê-lo. A primeira, aquela na qual se tende a pensar, é o incremento do número de transações – aumentar a quantidade de vendas efetivas. 119Vilmar Ferreira A segunda, muitas vezes mais interessante financeiramente, é aumentar o tíquete médio das vendas. Isso significa que, ao invés de muitas, é preferível ter poucas transações, menores, porém com valores maiores. Para negócios específicos e cuja oferta de produtos ou serviços se dá dentro de uma carteira de clientes mais restrita, o aumento do tíquete médio de cada transação é um fator importante a ser considerado, uma vez que a expansão do negócio não está atrelada, necessariamente, a uma expansão quantitativa no mercado. Já a parte de baixo do diagrama indica os gastos, que precisam ser compreendidos em três dimensões. A primeira delas é o custo direto do produto ou do serviço, que está relacionado a quanto a empresa precisa investir para que sua oferta exista para a venda. As outras duas dimensões dizem respeito aos gastos que são classificados em variáveis ou fixos. É sobre essas duas últimas que se fala quando se pensa a gestão de custos. 120 Fazer a gestão de custos não se trata de ter um comportamento avarento, no sentido de controlar ou eliminar custos simplesmente por eliminar ou não entender a necessidade deles para o desenvolvimento do negócio. Fazer uma gestão de custos eficaz significa acompanhar, ao longo do tempo, aquilo que estava planejado em sua formação de preço versus o que vem acontecendo na prática do dia a dia. É na execução diária do negócio que muitas vezes se perdem oportunidades valiosas de contornar e remediar situações responsáveis por uma evasão de dinheiro. 121Vilmar Ferreira E por que é preciso acompanhar os gastos no dia a dia, se o valor previsto disso está correto em sua formulação de preço? Bem, e por acaso o preço dos fornecedores estão congelados? Claro que não. O preço dos fornecedores de produtos e de serviços que compõem seu negócio varia. Na prática, isso significa que, de um mês para o outro, pode haver oscilação, por exemplo, no valor do transporte ou no câmbio de importação da matéria-prima. Se essas oscilações não forem contempladas periodicamente, haverá prejuízos. Simples assim. Considerando isso, é importante esclarecer o que são gastos fixos e gastos variáveis. Observe a tabela abaixo. 122 Fixos Todo gasto fixo se relaciona com aquilo que não variará monetariamente conforme se aumentam ou diminuem as vendas. Um exemplo de gasto fixo é o aluguel: não obstante a quantidade de vendas feitas pelo negócio naquele mês, o valor a ser pago será sempre o mesmo. Outro exemplo é a conta de luz. Se em seu negócio o consumo energético não é tão preponderante quanto uma matéria-prima, pode haver uma pequena variação na quantidade de energia elétrica consumida no mês. No entanto, esse é um gasto que existirá todos os meses, mesmo que com pequenas variações. Variáveis Por sua vez, os gastos variáveis são aqueles que vão apresentar oscilações conforme o aumento ou a diminuição das vendas. Uma vez que os gastos variáveis têm natureza oscilatória, é muito mais fácil prevê-los com base num percentual do valor de venda do que por meio de um valor bruto. Um exemplo desse tipo de gasto é a taxa de desconto proveniente do uso do cartão de crédito. 123Vilmar Ferreira E por que é tão importante separar os gastos fixos dos variáveis? Porque a forma de acompanhá-los é diferente. Quando se trata dos gastos variáveis, é muito mais difícil acompanhá-los mês a mês e, assim, compreender o impacto deles sobre o resultado final.Por isso, recomenda-se que os gastos variáveis sejam pensados, na composição do preço de vendas, de forma percentual. Como não são monetariamente estáveis, pensá-los em termos de percentual ajuda muito. Quando se tem o controle efetivo de gastos fixos e variáveis, é possível chegar a um número indispensável ao sucesso de qualquer negócio: o ponto de equilíbrio, que representa o montante de vendas necessário para que os gastos sejam todos pagos. O ponto de equilíbrio indica a quantidade de vendas que resultará num resultado igual a zero, ou seja, nem lucro nem prejuízo. 