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Frédéric Barbier História do L&ro Tradução: Valdir Reitor Barzotto(coord., rev. técnica e trad.) Ercilene Mana de Souza Veta(rev. téc. e trad.) Andreza Roberta Rocha Fábio LucasPierini Luzmara Curcino Ferreiro Sidney Barbosa r ! r - edibrw - São Paulo 2008 l b r © Copyright by Armand Colin 2001 «Ouvrage publié aves le concours du Ministêre français chargé de la Culture -- Centre National du Livre>> Sumário Editora responsável Adélia Morta Marçano da Silvo Ferreiro Apresentação. Advertência . . 13 15 17Tradução Valdir Heitor Barzatto(coord. rev. técnica e traí.} Ercf/ene Marca de Souza Vila (rev. téc. e traí) Andreza Roberta Rocha Fábio Lacas Pierini Luzmara Curcino Ferreiro Sidney garbosa Introdução l Etimologia lárin .. .......................... bro HHgPPPF HHHUHUUPn Ha aHPHFPPHnn 17 18 20 21 22 3 Histórias de livros 2 Definições Capa e Diagramação AIPha Design www.alPhadesign.com.br 4 Perspectivas Nota de vocabulário Primeira Parte o tempo do manuscrito B191 Barba.er. Frédéric Hi.stória do livro. / Fréderlc Barba.er. Coordenação, tradução e revisão técni.ca de valdir Hei.tor Barzotto e outros. - São Paulo: Paulistana. 2008 475 P Infothes Informação e Tesauro Capítulo l A invenção da escrita. O livro na Antigüidade l Como a escrita apareceu e evoluiu? 1.1 As primeiras escritas..... 1.2 A escrita alfabética grega e latina ... 1.3 Conseqüências da invenção do alfabeto -- 27 27 .29 33 27 Tradução do original Hi.stop.re du li.vre Pari.s Armand Cola.n, 2001 ISBN 978-85-99829-24-0 2 A Antigüidade 2.1 0 uoZumen . 2.2 Copiar ... 2.3 Ler..... o tempo dos rolos. 33 33 34 .36 1. Livro. 2. Escrita. 3. Impresso. 4. Imprensa. 5. História do Livro na Idade Antiga. 6. Hi.stóri.a do Li.vro na Idade Médi.a. 8. História do Livro na Idade Moderna. 8. Hi.stóri.a do Li.vro na Idade Contemporânea 9. Históri.a do Livro no Século XX]. ]. Títu]o. ]]. Barzotto. Va].di.r Hei.tor, Coord. 111. vi.ta, Era.Iene Mana de Souza, Trad. IV. Rocha Andrezza Roberta, Trad. v. Pi.erini, Fábi.o Lucas, Trad. vl. Ferreira. Luzmara Cura.no, Trad. VII. Barbosa, si.dney, Trad 3 Produção e difusão dos livros no Império Romano 3.1 Editar ......----- 3.2 Vender. 37 37 39 41 41 .44 CDU CDD 002:93 002 4 Bibliotecas 4.1 0 sonho de Alexandria 4.2 As bibliotecas romanasCatalogação elaborada por Wanda Lucra Schmidt CRB-8- 1922 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer processo eletrõnico, mecânico ou fotográfico. incluindo fotocópia, xerocópia ou gravação, sem a autorização prévia e escrita da Editora. Capítulo 2: Da alta Idade Média à época carolíDa alta Idade Média à época carolíngia 51 A revolução do Codex ----,...------ 1.1 A minúscula.. 1.2 0 Codex 1.3 Generalização do Codex 1.4 Conseqüências da invenção--. 51 51 52 53 .54 ro HHP P a pHHPHPPPP pnP HPHHPHHFPPP rlç noo BP PPPPPnPPnaOPPOPUouPPPPHPPnP0 uOP 2 A Igreja Primitiva e os livros 2.1 A herança antiga ....... 2.2 A Igreja Primitiva .... 2.3 Primeiras bibliotecas cristãs 55 55 56 57Todos os direitos desta edição reservados à ?buÜóü«"-, - edíbru - 3 0 monaquismo 3.1 0 monaquismo oriental 3.2 No Ocidente 59 59 .60 62 62 63 Editora Paulistana Ltda. Rua Artur de Azevedo, 2.100 sala 3 Pinheiros 05404-005 São Paulo-SP [2008] www.editorapau listana.com.br 4 A renascença carolíngia 4.1 A renouatío ímPerí 4.2 A reforma dos livros . 3l K Capítulo 2 Da alta Idade Média à época carolíngia l A revolução do Codex 1.1 A minúscula O alfabeto latino se apresenta a princípio numa escrita monumental lapidar, em maiúsculas: sem basez nem planos que se opõem aos traços. O modelo perfeito é aquele das inscrições da coluna Trajano em Romã(113 a.C.), construída pelo imperador no centro das bibliotecas romanas e que desenrola de alto a baixo dois ooZumina ilustrando os feitos de armas do soberano.s Uma vmiante é a escrita que se observa sobre as inscrições nos muros de Pompéia Jlséculo l a.C.), e que foi designada como a 'rústica': as letras são mais estreitas e possibilitam que se erga a mão menos seguidamente durante a escrita. Essa escrita será utilizada para os títulos de certos manuscritos até a baixa época carolíngia(século X). Uma ruptura cronológica maior tem lugar no século l a.C., quando a ampliação das práticas ligadas à escrita se faz sentir na própria forma desta. Ela passa da capital onipresente, derivada de inscrições monumentais, às formas cada vez mais cursivas e simplificadas, nas quais começam a aparecer as hastes acima e abaixo da linha: a rapidez da escrita é maior e a leitura se encontra facilitada pelo fato de que os elementos específicos das letras são mais aparentes. A cursiva e seus derivados são a escrita mais divulgada na Romã antiga. A civilização-urbana que se desenvolve sob o Império supõe de fato uma especialização das tarefas, o desenvolvimento das funções de relações e, de uma maneira geral, um conhecimento mais amplo da escrita.4 O processo se modifica ainda a contar do século IV, quando se passa pouco a pouco 5'f null null null null 'q 'q rH p' pp'- Frédéric Barbier História do Livro da maiúscula à uncial (dominada pelas formas arredondadas de certas letras, sobretudo Z), .E e .W, e caracterizada pela presença de pequenas hastes), depois à semi-uncial.s Enfim, o desenvolvimento dessas formas cursivas e a reorganização dos gestos do escritor levam à aparição de uma nova escrita, chamada, de maneira aproximativa, a minúscula: pergaminho. 1.3 Generalização do Codex O codé?x não se impôs absolutamente na Romã imperial, onde o livro permanece um ao/ume71 sobre papiro, enquanto o pergaminho e o codex servem apenas para trabalhos mais rápidos e sobretudo mais breves, notas ou rascunhos. A generalização do codex data apenas dos séculos 111 e IV: a pele (de carneiro) é preparada para servir de suporte à escrita, depois, uma vez copiado o texto, ela é dobrada uma ou duas vezes para constituir um caderno.o Os cadernos reunidos uns seguidos dos outros são em seguida costurados juntos e colocados sob uma encadernação: é o livro sob a forma que nós o conhecemos ainda hoje. Entre as principais vantagens do pergaminho em relação ao papiro, destaca-se a possibilidade de ser utilizado dos dois lados -- no entanto, é mais difícil enrola-lo. Com o codex, desenvolve-se igualmente a encadernação. Os primeiros exemplos conhecidos são egípcios: os cadernos são costurados entre si e fixados nos eixos, estes constituídos de duas pranchetas de madeira.P No Ocidente, a técnica de costura é muito variável, mas ela se funda ordinariamente sobre o tipo em duas meadas de fio. Em relação à maiúscula, a minúscula é um progresso absoluto: ela é muito mais legível (...). Certos caracteres têm hastes que se elevam e se abaixam acima do corpo das letras, cada palavra possui uma silhueta que Ihe é própria (...), o olho pode reconhecê-las mais facilmente quando segue, o que é o caso na leitura rápida, a parte superior da linha-. (Robert Marichal) A uncial (letras romanas) se encontra ainda na época carolíngia, mas sobretudo nos títulos e no ímcÜÍr. 1.2 0 Codex É muito surpreendente constatar que os anos sombrios da Baixa Antiguidade são precisamente aqueles em que aparece, ao lado da minúscula, uma forma material nova, destinada aos maiores desenvolvimentos: o codepç, ou livro dobrado e encadernado, do qua! o suporte é de agora em diante o pergaminho (é mais difícil fazer cód ces em papiro).