Buscar

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Frédéric Barbier
História do L&ro
Tradução:
Valdir Reitor Barzotto(coord., rev. técnica e trad.)
Ercilene Mana de Souza Veta(rev. téc. e trad.)
Andreza Roberta Rocha
Fábio LucasPierini
Luzmara Curcino Ferreiro
Sidney Barbosa
r
!
r
- edibrw -
São Paulo 2008
l
b
r
© Copyright by Armand Colin 2001
«Ouvrage publié aves le concours du Ministêre français
chargé de la Culture -- Centre National du Livre>>
Sumário
Editora responsável
Adélia Morta Marçano da Silvo Ferreiro
Apresentação.
Advertência . .
13
15
17Tradução
Valdir Heitor Barzatto(coord. rev. técnica e traí.}
Ercf/ene Marca de Souza Vila (rev. téc. e traí)
Andreza Roberta Rocha
Fábio Lacas Pierini
Luzmara Curcino Ferreiro
Sidney garbosa
Introdução
l Etimologia
lárin .. ..........................
bro HHgPPPF HHHUHUUPn Ha aHPHFPPHnn
17
18
20
21
22
3 Histórias de livros
2 Definições
Capa e Diagramação
AIPha Design
www.alPhadesign.com.br
4 Perspectivas
Nota de vocabulário
Primeira Parte
o tempo do manuscrito
B191 Barba.er. Frédéric
Hi.stória do livro. / Fréderlc Barba.er. Coordenação, tradução e revisão
técni.ca de valdir Hei.tor Barzotto e outros. - São Paulo: Paulistana. 2008
475 P
Infothes Informação e Tesauro
Capítulo l A invenção da escrita. O livro na Antigüidade
l Como a escrita apareceu e evoluiu?
1.1 As primeiras escritas.....
1.2 A escrita alfabética grega e latina ...
1.3 Conseqüências da invenção do alfabeto --
27
27
.29
33
27
Tradução do original Hi.stop.re du li.vre Pari.s Armand Cola.n, 2001
ISBN 978-85-99829-24-0 2 A Antigüidade
2.1 0 uoZumen .
2.2 Copiar ...
2.3 Ler.....
o tempo dos rolos. 33
33
34
.36
1. Livro. 2. Escrita. 3. Impresso. 4. Imprensa. 5. História do Livro
na Idade Antiga. 6. Hi.stóri.a do Li.vro na Idade Médi.a. 8. História do
Livro na Idade Moderna. 8. Hi.stóri.a do Li.vro na Idade Contemporânea
9. Históri.a do Livro no Século XX]. ]. Títu]o. ]]. Barzotto. Va].di.r
Hei.tor, Coord. 111. vi.ta, Era.Iene Mana de Souza, Trad. IV. Rocha
Andrezza Roberta, Trad. v. Pi.erini, Fábi.o Lucas, Trad. vl. Ferreira.
Luzmara Cura.no, Trad. VII. Barbosa, si.dney, Trad
3 Produção e difusão dos livros no Império Romano
3.1 Editar ......-----
3.2 Vender.
37
37
39
41
41
.44
CDU
CDD
002:93
002
4 Bibliotecas
4.1 0 sonho de Alexandria
4.2 As bibliotecas romanasCatalogação elaborada por Wanda Lucra Schmidt CRB-8- 1922
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer processo
eletrõnico, mecânico ou fotográfico. incluindo fotocópia, xerocópia ou gravação, sem a
autorização prévia e escrita da Editora.
Capítulo 2: Da alta Idade Média à época carolíDa alta Idade Média à época carolíngia 51
A revolução do Codex ----,...------
1.1 A minúscula..
1.2 0 Codex
1.3 Generalização do Codex
1.4 Conseqüências da invenção--.
51
51
52
53
.54
ro HHP P a pHHPHPPPP pnP HPHHPHHFPPP
rlç noo BP PPPPPnPPnaOPPOPUouPPPPHPPnP0 uOP
2 A Igreja Primitiva e os livros
2.1 A herança antiga .......
2.2 A Igreja Primitiva ....
2.3 Primeiras bibliotecas cristãs
55
55
56
57Todos os direitos desta edição reservados à
?buÜóü«"-,
- edíbru -
3 0 monaquismo
3.1 0 monaquismo oriental
3.2 No Ocidente
59
59
.60
62
62
63
Editora Paulistana Ltda.
Rua Artur de Azevedo, 2.100 sala 3 Pinheiros
05404-005 São Paulo-SP
[2008]
www.editorapau listana.com.br
4 A renascença carolíngia
4.1 A renouatío ímPerí
4.2 A reforma dos livros .
3l
K
Capítulo 2
Da alta Idade Média à época carolíngia
l A revolução do Codex
1.1 A minúscula
O alfabeto latino se apresenta a princípio numa escrita
monumental lapidar, em maiúsculas: sem basez nem planos que se
opõem aos traços. O modelo perfeito é aquele das inscrições da
coluna Trajano em Romã(113 a.C.), construída pelo imperador no
centro das bibliotecas romanas e que desenrola de alto a baixo dois
ooZumina ilustrando os feitos de armas do soberano.s Uma vmiante
é a escrita que se observa sobre as inscrições nos muros de Pompéia
Jlséculo l a.C.), e que foi designada como a 'rústica': as letras são
mais estreitas e possibilitam que se erga a mão menos seguidamente
durante a escrita. Essa escrita será utilizada para os títulos de certos
manuscritos até a baixa época carolíngia(século X).
Uma ruptura cronológica maior tem lugar no século l a.C.,
quando a ampliação das práticas ligadas à escrita se faz sentir na
própria forma desta. Ela passa da capital onipresente, derivada
de inscrições monumentais, às formas cada vez mais cursivas e
simplificadas, nas quais começam a aparecer as hastes acima e
abaixo da linha: a rapidez da escrita é maior e a leitura se encontra
facilitada pelo fato de que os elementos específicos das letras são
mais aparentes. A cursiva e seus derivados são a escrita mais
divulgada na Romã antiga. A civilização-urbana que se desenvolve
sob o Império supõe de fato uma especialização das tarefas, o
desenvolvimento das funções de relações e, de uma maneira geral,
um conhecimento mais amplo da escrita.4 O processo se modifica
ainda a contar do século IV, quando se passa pouco a pouco
5'f
null
null
null
null
'q 'q rH p' pp'-
Frédéric Barbier História do Livro
da maiúscula à uncial (dominada pelas formas arredondadas de
certas letras, sobretudo Z), .E e .W, e caracterizada pela presença de
pequenas hastes), depois à semi-uncial.s Enfim, o desenvolvimento
dessas formas cursivas e a reorganização dos gestos do escritor
levam à aparição de uma nova escrita, chamada, de maneira
aproximativa, a minúscula:
pergaminho.
1.3 Generalização do Codex
O codé?x não se impôs absolutamente na Romã imperial,
onde o livro permanece um ao/ume71 sobre papiro, enquanto o
pergaminho e o codex servem apenas para trabalhos mais rápidos
e sobretudo mais breves, notas ou rascunhos. A generalização
do codex data apenas dos séculos 111 e IV: a pele (de carneiro)
é preparada para servir de suporte à escrita, depois, uma vez
copiado o texto, ela é dobrada uma ou duas vezes para constituir
um caderno.o Os cadernos reunidos uns seguidos dos outros são
em seguida costurados juntos e colocados sob uma encadernação:
é o livro sob a forma que nós o conhecemos ainda hoje. Entre
as principais vantagens do pergaminho em relação ao papiro,
destaca-se a possibilidade de ser utilizado dos dois lados -- no
entanto, é mais difícil enrola-lo. Com o codex, desenvolve-se
igualmente a encadernação. Os primeiros exemplos conhecidos
são egípcios: os cadernos são costurados entre si e fixados nos
eixos, estes constituídos de duas pranchetas de madeira.P No
Ocidente, a técnica de costura é muito variável, mas ela se funda
ordinariamente sobre o tipo em duas meadas de fio.
Em relação à maiúscula, a minúscula é um progresso absoluto: ela é
muito mais legível (...). Certos caracteres têm hastes que se elevam
e se abaixam acima do corpo das letras, cada palavra possui uma
silhueta que Ihe é própria (...), o olho pode reconhecê-las mais
facilmente quando segue, o que é o caso na leitura rápida, a parte
superior da linha-. (Robert Marichal)
A uncial (letras romanas) se encontra ainda na época
carolíngia, mas sobretudo nos títulos e no ímcÜÍr.
