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1 USO DE GEOTECNOLOGIAS PARA MAPEAMENTO DE ÁREAS DE CONFLITO AMBIENTAL: ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APPS) DE MATAS CILIARES NO MUNICÍPIO DE ITORORÓ-BA Danusa Oliveira Campos 1 Claudia Mendes Cordeiro 2 1 Geógrafa - Doutora em Desenvolvimento e Meio ambiente PRODEMA/UESC- Professora da Faculdade Madre Thaís, Ilhéus - Ba danusacampos@gmail.com 2 Geógrafa - Doutoranda em Geografia – Universidade Federal de Minas Gerais - Professora do Instituto Federal da Bahia Campus Eunápolis - Ba mendesclaudia@hotmail.com Resumo: O município de Itororó localiza-se no Território de Identidade do Médio Sudoeste Baiano (SEPLAN,2014), região vizinha a dois centros de desenvolvimento econômico, região de Ilhéus e Itabuna e Vitória da Conquista, sendo assim, um importante eixo de circulação na rede urbana regional. Possui uma área de 313.589 km 2 e uma população de 19.914 habitantes (IBGE, 2014). A origem do município liga-se diretamente às atividades de degradação dos ecossistemas florestais do bioma predominante na área - Mata Atlântica - nos idos de 1992 (IBGE, 2014). A partir desta data, a substituição da mata foi rápida cedendo lugar a grandes áreas de pastagens com a introdução da pecuária bovina de corte, fato que transformou a mata, restando hoje poucos fragmentos isolados e paisagens degradadas e em desconformidade legal para a conservação dos ecossistemas. O município figura-se como uma região de transição entre o bioma Mata Atlântica e a mata semi-decidual que bordeja as áreas da Serra do Marçal em sentido Vitória da Conquista. O seu relevo é ondulado (Domínio dos Mares de Morros) podendo apresentar vertentes íngremes e outras de média declividade que no geral facilitam a presença do gado, ao mesmo tempo que aumenta os fatores erosivos e de degradação dos solos. As áreas das propriedades agropecuárias privadas dominam mais de 35.000,00 ha (IBGE, 2014, SEI, 2013) com processo de incremento. A consolidação da cultura gera uma problemática refletida na dificuldade, a curto prazo, de inserção de novas atividades econômicas que possam minimizar danos ambientais. O objetivo deste trabalho é mapear as áreas de conflito ambiental nas áreas de APP (Área de Preservação Permanente) das matas ciliares do município de Itororó-Ba para que possam subsidiar a gestão ambiental municipal no que concerne a adequação ambiental rural das propriedades frente às demandas ambientais. Utilizou-se como procedimentos metodológicos classificação supervisionada de imagens de satélite disponibilizadas pelo Google Earth para obter o uso da terra, mapear as APPs e as áreas de conflito ambiental segundo os códigos florestais brasileiros (1965, 2012). Após a análise pode-se concluir que o uso de imagens gratuitas, de boa resolução e fácil acesso associado ao mapeamento histórico das áreas de APPs mostraram-se aplicáveis para a gestão de áreas que apresentam conflito ambiental. Os resultados mostraram que dos 331,9 Km 2 do município, apenas 2,13% estão protegidas sob forma de APPs matas ciliares. Uma análise do uso da terra destas APPs evidencia que 71,4% de sua área encontram-se desmatada, necessitando, portanto, se adequar à legislação ambiental. PALAVRAS-CHAVE: análise da paisagem, SIG, uso da terra, conflitos ambientais. mailto:danusacampos@gmail.com 2 1. Introdução e fundamentação teórica O bioma Mata Atlântica presente em quase toda a extensão litorânea do Brasil encontra-se reduzida a apenas 7%. Reconhecida como hotspots de biodiversidade em todo mundo compreende apenas 1,4% do planeta e contém 60% da diversidade de espécies terrestres (CPEF, 2002). Este bioma é um dos 25 reservatórios de fauna e flora mais ricos, ameaçados que abriga espécies endêmicas. Apesar da importância, pouquíssimos fragmentos de mata estão protegidos sob o regime de unidades de conservação, a maioria está sob grande pressão da atividade humana. A degradação advinda da pecuária ocorre significativamente numa longa parcela da região sudoeste do Estado da Bahia e dentre estas áreas Itororó destaca-se, apresentando inúmeros problemas ambientais que derivam do alto índice de desmatamento decorrente da principal atividade econômica desenvolvida na região, a pecuária. Esta atividade ocupa também as Áreas de Preservação Permanente (APPs), principalmente das localizadas nas matas ciliares, que somadas ao avanço da urbanização das pequenas e médias cidades desta região alteram a condição ambiental dos sistemas ambientais, realidade complexa, difusa