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83 A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES Objetivos • Conhecer projetos de Biblioterapia desenvolvidos em diversas áreas de atuação. • Desenvolver atividades que propiciem a compreensão da integração do bibliotecário com os usuários. • Compreender o processo de construção de um projeto de Biblioterapia. Conteúdos • Biblioterapia e a atuação do bibliotecário. • Biblioterapia na prática. • Como construir um projeto de Biblioterapia. • Boas ideias em Biblioterapia: projetos inovadores. Orientações para o estudo da unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir: 1) Não se limite a este conteúdo: busque pelo conhecimento em outras fon- tes e em páginas eletrônicas (sites) oficiais e/ou nas referências bibliográ- ficas apresentadas ao final de cada unidade. 2) O conteúdo desta obra é fundamental para você entender o lugar do bi- bliotecário no processo biblioterapêutico, alguns exemplos de projetos desenvolvidos e como construir seu próprio projeto. UNIDADE 4 84 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES 3) Para a melhor compreensão dos procedimentos, procure sempre assistir às videoaulas disponíveis. 85© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES 1. INTRODUÇÃO Nesta unidade, você terá a oportunidade de refletir sobre o papel do bibliotecário na Biblioterapia e sobre algumas carac- terísticas importantes que o profissional deve possuir e desen- volver. Poderá ver os diversos ambientes possíveis de se traba- lhar com a Biblioterapia, além de um valioso roteiro comentado para elaboração de um projeto de Biblioterapia e dos projetos elaborados a partir da experiência discente. 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su- cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú- do Digital Integrador. 2.1. BIBLIOTERAPIA E A ATUAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO Neste tópico, abordaremos os pontos de conexão que exis- tem entre a Biblioterapia e a Biblioteconomia e a atuação do bi- bliotecário nessa área. Para iniciarmos, é importante pensar no que motiva a atuação do bibliotecário, que deve estar além das demandas técnicas que a área possui. Pinto (2005) discute esse tema e nos alerta que, como em qualquer área profissional, não se trata apenas de um elenco de tarefas que fazem parte de seu desempenho, mas sim "perce- ber que cada profissão está vinculada ao saber, ao ‘saber-fazer’ e também a um ‘fazer-saber’” (PINTO, 2005, p. 32). O entendi- mento da autora sobre os conceitos de fazer e “saber-fazer” são baseados na obra de Bourdieu (1994), acrescentando ainda o 86 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES “fazer-saber”. Para a autora, os bibliotecários possuem uma vi- são "míope" da profissão, o que os impede de reconhecer outros campos dos saberes e os deixa apegados às técnicas de produ- ção, organização, disseminação e recuperação de documentos. É nesse momento que a Biblioterapia se apresenta como um campo possível de atuação do bibliotecário, pois apresen- ta a possibilidade de interlocução com outras áreas do conhe- cimento. No caso da Biblioterapia, é imprescindível o diálogo com a Psicologia, Filosofia, Literatura etc., como vimos anterior- mente nas outras unidades, configurando-se como um trabalho multidisciplinar. Para tanto, é muito importante que o bibliotecário esteja a par das pesquisas e projetos que estão sendo desenvolvidos na área, para que possa desenvolver seu próprio programa de Bi- blioterapia e envolver-se na prática. A partir de então, segue-se o que a autora chamou de “fazer-saber”, ou seja, documentar e di- vulgar sua produção para as comunidades científicas e em geral. Leite (2009, p. 34), citando Cubillos (2008), elenca uma sé- rie de características que o bibliotecário deve possuir para tra- balhar com pessoas, possuindo elas ou não algum tipo de sofri- mento mental: Competências pessoais: comunicação interpessoal com diver- sos tipos de usuários; capacidade de aprendizagem contínua; estabilidade pessoal; interesse real em trabalhar com pessoas; capacidade de trabalhar em equipe; empatia; sensibilidade; pa- ciência e espírito dinâmico. Conhecimentos: da área de especialização; informação atuali- zada sobre as tendências, pautas de conduta, diretrizes e ser- viços; domínio da terminologia e recursos terminológicos pró- prios da área da saúde; recursos de informação especializada; fundamentos teóricos e profissionais para o estabelecimento 87© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES de serviços orientados ao usuário; critérios éticos para dar atenção de qualidade ao paciente. Para atuar em hospitais, é preciso que o bibliotecário bi- blioterapeuta possua algumas qualificações necessárias, tais como um: entendimento profundo do problema pelo qual o paciente está passando, a compreensão do conteúdo abordado na leitura e sua relação com esse problema, e a habilidade em formular hi- póteses acerca dessa situação (LEITE, 2009, p. 34). Ao construir um projeto/programa de Biblioterapia, o bi- bliotecário, além de desenvolver qualidades pessoais, deverá (LEITE, 2009, p. 34): • Escolher um local apropriado. • Formar grupos de leitura. • Organizar os materiais a serem utilizados, tais como li- vros, revistas, jornais, vídeos e músicas que possibilitem a ampliação do público-alvo e o trabalho com diferentes formas de expressão, como o teatro, a música, a oralida- de e a imagem. Podemos notar que a atuação do bibliotecário como bi- blioterapeuta é possível, desde que haja engajamento, formação continuada e trabalho interdisciplinar: A Biblioterapia abre mais uma frente de trabalho aos bibliote- cários, que podem atuar tanto na organização do acervo para um público específico, como na motivação, vivência e adequa- ção desse ambiente psicossocial. Tem-se, portanto, a figura do bibliotecário como consultor e biblioterapeuta (LEITE, 2009, p. 34). 88 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES 2.2. BIBLIOTERAPIA NA PRÁTICA A literatura sobre Biblioterapia traz um razoável número de artigos que documentam práticas desenvolvidas em diversos contextos. Lucas, Caldin e Silva (2006) relataram as contribuições da aplicação da Biblioterapia em crianças em idade pré-escolar matriculadas em período integral no Centro de Educação Nossa Senhora da Boa Viagem. O objetivo era estimular a criatividade e proporcionar o lazer e a diversão. Foram realizados 13 encontros, e os autores relataram terem tido sucesso na pesquisa. Lima e Caldin (2013) desenvolveram atividades biblioterapêuticas com crianças de 6 e 7 anos em uma escola de educação básica. A par- tir das 10 sessões de Biblioterapia, o objetivo de desenvolver a criatividade foi alcançado. Buscando atuar com outro público que não as crianças, Rossi, Rossi e Souza (2007) utilizaram a Biblioterapia com ido- sas de uma sociedade espírita. Nesse projeto, os objetivos eram promover o alívio de tensões, aumentar a autoestima, confrater- nizar com o grupo e diminuir o estresse das idosas internas. As limitações impostas pela idade do público-alvo não foram empe- cilhos para que as atividades fossem desenvolvidas e os objeti- vos, alcançados. Já Seitz (2006) decidiu trabalhar com pacientes internados em clínicas médicas, com a finalidade de verificar o nível de aceitação da leitura como atividade de lazer, além de testar a eficiência da Biblioterapia. Para a autora, "a prática bi- blioterapêutica com pacientes internados em clínicas médicas demonstrou ser útil no processo de hospitalização, tornando esta menos agressiva e dolorosa”. Outra experiência interessante de relatar aconteceu na Eu- ropa, mais especificamente na Universidade de Brunel. Lá