ó O termo latim codex nos faz remontar vários séculos atrás, uma vez que sua primeira aparição conhecida, por meio de Marcial, data de 85. Trata-se originalmente de uma lâmina de madeira (lat. caHdex), depois, por extensão, de uma reunião de lâminas mantidas juntas por um laço e sobre as quais são anotadas contas ou outros apontamentos sem valor durável. Descoberto no Fayoum, o "Caderno de Theodoro" consiste em exemplo excepcional, mesmo sendo relativamente tardio':' é um conjunto de dez tabuletas recobertas de cera, reunidas por laços de couro(já desaparecidos) e protegidas por duas capas de encadernação.O texto corresponde aparentemente ao trabalho de um escolar do século VI. Ocasionalmente, encontram-se códices nos quais um outro suporte é utilizado, notadamente o Distribuição dos livros conservados segundo sua forma material, séculos l-V Os manuscritos mais antigos hoje conservados, se colocamos à parte os papiros egípcios, remontam à época da generalização do codex: por exemplo um codex da Cidade de Deus, que poderia ser contemporâneo de Santo Agostinho (354 430).io O Codex UalÍcamus data da metade do século IV e traz o texto grego da Bib/ a.:' Conserva-se igualmente ein codex um 53 japud Robert Marichal, art. citado, p. 4ól AAanuscritos gregos AAanuscritos latinos Séculos «ilumina Códices «ilumina :ódices 450 99% 4 1% 5 83% 17% l É F 442 71% 179 29% 17 90% 2 10% V 1 1 4% 233 0 o% 43 100% null null null null null null null null null null null null Frédéric Barbier História do Livro tratado de agrimensura do Baixo Império Romano, em uncial e com várias pinturas dentre as quais, talvez, o retrato do autor.:: A yu/ga/e de Saint-Gall, em duas colunas, teria sido copiada, talvez, da época mesmo de Sãojerânimo. No século V, o codex suplantou definitivamente o oo/unem, como o mostram as estatísticas de Robert Marichal. franjas de duas civilizações, onde os processos de transferências culturais são facilitadas. É possível também que, em período de crise, se tenha procurado um procedimento de fabricação que permita estacar mais informações(de texto) a menor custo -- o que é o caso do codex. Mas é definitivamente necessário reconhecer que nós não temos explicação plenamente satisfatória que dê conta dessainvenção 1.4 Consequências da invenção A invenção do codex é absolutamente fundamental para o futuro da civilização escrita, porque ela proporciona caminhos para os desenvolvimentos futuros do trabalho intelectual sobre documentos escritos. O codex; está dividido em elementos semelhantes (os folhetos, cada um composto de duas páginas) e se presta, portanto, bastante bem à consulta parcial, pois se pode, ao anal, superpor-lhe um sistema de referências que facilita a consulta (a paginação). Do ponto de vista do uso imediato, pode- se consultar o codex tomando notas, o que permite o abandono da leitura oralizada:õ para privilegiar o trabalho individual em silêncio. Enâm, guarda-se o codex deitado sobre tabuletas com a lombada:' do livro contendo seu título, o que facilita a sua recuperação e identificação. A combinação do codex e da minúscula produz uma ferramenta intelectual muito potente, desconhecida até então. No entanto, essas modificações permanecem séculos apenas como potencialidades. As formidáveis capacidades do codex só serão plenamente exploradas no século XVI, duas gerações depois de Gutenberg: sua lógica recobre a lógica dupla dà massificação documentário e do desenvolvimento do sistema de referências. e somente encontrará plena realização com a multiplicação dos livros tal como a imprensa o permitirá. O codex é o suporte primeiro da cultura escrita no Ocidente há dois milênios. A distorção é surpreendente, entre a conjuntura geral catastrófica do século IV ocidental e a invenção maior que é o codex. É possível que a entrada em cena massiva de recém- chegados (os germanos, depois os eslavos) seja acompanhada de inovações técnicas importantes, como se constata no domínio da metalurgia: sabe se que a inovação nasce mais facilmente sob as 2 A Igreja Primitiva e os livros 2.1 A herança antiga Mesmo que as bibliotecas e as coleções de livros sejam numerosas na Antiguidade clássica, nós não conservamos hoje mais que restos: os manuscritos antigos nos chegaram apenas em número ínfimo, ao mesmo tempo porque as condições de conservação:s e as destruições não permitiram e porque a substituição de livros em rolos por livros encadernados foi acompanhada do abandono e da destruição dos primeiros. Os pagãos, mais apegados à cultura clássica, privilegiaram o z,'o/amem e o papiro, ambos mais difíceis de conservar que o codex e o pergaminho, sendo que um grande número de textos provavelmente desapareceu, porque a mudança para o novo suporte(o livro dobrado e encadernado) não foi generalizado: os oo/uz?zona que foram julgados muito antigos ou menos interessantes não foram recopiados. O fenómeno do desperdício que se observa nessa ocasião se encontra a cada mutação técnica, quando o suporte majoritário é abandonado em favor de um novo suporte: isso ocorre do mesmo modo com a invenção da tipografia em caracteres móveis (um certo número de textos manuscritos não serão impressos) ou com procedimentos de reprodução do som.:õ Ocorre, provavelmente do mesmo modo, hoje com a irrupção das novas médias Nos séculos IV e V. os notáveis do Baixo Império romano frequentemente são letrados que conhecem a literatura clássica, se converteram ao Cristianismo e ocupam às vezes postos importantes na hierarquia eclesiástica. O modelo perfeito desses personagens é Sidõnio Apolinário, bispo de Clermont, mas citaremos também 54 55 null null null null null null null null null null null null Frédéric Barbier História do Livro São Jerânimo (331/348-419/420). Originário de Panânia (Strídon), Jerõnimo tem uma formação literária muito boa: ele é aluno de Donas em Rama, cidade onde ele se converteu e foi balizado. Somente depois de uma peregrinação a Jerusalém (em torno de 373) ele se volta para a vida de asceta, no deserto da Síria. Tornado padre (379), mais tarde secretário de Dâmaso, em Romã, Jerõnimo se retira a Belém, em 384, aí conclui o essencial de sua obra intelectual.:7 São Bento de Nórcia (aproximadamente 480-547), filho de ricos proprietários e fundador do Monte-Cassino e da Ordem dos Beneditinos, é uma outra dessas muito grandes figuras de letrados cristãos. Nada de surpreendente então se a Igreja, única estrutura coerente no desmoronamento total do mundo romano, seja a mediadora principal para o lado do qual o essencia[ do que nós possuímos da literatura antiga nos chegou. O fato de que a Igreja cristã tenha adorado o latim como língua oâcial constitui também um dado fundamental para a tradição da herança antiga e para a difusão do latim, a termo, nas regiões recentemente cristianizados que nunca tinham feito parte da Románia (a Germânia Trans-Rena e a Boêmia, a Polânia, uma parte da Hungria, a Escandinávia...). O apóstolo Paulo viaja com sua documentação e seus livros (aparentemente códices), pois que, em 67, ele pede a Timóteo que os traga depois de ter sido aprisionado: Esforça-te para vir perto de mim (...). Somente Lacas está comigo (...). Pegue Marcos e traze-o contigo (-.). O casaco que eu deixei em Troam, na casa de Carpus, traze-o quando vieres, e também os livros, sobretudo os pergaminhos...t* O texto central da Igreja é a 23z'b/{a, cuja tradição é muito complexa. O cânone judeu (massorético) é lixado pelo sínodo de Yebnah (90/100 d.C.) e compreende a Lei(a Zoxab: o Pentateuco:9), os Profetas (Azebf'íln):' e os Escritos hagiográficos (Kelbouóíh).:: A tradução em grego dos Safem/a a eles adiciona sete outros livros: fobias, Judith, Sabedoria de Salomão, Eclesiastes, Baruch 1, Macabeus l e ll (os livros deuterocanânicos), sendo que este conjunto definido como canónico pelos cristãos será confirmado pelo Concílio de Trento.:: Outros livros dele não fazem parte, porém suas epígrafes são reconhecidas por certas Igrejas orientais. O cânone do AÃouo Zes/amenro reagrupa dois conjuntos: o primeiro incide sobre a vida de Jesus (os outros evangelhos), o segundo, sobre a organização da Igreja Primitiva (os .4/os dos Apóstolos e um importante conjunto de cartas). O época/@se de Jogo constitui um livro à parte, que fecha o conjunto. 