124 Por essa característica, algumas escolas econômicas chamam o ponto de equilíbrio de meta mínima.Com base nele, torna-se possível fazer projeções a respeito da margem de lucro que o negócio deseja buscar, da mesma forma que se pode entender o percentual de desconto que pode ser aplicado durante uma negociação. Planilha DRE, uma boa forma, simples e rápida, para acompanhar seu negócio Essa é uma importante ferramenta gerencial para acompanhamento do faturamento e das despesas. De modo geral, uma planilha de demonstração do resultado do exercício (DRE) é composta por quatro grandes blocos de informação. O primeiro, que aparece na linha inicial superior, indica o faturamento, o valor gerado por todas as vendas. 125Vilmar Ferreira Logo abaixo, estão descritos os gastos variáveis, que serão diferentes conforme a natureza de cada negócio. Quando se subtraem do faturamento todos os gastos variáveis, encontra-se a margem de contribuição, número que indica o resultado que subsidiará o pagamento das demais despesas. Por isso, na planilha DRE, logo abaixo da linha da margem de contribuição são relacionados todos os gastos fixos. O resultado entre margem de contribuição menos o total dos gastos fixos é o lucro operacional, valor que indica efetivamente quanto determinado negócio teve de ganho. Do lucro operacional devem ser subtraídos os gastos não operacionais, ou seja, os valores relacionados às despesas que não são oriundas do negócio em si, mas que podem encarecer, como dívidas, juros e retirada dos sócios. 126 Nesse bloco de gastos podem também, no caso dos empreendedores individuais, estar relacionadas algumas despesas de cunho pessoal, como seguro saúde da família. Por fim,subtraindo-se do lucro operacional os gastos não operacionais, chega-se ao lucro líquido do negócio.17 127Vilmar Ferreira Dessa forma, é possível fazer uma boa gestão dos custos e manter uma disciplina de acompanhamento de gastos fixos e variáveis frente ao lucro que o negócio desempenha.Para ter uma boa de gestão de cursos, portanto, é preciso analisar constantemente os procedimentos financeiros da organização, detalhar planilhas gerenciais de acompanhamento e saber observar e se valer de oportunidades de investimento que permitam o crescimento da empresa de forma sustentável. A máxima é: ao se dedicar à gestão de custos eficaz, provavelmente será possível gastar menos e lucrar mais. Ao manter essa disciplina, evita- se que a gestão financeira fique baseada em questões abstratas, como o feeling ou o famoso “chute” para a composição de preço. 128 O poder do hábito, de Charles Durigg18 Trata-se da história de uma jovem que, em dois anos, transforma quase todos os aspectos de sua vida: para de fumar, corre uma maratona e é promovida. Num laboratório, neurologistas descobrem que os padrões dentro do cérebro da menina — seus hábitos — foram modificados de maneira fundamental para que todas essas mudanças ocorressem. Há duas décadas pesquisando ao lado de psicólogos, sociólogos e publicitários, cientistas do cérebro começam finalmente a entender como os hábitos funcionam — e, o mais importante, como podem ser transformados. Embora isoladamente pareçam ter pouca importância, com o tempo têm um enormeimpacto na saúde, na produtividade, na estabilidade financeira e na felicidade. 129Vilmar Ferreira Com base na leitura de centenas de artigos acadêmicos, entrevistas com mais de trezentos cientistas e executivos, além de pesquisas realizadas em dezenas de empresas, o repórter investigativo do New York Times Charles Duhigg elabora, em O poder do hábito, um argumento animador: a chave para se exercitar regularmente, perder peso, educar bem os filhos, tornar-se uma pessoa mais produtiva, criar empresas revolucionárias e ter sucesso é entender como os hábitos funcionam. Transformá-los pode gerar bilhões e significar a diferença entre fracasso e sucesso, vida e morte.19 130 O amanhã que se constrói no hoje sem perder de vista os valores do passado “O presente