o Pro-grama de Biblioterapia foi criado para apoiar os estudantes que 89© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES sofrem sintomas leves a moderados de ansiedade, depressão, ou de problemas emocionais comuns. O projeto, denominado Es- quema Brunel de Biblioterapia, consistia em disponibilizar uma lista de livros de autoajuda, que eram estocados na biblioteca da universidade (esses livros também estavam disponíveis na inter- net ou em livrarias locais). Um conselheiro recomendava um livro a um aluno, que ia para aconselhamento. O conselheiro escrevia o título do livro em um bloco de recomendações. O aluno levava isso para a biblioteca, como acontece com qualquer recomenda- ção acadêmica. Alguns temas dos livros escolhidos eram: abuso sexual; abuso de drogas; adoção; raiva; ansiedade; assertivida- de; falecimento; depressão; distúrbios de alimentação; jogos de azar; vivendo em uma cultura diferente; fobia; procrastinação; relacionamentos; autoestima; identidade sexual; problemas de sono; estresse e habilidades de estudo. Bueno e Caldin (2002) desenvolveram com crianças enfer- mas hospitalizadas um projeto de Biblioterapia, com o objetivo demonstrar a importância da leitura na busca da prevenção e educação, bem como sua função terapêutica. Com base nas ati- vidades desenvolvidas, constatou-se que a Biblioterapia aplicada em crianças enfermas alivia suas tensões, angústias e medos, desenvolve a imaginação, favorece a introspecção, a catarse e ajuda no crescimento emocional e psicológico. Várias sugestões de leituras estão em nosso conteúdo digi- tal, mas, em especial, indicamos a leitura atenta de Ratton (1975) e Souza, Santos e Ramos (2013), que fazem um levantamento de vários projetos desenvolvidos em Biblioterapia. 90 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES Com as leituras propostas no Tópico 2. 1, você vai ter acesso a vários projetos desenvolvidos com a Biblioterapia. Antes de prosseguir para o próximo assunto, realize as leituras indicadas, procurando assimilar o conteúdo estudado. 2.3. COMO CONSTRUIR UM PROJETO DE BIBLIOTERAPIA Assim como em qualquer atividade que se tem a intenção de desenvolver, a Biblioterapia requer a elaboração de um proje- to, para que se possa pleitear sua implantação em uma institui- ção ou grupo. Para pensarmos na construção de um projeto de Biblioterapia, usaremos como referência o trabalho de Cavalcan- te e Pereira (2013). O primeiro passo é a identificação de um problema, para então se pensar em meios para resolvê-lo: Um projeto surge em resposta a um problema concreto. Ela- borar um projeto é, antes de tudo, contribuir para a busca de solução do problema, transformando ideias em ações. O docu- mento chamado projeto é o resultado obtido ao se "projetar" no papel tudo o que é necessário para o desenvolvimento de um conjunto de atividades a serem executadas, a partir de al- guns indicativos, tais como: quais são os objetivos, que meios serão utilizados para atingi-los, quais os recursos necessários, onde serão obtidos e como serão avaliados os resultados (CA- VALCANTE; PEREIRA, 2013, p. 33). Caro aluno, é importante lembrar que na vida profissional de vocês será possível desenvolver um projeto de Biblioterapia, e sua aprovação será baseada na qualidade dos argumentos que serão desenvolvidos no projeto, isto é, dependerá de quão capa- zes vocês serão de convencer os gestores das instituições de que 91© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES ela é uma atividade que realmente trará benefícios para seus usuários. Nesse sentido, é importante identificar a demanda do grupo escolhido, para então começar a desenhar o projeto. A seguir, abordaremos os itens indispensáveis para a cons- trução de um projeto, lembrando sempre que deverão ser feitas adaptações de acordo com o ambiente em que será implantado. Vídeo aula –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Neste momento, é fundamental que você assista a vídeo aula - Bloco 2. • Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula, localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso (Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo. Por fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de vídeos. • Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão “Vídeos” e selecione: Introdução à Biblioterapia – Vídeos Aulas – Bloco 2. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Como regra geral, um projeto de Biblioterapia deverá ter: 1) Título do projeto. 2) Local a ser desenvolvido (instituição pública, privada etc.) 3) Público-alvo. 4) Objetivo geral e objetivos específicos (definição dos te- mos temas adotados). 5) Justificativa. 6) Procedimento. 7) Duração do projeto. 8) Infraestrutura. 9) Acervo (tópico discutido no vídeo complementar 3). 10) Recursos humanos (equipe envolvida). 11) Custos. 92 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES 12) Cronograma. 13) Avaliação do projeto. 14) Divulgação. A atividade biblioterapêutica é essencialmente pensa- da para o desenvolvimento da pessoa humana; sendo assim, a participação na atividade deve ser voluntária. Essa é uma das variáveis com que o biblioterapeuta terá que lidar, já que al- guns participantes podem desistir no meio do caminho. De todo modo, isso não quer dizer que a atividade não esteja dando cer- to. Trabalhar com material subjetivo (emoções e sentimentos) é sempre incerto e, por mais que o projeto tenha sido desenhado pensando em todas as variáveis, acontecem mudanças que são inerentes ao seu conteúdo. Portanto, não devemos nos sentir in- competentes ou fracassados e sim repensar nossas estratégias para que possamos sempre melhorar o que estamos propondo. 2.4. BOAS IDEIAS EM BIBLIOTERAPIA: PROJETOS INOVADORES Neste tópico, iremos apresentar dois projetos desenvolvi- dos por alunos de graduação em Biblioteconomia em uma dis- ciplina de Biblioterapia. Os dois exemplos foram pensados em ambientes bastante distintos, mas demonstram a flexibilidade e a abrangência das possibilidades de atuação em Biblioterapia. Os alunos foram instigados a pensar na concepção de um projeto baseado em suas preferências, ou porque já atuam no ambien- te, por motivos pessoais ou por acreditarem que a Biblioterapia poderia auxiliar em determinado grupo. Fiquem atentos à forma como os projetos foram pensados, pois eles poderão facilitar a criação de um projeto próprio. 93© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES Cada etapa foi concebida pensando no público-alvo e no problema identificado. Todas as fases do projeto estarão basea- das nesses dois fatores. Conceber um bom projeto é o primeiro passo para seu sucesso! Que sirva de inspiração! Vamos começar com um projeto dedicado a crianças em idade escolar (SOBREIRA; NONATO, 2017). Projeto 1 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– AUTORES: SOBREIRA, Fernanda Resende; NONATO, Ruth Almeida 1) Título do projeto: aplicação de Biblioterapia em crianças com problemas de socialização: estudo de caso na Escola Estadual D. A. S. 2) Local a ser desenvolvido (instituição pública, privada etc.): Escola Estadual D. A. S. 3) Público-alvo: O público-alvo do projeto são crianças de 8 a 10 anos que estejam matriculadas na Escola Estadual D. A. S. e tenham problemas de socialização com os outros alunos ou com os professores e funcionários da escola, mais especificamente problemas relacionados à timidez. 4) Objetivo geral e objetivos específicos (definição dos temas adotados): O objetivo geral do projeto é: melhorar as habilidades de socialização das crianças participantes. Para atingi-lo, traçaram-se alguns objetivos específicos, que são: • Promover a interação e a socialização entre as crianças durante as sessões de Biblioterapia. • Permitirque as crianças se expressem. • Trabalhar a autoestima. 