2.2 A Igreja Primitiva Naturalmente, a transmissão da herança antiga não é tudo, a parte mais importante das coleções que se constituem na cristandade primitiva apóia-se no domínio religioso: sabe-se que os manuscritos do Mar Morto, descobertos nas grutas de Qumran a partir de 1947, são os vestígios da biblioteca, composta de uns oitocentos uo/m na e pertencendo a uma comunidade "provavelmente essênia"(Colette Sirat) lá estabelecida entre os séculos IT a.C. e os anos 68-70 de nossa era. Trata-se de textos quase exclusivamente religiosos -- textos bíblicos e comentários sobre a BÍb/{a, preces, regras, crónicas, etc. Rapidamente, os apóstolos se preocupam em transmitir a mensagem de Crista, e a fundação das primeiras igrejas cristãs são acompanhadas de um trabalho de correspondência e de escritas de documentos, seguidamente conservados numa peça específica. 2.3 Primeiras bibliotecas cristãs Conhecemos a existência precoce de bibliotecas cristãs nas Igrejas orientais, em Corinto (no século 11), mas também em Alexandria e em Jerusalém.:s Banido de Alexandria em 231, Orígenes (aproximadamente em 185-253) funda em Cesaréia de Palestina uma biblioteca que constitui, com seus trinta mil livros, o principal centro intelectual da cristandade dos primeiros séculos: ele mesmo trabalha sobre o texto do Ue/bo Zes/amemfo, ao qual ele se dedica a comparar diferentes versões dispondo-as em seis colunas (os /7exa@Ze).:' Eusébio de Pânfilo (265-309), autor da grande //ísfó7"/a ec/és/asríca, é eleito bispo de Cesaréia em 313: ele trabalha sobre a organização do texto dos Euange/bos, que ele 56 57 null null null null null null null null Frédéric Barbier História do Livro subdivide em parágrafos e do qual empreende o estudo comparado (Epange/bos sínóPfícos), mas enriquece também consideravelmente a biblioteca e prepara seu catálogo.:s É ainda a Cesaréia que virá Hilaire de Poítiers (t 367) ao curso de seu exílio e é aos copistas de Cesaréia que se dirigirá o imperador Constantino para fazer fabricar os cinqüenta exemplares da Bíb//a destinados às novas igrejas de sua nova capital, Constantinopla. Em seguida, os acervos de Constantinopla são muito particularmente importantes. No Ocidente, a Igreja de Romã possui arquivos e uma biblioteca muito ricos que desaparecem durante a perseguição de Diocleciano (303-311), que se dedica expressamente à destruição dos livros cristãos. Mas o Édito de Melão institui a liberdade religiosa no Império (313) e, rapidamente, os acréscimos retomam a ponto de Dâmaso 1 (36P-384) ter de construir um edifício para os arcbÍuia da Igreja. Jerânimo fala de pesquisas que ele só pode executar na cba acez/m romanas ecc/exige (os arquivos da Igreja de Romã): durante suas viagens, ele copiará em Treves dois livros de Hilário e trabalhará longamente (382-385) nas coleções romanas. Uma nova catástrofe sobrevém com a invasão bárbara de 410 e a tomada de Romã pelos Visigodos d'Alaric.:õ Entretanto, os acervos se reconstituem durante o século V. O papa Agapito manda construir uma nova biblioteca (535-536) e colabora com Cassiodoro (em torno de 485-580), antigo chanceler de Theodorico, o qual funda uma instituição de conservação e de pesquisa. Trata-se da biblioteca do monastério de Vivarium,;' que conhecemos pelo texto das /HsrÍfufíoHcs28 e que foi a primeira coleção a ter disposto da versão completa da Bíb/ía em latim sob uma forma reagrupada (anteriormente, era necessário consultar os diferentes volumes de cada livro) : -- um sistema que estará em uso até a reforma parisiense do século XTTI. Vivarium não parece perdurar depois da morte de Cassidoro, a biblioteca teria sido transportada para Romã onde a futura Vaticano, instalada no Palácio do Latran, tornou se muito importante desde o pontificado de Gregório, o Grande (590-604). 3 0 monaquismo 3.1 0 monaquismo oriental Um lado muito impoüante da tradição escrita nos vem do mundo regular, e primeiramente dos eremitas e dos monges do Oriente (início do século IV). O primeiro, Antõnio(t356), se estabeleceu no deserto e fundou a tradição do eremitismo, antes que Pacâme (t346) estabelecesse, por volta de 325, uma primeira comunidade organizada e regulada, no Alto-Evito. Muitas outras fundações se seguiram. Apesar do desnudamento quase completo desses "padres do deserto", o livro não estava ausente das ermitagens e certos monges tinham, eles mesmos, uma atividade de copistas. Comumente eles possuem, no deserto, apenas um manuscrito, raramente vários, e os assuntos são exclusivamente religiosos: a .Bíb/ía, sobretudo o A4)oo 7êslízn?emlo e o livro dos Sa/mos, com comentários, mas também os Hpopb/egmaes dos Padres do deserto, etc. Cassiano, que é feito monge em Belém, permanece no Baixo-Evito entre 385 e 400 e redigirá suas /nsfiruíções e suas CbrÜezemcias, cuja influência será considerável sobre os estabelecimentos monásticos no Ocidente (Provença). A tendência ao crescimento das bibliotecas conservadas nas células é julgada negativamente: O codex gxazzdjor tinha uma tradução feita a partir dos Se/en/a e revisada porJerõnimo ; aquela queJerõnimo havia feito diretamente sobre o hebreu, a Wu/góz/óz, ocupava (.-) o outro manuscrito. (Pierre Petimenginyv Trabalha-se, além do mais, em Vivarium, na reorganização do texto sagrado, com a divisão em capítulos(capífu/a) numerados Os profetas escreveram livros, depois vieram os padres que os colocaram em prática. Aqueles que vieram depois deles os aprenderam de cor. Depois a geração presente veio c os copiou e colocou, inúteis, nos balcões...30 Certos textos fazem pensar que a regra lá impunha consagrar uma parte regu]ar da jornada à leitura das Escrituras (a /ec/Zo da /iib/ía e de seus comentários), ao passo que o cargo de bibliotecário 58 59 null null null null null null Frédéric Barbier História do Livro aparece nas primeiras comunidades (na África desde 423) e que a prática da leitura em comum se difunde. Essas disposições se fazem mais presentes no século V e no século Vl: a regra de Pacâme previa que o monastério possuísse uma biblioteca conservada cuidadosamente (ein torno de 400). A biblioteca de Santa Catarina do Sinai, monastério fundado por Constantino por volta de 530, é particularmente célebre. (em torno de 543-615) é formado em Bangor's e funda o monastério de lona (nos Hébrides), depois, no continente, Luxeuil e Bobbio (612). Seus êmulos continuarão sua obra (em 657/661, Córbia é uma filha de Luxeuil) e, com Bonifácio, o estenderão para a Germânia: a divisão do mundo germânico, depois de uma parte do mundo eslavo, no Ocidente, se faz pelo viés da cristianização, portanto da escrita. Na Alemanha, são os grandes abades de Echternach, de Saint-Gall,õ6 Constance e Reichenau, mas também de Puída. Os monges de Corbie fundam Corvey, sobre a Weser, e cristianizam a antiga Saxe, abrindo caminho para o Norte. Os bispados são criados sobre o mar do Norte (Hamburgo, depois Bremen), a partir dos quais os missionários percorrem a Escandinávia e os Bálticos. 3.2 No Ocidente Influenciados pela Igreja do Oriente, o início do monaquismo no Ocidente e na Gália parece relativamente hesitante. Na Gália, a tendência é primeiramente a da reunião de "eremitas" atraídos por um mestre: Martin (t 397)s: está na origem de Ligugé e de Marmoutier, Honorat (t 429) atrai um grupo de ermitões para Lerins no final do século IV... Essas primeiras casas religiosas constituem, entretanto, no século V. lares intelectuais nos quais cada um possui uma biblioteca mais ou menos rica: Lérins (com Vicente de Lerins e Faustus de Riem), Arles (Césaire), Autun (Avit), Bourdeaux (Paulin de Pella). A grande onda de fundações data dos séculos Vl-Vll, com as casas em Soissons, Paria, Limonges, Poitiers, Luxeuil, Chelles, Córbia, Saint-Vaast-d'Arras, Saint Bertin e Saint-Amand, depois Saint-BenoTt-sur-Loire, Jumiêges, Jouarre, Rueil, Stavelot, Malmédy, etc. A regra beneditina se difunde a partir de Monte Cassino (fundada por volta de 529):3: a /ec/ío díp na3õ ocupa aproximadamente quatro horas do dia. As relíquias de São Bento são transferidas por Aigulfo de Monte-Cassino, arruinado, em Fleury-sur-Logre aproximadamente em 673, e a influência das regras se acentua nessa época na Gália -- por conseqüência, a cópia dos manuscritos torna-se aí igualmente cada vez mais freqüente Nos séculos VI e Vll, a ltália é teatro de fundações maiores: nós já mencionamoso Monte-Cassino e o Vivarium, mas é preciso também citar Farfa, etc. Após o fim do século VI, por outro lado, um movimento muito forte de evangelização se desenvolve a partir da Grã-Bretanha e da Irlanda.