é onde a gente deve estar para se projetar para o futuro, mas sem perder o lastro com o passado, porque foi ele que nos trouxe até aqui. Todos os fundamentos que nos trouxeram até aqui têm ficado muito mais fortes nesse momento de crise”. Aline Ferreira 131Vilmar Ferreira Como olhar para o futuro com otimismo e fazer planos de crescimento quando, no horizonte, existe uma conjuntura desfavorável internacional no mercado e, no país, há uma crise econômica em andamento? É sob essas condições que Vilmar, sua filha, Aline, e a equipe que o acompanha refletem a respeito do que está por vir. Estamos falando do ano de 2016, por isso as projeções que são feitas miram naquilo que estava por vir em 2017. Apesar de um panorama de incertezas, eles planejavam ampliar a capacidade da Sinobrás, um investimento previsto e parcialmente executado – uma nova linha de produção capaz de entregar uma alavancagem na capacidade produtiva da siderúrgica. Havia outras iniciativas no pipeline da organização, muitas suspensas e outras em discussão. 132 O momento era de cautela: não iniciar novos projetos, e sim concluir aqueles já em andamento. Dessa forma, Vilmar, Aline e executivos pretendiam gerar caixa e diminuir o passivo financeiro – e grande parte de tudo nisso foi realizado. O que realmente importa nisso tudo é que a Aço Cearense e a Sinobrás não estavam paradas, esperando passivamente a crise passar. Ao melhor estilo Vilmar Ferreira, com os pés cravados nas crenças que os sustentam há décadas, todos continuaram buscando alternativas, pensando em novos caminhos (afinal desistir nunca foi uma opção!) e continua não sendo. Manter-se em movimento, reinventando-se, é uma receita já testada pelas Ferreiras, uma forma de deixar o momento ruim para trás, sem permitir que ele cause impactos de grande escala. 133Vilmar Ferreira A conjunção do panorama internacional do aço, cujas margens foram esmagadas pelo produto chinês de baixíssimo preço, com a profunda crise econômica brasileira, fez sumirem do mapa inúmeros competidores de menor porte que há décadas faziam parte do mercado local. Com isso, muitos pequenos e médios distribuidores e revendedores de materiais de aço ficaram desguarnecidos. É olhando para essa lacuna do mercado como grande oportunidade de aumento de market share que Vilmar pretende enfrentar o ano que está por vir. Neste ponto da história, tanto a produção e o beneficiamento do aço quanto a revenda e a distribuição dos produtos produzidos dessa nobre matéria-prima estão integrados numa só cadeia – a Sino Brás e a Aço Cearense, juntas, têm plenas condições de ocupar o espaço deixado pelos concorrentes. 134 O modelo de negócios continua se mostrando acertado. Apesar de ter amargado perdas no primeiro ano da crise, a Sinobrás e a Aço Cearense sofreram muito menos do que a média dos demais players. Isso mostra que o modelo de atuação – integrado e pensado para atender a micros, pequenos e médios varejistas – é tão resiliente quando o aço, já que permaneceu estável. A carteira de clientes pulverizada e fortemente fidelizada ao longo dos anos anteriores se mostrou uma das maiores fortalezas do grupo. 135Vilmar Ferreira Como se não bastasse todo esse turbulento momento, concomitante a todas essas questões é preciso considerar algo de grande relevância: a sucessão de Vilmar está em andamento, o que, por si só, já pode ser considerado um enorme desafio. Muitos processos de sucessão se tornam um entrave ao crescimento das organizações, haja vista que disputas e tratativas hostis entre os membros da família desgastam todos e prejudicam a imagem e as relações organizacionais – exemplos disso não faltam na literatura corporativa. Mas parece que esse não é o caso da família Ferreira. Aline, a caçula dos três filhos de Vilmar, começou a trabalhar na Aço Cearense na função de assistente financeira. Depois, passou pelas áreas de recursos humanos e também de crédito 136 e cobrança. Na sequência, foi se aprofundar e aprender em detalhes as rotinas da área comercial e, por fim, financeira. Esse processo orgânico de aprendizado prático, que já se estende há quase uma década, aconteceu em paralelo a uma forte formação acadêmica. Tal somatória legitimou a atuação de Aline perante todos. Com seu jeito cativante, ela foi conquistando espaço e ganhou o apoio dos irmãos e dos executivos mais próximos de Vilmar. Por tudo isso, sua indicação para ser a sucessora do pai se deu de maneira muito natural e inquestionável. 