5) Justificativa: As escolas estaduais de Minas Gerais: Atualmente, não existem profissionais bibliotecários e psicólogos atuando na rede de escolas estaduais de Minas Gerais. Segundo Tannure (2015, p. 22), “entre todas as bibliotecas escolares estaduais visitadas, nenhuma conta com a presença do profissional bibliotecário. Os espaços, em geral, são administrados por leigos em Biblioteconomia, que são, na maior parte das vezes, professores denominados ‘para uso de biblioteca’”. 94 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES Existe um projeto de lei (PL 5591/2014) para incluir bibliotecários na rede pública estadual de Minas Gerais, mas este foi arquivado em 2015 pelo governador do estado. Em relação aos psicólogos, foi apresentado um projeto de lei (PL 3.688/2000) para que passem a existir psicólogos e assistentes sociais na rede pública de educação básica; o PL está em tramitação até a data atual (junho de 2017). Ambos os profi ssionais acrescentariam de forma positiva na educação das crianças. O bibliotecário, segundo Kuhlthau (1996 apud CAMPELLO, 2009, p. 189) pode ter um papel educativo em vários níveis, desde a ação organizadora, passando pela função de palestrante, instrutor e orientador. A ação educativa do bibliotecário, em todos os níveis, ajuda o aluno não só a ter um melhor desempenho nas atividades didáticas comuns, como também a desenvolver a cidadania. A escola escolhida para a realização do projeto, assim como acontece em toda a rede estadual, não possui profi ssionais de psicologia ou biblioteconomia atuando. A escola escolhida para o projeto: A Escola Estadual D. A. S. fi ca localizada no bairro Trevo, na cidade de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Segundo o Sistema de Monitoramento Escolar (2016), a escola possuía 1253 alunos (manhã, tarde e noite) do Ensino Fundamental (anos iniciais e anos fi nais), Ensino Médio e EJA – Educação de Jovens e Adultos. A escola atende um abrigo próximo, o Abrigo Lar Cristão, que atualmente possui 15 crianças morando na casa, e que estão lá por inúmeros motivos. O bairro em que a escola está localizada possui IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – de 0,879, que, comparado ao de Belo Horizonte, é um índice alto. Entre as 623 UDH de Belo Horizonte, a UDH do Bairro Trevo está na 52ª posição. Figura 1 – IDHM de Belo Horizonte Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2017. Figura 2 – IDHM Garças / Trevo 95© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2017. Os problemas de socialização: Em relação ao tema que iremos tratar, problemas de socialização relacionados à timidez, a teoria psicossocial do desenvolvimento de Erik Erikson fala especifi camente sobre os problemas relacionados à faixa etária que será trabalhada. A criança, ao entrar na escola, enfrenta alguns problemas por sair do seu ambiente familiar e enfrentar um novo ambiente. Segundo Melo (2009), Nesse período, a criança está sendo alfabetizada e frequentando a escola, o que propicia o convívio com pessoas que não são seus familiares, o que exigirá maior sociabilização, trabalho em conjunto, cooperatividade e outras habilidades necessárias. Caso tenha dificuldades, o próprio grupo irá criticá-la, passando a viver a inferioridade em vez da construtividade. Com isso, a criança pode desenvolver problemas de socialização, que devem ser resolvidos o quanto antes para não acarretarem maiores complicações no futuro. Quanto à timidez, Casares e Caballo (2000) a identifi cam “como um comportamento social retraído e passivo, que está possivelmente associado a [...] insegurança [...], ansiedade, medo, baixa autoestima, julgamento negativo de si mesmo, entre outros comportamentos.” Segundo Felix (2013), o processo de intervenção que pode ser utilizado envolve treinamento de fatores como diálogo, reafi rmação de valores, fortalecimento da personalidade, entre outros. Tendo em vista tudo o que foi apresentado, a Biblioterapia, como um “processo dinâmico de interação entre a personalidade do leitor e a literatura imaginativa, que pode atrair as emoções do leitor e liberá-las para o uso consciente e produtivo” (CALDIN, 2012, p. 4) conseguiria ajudar de forma signifi cativa o processo de sociabilização desses estudantes, por meio de sessões que envolveriam a possibilidade de os alunos se expressarem e dialogarem entre si. Idealmente, a prática da Biblioterapia deveria ser complementar ao trabalho dos profi ssionais bibliotecários e psicólogos na escola, porém, na falta destes, de forma paliativa, a Biblioterapia ajudaria a suprir, de certa forma, essa ausência. 6) Procedimento: 96 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES Para a aplicação do projeto, serão realizadas cinco reuniões, feitas de 15 em 15 dias, no dia em que a biblioteca não recebe nenhuma turma, para que, dessa forma, as atividades normais da biblioteca não sejam prejudicadas. A duração das sessões de Biblioterapia será de 50 minutos, que é o tempo de duração de uma aula, para que, assim, não haja conflito com as atividades didáticas da escola. Tendo em vista que as crianças dessa idade nem sempre se concentram com facilidade nas atividades, as reuniões serão iniciadas com uma música ou dinâmica para atrair a atenção dos alunos. As reuniões serão realizadas na biblioteca da Escola Estadual D. A. S. e conduzidas por duas bibliotecárias, com a participação da professora de uso e ensino da biblioteca, além da supervisora, da professora de intervenção e de um estudante de Psicologia. 7) Duração do projeto: o projeto terá duração de quatro meses, três meses de aplicação das sessões de Biblioterapia, 15 dias de preparação, que incluem reuniões com a equipe pedagógica e com os alunos participantes, e 15 dias para avaliação do projeto. 8) Infraestrutura: as sessões serão realizadas utilizando a infraestrutura já existente na escola. O espaço utilizado será a biblioteca da Escola Estadual D. A. S., com as crianças sentadas em roda, no chão, para deixar as sessões com um ar mais descontraído. Além disso, serão utilizados livros para a realização das sessões (listados abaixo). 9) Acervo: o acervo utilizado no projeto será composto pelos cinco livros listados a seguir (cujas ilustrações das capas estão na Figura 3), que tratam de temas como medo, diferenças, introspecção e timidez. • BUARQUE, Chico; ZIRALDO. Chapeuzinho amarelo. 22. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008. 29 p. • MACHADO, Ana Maria; ABREU, Alê. O menino que espiava pra dentro. 2. ed. São Paulo: Global, 2008. 30 p. • FURNARI, Eva. Felpo Filva. São Paulo: Moderna, 2013. 56 p. (Coleção Girassol.). • DOYLE, Malachy. Isac, o pato que não fazia quac. São Paulo: Zastras, 2009. 28 p. • WHITCOMB, Mary E.; KING, Tara Calahan; COSAC, Charles. Lilás: uma menina diferente. 2. ed. São Paulo: Cosac & Naify, 2011. 24 p. Figura 3 – Capas dos livros que serão utilizados nas sessões de Biblioterapia Fonte: Autoras, 2017. 10) Recursos Humanos (equipe envolvida): 97© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES Para a aplicação do projeto, serão necessários os seguintes profissionais: • Duas bibliotecárias. • Um(a) professor(a) de uso e ensino da biblioteca. • Um(a) professor(a) de intervenção. • Um(a) pedagogo(a) (supervisora da escola). • Um(a) estudante de Psicologia. Quanto ao estudante de Psicologia, pretende-se firmar acordo com o curso de Psicologia da universidade para que o projeto seja realizado de forma conjunta e, assim, um estudante que já esteja cursando seus últimos períodos possa colocar em prática seus conhecimentos, com o auxílio de um professor orientador. 