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0 2021 Editora Ducere Convicções Metodologias Ativas Organizadora: Ilda Cristina de Borba Zakovicz 1 Metodologias Ativas Organização: Ilda Cristina de Borba Zakovicz Uma obra de: 1 Organização Ilda Cristina de Borba Zakovicz Autores Amanda de Almeida Monte Ana Cleide Vieira Gomes Guimbal de Aquino Andressa Gobbi Clément Camille Tossouhoun Fernando Valls Yoshida Flávia Garramone Gesseca Camara Lubachewski Izabela Regina Costa Araujo João Marcelo Brazão Protázio Leonardo Teixeira de Freitas Ribeiro Vilhagra Lucas Vasconcelos Manuela Corazón de María Villa Maturino Marcelo Guimarães Silva Márcia Soares Amorim Marco Antônio Ribeiro Merlin Marcos Evandro Galini Maria Aparecida da Silva Alves Maria Carolina Rodella Manzano Maria Fernanda Ribeiro Dias Maria Luisa da Silva Mônica Cibelle Rocha de Carvalho Moise Leance Sagbohan Natália Marques Malveira Maia Neiva Sales Rodrigues Pricila do Espírito Santo de Lima Tomás Honaiser Rostirolla Verônica dos Santos Sales Revisão de conteúdo Heloísa Maria Marques Lessa Ilda Cristina de Borba Zakovicz Maria Carolina Rodella Manzano Patrícia Emanuella Ramos Marzola Revisão geral Ilda Cristina de Borba Zakovicz Patrícia Emanuella Ramos Marzola Patrocínio Editora e Consultoria Educacional Ducere Convicções 2 Dados Inernacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Métodos de ensino: Educação 371.3 Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427 Esta obra é licenciada pelo Creative Commons. É permitido distribuir ou reproduzir gratuitamente, de forma total ou parcial, sem fins comerciais, sem modificações, desde que citada a autoria. 3 Professor não é o que ensina, mas o que desperta no aluno a vontade de aprender. Jean Piaget 4 Sumário Apresentação ........................................................................................................... 5 Capítulo 1 .............................................................................................................. 10 As Práticas Educativas e Pedagógicas: ................................................................... 10 uma breve discussão da aplicabilidade dos conceitos ............................................ 10 Capítulo 2 .............................................................................................................. 22 Metodologias Ativas no Ensino Público: ............................................................... 22 desafios e perspectivas .......................................................................................... 22 Capítulo 3 .............................................................................................................. 45 Metodologias Ativas e suas Práticas no Ensino Superior ....................................... 45 Capítulo 4 .............................................................................................................. 57 As Condições de Produção Textual nas Atividades do Tipo “Tarefa” do Moodle . 57 Capítulo 5 .............................................................................................................. 73 Metodologias Ativas na Educação: ........................................................................ 73 desafios e possibilidades a partir da resolução de problemas ................................ 73 Capítulo 6 .............................................................................................................. 86 Aprendizagem Baseada em Projeto ....................................................................... 86 Capítulo 7 ............................................................................................................ 126 Sala de Aula Invertida no Ensino On-Line ........................................................... 126 Capítulo 8 ............................................................................................................ 140 Educação Física Básica e Saúde: proposições teórico-práticas por meio das metodologias ativas ............................................................................................. 140 Capítulo 9 ............................................................................................................ 173 A Bioacústica como Ferramenta Interdisciplinar para Aprender a Ouvir: educação ............................................................................................................................ 173 Capítulo 10 .......................................................................................................... 209 Contribuições da Pesquisa em Bioacústica para Educação Ambiental ................. 209 Capítulo 11 .......................................................................................................... 254 A Relevância do Som na Vida Humana ............................................................... 254 Sobre os Autores .................................................................................................. 288 5 Apresentação presente obra é fruto de um projeto educacional da marca Ducere Convicções, que surgiu a partir da necessidade de muitos alunos e professores em terem a publicação de seus materiais visando difundir conhecimento, aprimorar habilidades e aumentar a chance de alunos e professores de entrarem no mercado de trabalho. Diversos profissionais recém-formados ou que estavam há muito tempo fora do mercado de trabalho nos procuram pedindo ajuda, pois não conseguem iniciar no campo de trabalho de professores conteudistas por não terem publicações. Outros não conseguem entrar em provas de Programas de Pós- Graduação ou em Concursos ou Processos Seletivos pela baixa pontuação. O que essas pessoas querem é apenas uma coisa: uma oportunidade para poder trabalhar, mostrar do que são capazes de oferecer à sociedade. Esta é a proposta do Projeto “Desperta, Educadores”. Realizamos um trabalho voluntário visando oferecer oportunidades a pessoas que desejam desenvolver seus talentos. O trabalho foi extremamente árduo, e caminhou com muita colaboração entre autores, muito esforço, muito aprendizado por toda as partes, muitas noites em claro, mas a satisfação de que o caminho deste aprendizado estava sendo trilhado. O fruto desses meses de dedicação é este livro. Mas o maior troféu que cada um dos autores pode carregar é toda transformação que o aprendizado individual produziu. E que venham muitos outros projetos como este! Em tempos que tudo muda, evolui, inova e, de forma muito rápida, a educação não pode e não vai ficar de fora. Por isso a escolha do tema metodologias ativas, já que representa um dos pontos chaves da educação do A 6 século XXI. Abordando procedimentos de ensino mais dinâmicos e centrados no aluno, valorizando e incentivando a participação dele no próprio processo de aprendizagem – na formação humana e profissional. Este livro reúne 11 artigos de diversos autores que individualmente ou em equipe contribuíram com seus conhecimentos abordando as metodologias ativas na educação, cada qual na sua área de atuação ou de interesse, ora fazendo abordagens teóricas, ora aplicada. Como não houve uma pretensão de selecionar capítulos previamente, os autores ficaram livres para escreverem sobre o que quisessem dentro da linha de metodologias ativas. Como resultado, apresentamos capítulos independentes que podem ser lidos na ordem de preferência do leitor, lembrando que todos tratam da mesma temática: a importância das metodologias ativas na conjuntura em que a educação se encontra.Primeiramente, o livro apresenta uma discussão sobre a aplicabilidade das práticas educativas e pedagógicas evidenciando o que elas são e, apresentando alguns dos pensamentos sobre essas práticas, que acabam por refletir no contexto escolar em que estão inseridas, com o intuito de provocar o debate sobre as práticas pedagógicas no cotidiano, tanto dentro como fora da escola. A educação e as metodologias ativas no contexto do ensino público brasileiro são o assunto do segundo capítulo, fazendo uma análise histórica valiosa, apresentando a conceituação de metodologias ativas e a utilização deste recurso na educação básica, no ensino profissionalizante e no ensino superior. Emergindo desafios e perspectivas sobre a importância de adotar métodos inovadores no processo educativo da esfera pública. Já o próximo capítulo foca na análise das metodologias ativas no ensino superior, discutindo sobre as práticas pedagógicas e seus métodos no ensino superior, e também apresentando caminhos para a utilização de metodologias ativas na modalidade educacional. O quarto capítulo analisa a importância das condições de produção textual nas atividades do tipo tarefa do Moodle na visão de Geraldi. O trabalho 7 contextualiza