137Vilmar Ferreira Nesse ínterim, foi ideia da própria Aline criar a vice- presidência comercial e financeira, a fim de que ela pudesse ficar mais próxima do pai em todos os seus passos e rápidas decisões, absorvendo cada gota de sabedoria, conhecimento e inspiração que transborda de uma pessoa tão emblemática quanto ele. A perpetuidade do negócio depende muito dessa transição, mas esse é um período que vem sendo encarado de forma muito positiva. Vilmar ainda é extremamente ativo e cheio de energia, e Aline aproveita para se fortalecer e se tornar mais segura ao lado dele. Apesar da tranquilidade com que se desenham esses anos de transição, os obstáculos que se postam no futuro de Aline são enormes. Ela sabe que, de forma prática, há o desafio da estrutura de capital. 138 A parte financeira de um negócio tão complexo é igualmente complexa, exigindo capital intensivo, portanto precisa ser cuidado constantemente – uma gestão financeira que requer muita atenção para ser impecável nos mínimos detalhes e, assim, colecionar acertos. Quanto ao contexto comercial, o desafio está em pulverizar a base de clientes no negócio de longos (vergalhões e fios) tal qual já é feito na parte de planos (chapas e bobinas), conquistando clientes menores. 139Vilmar Ferreira Alcançar essa estabilidade é algo importante para que o futuro de Aline na administração do negócio não seja problemático. Para isso, ela pode se valer de uma receita dopai, que pode ser resumida numa sentença: atuar conscientemente no hoje para caminhar de maneira segura no amanhã. Esse “amanhã” precisa ser próspero não só para o negócio em si e para a família Ferreira. Há uma preocupação legítima e constante de que a sociedade seja beneficiada com tais empreendimentos. As quase quatro mil famílias que diretamente fazem parte do negócio, aquelas que indiretamente estão relacionadas 140 a essas operações, as comunidades no entorno e a sociedade brasileira como um todo têm parte nesse futuro. Quando tocam nesse assunto, Vilmar e Aline não estão se referindo apenas à geração de empregos e à arrecadação de tributos; eles têm consciência e convicção de que as empresas têm um papel social que deve ser desempenhado, gerando valor para toda a cadeia. Essa é uma crença arraigada em todos que fazem parte do grupo de tomadores de decisão da Sinobrás e da Aço Cearense – dos membros do conselho de administração aos do board estratégico. Esse pensar no bem de todosfoi um princípio que Vilmar aprendeu com o pai e que fez questão de transmitir aos filhos desde cedo. Agora, é algo que norteia os passos da futura presidenta, Aline Ferreira. 141Vilmar Ferreira Como construir o futuro do negócio ancorado no presente Como construir o futuro de seu negócio ancorado em suas crenças e no seu propósito? Muitas vezes, pode-se achar que existe um conflito entre esses princípios norteadores, que costumam estar alastrados em valores éticos, e as necessidades práticas e econômicas dos negócios e do mercado. Mas, na verdade, ter clareza do legado que se quer construir e manter essa proposição em mente no momento da tomada de decisão é uma salvaguarda importante para a perpetuação de qualquer negócio. Isso acontece porque são tais princípios que nos dão convicção e força, e ter isso faz toda a diferença. 142 Para alcançar isso, é preciso considerar três questões inicialmente. A primeira se refere à necessidade de uma reflexão crítica que permite compreender se o negócio que existe hoje existirá no futuro. Parte dessa análise passa por perceber as mudanças e as acomodações do mercado, bem como por captar os impactos das inovações tecnológicas que se desenvolvem no presente. Não são raros os exemplos de empresas que eram líderes em seus segmentos e que representavam, em suas épocas, aquilo que existia de mais inovador. Entretanto, muitas não sobreviveram às rápidas e constantes mudanças da tecnologia, da economia e do próprio comportamento social. 