desta e muitas áreas do país. As APPs têm a função de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (MMA, 2011). O primeiro grande fundamento teórico ampara-se nos critérios definidos pela Lei maior de gestão dos espaços agrários e de gestão das florestas - o código florestal. Este pelo seu caráter de Lei, orienta o seu cumprimento pelo Estado e grupos sociais das determinações nela contida sob pena de responsabilização civil. O novo código Lei 12.561/2012 aprovada em 17/10/2012 além de 32 alterações feitas no antigo código - Lei 4.771/65, insere algumas ações novas que podem alavancar as políticas e efetivar ações para a proteção do meio ambiente no Brasil, com destaque para algumas: isenção de multas para quem recuperar às áreas degradadas constantes na norma, com alteração no crédito ambiental para aqueles que recuperarem suas áreas em até 05 anos; recomposição da matas ciliares em pequenas propriedades de acordo com a largura do rio, criação do cadastro ambiental rural (CAR), manutenção APPs e RLs (Reserva Legal). Diretamente relacionadas à proteção das APPs, grande parte dos ambientalistas consideraram retrocesso no que concerne aos critérios de dimensionamento da área de proteção que a partir do novo código passou a ser a calha principal do rio e não seu leito maior. Com isso perde- se grandes parcelas de áreas que deveriam ser repostas e/ou regeneradas, haja vista que nas áreas de plantations, perímetros irrigáveis e pecuária, poucos se vê de matas ciliares em APPs contíguas criando zonas e ou corredores aptos à manutenção das condições ecológicas/ambientais. Neste aspecto, no que concerne a gestão de APPs em áreas agropecuárias privadas, a grande esperança reside na implementação efetiva do cadastro ambiental rural e na consolidação de políticas de fiscalização da ação, uma vez que, dada a dimensão das áreas de cultivo e o baixo nível de integração de informações ambientais em escala passíveis de monitoramento e gestão, corre-se o risco de não se efetivar tal proposta e/ou efetivá-la sem a efetiva inclusão de informações ambientais condizentes com a realidade ambiental dos lugares. Destaca-se aqui a importância do trabalho conjunto entre os órgãos ambientais públicos. O quadro abaixo compara especificamente para a APP com o dimensionamento de proteção no antigo e no novo código florestal. A proposta de ordenamento advinda dos códigos florestais e outras matérias legais em si produzem na sociedade conflitos na medida em que restringem o uso sem controle para novos usos passíveis de controle ambiental, planejado e sistemático do meio. A Lei impõe normas e critérios de conservação/preservação dos ecossistemas que nem sempre são simples de serem incorporados. Esses podem ser custosos (regeneração/recuperação de áreas degradadas), necessita-se de conhecimentos técnico-científico para manejo e até mesmo uma reconstrução (por vezes 3 processual) do conceito de ambiente para a população envolvida, no que diz respeito à relação impacto versus dano. Quadro 01- Comparação dos critérios para delimitação das APPs matas ciliares das leis federais 4.771/65 e 12.561/2012. LEI 4.771 E MODIFICAÇÕES (REVOGADA EM MAIO DE 2012) LEI12.651/2012 COM AS MODIFICAÇÕES DA LEI 12.727/2012 a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será: I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: 1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura; 1 - 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; 2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; 2 - 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; 3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; 3 - 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; 4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; 4 - 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; 5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; (Incluído pela Lei nº 7.803/89) 5- 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais; Idem Os limites para lagoas e lagos naturais estavam na Resolução CONAMA (303/2002) que apresentava a seguinte redação: a) trinta metros, para os que estejam situados em áreas urbanas consolidadas; a) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas; b) cem metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d´água com até vinte hectares de superfície, cuja faixa marginal será de cinquenta metros; b) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros; c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803/89. IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros; Fonte: Weigand (2012). No geral, os conflitos surgem principalmente ligados à demanda de uso dos recursos naturais. Desta forma, a clareza quando ao conceito de conflito ambiental, ou conflito socioambiental se faz necessária para melhor delineamento metodológico da proposta que está apresentada - mapeamento dos conflitos em APPs - uma vez que estes se diferenciam de acordo com a opção teórica e as construções simbólico/territoriais de cada espaço pela sociedade usuária. No âmbito internacional, a discussão de conflitos socioambientais é destacada nas abordagens de Lebiszewski (1992), Turner (2004) e Ruiz (2005). Para Lebiszewski (1992) conflitos socioambientais são gerados quando envolve a escassez de recursos naturais, causando assim desequilíbrios entre a exploração e a reposição dos recursos naturais. Já Turner (2004) entende o conflito ambiental não só pela relação de escassez, mas pelo uso que se faz destes recursos. Ou seja, a ação predatória gera desequilíbrios entre a oferta e a procura de bens naturais e esse estresse ambiental associado a competições pode gerar até mesmo conflitos armados, conforme presenciamos em várias partes do mundo. No Brasil, as teorias sobre conflitos socioambientais afinam-se com as internacionais, destacando as contribuições de Ribeiro (1995), Carvalho & Scotto (1997), Little (2001) e Acselrad (2004). 4 Ribeiro (1995) considera o ambiente natural como um bem coletivo onde atores com diferentes interesses se apropriam do espaço para alcançar objetivos socioeconômicos. Esses conflitos associam impactos diretos e indiretos de determinadas das atividades gerando impactos negativos como degradação e desequilíbrio, ameaça à integridade física dos ecossistemas (bens coletivos) e dos recursos naturais escassos, extinção de espécies e da biodiversidade. Neste contexto, a proteção ambiental pode vir tanto para solucionar um conflito quanto para causá-los se não houver um processo de mediação entre usuários/Estado e uma construção educativa no processo de assimilação do conceito de conservação. Para Carvalho e Scotto (1995) conflito ambiental reflete a luta entre interesses opostos, pensando-o como uma disputa pelo controle dos recursos naturais e uso do meio. Já para Little (2001), os conflitos socioambientais podem ser entendidos como disputas entre grupos sociais através das diferentes apropriações e relações por eles mantidas com seu meio natural, incluindo tanto a dimensão material quanto simbólica. De acordo com os objetivos deste trabalho, foi utilizado o conceito de conflito na perspectiva de Ribeiro (1995) por relacionar-se ao contexto do espaço em análise: área degradada do município de Itororó com demandas econômicas diversas e alto índice de degradação da paisagem, principalmente dos recursos hídricos. A aplicabilidade das geotecnologias para estudos de APPs em áreas de conflito ambiental tem sido utilizada no Brasil com êxito uma vez que as técnicas de sensoriamento remoto aliado às análises espaciais (dados vetoriais) em SIG (Sistema de Informação Geográfica) auxiliam na identificação precisa das demarcações legais até mesmo nas áreas de grande complexidade (SAMPAIO, 2007; ROVANI e CASSOL, 2012; NASCIMENTO et al., 2005) sendo assim, uma ferramenta imprescindível para estudos de gestão ambiental dentro das novas demandas da legislação de proteção ambiental (novo código florestal) e dos estudos integrados para a gestão ambiental do território. Sampaio (2007) realizou estudo de análise ambiental de conflito das áreas de APPs e uso do solo na Bacia hidrográfica de Vargem das Flores (MG), utilizando ambiente de geoprocessamento. O mesmo utilizou mapas hipsométricos, de declividade, hidrografia e dados de sensor Landsat ETM+ banda 08. Realizou cruzamento do uso do solo extraído da imagem com as áreas de APPs trabalhadas nos mapas temáticos. A partir daí, correlacionou variáveis e criou mapa de conflitos de uso do solo considerando áreas conflitantes, sem conflitos e conflito com atenção especial. As áreas conflitantes abrangeram as áreas que foram definidas como APP pelo código florestal/Conama 303 e as coberturas antrópicas (solo, exposto, área urbana); as áreas sem conflito incluíram as áreas de APP mais as áreas de cobertura florestal (neste caso aparece o cerrado e outros fragmentos de mata) e os conflitos com atenção especial, os cursos d´agua e represas associados às manchas urbanas e solo exposto. O estudo mostrou que a adoção do SIG permitiu o tratamento e cruzamentos dados