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AULA 1 – LEI DE DROGAS (LEI 11.343/06)
Droga é qualquer substância capaz de provocar alterações no organismo quando ingerida.
Com base nesse conceito, podemos dizer que um remédio para dor de cabeça é considerado uma droga?
Correto! O remédio para dor de cabeça é considerado uma droga, já que altera o funcionamento do nosso organismo.
Portanto, podemos concluir em princípio que tanto a maconha quanto um remédio para dor de cabeça são considerados drogas por definição técnica. O que vai diferençar ambos é o fato de uma ser ilícita e a outra lícita.
O que torna uma droga ilícita, então?
De acordo com a Lei de Drogas (Lei 11.343/06)¹, a droga ilícita deve obedecer a dois requisitos:
 Deve ser capaz de causar dependência;
 Constar em lei ou em listas atualizadas² pelo poder executivo da união.
(¹ Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad); prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes.
Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.)
(² Essa lista, atualmente, é a que consta na Portaria SVS/MS nº 344/98 do Ministério da Saúde (art 66 da Lei de Drogas). Aqui, destacamos que nem todas as substâncias nessa Portaria são consideradas drogas ilícitas, pois algumas não causam dependência, um dos requisitos para tal.)
DROGAS: LEGALIZAR?
O comércio de drogas é considerado um dos mais lucrativos do mundo e a tentativa de combatê-lo tem sido sempre frustrada. Nos últimos 50 anos, a política de combate às drogas tem sido focada na segurança pública, criminalizando desde o tráfico até o uso. Essa era uma tendência mundial apoiada, inclusive, pela própria ONU.
No entanto, esse modelo não tem se mostrado eficaz e o comércio de drogas continua aumentando. Atualmente, muitos argumentam que o problema das drogas deve receber outra abordagem, sendo tratado como problema de saúde pública e não de segurança pública.
Uma abordagem parecida como a conferida ao cigarro, em que não se estimula o consumo, tributa-se o produto com altos valores, veda-se qualquer tipo de propaganda, mas não o rotula como crime.
Existe uma tendência no Brasil de seguir o mesmo caminho em relação às drogas. Como estudaremos adiante, a posse de drogas para uso próprio já não é punida com pena privativa de liberdade (prisão ou detenção), mas com uma advertência sobre os efeitos das drogas, a prestação de serviços à comunidade ou medida educativa de comparecimento a programa ou curso.
Em abril de 2016, houve uma Sessão Especial no Conselho da ONU (UNGASS) sobre políticas de drogas e uma das diretrizes do Brasil foi "Encorajar a UNGASS a discutir alternativas à criminalização do porte de drogas e seu cultivo para consumo próprio. A criminalização do porte e plantio para consumo pessoal de drogas ilícitas tem contribuído para estigmatizar usuários de drogas, dificultando o acesso ao tratamento quando necessário e a sua inclusão social”.
Isso não quer dizer que a droga está sendo tolerada e aceita. Ela apenas está recebendo outra abordagem, sendo tratada como problema de saúde pública e não como problema de segurança pública. Tal como acontece com outras drogas, como o cigarro e o álcool, o uso de drogas será tolerado, mas controlado e fiscalizado.
Caso a legalização se torne realidade, deverá ocorrer tratamento semelhante dado ao cigarro, com uma tributação pesada, destinação de parte dessa tributação ao sistema público de saúde (para fazer frente aos custos), advertências quanto aos efeitos, vedação de propagandas em geral etc.
Vamos refletir a respeito de alguns argumentos daqueles que defendem a legalização das drogas:
· Contribui para o controle da produção e venda pelo Estado, tal como ocorre com o cigarro e bebidas alcoólicas.
· Ajuda a reduzir a violência, pois, tornando-se uma atividade lícita, a droga deixará de financiar o tráfico de drogas, na medida em que as pessoas farão uso do comércio regular.
· Contribui para a geração de emprego e circulação de renda.
Neste momento, pare e pense sobre as vantagens da legalização da droga e nas vantagens que sua proibição como crime traz. Lembre-se de que você, na condição de cidadão e profissional, poderá influenciar o futuro de sua sociedade e de políticas públicas.
Portanto, é importante que você tenha os seus argumentos amadurecidos, seja a favor, seja contra!
DOS CRIMES
Vamos examinar agora um pouco das principais condutas criminosas dispostas na Lei de Drogas.
 Art. 28:
Esse dispositivo trata do porte de drogas para uso próprio. Como se nota, as penas são brandas, já que o Brasil optou por despenalizar o usuário, estando em franco processo de total descriminalização.
Na opção brasileira, o usuário deve ser tratado como um problema de saúde pública e não de segurança pública. Entretanto, somente se enquadrará neste artigo o agente que possuir pequena quantidade que se destine ao consumo próprio.
Desse modo, se o objetivo for vender, por exemplo, o agente se enquadrará no tráfico (art. 33). O mesmo art. 28, em seu §1º, diz que aquele que semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade para consumo próprio, também terá um tratamento brando e receberá as mesmas sanções acima descritas.
Como saber se a droga será para consumo pessoal? E o que é pequena quantidade?
A própria lei nos dá a resposta:
Isso quer dizer que se ficar configurado que a droga não era para consumo pessoal, o agente poderá responder por tráfico.
Por isso, a importância de uma investigação levantar elementos suficientes para que a defesa e o Ministério Público possam basear suas argumentações e o Juiz tome a decisão mais adequada.
 Art. 33:
Primeiro ponto a destacar neste artigo é que tanto a droga como a sua matéria-prima (insumo ou produto químico) são puníveis. Ainda que a droga não esteja pronta e processada, a pessoa flagrada neste contexto responderá nos termos do art. 33.
Um problema prático e um tanto quanto comum é que os produtos químicos utilizados para a fabricação de drogas (cocaína, por exemplo) são acessíveis e legalmente comercializáveis. Vejamos alguns exemplos:
· O álcool e o éter são utilizados na fabricação de cocaína. Somente o contexto é que poderá definir se o álcool tem uma finalidade ilícita ou não.
· Durante a investigação, é crucial que existam conversas telefônicas interceptadas (com autorização judicial), filmagens, fotos, delações ou outros elementos que demonstrem o uso para a fabricação de drogas ilícitas.
· O mesmo raciocínio é utilizado para o imóvel onde funciona o cultivo ou o laboratório. Comprovado que o proprietário sabia do uso ilícito de seu imóvel, ele responderá por tráfico de drogas (ainda que nunca tenha participado diretamente da fabricação ou venda da droga). Somente com uma investigação é que se esclarecerá se o proprietário tinha ciência do contexto.
Nesses casos, entende-se que o agente está utilizando a sua liberdade de expressão, opinião e pensamento. A liberdade de escrever e expressar opiniões/filosofias é um direito garantido na Constituição e é pelo exercício deste direito que a sociedade discute problemas e evolui.
Exemplo:
Ninguém deve ser punido por criticar um político, já que isto é o exercício de sua liberdade de expressão.
No caso da droga, entende-se que defender o seu uso é uma manifestação de opinião e deve ser respeitada. Foi dessa forma que o STF decidiu sobre a questão da "marcha da maconha", já que se discutia se era exercício de expressão/opinião (pela sua legalização) ou crime (instigar alguém ao uso de drogas). Segue a decisão:
Outro aspecto importante para um curso de investigação como esse é o disposto no art. 33, §4º. Este dispositivo prevê o chamado tráfico privilegiado. E é assimchamado porque ele prevê o privilégio da redução da pena de 1/6 a 2/3 ao traficante que seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.
Atendendo a esses critérios, o réu terá a sua pena diminuída significantemente (de 6 anos pode cair para 2, por exemplo).
Um problema prático ocorre com a situação das chamadas "mulas", pessoas que são contratadas para transportar drogas de uma região para outra. Agora pense:
As mulas integram ou não a organização criminosa que as contratou para realizar o transporte de um país para outro?