1.2 0 Codex
É muito surpreendente constatar que os anos sombrios da
Baixa Antiguidade são precisamente aqueles em que aparece, ao
lado da minúscula, uma forma material nova, destinada aos maiores
desenvolvimentos: o codepç, ou livro dobrado e encadernado, do
qua! o suporte é de agora em diante o pergaminho (é mais difícil
fazer cód ces em papiro).ó O termo latim codex nos faz remontar
vários séculos atrás, uma vez que sua primeira aparição conhecida,
por meio de Marcial, data de 85. Trata-se originalmente de uma
lâmina de madeira (lat. caHdex), depois, por extensão, de uma
reunião de lâminas mantidas juntas por um laço e sobre as quais
são anotadas contas ou outros apontamentos sem valor durável.
Descoberto no Fayoum, o "Caderno de Theodoro" consiste em
exemplo excepcional, mesmo sendo relativamente tardio':' é
um conjunto de dez tabuletas recobertas de cera, reunidas por
laços de couro(já desaparecidos) e protegidas por duas capas
de encadernação.O texto corresponde aparentemente ao trabalho
de um escolar do século VI. Ocasionalmente, encontram-se
códices nos quais um outro suporte é utilizado, notadamente o
Distribuição dos livros conservados segundo sua forma material, séculos l-V
Os manuscritos mais antigos hoje conservados, se
colocamos à parte os papiros egípcios, remontam à época da
generalização do codex: por exemplo um codex da Cidade de
Deus, que poderia ser contemporâneo de Santo Agostinho (354
430).io O Codex UalÍcamus data da metade do século IV e traz
o texto grego da Bib/ a.:' Conserva-se igualmente ein codex um
53
japud Robert Marichal, art. citado, p. 4ól
 AAanuscritos gregos AAanuscritos latinos
Séculos «ilumina Códices «ilumina :ódices
 450 99% 4 1% 5 83% 17%
l É F 442 71% 179 29% 17 90% 2 10%
V 1 1 4% 233 0 o% 43 100%
null
null
null
null
null
null
null
null
null
null
null
null
Frédéric Barbier História do Livro
tratado de agrimensura do Baixo Império Romano, em uncial e
com várias pinturas dentre as quais, talvez, o retrato do autor.:: A
yu/ga/e de Saint-Gall, em duas colunas, teria sido copiada, talvez,
da época mesmo de Sãojerânimo. No século V, o codex suplantou
definitivamente o oo/unem, como o mostram as estatísticas de
Robert Marichal.
franjas de duas civilizações, onde os processos de transferências
culturais são facilitadas. É possível também que, em período
de crise, se tenha procurado um procedimento de fabricação
que permita estacar mais informações(de texto) a menor custo
-- o que é o caso do codex. Mas é definitivamente necessário
reconhecer que nós não temos explicação plenamente satisfatória
que dê conta dessainvenção
1.4 Consequências da invenção
A invenção do codex é absolutamente fundamental para o
futuro da civilização escrita, porque ela proporciona caminhos
para os desenvolvimentos futuros do trabalho intelectual sobre
documentos escritos. O codex; está dividido em elementos
semelhantes (os folhetos, cada um composto de duas páginas) e
se presta, portanto, bastante bem à consulta parcial, pois se pode,
ao anal, superpor-lhe um sistema de referências que facilita a
consulta (a paginação). Do ponto de vista do uso imediato, pode-
se consultar o codex tomando notas, o que permite o abandono da
leitura oralizada:õ para privilegiar o trabalho individual em silêncio.
Enâm, guarda-se o codex deitado sobre tabuletas com a lombada:'
do livro contendo seu título, o que facilita a sua recuperação e
identificação. A combinação do codex e da minúscula produz uma
ferramenta intelectual muito potente, desconhecida até então. No
entanto, essas modificações permanecem séculos apenas como
potencialidades. As formidáveis capacidades do codex só serão
plenamente exploradas no século XVI, duas gerações depois de
Gutenberg: sua lógica recobre a lógica dupla dà massificação
documentário e do desenvolvimento do sistema de referências.
e somente encontrará plena realização com a multiplicação dos
livros tal como a imprensa o permitirá.
O codex é o suporte primeiro da cultura escrita no Ocidente
há dois milênios. A distorção é surpreendente, entre a conjuntura
geral catastrófica do século IV ocidental e a invenção maior que
é o codex. É possível que a entrada em cena massiva de recém-
chegados (os germanos, depois os eslavos) seja acompanhada de
inovações técnicas importantes, como se constata no domínio da
metalurgia: sabe se que a inovação nasce mais facilmente sob as
2 A Igreja Primitiva e os livros
2.1 A herança antiga
Mesmo que as bibliotecas e as coleções de livros sejam
numerosas na Antiguidade clássica, nós não conservamos hoje mais
que restos: os manuscritos antigos nos chegaram apenas em número
ínfimo, ao mesmo tempo porque as condições de conservação:s e
as destruições não permitiram e porque a substituição de livros
em rolos por livros encadernados foi acompanhada do abandono
e da destruição dos primeiros. Os pagãos, mais apegados à cultura
clássica, privilegiaram o z,'o/amem e o papiro, ambos mais difíceis
de conservar que o codex e o pergaminho, sendo que um grande
número de textos provavelmente desapareceu, porque a mudança
para o novo suporte(o livro dobrado e encadernado) não foi
generalizado: os oo/uz?zona que foram julgados muito antigos
ou menos interessantes não foram recopiados. O fenómeno do
desperdício que se observa nessa ocasião se encontra a cada
mutação técnica, quando o suporte majoritário é abandonado em
favor de um novo suporte: isso ocorre do mesmo modo com a
invenção da tipografia em caracteres móveis (um certo número de
textos manuscritos não serão impressos) ou com procedimentos
de reprodução do som.:õ Ocorre, provavelmente do mesmo modo,
hoje com a irrupção das novas médias
Nos séculos IV e V. os notáveis do Baixo Império romano
frequentemente são letrados que conhecem a literatura clássica, se
converteram ao Cristianismo e ocupam às vezes postos importantes
na hierarquia eclesiástica. O modelo perfeito desses personagens
é Sidõnio Apolinário, bispo de Clermont, mas citaremos também
54 55
null
null
null
null
null
null
null
null
null
null
null
null
Frédéric Barbier História do Livro
São Jerânimo (331/348-419/420). Originário de Panânia (Strídon),
Jerõnimo tem uma formação literária muito boa: ele é aluno de
Donas em Rama, cidade onde ele se converteu e foi balizado.
Somente depois de uma peregrinação a Jerusalém (em torno
de 373) ele se volta para a vida de asceta, no deserto da Síria.
Tornado padre (379), mais tarde secretário de Dâmaso, em Romã,
Jerõnimo se retira a Belém, em 384, aí conclui o essencial de
sua obra intelectual.:7 São Bento de Nórcia (aproximadamente
480-547), filho de ricos proprietários e fundador do Monte-Cassino
e da Ordem dos Beneditinos, é uma outra dessas muito grandes
figuras de letrados cristãos. Nada de surpreendente então se a
Igreja, única estrutura coerente no desmoronamento total do
mundo romano, seja a mediadora principal para o lado do qual o
essencia[ do que nós possuímos da literatura antiga nos chegou.
O fato de que a Igreja cristã tenha adorado o latim como língua
oâcial constitui também um dado fundamental para a tradição
da herança antiga e para a difusão do latim, a termo, nas regiões
recentemente cristianizados que nunca tinham feito parte da
Románia (a Germânia Trans-Rena e a Boêmia, a Polânia, uma
parte da Hungria, a Escandinávia...).
O apóstolo Paulo viaja com sua documentação e seus livros
(aparentemente códices), pois que, em 67, ele pede a Timóteo que
os traga depois de ter sido aprisionado:
Esforça-te para vir perto de mim (...). Somente Lacas está comigo
(...). Pegue Marcos e traze-o contigo (-.). O casaco que eu deixei
em Troam, na casa de Carpus, traze-o quando vieres, e também os
livros, sobretudo os pergaminhos...t*
O texto central da Igreja é a 23z'b/{a, cuja tradição é muito
complexa. O cânone judeu (massorético) é lixado pelo sínodo de
Yebnah (90/100 d.C.) e compreende a Lei(a Zoxab: o Pentateuco:9),
os Profetas (Azebf'íln):' e os Escritos hagiográficos (Kelbouóíh).::
A tradução em grego dos Safem/a a eles adiciona sete outros
livros: fobias, Judith, Sabedoria de Salomão, Eclesiastes, Baruch
1, Macabeus l e ll (os livros deuterocanânicos), sendo que este
conjunto definido como canónico pelos cristãos será confirmado
pelo Concílio de Trento.:: Outros livros dele não fazem parte,
porém suas epígrafes são reconhecidas por certas Igrejas orientais.