a modalidade de educação a distância e do ambiente virtual de aprendizagem, assessorado pela utilização da atividade tarefa da ferramenta Moodle. Seguidamente, o capítulo cinco discorre sobre o modelo “aprendizado baseado em problemas”. Investigando a contribuição das metodologias ativas no processo de ensino e aprendizagem junto aos alunos na educação básica, com ênfase na ampliação e discussão da qualidade do ensino. Propondo uma reflexão do uso da resolução de problemas como apoio ao ensinar e ao aprender, como estratégia para tornar o ensino-aprendizagem significativos aos envolvidos. O capítulo seis traz a utilização da metodologia ativa por meio da aprendizagem baseada em projeto, a qual permite o aluno a desempenhar um papel mais ativo em seu processo de aprendizagem, abrangendo maior iniciativa e autonomia, contribuindo assim para o desenvolvimento de competências pessoais e sociais. Posteriormente, apresenta-se a sala de aula invertida no ensino on-line e suas estratégias de envolvimento do professor-tutor, bem como das ferramentas utilizadas para uma aprendizagem mais autônoma e efetiva, na qual a tecnologia é fator imprescindível no processo de educação a distância. Em seguida, encontra-se preposições teórico-práticas por meio das metodologias ativas no âmbito da educação física e saúde, em que o autor realça a importância da disciplina educação física como componente curricular na educação básica, que, de acordo com a Política Nacional Comum Curricular frisa a contemplação dos temas contemporâneos transversais na busca da melhoria da aprendizagem. Por fim, o livro reúne três capítulos que tratam da bioacústica e como ela pode servir de eixo didático permitindo trabalhar vários conceitos importantes ao currículo educacional. Iniciando com a conceituação da bioacústica e uma abordagem da relação das sociedades humanas com a paisagem sonora, como a habilidade da escuta ativa pode ser ampliada à nossa volta, bem como, da importância da escola e de educadores na tarefa de dar voz aos alunos ou a natureza. Em seguida, explora-se o potencial da bioacústica como temática para 8 a educação ambiental, exemplificando o uso de metodologias ativas através do envolvimento com animais silvestres e domésticos. Completando com a descrição da relevância do som na vida humana, com a relação que os homens têm com o som em termos linguísticos e musicais e, as consequências desse processo. Boa leitura! Ilda Cristina de Borba Zakovicz 9 10 Capítulo 1 As Práticas Educativas e Pedagógicas: uma breve discussão da aplicabilidade dos conceitos Marco Antônio Ribeiro Merlin Andressa Gobbi 11 Práticas Educativas e Pedagógicas presente trabalho está na intersecção dos seguintes eixos temáticos: práticas educativas e pedagógicas, relações de poder (em seu sentido ampliado) no ambiente educacional e, ainda o reconhecimento do contexto sociocultural e histórico do corpo discente, como motivador das rotinas e estruturação das relações, dentro e – a partir de então, também – fora da sala de aula. Como objetivo principal, buscamos iniciar uma discussão sobre as práticas educativas e pedagógicas no ambiente educacional, respondendo a seguinte questão problema: qual o impacto das práticas educativas e pedagógicas no cotidiano escolar? Optou-se, como metodologia, pela revisão bibliográfica e de literatura do tema, com a utilização de autores, dentro da área da educação, para a discussão sobre as práticas educativas e pedagógicas, como Souza (2016), Franco (2016) e Nadal (2011). O trabalho está dividido em duas partes: na primeira, será apresentada uma breve análise sobre as práticas educativas e pedagógicas; na segunda, há uma reflexão sobre as práticas no cotidiano escolar. As ponderações indicam para a prática relacionada com o cotidiano do sujeito, pois, só assim ela poderá tornar-se práxis, alterando o entorno do sujeito durante o processo educacional. As práticas educacionais e pedagógicas acabam por ser evidenciadas por Souza (2016), como a relação da escola e do ensino. Muitos trabalhos científicos que abordam a temática se referem a elas em um formato que engloba tanto a relação do professor com o aluno, como também a avaliação e os materiais didáticos. Enfim, são vários os aspectos que se relacionam ao próprio cotidiano escolar. O 12 Trabalhos como a dissertação intitulada “Um olhar sobre a prática pedagógica do professor do curso de administração no contexto de sala de aula” defendida no ano de 2008 por Lourdes Fátima Gonçalves Pereira. Outro trabalho de pesquisa é o de Viviane Guidotti Machado apresentado ao final de sua especialização no ano de 2017, a pesquisa leva o nome de “Práticas pedagógicas no curso de pedagogia: para uma relação entre teoria e prática apresentado”. E por fim, apresenta-se o trabalho do IX Congresso Nacional de Educação-EDUCERE, realizado em 2013 intitulado “Práticas pedagógicas dos professores da sala de apoio pedagógico”. Isto evidencia, que o tema é relevante e constante em discussões educacionais acadêmicas atuais. As práticas apresentadas têm sujeitos e mediações que podem ir muito além dos muros da escola e, então, qual é o impacto das práticas educativas e pedagógicas no cotidiano escolar? Existem diferenças entre elas? Neste texto buscou-se como objetivo, apresentar uma discussão sobre as práticas citadas, o debate sobre os conceitos de práticas e, ainda, como a sua pesquisa é relevante para o processo de construção do saber. Buscando atender ao objetivo proposto, dividiu-se esse texto em dois momentos: no primeiro, a realização de uma breve apresentação dos conceitos de práticas educativas e pedagógicas; e, no segundo, há a reflexão sobre as práticas no cotidiano escolar. Práticas Educativas e Pedagógias Definindo Conceitos Neste momento é apresentado o que são as práticas educativas e pedagógicas. Quando mencionamos a prática pedagógica, consideramos que elas têm “sujeitos, mediações e conteúdo que podem estar no mundo escolar ou fora dele” (SOUZA, 2016, p. 38) e, sendo assim, ela pode tanto ser utilizada para reforçar relações de dominação, quanto para fortalecer processos de resistência. 13 A prática pedagógica, então, não tem em si mesma juízos de valor ou tendências à priori e, portanto, deve ser reconhecida sempre conjunturalmente, dentro de seus grupos de pertencimento e, processualmente, a partir dos sujeitos que – em suas relações de poder e disputa – as constroem, desconstroem,significam e valoram. A prática pedagógica é carregada de intencionalidade, a partir do que, por exemplo, os grupos dominantes têm se mantido na posição em que estão no contexto estrutural da sociedade. A escola, socialmente, pode ser reconhecida como um sistema perito; o qual, nas palavras de Giddens (1991, p. 35), é o “sistema de excelência técnica ou competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que vivemos hoje” – sendo o professor, assim, reconhecido como um de seus “especialistas” (com autoridade, apropriação e domínio dos conhecimentos). Em especial, sobre as práticas pedagógicas, elas estão carregadas de intencionalidade (que manifesta o próprio sistema, a partir da posição social ocupada pelo especialista-professor), a qual têm como pano de fundo a Sociedade e o Estado1. A prática pedagógica é revestida de uma prática social, e se torna educativa pois pressupõe uma intencionalidade, sujeitos, relações e disputas de poder e, inclusive, conteúdos pensados e definidos de forma consciente. Sobre isso, Nadal (2016, p. 17), considera que toda “prática pedagógica é educativa, mas nem toda prática educativa é, necessariamente pedagógica”; mas, então, o que seriam as práticas educativas? No cotidiano escolar, é comum considerar que as duas práticas citadas são iguais, no entanto, ao fazermos menção das práticas educativas, aponta-se para as práticas que ocorrem para “concretização de processo educacionais, ao passo que as práticas pedagógicas se referem as práticas sociais que são exercidas com a finalidade de concretizar processos pedagógicos” (FRANCO 2016, p. 536). Corroborando com tal pensamento Souza (2016, p.45), tem-se que: 1 Parafraseando Souza (2016), são por meio de políticas públicas que, possivelmente, são criadas e desenvolvidas novas políticas educacionais. 