necessários ao mapeamento das APPs e das áreas de conflitos. A imagem Landsat ETM + 8 permitiu a classificação em 07 classes auxiliando a separação entre as manchas de cerrado e mata. A validação de campo com o uso de GPS mostrou-se necessária e eficaz no processo de classificação e caracterização. No estudo específico para as APPS dos topos de morros o autor indica o cumprimento ipsis litteris da resolução CONAMA, salientando o uso das cotas altimétrica mínima e máxima para o cálculo das APPs, tendo em vista que o critério de mapeamento pela bacia não cumpriu bem os requisitos legais, normativos e técnicos. A inclusão do mapeamento das sub- bacias como critério principal maximizou as áreas de APPs de topos de morros. O autor chama a atenção quanta a escolha da base de hidrografia que deve ser utilizada no mapeamento, pois em muitosmunicípios há erros no arquivo vetorial o que, na sobreposição, gera erros e afeta diretamente a quantificação das áreas de uso. Desta forma, sugere o uso de Imagens do Google Earth para atualização com checagem de campo e (georrefenciamento). Por fim Sampaio 5 (2007) concluiu que o geoprocessamento é uma importante ferramenta para análise e determinação das áreas de APPs e delimitação de conflitos. Rovani e Cassol (2012) analisaram conflitos de uso em APPs através da análise temporal (anos 2000 e 2010) com ferramentas de geoprocessamento (linguagem espacial LEGAL) e representação temática no modo de implantação zonal e a variável cor. A base legal (código florestal e Conama 303) subsidiou a definição das áreas de APPS somadas com os usos extraídos da classificação imagem. Consideraram também declividades acima de 25º no intuito de detalhar as áreas de proteção de topos de morros. Os resultados demostraram adequação das ferramentas de geoprocessamento para definição de áreas de conflitos com destaque para as transformações na paisagem advindas do mapeamento de usos na escala temporal. Outro trabalho de destaque é de Nascimento et al. (2005) que utilizaram o geoprocessamento na identificação do uso da terra em áreas de APP na bacia hidrográfica do Rio Alegre - ES com o intuito de elaborar um mapa de uso da terra utilizando geoprocessamento. Com base nas imagens de satélite IKONOS II, delimitação automática das áreas de APPs, Sistema de posicionamento global diferencial (DGPS) e global (GPS) para aferição de pontos de controle e aferição para classificação supervisionada somadas aos critérios legais, os autores utilizaram o Modelo Digital de Elevação Hidrologicamente Consistente (MDHEC) método de Ribeiro et al; (2002) que permitiu análises pormenorizadas das áreas de APPs para fins de planejamento. A delimitação automática das Áreas de Preservação Permanente mostrou-se muito eficiente gerando informações precisas sobre as suas dimensões e distribuição espacial. Diante do contexto, este trabalho objetiva mapear as áreas de conflito ambiental nas áreas de APP (Área de Preservação Permanente) das matas ciliares do município de Itororó-Ba para que possam subsidiar a gestão ambiental municipal no que concerne a adequação ambiental rural das propriedades frente às demandas ambientais. 2. Método e Técnicas 2.1. Área de estudo Itororó localizado no sudoeste da Bahia possui uma área de 331,9 Km². Estudos realizados pela IESB (2007) mostram que a vegetação nativa característica são as florestas Ombrófila Densa, Estacional Semidecidual, Estacional Decidual e Decidual Mista pertencentes ao bioma Mata Atlântica. Atualmente a fitogeografia deste município encontra-se composta por fragmentos de floresta Ombrófila Densa, pastos e agrosistema “cabruca”. O clima desta região vai de seco à subúmido, com uma temperatura média de 23,7°C e pluviosidade de 767 mm anuais. Os principais tipos de solo encontrado em Itororó são os Chernossolos Háplico e os Argissolos Vermelho-Amarelos que aparecem associados aos Cambissolos (CAMPOS, 2003). O relevo apresenta serras e Maciços Pré-litorâneos, Depressão de Itabuna-Itapetinga, Piemonte Oriental do Planalto de Vitória da Conquista. A composição geológica do município é constituída por gnaisses charnockíticos, biotita-gnaisses, gnaisses metatexistos, quartzo-feldspático (SEI, 2003). Este município é banhado pelo rio Colônia, um dos principais afluentes da bacia do rio Cachoeira, possui extrema importância pra região (SEI, 2003). Tem no seu percurso o sentido oeste-leste e sudoeste-nordeste, com o padrão geral dentrítico. Segundo Brasil (1981) apresenta trechos retilíneos, vales com fundos colmatados e há formação de rápidos nos terraços. 