11) Custos: o projeto não terá custos, pois os envolvidos são voluntários e os livros que serãoutilizados serão emprestados pela biblioteca da própria escola. Como a própria escola fornece alimentação para as crianças matriculadas, não faz parte dos propósitos do projeto fornecer coffee break para estas nem atuar de forma recreativa. 12) Cronograma O cronograma do projeto se dará conforme o quadro 1. Quadro 1 – Cronograma do projeto. Sem ana 1 Sem ana 2 Sem ana 3 Sem ana 4 Sem ana 5 Sem ana 6 Sem ana 7 Sem ana 8 Sem ana 9 Sem ana 10 Sem ana 11 Sem ana 12 Sem ana 13 Sem ana 14 Sem ana 15 Sem ana 16 Reunião com a equipe pedagógica Apresentação do projeto para os alunos Envio do TCLE para os responsáveis pelos alunos Recebimento do TCLE assinado pelos responsáveis Primeira sessão de Biblioterapia (Chapeuzinho Amarelo) Segunda sessão de Biblioterapia (Felpo Filva) 98 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES Sem ana 1 Sem ana 2 Sem ana 3 Sem ana 4 Sem ana 5 Sem ana 6 Sem ana 7 Sem ana 8 Sem ana 9 Sem ana 10 Sem ana 11 Sem ana 12 Sem ana 13 Sem ana 14 Sem ana 15 Sem ana 16 Terceira sessão de Biblioterapia (O menino que espiava pra dentro) Quarta sessão de Biblioterapia (Isac, o pato que não fazia quac) Quinta sessão de biblioterapia (Lilás) Aplicação de entrevista em grupo Aplicação dos questionários Fonte: elaborado pelas autoras, 2017. 13) Avaliação do projeto: a avaliação do projeto será realizada durante os últimos 15 dias previstos no cronograma e, para isso, serão elaborados dois questionários, um para a equipe pedagógica da escola (APÊNDICE A) e outro para os responsáveis pelos alunos participantes do projeto (APÊNDICE B). Também será elaborado um roteiro semiestruturado para uma entrevista em grupo com os alunos (APÊNDICE C). Durante a entrevista, as falas serão gravadas para posterior análise e também observação do comportamento das crianças ao longo da entrevista. 14) Divulgação: o público-alvo do projeto é restrito e, portanto, para a divulgação, torna-se necessário, no primeiro momento, uma reunião com a equipe pedagógica para que os estudantes que possuem problemas de socialização possam ser apontados. Assim que as crianças aptas a participar sejam identificadas, haverá uma segunda reunião, desta vez já com as crianças escolhidas, para que seja explicado o projeto, deixando-se claro que a participação deve ser voluntária. Em seguida, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE D) será enviado aos pais, novamente apontando que a participação é voluntária. REFERÊNCIAS Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil. Desenvolvido por PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Fundação João 99© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES Pinheiro e IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. 2013. Apresenta o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e outros 200 indicadores de demografia, educação, renda, trabalho, habitação e vulnerabilidade para os municípios brasileiros. BRASIL. Congresso Nacional. Projeto de Lei n. 3688, de 2000. Dispõe sobre a introdução de assistente social no quadro de profissionais de educação em cada escola. 2000. CALDIN, Clarice Fortkamp. A leitura como função terapêutica: Biblioterapia. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, n. 12, dez. 2001. CAMPELLO, Bernadete Santos. Perspectivas de letramento informacional no Brasil: práticas educativas de bibliotecários em escolas de ensino básico. Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., Florianópolis, v. 15, n. 29, p. 184-208, 2010. FELIX, Tatiane da Silva Pires. Timidez na escola: um estudo histórico-cultural. 2013. 158 f. – UNESP, Presidente Prudente, 2013. KUHLTHAU, C. C. Seeking meaning: a process approach to library and information services. Norwood, NJ.: Ablex, 1996. 199 p. apud CAMPELLO, Bernadete Santos. Perspectivas de letramento informacional no Brasil: práticas educativas de bibliotecários em escolas de ensino básico. Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., Florianópolis, v. 15, n. 29, p. 184-208, 2010. MELO, Maria Aparecida da Silva. Teoria Psicossocial do Desenvolvimento em Erik Erikson. Psicologado, [S.l.], jun. 2009. MINAS GERAIS. Assembleia Legislativa. Projeto de Lei 5591, de 2014. Altera a Lei 15293, de 5 de agosto de 2004, que institui as carreiras dos profissionais de educação básica do Estado, e a Lei 15301, de 10 de agosto de 2004, que institui as carreiras do grupo de atividades de defesa social do poder executivo, e dá outras providências. 2014. Sistema de Monitoramento Escolar. Desenvolvido pela Secretaria de Educação de Minas Gerais. Apresenta, de forma consolidada, dados provenientes de sistemas de gestão e avaliação – como o Sistema Mineiro de Administração Escolar (SIMADE) e o Sistema Mineiro de Avaliação e Equidade da Educação Pública (SIMAVE) – reunindo informações administrativas e medidas educacionais, o que permite a análise comparativa de um amplo conjunto de indicadores ao longo do tempo. 2013. TANNURE, Lúcio. Bibliotecas escolares estaduais em minas gerais: um breve diagnóstico. CRB-6 Informa, v. 10, n. 2, 2015. 100 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO PARA A EQUIPE PEDAGÓGICA Questionário de avaliação do projeto Prezada equipe pedagógica, pedimos que nos ajudem a avaliar o projeto “Aplicação de Biblioterapia em crianças com problemas de socialização: es- tudo de caso na Escola Estadual Deputado Álvaro Salles” respondendo ao questionário a seguir. Obrigada! 1-Qual a sua opinião a respeito do projeto? 2-Você acha que os temas abordados foram relevantes? Por quê? 3-Houve alguma mudança de comportamento notável nos estudantes que participaram do projeto? Se sim, qual(is)? 4-Qual sua opinião sobre a continuidade do projeto? 5-Sugeriria outros temas a serem trabalhados? APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PARA OS PAIS OU RESPONSÁVEIS Questionário de avaliação do projeto Prezados pais ou responsáveis, pedimos que nos ajudem a avaliar o projeto “Aplicação de Biblioterapia em crianças com problemas de socialização: es- tudo de caso na Escola Estadual Deputado Álvaro Salles” respondendo ao questionário a seguir. Obrigada! 1-Qual a sua opinião a respeito do projeto? 2-Você acha que os temas abordados foram relevantes? Por quê? 3-Houve alguma mudança notável no comportamento de seu(sua) filho(a)? Se sim, qual(is)? 4-Qual sua opinião sobre a continuidade do projeto? 5-Sugeriria outros temas a serem trabalhados? 101© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES APÊNDICE C – ROTEIRO SEMIESTRUTURADO PARA ENTREVISTA Roteiro semiestruturado para entrevista com os alunos 1-O que vocês acharam dos nossos encontros? 2-Há algum outro assunto sobre o qual vocês gostariam de ler e conversar? 3-Vocês gostariam de continuar com os encontros? PÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO RESPONSÁVEL Prezado(a) Senhor(a), Nós, bibliotecárias, Fernanda Resende Sobreira e Ruth Almeida Nonato, estamos realizando um projeto em parceria com o curso de Psicologia da universidade, cujo objetivo é utilizar a prática da Biblioterapia para melhorar as habilidades de socialização de alunos com idade de oito a dez anos, da Escola Estadual D. A. S. Esse projeto não possui fins comerciais. Diante disso, temos a satisfação de convidar seu(sua) filho(a) para participar desse projeto, como voluntário(a), participando de cinco sessões de Bibliote- rapia, com duração aproximada de 50 (cinquenta) minutos, e respondendo a uma entrevista em grupo para avaliação do projeto. A entrevista será grava- da e posteriormente transcrita. Essa entrevista será feita durante um período combinado com a coordenação da escola e terá duração aproximada de 50 (cinquenta) minutos. A identidade e a participação de seu(sua)filho(a) nesta pesquisa serão mantidas em sigilo. Os arquivos contendo as gravações e transcrições da entrevista, bem como as anotações feitas durante a observação não serão acessados por outras pessoas, além das bibliotecárias, do estudante de Psi- cologia e da equipe pedagógica da escola. Garantimos a confidencialida- de desses registros, Acomprometendo-nos a manter os arquivos sob nossa guarda para eventuais trabalhos futuros. 