A resposta é bem subjetiva e ainda não há definição por parte da jurisprudência, havendo decisões pelo sim e pelo não.
Com relação à figura do tráfico privilegiado (art. 33, §4º), o Supremo Tribunal Federal¹ tem entendido que não se trata de crime hediondo.
Para contextualizar, a Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90) qualifica determinados crimes como hediondos e dá um tratamento mais rígido aos seus agentes (enquanto um condenado progride de regime após cumprir 1/6 da pena, no caso do crime ser hediondo essa progressão somente ocorrerá após cumprir 2/5 da pena, se for réu primário, ou 3/5 da pena, se for reincidente).
(¹ Na sessão desta quinta-feira (23 de junho de 2016), o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que o chamado tráfico privilegiado, no qual as penas podem ser reduzidas, conforme o artigo 33, parágrafo 4º, da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve ser considerado crime de natureza hedionda. A discussão ocorreu no julgamento do Habeas Corpus (HC) 118533, que foi deferido por maioria dos votos.)
Por essa razão, o STJ, em 2016, cancelou o seu Verbete nº 512 de sua Súmula que dizia:
Desse modo, alguém que se beneficie do art. 33, §4º, terá a sua progressão de regime mais branda com base no Código Penal e na Lei de Execuções Penais (após cumprido 1/6 da pena).
 Art. 34: 
Neste artigo, a matéria-prima também é observada. O maquinário e aparelhos utilizados em um laboratório de drogas é o mesmo utilizado em uma série de outras atividades lícitas. Um sacolé para embalar cocaína é o mesmo comercializado para embalar outros produtos vendidos legalmente no comércio.
O que vai definir a destinação deste maquinário e aparelhos para fins de produção de drogas é o contexto no qual se encontram.
Exemplo:
Vestígios de cocaína nos aparelhos são provas contundentes de sua destinação. Da mesma maneira, o testemunho de vizinhos, interceptações telefônicas ou confissões. Uma boa investigação deverá atentar para esses detalhes!
 Art. 35:
Este artigo trata da associação para o tráfico. Inicialmente, temos que estabelecer uma diferença entre a associação para o tráfico e a associação criminosa prevista no art. 288 do Código Penal. Observe:
 Art. 37:
Este artigo enquadra a figura do "fogueteiro", aquele indivíduo que avisa a chegada da polícia. Contudo, esse informante deve ter uma atuação pontual e não recorrente. Do contrário, caso seja permanente, ele será enquadrado na associação para o tráfico (art. 35). Isto ocorre porque a sua colaboração reiterada e permanente o faz membro da organização criminosa, deixando de ser mera participação eventual.
 Art. 45 e 46:
Esses artigos preveem uma causa de exclusão da culpabilidade do agente. Repetem, na verdade, o mesmo raciocínio aplicado pelo Código Penal aos demais crimes.
Isso quer dizer que só se pune alguém que tivesse plena consciência de seus atos, no momento da conduta. Se não o tinha, seria injusto punir, afinal de contas, nem sabia o que estava fazendo!
O art. 45 vem, portanto, dar um tratamento distinto e mais humano para a pessoa doente e viciada que, por não conseguir controlar o seu vício, usa drogas e comete algum crime.
Desse modo, o dispositivo somente será aplicado se forem obedecidos os seguinte requisitos:
1. Total incapacidade para entender o caráter ilícito da ação;
  2. Esta incapacidade deve decorrer da química ou do efeito da droga;
  3. A total incapacidade não deve ser premeditada. No caso da incapacidade não ser total (estava drogado, mas ainda possuía alguma consciência), a pena será reduzida, mas não haverá isenção total.
E no caso de uma pessoa que usa drogas para tomar coragem para cometer um crime, a mesma será enquadrada nos artigos 45 e 46?
Esse caso NÃO se aplica a este dispositivo ao caso do indivíduo que cheira cocaína para tomar coragem para transportar drogas de um local para outro, por exemplo. Isto porque, nesse caso, houve o uso de drogas premeditado. Portanto, há que ser detalhado e devidamente comprovada a situação dos artigos 45 ou 46.
 Art. 53: 
Este dispositivo fala da ação controlada (ou “flagrante prorrogado, retardado ou diferido”). Ele autoriza que a polícia deixe de efetuar a prisão em flagrante ou deixe de atuar diante da notícia de um crime previsto na Lei de Drogas, com o objetivo de identificar e responsabilizar os demais envolvidos.
Uma organização criminosa pode possuir diversos ramos e pessoas espalhadas em diferentes regiões e investigações desse tipo demoram muito tempo e são extremamente complexas, pois a reunião de provas e identificação dos autores requerem uma série de ações.
Muitas vezes, para que se possa desmantelar toda a organização, é necessário que se deixe a organização atuar por algum tempo, de maneira que a polícia possa conseguir informações e pedir a prisão de todos os envolvidos.
Como, em tese, "deixar de efetuar a prisão", em uma situação em que se evidencia o crime, não é permito à polícia, o art. 53 vem legalizar essa prevaricação por parte dos policiais, desde que reste claro o objetivo de aprofundar as investigações.
Em qualquer hipótese, a autorização judicial¹ é necessária. Do contrário, os policiais devem efetuar a prisão e tomar as medidas cabíveis, sob pena de responsabilidade penal e administrativa.
(¹ No caso de investigação de organizações criminosas que atue fora do tráfico de drogas, a ação controlada também poderá ser procedida com base na Lei 12.850/13. Neste caso, contudo, não precisará autorização judicial, mas apenas a comunicação ao juiz por parte da autoridade policial.)
 Art. 65:
Esse artigo concretiza compromissos internacionais que o Brasil vem assumindo no combate ao crime organizado internacional. Veja que a colaboração não precisa de solicitação judicial em alguns casos, basta haver a comunicação direta entre autoridades policiais e membros do Ministério Público, sem muita formalidade ou burocracia.
Se levarmos em consideração que o Brasil não é um grande produtor de drogas, concluímos que a maior parte da droga circulando no país atravessa nossas fronteiras e, consequentemente, a colaboração de outros países é fundamental para se ter uma ação efetiva, interrompendo a cadeia no seu início e não apenas na ponta (prendendo os grandes traficantes, por exemplo).
Atualmente, existe um processo no Supremo Tribunal Federal em que se está discutindo a constitucionalidade do art. 28. O argumento é que a criminalização da posse para uso próprio acaba estigmatizando o agente e compromete medidas de redução e controle dos danos causados pela droga.
Caso se confirme esta inconstitucionalidade (em fevereiro de 2017 ainda não havia decisão final no processo), a conduta de posse de drogas para uso pessoal deixaria de ser crime, mas continuaria ilícita (administrativa e civilmente), cabendo as mesmas sanções previstas no art. 28.
Apesar das sanções permanecerem, vale lembrar que o fato da conduta deixar de ser crime é importante para efeitos penais, pois, por exemplo, evita a ocorrência da reincidência.
Na redação original da Lei de Drogas, era vedada a concessão de liberdade provisória e a conversão das penas em restritivas em direito, e o regime inicial de cumprimento das penas era necessariamente o fechado.
Apenas para contextualizar, liberdade provisória é a possibilidade de responder o processo em liberdade, mesmo em caso de flagrante delito. A conversão da pena privativa de liberdade (prisão ou detenção) em restritiva de direito(prestação de serviços à comunidade ou pagamento de valores, por exemplo) é um benefício que o Código Penal determina em determinados casos. Nessa hipótese, o condenado não irá preso!
A vedação a tais benefícios não está mais em vigor, seja porque houve alteração legislativa, seja porque o STF considerou alguns de seus dispositivos inconstitucionais.
Atualmente, portanto, é cabível a liberdade provisória, a conversão em pena restritiva de direito e o regime inicial de cumprimento de pena (quando não for possível a substituição por restritiva de direitos) pode ser fechado ou aberto.