14 A prática educativa ou educacional ou pedagógica expressa um processo de trabalho, que pode estar no mundo escolar ou fora da escola, que possui intencionalidade e é determinada (podendo também determinar) pela prática social, elo conjunto, das relações de determinada sociedade em perspectiva nacional e internacional (SOUZA, 2016, p. 45). As mesmas autoras consideram que a prática é educativa quando carrega a intencionalidade de formar pessoas (dentro ou fora dela). Quando busca a transformação ou a modificação da conjuntura, porém, torna-se também pedagógica. Questões sociais, então, são aplicadas às práticas, pois considera- se que estão presentes na prática educativa; pois, é apenas por meio delas que o sujeito se humaniza, inclusive, a partir do reconhecimento de sua cultura e produção social. Isso possibilitará ao indivíduo relacionar-se, estabelecer vínculos com os seus círculos sociais, por meio de uma análise mais crítica de suas crenças, costumes e tradições, por exemplo, a partir do quê, inclusive, pode estabelecer metas em sua vida mais conscientes, orientadas socialmente. Dessa forma, acredita-se que, ao pensar em prática educativa, assume-se o caráter preparador do indivíduo para a convivência em sociedade. Conforme Nadal (2016, p. 20): A sociedade a partir da qual e para a qual se educada é marcada por condições desiguais entre os homens e a prática educativa, enquanto social e socializadora expressará sempre uma oposição frente as mesmas, naturalizando alguns elementos naturais e desqualificando outros (NADAL, 2016, p. 20). Isso acaba refletindo o caráter político da educação, já que, por transmitir por meio das práticas educativas os ideais que mantêm os grupos de poder em seus lugares de privilégio, há a sustentação e o reforço da desigualdade estrutural. O ato de educar, então, se torna suscetível aos grupos que, por sua vez, apresentam intencionalidades. É necessário que o processo educativo tenha um posicionamento quanto ao modelo social pretendido para a formação do sujeito. Corroborando com o que está sendo apresentado, Souza (2016, p. 56) considera que: 15 A atividade humana pode ser reprodutora de relações ou pode revolucionar práticas enraizadas na sociedade; ou seja, as práticas, tanto educativas como pedagógicas estão carregadas de intencionalidades – no entanto, ao tratar-se da segunda, considera-se que ao articular-se teoria e prática, a atividade humana volta-se para a transformação do próprio ser humano e da sociedade (SOUZA, 2016, p. 56). Souza (2016) utiliza o Movimento Sem Terra - MST2 para exemplificar um projeto educacional e político que acaba sendo revertido em práticas pedagógicas que podem ser transformadoras. Para a autora, são por meio de processos formativos (que geram titulação) que ocorrem as experiências coletivas a partir das quais o ser humano tem a “capacidade de modificar as circunstâncias que não atendem o propósito de formação humana” (SOUZA, 2016, p. 57). Tal olhar condicionante, que caminha entre o social e acaba sendo revertido para as práticas, reproduz formatos educacionais carregados de intencionalidade para manutenção, ou não, da estrutura social a que está inserida. A Prática Educacional e a Pedagógica no Contexto Escolar Neste tópico, ocorrerá à apresentação de alguns pensamentos sobre as práticas pedagógicas que acabam por refletir no contexto escolar em que estão inseridas; e, para tanto, pretende-se apresentar o que são as racionalidades pedagógicas, pois elas acabam sendo “fundamentais à compreensão da variabilidade de interpretação do sentido de prática pedagógica” (FRANCO, 2016, p. 538). 2 Segundo informações do site do Movimento, ele está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. No total, são cerca de 350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização dos trabalhadores rurais. Mesmo depois de assentadas, estas famílias permanecem organizadas no MST, pois a conquista da terra é apenas o primeiro passo para a realização da Reforma Agrária. Disponível em: <https://mst.org.br/quem-somos/> Acesso em: 09 dez. 2020. 16 A primeira das racionalidades apresentadas será a técnico-cientifica, que apresenta como alicerce teórico o racionalismo empirista das ideias positivistas. Este entendimento parte de um ponto de vista mecanicista de mundo e, também, naturalista sobre o homem; busca, portanto, que o pesquisador ou investigador sejam imparciais, de forma a não influenciar o processo (FRANCO, 2016, p. 538). Tal vertente de pensamento apresenta-se no ensino dito “profissionalizante”, o que acaba por se refletir em práticas mecânicas, de caráter mais técnico; porém, sobre as ações pedagógicas, é necessário lembrar que o “pressuposto positivista surge para laicizar a educação, difundir os valores burgueses, organizar a estabilidade social do Estado. Carrega, também a intenção de organizar os processos de instrução com eficiência e eficácia” (FRANCO, 2016, p. 538). São por meio das questões pragmáticas que ocorrem, possivelmente, as questões democráticas e de preparo para ida social e é na escola, por exemplo que a (SOUZA, 2016, p. 50): [...] vontade do trabalhador está sob determinações da legislação, das diretrizes nacionais e dos processos de avaliação que verificam a aprendizagem por meio de testes [...]. No caso das avaliações sobre rendimento escolar que enfatizam Matemática e Língua Portuguesa, muitas instituições passam a orientar a prática pedagógica para o preparo das crianças para responder provas, o que limita o processo pedagógico do ponto de vista da formação integral, mesmo quando possibilita o aumento do IDEB, por exemplo (SOUZA,2016, p.50). Os processos que se opõem ao pensamento dito mecânico, acabam sendo realizados por movimentos e organizações sociais, que vão em caminhos que tendem a “dicotomizar” aos da instituição escolar. Como citado anteriormente por Souza (2016), o MST apresenta procedimentos queacabam aparecendo nas relações de trabalho e nos processos educativos. Assim, o processo educacional – ou, melhor, o processo de aprendizagem – passa a ser visto como político; a partir do que, assim, são traçadas metas e estratégias, dentro dos próprios movimentos, para a melhoria do processo. Nas palavras de Souza (2016, p. 50), a “ideologia passa a determinar os conteúdos da prática e da ciência é colocada a serviço de processos de transformação social ou conservação das relações sociais”. 17 A existência de um programa educativo pensado para a formação da juventude busca responder a dois problemas: o da instrução e o da educação. A racionalidade pedagógica-emancipatória, que tem como base Heráclito e Hegel, reconhece a própria realidade como dialética; sendo que, para pensadores neo- heglerianos (como é o caso de Marx e Engels), a história das civilizações concebe o conhecimento por meio de símbolos sociais. Durante o século XX foram muitas as discussões a respeito da dialética marxista – promovidas, dentre outros, por Luckesi, Althusser e Gramsci – e assim, essa linha, tende a apresentar como princípio inicial a historicidade, como uma condição para a compreensão do conhecimento. O que caminha em concordância com a concepção apresentada por Souza (2016), haja vista que a realidade se constitui num “processo histórico – atingido a cada momento, por múltiplas determinações –, fruto das forças contraditórias que ocorrem no interior da própria realidade” (FRANCO,2016 p. 539).As ações pedagógicas dessa linha emancipatória vão de encontro com a formação humana, na atualidade fortemente considerada como um ponto relevante no processo de aprendizagem; pois, é por meio dela (e não apenas dos meios avaliativos tradicionais), que podem ocorrer a superação da “opressão, submissão e alienação, do ponto de vista histórico, cultural e político” (FRANCO, 2016, p. 540). Para que isso aconteça, é necessário um olhar atento para os projetos políticos-pedagógicos, pois são eles os organizadores da esfera pedagógica de uma instituição educacional. Ao falar de práticas pedagógicas, fala-se de Pedagogia e, mais do que isso, do papel relacional dessa ciência na atividade da docência; e, sendo assim, só é possível caracterizar o conceito de práticas pedagógicas quando objetivadas a priori a concepção de Pedagogia, de prática docente e, especialmente, da mescla entre epistemologia, Pedagogia e prática docente. De acordo com Franco (2016), o professor, em sua atividade docente, deixa de lado (ou, não pratica) a sua ação pedagógica – isso, em uma prática educativa que pode, ou não, se transformar em prática pedagógica – mas, para tanto, ele necessita ter uma reflexão crítica de sua prática, e a consciência de sua intencionalidade. Sobre isso, Nadal (2016) afirma que a intencionalidade é “o amálgama da coletividade e, fundada nos pressupostos das diferentes teorias 18 que tratam da educação, exige negociação para que um grupo possa compactuar-se e associar-se quanto ao ‘o que’, ‘por que’ e ‘como’ fazer o processo educativo, conduzindo-o ao pedagógico”. Em concordância, Souza (2016) complementa, afirmando que a compreensão de prática pedagógica como “ação movida por vontade coletiva e por intencionalidade política [...] possibilita formação de sujeitos que podem descobrir-se como produtores