102 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES O(A) senhor(a) ou seu(sua) filho(a) não terão nenhum gasto com a participa- ção no projeto e também não receberão pagamento ou indenizações por ela. Um risco que pode advir desse projeto consiste em possíveis desconfortos causados por emoções sentidas pelo seu(sua) filho(a) durante as sessões. Caso isso aconteça, o estudante de Psicologia conversará separadamen- te com seu(sua) filho(a) até que ele se recupere e decida se deseja con- tinuar ou não. O seu(sua) filho(a) tem o direito de não querer participar ou de sair do projeto a qualquer momento, sem nenhuma penalidade. Caso o seu(sua) filho(a) decida retirar-se do estudo ou necessite de quaisquer outros esclarecimentos sobre ele, favor nos contatar, pessoalmente ou por meio do telefone ou do e-mail informado no final deste Termo. O benefício da participação de seu(sua) filho(a) será a possível melhora de sua capacidade de sociabilização. Certas de que as informações acima apresentadas lhe forneceram os escla- recimentos necessários em relação a esse projeto, e caso haja concordância de sua parte para que seu(sua) filho(a) participe, solicitamos que manifeste sua concordância assinando o seguinte Termo de Consentimento Livre Es- clarecido em duas vias de igual teor (uma cópia ficará em seu poder): Eu, _____________________________________________________ _______, portador(a) do RG.: _______________________ e do CPF: ___________________________, responsável pelo menor __________ _________________________________________, portador(a) do RG: _________________________ e do CPF: __________________________, declaro que li as informações contidas neste documento antes de assinar este termo de consentimento. Compreendo que a participação neste projeto é inteiramente voluntária e que tenho total liberdade para recusar ou retirar meu consentimento, sem sofrer nenhuma penalidade. Assinatura do(a) responsável Assinatura da Bibliotecária Assinatura da Bibliotecária Local e data Escola Estadual D. A. S. Endereço / Telefone –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 103© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES Após conferirmos um modelo dedicado a um projeto esco- lar, passemos a outro direcionado a um público-alvo completa- mente distinto: adultos integrantes de um grupo de "Alcoólicos Anônimos" (NONAKA; CARVALHO, 2017). Projeto 2 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– AUTORES: NONAKA, Débora; CARVALHO, Matheus Aguiar de Carvalho 1) Título do projeto: Um copo de leitura, por favor! 2) Local a ser desenvolvido e público-alvo: grupo de Alcoólicos Anônimos. O “Alcoólicos Anônimos” (AA) é uma comunidade informal de mais de 2.000.000 membros em mais de 180 países (AA PORTUGAL, 2012) que busca, por meio de grupos de encontro e metodologia específica, o apoio e recuperação do alcoolismo em reuniões públicas e fechadas, configurando-se como um trabalho voluntário sem fins lucrativos e autossuficiente. No Brasil, unidades básicas em AA estão presentes em todos os Estados e elaboram, junto com seus membros, troca de experiências, acolhimento e informação sobre a dependência alcoólica. Para ser um membro e participar das reuniões, é necessário somente partilhar do desejo de parar de beber e combater a doença do alcoolismo. Em Belo Horizonte, o grupo de Alcoólicos Anônimos foi fundado em 27 de outubro de 1973 e conta com reuniões semanais de segunda a sábado. Como toda unidade básica de AA, a metodologia usada tem como base “as doze tradições” e “os doze passos”, teorias que ajudam os membros a seguirem passos práticos na procura da sobriedade e de um novo modo de vida longe do álcool. As reuniões fechadas feitas pelo grupo são de extrema importância, pois é nesse momento que os participantes compartilham experiências em comum e expõem dificuldades e anseios mais íntimos. É nesse momento e com esse grupo homogêneo que o projeto de Biblioterapia será aplicado, uma vez que as reuniões abertas ao público acontecem de maneira esporádica e com finalidades diferentes das do grupo fechado – divulgar a iniciativa e atrair novos membros. Assim, procuramos como público-alvo os membros já estabelecidos e que estejam receptivos ao projeto desenvolvido. O grupo a ser trabalhado é composto por homens e mulheres de qualquer idade que estejam combatendo a doença e que identifiquem sentimentos relacionados à depressão e à ansiedade como motivadores para o consumo de álcool, sentimentos com que as sessões biblioterapêuticas, ao seu modo, 104 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES objetivam trabalha. Não se faz distinção em relação à idade e ao nível socioeconômico; não há uma relação descritiva dos participantes, uma vez que o anonimato é buscado e é também um dos principais componentes que constitui o ambiente como seguro para a livre expressão dos participantes. Dessa forma, busca-se manter esse caráter de diversidade social e etária do grupo, voltando-se o trabalho aos sentimentos em comum que são motivadores do alcoolismo. 3) Justificativa: O alcoolismo é considerado um dos mais sérios problemas de saúde pública da atualidade, despertando a atenção de autoridades médicas e sanitárias de diversos países (CAMPOS, 2005). A doença pode ser compreendida a partir de três instâncias: de caráter físico, devido aos males da substância no corpo; mental, já que o “bebedor revela uma incapacidade em controlar seus pensamentos que, no limite, podem conduzir à própria loucura” (CAMPOS, 2005, p. 19); e também social, pois vemos, em muitos dos casos do referido estudo, depoimentos em que há um afastamento, voluntário ou não, do doente em relação à família, passando este a ser visto como um “problema”. A respeito dessa última questão, verifica-se que não há socialmente a compreensão da separação entre sujeito e doença, no sentido de que o combate à doença é visto como um combate ao próprio doente, concepção que inclusive pode dificultar o processo de recuperação. Com essas considerações em mente e reafirmando a importância da existência de instituições como AA para o apoio e a assistência de dependentes alcoólicos, projetos de Biblioterapia seriam efetivos como uma prática complementar ao processo de superação do problema desse grupo, que é, de certa forma, homogêneo desde sua gênese, já que se forma em função de um problema em comum. As palestras, os depoimentos e os encontros semanais favorecem o ambiente propício para troca, gerando benefícios individuais e coletivos inegáveis, e a leitura terapêutica direcionada poderia favorecer ainda mais toda a evolução de compreensão do problema enfrentado. O acolhimento de pessoas em situação delicada como a do alcoolismo requer motivação para o controle e a abstinência, sendo a prática da Biblioterapia uma aliada no alcance desse objetivo. Entende-se esta como um instrumento útil ao processo de desintoxicação e controle, visto que os principais motivadores do consumo de álcool estão associados com a angústia e a depressão sentidas pelos dependentes, como trazem Pillon e Luis (2004, citados por JORGE et al., 2007, p. 3). Nas últimas décadas, tem-se observado o consumo crescente de bebidas alcoólicas. Desde