6 2.2. Metodologia As delimitações das APPs das matas ciliares foram feitas com o módulo Analyse Spacial através do comando buffers, com base nos critérios estabelecidos pelas Leis Federais de nº 4.771/65 (BRASIL, 1965) e 12.651/12 (BRASIL, 2012). A delimitação das APPs das matas ciliares foi feita com o módulo Analyse Spacial através do comando buffers, com base nas Leis Federais de nº 4.771/65 (BRASIL, 1965) e 12.651/12 (BRASIL, 2012) nos critérios estabelecidos pelo Código Florestal que determinam 30 metros para rios de até 10 metros, 50 metros de 10 a 50 metros e 100 metros para rios acima de 50 a 200 metros. O mapeamento do uso do solo das APPs matas ciliares do município de Itororó foi realizado com base na metodologia proposta por Moreira (2011), que usou as imagens de alta resolução espacial obtidas do Google Earth e técnica de interpretação visual descrita. Foram ainda utilizados pontos de controle obtidos em campo com o auxílio do GPS (Global Positioning System) para averiguar a assertividade da classificação e caracterização da paisagem. Para identificação as áreas que apresentam conflito ambiental em seu uso nas áreas destinadas à preservação permanente foram sobrepostas às informações do mapa de uso e ocupação da terra produzido ao mapa com as APPs resultando no mapeamento das áreas que deveriam estar protegidas, mas encontram-se degradadas. Os dados temáticos (hidrografia e rodovia) do município de Itororó foram obtidos das bases cartográficas das folhas de Poções (SD-24-Y-B-IV), Itajú do Colônia (SD-24-Y-D-II), Ibicaraí (SD- 24-Y-B-V) e Itapetinga (SD-24-Y-D-I) publicadas pela SUDENE em 1977. O processamento dos dados digitais obedeceu ao sistema de projeção cartográfica UTM, zona 24, datum WGS84 e escala de 1:100.000. Todos os dados foram processados e analisados com o uso do programa ArcGIS 9.3 e seus aplicativos. 3. Resultados e Discussão A classificação da imagem possibilitou a distinção das áreas de mata (mata em estágio avançado, médio e inicial de regeneração) e pasto (pasto, agricultura e áreas abertas) nas APPs analisadas. As informações geradas mostram que 1.137,45 ha do município deveriam permanecer protegidos em forma de APPs matas ciliares, entretanto, 88,5 % estão sob pastagens, necessitando de adequação à legislação ambiental (ver figura 1). A pecuária extensiva nesta região iniciou no século XVIII (SOUZA, 2009) e desde então o uso intensivo desta atividade sem manejo apropriado acabou degradando os solos, como consequência, os proprietários a abandonam as antigas áreas de pastos degradados e muitas vezes erodidos a procurarem novas áreas para implementação da pecuária. Durante décadas este município teve como atividade principal a pecuária de pasto, com atividades de subsistências secundárias. Segundo Silva et al. (2011) os pastos desta região são constituídos por capins colonião (Panicum maximum Jacq.), sempre-verde (Panicum maximum Jacq. var. gangyloides Doell.) e angolinha (Brachiaria mutica (Forsk) Stapf.) nas áreas mais úmidas e o braquiária decumbens (Brachiaria decumbens Stapf.) em áreas de sucessão, mais desgastadas. Outro aspecto a ser ressaltado é que o rio Colônia, principal afluente que banha o município, apresenta raros trechos com faixa de mata estabelecida pelas leis federais do Código Florestal brasileiro, entretanto, estas são matas raleadas com forte intervenção antrópica (Figura 2). 7 Rio Colônia Figura 1 – Mapa de uso das APPs de matas ciliares do município de Itororó- Ba, Brasil. Fonte: dados da pesquisa (2015). Figura 2 – Trecho da Área de Preservação Permanente da mata ciliar do rio Colônia, município de Itororó. Fonte: Google Earth (2014) A maior parte das APPs de matas ciliares de Itororó não apresentam mata preservada na largura prevista pelo código florestal e portanto não podem executar de maneira eficiente os 8 serviços ambientais essenciais ao meio ambiente prestados pelas matas, interferindo na qualidade da água da bacia hidrográfica do rio Colônia (Figura 3). Esse serviço ambientalprestado pelas florestas na proteção dos recursos hídricos foi pontuado no The International Year of Freshwater (IYF, 2003) e Third World Water Forum (Kyoto - Japão, 2003). Estes eventos avançaram na incorporação desse novo entendimento das interações biofísicas entre florestas e água ressaltando a necessidade de uma visão holística para compreender as interações entre água, floresta, outros usos e fatores socioeconômicos em bacias hidrográficas. A relação entre