143Vilmar Ferreira A segunda questão indica que é preciso estabelecer um olhar contínuo para o futuro, de maneira madura, humilde e consciente. Isso quer dizer que se faz necessário ter não só sagacidade e velocidade de decisão sobre o que está por vir, mas principalmente a humildade de olhar para o negócio hoje e perguntar se efetivamente as coisas que estão sendo feitas são as melhores para o amanhã. A história do mundo corporativo é repleta de exemplos de grandes empresas que não tiveram a humildade de compreender que seus processos estavam começando a ficar defasados e que seus produtos ou serviços já não correspondiam mais a desejos e anseios de clientes e consumidores. Sobretudo quando se está na posição de liderança do mercado, é comum considerar que as coisas não precisam mudar. 144 Ledo engano. Aquilo que às vezes é considerado apenas uma onda passageira, um modismo, pode ser uma tendência que está vindo para ficar. O “sempre foi assim” é o iceberg em frente ao seu Titanic. Por fim, tendo por base os dois pontos acima elencados, o terceiro movimento necessário é alinhar a estratégia desenhada para seu negócio com as macrotendências observadas. Para isso, é preciso competência, coragem e rapidez para decidir qual caminho trilhar, num movimento constante e decisivo de adaptação que permita a seu negócio perpetuar. Considerando, então, esses três pontos de partida, é hora de refletir a respeito dos seis pilares que sustentam o futuro de qualquer negócio. 145Vilmar Ferreira Primeiro pilar: ambiente Compreender o ambiente em que seu negócio está inserido – considerando as dimensões econômica, social, política, legal e legislativa, natural e tecnológica – é o ponto de partida para a sobrevivência de qualquer negócio. A leitura correta das mudanças e das evoluções que acontecem nessas esferas permite a um empreendedor ou empresário dar conta do cenário efetivo em que seu negócio está inserido. Esse olhar amplo é enriquecedor e deve pautar suas decisões estratégicas. Para refletir sobre tais questões, pergunte-se, por exemplo: quanto cada uma das mudanças em andamento, em todas essas esferas, impactará meu negócio no futuro?Há alguma nova legislação em tramitação que possa trazer empecilhos futuros à minha forma de comercialização? De que maneira a tecnologia catalisará ou refreará a relação que tenho hoje com meus clientes e consumidores? Quais comportamentos estão sendo incorporados 146 pela sociedade e que podem vir a ser grandes oportunidades para meu negócio? Segundo pilar: recursos Recurso não é só ter grana. Os recursos de que precisa para perpetuar seu negócio não se resumem à capacidade financeira. É claro que ter bala na agulha para fazer o negócio acontecer é importante. Só que isso não é tudo. Há de se considerar – para além de disponibilidade de capital, fluxo de caixa, reservas ou crédito – a capacidade da organização em relação a recursos humanos, parceiros, processos e infraestrutura, bem como a parte da orientação gerencial. 147Vilmar Ferreira Quanto às pessoas: será que sua organização é atrativa o bastante para angariar talentos com as competências técnicas e comportamentais necessárias a seu desenvolvimento? Esses tão raros talentos terão uma infraestrutura adequada para o desenvolvimento do trabalho? Quão saudável está sua relação com seus parceiros? Pode contar com eles num eventual período de crise?Pense sobre essas questões. Considerar quanto é saudável sua base de recursos não é somente necessário, mas imprescindível. Tão indispensável quanto dividir com todos os envolvidos nessas esferas sua visão de futuro, claro. 