AULA 2 – ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI 10.826/03)
CONTEXTUALIZANDO A DELICADA QUESTÃO DAS ARMAS
O Brasil possui uma política restritiva com relação à comercialização e ao porte de armas de fogo. As pessoas autorizadas a portar armas são poucas e o processo de aquisição do porte é complexo e muito seletivo.
Esse tratamento restritivo ocorreu em razão dos elevados índices de crimes cometidos com o emprego de armas de fogo. Apenas para se ter uma noção, o Brasil já atingiu índices de mortes por arma de fogo iguais ao de muitos países em guerra, tais como Afeganistão e Iraque.
Até 1997, o porte ilegal de arma de fogo era uma contravenção penal, a tolerância ao seu comércio era maior e havia pouca discussão sobre a relação entre armas e violência.
A tabela a seguir mostra um levantamento comparando o número total de homicídios (causados por qualquer instrumento: faca, tesoura...) com o número de homicídios provocados por arma de fogo no período entre 1980 e 2014, sendo que o Estatuto do Desarmamento entrou em vigor em 2003.
Homicídio por Arma de Fogo (AF) x nº de homicídios
Analisando a tabela, temos:
  A porcentagem de pessoas mortas por armas de fogo vinha crescendo até a edição do Estatuto do Desarmamento, em 2003 e, desde então, estagnou.
  É difícil afirmar, seguramente, que o Estatuto foi o fator determinante para esta estagnação, mas, certamente, influenciou (e muito!).
  No entanto, ao mesmo tempo, verificamos na tabela que não houve decréscimo, demonstrando que uma política de segurança pública eficiente não se garante apenas com o controle de armas, mas sim com investimento em diversas outras áreas.
  Por fim, devemos levar em consideração o fato de que a arma por si só não produz violência. Veja que alguns países (como a Suíça) têm o comércio de armas liberado, mas índices de violência baixíssimos.
Na verdade, as armas são um instrumento para violência. A pessoa que deseja assassinar alguém poderá fazê-lo de várias maneiras, com armas envolvidas ou não. Por isso, dizemos que menor número de armas não implica, necessariamente, em menos crimes. Contudo, devemos levar em conta que a maior disponibilidade de armas certamente favorece a violência e, por fim, dificulta o seu combate.
A resposta está no art. 6º do Estatuto do Desarmamento, Lei 10826/03: 
Neste momento, pare e pense sobre as vantagens da liberação do porte de armas e nas vantagens que sua proibição como crime traz. Lembre-se de que você, na condição de cidadão e profissional, poderá influenciar o futuro de sua sociedade e de políticas públicas.
Portanto, é importante que você tenha os seus argumentos amadurecidos, seja a favor, seja contra!
DOS CRIMES PREVISTOS NO ESTATUTO DO DESARMAMENTO
Para o estudo do Estatuto do Desarmamento, é fundamental ter em mãos o Dec 5123/04 (Regulamento do Estatuto do Desarmamento) e o Dec 3665/00 (Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados R-105). É o R-105 que nos traz a definição de arma de fogo e seus acessórios, conceitos essenciais para se examinar e entender os crimes previstos no Estatuto. Veja:
Sobre isso, precisamos esclarecer alguns fatos:
· Todo acessório, necessariamente, deve melhorar o desempenho do atirador, a modificação de um efeito secundário do tiro ou a modificação do aspecto visual da arma. Se não o fizer, não será acessório. É o que acontece, por exemplo, com um coldre (local onde a arma fica guardada e presa ao corpo do agente).
Como acessório de arma de fogo, podemos citar uma mira laser, por exemplo.
· Atualmente, é muito comum ver a prática de tiro de arma de pressão. Essas armas não são armas de fogo por definição, uma vez que não arremessam projéteis empregando a força expansiva dos gases gerados pela combustão de um propelente confinado em uma câmara.
Embora sejam produtos controlados, a sua comercialização, posse, porte ou uso sem autorização não ensejarão a aplicação do Estatuto, podendo configurar outros crimes. A sua importação sem autorização legal, por exemplo, configura o crime de contrabando. O Exército Brasileiro define arma de pressão na Port. COLOG EB nº 2.
Na intenção de reduzir a circulação de armas de fogo no país, o Estatuto estabeleceu a possibilidade de os cidadãos entregarem suas armas à Polícia, com recibo e indenização, de acordo com os arts. 31 e 32¹.
(¹ Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de fogo adquiridas regularmente poderão, a qualquer tempo, entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e indenização, nos termos do regulamento desta Lei.
Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)).
Veja que se trata de um estímulo ao cidadão para que, mediante indenização (de 150 a 450 reais), ele se desfaça legalmente de sua arma. Esses dispositivos ainda se encontram em vigor, mas, para transitar com a arma até a delegacia, o agente deverá imprimir uma guia de trânsito no site da Polícia Federal, a fim de afastar eventual crime de porte ilegal de arma.
Intenção semelhante ocorreu com a previsão do art. 30¹ do Estatuto. Nesse caso, o Estatuto estimulava a regularização de armas não registradas. 
(¹ Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada na qual constem as características da arma e a sua condição de proprietário, ficando este dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) (Prorrogação de prazo).
Parágrafo único. Para fins do cumprimento do disposto no caput deste artigo, o proprietário de arma de fogo poderá obter, no Departamento de Polícia Federal, certificado de registro provisório, expedido na forma do § 4º do art. 5º desta Lei.)
Assim:
A redação atual do dispositivo, que esteve vigente até 2009 estabelece que:
  Não é mais possível regularizar situação de arma de fogo (art. 30 que encerrou sua vigência em 2009);
  É possível entregar mediante indenização qualquer arma de fogo à polícia federal, regularizada ou não (art. 32).
Depois dessa explicação, vamos estudar os crimes especificados pelos arts. 12, 14 e 16.
POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO
O art. 12¹ tipifica como crime a posse de arma de fogo de uso permitido. Aqui, é crucial estabelecer a diferença entre posse e porte, uma vez que correspondem a crimes diferentes. Veja a seguir: 
· A posse de arma de fogo (art. 12) consiste em manter no interior de residência (ou dependência desta) ou no local de trabalho uma arma de fogo.
A posse configura o crime do art 12.
· O porte, por sua vez, consiste em circular fora da residência e local de trabalho com uma arma de fogo.
O porte ilegal de arma de fogo configura o crime do art. 14.
(¹ Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residênciaou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.)
Veja que o tipo inclui também os acessórios e a munição da arma, a qual tem que ser de uso permitido. Esse dispositivo trata apenas da arma de uso permitido. Se for de uso restrito, o agente será enquadrado no art. 16.
O Dec 3665/00/R-105, no art.3º define quais são as armas de uso restrito e as de uso permitido.
PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO
No art. 14, o Estatuto trata do porte de arma de fogo. Observe:
ATENÇÃO: Lembre-se que o porte se difere da posse e ambos são crimes com dispositivos e penas distintas. Vale ressaltar também que, embora o nome do crime seja "porte ilegal de arma de fogo de uso permitido", o artigo tipifica outras condutas também: deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar. Mais uma vez, esse crime apenas se aplica às armas, munições e acessórios de arma de fogo de uso permitido. Se for de uso restrito, o agente será enquadrado no art. 16.
Com relação ao parágrafo único, este foi julgado inconstitucional pelo STF, de maneira que não está mais em vigor, cabendo, portanto, liberdade provisória com ou sem fiança. A decisão se deu na ADI 3112-1.
POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO
O art. 16¹ criminaliza tanto a posse quanto o porte de arma de fogo de uso restrito. Ou seja, o tratamento é diferente daquele dado às armas de uso permitido, as quais possuem dois artigos (art. 12 e art. 14).
(¹ Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.)
Uma observação a ser feita refere-se ao parágrafo único, pois este se aplica também às armas de uso permitido. Dessa forma, analise a seguinte situação:
Se alguém alterar a numeração de uma arma de fogo de uso permitido, será enquadrado em qual artigo?