a década de oitenta, os especialistas 105© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES têm apontado vários fatores que estariam influenciando o usode álcool e drogas e destacam os socioeconômicos e políticos, como desemprego, insegurança do indivíduo em relação ao futuro, carência de alternativas de lazer e trabalho para jovens, repressão política, atividade educativa opressiva, ambos restringindo a postura crítica e a ação criativa. Tudo isso surge como fatores geradores de angústia e depressão, conduzindo à necessidade de evasão psicológica e à busca de satisfação propiciada por substâncias como álcool e outras drogas psicoativas. Nesse sentido, as sessões biblioterapêuticas funcionariam como forma de suprir essa necessidade de “evasão psicológica” e “busca de satisfação” que motivam os sujeitos ao consumo alcoólico e inclusive poderiam diminuir o número de pessoas que têm recaídas no decorrer do programa e retornam ao consumo de álcool. Entende-se a capacidade da Biblioterapia a partir de seus objetivos, que são elencados por Bryan (1939, citado por GUEDES, 2013, p. 36-37): 1) mostrar ao leitor que ele não é o primeiro a sentir o problema; 2) evidenciar que existe mais de uma solução para o problema do leitor; 3) ajudar o leitor a ver os valores envolvidos na sua experiência; 4) oferecer fatos necessários para a solução de seu problema e 5) encorajar o leitor a encarar o seu problema. Dessa forma, a prática contribui com o autodesenvolvimento dos sujeitos, já que proporciona momentos de autodescoberta de suas questões emocionais, que, por sua vez, promove a melhor compreensão de seu problema com o álcool, que se relaciona tanto aos males causados em si quanto em seu círculo social e, por consequência, contribui na ressocialização dos sujeitos quando essas questões são despertadas, desenvolvidas e superadas. Destacamos ainda que nosso objetivo com a Biblioterapia não é realizar as sessões por questões políticas, ideológicas e religiosas, mas sim auxiliar os sujeitos nesse momento de autodesenvolvimento. Ressalte-se que não há um combate a essas questões, mas que se objetiva certa neutralidade ao compor o espaço e o programa, a fim de construí-los de modo mais democrático possível, para que tais questões não sejam colocadas como diferenciadoras ou inibidoras entre os participantes. 106 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES 4) Objetivo geral e objetivos específicos: Como objetivo geral, promover a catarse com fins de alívio de sentimentos de depressão e angústia que motivam o alcoolismo. Como objetivos específicos, • promover a autoconfiança dos sujeitos a partir do enfrentamento dos sentimentos negativos relacionados ao problema que podem ser despertados nas sessões; • constituir um ambiente de livre expressão das dificuldades enfrentadas pelos sujeitos durante o programa, em conjunto com o trabalho já realizado pelas AAs; • contribuir no autoconhecimento dos sujeitos participantes; • diminuir o número de dependentes que recaem no uso de álcool. 5) Procedimentos do projeto: • O público: para conhecer melhor o público e identificar suas questões relacionadas ao alcoolismo, inicialmente frequentaríamos as reuniões fechadas para compreender melhor as realidades do local pretendido e, posteriormente, para selecionar os materiais que pudessem ser trabalhados com o público. • Recursos humanos: o trabalho ocorreria em conjunto com uma equipe de dois ou três bibliotecários, um estudante de Psicologia e um professor do curso de graduação da área. Compreendendo as limitações da formação bibliotecária no que tange à compreensão mais profunda das questões psicológicas é que se pensa nesse trabalho em conjunto com a área da Psicologia, trabalho este a ser realizado em parceria com o Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da universidade, composto por alunos da graduação a partir do 8º período de Psicologia, assim como por professores do curso. Atualmente, o serviço já é oferecido na universidade tanto para os alunos quanto para o público externo. Em razão desse contato com o público externo é que se pensa então na parceria, uma vez que o serviço já desempenha outras ações que vão além da faculdade, como o atendimento aos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas e o projeto de extensão CAVAS, que faz atendimento a crianças e adolescentes que sofreram abuso sexual. 6) Infraestrutura e duração: Propõe-se a utilização do próprio espaço onde ocorrem as reuniões do AA, com frequência a ser determinada após o período de reconhecimento do público a ser atendido, com as sessões sendo realizadas 30 minutos antes da reunião ou nos 30 minutos após o término da reunião. 107© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES 7) Custos: No que diz respeito aos custos do projeto, pretende-se a realização das sessões a partir de um projeto de extensão pela faculdade, em conjunto com o SPA (Serviço de Psicologia Aplicada), sendo a responsabilidade pelos custos da atividade conferida à universidade. 8) Material de leitura Após o conhecimento do público, pretende-se selecionar o material mensalmente e, nesse mesmo período, avaliar as oportunidades e problemáticas levantadas durante as sessões, corrigindo esses pontos na seleção do acervo do mês seguinte (ver ANEXO I – MATERIAIS SELECIONADOS PARA O PRIMEIRO MÊS, p. 9). 9) Divulgação: A divulgação da atividade aconteceria entre os participantes das reuniões, a fim de oferecer essa forma de auxílio no combate à doença, além de possíveis publicações de caráter científico, prezando sempre, nestas, o anonimato dos integrantes e do local da AA, passando pela validação da equipe que guiará as sessões (bibliotecários e psicólogos). 10) Avaliação: A avaliação foi dividida em três partes: do acervo; do retorno dos sujeitos que compõem o círculo social dos participantes e da forma que as sessões são conduzidas. • Do acervo Seleção e avaliação mensal, para que eventuais falhas e oportunidades sejam trabalhadas no material selecionado no mês seguinte. Avaliação a partir da observação e análise no decorrer das sessões em relação às reações dos participantes. • Do círculo social Bimestralmente, aos participantes que voluntariamente identificarem familiares ou amigos que convivem com eles. Agendar reuniões com esse círculo social a fim de verificar como tem ocorrido o processo de ressocialização, verificando se houve melhora dos pacientes e os efeitos sentidos por esse círculo em relação ao convívio com o doente. • Das sessões Verificar a ocorrência de recaídas relatadas nas reuniões e se houve diminuição do número de recorrentes; observar se o autodesenvolvimento tem ocorrido junto aos participantes por meio de observação e da conversa realizada nas sessões. Sobre as sessões, realizar uma avaliação constante após cada uma 108 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES delas, em reunião da equipe composta pelos bibliotecários e pelo pessoal da Psicologia. A partir dessas três etapas de avaliação, será possível desenvolver e aperfeiçoar as sessões de Biblioterapia. 11) Programação: • Inicialmente Frequentar durante 15 a 30 dias o AA selecionado, a fim de identificar certas características e problemáticas apresentadas pelo grupo em reunião fechada, determinando o melhor horário para a realização das sessões de Biblioterapia (30 minutos antes ou 30 minutos após as sessões). • Duração das sessões O material selecionado para leitura será lido entre 10 a 15 minutos (pensa-se em materiais de rápida leitura), partindo-se para uma discussão voluntária nos 15 a 20 minutos posteriores. • Duração do projeto Com base nas avaliações realizadas, verificar semestralmente a efetividade do projeto por meio de conversa, em um primeiro momento, entre os membros e, depois, entre os profissionais bibliotecários e psicólogos e os gestores imediatos do AA. No caso de as sessões biblioterapêuticas serem entendidas como um componente importante no combate ao alcoolismo, pretende-semanter o projeto e, a cada seis meses, realizar essa avaliação geral, discutindo- se sobre sua continuidade ou seu encerramento. 