O cânone do AÃouo Zes/amenro reagrupa dois conjuntos: o primeiro
incide sobre a vida de Jesus (os outros evangelhos), o segundo,
sobre a organização da Igreja Primitiva (os .4/os dos Apóstolos e
um importante conjunto de cartas). O época/@se de Jogo constitui
um livro à parte, que fecha o conjunto.
2.2 A Igreja Primitiva
Naturalmente, a transmissão da herança antiga não é
tudo, a parte mais importante das coleções que se constituem
na cristandade primitiva apóia-se no domínio religioso: sabe-se
que os manuscritos do Mar Morto, descobertos nas grutas de
Qumran a partir de 1947, são os vestígios da biblioteca, composta
de uns oitocentos uo/m na e pertencendo a uma comunidade
"provavelmente essênia"(Colette Sirat) lá estabelecida entre os
séculos IT a.C. e os anos 68-70 de nossa era. Trata-se de textos
quase exclusivamente religiosos -- textos bíblicos e comentários
sobre a BÍb/{a, preces, regras, crónicas, etc.
Rapidamente, os apóstolos se preocupam em transmitir a
mensagem de Crista, e a fundação das primeiras igrejas cristãs são
acompanhadas de um trabalho de correspondência e de escritas
de documentos, seguidamente conservados numa peça específica.
2.3 Primeiras bibliotecas cristãs
Conhecemos a existência precoce de bibliotecas cristãs
nas Igrejas orientais, em Corinto (no século 11), mas também
em Alexandria e em Jerusalém.:s Banido de Alexandria em 231,
Orígenes (aproximadamente em 185-253) funda em Cesaréia de
Palestina uma biblioteca que constitui, com seus trinta mil livros, o
principal centro intelectual da cristandade dos primeiros séculos:
ele mesmo trabalha sobre o texto do Ue/bo Zes/amemfo, ao qual
ele se dedica a comparar diferentes versões dispondo-as em seis
colunas (os /7exa@Ze).:' Eusébio de Pânfilo (265-309), autor da
grande //ísfó7"/a ec/és/asríca, é eleito bispo de Cesaréia em 313:
ele trabalha sobre a organização do texto dos Euange/bos, que ele
56 57
null
null
null
null
null
null
null
null
Frédéric Barbier História do Livro
subdivide em parágrafos e do qual empreende o estudo comparado
(Epange/bos sínóPfícos), mas enriquece também consideravelmente
a biblioteca e prepara seu catálogo.:s É ainda a Cesaréia que virá
Hilaire de Poítiers (t 367) ao curso de seu exílio e é aos copistas
de Cesaréia que se dirigirá o imperador Constantino para fazer
fabricar os cinqüenta exemplares da Bíb//a destinados às novas
igrejas de sua nova capital, Constantinopla.
Em seguida, os acervos de Constantinopla são muito
particularmente importantes. No Ocidente, a Igreja de Romã
possui arquivos e uma biblioteca muito ricos que desaparecem
durante a perseguição de Diocleciano (303-311), que se dedica
expressamente à destruição dos livros cristãos. Mas o Édito de
Melão institui a liberdade religiosa no Império (313) e, rapidamente,
os acréscimos retomam a ponto de Dâmaso 1 (36P-384) ter de
construir um edifício para os arcbÍuia da Igreja. Jerânimo fala
de pesquisas que ele só pode executar na cba acez/m romanas
ecc/exige (os arquivos da Igreja de Romã): durante suas viagens, ele
copiará em Treves dois livros de Hilário e trabalhará longamente
(382-385) nas coleções romanas. Uma nova catástrofe sobrevém
com a invasão bárbara de 410 e a tomada de Romã pelos Visigodos
d'Alaric.:õ Entretanto, os acervos se reconstituem durante o século
V. O papa Agapito manda construir uma nova biblioteca (535-536)
e colabora com Cassiodoro (em torno de 485-580), antigo chanceler
de Theodorico, o qual funda uma instituição de conservação e de
pesquisa. Trata-se da biblioteca do monastério de Vivarium,;' que
conhecemos pelo texto das /HsrÍfufíoHcs28 e que foi a primeira
coleção a ter disposto da versão completa da Bíb/ía em latim sob
uma forma reagrupada (anteriormente, era necessário consultar os
diferentes volumes de cada livro) :
-- um sistema que estará em uso até a reforma parisiense do
século XTTI. Vivarium não parece perdurar depois da morte de
Cassidoro, a biblioteca teria sido transportada para Romã onde a
futura Vaticano, instalada no Palácio do Latran, tornou se muito
importante desde o pontificado de Gregório, o Grande (590-604).
3 0 monaquismo
3.1 0 monaquismo oriental
Um lado muito impoüante da tradição escrita nos vem do
mundo regular, e primeiramente dos eremitas e dos monges do Oriente
(início do século IV). O primeiro, Antõnio(t356), se estabeleceu
no deserto e fundou a tradição do eremitismo, antes que Pacâme
(t346) estabelecesse, por volta de 325, uma primeira comunidade
organizada e regulada, no Alto-Evito. Muitas outras fundações se
seguiram. Apesar do desnudamento quase completo desses "padres
do deserto", o livro não estava ausente das ermitagens e certos monges
tinham, eles mesmos, uma atividade de copistas. Comumente eles
possuem, no deserto, apenas um manuscrito, raramente vários, e os
assuntos são exclusivamente religiosos: a .Bíb/ía, sobretudo o A4)oo
7êslízn?emlo e o livro dos Sa/mos, com comentários, mas também os
Hpopb/egmaes dos Padres do deserto, etc.
Cassiano, que é feito monge em Belém, permanece
no Baixo-Evito entre 385 e 400 e redigirá suas /nsfiruíções e
suas CbrÜezemcias, cuja influência será considerável sobre os
estabelecimentos monásticos no Ocidente (Provença). A tendência
ao crescimento das bibliotecas conservadas nas células é julgada
negativamente:
O codex gxazzdjor tinha uma tradução feita a partir dos Se/en/a e
revisada porJerõnimo ; aquela queJerõnimo havia feito diretamente
sobre o hebreu, a Wu/góz/óz, ocupava (.-) o outro manuscrito. (Pierre
Petimenginyv
Trabalha-se, além do mais, em Vivarium, na reorganização
do texto sagrado, com a divisão em capítulos(capífu/a) numerados
Os profetas escreveram livros, depois vieram os padres que
os colocaram em prática. Aqueles que vieram depois deles os
aprenderam de cor. Depois a geração presente veio c os copiou e
colocou, inúteis, nos balcões...30
Certos textos fazem pensar que a regra lá impunha consagrar
uma parte regu]ar da jornada à leitura das Escrituras (a /ec/Zo da
/iib/ía e de seus comentários), ao passo que o cargo de bibliotecário
58 59
null
null
null
null
null
null
Frédéric Barbier História do Livro
aparece nas primeiras comunidades (na África desde 423) e que a
prática da leitura em comum se difunde. Essas disposições se fazem
mais presentes no século V e no século Vl: a regra de Pacâme
previa que o monastério possuísse uma biblioteca conservada
cuidadosamente (ein torno de 400). A biblioteca de Santa Catarina
do Sinai, monastério fundado por Constantino por volta de 530, é
particularmente célebre.
(em torno de 543-615) é formado em Bangor's e funda o
monastério de lona (nos Hébrides), depois, no continente,
Luxeuil e Bobbio (612). Seus êmulos continuarão sua obra (em
657/661, Córbia é uma filha de Luxeuil) e, com Bonifácio, o
estenderão para a Germânia: a divisão do mundo germânico,
depois de uma parte do mundo eslavo, no Ocidente, se faz pelo
viés da cristianização, portanto da escrita. Na Alemanha, são
os grandes abades de Echternach, de Saint-Gall,õ6 Constance
e Reichenau, mas também de Puída. Os monges de Corbie
fundam Corvey, sobre a Weser, e cristianizam a antiga Saxe,
abrindo caminho para o Norte. Os bispados são criados sobre
o mar do Norte (Hamburgo, depois Bremen), a partir dos quais
os missionários percorrem a Escandinávia e os Bálticos.