Será enquadrado no art. 16 e não no art. 12 ou no art.14.
No quadro a seguir, veja um pequeno resumo:
Os crimes de posse e porte de arma de fogo de uso permitido ou não (arts. 12, 14 e 16) são plurinucleares. Ou seja, eles trazem vários núcleos/verbos que caracterizam condutas criminosas.
Assim, um indivíduo que praticar mais de uma das condutas de um dos artigos em um mesmo contexto será responsabilizado apenas uma vez?
Correto! No entanto, isso só se aplica no caso da prática dos verbos pertencentes a um mesmo artigo e dentro de um mesmo contexto.
Portanto, se estiver portando uma arma de uso permitido e outra de uso restrito, responderá duas vezes por porte (art. 12 e art. 16). Contudo, caso esteja com duas armas de uso permitido, responderá apenas uma vez no art. 12 (neste caso, o juiz aumentará a sua pena de acordo com o número de armas que possuía, mas considerará apenas um crime).
DISPARO DE ARMA DE FOGO
Este tipo penal somente ocorrerá quando o agente disparar arma de fogo em local habitado ou em suas adjacências. Se o local for inabitado, poderá responder por porte ilegal de armas, por exemplo, mas não pelo art. 15¹.
Importante notar que o disparo da arma com a intenção de praticar um crime (homicídio, lesão corporal...) afasta também o art 15, de maneira que o agente apenas responderá pelo crime que intencionava praticar.
(¹ Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável.)
OMISSÃO DE CAUTELA
O crime de omissão de cautela, previsto no art. 13¹ se aplica à hipótese de o agente não tomar os cuidados necessários para impedir que menores ou deficientes mentais se apoderem da arma.
É o caso de alguém deixar a arma municiada sobre uma mesa, ao invés de guardá-la em local escondido e de difícil acesso. Nesse crime, não há a necessidade de haver parentesco entre o menor/deficiente e o autor. Da mesma forma, não se exige que ocorra algum dano (disparo, por exemplo). Só o fato de "se apoderar" da arma já é suficiente para a sua consumação.
No parágrafo único, exige-se que as 24 horas comecem a partir do conhecimento do fato por parte do proprietário ou diretor de empresa de segurança e transporte de valores e não do momento em que o fato ocorreu.
(¹ Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.)
COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO
O art. 17 tipifica o crime de comércio ilegal de armas de fogo. Veja a seguir:
TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO
Os artigos 18, 19 e 20 não trazem complexidade e nem requerem informações complementares, pois são autoexplicativos. Veja:
Para finalizar, cabe esclarecer alguns fatos:
  O tráfico internacional de armas é de competência da Justiça Federal, de maneira que a investigação e o processamento ocorrerão pela Polícia Federal e por um Juiz Federal, respectivamente.
  A Lei também trata com mais rigor os crimes de posse, porte, disparo de arma de fogo e tráfico de armas quando cometidos pelos agentes que, por lei, têm porte de arma, tais como policiais. Neste caso, os agentes terão a suas penas aumentadas pela metade.
  A vedação à liberdade provisória (aquela possibilita o réu ser processado em liberdade) foi julgada inconstitucional pelo STF (ADI 3112-1, cuja transcrição está no material complementar). Portanto, o art. 21 não é mais aplicável (Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade provisória).
AULA 3 - LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS (LEI 12.850/13)
LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS
A Lei 12.850/13 veio substituir a Lei 9.034/95, atualizando e propondo
novas medidas contra o crime organizado. O fenômeno da globalização e
da tecnologia trazem uma série de avanços à vida moderna, facilitando a comunicação e tornando mais rápida e prática várias atividades do nosso cotidiano.
Se por um lado isso tem ajudado a vida moderna, por outro, tem dificultado
o combate ao crime. Isto porque o crime tem se utilizado cada vez mais das tecnologias para se organizare operacionalizar suas atividades. O dinheiro,
por exemplo, é transferido virtualmente e a facilidade de realizar sucessivas transferências dificulta o seu rastreio. A possibilidade de comunicação em longa distância faz com que os integrantes de uma organização possam trabalhar em diferentes locais de um mesmo país, ou, até mesmo, em diferentes continentes.
A fim de tornar mais efetivo o combate ao crime organizado, no plano internacional, a Convenção de Palermo Contra o Crime Organizado trouxe uma série de medidas que devem ser observadas pelos Estados signatários (e o Brasil é um deles). Em atenção a tal tratado internacional, as leis brasileiras têm levado em consideração essas circunstâncias e, cada vez mais, tentado operacionalizar uma cooperação mais ágil com órgãos internacionais.
Diante desse contexto, a Lei 12.850/13 foi um passo significativo, conforme veremos.
Pela própria definição da Lei 12.850/13, art. 1º¹ cinco requisitos são necessários para haver a existência de uma organização criminosa:
(¹ § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
§ 2º Esta Lei se aplica também:
I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos. (Redação dada pela lei nº 13.260, de 2016).)
Além desses requisitos, a doutrina também menciona as seguintes características, segundo Vicente Greco Filho (2014) e João Daniel Rassi:
1. Estrutura organizacional, com células relativamente estanques, de modo que uma não tem a identificação dos componentes da outra;
2. Especialização de tarefas, de modo que cada uma exerce uma atividade predominante. Tomando como exemplo uma organização criminosa para o tráfico ilícito de entorpecentes, dir-se-ia que tem atividade definida o importador, o transportador, o destilador, o financeiro, o traficante, de área e distribuidor e o traficante local, como uma rede, das artérias aos vasos capilares;
3. A existência de vários níveis de hierarquia, em que os subordinados nem sempre, ou quase nunca conhecem a identidade da chefia, de dois ou mais escalões superiores ou ainda que conheçam a chefia mais elevada não têm contato direto com ela e não podem fornecer provas a respeito;
4. A possível existência de infiltração de membros da organização em atividades públicas, no poder executivo, legislativo, Ministério Público e judiciário e corrupção de agentes públicos;
5. A tendência de durabilidade;
6. A conexão com outras organizações, no mesmo ramo ou em ramo diferente, quando não a atividade em vários ramos;
7. A coação, mediante violência, chantagem ou aproveitamento da condição de pessoas não participantes, mas que passam a ser auxiliares ou conviventes e que vivem sob a imposição de grave dano em caso de delação.
Devido à semelhança, devemos fazer uma distinção entre a organização criminosa e os crimes de associação para tráfico (art. 35 da Lei de Drogas, Nº 11.343, de 23 de agosto de 2006) e a associação criminosa (art. 288 do Código Penal). Veja a seguir um quadro ilustrativo:
Art. 33
Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
§1º Nas mesmas penas incorre quem:
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
Art. 34
Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.
DOS CRIMES
A lei possui poucos crimes, vindo a tratar mais especificamente dos métodos de investigação para o desmantelamento das organizações criminosas. Contudo, os seus poucos crimes são importantes. Vamos ao primeiro:
 Art. 2°:
O crime descrito no art. 2º¹ admite quatro possibilidades:
(¹ Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa.
§ 2º As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização criminosa houver emprego de arma de fogo.
§ 3º A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução.
§ 4º  A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):
I - se há participação de criança ou adolescente;
II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição para a prática de infração penal;
III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior;
IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas independentes;
V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização.
§ 7º Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Público, que designará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão.)
Veja que o financiamento, mesmo sem exercer qualquer atividade específica, é considerado típico. Não é necessária também a habitualidade; ou seja, a contribuição eventual, por exemplo, já é típica. Lembre-se que o crime transnacional ou de pena maior de quatro anos se somará à pena do art. 2º, uma vez que será concurso material no caso. Ou seja, o crime do art. 2º não absorve ou influencia a ocorrência dos demais crimes.
Podem ocorrer situações em que a situação preencha tanto os requisitos da organização criminosa quanto da associação para o tráfico e da associação criminosa.