148 O conceito de orientação gerencial é abordado no livro Marketing global, escrito pelos professores Warren Keegan e Mark Green.20 O livro trata do conceito de “pensar global e agir localmente”, que tem sido considerado uma habilidade que pode determinar o sucesso de um profissional de marketing. Porém, muitas companhias têm descoberto que é igualmente importante “pensar local e agir globalmente”. Isso significa, na prática, que estão descobrindo o valor de impulsionar as inovações que acontecem longe das sedes e trazê-las para dentro de casa. Em Marketing global, os autores trazem exemplos das estratégias utilizadas por companhias mundiais, como Embraer (Brasil), Lukoil (Rússia), 149Vilmar Ferreira Cemex (México), Lenovo (China) e a Grande Tríade da Índia: Wipro, Infosys e Tata. O livro aborda também o impacto progressivo das nações emergentes – Brasil, Rússia, Índia e China – e examina o efeito da crise financeira mundial sobre a estratégia de marketing global.Além disso, estudos de caso bastante atuais inserem o leitor no contexto de cada capítulo, apresentando um panorama real de desafios, controvérsias e inovações que todo estudante e profissional de marketing deve conhecer. Terceiro pilar: perpetuação Quando se pensa na perpetuação de um negócio, são duas as dimensões prioritárias que exigem reflexão. A primeira é a escalabilidade, que significa que o empreendedor ou empresário deve estudar e compreender o potencial máximo de crescimento de seu negócio. 150 Para fazer isso,deve-se voltar o olhar em duas direções simultâneas: de um lado,para dentro da organização, a fim de determinar a capacidade máxima de produção ou entrega de serviço que o negócio tem com a atual estrutura de recursos; de outro, ter vistas ao ambiente externo, para avaliar de que maneira o mercado está preparado e apto a absorver toda a oferta –além, claro, de analisar se há espaço para incrementá-la no futuro. A segunda dimensão é a continuidade. Já parou para pensar por quanto tempo seu empreendimento deve durar? Será que a resposta 151Vilmar Ferreira deve ser “sempre, para sempre”? Determinar o período ou o prazo esperado de existência de seu negócio, aos moldes em que está forjado hoje, pode ser um exercício interessante de gestão. Talvez seu empreendimento seja feito para existir até determinado ponto.Isso não é um problema, desde que seja claro para todos os envolvidos. Quarto pilar: Engajamento A dimensão do engajamento passa por aspectos emocionais e racionais, além de sofrer influência também das questões ligadas à própria operação em si donegócio. É importante compreender logo de início que nenhuma pessoa – funcionário, cliente, 152 fornecedor ou qualquer outro stakeholders – se engaja num produto ou serviço, por melhor que isso possa ser. Ninguém é engajado no iPhone10, que é só um produto, o qual em pouco tempo não existirá mais. As pessoas são engajadas a tudo aquilo que o iPhone representa, ou seja, à proposta de valor da marca Apple. Compreender isso faz toda a diferença. Por isso, de uma vez por todas, assimile a noção de que as pessoas se engajam a um propósito, a um sonho, a uma visão de mundo que aquela determinada marca tem. Essa proposição é 153Vilmar Ferreira capaz de capturar o coração e a mente das pessoas, promovendo maior integração dos públicos como negócio e deles entre si. Assim, cria-se aquela onda positiva do boca a boca, uma disseminação orgânica acerca de seu negócio entre aqueles que estão ao seu lado. Isso permite a propagação de seu propósito,que poderá necessitar de ajustes ao longo do tempo, conforme as mudanças do mundo. Quinto pilar: gestão contínua Gestão não é uma teoria; é uma metodologia, uma prática contínua de planejamento, execução, avaliação e ação. Anotou? Se não, anote. Esse ciclo permanente, que se consolida no bom e 154 velho PDCA (plan /do /check /act), precisa ser a prática em si, ao lado de uma comunicação eficaz, de seu negócio. Afinal, administrar é fazer exatamente isto: planejar, executar, avaliar, corrigir e comunicar. Estabelecer ciclos monitorados para a compreensão da natureza de sua operação e identificação das oportunidades de melhoria é algo vital. Manter essa prática é o que permitirá acompanhar indicadores do