de novas práticas, novas intencionalidades” (SOUZA, 2016, p. 47). Acredita-se com base no que foi apresentado por Souza (2016), que a intencionalidade é a base da personalidade pedagógica, e que ela é construída por meio de uma dialética crítica que busque angariar, compreender e dar uma direção ao trabalho educativo (em sua relação teórico-prática). Para que a prática docente se concretize e, também, para que haja intencionalidade, é necessário que a comunidade escolar esteja firmada em uma sólida administração escolar, a qual deve “mediar os diferentes trabalhos e objetivos para que se constitua uma unidade social em torno da definição política e pedagógica que se organiza no ‘Projeto Político-Pedagógico da escola’ (PPP)” (NADAL, 2016, p. 27). Isso será possível pelo planejamento participativo, que buscará tornar evidentes as intenções das ações pedagógicas e, sendo assim, o agente catalisador das intenções e dos objetivos das práticas pedagógicas – que deverão levar a uma reflexão e maior compreensão do contexto em que habitam, assim como do cotidiano do indivíduo inserido no processo de ensino/aprendizagem, ao qual se busca alcançar com as práticas. Considerações Finais Durante esta discussão sobre as práticas educativas e pedagógicas, no primeiro momento, evidenciou-se o que elas são e, na sequência, foram apresentados alguns dos pensamentos sobre as práticas pedagógicas, que acabam por refletir no contexto escolar em que estão inseridas. Desta forma, 19 buscou-se provocar uma discussão sobre as práticas pedagógicas no cotidiano, tanto dentro como fora do ambiente escolar. Ao fazer menção à prática pedagógica, considerou-se que ela tem sujeitos, mediações e conteúdo que podem estar no mundo escolar (ou fora dele), e podem ser utilizadas tanto para reforçar relações de dominação, quanto para fortalecer processos de resistência. Concluímos assim, que as práticas sociais, e as práticas educativas e pedagógicas, possuem relação e acabam refletindo no cotidiano dos sujeitos deste processo. Sendo assim, entendemos que as práticas pedagógicas englobam processos muito mais amplos, desde o planejamento do processo educacional, o seu desenvolvimento e até a forma que os conteúdos são apresentados aos discentes. Isso implica em elaboração de objetivos ou metas; planejamento em relação aos conteúdos que serão abordados; relacionamentos interpessoais professor- aluno e o despertar de interesse no conteúdo apresentado versus interesses técnicos ou pessoais dos discentes. O objeto dessa atividade, acaba sendo, a natureza, a sociedade ou os seres humanos reais, o fim desse processo caracteriza-se como a transformação real do mundo natural ou social para satisfação da humanidade. O resultado acaba sendo algo que altere a antiga conjectura real, apresentando uma nova realidade. Para tanto, duas questões se tornam fundamentais para a organização das práticas pedagógicas: uma delas é a articulação com expectativas de grupo e, a outra, a existência de um coletivo. Este trabalho, sendo assim, considerou que a prática vai além do planejado; mas, acredita que a organização (e o olhar pedagógico) são fundamentais para as práticas no formato emancipatório-crítico. 20 Referências FRANCO, Maria Amélia do Rosário Santoro. Prática pedagógica e docência: um olhar a partir da epistemologia do conceito. In: Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, v.97, n 247. 2016. p. 534-551. GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora UNESP, 1991. MACHADO, Viviane Guidotti. Práticas pedagógicas no curso de pedagogia: para uma relação entre teoria e prática. Tese (Doutorado). Programa de Pós- Graduação em Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017. NADAL, Beatriz Gomes. Prática Pedagógica: a Natureza do Conceito e formas de Aproximação. In. Maria Cristina Borges da Silva. (Org.). Práticas Pedagógicas e Elementos Articuladores. 1 ed. Curitiba: Universidade Tuiuti do Paraná, 2016, p. 15-37. PEREIRA, Lourdes Fátima Gonçalves. Um olhar sobre a prática pedagógica do professor do curso de administração no contexto de sala de aula. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008. SCHEUNEMANN, Rafael; CORDEIRO, Aliciene Fusca Machado. Práticas pedagógicas dos professores da sala de apoio pedagógico. In: IX Congresso Nacional de Educação- EDUCERE.Curitiba. 2013. p. 17049-17060. SOUZA, Maria Antônia. Sobre o Conceito de Prática Pedagógica. In. Maria Cristina Borges da Silva. (Org.). Práticas Pedagógicas e Elementos Articuladores. 1 ed. Curitiba: Universidade Tuiuti do Paraná, 2016, p. 38-65. 21 22 Capítulo 2 Metodologias Ativas no Ensino Público: desafios e perspectivas Maria Fernanda Ribeiro Dias Izabela Regina Costa Araujo Neiva Sales Rodrigues Maria Aparecida da Silva Alves 23 Histórico sobre Educação e as Metodologias Ativas aseado em um contexto histórico, associado ao processo de colonização do Brasil, podemos considerar a educação como evento tardio no processo de colonização. Educação nunca foi um direito de todos nesse país e durante os últimos 20 anos tem sido representada no âmbito da desigualdade social. No Brasil colonial, até mesmo a população livre tinha educação formal reduzida. A professora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz em seu livro “Autoritarismo Brasileiro” narra uma parte do histórico educacional no Brasil, baseado em fatos históricos de desigualdade social e racial. Em seu discurso, embora não houvesse, na forma da lei, algo que impedisse os escravizados de estudar, esses por motivos de evitar rebelião, eram impedidos de aprender a ler e escrever, sendo ainda podados os seus conhecimentos trazidos do continente de origem. A gratuidade da educação foi contemplada na Constituição de 1824, acrescentando-se um ato adicional em 1834, que atribuía às províncias o dever de legislar e fiscalizar o então ensino primário e secundário. Era compreensível na época aceitar o ensino primário como condição de sobrevivência dos mais pobres. Quanto ao ensino secundário e superior, cabia a classes mais prestigiosas, que posteriormente se responsabilizavam por serviços públicos e/ou de cunho intelectual. A distribuição educacional do final do século XIX dividia a população em duas partes: i) os que frequentavam a escola, em todos os seus níveis e mais tarde seriam os profissionais capacitados para o mundo do direito, da engenharia e da política; ii) a classe pobre e trabalhadora, cuja função principal era se dedicar a funções manuais. B 24 Embora hoje, no Brasil, a educação seja um direito de todos e dever do Estado, como consta nos artigos 53º e 227º do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei n.8.069, de 13 de julho de 1990) - “A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1990), não é surpreendente que no século XXI, entre a necessidade de garantia de direitos e as demandas por melhorias do processo educativo, o contexto voltado para inovação, no âmbito do ensino, estejam ainda, caminhando a passos curtos. No processo de inovação educacional, o conceito Metodologias Ativas vem tomando proporções. Dias e Volpato (2017), em seu livro sobre Metodologias Ativas, evidenciam essa temática como um dos grandes temas em educação para o século XXI. Esse mesmo livro nos traz uma reflexão sobre as divergências entre discurso e prática na educação. Nesse contexto, os autores citam Antônio Nóvoa, que em uma entrevista à Revista Nova Escola em maio de 2001, expõe seu espanto com a existência de tantos textos teóricos e metodológicos sobre ensino e pouquíssimos relatos descrevendo práticas concretas (DIAS; VOLPATO, 2017). Diante do exposto, nos colocamos a refletir sobre as reais necessidades desse capítulo e assumimos o compromisso de expor relatos de experiência sobre o ensino público, traçando um panorama em diferentes regiões do Brasil. Entendemos que esse texto se estabelece como um diálogo, estimulando propostas e questionando a função da escola enquanto fonte de transformação do indivíduo. A escola tem o papel de propor experiências e o estudante nesse cenário é peça chave para que esse processo aconteça. Atualizar as formas de ensinar e de aprender, dentro dessa realidade, constitui as metodologias ativas. De acordo com Siqueira-Batista (2009), as metodologias ativas se caracterizam por colocar o estudante no centro do processo de ensino-aprendizagem, tornando-o construtor do seu próprio conhecimento por meio de um currículo que agrega as diferentes disciplinas, permitindo que ele desenvolva um olhar amplo acerca do ser humano, nas suas relações com a sociedade e com o ambiente (SIQUEIRA - BATISTA, 2009). Nesse sentido, a palavra transformação pode ser https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1981-77462015000500117&script=sci_arttext&tlng=pt#B31 