Se isso ocorrer, prevalece a Lei de Organizações Criminosas em relação à associação criminosa. Quanto à associação para o tráfico, este prevalece em relação à Organização Criminosa.
ATENÇÃO: Toda organização criminosa é uma associação criminosa, conforme art. 288 do CP, assim como uma associação para o tráfico, se tiver este fim, nos termos do art. 35 da Lei de Drogas.
A fim de proteger as informações concluídas com a investigação,a lei prevê sanções penais àqueles que violem as regras de sigilo. Temos, portanto, os seguintes artigos:
· No art. 18, vemos a proteção ao colaborador, uma vez que a revelação de sua identidade coloca em risco a sua vida e o sucesso da investigação. E isso se aplica, inclusive, à imprensa, que também não pode fotografar, filmar ou revelar a identidade sem a autorização por escrito do colaborador.
· No art. 19, visa-se punir aquele que se passa por colaborador, imputando a prática de infração penal (crime ou contravenção) a inocente ou revela informações falsas sobre a organização criminosa.
· No art. 20, pune-se a violação ao sigilo das investigações somente no caso de ação controlada ou infiltração de agentes, podendo ser praticado tanto por funcionários públicos (agentes policiais, por exemplo) quanto por particulares (defensor do investigado, por exemplo, que tiver acesso aos autos).
· Já o art. 21 prevê como crime a recusa em fornecer dados e informações requisitadas pela polícia, MP e juiz. Tal questão é importante, pois algumas instituições são relutantes em fornecer dados de seus clientes, como aconteceu com o aplicativo de troca de mensagens WhatsApp.
MEIOS INVESTIGATÓRIOS
Como afirmado anteriormente, a dificuldade em reprimir a atuação do crime organizado fez com que a presente lei dedicasse boa parte de seu conteúdo aos procedimentos investigativos e procedimentos processuais. Os meios investigatórios, estão previstos no art. 3º.
Talvez a figura mais conhecida deste artigo seja a colaboração premiada.
A colaboração premiada não é prova processual, mas meio, técnica, instrumento, para obtenção de prova. Essa é sua natureza jurídica. Não sendo prova, ela, por si só, não pode servir de fundamento para a condenação ou absolvição de alguém, devendo, assim, ser corroborada por outras provas no processo, tais como uma testemunha, uma interceptação telefônica etc. A colaboração premiada em si é uma negociação, de maneira que deve ser voluntária e sempre realizada entre o Ministério Público, o Delegado de Polícia e o delator acompanhado de um advogado. O juiz nunca fará parte do acordo, exceto para homologá-lo.
Quanto mais informações forem passadas, maiores serão os benefícios. Esses benefícios podem ser desde um pedido de perdão judicial por parte do Ministério Público até o compromisso deste em não recorrer ou não oferecer denúncia.
Após a “negociação”, é feito um termo que é levado ao juiz para homologação. Em hipótese alguma, contudo, o juiz fica vinculado aos termos compromissados na delação. O único vínculo é com relação a levar em consideração a colaboração em favor do acusado, reduzindo a pena de acordo com sua discricionariedade, por exemplo.
Por isso não é correta a promessa por parte do MP de concessão do perdão judicial ou mesmo do arquivamento da denúncia, devendo constar apenas o compromisso em requerer tais benefícios ao juiz, o qual tem a última palavra.
A delação premiada é uma espécie de colaboração premiada.
Art. 4º
O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
É importante chamar a atenção para o fato de que o colaborador não pode repetir informações já prestadas por outro colaborador ou mesmo já identificadas pela polícia. A colaboração deve ser inovadora. Se apenas repetir algo que já está documentado nos autos ou de conhecimento das autoridades, a colaboração não surtirá efeitos em benefício do acusado/réu. Daí a importância de celebrar acordos com antecedência, já que as chances de conseguir maiores benefícios é maior.
Como já previsto na Lei de Drogas, a presente lei também traz a figura da ação controlada e inova com a possibilidade de infiltração de agentes policiais. Veja, a seguir, as características desses dois mecanismos:
AÇÃO CONTROLADA
É a possibilidade de se postergar a prisão dos envolvidos com o objetivo de identificar os demais criminosos participantes da empreitada. Como a organização criminosa realiza diversas atividades, a prisão de apenas um deles pode alertar os demais ou mesmo prejudicar o curso de uma investigação que poderia levar à prisão toda a organização.
A previsão da ação controlada permite que a polícia “prevarique” e postergue a prisão dos envolvidos.
INFILTRAÇÃO DE AGENTES
Esse é outro mecanismo eficiente, em alguns casos, que a lei traz expressamente em seu texto. Esse mecanismo somente é possível quando não houver outros meios de produção de prova viáveis, necessitando pedido do Delegado ou requerimento do Ministério Público, que será autorizado ou não pelo juiz.
AULA 4 - CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA (CÓDIGO PENAL)
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
Os crimes contra a Fé Pública visam resguardar a confiança que deve reger determinadas atividades na sociedade. A moeda que todos nós usamos diariamente circula porque existe uma confiança generalizada de que aquela nota é verdadeira. Da mesma forma, documentos públicos são presumidamente verdadeiros e ninguém deixa de receber ou dar crédito ao documento normalmente. Portanto, para que esta "fé" prevaleça (afinal de contas, se não fosse assim ficaria difícil comercializar e viver em sociedade!), o legislador decidiu criminalizar condutas que violem a Fé Pública em determinados casos.
DO CRIME DE MOEDA FALSA
Previsto no art. 289¹ do CP, o crime de falsificação de moeda pode ocorrer pela sua fabricação ou alteração (transformar uma nota de 5 em 50 reais). Repare que a nota deve estar em curso legal no país, pois, caso não esteja (falsificar notas de Cruzeiro, por exemplo), a conduta não se enquadrará no art. 289, mas no art. 171 (estelionato).
Importante notar que, caso a falsificação seja grosseira (facilmente identificável que não é verdadeira), o crime será também o do art. 171, não podendo se falar em crime de moeda falsa (verbete nº 73 da Súmula do STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual).
(¹ Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
§1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.
§2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.
§4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada.)
A consumação do crime ocorre com a falsificação de uma só nota. A falsificação de várias notas não implica em vários crimes, mas em crime único. Obviamente, o juiz levará em consideração a quantidade de notas para calcular a pena, de maneira que, quanto mais notas contrafeitas, maior será a pena. Situação semelhante ocorre com a pessoa que falsifica(caput) e depois pratica um dos verbos do §1º. Não haverá dois crimes, já que a conduta do §1º absorve a conduta do caput.
PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA
No art. 291¹, punem-se os atos preparatórios para a falsificação de moeda. Apenas para relembrar, a prática de um crime percorre um caminho (iter criminis) que pode ser dividido em quatro estágios:
· Cogitação;
· Atos preparatórios;
· Execução;
· Consumação.
(¹ Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.)
Em regra, a cogitação e os atos preparatórios não são puníveis. Exceção é o que ocorre com o presente crime, em que entendeu o legislador criminalizar a preparação para a falsificação de moeda. Se não houver moedas falsas no local em que for encontrado o maquinário, como saber se para este fim se destinava? (afinal, o maquinário é licitamente comercializado e pode servir para várias finalidades legais). Somente o contexto e uma investigação levando em conta os detalhes sobre as atividades poderão fornecer provas para que o juiz possa condenar.
FALSIDADE IDEOLÓGICA X FALSIDADE MATERIAL
Dois crimes muito comuns contra a Fé Pública são a falsidade ideológica e a falsidade material. Mas, qual a diferença entre eles?
A falsidade pode ocorrer com relação ao conteúdo do documento (informação que nele consta) ou com relação à sua forma e características.
· Quando o conteúdo/informação for falsificado, estamos diante de uma falsidade ideológica;
· Quando se tratar de falsificação da forma/características, estamos diante de uma falsidade material.