negócio. Determinar os indicadores mais eficazes a seu negócio pressupõe que não se pode acompanhar e avaliar tudo o tempo inteiro. É preciso medir e acompanhar aquilo que 155Vilmar Ferreira realmente é relevante, de acordo com o momento e a maturidade de seu empreendimento. Se se acompanhar os indicadores, será muito mais ágil na correção dos possíveis erros do percurso, e boa parte da literatura corporativa é taxativa ao afirmar que agilidade na correção dos erros e na tomada de decisão são fatores preponderantes para a perpetuação de qualquer negócio. Sexto pilar: Aprendizagem contínua Mais do que ter agilidade para corrigir as rotas, é preciso ter a capacidade de aprender com os eventos passados e gerar conhecimento para o futuro. A agilidade destacada no pilar anterior só faz sentido se os erros forem superados,o que só é possível quando há uma cultura que respeite e 156 valorize os erros cometidos, compreendendo-os como momentos de aperfeiçoamento e passos importantes para o aperfeiçoamento e o sucesso. Se em sua empresa os erros são utilizados para promover uma caça às bruxas,é um péssimo caminho. Para que haja aprendizagem contínua, é necessário existir uma boa gestão do conhecimento. Além disso, pode-se valer de uma prototipagem para testar como as coisas poderão acontecer no futuro. Como diz Alessandro Saade:“A construção do futuro do negócio é mais do que uma estratégia;é um mindset, que engaja e inspira a todos, sempre com muita consciência da realidade – um olho na gestão e outro lá na frente.” Feitas para durar, de James C. Collins, Jerry I. Porras21 157Vilmar Ferreira Para realizar uma série de pesquisas e escrever esse livro, os autores conseguiram algo que nunca foi feito antes. Eles contam: “Pegamos um conjunto de empresas realmente excepcionais que sobreviveram ao teste do tempo – a data média de fundação é 1897 – e as estudamos desde os primórdios, passando por todas as fases do desenvolvimento até hoje”. Nesse trabalho,eles foram assessorados por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Stanford. O mais interessante é a comparação estabelecida por eles com outro conjunto de boas empresas que tiveram as mesmas chances, mas não atingiram a mesma estatura. Entre os segredos do sucesso, apontam a definição e a difusão de uma ideologia central, bem como sua motivação pela busca do progresso na estrutura fundamental da organização. 158 Este whitepaper foi redigido por Thatiana Cappellano Formada em Relações Públicas, especializada em Semiótica Psicanalítica (clínica da cultura) e Mestre em Ciências Sociais pela PUC de São Paulo. É sócia fundadora da Consultoria 4CO - Cappellano e Carramenha Comunicação e Cultura Organizacional (empresa bicampeã na categoria Agência Butique do Ano, no Prêmio Excelência em Relações Públicas -Troféu Jatobá), que atua há 10 anos no mercado de comunicação corporativa. Thatiana é professora na Fundação Armando Álvares Penteado-Faap/SP, ministrando as disciplinas cultura organizacional, comunicação com empregados e, ainda, atuando como orientadora dos trabalhos de conclusão de curso de relações públicas. Ministra ainda cursos livres na Fundação Cásper Líbero e é professora convidada da extensão de Corporate Affairs da Fundação Getúlio Vargas- FGV/SP. Co-autora de quatro livros relacionados à sua área de atuação, é palestrante e aplica treinamentos de desenvolvimento para líderes. 159Vilmar Ferreira Referências 1. Pepi Brassani é professora de hatha ioga e meditação e aplica o mindfulness corporativo. 2. Paulo Luciano de Andrade Minto é palestrante, professor, e acumula as funções de sócio-diretor da Andrade Minto Advogados Associados e diretor jurídico das empresas do fundo de investimentos TBDH-Capital, fundado por Flávio Augusto. Bacharel em direito, pós-graduado em direito processual civil, lecionou em faculdades de direito até 2005 e mantém participação ativa na OAB. 3. Marcelo Lombardo é sócio-fundador e diretor da Omiexperience, empresa que desenvolve um sistema de gestão empresarial na nuvem, feito para ser distribuído em parceria com escritórios contábeis, com o intuito de ajudar o pequeno empresário de forma simples, intuitiva e eficiente. Marcelo é uma referência quando o assunto é PME, por sempre 160 estar em contato com empresários que estão começando suas companhias.Além disso, tem experiência em fazer negócio com esse perfil de público. 