Prévia do material em texto
Direito Civil - Sucessões Questões Discursivas - 2a. Avaliação TURMA D 1a. Questão: Margarida, uma senhora milionária que passou a sua vida solteira e sem um companheiro, inicia uma relação pública e duradoura com Tio Patinhas, sendo certo que ambos se casam. Infeliz com a situação, Pato Donald, seu irmão mais velho, repudiando a ideia de não herdar o patrimônio de Margarida, mata o cunhado. Após a morte de Margarida, seus outros irmãos requerem a exclusão de Pato Donald da sucessão. Aberto o inventário, é descoberta a existência de uma testamento em que Margarida declara-se ciente do homicídio praticado pelo irmão, mas, mesmo assim, deixa para ele a quantia certa de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Pato Donald então alega que foi tacitamente perdoado por sua irmão, autora da herança, pelo que estaria habilitado a suceder. Estaria Pato Donald correto acerca de sua reabilitação ? Fundamente a sua resposta. Pato Donald tornou-se elegível à indignidade por cometer homicídio contra o cônjuge da autora da herança, hipótese elencada no art. 1814 do Código Civil. Esse instituto é uma espécie de sanção que veda direitos hereditários à quem praticou o ato ilegal, como se vê: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO SUCESSÓRIO - EXCLUSÃO DE HERDEIRO POR INDIGNIDADE - HIPÓTESES TAXATIVAMENTE PREVISTAS NA LEGISLAÇÃO CIVIL - INOCORRÊNCIA - INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA - DESCABIMENTO - RECURSO DESPROVIDO. 1. A exclusão do herdeiro depende de decisão judicial proferida em ação própria, visto que configura uma sanção civil de ordem ética, impondo ao Direito Civil - Sucessões Questões Discursivas - 2a. Avaliação sucessor que praticou ato injusto contra o autor da herança a perda dos direitos hereditários. 2. A legislação civil estabelece duas modalidades de exclusão do herdeiro que ofende o sucessor, quais sejam, por indignidade ou por deserdação, sendo esta última admitida apenas na sucessão testamentária. 3. A indignidade consiste em uma sanção que impede o herdeiro ou legatário de auferir bens e direitos do autor da herança contra quem praticou alguma ofensa, caracterizada por ato criminoso contra sua vida, sua honra ou sua liberdade de testar, sendo que as causas de exclusão do herdeiro ou legatário não admitem interpretação extensiva, devendo se restringir às hipóteses elencadas no artigo 1.814 do Código Civil. (TJ-MG - AC: 10386170020229001 MG, Relator: Edilson Olímpio Fernandes, Data de Julgamento: 01/10/2019, Data de Publicação: 11/10/2019) Uma das formas admitidas de perdão do indigno seria através de testamento, em disposição que o reabilite expressamente em testamento ou outro meio legal, de acordo com Pablo Stoze Gagliano. No caso concreto, Margarida declara-se ciente do crime praticado e, ainda assim, confere ao irmão a quantia de R$ 100.000,00. Como preceitua Paulo Lôbo, essa modalidade que garante ao indigno determinados bens ou parte da herança é chamada de reabilitação tácita e é válida na parte em que foi disposta em termo pelo de cujus, sem que o contemplado possa concorrer à totalidade da herança. Portanto, a alegação de Pato Donald está em conformidade com o disposto em lei e a ele será garantido o recebimento da quantia disposta em ato de última vontade de Margarida, a título de herança. 2a. Questão: Pateta, 35 anos, trabalha numa plataforma de exploração de petróleo em alto-mar. Por motivos não esclarecidos, a estrutura naufraga e a maioria das pessoas embarcadas não são resgatadas. Esgotadas as buscas, muitos corpos não são encontrados, dentre eles o de Pateta. Considerando haver prova do embarque, do naufrágio e dos encerramentos das buscas sem sucesso em localizar o corpo de Pateta, necessitarão seus parentes da declaração de ausência para promoverem a sucessão ? O que é preciso fazer ? Direito Civil - Sucessões Questões Discursivas - 2a. Avaliação Não. Segundo Pablo Stolze Gagliano, a declaração da ausência é necessária em casos que o sujeito simplesmente desaparece de seu domicílio, sem deixar notícia, representante ou procurador. O caso descrito refere-se à morte presumida, situação em que há o desaparecimento do corpo com a grande probabilidade de morte devido ao perigo de vida. Nessa hipótese elencada no art. 7º do Código Civil, entende-se que há aplicação nos casos de desastres, acidentes, catástrofes naturais, dentre outros. Ademais, não há que se falar em imprescindibilidade da declaração de ausência para o desenvolvimento da sucessão, como se vê do julgado: APELAÇÃO CÍVEL - REGISTRO DE ÓBITO TARDIO - POSSIBILIDADE - MORTE PRESUMIDA DECLARADA - CONJUNTO PROBATÓRIO SUFICIENTE - PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE - ARTIGOS 7º DO CÓDIGO CIVIL E 84 DA Lei nº 6.015/73 - REQUISITOS VERIFICADOS - PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE - APLICABILIDADE. O princípio da razoabilidade, instrumento de aplicação do princípio da proporcionalidade, traduz-se na idéia de que o intérprete deve aplicar a lei com moderação, de forma aceitável e compatível com o caso concreto, buscando conferir ao problema a melhor solução possível. Verificando presentes os requisitos exigidos pela legislação de regência, é de se reconhecer a morte presumida, sem declaração de ausência. V .V. Nos termos do