3.2 No Ocidente
Influenciados pela Igreja do Oriente, o início do
monaquismo no Ocidente e na Gália parece relativamente
hesitante. Na Gália, a tendência é primeiramente a da reunião
de "eremitas" atraídos por um mestre: Martin (t 397)s: está na
origem de Ligugé e de Marmoutier, Honorat (t 429) atrai um
grupo de ermitões para Lerins no final do século IV... Essas
primeiras casas religiosas constituem, entretanto, no século
V. lares intelectuais nos quais cada um possui uma biblioteca
mais ou menos rica: Lérins (com Vicente de Lerins e Faustus
de Riem), Arles (Césaire), Autun (Avit), Bourdeaux (Paulin de
Pella). A grande onda de fundações data dos séculos Vl-Vll,
com as casas em Soissons, Paria, Limonges, Poitiers, Luxeuil,
Chelles, Córbia, Saint-Vaast-d'Arras, Saint Bertin e Saint-Amand,
depois Saint-BenoTt-sur-Loire, Jumiêges, Jouarre, Rueil, Stavelot,
Malmédy, etc. A regra beneditina se difunde a partir de Monte
Cassino (fundada por volta de 529):3: a /ec/ío díp na3õ ocupa
aproximadamente quatro horas do dia. As relíquias de São
Bento são transferidas por Aigulfo de Monte-Cassino, arruinado,
em Fleury-sur-Logre aproximadamente em 673, e a influência das
regras se acentua nessa época na Gália -- por conseqüência,
a cópia dos manuscritos torna-se aí igualmente cada vez mais
freqüente
Nos séculos VI e Vll, a ltália é teatro de fundações
maiores: nós já mencionamoso Monte-Cassino e o Vivarium,
mas é preciso também citar Farfa, etc. Após o fim do século VI,
por outro lado, um movimento muito forte de evangelização se
desenvolve a partir da Grã-Bretanha e da Irlanda.õ4 Colomban
Monastérios e escolas catedrais:
croquis de localização dos principais scripfor/a na dália. séculos Vl-X
IOs limites geográficos são aqueles da frança continental atuall
60 64
null
'l'q r ap-,,
Frédéric Barbíer História do Livro
Em um mundo dominado quase que exclusivamente pelo
oral, os monastérios são refúgios da cultura escrita e da tradição
antiga. As principais regras monásticas prevêem que uma parte
do dia seja consagrada à cópia dos livros no sczlP/07"Íum(ateliê
dos escribas). Por toda parte, nas novas casas religiosas, os ateliês
dos copistas se organizam, bibliotecas se constituem e os livros
começam a se difundir mais ampla e rapidamente.
abadias: Saint-Martin-de.Tours, Luxeuil, Corbie ou ainda Fleury-
sur-Logre,s' Fontenelle (Rouen), Saint-Riquier e Saint-Bavon (Gand).
Na parte oriental do Império, na Germânia, são as casas fundadas
por Bonifácio que asseguram a difusão da reforma: Fuma, na qual
o abade Raban Maur foi aluno de Alcuin, depois Reichenau, com
Walafrid Strabo, ele mesmo aluno de Raban Maur.õ9
4.2 A reforma dos livros
Compreende-se, desde então, porque a empreitada
de restauração lançada por Carlos Magno se apoia sobre a
reorganização sistemática do mundo da escrita -- língua, formas
de escrita, natureza dos textos e organização de sua difusão. Da
ética da renouafio, era lógico que houvesse um apego ao purismo
do latim clássico como a um elemento suscetível de ajudar na
restauração da -Romc2m a imperial. Por outro lado, o scrVP/o?"Íum
de Saint-Martin-de.Tours40 põe em funcionamento uma nova
escrita, que combina a facilidade e a rapidez de execução com
uma perfeita legibilidade: a minúscula carolina, diretamente
inspirada na minúscula primitiva romana e na maiúscula da qual
são banidos todos os elementos parasitas (traços para ligar as
letras,4: decorações, abreviações excessivas, etc.),4: será em alguns
decênios adotada por toda parte no mundo ocidental.
A escrita separa as palavras umas das outras (o que facilita
a leitura silenciosa), as abreviações tornam-se raras. Uma certa
pontuação começa a fazer sua aparição, etc. A minúscula carolina
é difundida a partir dos sc/V@forla dos grandes monastérios, na
J umcia occiden/a/is, na ltália e nas novas abadias da Germânia,
Tours sendo o centro motor do empreendimento sob o abadado
de Alcuin (t804). O programa da Renascença carolíngia ilustra,
assim, o mais claramente, a articulação estreita entre problemática
política, categorias culturais e organização do sistema de médias.
Paralelamente, procura-se reformar e unificar a liturgia, definindo
os "livros católicos" que devem professar: muitas revisões da Bib/ia
são conduzidas em Corbie (772-781), depois por Teodulfo de
órleans (aproximadamente em 800) e por Alcuin. A normalização
que tende a se impor é aquela das Bib/ias de Saint-Martin-de-
4 A renascença carolíngia
4.1 A renouatío ímpar!
Ao mundo antigo, aberto, sucedeu-se, na Baixa Antigüidade,
um mundo fechado (economicamente, politicamente, e mesmo
sobre o plano demográfico), fechado sobre si mesmo e onde a prática
da escrita regride de maneira muito sensível. Em conseqüência,
desenvolvem-se numerosas práticas regionais da escrita, seguindo
modelos "aberrantes" em relação à evolução dominante: em uma
palavra, a escrita se fragmenta e seus modelos se multiplicam a
partir de dois arquétipos de maiúsculas e da semi-maiúscula. Um
bom exemplo é constituído pela escrita insular, assim chamada
porque sua geografia inicial é aquela das ilhas Britânicas.
A mudança progressiva de dinastia(dos Merovíngeos aos
Carolíngeos), mais ainda a renouafíp mped(restabelecimento do
Império), conduzida por Cardos Magna no flm do século Vlll, é
acompanhada de uma reorganização profunda da Igreja, que se
apoia nos monastérios (onde se forja uma generalização da regra
beneditina) e no papado. Desenvolve-se paralelamente um esforço
considerável sobre o plano da língua (retorno à latinidade clássica),
do ensino, da conservação dos textos antigos e da própria escrita.
Carlos Magna sabe se rodear de intelectuais, ele faz vir para perto
de si Paul Diacre e Paulo de Pisa, da ltália, e mesmo Alcuin, velho
chefe da escola capitular de York. Theodulfo se refugiara no
coração de Aix-la-Chapelle depois da invasão da Espinha pelos
muçulmanos. O movimento se apóia sobre a fundação da escola
do Palaiss7 e de importantes escolas episcopais (Lyon, Reims,
Soissons, Laon, Maiença, Cologne), e sobre a atividade das grandes
62 63
null
null
null
null
null
null
null
Frédéric Barbier História do Livro
Touro, cuja cópia talvez tenha se apoiado sobre uma centena de
manuscritos difundidos através do Império.
Mestno que se avalie em nove mil o número de manuscritos
carolíngios hoje conservados, um número que dá a medida do
trabalho de cópia efetuada à época, o codex continua um objeto
raro e muito oneroso, sendo que as bibliotecas mais ricas contam
algumas dezenas, raramente mais de cem volumes. Por outro lado,
a minúscula carolina é uma escrita fracionada e não-cursiva, e a
oralidade continua a dominar as práticas de leitura. Porém, ao lado
desses caracteres arcaicos, não se poderia subestimar a importância
da Renascença carolíngia. É nos manuscritos carolíngios que os
humanistas italianos redescobriram a literatura clássica, a partir,
sobretudo, do século XIV.4õ e é na minúscula carolina que eles
se inspiraram para criar sua própria escrita -- e os primeiros
caracteres topográficos romanos.
Vocês sabem o que o copista tem o hábito de fazer. Primeiramente.
ele começa por limpar com uma raspadeira o pergaminho de sua
semente e tirar dela as impurezas mais pesadas. Em seguida, com
uma pedra pomes, ele faz desaparecer completamente os pêlos e
os ligamentos. Se ele não procede assim, a escrita nào será de boa
qualidade e não poderá durar muito tempo...47
A raridade e a carestia do suporte explicam que se recorra,
quando é o caso, à técnica do palimpsesto,4; que consiste em apagar
um primeiro texto para copiar outro em seu lugar: mergulhado
no leite durante uma noite inteira, o pergaminho é em seguida
passado à pedra-pomes e branqueado a cal.
O trabalho compreende, em seguida, uma fase diretamente
consagrada à "paginação" do manuscrito em vista da cópia:
delimitação, pautação das margens do texto, depois das linhas
propriamente ditas, com estilete ou com graâte,4P As bases do
enquadramento são estabelecidas com compasso. A demarcação
pode ser mais ou menos complexa segundo o que se preveja, um
texto simples ou em versos, uma disposição em linhas longas ou
em colunas, comentários marginais ou interlineares,se dos espaços
reservados a iluminuras ou à ilustração, etc. A folha passa enfim ao
ateliê dos copistas, depois, se for o caso, àqueles da rubricação,st
da iluminura e da encadernação. Certos ateliês de encadernação
ligados às casas monásticas puderam ser identificados graças
notadamente ao estudo de instrumentos que eles utilizaram para
decoração das capas Que se trate de escrever, de ler, de rubricar
ou de pintar, a iluminação é insuficiente e os óculos tornam-se um
instrumento de trabalho às vezes indispensável -- inclusive para
os leitores: o duque de Borgonha, Felipe, o Ousado, era míope
e lia apenas graças aos óculos de prata dourada que Ihe havia
fabricado o ourives Hennequin de Hachet. Conservam-se mesmo
manuscritos de uma escrita de muito pequeno módulo, cuja capa
foi evidentemente cavada para que aí se colocassem os óculos.sz
5.2 A composição
A apresentação do livro manuscrito evolui, evidentemente,
de maneira muito profunda entre a época em que o codex se
5 Formas do livro e práticas de leitura
5.1 A fabricação do livro
O trabalho de fabricação dos livros se desenvolve, até o
século XI, quase que exclusivamente nos monastérios e em outras
casas religiosas.