12) Cronograma MESES Atividades Jul Ago Set Out Nov Dez Mar Abr Identificação da instituição/ público x Definição da periodicidade x x Seleção de material x x x x x x x x Avaliação em três etapas: acervo, do círculo social, das sessões x x x x x x x Avaliação semestral do projeto x Sessões x x x x x x X Divulgação x x x x x x x 109© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES REFERÊNCIAS AA PORTUGAL. Sobre AA. O que são os Alcoólicos Anónimos? Disponível em: <http://www.aaportugal.org/page/sobreaa>. Acesso em: 29 mai. 2017. BRYAN, Alice I. Can there be a science of bibliotherapy? Library Journal, v. 64, p. 773-776, out. 1939. CAMPOS, Edemilson Antunes de. Contágio, doença e evitação em uma associação de ex-bebedores: o caso dos Alcoólicos Anônimos. Revista Antropológica, São Paulo, v. 48, n. 1, p. 315-361, jun. 2005. GUEDES, Mariana Giubertti. A biblioterapia na realidade bibliotecária no Brasil: a mediação da informação. 2013. 189 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Faculdade de Ciência da Informação, Universidade de Brasília, Brasília, 2013. JORGE, Maria Salete Bessa; LOPES, Consuelo Helena Aires de Freitas; SAMPAIO, Cynthia De Freitas; SOUZA, Lyara Veríssimo de; SILVA, Michelle Soares Joseno da; ALVES, Marcela Soares. Alcoolismo nos contextos social e familiar: análise documental à Luz de Pimentel. Revista RENE, Fortaleza, v. 8, n. 3, p. 34-43, set./dez. 2007. JUNAAB (MG). Sobre A.A. Disponível em: <http://mg.aabrasil.org.br/index. php/sobre-a-a>. Acesso em: 29 mai. 2017. PILLON, Sandra Cristina; LUIS, Margarita Antonia Villar. Modelos explicativos para o uso de álcool e drogas e a prática da enfermagem. Revista Latino- Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 12, n. 4, p. 676-682, ago. 2004. 110 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES ANEXO I – MATERIAIS SELECIONADOS PARA O PRIMEIRO MÊS 1. ALVES, Rubem. O retorno e terno: crônicas. 27. Ed. Campinas: Papirus, 2008. 176 p. “As coisas essenciais” – Crônica de Rubem Alves A crônica fala das coisas essenciais que o autor recolheu de diversas pers- pectivas: poetas, filósofos, de sua própria experiência. Poderia suscitar nos participantes a reflexão do que é essencial para o grupo e para cada um individualmente. 2. COLASANTI, Marina. Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. 192 p. “Eu sei, mas não devia” – Marina Colasanti O texto de Maria Colasanti nos questiona sobre as várias situações do dia a dia com que nos acostumamos, sem perceber. É uma reflexão interessante sobre o mundo à nossa volta e sobre o quanto estamos insensíveis a quase tudo, atitude que, é claro, não deveríamos ter. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Se tiver oportunidade, não deixe de visitar alguma dessas iniciativas, para conhecê-las mais de perto! 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição necessária e indispensável para você compreender integralmen- te os conteúdos apresentados nesta unidade. 3.1. BIBLIOTERAPIA E A ATUAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO A Biblioterapia se configura como mais um campo de atua- ção do bibliotecário. Se, por um lado, essa atuação demanda uma formação específica, por outro, correlaciona-se com os co- 111© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES nhecimentos da área. Nos textos a seguir, você poderá ver essa relação com mais clareza: • GUEDES, M. G.; BAPTISTA, S. G. Biblioterapia na Ciência da Informação: comunicação e mediação. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, v. 18, n. 36, p. 231-253, jan./abr. 2013. Disponível em: <https://periodicos. ufsc .br/ index .php/eb/art i c le/v iewFi le/1518- 2924.2013v18n36p231/24527>. Acesso em: 06 fev. 2017. • SILVA, T. M. Como o bibliotecário pode se inserir nas atividades de leitura como biblioterapia? Natal: UFRN, 2011. 41p. Monografia (Bacharelado em Biblioteconomia) – Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2011. Disponível em: <http://monografias.ufrn.br:8080/ jspui/bitstream/1/181/1/TaiseMS_Monografia.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2018. • VALENCIA, M. C. P.; MAGALHÃES, M. C. Biblioterapia: síntese das modalidades terapêuticas utilizadas pelo profissional. Biblos: Revista do Instituto de Ciências Humanas e da Informação, Rio Grande, v. 29, n. 1, 2015. Disponível em: <https://www.seer.furg.br/biblos/ article/view/4585>. Acesso em: 26 jan. 2018. 3.2. BIBLIOTERAPIA NA PRÁTICA A Biblioterapia possui bases psicológicas, filosóficas e uma interlocução com a Literatura, podendo ser trabalhada a partir de diferentes metodologias. A seguir, indicamos textos que apre- 112 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES sentam diferentes aplicações da Biblioterapia, demonstrando as várias possibilidades de aplicação. • ALVES, M. H. H. A aplicação da biblioterapia no processo de reintegração social. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 15, n. 1-2, p. 54-61, jan./jun. 1982. Disponível em: <http:// www.brapci.ufpr.br/brapci/_repositorio/2011/08/ pdf_09e78c51e2_0018372.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2018. • CASTRO, R. B.; PINHEIRO, E. G. Biblioterapia para idosos: o que fica e o que significa. Biblionline, v. 1, n. 2, 2005. Disponível em: <www.biblionline.ufpb.br/Arquivos2/ SUMARIO.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2018. • LOBO, L. M. A biblioterapia como proposta de um programa para portadores de deficiência visual na seção Braille da Biblioteca Pública Arthur Vianna. Belém, 2017. 42 p. Mongrafia (Bacharelado em Biblioteconomia) – Faculdade de Biblioteconomia, Universidade Federal do Pará, Belém, 2017. Disponível em: <http://bdm.ufpa.br/jspui/bitstream/prefix/89/1/ TCC_BiblioterapiaPropostaPrograma.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2018. 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em respon- der às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estu- dados para sanar as suas dúvidas. 113© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES 1) Pinto (2005) faz uma crítica a alguns profissionais bibliotecários que vol- tam suas atenções apenas para um aspecto da profissão. Na visão da au- tora, qual é essa limitação? a) Os bibliotecários ficam demasiadamente apegados a pesquisar os usuários e suas necessidades de demandas. b) Os bibliotecários atuam, principalmente, no desenvolvimento de pes- quisas da área, documentando práticas e produzindo saber. c) Os bibliotecários ficam apegados à técnica, em processos tais como organização e disseminação da informação. 2) Em seu entendimento, quais são os dois principais itens que devem ser considerados para o desenvolvimento de um projeto de Biblioterapia? 3) Enumere com (1) a característica relacionada às competências pessoais e com (2) os conhecimentos que o bibliotecário deve ter para atuar com a Biblioterapia: ( ) Estabilidade pessoal. ( ) Empatia. ( ) Domínio da terminologia da área. ( ) Paciência. 4) Na elaboração de um projeto, em qual item deve ser explicitada a impor- tância de utilizar a Biblioterapia no contexto escolhido? a) Público-alvo. b) Local a ser desenvolvido. c) Justificativa. d) Procedimento. 