Com base no conteúdo visto anteriormente, diga se as situações, a seguir, tratam-se de falsidade material ou falsidade ideológica:
1. Trocar a foto de um documento de identidade trata-se de:
- Falsidade material
2. Emitir certidão de nascimento verdadeira constando o nome de alguém que não nasceu, trata-se de:
- Falsidade ideológica
3. Emitir CRLV de carro sem as marcas identificadoras do documento, trata-se de:
- Falsidade material
4. Emitir um documento constando declaração falsa, trata-se de:
- Falsidade ideológica
E como se prova a falsidade? Mediante prova pericial. É essencial que seja feita uma perícia para atestar a informação falsa ou mesmo a materialidade falsificada. Sem perícia, não há como constatar a materialidade do crime e, consequentemente, eventual condenação. Para a falsidade ideológica e material, o Código Penal traz três artigos: o art. 297 e o art. 298 para a falsidade material, e o art. 299 para a falsidade ideológica.
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO
Você sabe o que é um documento público?
É aquele documento emitido pela Administração Pública, com Fé Pública, em seu nome, por um funcionário público e obedecendo os requisitos previstos na legislação em vigor.
Por essa definição, responda: um documento autenticado pelo Cartório de Notas é documento público para fins penais?
- Não. Isto porque a autenticação em cartório apenas reconhece a compatibilidade das informações com o original, mas não lhe dá a qualidade de documento público.
Ainda dentro deste conceito de documento público, o art. 297, §2º, estabelece que é equiparado a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. Portanto, um cheque ou uma nota promissória (são títulos de crédito endossáveis), por exemplo, apesar de serem documentos particulares, são equiparados a documento público para efeito do art. 297¹.
(¹ Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterardocumento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§1º Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.
§2º Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.
§3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
§4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3º, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000))
Observe que o art. 297 estabelece duas condutas falsificar e alterar. Essa alteração e falsificação se refere apenas ao formato do documento, à sua parte extrínseca, e não ao seu conteúdo.
Se for com relação ao conteúdo, o crime será de falsidade ideológica, como visto antes, nos termos do art. 299. Contudo, há um detalhe interessante. Conforme falado acima, o documento público é, por definição, emitido por um funcionário público ou alguém nesta condição investido. E se o documento público for falsificado por um particular? Nesse caso, ainda que a falsificação seja com relação ao conteúdo, será crime de falsidade material (art. 297), uma vez que o particular não pode fazer documento público. Portanto, trata-se de uma falsificação de conteúdo que diz, na verdade, respeito ao próprio formato do documento. Cuidado para não confundir!
Nos §3º e §4º, podemos identificar um equívoco do legislador, pois inseriu uma série de condutas que, tecnicamente, seriam falsidade ideológica. Estas falsidades foram inseridas com o intuito de reprimir as constantes fraudes ao INSS.
É o caso, por exemplo, de alguém inserir um vínculo trabalhista falso na carteira de trabalho de outrem a fim de que consiga provar a sua qualidade de segurado da previdência social ou mesmo declarar um salário distinto daquele efetivamente pago.
Como se nota, trata-se de típica alteração do conteúdo/informação em documento, caracterizando falsidade ideológica e não material. Apesar dessa falta de técnica, isto em nada interfere na aplicação do tipo ao caso concreto.
Falsificação de documento particular
No art. 298, a redação é bem parecida, mudando apenas o tipo de documento. Por documento particular, podemos definir por exclusão, sendo todo aquele que não for produzido por funcionário público, de acordo com os requisitos legais.
É o contrato de compra e venda de um imóvel ou um contrato social de uma sociedade empresarial, por exemplo. O parágrafo único, inserido em 2012, se refere ao cartão de crédito ou débito e visa coibir penalmente a clonagem de cartões.
(¹ Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência.)
FALSIDADE IDEOLÓGICA
A primeira observação é que, conforme vimos, o documento público deve ser feito por funcionário público. Do contrário, não será documento público.
Desse modo, somente funcionário público pode figurar como sujeito ativo desse crime, já que é o único que tem atribuição legal para emiti-lo. Mas, e se um particular emitir o documento ou mesmo colocar nele uma informação? (inserir informações em um “espelho” de CRLV de um veículo). Como não tem atribuição para fazer, a conduta se enquadrarána falsidade material (art 297).
Então, esta é a primeira observação sobre o art. 299¹: somente o funcionário público pode ser sujeito ativo quando a falsidade ideológica ocorrer em documento público.
Se o documento for particular? Neste caso, qualquer pessoa pode ser o agente, não havendo restrição.
É relevante dizer que as condutas da falsidade ideológica devem ter uma finalidade específica. Ou seja, o agente, ao “omitir” ou “inserir”, deve fazê-lo com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Se a falsidade tiver outro propósito, a conduta será atípica.
(¹ Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.)
Importante!
Quando ocorrer a falsificação de documento público ou particular para fins eleitorais, o agente responderá pelos crimes dos arts. 348¹ e 349² do Código Eleitoral.
(¹ Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro, para fins eleitorais: Pena - reclusão de dois a seis anos e pagamento de 15 a 30 dias-multa.)
(² Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro, para fins eleitorais: Pena - reclusão até cinco anos e pagamento de 3 a 10 dias-multa.)
Se o objetivo for para fins de sonegação de tributos, responderá pelo art 1º da Lei 8.137/90³.
(³ Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: 
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; 
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; 
III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; 
IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; 
V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação.)
No caso de informação inserida em documento comprobatório de investimento em títulos ou valores mobiliários, ou em demonstrativos contábeis de instituição financeira, seguradora ou instituição integrante do sistema de distribuição de títulos de valores mobiliários, a conduta será a do art. 9º ou 10 da Lei 7.492/86* (Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional).
(* Art. 9º Fraudar a fiscalização ou o investidor, inserindo ou fazendo inserir, em documento comprobatório de investimento em títulos ou valores mobiliários, declaração falsa ou diversa da que dele deveria constar:
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 10 Fazer inserir elemento falso ou omitir elemento exigido pela legislação, em demonstrativos contábeis de instituição financeira, seguradora ou instituição integrante do sistema de distribuição de títulos de valores mobiliários: Pena - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.)
A redação de tais artigos é bem semelhante, exceto pela destinação e objetivo da falsificação: fins eleitorais, sonegação de tributos ou documentos relativos ao mercado de capitais. Portanto, cuidado com esse detalhe!
USO DE DOCUMENTO FALSO
O uso de documento falso, previsto no art. 304¹ do CP somente é aplicado quando o documento falso for um daqueles do art. 297 a 302 do CP. Devemos observar que o tipo penal utiliza o verbo fazer uso, indicando que o porte, por exemplo, não se enquadra nesta figura.
E o que significa fazer uso? É apresentar/usar o documento falso perante alguém ou autoridade.
Vejamos alguns exemplos:
· Apresentar identidade falsa ao policial;
· Apresentar documento (qualquer um) falso ao posto do INSS para requerer algum benefício previdenciário.
(¹ Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.)
 No caso do policial requisitar a apresentação do documento de identidade, haverá crime? Aqui, pode surgir uma dúvida porque o tipo diz fazer uso e, quando alguém é requisitado, ele não tem outra alternativa a não ser apresentar a identidade ao policial. Não haveria espontaneidade na situação e, consequentemente, não teria feito uso, mas forçado a fazer uso. Majoritariamente, e essa também é a posição da jurisprudência, entende-se que a situação deste exemplo configuraria o crime, de maneira que a espontaneidade não é requisito para a sua consumação.
 
 
 Em geral, o uso de documento falso não ocorre apenas uma vez. O agente apresenta o documento em diversas ocasiões, cometendo, portanto, o crime várias vezes. Neste caso, ele responderá por cada uso? Em regra, sim, seja em concurso material, seja em crime continuado. No concurso material, apenas para relembrar, as penas serão somadas e, no crime continuado, será aplicada uma única pena somada de 1/6 a 2/3.