florestas e água tem recebido atenção crescente e é um componente importante na Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO, 2006). No Brasil, além do Código Florestal aqui analisado a Resolução CONAMA 303/2002, traz obrigações legais que objetivam a preservação das florestas e corredores ecológicos como forma de perpetuar o fluxo gênico e a conservação dos recursos hídricos e das funções ecológicas. Ainda, há a Política Nacional de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente que mostra a necessidade de analisar a paisagem identificando as áreas críticas nas bacias hidrográficas com a finalidade de assegurar a conservação dos recursos naturais (MMA, 2002). Alguns trechos dos afluentes que banham Itororó apresentam pontos de assoreamentos, como consequência do intenso desmatamento nas APP analisadas. Dentre os impactos negativos gerados pelo desmatamento Braga (2006) pontua alterações na qualidade da água pelo aumento da turbidez, eutrofização e assoreamento dos rios (PADOVESI-FONSECA, 2010; GERMER, 2010; FERNANDES et al., 2011); ainda, pode ocorrer alteração do deflúvio com enchentes nos períodos de chuva e redução na vazão de base quando das estiagens. Desmatamento de grandes áreas podem ocasionar mudanças micro e mesoclimáticas; piora da qualidade do ar em função da redução da fotossíntese e aumento da erosão eólica; redução da biodiversidade em decorrência da supressão da fauna e flora local; poluição hídrica em função da substituição da floresta por atividades agropastoris, urbanas e industriais (FIGUEIREDO, 2009; 2010). . Figura 3 – As setas indicam trechos de matas ciliares desmatadas no município de Itororó. Fonte: Google Earth (2014). 9 As áreas de conflito ambiental mostram que nesse município os processos de antropização acabaram comprometendo principalmente os recursos hídricos. O solo exposto também está presente nas áreas de conflito ambiental, necessitando, portanto, de uma atenção especial. Diante do exposto a configuração ambiental de Itororó apresenta bastante fragilizada ocasionada pelo uso inadequado dos recursos naturais resultando em impactos ambientais negativos como processos erosivos e assoreamento de afluente, lançamento de esgotos in natura, problemas os quais foram constatados nas visitas de campo neste município. O levantamento das áreas prioritárias a conservação da mata Atlântica em Itororó mostrou que grande parte das áreas consideradas de preservação permanente apresentam conflito em seu uso isso evidencia que apesar da legislação oferecer ferramentas para a conservação dos recursos naturais elas não são aplicadas. Outro agravante é que as áreas de mata aparecem como manchas de mata totalmente isoladas umas das outras. Se não foram tomadas medidas drásticas urgentes na conservação dessas remanescentes e dos recursos hídricos do município, teme-se em curto prazo uma total e irreversível degradação do espaço, com uma invasão do ecossistema caatinga, ou mesmo desertificação, declínio dos solos que se tornar impróprio a qualquer atividade agrícola, mesmo a pecuária, e secas intermitentes. 4. Conclusões Os resultados mostram que dos 331,9 km 2 das áreas de mata do município, apenas 1,43% estão em APPs. Uma análise do uso da terra destas APPs evidencia que 88,5% de sua área encontram-se desmatada, necessitando, portanto, se adequar à legislação ambiental. O uso de sensores mostrou-se adequada para estudos de adequação ambiental através da inserção das variáveis selecionadas. No entanto, sua difusão enquanto ferramenta de gestão deve ser mediada pela transferência de tecnologias mais viáveis para a prática do cotidiano do grande proprietário (e da prefeitura) que poderá criar parcerias e compartilhar informações utilizando-se da base de dados do cadastro rural, instrumento normativo que auxiliará na resolução de tais problemáticas. A degradação das faixas de proteção em áreas altamente degradadas e com uso intensivo e com atividade com alto grau de impacto podem dificultar o processo de regeneração florestal com rebatimentos direto na dinâmica do sistema ambiental, principalmente no que se refere a manutenção hídrica. 3. Referências BRASIL. Medida Provisória. MP nº 571 de 25 de maio de 2012. BRASIL. Código Florestal. Lei n° 12.651 de 25 de maio de 2012. BRASIL. Código Florestal. Lei n° 4.471 de 15 de setembro de 1965. BRASIL. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. População, Economia, Cidades. Disponível em < http://www.ibge.gov.br>. 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