õ4 Colomban Monastérios e escolas catedrais: croquis de localização dos principais scripfor/a na dália. séculos Vl-X IOs limites geográficos são aqueles da frança continental atuall 60 64 null 'l'q r ap-,, Frédéric Barbíer História do Livro Em um mundo dominado quase que exclusivamente pelo oral, os monastérios são refúgios da cultura escrita e da tradição antiga. As principais regras monásticas prevêem que uma parte do dia seja consagrada à cópia dos livros no sczlP/07"Íum(ateliê dos escribas). Por toda parte, nas novas casas religiosas, os ateliês dos copistas se organizam, bibliotecas se constituem e os livros começam a se difundir mais ampla e rapidamente. abadias: Saint-Martin-de.Tours, Luxeuil, Corbie ou ainda Fleury- sur-Logre,s' Fontenelle (Rouen), Saint-Riquier e Saint-Bavon (Gand). Na parte oriental do Império, na Germânia, são as casas fundadas por Bonifácio que asseguram a difusão da reforma: Fuma, na qual o abade Raban Maur foi aluno de Alcuin, depois Reichenau, com Walafrid Strabo, ele mesmo aluno de Raban Maur.õ9 4.2 A reforma dos livros Compreende-se, desde então, porque a empreitada de restauração lançada por Carlos Magno se apoia sobre a reorganização sistemática do mundo da escrita -- língua, formas de escrita, natureza dos textos e organização de sua difusão. Da ética da renouafio, era lógico que houvesse um apego ao purismo do latim clássico como a um elemento suscetível de ajudar na restauração da -Romc2m a imperial. Por outro lado, o scrVP/o?"Íum de Saint-Martin-de.Tours40 põe em funcionamento uma nova escrita, que combina a facilidade e a rapidez de execução com uma perfeita legibilidade: a minúscula carolina, diretamente inspirada na minúscula primitiva romana e na maiúscula da qual são banidos todos os elementos parasitas (traços para ligar as letras,4: decorações, abreviações excessivas, etc.),4: será em alguns decênios adotada por toda parte no mundo ocidental. A escrita separa as palavras umas das outras (o que facilita a leitura silenciosa), as abreviações tornam-se raras. Uma certa pontuação começa a fazer sua aparição, etc. A minúscula carolina é difundida a partir dos sc/V@forla dos grandes monastérios, na J umcia occiden/a/is, na ltália e nas novas abadias da Germânia, Tours sendo o centro motor do empreendimento sob o abadado de Alcuin (t804). O programa da Renascença carolíngia ilustra, assim, o mais claramente, a articulação estreita entre problemática política, categorias culturais e organização do sistema de médias. Paralelamente, procura-se reformar e unificar a liturgia, definindo os "livros católicos" que devem professar: muitas revisões da Bib/ia são conduzidas em Corbie (772-781), depois por Teodulfo de órleans (aproximadamente em 800) e por Alcuin. A normalização que tende a se impor é aquela das Bib/ias de Saint-Martin-de- 4 A renascença carolíngia 4.1 A renouatío ímpar! Ao mundo antigo, aberto, sucedeu-se, na Baixa Antigüidade, um mundo fechado (economicamente, politicamente, e mesmo sobre o plano demográfico), fechado sobre si mesmo e onde a prática da escrita regride de maneira muito sensível. Em conseqüência, desenvolvem-se numerosas práticas regionais da escrita, seguindo modelos "aberrantes" em relação à evolução dominante: em uma palavra, a escrita se fragmenta e seus modelos se multiplicam a partir de dois arquétipos de maiúsculas e da semi-maiúscula. Um bom exemplo é constituído pela escrita insular, assim chamada porque sua geografia inicial é aquela das ilhas Britânicas. A mudança progressiva de dinastia(dos Merovíngeos aos Carolíngeos), mais ainda a renouafíp mped(restabelecimento do Império), conduzida por Cardos Magna no flm do século Vlll, é acompanhada de uma reorganização profunda da Igreja, que se apoia nos monastérios (onde se forja uma generalização da regra beneditina) e no papado. Desenvolve-se paralelamente um esforço considerável sobre o plano da língua (retorno à latinidade clássica), do ensino, da conservação dos textos antigos e da própria escrita. Carlos Magna sabe se rodear de intelectuais, ele faz vir para perto de si Paul Diacre e Paulo de Pisa, da ltália, e mesmo Alcuin, velho chefe da escola capitular de York. Theodulfo se refugiara no coração de Aix-la-Chapelle depois da invasão da Espinha pelos muçulmanos. O movimento se apóia sobre a fundação da escola do Palaiss7 e de importantes escolas episcopais (Lyon, Reims, Soissons, Laon, Maiença, Cologne), e sobre a atividade das grandes 62 63 null null null null null null null Frédéric Barbier História do Livro Touro, cuja cópia talvez tenha se apoiado sobre uma centena de manuscritos difundidos através do Império. Mestno que se avalie em nove mil o número de manuscritos carolíngios hoje conservados, um número que dá a medida do trabalho de cópia efetuada à época, o codex continua um objeto raro e muito oneroso, sendo que as bibliotecas mais ricas contam algumas dezenas, raramente mais de cem volumes. Por outro lado, a minúscula carolina é uma escrita fracionada e não-cursiva, e a oralidade continua a dominar as práticas de leitura. Porém, ao lado desses caracteres arcaicos, não se poderia subestimar a importância da Renascença carolíngia. É nos manuscritos carolíngios que os humanistas italianos redescobriram a literatura clássica, a partir, sobretudo, do século XIV.4õ e é na minúscula carolina que eles se inspiraram para criar sua própria escrita -- e os primeiros caracteres topográficos romanos. Vocês sabem o que o copista tem o hábito de fazer. Primeiramente. ele começa por limpar com uma raspadeira o pergaminho de sua semente e tirar dela as impurezas mais pesadas. Em seguida, com uma pedra pomes, ele faz desaparecer completamente os pêlos e os ligamentos. Se ele não procede assim, a escrita nào será de boa qualidade e não poderá durar muito tempo...47 A raridade e a carestia do suporte explicam que se recorra, quando é o caso, à técnica do palimpsesto,4; que consiste em apagar um primeiro texto para copiar outro em seu lugar: mergulhado no leite durante uma noite inteira, o pergaminho é em seguida passado à pedra-pomes e branqueado a cal. O trabalho compreende, em seguida, uma fase diretamente consagrada à "paginação" do manuscrito em vista da cópia: delimitação, pautação das margens do texto, depois das linhas propriamente ditas, com estilete ou com graâte,4P As bases do enquadramento são estabelecidas com compasso. A demarcação pode ser mais ou menos complexa segundo o que se preveja, um texto simples ou em versos, uma disposição em linhas longas ou em colunas, comentários marginais ou interlineares,se dos espaços reservados a iluminuras ou à ilustração, etc. A folha passa enfim ao ateliê dos copistas, depois, se for o caso, àqueles da rubricação,st da iluminura e da encadernação. Certos ateliês de encadernação ligados às casas monásticas puderam ser identificados graças notadamente ao estudo de instrumentos que eles utilizaram para decoração das capas Que se trate de escrever, de ler, de rubricar ou de pintar, a iluminação é insuficiente e os óculos tornam-se um instrumento de trabalho às vezes indispensável -- inclusive para