Pode ocorrer também do agente apresentar vários documentos na mesma situação. Por exemplo, o sujeito vai pleitear um benefício previdenciário e apresenta identidade e uma anotação de vínculo empregatício na CTPS falsas. Neste caso, cometerá duas vezes o art 304? Não. Neste caso, por estar no mesmo contexto e pelo fato do próprio tipo usar a expressão fazer uso de qualquer dos papéis (no plural, portanto), haverá apenas um crime.
 
No caso de alguém falsificar e usar o documento particular, ele responderá pelo art 298 e 304? Não. O agente responderá apenas um dos crimes: art 298. Isto porque o bem jurídico tutelado é a Fé Pública, a qual já foi violada pela falsificação, sendo o uso do documento um fato posterior imponível¹. Contudo, essa interpretação somente acontecerá se o agente for o mesmo. Se alguém falsifica para outro usar, haverá a incidência de ambos os dispositivos: art. 297 para quem falsificou e art. 304 para quem usou.
 
Quem é competente para julgar os crimes de uso de documento falso: Justiça Federal ou Justiça Estadual? Conforme últimas decisões do STJ, a competência não deve ser definida pelo tipo de documento falsificado, mas pela pessoa que recebe o documento. Assim, se o documento de identidade falso for apresentado à Polícia Rodoviária Federal, a competência será da Justiça Federal. Se for apresentado à Polícia Militar, será da Justiça Estadual! Portanto, o fato do documento ser federal ou estadual não implicará na definição da competência para julgamento do crime, mas sim a autoridade para a qual o documento é apresentado.
 
(¹ USO. DOCUMENTO FALSO. FALSIFICAÇÃO. CRIME ÚNICO.
Na hipótese, o ora paciente foi condenado a dois anos e seis meses de reclusão e 90 dias-multa por falsificação de documento público e a dois anos e três meses de reclusão e 80 dias-multa por uso de documento falso, totalizando quatro anos e nove meses de reclusão no regime semiaberto e 170 dias-multa. Em sede de apelação, o tribunal a quo manteve a sentença. Ao apreciar o writ, inicialmente, observou o Min. Relator ser pacífico o entendimento doutrinário e jurisprudencial de que o agente que pratica as condutas de falsificar documento e de usá-lo deve responder por apenas um delito. Assim, a questão consistiria em saber em que tipo penal, se falsificação de documento público ou uso de documento falso, estaria incurso o paciente. Para o Min. Relator, seguindo entendimentodo STF, se o mesmo sujeito falsifica documento e, em seguida, faz uso dele, responde apenas pela falsificação. Destarte, impõe-se o afastamento da condenação do ora paciente pelo crime de uso de documento falso, remanescendo a imputação de falsificação de documento público. Registrou que, apesar de seu comportamento reprovável, a condenação pelo falso (art. 297 do CP) e pelo uso de documento falso (art. 304 do CP) traduz ofensa ao princípio que veda o bis in idem, já que a utilização pelo próprio agente do documento que anteriormente falsificara constitui fato posterior impunível, principalmente porque o bem jurídico tutelado, ou seja, a fé pública, foi malferido no momento em que se constituiu a falsificação. Significa, portanto, que a posterior utilização do documento pelo próprio autor do falso consubstancia, em si, desdobramento dos efeitos da infração anterior. Diante dessas considerações, entre outras, a Turma concedeu a ordem para excluir da condenação o crime de uso de documento falso e reduzir as penas impostas ao paciente a dois anos e seis meses de reclusão no regime semiaberto e 90 dias-multa, substituída a sanção corporal por prestação de serviços à comunidade e limitação de fim de semana. Precedentes citados do STF: HC 84.533-9-MG, DJe 30/6/2004; HC 58.611-2-RJ, DJ 8/5/1981; HC 60.716-RJ, DJ 2/12/1983; do STJ: REsp 166.888-SC, DJ 16/11/1998, e HC 10.447-MG, DJ 1º/7/2002. HC 107.103-GO, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/10/2010.)
Súmula 546/STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor.
AULA 5 - CRIMES PATRIMONIAIS 1ª PARTE (CÓDIGO PENAL)
DOS CRIMES PATRIMONIAIS (CÓDIGO PENAL)
O primeiro crime contra o patrimônio sobre o qual vamos falar é o furto que, segundo o código penal, consiste em:
 § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.
No crime de furto, devemos observar que o objeto subtraído deve ser alheio e móvel. Bom, alheio significa ser de outra pessoa. Daí pode-se concluir que o proprietário não pode cometer furto de suas coisas.
Mas, e se o objeto está emprestado, alugado, empenhado, por exemplo, de maneira que outra pessoa possui, de maneira lícita, o objeto e o proprietário subtrai a coisa?
Nesse caso, o autor não responderá por furto, mas pelo art. 346 do CP: “tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção”.
No furto, a pessoa deve subtrair com a intenção de se tornar dono do objeto. Daí não ser furto a situação em que alguém subtrai para uso temporário, com a intenção de devolver logo em seguida (pegar o carro de alguém para ir até a minha casa e apanhar meu laptop que havia esquecido).
Portanto, inexiste a figura do furto para uso!
Da mesma maneira, essa subtração não pode ter a concordância do dono da coisa. Havendo a manifestação de que uma pessoa pode ficar com algum objeto meu, ainda que ela pegue sem que eu esteja presente, inexiste furto.
Outro aspecto curioso é que a coisa subtraída deve ser móvel. Segundo o Código Civil, coisa móvel é aquela suscetível de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico social. Temos como exemplo:
Dessa maneira, bens imóveis não podem ser objeto do crime de furto, tais como casas, apartamentos etc.
Agora imagine que uma pessoa invade um apartamento e permanece lá. Essa pessoa estará furtando?
Apesar do fato de que a pessoa estará violando um direito do proprietário, a mesma NÃO cometerá o crime de furto.
Nesse caso, poderá responder por violação de domicílio ou esbulho (art. 161, §1º, II – “invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.”), mas não por furto ou roubo.
Veja, a seguir, outros casos que podem se configurar como furto ou não.
No parágrafo 3º do art. 155, o Código Penal equipara energia elétrica a coisa. Ou seja, a subtração de energia elétrica (gato) é furto. Outros tipos de energia, se tiverem conteúdo econômico, também serão equiparados a coisa. É o caso, por exemplo, da energia eólica. Da mesma maneira, é o sinal de TV a cabo. O chamado "gatonet" é considerado furto, tendo o sinal subtraído sido equiparado a coisa por força do §3º.
Coisa não se confunde com pessoa. Coisa, também segundo o Código Civil, é tudo aquilo que existe objetivamente com exclusão do homem. Como se nota, coisa e pessoa são distintos e, consequentemente, somente as coisas podem ser objeto do crime de furto.
A "subtração" de uma pessoa se encaixa em outras figuras, como o sequestro ou subtração de incapazes, por exemplo.
COISA DE NINGUÉM (RES NULLIUS):
É a coisa que não tem dono, tal como o peixe do mar ou a pedra de um bosque. Por não pertencerem a alguém, inexiste crime de furto aqui. Agora, preste atenção, pois os recursos minerais, inclusive os do subsolo, pertencem à União e as águas superficiais e subterrâneas aos Estados, conforme art. 20, XV e art. 26, I, da CRFB/88, respectivamente. Por pertencerem a tais entes, não se tratam de coisa de ninguém (ex: petróleo, diamante, ouro...). No caso, também não se trata de furto do art. 155, mas de um tipo específico para tal situação: 2º da Lei nº 8.176 /91¹ e 55 da Lei nº 9.605 /98².
(¹ Constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo. Pena: detenção, de um a cinco anos e multa.)
(² Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.)
COISA ABANDONADA (RES DERELICTA):
É a coisa que tinha dono, mas foi abandonada por este. Neste caso, por não ser "alheia", a sua subtração não configura furto, sendo atípica. É o caso de um carro abandonado em uma rua. Se alguém pega, reforma e passa a usar, esta conduta não configura furto em princípio, devendo provar, contudo, que o carro estava abandonado.