5) A partir de sua experiência pessoal, profissional e acadêmica, cite um gru- po de sujeitos e um problema/característica que você gostaria de traba- lhar com a Biblioterapia. Gabarito Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au- toavaliativas propostas: 114 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES 1) C 2) Público-alvo e Objetivo. 3) 1, 1, 2,1 4) C 5) Pergunta aberta, que deverá ser elaborada pelo aluno. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta obra, você teve a oportunidade de entrar em contato com conceitos e definições de Biblioterapia, além de fundamen- tos filosóficos e psicológicos que ajudarão a ampliar sua visão do homem e do mundo que o cerca, adquirindo a compreensão da complexidade humana e aprofundando seu olhar sobre os fenô- menos humanos. Na Unidade 1, vimos que o uso da leitura com objetivos terapêuticos é bastante antigo. Desde a Idade Média, as biblio- tecas eram consideradas lugares sagrados por guardarem os materiais com potencial terapêutico, ou seja, possibilitavam um alento para a alma. Com relação aos conceitos de Biblioterapia, existem vários, criados por estudiosos na tentativa de sua definição. Todos es- ses conceitos nos remetem à noção terapêutica da leitura e aos seus benefícios, na medida em que amplia a visão humana a par- tir das experiências compartilhadas. Essa troca de experiências pode levar ao autoconhecimento e a uma melhor compreensão do outro e do mundo. Estudamos também as duas categorias da Biblioterapia, ou seja, a Biblioterapia clínica e a Biblioterapia de desenvolvimento, 115© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES sendo a primeira desenvolvida por psicólogos e profissionais que atuam na área da saúde e a segunda, por bibliotecários, profes- sores e profissionais da educação. Já a metodologia indicada para a Biblioterapia requer uma fase indispensável em seu processo: a fase da interpretação. Sa- bemos que o conteúdo de um livro pode ser terapêutico, no en- tanto, a interpretação e o diálogo que seguem a leitura do texto trazem o diferencial do processo de Biblioterapia. É nessa fase que é possível entrarmos em contato com os significados dados por nós e pelos outros, trocando experiências e saberes que podem nos tirar da angústia e nos levar a um estado de maior consciência. De forma geral, as fases da Biblioterapia abordam a identi- ficação do público-alvo; a identificação do aspecto do grupo que precisa ser trabalhado (pode ser uma demanda do próprio grupo ou uma sugestão do profissional; em ambos os casos, deve haver um acordo); a escolha do material a ser utilizado e a realização da sessão de Biblioterapia (leitura e interpretação). É importante lembrar que a fase da avaliação do projeto é um passo importan- te para avaliar seu andamento, sua eficácia e sua permanência. A Unidade 2 é fundamental para se pensar a Biblioterapia, pois traz as possíveis bases psicológicas e filosóficas da área. A discussão sobre o existencialismo fenomenológico de Merleau- -Ponty nos dá uma base filosófica acerca da concepção do ho- mem, trazendo toda a complexidade e a subjetividade necessá- rias para refletirmos sobre nosso objeto de estudo e atuação. As noções de corpo e linguagem são desenvolvidas pelo filósofo, que nos chama a refletir sobre a forma como nos expressamos, seja pela fala (linguagem), seja pelo gesto (corpo). 116 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES Já com relação às bases psicológicas, apresentamos a Teo- ria Social Cognitiva de Albert Bandura, um dos grandes psicólo- gos do século 20. As bases psicológicas nos ajudam a entender o homem no mundo, ou seja, a forma como se comporta e as origens de suas ações. Para Bandura, o comportamento tem raí- zes em fatores pessoais e ambientais. Sendo assim, os comporta- mentos variam em relação a cada pessoa, pois cada um tem ba- gagens diferentes, influenciando as situações em que se insere. Outro ponto importante abordado nesse tópico foi o das habilidades sociais, que muitas vezes são manifestadas em comportamentos antissociais, que podem estar ligados a práti- cas educativas negativas oriundas de pais e responsáveis. Essa discussão, proposta pelos autores Del Prette e Del Prette, nos dá a dimensão da importância de se investir na boa orientação das crianças, para que se tornem adultos mais responsáveis e conscientes. Na Unidade 3, entramos no mundo de possibilidades da li- teratura, sendo ela o maior instrumento da Biblioterapia, e tam- bém pudemos entender melhor seu processo de utilização e a importância de se escolher bons textos para a prática bibliotera- pêutica. Discutimos a teoria da Estética da Recepção, que passou a considerar o leitor como parte fundamental do processo de leitura, juntamente com o autor e com o texto. Abordamos o valor terapêutico de contar histórias, espe- cialmente para o público infantil. Muitas vezes, é por meio das histórias que as crianças conseguem expressar seus sentimentos de angústia e solidão, por ser a linguagem de metáforas a que é melhor compreendida pelas crianças para esse contato com sentimentos dolorosos. 117© INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES Falamos também sobre o potencial dos contos de fadas e sobre como eles são recursos valiosos para a compreensão do significado da própria vida e do mundo. As metáforas e o con- teúdo subjetivo dos contos de fadas são um meio para o conta- to com nosso mundo interior e, por isso, atuam como recurso terapêutico. Uma boa oportunidade para ter contato com o universo literário é conhecer os chamados "booktubers" e visitar seus blogs e canais na internet. São pessoas que apresentam títulos de diferentes áreas e fazem resenhas que podem auxiliar muito no processo de escolha do material literário. Na Unidade 4, apresentamos uma vasta bibliografia, que expressa a atuação do bibliotecário na Biblioterapia, e entramos em contato com relatos de atividades desenvolvidas no Brasil e no exterior, além de colher informações para a elaboração de um projeto de Biblioterapia. Todas as experiências relatadas e as sugestões de projeto são uma forma de incentivar a discussão e despertar o interes- se em introduzir essa prática em sua atuação profissional mas, antes de tudo, possibilitam a reflexão sobre seus próprios pro- cessos subjetivos, sobre o contato com o outro e sobre o mundo que nos cerca! 6. E-REFERÊNCIAS Sites pesquisados BRUNEL UNIVERSITY COUNSELLING SERVICE. Brunel Bibliotherapy Scheme “Books CanHelp”. Disponível em: <www.brunel.ac.uk/counselling>. Acesso em: 09 out. 2017. 118 © INTRODUÇÃO À BIBLIOTERAPIA UNIDADE 4 – A BIBLIOTERAPIA, A BIBLIOTECONOMIA E SUAS APLICAÇÕES CAVALCANTE, A. P.; PEREIRA, S. S. Biblioterapia: um modelo de projeto para unidades de informação. Monografia (Bacharelado em Biblioteconomia e Ciência da Informação) – Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Escola de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: <http://biblioteca.fespsp.org.br:8080/ pergamumweb/vinculos/000000/00000064.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2018. CUBILLOS, M. F. Usuarios de biblioteca com discapacidad psicquiátrica. Santiago: Universidad Tecnológica Metropolitana, 2008. (Série Bibliotecologia y Gestón da Información, n. 39). Disponível em: <http://eprints.rclis.org/12396/1/ Serie_N%C2%BA_39%2C_Agosto_2008%2C_Mariela_Ferrada_Cubillos.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2018. LEITE, A. C. O. Biblioteconomia e biblioterapia: possibilidade de atuação. Revista de Educação, Valinhos, v. 12, n. 14, 2009. Disponível em: <http://sare.anhanguera.com/ index.php/reduc/article/view/705>. Acesso em: 23 jan. 2018. PINTO, V. B. A Biblioterapia como campo de atuação do bibliotecário. Transinformação, Campinas, v. 17, n. 1, p. 31-43, jan./abr. 2005. 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