25 pensada como uma analogia entre os pilares da educação e as metodologias ativas, que abriga e acolhe a formação. Este é o ponto chave deste capítulo: a formação do indivíduo implica movimento permanente, parte da trajetória humana, e esse caminho só é possível, à luz da educação. De forma a acrescentar parâmetros sobre o papel do estudante no processo ensino-aprendizagem, Paiva e colaboradores (2016) citam como tendências do século XXI, o deslocamento do enfoque individual para o enfoque social, político e ideológico, como característica central da educação. Esse desafio converge com os quatro pilares da educação, proposto em 1998 por Jacques Delors, em um relatório intitulado “Educação: Um tesouro a descobrir” (DELORS, 1998). Esses pilares são norteadores da formação cidadã e constituem a formação cognitiva e social do estudante. São eles: i) aprender a conhecer; ii) aprender a fazer; iii) aprender a conviver; e iv) aprender a ser (DELORS, 1998). Resta-nos então, debruçarmos sobre a sala de aula - laboratório educacional - e traçarmos caminhos para representar esta evolução, que se consolida no ensino público básico e superior. Traçando um paralelo entre os pilares da educação e o conceito de metodologias ativas, vale-nos citar Antônio Carlos da Costa (1949-2011), educador e cofundador do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em seu último artigo, falando sobre os desafios do ECA até 2020, ele cita que teríamos uma década de “esperanças para nós, brasileiros”. Em seu livro “Pedagogia da Presença”, o autor enfatiza a necessidade de uma mudança na conduta dos profissionais da educação. A fala e o foco de Antônio Carlos não se destina apenas a educação básica, tampouco a crianças. Essa proposta abrange todos os cidadãos, quando entendemos a educação como um processo contínuo e cultural. Nesse contexto, discutiremos ao longo desse capítulo as diversas realidades encontradas no Brasil, expondo, por meio de relatos de experiência, o ensino básico, profissionalizante e superior, e os desafios e as glórias de ser professor em um país tão plural e desigual. Em resumo, “a educação se faz nas relações dentro e fora da escola” e inserir o aluno no centro do sistema de ensino-aprendizagem, vem sendo uma iniciativa que permeia os anos. Paulo Freire, em sua ampla experiência como educador, já falava sobre o processo de ensino, que se torna 26 ativo e coletivo, promovendo acima de tudo a interação e o diálogo. Para Freire (1987, p. 6) “ [...]não há professor, há um coordenador, que tem por respectivos funções dar as informações solicitadas pelos participantes e propiciar condições favoráveis à dinâmica do grupo, reduzindo ao mínimo sua intervenção direta no curso do diálogo”. As propostas citadas se baseiam na pedagogia crítica e contemplam educadores contemporâneos como Carlos Libâneo e Dermeval Saviani, cujo pensamento visa a educação como transformadora da sociedade. Dentre as diversas estratégias que vem sendo elucidadas para ampliar a relação professor-aluno, nos diversos níveis de ensino podemos citar: Tabela 1. Estratégias educacionais Fonte: Autoral (2021) As próximasseções apresentam o cenário atual do ensino público no Brasil, expondo realidades que permeiam as diferentes regiões do país e diversas etapas do ensino. Ensino Híbrido: metodologia que alinha aprendizado online e presencial, revelando o processo de aprendizagem como algo contínuo e associado ao uso da tecnologia. Aprendizagem Baseada em Problemas: os estudantes são divididos em grupos e são apresentados a um problema, de cunho técnico-científico. A solução e organização para resolução desse problema é debatida, e fica estabelecido um tempo para que seja elaborado. Gamificação: são jogos que simulam as mais diversas situações no ambiente, como por exemplo, gerenciamento de uma empresa ou montagem de uma fábrica. É possível ainda gerar competições entre as turmas, com o foco em habilidades referentes ao convívio. Aprendizagem baseada em projetos (ABP): foca na aprendizagem colaborativo e interdisciplinar, por meio de um processo com cunho investigativo e com tarefas planejadas, em que o produto é algo concreto. Sala de aula invertida: tem como principal objetivo estimular a autonomia do estudante, fazendo com que esse chegue em sala conhecendo o assunto a ser tratado. Desse modo, há uma inversão do modelo tradicional de ensino - o professor apresenta um material de apoio para leitura e fixação de conteúdo e posteriormente, discute e elimina as dúvidas. Aprendizagem entre pares: também conhecido como Team Based Learning (TBL), consiste na formação de duplas para construção conjunta de conhecimento e compartilhamento de ideias. Cultura maker: baseado no movimento “Do it yourself”, concentra-se em colocar o aluno como protagonista do processo de aprendizagem. Atua em conjunto com metodologias como aprendizagem entre pares e ABP. Storytelling: apresenta-se como contação de histórias, com narrativas contextualizadas, para compartilhar experiências através do lúdico e da experiência humana. Grupos interativos: baseia-se na formação temporária, de pequenos grupos, durante a aula e posterior rodízio de atividades desafiadoras. Nessa metodologia, são convidadas pessoas da comunidade escolar para participar. Essa é uma forma de trazer a comunidade para sala de aula. 27 Metodologias Ativas na Educação Básica Atualmente, o sistema educacional brasileiro está organizado em Educação Básica e Ensino Superior. A Educação Básica, fundamentada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB - 9.394/96), é estruturada em etapas, que são a educação infantil (dos 0 aos 5 anos), o ensino fundamental (a partir dos 6 anos) e o ensino médio, para os alunos que concluírem o ensino fundamental, neste se insere também o ensino médio profissionalizante. A educação infantil é o primeiro contato da criança com o ambiente escolar e tem como objetivo o desenvolvimento físico, psicológico, intelectual e social de crianças até os 5 anos de idade. Esta etapa, que pode ser oferecida em creches, pré-escolas, espaços institucionais não domésticos, em jornada integral ou parcial, complementa a formação oferecida pela família e comunidade. Na rede pública de ensino, a educação infantil, assim como a educação fundamental, é atribuída aos municípios. De acordo com dados do Censo Escolar de 2019, a rede municipal de ensino concentra 71,4% das matrículas na educação infantil e a rede privada 27,9%. Das matrículas da rede privada, 29,4% pertencem a instituições particulares, comunitárias, confessionais e filantrópicas conveniadas com o poder público. A maioria dos alunos do ensino infantil (96,8%) se concentra na zona urbana (BRASIL, 2019). O ensino fundamental tem 9 anos de duração e a matrícula é obrigatória para as crianças, a partir dos 6 anos de idade. Esta etapa é dividida em duas fases, os anos iniciais, para os alunos com 6 a 10 anos e os anos finais, para os alunos de 11 a 14 anos. No ensino fundamental, busca-se no processo educativo, o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos, para tal, o domínio da leitura, da escrita e do cálculo, além da compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da economia, da 28 tecnologia, das artes, da cultura e dos valores em que se fundamenta a sociedade, entre outros (PARANÁ, 2020). Nesta etapa, 82% dos alunos são atendidos pela rede pública. O ensino médio é a etapa final da educação básica e tem como objetivos, de acordo com os Parâmetros Nacionais Curriculares - PCNs - e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996): I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. O ensino médio é responsabilidade dos estados e a rede pública atende 87,4% destes alunos, de acordo com dados da PNAD de 2019 (BRASIL, 2019). Em todas as modalidades supracitadas, a adoção de metodologias ativas em substituição aos métodos tradicionais de ensino deixou de ser uma tendência momentânea. Essas metodologias são um conjunto de práticas pedagógicas com o intuito de adaptar a aprendizagem escolar para as necessidades e características do século XXI, o aluno é colocado no centro do processo de aprendizagem, tendo espaço para planejar seu próprio trabalho, compartilhando com o professor a responsabilidade pelo seu aprendizado. O professor, por sua vez, passa a ser um mediador da construção desse conhecimento. No ensino básico, os estudantes, por meio das metodologias ativas, manifestam seus interesses pessoais e necessidades específicas, que serão consideradas no planejamento das experiências de aprendizagem. Esse processo educacional tem como finalidade o desenvolvimento de competências e habilidades, passando a se preocupar com a formação integral dos