artigo 7º. do Código Civil, o procedimento de declaração de morte presumida, sem decretação de ausência, exige extrema probabilidade da morte de quem estava em perigo de vida, ou que a pessoa, desaparecida em campanha ou feita prisioneira, não seja encontrada até dois anos após o término da guerra; o que não restou comprovado. O artigo 83 da lei 6.015/73 exige para o registro de óbito tardio que as testemunhas declarem o suposto falecimento ou funeral, sendo certo que a ausência de esclarecimento a esse respeito nos depoimentos testemunhais impede o acolhimento da pretensão registral. (TJ-MG - AC: 10680130019879001 MG, Relator: Moreira Diniz, Data de Julgamento: 27/10/0015, Data de Publicação: 06/11/2015) Direito Civil - Sucessões Questões Discursivas - 2a. Avaliação Ao contrário do relatado pelo enunciado, Flávio Tartuce manifesta que nesse caso de morte presumida, requer-se a justificação judicial da morte desde logo, sem a necessidade de se aguardar o prazo previsto em casos de ausência, expedindo-se de imediato a declaração de óbito, de acordo com o art. 88 da Lei de Registros Públicos, de nº 6.015/73. Exige-se apenas que, ao momento do requerimento da justificação, as buscas estejam encerradas. E, a partir dessa documentação, as normas sucessória decorrem normalmente e são diretamente aplicadas, como se em caso de morte real. 3a. Questão: Pato Donald e Margarida, enfim, casaram ! Mas nunca tiveram filhos e nem têm mais ascendentes. Cada um resolveu contemplar o outro em testamento em toda a herança. Ele, obedecendo as formalidades legais do testamento público, com a seguinte redação: "deixo toda a minha herança para minha eterna amada, Margarida". Ela por sua vez, em testamento cerrado, declarou: "Deixo toda minha herança para o meu marido". Em março de 2017 o casal se divorciouconsensualmente e não revogaram seus testamentos. a) Os testamentos são válidos ? b) Se ela morrer primeiro, ele terá direito a sucedê-la ? A recíproca é verdadeira ? a) Os testamentos são válidos, eis ambos não têm herdeiros necessários que tornem inviável a cláusula testamentária de conceder a herança em sua totalidade ao cônjuge. Além disso, os testamentos não ostentam qualquer hipótese de nulidade absoluta. De acordo com os ensinamentos de Pablo Stolze Gagliano, um testamento inválido poderia ter sido celebrado por absolutamente incapaz; com objeto ilícito, impossível ou indeterminável; o motivo determinante ser ilícito; não revestir forma prescrita em lei ou se for preterida solenidade indispensável; se tiver como objetivo fraudar lei imperativa; se a lei taxativamente o declarar nulo; e se o testamento simular negócio jurídico. Desta feita, os Direito Civil - Sucessões Questões Discursivas - 2a. Avaliação testamentos realizados por Pato Donald e Margarida são válidos, em consonância à jurisprudência, como se vê: PROCESSO CIVIL. TESTAMENTO. NULIDADE. RECURO PARCIALMENTE PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. 1. Testamento público firmado por de cujos em beneficiando sua filha com a parte disponível dos seus bens, independentemente da legítima a que esta tem direito como herdeira necessária, acrescido de revogação expressa o testamento anterior. 2- Ausência de abertura judicial do testamento não tem o condão de, por si só, afastar o interesse dos autores de ver declarada a suposta nulidade do testamento objeto da lide. 3- O testamento é negócio jurídico solene, unilateral e gratuito, com efeito mortis causa, para o qual são exigidas diversas formalidades, como agente capaz, objeto lícito e forma prescrita. 4- Cabe à parte que pretende anular o testamento apenas o direito de pleitear a reserva de bens do patrimônio hereditário que serão afetados na eventualidade de ser anulado o testamento firmado pelo de cujos, desde que configurados os requisitos da relevância do direito e do perigo na demora, descabendo a hipótese de suspensão do processo de inventário. 5 - A sentença vergastada deve ser anulada para que siga seu regular trâmite, com conseqüente oportunidade para produção de provas pelas partes, no concernente à ausência de capacidade de manifestação de vontade do testador. 6- Recurso parcialmente provido para anular a sentença proferida na presente Ação de Nulidade de Testamento e, conseqüentemente, determinar o retorno dos presentes autos ao Juízo de origem a fim de que o processo siga seu curso normal. 7. Recurso parcialmente provido. Decisão unânime. (TJ-PE - APL: 2497778 PE, Relator: Eurico de Barros Correia Filho, Data de Julgamento: 15/08/2013, 4ª Câmara Cível, Data de Publicação: 26/08/2013) b) Não. Como houve o divórcio entre as partes, incorre a possibilidade de caducidade do testamento. A caducidade, segundo Maria Helena Diniz, existe em um testamento quando há a perda de sua eficácia por circunstância superveniente ao momento de sua celebração. Observa-se que neste caso concreto, ambas as partes dedicaram a herança à pessoa amada, ao marido, situação esta que não se subsiste após o divórcio, ou seja, a vontade perde seu substrato fático, onde ocorre uma mudança objetiva no testamento. Assim, Margarida e Pato Donald não terão direito de suceder a herança de cada qual, transformando a sucessão antes testamentária em legítima, nos termos da lei. Direito Civil - Sucessões Questões Discursivas - 2a. Avaliação