os leitores: o duque de Borgonha, Felipe, o Ousado, era míope e lia apenas graças aos óculos de prata dourada que Ihe havia fabricado o ourives Hennequin de Hachet. Conservam-se mesmo manuscritos de uma escrita de muito pequeno módulo, cuja capa foi evidentemente cavada para que aí se colocassem os óculos.sz 5.2 A composição A apresentação do livro manuscrito evolui, evidentemente, de maneira muito profunda entre a época em que o codex se 5 Formas do livro e práticas de leitura 5.1 A fabricação do livro O trabalho de fabricação dos livros se desenvolve, até o século XI, quase que exclusivamente nos monastérios e em outras casas religiosas. A preparação da pele de pergaminho dura muitos meses e se fazem um ateliê especializado do monastério (mais tarde, esse trabalho será o apanágio dos pergaminheiros): tratamento a cal viva, lavagem, raspagem, etc. Qualquer que seja a qualidade da pele44 e a perfeição do trabalho, distinguir-se-á praticamente sempre, sobre o pergaminho, o lado dos pêlos do lado da carne (mais liso e frequentemente mais claro). É o pergaminheiro que, em seguida, corta a pele em folha(s): o limite das folhas é traçado com grafite ou com um estilete sobre a pele e as sobras são cortadas. O cálculo(que condiciona diretamente o formato do livro4s) se faz de modo a perder o menos possível de matéria, tendo em vista o seu custo.4õ Depois as folhas passam ao scr#)/odm, onde seu preparo é concluído como o descreve Hildebert de Lavardin (1055-1133) : 64 65 null null null null null Frédéric Barbier História do Livro generaliza no Ocidente e aquela da aparição da imprensa mais de um milênio. A disposição do texto se faz seja em linhas longas, seja em colunas. Copiado em escrita cursiva em Alexandria, na metade do século IV de nossa era, o Codex S/ma/[ cus tem o texto grego da .Bjb//a(os Se/empa e o ]Vooo Zes/ámen/o) sobre páginas de duas ou quatro colunas cada uma segundo os livros: desde então, a tradição levará a apresentar o texto bíblico em colunas (até nas edições impressas contemporâneas).s' A partir do século IX, um modelo novo de composição se difunde de maneira cada vez mais ampla, combinando o texto com um comentário que poderá tornar-se muito invasivo. Os dispositivos de referenciação são um elemento capital da composição e nos informam sobre as práticas implícitas da leitura e de apropriação de textos. Os manuscritos medievais não apresentam nem página nem título, nem menção do autor ou da data da cópia -- é raro que o copista ou o iluminador tenha assinado seu trabalho. Mais comumente, o texto começa na primeira página pela indicação da obra de que se trata, precedido da pa]avra /nc@i/[aqui começa] e freqüentemente rubricada. Às vezes, o {ncPÍI se desenvolve em caracteres ornados sobre uma coluna, até sobre uma página inteira Esse mesmo tipo de dispositivo se encontra em alguns casos no interior do texto, nos diferentes livros(por exemplo, os livros da BÍb//a). As subdivisões internas do texto são marcadas por letras iniciais de maior módulo, eventualmente de letras ornadas e às vezes, aí também, pela rubrica das primeiras linhas. construções simb(51icas. Ela constitui um elemento essencial de numerosos manuscritos medievais. Três modelos diferentes podem ser distinguidos: a ilustração, a inicial ou a letra enfeitada e, enfim, as bordas. ' .f)prgamÍnbo flzzgído. Limitar-nos-emos a mencionar a utilização de um suporte (pergaminho) de cor, segundo uma prática conhecida durante a Antigüidade, presente no Império bizantino e importada para o Ocidente para a realização de manuscritos destinados ao imperador. O pergaminho é tingido em cor púrpura, às vezes preta, mais freqüentemente ele é pintado, até recoberto de uma folha de ouro, sendo que nele se escreve com tinta de ouro ou de prata. Em todos os casos, trata-se de volumes extremamente preciosos, como o .ÉzPange/ía re de S/nome(Codex Simopemsls), manuscritos sírio-palestinos do século VI, escrito em maiúscula à tinta de ouro sobre pergaminho púrpura.s4 A tintura do pergaminho é praticada mais tardiamente, tendo por exemplo um certo número de manuscritos imperiais alemães da época otomana, ou ainda ao .Euange/íaÍre de Strahov na biblioteca desse monastério(Praga), até o Zlíuro de /lonas, do duque Galeas Mana Sforza,ss etc. . /7us/Mações. Os mais antigos exemplos de textos ilustrados conhecidos hoje são os z;o/urina do século ll de nossa era e portam geralmente tratados científicos, mais raramente textos literários.s6 A forma material do rolo impõe a inserção da imagem nas colunas de escrita e esse dispositivo é transposto nos c(idlces da Baixa Antigüidade: no WZ7gí/e du Ua/íman(fim do século IV),s' as pinturas se apresentatn em quadros geométricos, em geral sobre a página onde figura a passagem que elas ilustram. Encontra-se também a imagem de página inteira, que ocupa uma superfície igual àquela da justificação. Ao lado de cenas narrativas, o retrato do autor constitui um tema muito freqüente, segundo um modelo que será conservado na Idade Média para os evangelistas ou para os diferentes protagonistas que aparecem no relato(retrato do santo cuja vida é apresentada, etc.). Conserva-se igualmente o ,f%n/a/Cuco de Touro, escrito no século Vll, em maiúscula e ilustrado com quatorze pinturas de página inteira.s8 5.3 Ilustração e decoração Nos ateliês importantes, i/umlna a constitui um domínio caracterizado pela especialização: o artista principal, chefe do ateliê, organiza a seqüência das operações, várias pranchas são preparadas ao mesmo tempo para as quais realiza-se sucessivamente o enquadramento do desenho, depois o desenho propriamente dito (em geral com grafite), depois a coloração sucessiva (certos manuscritos, que não foram acabados permitem perceber a lógica das diferentes etapas). A imagem preenche as duas funções de decoração e de informação, esta última podendo fazer apelo às 66 67 null null null Frédéric Barbier História do Livro Z)ecoração. A inicial decorada designa a primeira letra de um texto ou de uma parte do texto e intervém tanto como ajuda para a leitura (para recuperar as escansões maiores) como elemento decorativo. Ela se distingue a princípio somente pelo seu tamanho, em alguns casos pela ilustração de uma cor diferente, que o rubricador freqüentemente faz alternar de uma inicial para outra. A inicial historiada (ilustrada com uma pequena cena) aparece no Sacrumen/a/re de Dzugon, em Metz, na metade do século IX.SP O enquadramento se constrói primeiramente retomando-se o motivo arquitetânico da arcada, que ele desenvolve por realizações ornamentais muito variadas : na época carolíngia e otomana, os motivos combinam mais frequentemente passamanarias e folhagens. Os escribas colocam então em obra um conjunto de técnicas novas assegurando o enquadramento do texto através de seus dispositivos formais e facilitando sua leitura e sua compreensão: as palavras são isoladas umas das outras, o uso de maiúsculas é relativamente normalizado e, sobretudo, a análise lógica tornada praticamente indispensáve! é facilitada pelo desenvolvimento de sinais de pontuação diversos. A única divisão interna ao pr(5prio texto permanece aquela, eventual, dos "livros" (não há capítulos, Essa sutileza crescente da textualização facilita em princípio uma prática silenciosa da leitura, a qual pede se desenvolver nos meios mais abertos ao livro: é possível que a difusão das regras monásticas que impuseram o silêncio tenha igualmente facilitado o seu sucesso. Certos documentos, excepcionais, testemunham a extrema familiaridade de uma camada muito pequena da população com o mundo da escrita: o Sermão sopre lonas é um fragmento redigido sobre palimpsesto, e em parte em notas tironianas, e constitui um resumo preparado em língua vulgar por um eclesiástico do início do século X antes de subir ao trono.