A preparação da pele de pergaminho dura muitos meses
e se fazem um ateliê especializado do monastério (mais tarde,
esse trabalho será o apanágio dos pergaminheiros): tratamento a
cal viva, lavagem, raspagem, etc. Qualquer que seja a qualidade
da pele44 e a perfeição do trabalho, distinguir-se-á praticamente
sempre, sobre o pergaminho, o lado dos pêlos do lado da carne
(mais liso e frequentemente mais claro). É o pergaminheiro que, em
seguida, corta a pele em folha(s): o limite das folhas é traçado com
grafite ou com um estilete sobre a pele e as sobras são cortadas. O
cálculo(que condiciona diretamente o formato do livro4s) se faz de
modo a perder o menos possível de matéria, tendo em vista o seu
custo.4õ Depois as folhas passam ao scr#)/odm, onde seu preparo é
concluído como o descreve Hildebert de Lavardin (1055-1133) :
64 65
null
null
null
null
null
Frédéric Barbier História do Livro
generaliza no Ocidente e aquela da aparição da imprensa
mais de um milênio. A disposição do texto se faz seja em linhas
longas, seja em colunas. Copiado em escrita cursiva em Alexandria,
na metade do século IV de nossa era, o Codex S/ma/[ cus tem
o texto grego da .Bjb//a(os Se/empa e o ]Vooo Zes/ámen/o) sobre
páginas de duas ou quatro colunas cada uma segundo os livros:
desde então, a tradição levará a apresentar o texto bíblico em
colunas (até nas edições impressas contemporâneas).s'
A partir do século IX, um modelo novo de composição se
difunde de maneira cada vez mais ampla, combinando o texto com
um comentário que poderá tornar-se muito invasivo. Os dispositivos
de referenciação são um elemento capital da composição e nos
informam sobre as práticas implícitas da leitura e de apropriação
de textos. Os manuscritos medievais não apresentam nem página
nem título, nem menção do autor ou da data da cópia -- é raro
que o copista ou o iluminador tenha assinado seu trabalho. Mais
comumente, o texto começa na primeira página pela indicação da
obra de que se trata, precedido da pa]avra /nc@i/[aqui começa]
e freqüentemente rubricada. Às vezes, o {ncPÍI se desenvolve em
caracteres ornados sobre uma coluna, até sobre uma página inteira
Esse mesmo tipo de dispositivo se encontra em alguns casos no
interior do texto, nos diferentes livros(por exemplo, os livros da
BÍb//a). As subdivisões internas do texto são marcadas por letras
iniciais de maior módulo, eventualmente de letras ornadas e às
vezes, aí também, pela rubrica das primeiras linhas.
construções simb(51icas. Ela constitui um elemento essencial de
numerosos manuscritos medievais. Três modelos diferentes podem
ser distinguidos: a ilustração, a inicial ou a letra enfeitada e, enfim,
as bordas.
' .f)prgamÍnbo flzzgído. Limitar-nos-emos a mencionar a utilização
de um suporte (pergaminho) de cor, segundo uma prática
conhecida durante a Antigüidade, presente no Império bizantino
e importada para o Ocidente para a realização de manuscritos
destinados ao imperador. O pergaminho é tingido em cor
púrpura, às vezes preta, mais freqüentemente ele é pintado, até
recoberto de uma folha de ouro, sendo que nele se escreve com
tinta de ouro ou de prata. Em todos os casos, trata-se de volumes
extremamente preciosos, como o .ÉzPange/ía re de S/nome(Codex
Simopemsls), manuscritos sírio-palestinos do século VI, escrito
em maiúscula à tinta de ouro sobre pergaminho púrpura.s4 A
tintura do pergaminho é praticada mais tardiamente, tendo por
exemplo um certo número de manuscritos imperiais alemães
da época otomana, ou ainda ao .Euange/íaÍre de Strahov na
biblioteca desse monastério(Praga), até o Zlíuro de /lonas, do
duque Galeas Mana Sforza,ss etc.
. /7us/Mações. Os mais antigos exemplos de textos ilustrados
conhecidos hoje são os z;o/urina do século ll de nossa era e
portam geralmente tratados científicos, mais raramente textos
literários.s6 A forma material do rolo impõe a inserção da imagem
nas colunas de escrita e esse dispositivo é transposto nos c(idlces
da Baixa Antigüidade: no WZ7gí/e du Ua/íman(fim do século IV),s'
as pinturas se apresentatn em quadros geométricos, em geral sobre
a página onde figura a passagem que elas ilustram. Encontra-se
também a imagem de página inteira, que ocupa uma superfície
igual àquela da justificação. Ao lado de cenas narrativas, o retrato
do autor constitui um tema muito freqüente, segundo um modelo
que será conservado na Idade Média para os evangelistas ou
para os diferentes protagonistas que aparecem no relato(retrato
do santo cuja vida é apresentada, etc.). Conserva-se igualmente
o ,f%n/a/Cuco de Touro, escrito no século Vll, em maiúscula e
ilustrado com quatorze pinturas de página inteira.s8
5.3 Ilustração e decoração
Nos ateliês importantes, i/umlna a constitui um domínio
caracterizado pela especialização: o artista principal, chefe do
ateliê, organiza a seqüência das operações, várias pranchas são
preparadas ao mesmo tempo para as quais realiza-se sucessivamente
o enquadramento do desenho, depois o desenho propriamente
dito (em geral com grafite), depois a coloração sucessiva (certos
manuscritos, que não foram acabados permitem perceber a lógica
das diferentes etapas). A imagem preenche as duas funções de
decoração e de informação, esta última podendo fazer apelo às
66 67
null
null
null
Frédéric Barbier História do Livro
Z)ecoração. A inicial decorada designa a primeira letra de um
texto ou de uma parte do texto e intervém tanto como ajuda
para a leitura (para recuperar as escansões maiores) como
elemento decorativo. Ela se distingue a princípio somente
pelo seu tamanho, em alguns casos pela ilustração de uma
cor diferente, que o rubricador freqüentemente faz alternar
de uma inicial para outra. A inicial historiada (ilustrada com
uma pequena cena) aparece no Sacrumen/a/re de Dzugon, em
Metz, na metade do século IX.SP O enquadramento se constrói
primeiramente retomando-se o motivo arquitetânico da arcada,
que ele desenvolve por realizações ornamentais muito variadas :
na época carolíngia e otomana, os motivos combinam mais
frequentemente passamanarias e folhagens.
Os escribas colocam então em obra um conjunto de técnicas
novas assegurando o enquadramento do texto através de seus
dispositivos formais e facilitando sua leitura e sua compreensão:
as palavras são isoladas umas das outras, o uso de maiúsculas é
relativamente normalizado e, sobretudo, a análise lógica tornada
praticamente indispensáve! é facilitada pelo desenvolvimento de
sinais de pontuação diversos. A única divisão interna ao pr(5prio
texto permanece aquela, eventual, dos "livros" (não há capítulos,
Essa sutileza crescente da textualização facilita em princípio
uma prática silenciosa da leitura, a qual pede se desenvolver nos
meios mais abertos ao livro: é possível que a difusão das regras
monásticas que impuseram o silêncio tenha igualmente facilitado
o seu sucesso. Certos documentos, excepcionais, testemunham
a extrema familiaridade de uma camada muito pequena da
população com o mundo da escrita: o Sermão sopre lonas é
um fragmento redigido sobre palimpsesto, e em parte em notas
tironianas, e constitui um resumo preparado em língua vulgar por
um eclesiástico do início do século X antes de subir ao trono.Ó:
Enf:lm, é necessário não subestimar a complexidade da articulação
entre a arte da leitura e aquela da memória. Por volta de 1322,
certos heréticos valdoístas
etc.)