alunos, focando não só no desenvolvimento cognitivo, como também no social, 29 emocional e cultural. As metodologias ativas também ajudam a preparar o aluno para os desafios do futuro, fazendo que o mesmo tenha autonomia de escolha, e compromisso com os pares. Para a formação primária e secundária, trabalhar somente uma metodologia de ensino, pode não atingir a todos os alunos, pois cada um tem uma forma de aprender e de elevar os seus níveis complexos de pensamento e de comprometimento. Por isso os educadores devem buscar diferentes alternativas para ensinar esses alunos, o que chamamos de formação continuada. Esse processo estimula os alunos a desenvolverem habilidades e competências que promovem a autonomia e os preparam para a vida em sociedade. Nos anos iniciais do ensino fundamental, as metodologias ativas funcionam como um veículo para a introdução dos conceitos ligados à alfabetização, cálculo, ciência e outros. A utilização de atividades ao ar livre, na educação física, por exemplo, pode contribuir para o desenvolvimento da coordenação motora, socialização e organização dos alunos. Nos anos finais, ocorre a introdução dos conceitos avançados de ciências, que abrangem física, química e biologia. Estas aulas podem ser conduzidas em laboratório, trazendo aos alunos a vivência da iniciação científica e preparando-os para o ensino médio. Uma das implementações para o ensino médio foi o programa Ensino Médio Inovador (EMI), instituído no contexto da implementação de ações voltadas ao Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE. De acordo com a portaria nº 971, de 9 de outubro de 2009, do Ministérioda Educação, a edição do Programa está alinhada às diretrizes e metas do Plano Nacional de Educação - 2014-2024 - e à reforma do Ensino Médio proposta pela Medida Provisória 746/2016 e regulamentada pela Resolução FNDE nº 4 de 25 de outubro de 2016. O Ensino Médio Inovador tem como proposta utilizar as metodologias ativas, que permitam ao aluno o exercício do senso crítico do conteúdo abordado, tendo o professor como o mediador desse conhecimento. Os estudantes são incentivados pelo processo educacional por meio do estímulo às http://educacaointegral.mec.gov.br/images/pdf/port_971_09102009.pdf http://educacaointegral.mec.gov.br/images/pdf/port_971_09102009.pdf http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=50401-resolucao-n4-nov-16-pdf&category_slug=novembro-2016-pdf&Itemid=30192 30 atividades teóricas e práticas apoiadas em laboratórios de ciências, matemática e outras ações nas diferentes áreas do conhecimento. Em uma escola de Várzea Grande em Mato Grosso, com mais ou menos 300 alunos na modalidade ensino médio inovador, os professores precisam utilizar de várias metodologias para tornar as aulas atrativas, fazendo com que os alunos possam ser críticos, tendo autonomia para o ensino aprendizagem. A metodologia Ativa permite aos professores novos caminhos para mediar o conhecimento com os alunos em sala. No ano letivo de 2020 foi utilizado o Ensino Híbrido, que permite trabalhar de forma on-line e off-line, utilizando apostilas para aqueles alunos que apresentaram dificuldades por falta do acesso à internet. Considerando que a pandemia do novo coronavírus ainda não foi contida e que há riscos inegáveis à saúde pública, o ano letivo de 2021, começa em fevereiro ainda na forma híbrida. Metodologias Ativas no Ensino Profissionalizante A Educação Profissional e Tecnológica (EPT), no Brasil, visa à preparação e manutenção da mão-de-obra especializada, por meio da educação formal, prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que pode ser ofertada tanto em instituições privadas, paraestatais, como as organizações do Sistema S, ou por instituições públicas, como os Centros Federais e Estaduais de educação. De acordo com as informações apresentadas no Censo Escolar da Educação Básica de 2019, 41,2% das matrículas do ensino profissionalizante foram realizadas na rede privada de ensino, seguida das redes estadual e federal, com 38,3% e 18,7%, respectivamente (INEP, 2020). Para os alunos que ingressam, é mais do que preparação para o mercado de trabalho. Trata-se, muitas vezes, da esperança de melhoria das condições de trabalho, de ascensão profissional e de expectativas de incremento na renda, http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L9394.htm 31 sobretudo para aqueles que não dispõe de estrutura para formação superior, seja pela urgência do seu ingresso no mercado de trabalho, seja pela dificuldade de acesso a uma vaga em universidade. Esta esperança dos estudantes é justificada pela demanda de mercado por profissionais de nível técnico e tecnológico. De acordo com o SENAI (2018), que toma como base as informações do Relação Anual de Informações Sociais (BRASIL, 2016), 43% das empresas brasileiras relatam dificuldades para preencher vagas de nível técnico, mesmo com salários atrativos, que podem superar os salários ofertados aos profissionais de nível superior. Além disso, o técnico se forma mais rápido do que os profissionais de curso superior, os cursos são ofertados com duração de 3 a 9 semestres, e os estudantes podem ingressar mais cedo, logo após a formação básica, no caso do curso integrado. Isto significa, que um estudante que se forma no ensino técnico, aos 18 anos, pode ingressar no mercado de trabalho, em funções técnicas. Em relação ao perfil destes estudantes, de acordo com o Censo Escolar (INEP, 2020), a maior parte se declara preta ou parda (50,4%), tem menos de 30 anos (78,8%), e predominam as mulheres, sobretudo na faixa entre os 40 e 49 anos (62%). O ensino técnico profissionalizante oferecido pela rede pública de ensino pode ser ofertado nas modalidades: integrado, subsequente, concomitante ou formação inicial ou continuada. Na modalidade de ensino integrado, o aluno que completou os estudos até o nono ano, pode ingressar e cursar o ensino médio ao mesmo tempo que o ensino profissional. Estes cursos ainda podem ser integrais, com aulas em dois períodos e inclusive, oferecer internato aos estudantes, no caso da rede pública de ensino, às expensas do estado. A modalidade subsequente é dedicada aos estudantes que já concluíram o ensino médio. Na educação profissional concomitante o curso técnico é articulado ao ensino médio, em projeto pedagógico unificado ou não. Cada aluno tem duas matrículas distintas, podendo ser na mesma instituição (concomitância interna) ou em instituições diferentes. Também são incluídas as turmas do Proeja Técnico concomitante. 32 Em 2019, ainda de acordo com o Censo Escolar da Educação Básica (INEP, 2020), 1,9 milhão de alunos foram matriculados no ensino profissionalizante, a maioria deles na modalidade subsequente (962.825 estudantes), em segundo lugar está o número de alunos que foram matriculados em cursos integrados (623,178 alunos). Se por um lado, alguns alunos têm pressa de ingressar no mercado de trabalho, muitos vislumbram no ensino técnico integrado uma opção de qualidade ao ensino médio tradicional, cuja oferta de disciplinas técnicas específicas pode significar um aprofundamento no conhecimento básico ofertado pelas disciplinas do ensino médio. Um exemplo é o curso técnico de eletromecânica, que oferta, além da disciplina tradicional de física, presente da grade curricular do ensino médio, as disciplinas de eletricidade e resistência dos materiais. Para muitos estudantes, este aprofundamento pode significar vantagem competitiva em concursos, processos seletivos ou provas de conhecimento, como o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, por exemplo. Tomemos como exemplo as salas de aula do ensino profissionalizante da rede estadual de ensino do Paraná, em Foz do Iguaçu, região da fronteira com o Paraguai e a Argentina, no curso de Agropecuária, integrado e integral, são observados alunos, em sua maioria, filhos de agricultores, que buscam aprofundar seus conhecimentos tácitos, com intuito de aplicá-los em suas propriedades e/ou se prepararem para um curso superior na área das ciências agrárias. Por conta dos acordos de cooperação bilateral com estes países, muitos dos alunos são paraguaios e argentinos. Estes alunos são jovens de 14 a 20 anos, em sua maioria sustentados pelos pais e podem estudar em regime de internato (morando na escola durante a semana) ou não. Na mesma cidade, em um curso noturno de técnico em segurança do trabalho abrange estudantes de 18 a 65 anos, em sua maioria trabalhadores, muitos deles desempregados em busca de novas oportunidades. Nesta classe há um servente de pedreiro, manicure, caminhoneiro, auxiliar de serviços gerais, entre outros profissionais, em atividade, inclusive de nível superior, como nutricionista e advogado. 