Ó: Enf:lm, é necessário não subestimar a complexidade da articulação entre a arte da leitura e aquela da memória. Por volta de 1322, certos heréticos valdoístas etc.) 5.4 As práticas de leitura No princípio, a passagem do uo/aznen ao codex dobrado e costurado abre possibilidades de mutação muito profunda no domínio da leitura. Mesmo se nós ficamos em regra geral reduzidos a hipóteses, o exame atento das formas materiais dos manuscritos permite reconstituir a evolução das práticas com bastante verossimilhança. Os manuscritos da Antiguidade e da Alta Idade Média se apresentam em scz"eP/to conrímz/a, isto é, numa escrita que não separa as letras umas das outras e que praticamente não faz apelo à pontuação nem à paragrafação: a scr@/to com//nz.éa impõe, de fato, a leitura oralizada, seja para si mesmo, seja a um grupo de ouvintes, seja por intermédio de um escravo secretário. Pode-se legitimamente pensar que a textualizaçãoó'melhora, depois do século Vlll, por conseqüência da contribuição bárbara: para os carolíngios, trata-se de assimilar a cultura latina que lhes é, a .priori, tornada estrangeira, e de se fixar diretamente à tradição imperial que eles querem reanimar. Ora, desde então, os bárbaros falam uma língua diferente do latim (a língua vulgar, ancestral do francês e do alemão) e lhes falta então analisa-lo para, praticamente, traduzi-lo: de onde a reforma da escrita (que resulta na minúscula carolina) e uma textualização bastante clarificada. tinham comumente os Evangelhos e as Epístolas em língua vulgar e até mesmo em latim, pois alguns o entendem. Alguns também sabem ler e lêem em um livro aquilo que eles anunciam e pregam. [Outros pregadores, ao contrário] não fazem uso de nenhum livro, sobretudo aqueles que não sabem ler, mas aprenderam seu discurso de cor...óz 6 No Mediterrâneo oriental 6.1 0 mundo bizantino" O século IV bizantino é marcado, como no Ocidente, pelo triunfo da forma nova do codex e pelo emprego cada vez mais 68 69 null null null null null Frédéric Barbier História do Livro amplo do pergaminho: a riqueza da capital e da corte imperial, o lugar da Igreja(o patriarcado), a tradição intelectual herdada da Antigüidade e vigorosamente seguida, a presença de grandes instituições de ensino, etc., explicam a existência em Bizâncio no século VI de ateliês de copistas e de ilustradores que estão em condições de produzir peças excepcionais. Os ateliês são estabelecidos nos principais centros de província (Alexandria, Damasco, Antioquia) e nas grandes casas religiosas. Entre as peças conservadas dessa época, é necessário citar o Ulrg#/o UafÍcamo (início do século V): o Sinal/ecus, a /Ziãda de Ambrosienne(século V), mas também o Dioscorlde (aproximadamente 512) ou ainda o Gêmese (século VI) de Viena. Os séculos IX.XI foram marcados, primeiramente, pelo abandono da maiúscula, até então maioritariamente utilizada, em proveito de uma nova escrita em minúscula(ver o .Eoa/zge/iaíne de (;lapome, copiado em 911), depois, pela adoção do papel, que os bizantinos conhecem graças à intermediação árabe, e para cuja produção os ateliês são prontamente criados.Ó4 O sucesso do novo suporte se manifesta pelo grande número de manuscritos gregos sobre papel produzidos, sobretudo, a partir do século XIV. ainda que o pergaminho continue a ser empregado para os exemplares mais prestigiosos. A ilustração bizantina resulta da conjunção de influências complexas: influência da Antigüidade clássica e notadamente do helenismo, mas também do cristianismo primitivo, até de tradições sírias e persas. Progressivamente, o papel de Constantinopla se torna, entretanto, predominante e a unificação se faz em torno do estilo de seus principais ateliês. As ilustrações podem ser divididas em dois tipos principais: o que retoma o modelo das cenas antigas, adaptando-o aos assuntos cristãos e o que apresenta retratos de um ou de vários personagens. A querela das imagens e a iconoclastia do século IX trazem o desaparecimento de toda ilustração que não seja decorativa (motivos geométricos, etc.), enquanto que o advento da dinastia macedoniana (867) vê o avanço das artes do livro, enquanto assistimos, no fim do século X, à generalização do estilo hierático associado depois à iconografia bizantina. No Ocidente, a ltália bizantina, ou antigamente bizantina (ltália do Sul, Ravena, Veneza), é a região mais aberta às influências orientais -- em Venera, principalmente, mas também, por exemplo, no scr#pfor/um de Monte Cassino nos anos 1100. É lógico que Bizâncio funciona como um intermediário privilegiado na tradição do pensamento grego da Antiguidade .e em sua transmissão ao Ocidente. No entanto, a lógica do processo é mais complexa: dois fatores principais explicam que a herança grega no Ocidente tenha sido por muito tempo amplamente subestimada -- e que, apesar das aparências, em uma certa medida, continue do mesmo modo ainda hoje. Trata-se primeiramente do lugar evidentemente preponderante ocupado pela tradição latina, ainda que a transíêrência cultural proveniente do mundo helênico tenha funcionado bastante amplamente na Romã antiga. O segundo ponto âncora-se sobre a escolha religiosa e sobre o fato de que o Império bizantino, que é um império grego, seja ao mesmo tempo a terra da ortodoxia e escape assim ao modelo universal da cristandade romana. O Grande Cisma de 1054 tem por efeito ocultar amplamente no Ocidente o aporte intelectual bizantino. Entretanto, a cultura livresca é muito profundamente implantada no Império, onde se organiza e se desenvolve uma rica sociabilidade culta. É nesse meio que o Ocidente, tendo partido à procura de uma Antiguidade assimilada a uma idade de ouro, encontrará no século XIV os primeiros mediadores que Ihe permitirão redescobrir a Grécia sonhada. 6.2 0s muçulmanos e os livros Quando Mohammed (570-632) começa a pregar em Meca e na Arábia (por volta de 615), ele é o intermediário (o profeta) pelo qual Deus transmite sua mensagem aos homens: essa mensagem é o (h/üo. Mais tarde, os relatos dos atou e das palavras do profeta, recolhidos por seus discípulos, são igualmente integrados na Lei. Desde a época de seus primeiros sucessores (os califas), estabelece-se então o texto definitivo do Cbzzio, que é difundido pelos uo/urina, depois cód ces cuja apresentação material é particularmente cuidada (caligrafia e ornamentos). A amplitude 70 74 null null Frédéric Barbier História do Livro desse comércio explica a formação rápida de um artesanato de escribas e de livreiros, assim como aquela das primeiras coleções de livros nas cidades que abrigam cortes principescas, mas também nas proximidades das mesquitas mais ricas e nos centros comerciais. A partir do século IX, o desenvolvimento do livro árabe é ainda facilitado pela aparição do papel e pela sua rápida difusão no mundo muçulmano. O desenvolvimento das pesquisas âlosóficas, científicas e históricas, assim como o progresso da literatura árabe, resultam também na multiplicação de livros de conteúdos não-religiosos que vêm enriquecer as grandes bibliotecas. Em Bagdá, sob a dinastia Abássida (início do século IX), a Casa da sabedoria reunia o conjunto das traduções de obras filosóficas e científicas gregas, e conhecem-se outras bibliotecas análogas em cidades do Irã. A partir de 756, os Omíadas, expulsos de Damasco, reinam em Andaluzia e fazem de Córdoba sua capital: a biblioteca dos califas teria contado até quatrocentos manuscritos, em parte traduções árabes de manuscritos gregos bizantinos. A tolerância dos Omíadas atrai por outro lado para a Espinha um grande número de judeus até então estabelecidos no Oriente Próximo e que desempenham um papel privilegiado no movimento intelectual e artístico que atinge o apogeu no século X. Uma outra grande coleção de livros é aquela da Casa da Sabedoria organizada pelos califas Fatimidas no Coiro (início do século