5.4 As práticas de leitura
No princípio, a passagem do uo/aznen ao codex dobrado
e costurado abre possibilidades de mutação muito profunda
no domínio da leitura. Mesmo se nós ficamos em regra geral
reduzidos a hipóteses, o exame atento das formas materiais dos
manuscritos permite reconstituir a evolução das práticas com
bastante verossimilhança. Os manuscritos da Antiguidade e da
Alta Idade Média se apresentam em scz"eP/to conrímz/a, isto é,
numa escrita que não separa as letras umas das outras e que
praticamente não faz apelo à pontuação nem à paragrafação: a
scr@/to com//nz.éa impõe, de fato, a leitura oralizada, seja para si
mesmo, seja a um grupo de ouvintes, seja por intermédio de um
escravo secretário.
Pode-se legitimamente pensar que a textualizaçãoó'melhora,
depois do século Vlll, por conseqüência da contribuição bárbara:
para os carolíngios, trata-se de assimilar a cultura latina que
lhes é, a .priori, tornada estrangeira, e de se fixar diretamente à
tradição imperial que eles querem reanimar. Ora, desde então,
os bárbaros falam uma língua diferente do latim (a língua vulgar,
ancestral do francês e do alemão) e lhes falta então analisa-lo para,
praticamente, traduzi-lo: de onde a reforma da escrita (que resulta
na minúscula carolina) e uma textualização bastante clarificada.
tinham comumente os Evangelhos e as Epístolas em língua vulgar
e até mesmo em latim, pois alguns o entendem. Alguns também
sabem ler e lêem em um livro aquilo que eles anunciam e pregam.
[Outros pregadores, ao contrário] não fazem uso de nenhum
livro, sobretudo aqueles que não sabem ler, mas aprenderam seu
discurso de cor...óz
6 No Mediterrâneo oriental
6.1 0 mundo bizantino"
O século IV bizantino é marcado, como no Ocidente, pelo
triunfo da forma nova do codex e pelo emprego cada vez mais
68 69
null
null
null
null
null
Frédéric Barbier História do Livro
amplo do pergaminho: a riqueza da capital e da corte imperial,
o lugar da Igreja(o patriarcado), a tradição intelectual herdada
da Antigüidade e vigorosamente seguida, a presença de grandes
instituições de ensino, etc., explicam a existência em Bizâncio
no século VI de ateliês de copistas e de ilustradores que estão
em condições de produzir peças excepcionais. Os ateliês são
estabelecidos nos principais centros de província (Alexandria,
Damasco, Antioquia) e nas grandes casas religiosas. Entre as peças
conservadas dessa época, é necessário citar o Ulrg#/o UafÍcamo
(início do século V): o Sinal/ecus, a /Ziãda de Ambrosienne(século
V), mas também o Dioscorlde (aproximadamente 512) ou ainda o
Gêmese (século VI) de Viena.
Os séculos IX.XI foram marcados, primeiramente, pelo
abandono da maiúscula, até então maioritariamente utilizada, em
proveito de uma nova escrita em minúscula(ver o .Eoa/zge/iaíne de
(;lapome, copiado em 911), depois, pela adoção do papel, que os
bizantinos conhecem graças à intermediação árabe, e para cuja
produção os ateliês são prontamente criados.Ó4 O sucesso do novo
suporte se manifesta pelo grande número de manuscritos gregos
sobre papel produzidos, sobretudo, a partir do século XIV. ainda
que o pergaminho continue a ser empregado para os exemplares
mais prestigiosos.
A ilustração bizantina resulta da conjunção de influências
complexas: influência da Antigüidade clássica e notadamente do
helenismo, mas também do cristianismo primitivo, até de tradições
sírias e persas. Progressivamente, o papel de Constantinopla se
torna, entretanto, predominante e a unificação se faz em torno do
estilo de seus principais ateliês. As ilustrações podem ser divididas
em dois tipos principais: o que retoma o modelo das cenas antigas,
adaptando-o aos assuntos cristãos e o que apresenta retratos de um
ou de vários personagens. A querela das imagens e a iconoclastia
do século IX trazem o desaparecimento de toda ilustração que
não seja decorativa (motivos geométricos, etc.), enquanto que o
advento da dinastia macedoniana (867) vê o avanço das artes do
livro, enquanto assistimos, no fim do século X, à generalização
do estilo hierático associado depois à iconografia bizantina. No
Ocidente, a ltália bizantina, ou antigamente bizantina (ltália do
Sul, Ravena, Veneza), é a região mais aberta às influências orientais
-- em Venera, principalmente, mas também, por exemplo, no
scr#pfor/um de Monte Cassino nos anos 1100.
É lógico que Bizâncio funciona como um intermediário
privilegiado na tradição do pensamento grego da Antiguidade .e
em sua transmissão ao Ocidente. No entanto, a lógica do processo
é mais complexa: dois fatores principais explicam que a herança
grega no Ocidente tenha sido por muito tempo amplamente
subestimada -- e que, apesar das aparências, em uma certa medida,
continue do mesmo modo ainda hoje. Trata-se primeiramente
do lugar evidentemente preponderante ocupado pela tradição
latina, ainda que a transíêrência cultural proveniente do mundo
helênico tenha funcionado bastante amplamente na Romã antiga.
O segundo ponto âncora-se sobre a escolha religiosa e sobre o
fato de que o Império bizantino, que é um império grego, seja
ao mesmo tempo a terra da ortodoxia e escape assim ao modelo
universal da cristandade romana. O Grande Cisma de 1054 tem
por efeito ocultar amplamente no Ocidente o aporte intelectual
bizantino. Entretanto, a cultura livresca é muito profundamente
implantada no Império, onde se organiza e se desenvolve uma
rica sociabilidade culta. É nesse meio que o Ocidente, tendo
partido à procura de uma Antiguidade assimilada a uma idade de
ouro, encontrará no século XIV os primeiros mediadores que Ihe
permitirão redescobrir a Grécia sonhada.
6.2 0s muçulmanos e os livros
Quando Mohammed (570-632) começa a pregar em Meca e
na Arábia (por volta de 615), ele é o intermediário (o profeta) pelo
qual Deus transmite sua mensagem aos homens: essa mensagem
é o (h/üo. Mais tarde, os relatos dos atou e das palavras do
profeta, recolhidos por seus discípulos, são igualmente integrados
na Lei. Desde a época de seus primeiros sucessores (os califas),
estabelece-se então o texto definitivo do Cbzzio, que é difundido
pelos uo/urina, depois cód ces cuja apresentação material é
particularmente cuidada (caligrafia e ornamentos). A amplitude
70 74
null
null
Frédéric Barbier História do Livro
desse comércio explica a formação rápida de um artesanato de
escribas e de livreiros, assim como aquela das primeiras coleções
de livros nas cidades que abrigam cortes principescas, mas
também nas proximidades das mesquitas mais ricas e nos centros
comerciais. A partir do século IX, o desenvolvimento do livro
árabe é ainda facilitado pela aparição do papel e pela sua rápida
difusão no mundo muçulmano.
O desenvolvimento das pesquisas âlosóficas, científicas e
históricas, assim como o progresso da literatura árabe, resultam
também na multiplicação de livros de conteúdos não-religiosos que
vêm enriquecer as grandes bibliotecas. Em Bagdá, sob a dinastia
Abássida (início do século IX), a Casa da sabedoria reunia o
conjunto das traduções de obras filosóficas e científicas gregas, e
conhecem-se outras bibliotecas análogas em cidades do Irã. A partir
de 756, os Omíadas, expulsos de Damasco, reinam em Andaluzia
e fazem de Córdoba sua capital: a biblioteca dos califas teria
contado até quatrocentos manuscritos, em parte traduções árabes
de manuscritos gregos bizantinos. A tolerância dos Omíadas atrai
por outro lado para a Espinha um grande número de judeus até
então estabelecidos no Oriente Próximo e que desempenham um
papel privilegiado no movimento intelectual e artístico que atinge o
apogeu no século X. Uma outra grande coleção de livros é aquela
da Casa da Sabedoria organizada pelos califas Fatimidas no Coiro
(início do século XI). Enfim, as residências dos príncipes possuem
igualmente muito belas coleções e o apreço dos príncipes pelas
artes do livro permanece uma constante (pensemos na biblioteca
do palácio de Topkapi em lstambul). No século Xll, o movimento
sunita concentra bibliotecas nas principais mesquitas e madrassas
(escolas): o Cairo, Damasco, Kairouan, Fes, depois lstambul.