33 Estes dois grupos exemplificam a diversidade encontrada nas turmas do ensino profissionalizante na rede pública e por eles, é possível concluir que as técnicas e metodologias de ensino podem variar muito de uma turma para outra. Em um, alunos mais jovens, com acesso à tecnologia, internet, suporte familiar para o aprendizado e do outro, alunos adultos com limitação de tempo, problemas cotidianos e em muitos casos, regressando ao ambiente escolar depois de muitos anos. Em ambos os casos, as metodologias ativas para educação podem e devem ser aplicadas para a melhoria da compreensão de conteúdo, de inserção dos alunos no ambiente de aprendizado e como base para seu entendimento nas disciplinastécnicas, nem sempre palatáveis para eles. Porém, de acordo com Gouvêa et al. (2016), na maioria dos cursos, ainda vigora o sistema tradicional de ensino, com aulas narrativas realizadas pelo professor, que utiliza lousa e giz, em uma sala de aula em que as carteiras são dispostas em fileiras, modelo no qual o professor é detentor único do saber e, muitas vezes, a ordem é mantida pela força e medo em relação às provas. Este modelo tradicional de educação pode ser rompido pelas práticas modernas de ensino, em especial porque, nas últimas décadas, a introdução de tecnologias, principalmente da internet nas salas de aula, criou um abismo entre o ensino tradicional e a forma com que os alunos aprendem. Para os alunos que cursam o ensino técnico integrado, em sua maioria mais jovens e com mais acesso à tecnologia, a inserção de aplicativos, jogos digitais - gamificação - e integração de meios digitais e analógicos para a apresentação de conteúdo constituem uma alternativa para melhoria do processo de aprendizagem. A turma de agropecuária, citada anteriormente, não apresentou qualquer dificuldade em instalar e utilizar aplicativos de celular para a medição de glebas na fazenda experimental, ou para avaliar as imagens de satélite que utilizamos para monitorar a condição da lavoura. É importante destacar, que para este tipo de atividade, o professor precisa assegurar que todos os alunos tenham as ferramentas necessárias para execução das tarefas, neste caso, um smartphone com os aplicativos necessários instalados. Estas práticas, porém, são restritas para a maioria das instituições públicas, pois demandam recursos próprios dos alunos, que, em sua maioria, têm baixo poder 34 aquisitivo. Uma alternativa é a utilização da sala de informática, presente em várias escolas. Estas salas de computadores, ou laboratórios de informática, podem ser utilizados para apresentação de ferramentas de trabalho, como programas de desenho técnico, de geoprocessamento, de cálculo, paisagismo, entre muitas outras, trazendo ao estudante, a oportunidade de experimentar a profissão ativamente, solucionando problemas relacionados ao trabalho. Além dos recursos tecnológicos computacionais, a experiência vivenciada à campo é muito importante para estes alunos. No âmbito escolar, o trabalho de campo pode ser definido como uma metodologia que engloba a observação, a análise e a interpretação de fenômenos no local e nas condições em que eles ocorrem (NEVES, 2015). Essas experiências contemplam as metodologias baseadas em projetos e metodologias baseadas em problemas, constituindo uma forma de preparar o estudante para o mercado de trabalho. Nos cursos relacionados às ciências agrárias, tais como agricultura, agropecuária, agroindústria, pesca e florestal, é indispensável o contato com os recursos naturais sobre os quais se deve obter conhecimento. O acompanhamento do manejo dos animais e da lavoura, faz com que estes alunos, além da sua capacidade técnica, desenvolvam a segurança necessária para atuação, com observação de questões reais que ocorrem no escopo do seu trabalho. Outros cursos, como o técnico em enfermagem, prótese dentária ou radiologia, por exemplo, requerem experiência preparatória sólida antes da formação ser concluída. A inclusão dos estágios obrigatórios, em todos os cursos de nível técnico e superior pode ser considerada uma metodologia ativa de aprendizagem, pois, com supervisão de um profissional mais experiente, estes estudantes são expostos às tarefas corriqueiras inerentes à sua função, são testados diariamente com novas (e reais) situações. Para Gouvêa (2016), o estágio pode ser considerado como uma metodologia ativa que incentiva a ocorrência de outros aprendizados, relacionando a teoria com a prática, integrando o saber das empresas e o das disciplinas cursadas. Assim como para o ensino técnico integrado, o subsequente também tem em sua grade curricular o estágio obrigatório, com idêntica carga horária e 35 importância. Para os cursos noturnos, porém, cujo público-alvo, em geral trabalha durante o dia, o cumprimento do estágio pode ser uma tarefa mais complicada. Em geral estes alunos aproveitam as suas férias do trabalho ou os sábados para cumprirem estes requisitos, salvo os casos em que o estudante consegue realizá-lo em algum setor da própria empresa onde ele trabalha. Além do estágio, uma ferramenta que pode ser utilizada com os alunos adultos é o estudo de caso, com a apresentação de situações reais e análise conjunta com os alunos. De acordo com Graham (2010), sua principal vantagem é adotar uma abordagem orientada para perguntas e não baseada em soluções. Para o autor, um caso deve apresentar a pergunta em contexto específico que frequentemente envolve conflito ou a necessidade de reconciliar ou equilibrar muitas variáveis. São exemplos, nos cursos de técnico em contabilidade, administração e recursos humanos, a apresentação casos concretos, sobre os quais os alunos discutem. No ano de 2020, no contexto da pandemia de COVID-19, a rede estadual de ensino do Paraná adotou o ensino remoto, por meio de aulas online, gravadas ou em tempo real. Para estas aulas, foi preciso buscar nas metodologias ativas, meios para promover discussões, a assimilação e a compreensão dos conteúdos. Uma das metodologias aplicadas a este propósito foi a da sala de aula invertida. Nesta metodologia, em situações normais, os objetivos centrais protagonizados pelo estudante ocorrem em sala de aula, na presença do professor, como mediador do processo de aprendizagem, enquanto a transmissão dos conhecimentos (teoria) passaria a ocorrer preferencialmente fora da sala de aula (VALENTE, 2014). Neste ano, porém, esta metodologia foi abordada na “sala de aula” virtual, estimulando os estudantes a buscarem conhecimentos mais detalhados sobre o tema, criando conexões com os professores durante as atividades online. Outra modalidade bastante utilizada foi a aprendizagem baseada em problemas cujo objetivo foi instigar os alunos a buscarem novas informações sobre determinado assunto e consolidarem uma solução com base em critérios técnico-analíticos. Esta metodologia proporcionou aos alunos a sensação de serem profissionalmente capazes de resolver problemas semelhantes no ambiente de trabalho, promovendo, neles, a confiança necessária para assumir 36 cargos com responsabilidade técnica. Um exemplo aplicado foi a análise de rotas de fuga, em um plano de combate a incêndio, apresentado no curso técnico de segurança do trabalho. Este tipo de atividade pode apresentar as mais diversas situações-problema, para que, em casos diferentes, o estudante construa seu portfólio de soluções, com base nas análises técnicas que foram absorvidas durante o aprendizado. Metodologias Ativas no Ensino Superior O Ensino Superior no Brasil é dividido em público e privado, com ou sem fins lucrativos. São oferecidos três tipos de graduação: bacharelado, licenciatura e formação tecnológica. Os cursos de pós-graduação são divididos em lato sensu: especialização e Master of Business Administrations - MBAs, e, stricto sensu: mestrados e doutorados (PORTAL BRASIL, 2013). A distribuição de alunos, nos ensinos público e privado, é reflexo da má distribuição de renda e infraestrutura no país, culminando em mais um marcador de desigualdade social. Rodrigues e colaboradores (2020) fazem uma análise da distribuição de internet em diferentes regiões do Brasil e citam que a distribuição espacial de características de público e recursos, relacionados a particularidades regionais é um fator determinante no estabelecimento de distribuição da educação (Rodrigues, Dias, Paiva, 2020) Em 2018, o Brasil tinha 8,4 milhões de estudantes de graduação, desses, 24,6% estavam matriculados em instituições públicas. A Síntese de IndicadoresSociais (2018), realizada pelo IBGE apontou que cerca de 36% dos alunos que completaram o ensino médio na rede pública entraram no ensino superior. Para os alunos oriundos da rede privada esse percentual foi de 79,2 %. Em relação aos cursos de pós-graduação, de acordo com