XI). Enfim, as residências dos príncipes possuem igualmente muito belas coleções e o apreço dos príncipes pelas artes do livro permanece uma constante (pensemos na biblioteca do palácio de Topkapi em lstambul). No século Xll, o movimento sunita concentra bibliotecas nas principais mesquitas e madrassas (escolas): o Cairo, Damasco, Kairouan, Fes, depois lstambul. Como se sabe, um certo número de conhecimentos e de textos da Antigtlidade serão transmitidos na Europa por intermédio dos árabes, notadaínente da Andaluzia, da Sicília e da ltália Meridional : trata-se de certos escritos ptolomaicos(portanto, em grego), cuja tradução latina é preparada sobre as fontes árabes. O Cãmome de Avicena (980-1037) é traduzido por Gerard de Crémone no século Xll e tem uma influência muito grande sobre o desenvolvimento dos estudos e das pesquisas médicas no Ocidente. Averrois (1126-1198), filósofo e teólogo originário da Andaluzia, trabalha principalmente sobre a tradição de Aristóteles: seus comentários sobre o filósofo grego, transmitidos por intermédio dos judeus, são conhecidos de todos os principais autoresda escolástica parisiense do século Xlll, à frente dos quais vem Alberto, o Grande, e Tomas de Aquino. Averrois é, então, exilado em 1198 por suas posições sobre a filosofa(que ele apresenta como autónoma em relação à religião). Enfim, mesmo se nós não podemos desenvolver esse ponto como conviria, a tradição judia e as escolas talmúdicas do contorno mediterrâneo desempenham igualmente um papel importante nesses processos de conservação e de transferência. Notas Letra maiúscula E/nPcz//enzen/ designa a base da letra (alto a baixo). Em fundição tipográfica, a presença e a forma da junção que permitem identificar certas grandes famílias de caracteres: a Antiga não tem junção no Elzevir, as junções são triangulares; elas são filiformes e retas em Didot 3 O modelo é retomado na época moderna: em Viena, o arquiteto Johan Bernhard Fischer von Erlach onstrói, a partir de 1715, a igreja Saint-Charles-Borromée (KZzzlsê/robe), cuja fachada apresenta um pórtico em colunas e duas "colunas triunfais" que retomam o dispositivo em uo/ámen da coluna rrajano. Acontece o mesmo em Paras com a coluna Vendõme, que Napoleão fez erguer em 1806, à glória dos soldados que tinham combatido em Austerlitz 4 Como testemunham as tabuletas de Vindolanda (perto do muro de Adriano, fronteira entre a Ingla- terra e a Escócia), que datam do fim do século e são ]aoje conservadas no Museu Britânico (Londres) 5 O .Breu/óz/ e dZ/ar/c dá a "lei visigótica" promulgada por esse rei em 506. Conserva-se o texto num manuscrito de 332 ff. copiadas talvez em Lyon, numa uncial extremamente regular, no século VI (Munich, Bayerische Staatsbibilothek, Clm 22501). 6 C'oc/ax (pl. (;'odíces): livro encadernado, por oposição ao uo/unem. Mme de Staêl é uma das primeiras a propor reavaliar esses "séculos sombrios": "Pode-se contar na história mais de dez séculos durante os quais acreditou-se muito geralmente que o espírito humano retrocedeu. Mas (...) eu não penso que a espécie humana regrediu durante essa época; eu acredito, ao contrário, que passos imensos foram dados no curso desses dez séculos, tanto pela propagação das luzes, quanto pelo desenvol- vimento das faculdades intelectuais..." (G. de STIAÊL, De /cz /ír/era/ure..., nova ed., Paras, 1991, p 162-163("Garnier-Flamarion") Informação de C. puré, em Zous /es sczooírs da monde..., Paria, 1996, p. 52, n'. 3. O caderno designa o conjunto de folhas constituídas por uma só folha de pergaminho ou de papel copiado ou passada pela prensa e, em seguida, dobrada Ais : pranchetas de madeira que formam as capas da encadernação. '' l-laje conservado em Verona Romã, B/ó/ío/eczz Hposi'ó//ca Ua/ícanzz, Vat. Gr. 1209. C'o?Pas abri»ze zso/"am .Romatzorz/m, Wolfenbütel, HAB Cod. Guelf. 36.23 Aug. Fol. (ltália do Norte século VI). Esse Cbd(n .4cer/ânus, a princípio integrado às coleções de Bobbio, passa em seguida para a biblioteca de Petrus Scriverius, na Holanda, a partir de onde, no século XVII. ele entra no acervo de Wnn fenbí\telErv nni 72 73 null Frédéric Barbier História do Livro is Leitura em voz alta. murmurada ou simplesmente acompanhada pelo movimento de lábios. i4 Lombada: parte da encadernação que corresponde à costura dos cadernos, oposta à concavidade dà outra extremidade das folhas. Lombada pode ser "com nervos" (as nervuras são aparentes) ou grega" (as nervuras são escondidas na espessura da lombada) 15 É a aridez do meio ambiente e a presença da areia que explicam que os principais testemunhos de que dispomos vêm do Egito: no oásis de Oxyrhynque, no Fayoum, onde se descobriram papiros, postando principalmente um fragmento do evangelho de Jogo do século 11. 0 mesmo ocorre en] Touro,perto do Coiro t6 No século XIX: numerosas peças musicais, cuja música é copiada ou impressa para ser tocada pelos amadores jamais serão registradas. Z)e?"A/eue .f)au/y..., Stuttgart, Weimar, 1998, t. V. co1. 548-551. ]Ze PÍ/re à 7'1mzo/ée, IV, 9 à 13. o Génese, Êxodo, l.eoÍtico, Números, Deuteron6mio. 20 Livros históricos e Profetas propriamente ditos : de Josz/é à 7Ha/agu/zzs. 2i O mais antigo manuscrito da Bíblia hebraica completa, hoje conservado, é o C'odes /e#zí z8radetzsís e data de 1008. 22 As Igrejas protestantes não reconhecem os sete livros deuteroncanõnicos 2s Artigo "Bibliothêques" (de J. De Ghellinck, SJ.) no .Dícflonzzíre de sPÍr//zJa///é asco ig#e ef 72zys&íque, t. l (Paria, 1937), colunas 1589 e seguintes 24 As colunas apresentam sucessivamente: o texto hebreu não-vocalizado, a tradução grega de Âquila (135 a.C.), a tradução de Símaco (por volta de 200), aquela dos Sefenrcz (por volta de 200 a.C.), aque- la de Teodoção (por volta de 180 a.C.), enfim a transliteração do texto hebreu em alfabeto grego (com vocalização). Os .Hlagçap/e são publicados pela primeira vez por Dom Bernard de Montfaucon (1655-1741), por L. Guérin em Paria (1713), com acréscimo de uma tradução latina e do texto da Uu/ga/zz (por Albaric). zs ]SIDORE DE SÉVILLE, Vi, 6, 1. 26 Duas consequências maiores do episódio de 410: um certo número de letrados romanos se refugiam na África. que se torna por um tempo um conservatório da cultura antiga (Santo Agostinho começa a publicar Za cíié de .Dica em 413); por outro lado, o bispo de Romã torna-se um dos principais personagens da Igreja. Ao lado de Romã, outras grandes coleções de livros e arquivos existem no ocidente, em Milho, Traves, Cartago, etc. 27 Casa fundada em 546 próxima a Squillace, a antiga Skylletion (Calábria). 28 CbssÍodod senzzlorjs /ns//fut/odes, ed. R.A.B. Mynors, Oxford, 1937. 29 Existem três exemplares da Bíblia em Vivarium, todos os três desaparecidos: o primeiro. em nove volumes subdivididos em setenta e um livros; o segundo, que traz o texto de São Jerõnimo, em 636 folhas; o terceiro, o Codaxgrand/or, traz a oe/us /afina em setenta livros e 760 folhetos. É este último manuscrito que serve de modelo para o C'odes.Ám/a&/nus, copiado em Romã no VI século, oferecido ao papa por Ceolfrid (690-716), abade de Wearmouth-Jarrow, e ilustrada de uma pintura representando um escriba no trabalho -- talvez o retrato do próprio Cassiodoro. C) C'odeio.4mÍalí- nü.s é hoje conservado em Lurentienne de Florence se Séz.íe des anolzpmes..., Solesmes-Bellefontaine, 1985, n'. 285 (citado por L. REGNAUI.T, Zzz o/e g o/í- dlenne des Pêras dü désen en É&yple au /t''síêcle, Paria, 1990, p- 106) 3i Cuja vida será redigida por Sulpice Sévêre s2 Destruída pelos sarracenos em 883, o monastério renasce a partir do fim do século X: o apogeu é atingido quando três abades são eleitos papas, Êtiene IX, Victor 111 e Gelãsio ll. ss Leitura da Bíb//zz e seus comentários, especialmente aqueles dos padres do Egito, mas tanabém leitu- ra dos tratados de Cassiano, das V!