4. Marcelo Furtado é administrador de empresas com pós-graduação em engenharia financeira pela Poli-USP. Iniciou a carreira na Pepsico e, posteriormente, trabalhou oito anos com gestão de ativos em hedge funds. É cofundador do Convenia, primeiro software na nuvem de gestão de departamento pessoal voltado para pequenas e médias empresas no Brasil. Marcelo também atua como professor de marketing digital na ESPM-SP e mentor na ACE e Google Campus. 161Vilmar Ferreira 5. Maurício Galhardo é sócio-diretor da Praxis Business, engenheiro mecânico, pós-graduado em administração de empresas pela FAAP/ SP, com MBA em business management pela University of California, em San Diego. Especialista em finanças, governança corporativa e fusões e aquisições. Coautor do livro Gestão estratégica do franchising: como construir redes de franquias de sucesso e autor de Finanças pessoais: uma questão de qualidade de vida. 6. Alessandro Saade tem mais de trinta anos de experiência atuando como palestrante, professor, consultor e mentor para grandes empresas e startups brasileiras. Curioso e incansável, é colunista da BandNews FM e fundador da iniciativa Empreendedores Compulsivos, coletivo de fomento que já ajudou a transformar os negócios de mais de 30 mil empreendedores e intraempreendedores no Brasil. 7. Vilmar Ferreira é o fundador do Grupo Aço Cearense. 8. Eckhart Tolle é um escritor e conferencista alemão conhecido por best-sellers sobre iluminação espiritual. Seu livro mais conhecido é O poder do agora, lançado em 2002 e considerado 162 um manual prático que nos ensina a tomar consciência dos pensamentos e das emoçõesque nos impedem de vivenciar plenamente a alegria e a paz que estão dentro de nós mesmos. 9. Elias Thomé Saliba é graduado, doutor e livre-docente em história pela Universidade de São Paulo. Professor titular de teoria da história pela mesma universidade, especializou-se em história da cultura, com ênfase no Brasil do primeiro período republicano. Foi professor da PUC-SP por mais de dez anos, onde também foi coordenador de pós-graduação em história. É professor de teoria da história na USP desde 1990, onde também foi coordenador da pós-graduação em história social e atualmente desenvolve projetos na área de história cultural do humor brasileiro. 10. Fonte: Wikipédia 11. Nome fantasia 12. Esse slide é parte do arquivo .ppt da first class (slide 21). 13. Aline Ferreira é a vice-presidente do Grupo Aço Cearense 163Vilmar Ferreira 14. A Arte da guerra é um tratado militar escrito durante o século IV a.C. pelo estrategista conhecido como Sun Tzu. O tratado é composto por treze capítulos, cada qual abordando um aspecto da estratégia de guerra, de modo a compor um panorama de todos os eventos e estratégias que devem ser abordados num combate racional. Acredita-se que o livro tenha sido usado por diversos estrategistas militares ao longo da história, como Napoleão, Zhuge Liang, Cao Cao, Takeda Shingen, Vo Nguyen Giap e Mao Tse Tung (fonte: Wikipédia). 15. Fonte: <http://www.grupoacocearense.com.br/ empresas-grupo/sinobras>. 16. Esse slide é parte do arquivo .ppt da first class (slide 5). 17. Esse slide é parte do arquivo .ppt da first class (slide 11). 18. DUHIGG, Charles. O poder do hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios. São Paulo:Objetiva, 2012. 164 19. Essa análise do livro O poder do hábito está disponível em: <https://medium.com/@wpolis/ resumo-de-livro-o-poder-do-h%C3%A1bito-por- que-fazemos-o-que-fazemos-na-vida-e-nos- neg%C3%B3cios-9b080a49b94f)>. 20. Warren Keegan é um economista norte- americano. 21. COLLINS, James C.; PORRAS, Jerry I. Feitas para durar. 6. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 165Vilmar Ferreira Vilmar Ferreira 166