dados do PNAD (2019), na modalidade lato-sensu, 88% dos alunos estavam matriculados na 37 rede privada. Dentre os alunos de especialização, tanto na rede pública, quanto privada, 68% optaram por cursos presenciais. Os alunos da modalidade stricto-sensu - de mestrado e doutorado - são em sua maioria, alunos da rede pública, e constituem a massa de desenvolvimento de pesquisas no país. Esses alunos carecem de financiamento para suas pesquisas e desenvolvimento profissional. Este financiamento, em geral, é pago pelo governo federal em forma de bolsas de pesquisa. Em contrapartida, estes pesquisadores em formação, retornam para a sociedade, conclusões e soluções científicas, de interesse público. De acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), as instituições federais, estaduais ou municipais concentram 3.703 cursos de mestrado e/ou doutorado - 80% dos 4.581 programas de pós-graduação no país (BRASIL, 2010). As metodologias ativas permeiam os tipos de ensino citados anteriormente, para que se tenha investimento no aluno como protagonista e uma educação menos tradicional (educação de bancada). Apesar de se fazer uso de metodologias ativas no ensino superior anteriormente, o atual período pandêmico foi de reinvenção. E muito deve-se ao fato de muitas destas metodologias serem utilizadas em instituições de ensino privadas com promoção de cursos na modalidade a distância (EaD), na qual itens como videoaulas, plataformas, web conferências são apresentadas ao público diariamente. Em instituições públicas de ensino superior, como é o caso das universidades federais e estaduais, as metodologias ativas que fazem uso de internet eram menos utilizadas. Porém, com o agrave e continuação da pandemia de COVID-19, professores, gestores, diretores, equipe técnica, precisaram de adaptar para que o ensino continuasse seguindo e alcançasse os alunos, ou pelo menos uma parte significativa deles. Para uso no ensino superior, várias plataformas são indicadas como Google Meet, Zoom. Além de diversas metodologias, ferramentas, recursos web, como Gamificação, YouTube, Libbgen, Roleta de sorteios, Scribd (acesso a livros e materiais), OBS (Vídeo), Shotcut e Video maker. https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/ 38 O Ensino Remoto Emergencial (ERE), como sugere o nome, veio como uma urgência, em meio ao caos em que se encontra a educação brasileira em tempos de COVID-19. Com isso tivemos, em uma universidade pública do estado de Mato Grosso, o início do Período Letivo Suplementar Educacional – PLSE, que acabou passando de breve para algo que ainda perdura, chegando- se a 4 PLSE’s, dois finalizados no ano de 2020, e dois em 2021, sendo que o último finaliza em abril de 2021, substituindo então, este conjunto de Períodos, os períodos normais presenciais 2020/1 e 2020/2. Este foi um ano extremamente complicado, que ainda não acabou, onde os professores tiveram o trabalho triplicado, pois qualquer ferramenta on-line tornou-se um local de trabalho e de atender alunos, como Facebook, Instagram e WhatsApp. As aulas que prepararam com tempo e dedicação se tornaram mais rápidas após finalizadas e trabalhosas e demoradas na preparação, pois inclui o tempo de tentativas de gravação, edição, carregamento nas plataformas, publicação nos sistemas e envio aos alunos, os quais então puderam assistir e tirar suas dúvidas em momentos ainda posteriores. As metodologias para o ensino superior precisaram trazer inovação ao mesmo tempo em que se adaptavam aos vários tipos de alunos e disciplinas ministradas. A atenção e participação do aluno foi uma das maiores dificuldades, com muitos relatos de falta de acesso à internet para aulas remotas, de trabalho fora da jornada acadêmica e problemas particulares, como financeiros e de saúde, além dos problemas corriqueiros que já se vivenciava em sala de aula, como o desinteresse e falta de dedicação dos alunos. Fernandes (2021) traz uma percepção interessante, quando aponta que diante do cenário de exceção originado na pandemia de COVID-19, é possível extrair lições da Lógica do Cisne Negro, Taleb (2015), na qual Taleb ilustra através de fato que surpreende pessoas do antigo mundo em deparar-se com o primeiro cisne negro, pois convencidas estavam de que todos os cisnes eram brancos. Evento caracterizado pela tríade: raridade, impacto extremo e previsibilidade retrospectiva, elementos presentes no atual momento, demonstrando quão limitado é o aprendizado por meio de observações ou experiências, e a fragilidade de nosso conhecimento. 39 O uso de metodologias ativas no período atual mostrou-se com uma maior dificuldade, uma vez que a participação dos alunos decaiu comparando com o período presencial, talvez pelo fato de não ser obrigatória a assistência das aulas ou mesmo participação, aliado ao nível ainda baixo de conhecimento em informática e ambientes virtuais. As atividades de pesquisa e elaboração de modo assíncrono foram mais vantajosas, ficando o aluno mais responsável por sua própria aprendizagem. Considerações Finais Considerando o contexto da educação pública no Brasil, desde o ensino básico até o ensino superior, passando pelo ensino técnico profissionalizante, é possível observar que as metodologias ativas são necessárias em todos estes estratos. Embora muitas modalidades careçam de melhoria em estrutura e recursos humanos, como formação contínua para os professores, no ano de 2020, devido à pandemia da COVID-19, as metodologias ativas estiveram em foco. Esta foi uma das medidas que minimizou os impactos da pandemia em termos educacionais. Esse processo, porém, não minimizou os níveis gritantes de desigualdade social do país, fato que pode ser observado quando comparamos os diferentes perfis dos estudantes nas diferentes regiões do Brasil e nas diversas modalidades de ensino. Torna-se evidente, no Brasil, o abismo social que separa, principalmente alunos de escola da rede pública e privada e, evidencia, dentre os alunos da rede pública, as diferenças entre os públicos de cada etapa. No processo de inclusão digital, estas diferenças, se constituem como desafios aos educadores, que mesmo em situações precárias, trabalham visando minimizar os prejuízos causados pelo distanciamento da sala de aula. Os professores, embora com diversas restrições técnico-orçamentárias, buscam apresentar aos alunos, formas inovadoras de ofertar o conteúdo e promover a sua internalização. O ensino público de qualidade, portanto, além de ser um direito fundamental de todo cidadão brasileiro, deve, de fato, ser 40 transformador na sua vida, e para isso, os educadores podem e devem buscar nas metodologias ativas, melhores técnicas para que esta transformação se cumpra. As vivências experimentadas por professores e estudantes, ao longo de 2020, serviram como pontapé inicial para uma jornada de mudanças significativas no sistema educacional de ensino, principalmente no âmbito da alfabetização digital, contemplando tanto alunos quanto professores. 41 Referências BRASIL. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2019. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9171-pesquisa- nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-mensal.html; Acesso em: 20 jan. 2021. BRASIL. 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Para isso, optou-se como metodologia de pesquisa a revisão de literatura relacionada ao tema. Para calçar as reflexões aqui apresentadas, utilizou-se o conceito de prática pedagógica apresentado por Souza (2016) e Franco (2016) aplicado ao método de ensino utilizado pelos docentes durante o processo de ensino aprendizagem. Além disso, buscou-se apresentar o conceito de metodologia ativa apresentado por Gadotti (2000), com foco no aluno. Para alcançar o objetivo proposto, dividiu-se o trabalho em dois momentos, sendo que no primeiro apresentar-se-á uma discussão sobre as práticas pedagógicas e seus métodos no ensino superior. Logo após, objetivou- se apresentar caminhos para a utilização de metodologias ativas na modalidade educacional. Práticas Pedagógicas como Metodologia Ativa: breve discussão Nota-se diariamente o uso de novas tecnologias no cenário mundial, este cenário pode ser observado tanto em empresas, nas residências e concomitantemente nas instituições de ensino. A celeridade das informações é apresentada de forma ágil e dinâmica, e esse processo acaba por influenciar o modelo educacional, mostrando que estratégias e procedimentos pedagógicos O 47 acabam por ser classificadas como inovadoras e/ou ultrapassados. Muito se comenta sobre o uso das tecnologias em sala de aula, mas a pergunta que deve ser feita é se elas são realmente utilizadas de forma correta. As tecnologias em sala de aula muitas vezes se apresentam mescladas