/ae .f'ãfrum (Vidas dos Padres) e das .Regras de Basile. 34 As ilhas Britânicas são cristianizadas a partir de Romã no fim do século V n Casa fundada por volta de 559 por santo Comgall, destruída pelos dinamarqueses em 824. O única vestígio da atividade do scnProríKm primitivo é constituído pela '4n/iPóolzaíre de Bangor(por volta de 685) (Biblioteca ambrosiana, Milho) 3ó Cbd/ces SCznga//entes, Sigmaringen, 1995 s7 Dirigido por Alcuin e onde se estuda o IP"iaÍtlm (gramática, retórica e dialética), o guadríuí m (aritmética, geometria, música, astronomia) e a teologia. Sobre o conjunto desses fenómenos, ver P. Wolff, Z'eoe// ín/e/ecfae/ c/e /'Zzv/'oPe, Paras 1971 ("Histoire de la pensée européenne", l). 38 Théodulfe, bispo de Orleans e abade de Fleury no início do século IX 39 É etn Puída que é formado Éginhard (775-840), originário da região do Main, antes de vir para a corte de Cartas Mogno, onde redige a UZ/a C'aro// (Vzdzz de Cb/"/os .Mogno) 10 E. K. RAND, Sr dias ín lóe scrPf ofnours, ] [11], Cambridgc(Mass.), i929-1934, 3 vo] Um grupo de letras ligadas designa um grupo de letras escritas juntas. As ligaduras se encontram na tipografia : o logograma (&) é, na origem, uma ligada.ira e/, as ligaduras são correntes para os grupos jlf, St, F, Ctc O primeiro exemplo seria, entretanto, dado pela .B/b/ízzdo abade Maurdramine de Corbie, em torno de 775 (hoje em Bm. Amiens) Destacamos o papel do concílio de Constance para os trabalhos dos humanistas italianos. A pes- quisa dos manuscritos antigos é empreendida na ltália no início do século XIV. mas será reativada pela realização do concílio, durante o qual numerosos humanistas fazem parte das proximidades do prelado e descobrem a riqueza das bibliotecas alemãs (Saint-Gall). 'Também de Poggio Bracciolini (secretário da Cúria pontiflcal depois chanceler da Seigneuiie de Florença, 1380-1459) e de Cincio Romano, que escreve, em 1416: "Na Alemanha, há nlmlerosos monastérios com bibliotecas plenas de !ivros latinos. Isso acendeu em mim a esperança de que certas obras de Cícero, Varão, Tito Lívio e outros grandes homens de cultura, que parecem ter completamente desaparecido, possam retor- nar às luzes se se proceder a uma minuciosa pesquisa..." L. BERTIALOT, "Cincius Romanus und reine Briefe", em Quellen und Forschungen ausiitalienischen Archiven und Bíbliotheken, XXI, 19Z9-IPSO p. 222-225. Ver também L.D. REYNOLDS, L.G. WILSON, ed., D'Homêre à Érasme: la transmission des classiques grecs et latina, Paras, 1984). Vélin: pergaminho obtido a partir da pele de um bezerro natimorto, e que constitui um suporte de escrita particularmente liso e fino 45 O formato designa a indicação normalizada do número de vezes que cada folha foi dobrada para entrar na constituição de um caderno(í?zlb/ío: uma dobra, dois folhas; ím-q arfa: duas dobras quatro folhas; ín-oí/auo: três dobras, oito folhas, etc.). 4ó A utilização de um pergaminho mais fino, no século Xlll, permite reduzir consideravelmente o títmanho dos volumes, mas, em todo caso, o consumo de peles de carneiro é considerável. Para o C'odes Sina///cas (aproximadamente 350), calculou-se que seria necessário utilizar ao menos trezen- tos e sessenta e cinco peles de cabras ou de carneiros. Para uma .Bíb/ía turangeana do século IX, precisariana de duzentas e dez peles 47 BnF, ms latim 3239, folha 140-141, citado em .[ê //are, 1972, no. 53. 18 0 jesuíta Ângelo Mai(1782-1854), escritor da Biblioteca Ambrosiana (Melão), em 1813. é nomeado prefeito do Vaticano (1819) e receberá o chapéu de cardeal (1838). É em Melão e em Romã que Mai faz um grande número de descobertas relativas aos textos literários até então desconhecidos e conservados sob Forma de palimpsestos. 49 O enquadramento designa os traços a estilete ou a grafite e destinados a guiar o escriba em sua escrita (J.-F. Gilmont). Por extensão, é a operação que consiste em traçar esse quadro. 5' Por glosa entende-se o comentário do texto principal, copiado com este último. Segundo sua dispo- sição, falar-se-á de glosa marginal ou de glosa interlinear. A rubrica designa uma parte de texto escrito ou impresso em vermelho (latim raór m); por exten- são, tema geral sobre o qual são agrupados vários artigos num periódiço (a rubrica "Economia"); a rubricação designa a ação de rubricar, ou seja, de copiar em vermelho; o rubricador é o monge ou o copista que faz as rubricas 52 Bibl. Cantonal e univ. de Friburgo, L. 64 (reprod. Gz//enóerg, 2000, GM 27). A descoberta do Codex S/nczí/ecus é em si mesma um verdadeiro romance. Antigo estudante da Universidade de Leipzig, Constantin Von Tischendorf se especializa no estudo do Novo Testamento e empreende uma viagem de estudo ao Oriente Próximo (1844). Ele descobre, em Santa Catarina do Sinal, fragmentos de manuscrito que }Jle parecem bem antigos do qual ele adquire 43 folhetos (de 129 na origem). O manuscrito entra na coleção da Biblioteca universitária de Leipzig. Durante st.la terceira viagem, Tischendorf consegue fazer com que o monastério ofereça o essencial das folhas restantes ao tear: o manuscrito, a princípio em são Petersburgo, será vendido em 1933 para a biblioteca do .Mz,lseu Br//c2níco 74 75 Frédéric Barbier 54 Bnf suppl. Grego 1286. 55 Na Biblioteca Nacional de Viena. 5õ J. IRIGOIN, "Platon, Lê banquet", em M/se en /?age..., p. 37-39. Uaf/czznus /zz/ânus 3225 58 BnF, n. a. 1. 2334 e ver Ze /fure, 1972, n'. 630. 59 Drogon, bispo de Metz de 826 a 855. BnF, lat. 9428 (e Ze /core, 1972, n'. 245). Um sacramentário designa o livro utilizado por aquele que celebra a missa e que contém o cânone, a consagração, as preces (que variam cada dia), freqtlentemente a ardo do bispo. óo Nota do tradutor: O termo /ex/ a//zózção foi usado para traduzir a expressão tnise en texto' e outras que incluem em seu significado a organização material do texto. Bm Valenciennes, ms 521 ó2 B. GUI, .À/amua/ de /' ng ís//e C ed. G. Mollat, 1, Pauis, 1964, p. 27 e 63. ós De Zex/con despesa»z/en .Bz/cba'esens, 11, 43-46. Nós ultrapassamos, nesses parágrafos, a cronologia do presente capítulo, a l:im de não pesar demais o plano geral. Sobre o livro bizantino, dispõe-se de um excelente pequeno manual: H. llUNGE.R, Scóreíóen und /esen í/z Byzanz ; d/e ZWzatzf//zíscbe .Bucó& //WC Mtinchen, 1989. õ4 inventado na China no século 11, o papel é conhecido dos árabes a partir do século Vlll, e é por meio deles que ele atinge a costa do Mediterrâneo (em torno de Cartago, na Palestina, no Sinal, etc.)(: Capítulo 3 A abertura ao livro (século X - início do século XV) l Conjuntura ampla: da desarticulação ao desenvolvimento 1.1 Desarticulação do mundo carolíngio O prometo sonhado do Renascimento carolíngio supõe condições que não estão reunidas nos séculos IX e X: o restabelecimento durável do Império sob a forma de um império cristão dirigido pelo imperador e pelo papa deveria, com efeito, se apoiar sobre a representação da "coisa pública" enquanto conceito abstrato e, ao mesmo tempo, dispor de meios materiais que assegurassem a independência do soberano. Ora, o reinado ou o principado permanece um bem privado, que o soberano lega a seus sucessores e que se encontrará então dividido el-n várias "partes" após sua morte. Além disso, o poder real se pulveriza entre uma multidão de responsáveis locais ou regionais e o espaço político, assim como o económico e o cultural, tende a se despedaçar. A regionalização dos poderes é ainda favorecida pelas invasões sarracenas, húngaras e, sobretudo, normandas,' contra as quais apenas as autoridades locais (o conde carolíngio e o bispo) estão aptas a coordenar a defesa. Ao término, é a chegada ao poder do feudalismo e da primazia dada aos liames de pessoa a pessoa, do suserano a seu vassalo. O soberano, apesar da dimensão sagrada de seu estatuto, a princípio não é mais que o personagem que se encontra no cume da pirâmide feudal. 76 77