Como se sabe, um certo número de conhecimentos e de textos
da Antigtlidade serão transmitidos na Europa por intermédio dos
árabes, notadaínente da Andaluzia, da Sicília e da ltália Meridional :
trata-se de certos escritos ptolomaicos(portanto, em grego), cuja
tradução latina é preparada sobre as fontes árabes. O Cãmome de
Avicena (980-1037) é traduzido por Gerard de Crémone no século
Xll e tem uma influência muito grande sobre o desenvolvimento
dos estudos e das pesquisas médicas no Ocidente. Averrois
(1126-1198), filósofo e teólogo originário da Andaluzia, trabalha
principalmente sobre a tradição de Aristóteles: seus comentários
sobre o filósofo grego, transmitidos por intermédio dos judeus, são
conhecidos de todos os principais autoresda escolástica parisiense
do século Xlll, à frente dos quais vem Alberto, o Grande, e Tomas
de Aquino. Averrois é, então, exilado em 1198 por suas posições
sobre a filosofa(que ele apresenta como autónoma em relação
à religião). Enfim, mesmo se nós não podemos desenvolver esse
ponto como conviria, a tradição judia e as escolas talmúdicas
do contorno mediterrâneo desempenham igualmente um papel
importante nesses processos de conservação e de transferência.
Notas
Letra maiúscula
E/nPcz//enzen/ designa a base da letra (alto a baixo). Em fundição tipográfica, a presença e a forma
da junção que permitem identificar certas grandes famílias de caracteres: a Antiga não tem junção
no Elzevir, as junções são triangulares; elas são filiformes e retas em Didot
3 O modelo é retomado na época moderna: em Viena, o arquiteto Johan Bernhard Fischer von Erlach
onstrói, a partir de 1715, a igreja Saint-Charles-Borromée (KZzzlsê/robe), cuja fachada apresenta um
pórtico em colunas e duas "colunas triunfais" que retomam o dispositivo em uo/ámen da coluna
rrajano. Acontece o mesmo em Paras com a coluna Vendõme, que Napoleão fez erguer em 1806, à
glória dos soldados que tinham combatido em Austerlitz
4 Como testemunham as tabuletas de Vindolanda (perto do muro de Adriano, fronteira entre a Ingla-
terra e a Escócia), que datam do fim do século e são ]aoje conservadas no Museu Britânico (Londres)
5 O .Breu/óz/ e dZ/ar/c dá a "lei visigótica" promulgada por esse rei em 506. Conserva-se o texto num
manuscrito de 332 ff. copiadas talvez em Lyon, numa uncial extremamente regular, no século VI
(Munich, Bayerische Staatsbibilothek, Clm 22501).
6 C'oc/ax (pl. (;'odíces): livro encadernado, por oposição ao uo/unem. Mme de Staêl é uma das primeiras
a propor reavaliar esses "séculos sombrios": "Pode-se contar na história mais de dez séculos durante
os quais acreditou-se muito geralmente que o espírito humano retrocedeu. Mas (...) eu não penso
que a espécie humana regrediu durante essa época; eu acredito, ao contrário, que passos imensos
foram dados no curso desses dez séculos, tanto pela propagação das luzes, quanto pelo desenvol-
vimento das faculdades intelectuais..." (G. de STIAÊL, De /cz /ír/era/ure..., nova ed., Paras, 1991, p
162-163("Garnier-Flamarion")
Informação de C. puré, em Zous /es sczooírs da monde..., Paria, 1996, p. 52, n'. 3.
O caderno designa o conjunto de folhas constituídas por uma só folha de pergaminho ou de papel
copiado ou passada pela prensa e, em seguida, dobrada
Ais : pranchetas de madeira que formam as capas da encadernação.
'' l-laje conservado em Verona
Romã, B/ó/ío/eczz Hposi'ó//ca Ua/ícanzz, Vat. Gr. 1209.
C'o?Pas abri»ze zso/"am .Romatzorz/m, Wolfenbütel, HAB Cod. Guelf. 36.23 Aug. Fol. (ltália do Norte
século VI). Esse Cbd(n .4cer/ânus, a princípio integrado às coleções de Bobbio, passa em seguida
para a biblioteca de Petrus Scriverius, na Holanda, a partir de onde, no século XVII. ele entra no
acervo de Wnn fenbí\telErv nni
72 73
null
Frédéric Barbier História do Livro
is Leitura em voz alta. murmurada ou simplesmente acompanhada pelo movimento de lábios.
i4 Lombada: parte da encadernação que corresponde à costura dos cadernos, oposta à concavidade
dà outra extremidade das folhas. Lombada pode ser "com nervos" (as nervuras são aparentes) ou
grega" (as nervuras são escondidas na espessura da lombada)
15 É a aridez do meio ambiente e a presença da areia que explicam que os principais testemunhos de
que dispomos vêm do Egito: no oásis de Oxyrhynque, no Fayoum, onde se descobriram papiros,
postando principalmente um fragmento do evangelho de Jogo do século 11. 0 mesmo ocorre en]
Touro,perto do Coiro
t6 No século XIX: numerosas peças musicais, cuja música é copiada ou impressa para ser tocada pelos
amadores jamais serão registradas.
Z)e?"A/eue .f)au/y..., Stuttgart, Weimar, 1998, t. V. co1. 548-551.
]Ze PÍ/re à 7'1mzo/ée, IV, 9 à 13.
o Génese, Êxodo, l.eoÍtico, Números, Deuteron6mio.
20 Livros históricos e Profetas propriamente ditos : de Josz/é à 7Ha/agu/zzs.
2i O mais antigo manuscrito da Bíblia hebraica completa, hoje conservado, é o C'odes /e#zí z8radetzsís
e data de 1008.
22 As Igrejas protestantes não reconhecem os sete livros deuteroncanõnicos
2s Artigo "Bibliothêques" (de J. De Ghellinck, SJ.) no .Dícflonzzíre de sPÍr//zJa///é asco ig#e ef 72zys&íque,
t. l (Paria, 1937), colunas 1589 e seguintes
24 As colunas apresentam sucessivamente: o texto hebreu não-vocalizado, a tradução grega de Âquila
(135 a.C.), a tradução de Símaco (por volta de 200), aquela dos Sefenrcz (por volta de 200 a.C.), aque-
la de Teodoção (por volta de 180 a.C.), enfim a transliteração do texto hebreu em alfabeto grego
(com vocalização). Os .Hlagçap/e são publicados pela primeira vez por Dom Bernard de Montfaucon
(1655-1741), por L. Guérin em Paria (1713), com acréscimo de uma tradução latina e do texto da
Uu/ga/zz (por Albaric).
zs ]SIDORE DE SÉVILLE, Vi, 6, 1.
26 Duas consequências maiores do episódio de 410: um certo número de letrados romanos se refugiam
na África. que se torna por um tempo um conservatório da cultura antiga (Santo Agostinho começa
a publicar Za cíié de .Dica em 413); por outro lado, o bispo de Romã torna-se um dos principais
personagens da Igreja. Ao lado de Romã, outras grandes coleções de livros e arquivos existem no
ocidente, em Milho, Traves, Cartago, etc.
27 Casa fundada em 546 próxima a Squillace, a antiga Skylletion (Calábria).
28 CbssÍodod senzzlorjs /ns//fut/odes, ed. R.A.B. Mynors, Oxford, 1937.
29 Existem três exemplares da Bíblia em Vivarium, todos os três desaparecidos: o primeiro. em nove
volumes subdivididos em setenta e um livros; o segundo, que traz o texto de São Jerõnimo, em
636 folhas; o terceiro, o Codaxgrand/or, traz a oe/us /afina em setenta livros e 760 folhetos. É este
último manuscrito que serve de modelo para o C'odes.Ám/a&/nus, copiado em Romã no VI século,
oferecido ao papa por Ceolfrid (690-716), abade de Wearmouth-Jarrow, e ilustrada de uma pintura
representando um escriba no trabalho -- talvez o retrato do próprio Cassiodoro. C) C'odeio.4mÍalí-
nü.s é hoje conservado em Lurentienne de Florence
se Séz.íe des anolzpmes..., Solesmes-Bellefontaine, 1985, n'. 285 (citado por L. REGNAUI.T, Zzz o/e g o/í-
dlenne des Pêras dü désen en É&yple au /t''síêcle, Paria, 1990, p- 106)
3i Cuja vida será redigida por Sulpice Sévêre
s2 Destruída pelos sarracenos em 883, o monastério renasce a partir do fim do século X: o apogeu é
atingido quando três abades são eleitos papas, Êtiene IX, Victor 111 e Gelãsio ll.
ss Leitura da Bíb//zz e seus comentários, especialmente aqueles dos padres do Egito, mas tanabém leitu-
ra dos tratados de Cassiano, das V!/ae .f'ãfrum (Vidas dos Padres) e das .Regras de Basile.
34 As ilhas Britânicas são cristianizadas a partir de Romã no fim do século V
n Casa fundada por volta de 559 por santo Comgall, destruída pelos dinamarqueses em 824. O única
vestígio da atividade do scnProríKm primitivo é constituído pela '4n/iPóolzaíre de Bangor(por volta
de 685) (Biblioteca ambrosiana, Milho)
3ó Cbd/ces SCznga//entes, Sigmaringen, 1995
s7 Dirigido por Alcuin e onde se estuda o IP"iaÍtlm (gramática, retórica e dialética), o guadríuí m
(aritmética, geometria, música, astronomia) e a teologia. Sobre o conjunto desses fenómenos, ver P.