COISA PERDIDA (RES DESPERDITA):
É a coisa que tem dono, mas este a perdeu. Veja que ele não se desfez da coisa e tem interesse em tê-la de volta. É diferente, portanto, da coisa abandonada. Nesse caso, a sua subtração é crime, mas não de furto. Para essa situação, o legislador criou um tipo penal específico: CP art. 169¹, parágrafo único, II, apropriação de coisa achada. Achado não é roubado, mas configura crime!
(¹ Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre: II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidorou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias.)
É possível o furto do furto?
Considere a seguinte situação:
Fulano furta um carro e, logo em seguida, tem o carro subtraído por outra pessoa.
É possível falar em furto no segundo caso?
- Sim. O entendimento que prevalece é que o termo “coisa alheia” se refere tanto à propriedade, posse ou detenção. No caso do exemplo acima, fulano detinha o carro e, consequentemente, preenchia o elemento descritivo do art. 155.
O legislador previu uma causa de aumento para o caso do furto ocorrer durante o repouso noturno CP art. 155, §1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
Esse aumento se baseia no fato das pessoas estarem mais vulneráveis nesse período e aquele que se aproveita dessa situação merece uma reprimenda maior. Por repouso noturno, entende-se aquele momento em que as pessoas estão dormindo durante a noite.
Repare que, se for no início da noite, não haverá a incidência deste parágrafo. Deve ser noite e as pessoas já devem estar repousando! Como isso varia de região para região, o período de repouso vai depender do local onde o crime ocorreu, não sendo, assim, um critério objetivo e fixo.
No CP, art. 155, §2º, há o chamado furto privilegiado:
Aqui, o legislador previu uma causa de redução de pena se o agente é primário e o objeto furtado é de pequeno valor. Por pequeno valor, entende-se ser aquele inferior a um salário mínimo no momento do crime. Lembro que isso é diferente do caso do Princípio da Insignificância, uma vez que este exclui a tipicidade (não é crime, portanto), enquanto aquele apenas reduz a pena. Por primário, entende-se ser aquele que não é reincidente nos termos dos arts. 63 e 64 do Código Penal¹.
(¹ CP art. 63: Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
CP art. 64: Para efeito de reincidência: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.)
No CP, art. 155, §4º, temos as figuras qualificadas, de maneira que qualquer furto nessas circunstâncias receberá uma reprimenda maior, conforme quis o legislador. Veja a seguir.
I - COM DESTRUIÇÃO OU ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO À SUBTRAÇÃO DA COISA
O primeiro caso se refere ao furto com rompimento de obstáculo, o qual deve ser entendido como aquele que visa proteger o objeto, mas que não faça parte deste. Como exemplo, temos:
O caso do cadeado de um armário em que se guarda uma mochila. O furto da mochila, com rompimento do cadeado, teria a sua pena aumentada por esta qualificadora.
II - COM ABUSO DE CONFIANÇA, OU MEDIANTE FRAUDE, ESCALADA OU DESTREZA
Veja, a seguir, qual impacto a pena terá devido a essas figuras qualificadas. 
ABUSO DE CONFIANÇA
Pressupõe a existência de um vínculo ou do estabelecimento de uma relação prévia, tal como a empregada doméstica ou a diarista que faz o seu serviço durante a ausência do morador do imóvel.
No caso de algo sumir, terá havido o rompimento da confiança previamente estabelecida, já que o morador somente deixou a chave disponível para a diarista porque tinha certeza que nada sumiria.
FRAUDE
Refere-se à conduta de manter alguém em erro, ludibriando, criando uma falsa compreensão da realidade.
É o caso de alguém entrar na casa de uma pessoa com o pretexto de consertar o telefone e furtar um objeto sobre a mesa.
ESCALADA
O agente pode realmente escalar (pular o muro ou entrar pelo telhado, por exemplo), mas o sentido dessa expressão deve ser entendido como qualquer acesso ao local que não seja o acesso normal.
Por exemplo, entrar em uma casa pelo porão.
DESTREZA
Ocorre quando o agente utiliza uma habilidade fora do comum para cometer o furto, tal como se vê com os batedores de carteira.
III - COM EMPREGO DE CHAVE FALSA
Chave falsa é qualquer aparato que faça as vezes de uma chave, tal como um grampo de cabelo, arame, chave mixa ou chave mestra. Também entra neste conceito fazer a cópia da chave e empregá-la para adentrar ou acessar o local onde se pretende realizar o furto.
IV - MEDIANTE CONCURSO DE DUAS OU MAIS PESSOAS
Havendo mais de uma pessoa, incide essa qualificadora. Aqui, não há a necessidade de que ambos subtraiam a coisa, mas que um esteja na companhia do outro e auxiliando de alguma forma na empreitada. Como exemplo, temos:
O caso de um indivíduo que fica olhando se alguém está vindo, enquanto outro realiza o furto.
No CP, art. 155, §5º¹ merece destaque o fato de que veículo automotor não se limita ao carro, mas também inclui embarcações e aeronaves, já que são automotores. Portanto, atente para este detalhe!
(¹ A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
Observe que:
Para concluir os dispositivos do crime de furto, a sua consumação ocorre quando houver a inversão da posse do objeto. Não importa que o agente tenha a posse mansa e pacífica da coisa para a sua consumação.
Havendo a subtração, ainda que seja flagrado logo em seguida saindo com o objeto do recinto, já estará consumado o delito. Só há tentativa se o flagrante ocorrer no momento em que estiver subtraindo o objeto! Este é o entendimento que prevalece atualmente, embora haja parte da doutrina que entende ser requisito para a consumação a posse mansa e pacífica.
FURTO FAMÉLICO
Imagine o caso de um indivíduo que furtou um pote de biscoitos para se alimentar. Ele será enquadrado nas tipificações de furto que vimos anteriormente?
- Neste caso, a conduta é atípica, pois o agente estará diante de uma excludente de ilicitude: estado de necessidade. Contudo, deve-se provar que era a única forma de se alimentar, não havendo outra disponível (mendigar, por exemplo). Deve-se observar a proporcionalidade no caso concreto, pois não seria tal hipótese o furto de uma caixa de cerveja (afinal, cerveja não serve para matar a fome!).
SISTEMA DE VIGILÂNCIA
Em alguns locais, são colocados sistemas internos de vigilância como meio de monitorar e evitar furtos. Daí, surge o seguinte questionamento: se há constante monitoramento, o agente nunca conseguirá sair com o objeto. Isto seria tentativa ou crime impossível (absoluta impropriedade do objeto ou ineficácia absoluta do meio)?
- Tentativa, pois o bem correu perigo e, embora haja sistema de vigilância, o agente poderia despistar o segurança ou correr e fugir com o objeto. Assim, o crime é possível, embora o sistema de vigilância reduza a possibilidade de consumação.
Verbete 567 da Súmula do STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.
BATEDOR DE CARTEIRA
Imagine o caso em que um batedor de carteira tenta realizar um furto. No entanto, durante a consumação, verificou que a vítima não possuía carteira em sua bolsa. Nesse caso, haveria crime ou tentativa?
- Não, pois seria o caso de crime impossível por absoluta impropriedade do objeto, nos termos do art. 17 do CP. Se não havia nada no bolso, o bem não correu perigo e, consequentemente, é atípica a conduta.
ROUBO
O art. 157 do código penal nos diz que roubo é:
Veja, a seguir, as características de cada um:
No CP, art. 157 §2º, temos as majorantes do crime de roubo. Veja a seguir:
I - SE A VIOLÊNCIA OU AMEAÇA É EXERCIDA COM EMPREGO DE ARMA
O termo arma não é necessariamente arma de fogo. Pode ser também uma arma branca, como uma faca, uma tesoura ou um martelo.