Wolff, Z'eoe// ín/e/ecfae/ c/e /'Zzv/'oPe, Paras 1971 ("Histoire de la pensée européenne", l).
38 Théodulfe, bispo de Orleans e abade de Fleury no início do século IX
39 É etn Puída que é formado Éginhard (775-840), originário da região do Main, antes de vir para a
corte de Cartas Mogno, onde redige a UZ/a C'aro// (Vzdzz de Cb/"/os .Mogno)
10 E. K. RAND, Sr dias ín lóe scrPf ofnours, ] [11], Cambridgc(Mass.), i929-1934, 3 vo]
Um grupo de letras ligadas designa um grupo de letras escritas juntas. As ligaduras se encontram
na tipografia : o logograma (&) é, na origem, uma ligada.ira e/, as ligaduras são correntes para os
grupos jlf, St, F, Ctc
O primeiro exemplo seria, entretanto, dado pela .B/b/ízzdo abade Maurdramine de Corbie, em torno
de 775 (hoje em Bm. Amiens)
Destacamos o papel do concílio de Constance para os trabalhos dos humanistas italianos. A pes-
quisa dos manuscritos antigos é empreendida na ltália no início do século XIV. mas será reativada
pela realização do concílio, durante o qual numerosos humanistas fazem parte das proximidades do
prelado e descobrem a riqueza das bibliotecas alemãs (Saint-Gall). 'Também de Poggio Bracciolini
(secretário da Cúria pontiflcal depois chanceler da Seigneuiie de Florença, 1380-1459) e de Cincio
Romano, que escreve, em 1416: "Na Alemanha, há nlmlerosos monastérios com bibliotecas plenas
de !ivros latinos. Isso acendeu em mim a esperança de que certas obras de Cícero, Varão, Tito Lívio
e outros grandes homens de cultura, que parecem ter completamente desaparecido, possam retor-
nar às luzes se se proceder a uma minuciosa pesquisa..." L. BERTIALOT, "Cincius Romanus und reine
Briefe", em Quellen und Forschungen ausiitalienischen Archiven und Bíbliotheken, XXI, 19Z9-IPSO
p. 222-225. Ver também L.D. REYNOLDS, L.G. WILSON, ed., D'Homêre à Érasme: la transmission
des classiques grecs et latina, Paras, 1984).
Vélin: pergaminho obtido a partir da pele de um bezerro natimorto, e que constitui um suporte de
escrita particularmente liso e fino
45 O formato designa a indicação normalizada do número de vezes que cada folha foi dobrada para
entrar na constituição de um caderno(í?zlb/ío: uma dobra, dois folhas; ím-q arfa: duas dobras
quatro folhas; ín-oí/auo: três dobras, oito folhas, etc.).
4ó A utilização de um pergaminho mais fino, no século Xlll, permite reduzir consideravelmente o
títmanho dos volumes, mas, em todo caso, o consumo de peles de carneiro é considerável. Para o
C'odes Sina///cas (aproximadamente 350), calculou-se que seria necessário utilizar ao menos trezen-
tos e sessenta e cinco peles de cabras ou de carneiros. Para uma .Bíb/ía turangeana do século IX,
precisariana de duzentas e dez peles
47 BnF, ms latim 3239, folha 140-141, citado em .[ê //are, 1972, no. 53.
18 0 jesuíta Ângelo Mai(1782-1854), escritor da Biblioteca Ambrosiana (Melão), em 1813. é nomeado
prefeito do Vaticano (1819) e receberá o chapéu de cardeal (1838). É em Melão e em Romã que
Mai faz um grande número de descobertas relativas aos textos literários até então desconhecidos e
conservados sob Forma de palimpsestos.
49 O enquadramento designa os traços a estilete ou a grafite e destinados a guiar o escriba em sua
escrita (J.-F. Gilmont). Por extensão, é a operação que consiste em traçar esse quadro.
5' Por glosa entende-se o comentário do texto principal, copiado com este último. Segundo sua dispo-
sição, falar-se-á de glosa marginal ou de glosa interlinear.
A rubrica designa uma parte de texto escrito ou impresso em vermelho (latim raór m); por exten-
são, tema geral sobre o qual são agrupados vários artigos num periódiço (a rubrica "Economia"); a
rubricação designa a ação de rubricar, ou seja, de copiar em vermelho; o rubricador é o monge ou
o copista que faz as rubricas
52 Bibl. Cantonal e univ. de Friburgo, L. 64 (reprod. Gz//enóerg, 2000, GM 27).
A descoberta do Codex S/nczí/ecus é em si mesma um verdadeiro romance. Antigo estudante da
Universidade de Leipzig, Constantin Von Tischendorf se especializa no estudo do Novo Testamento
e empreende uma viagem de estudo ao Oriente Próximo (1844). Ele descobre, em Santa Catarina
do Sinal, fragmentos de manuscrito que }Jle parecem bem antigos do qual ele adquire 43 folhetos
(de 129 na origem). O manuscrito entra na coleção da Biblioteca universitária de Leipzig. Durante
st.la terceira viagem, Tischendorf consegue fazer com que o monastério ofereça o essencial das
folhas restantes ao tear: o manuscrito, a princípio em são Petersburgo, será vendido em 1933 para
a biblioteca do .Mz,lseu Br//c2níco
74 75
Frédéric Barbier
54 Bnf suppl. Grego 1286.
55 Na Biblioteca Nacional de Viena.
5õ J. IRIGOIN, "Platon, Lê banquet", em M/se en /?age..., p. 37-39.
Uaf/czznus /zz/ânus 3225
58 BnF, n. a. 1. 2334 e ver Ze /fure, 1972, n'. 630.
59 Drogon, bispo de Metz de 826 a 855. BnF, lat. 9428 (e Ze /core, 1972, n'. 245). Um sacramentário
designa o livro utilizado por aquele que celebra a missa e que contém o cânone, a consagração, as
preces (que variam cada dia), freqtlentemente a ardo do bispo.
óo Nota do tradutor: O termo /ex/ a//zózção foi usado para traduzir a expressão tnise en texto' e outras
que incluem em seu significado a organização material do texto.
Bm Valenciennes, ms 521
ó2 B. GUI, .À/amua/ de /' ng ís//e C ed. G. Mollat, 1, Pauis, 1964, p. 27 e 63.
ós De Zex/con despesa»z/en .Bz/cba'esens, 11, 43-46. Nós ultrapassamos, nesses parágrafos, a cronologia
do presente capítulo, a l:im de não pesar demais o plano geral. Sobre o livro bizantino, dispõe-se
de um excelente pequeno manual: H. llUNGE.R, Scóreíóen und /esen í/z Byzanz ; d/e ZWzatzf//zíscbe
.Bucó& //WC Mtinchen, 1989.
õ4 inventado na China no século 11, o papel é conhecido dos árabes a partir do século Vlll, e é por
meio deles que ele atinge a costa do Mediterrâneo (em torno de Cartago, na Palestina, no Sinal,
etc.)(:
Capítulo 3
A abertura ao livro
(século X - início do século XV)
l Conjuntura ampla: da desarticulação ao
desenvolvimento
1.1 Desarticulação do mundo carolíngio
O prometo sonhado do Renascimento carolíngio supõe
condições que não estão reunidas nos séculos IX e X: o
restabelecimento durável do Império sob a forma de um império
cristão dirigido pelo imperador e pelo papa deveria, com efeito, se
apoiar sobre a representação da "coisa pública" enquanto conceito
abstrato e, ao mesmo tempo, dispor de meios materiais que
assegurassem a independência do soberano. Ora, o reinado ou o
principado permanece um bem privado, que o soberano lega a seus
sucessores e que se encontrará então dividido el-n várias "partes"
após sua morte. Além disso, o poder real se pulveriza entre uma
multidão de responsáveis locais ou regionais e o espaço político,
assim como o económico e o cultural, tende a se despedaçar.
A regionalização dos poderes é ainda favorecida pelas invasões
sarracenas, húngaras e, sobretudo, normandas,' contra as quais
apenas as autoridades locais (o conde carolíngio e o bispo) estão
aptas a coordenar a defesa. Ao término, é a chegada ao poder do
feudalismo e da primazia dada aos liames de pessoa a pessoa, do
suserano a seu vassalo. O soberano, apesar da dimensão sagrada
de seu estatuto, a princípio não é mais que o personagem que se
encontra no cume da pirâmide feudal.
76 77

Mais conteúdos dessa disciplina