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1 UnB - Universidade de Brasília FACE – Faculdade de Administração, Contabilidade, Economia e Gestão Pública / Departamento de Administração Disciplina: Administração de Marketing ‖ Resumo Crítico: A Hora da Verdade – Jan Carlzon O livro de Jan Carlzon, A Hora da Verdade, apresenta a trajetória empresarial do autor e suas percepções administrativas em cada uma das empresas que dirigiu. Ao longo da história, Carlzon detalha suas decisões diante de situações em que apenas um direcionamento conciso poderia mover a empresa de forma ágil para obtenção de resultados. São relatados diversos dilema de gestão e quais ferramentas administrativas foram adotadas pelo autor. O livro possui 144 páginas, divididas em 12 capítulos, cada um relatando a ação ou estratégia adotada para a resolução dos problemas. No primeiro capítulo o autor dá uma breve visão sobre o que seria “a hora da verdade”. O termo refere-se, basicamente, um modelo administrativo mais voltado ao cliente e não ao produto. Para tanto, é necessária uma inversão na pirâmide hierárquica tradicional onde a linha de frente da empresa, que estaria em contato direto com os clientes, teria mais autonomia e autoridade na resolução das necessidades dos clientes com mais agilidade. Em suma, essa diretriz proposta por Carlzon estaria relacionada à gestão de marca, mais especificamente em uma cultura corporativa focada em pessoas, a fim de gerar um gancho emocional convincente junto aos clientes. A definição geral do marketing pressupõe que a função deste seja conquistar e manter clientes. Tanto a conquista de clientes como a fidelização destes envolve grande esforço administrativo. No entanto, quando o valor emocional do serviço está atrelado a uma marca, torna-se mais fácil a atração dos clientes e a lealdade destes quando na escolha dos serviços. No segundo capítulo do livro o autor relata suas experiências na presidência da Vingresor e, posteriormente, na Linjeflyg. Em sua passagem pela Vingresor, empresa 2 subsidiária da Scandinavian Airlines System, Carlzon identificou a necessidade de uma reestruturação no modelo de atendimento da empresa e na redução dos custos, a fim de sobreviver à crise do petróleo que ocorria na época. Durante o primeiro ano na direção da empresa, Carlzon entregou o maior lucro da história da companhia. Após o período em que esteva na presidência da Vingresor, Carlzon recebeu o convite de presidir a Linjeflyg, que era uma empresa sueca de voos domésticos. O convite foi recusado no início, mas após uma apresentação mais clara quanto a oferta do cargo, Carlzon optou por aceitar a proposta. Assim como na Vingresor, a medida estabelecida na Linjeflyg para se recuperar da crise interna pela qual passava, foi o empoderamento da linha de frente com intuito de ser uma empresa mais voltada para o cliente. Além disso, como forma de aumentar a taxa de ocupação dos voos, foram criadas campanhas de marketing focadas nas necessidades dos clientes e uma redução nos preços das passagens. Novamente, Carlzon demonstra que a estratégia de marketing de relacionamento apresenta melhores resultados quando em comparação aos modelos tradicionais de gestão. No terceiro capítulo é dado início à jornada do autor no comando da SAS. Na época em que assumiu o cargo da empresa, a SAS (Scandinavian Airlines System) passava por uma crise e já havia acumulado um prejuízo de 20 milhões ao longo dos últimos anos. Ao invés de solucionar o problema de forma tradicional (através do corte de custos), Carlzon propôs a empresa um investimento voltado para criação de um serviço de excelência aos viajantes de negócios, que compunham a maior parte de clientes da empresa. A criação de um serviço diferenciado rendeu à empresa um aumento de US$ 80 milhões somente no primeiro ano, e um crescimento do número de passageiros nos anos subsequentes. Mais tarde, a empresa foi eleita como a melhor companhia aérea do mundo para viajantes de negócios, concretizando a própria promessa feita por Carlzon assim que chegou à empresa. O quarto capítulo apresenta a visão do autor acerca do papel de um líder. Carlzon estabelece um líder como sendo o responsável por articular e coordenar a organização dentro da estratégia definida. Segundo o autor, a visão de negócios daqueles que atuam no topo da pirâmide hierárquica nem sempre são as mais assertivas 3 quanto as decisões que precisam serem tomadas. A fim de que os processos aconteçam de forma mais fluída dentro da organização e o contato com os clientes ocorra de maneira mais ágil e precisa possível, é necessária uma descentralização hierárquica. Considerando que o corpo executivo das empresas nem sempre possuem uma visão adequada dos setores como um todo, Carlzon afirma que, a partir de uma descentralização hierárquica, os setores assumem decisões mais aprofundadas e precisas diante dos problemas que surgem. Com isso, os gestores de cada área além de receberem um empoderamento no exercer de suas funções, possuem mais autonomia na tomada de decisões. No quinto capítulo o autor trata de sua perspicácia ao desenvolver o planejamento estratégico que estaria direcionando a SAS. Em uma conversa que teve com o diretor-presidente da American Airlines, Carlzon percebeu que um dos maiores erros que a SAS estava cometendo era em desenvolver serviços mais focados no próprio produto do que nos clientes. Assim, a diretriz adotada na empresa passou a ser a compreensão dos desejos dos clientes antes do desenvolvimento dos produtos. Ao descobrir aquilo que os clientes querem é possível estabelecer os objetivos e a estratégia da empresa com mais clareza. Ao presumir as vontades dos clientes as organizações nem sempre são capazes de obter os resultados previstos ante àquela implementação, justamente por não tomarem real conhecimento da opinião dos clientes acerca do que deveria ser desenvolvido. Para que os investimentos tenham mais assertividade, ouvir a opinião dos clientes antes da implementação é essencial. No sexto capítulo o autor indica os benefícios de um achatamento na pirâmide hierárquica. Assim como afirmado no capítulo anterior, esse achatamento ocorreria ao conceder mais autonomia aos funcionários que necessitam resolver os problemas de forma imediata buscando a satisfação dos clientes. O procedimento burocrático que era adotado anteriormente, além de gerar uma intermediação desnecessária na tomada de decisão, nem sempre era capaz de solucionar os problemas em tempo hábil. A experiência dos clientes na “hora da verdade” é um fator indispensável para obter a fidelização destes. Diferentemente de uma diretriz que antes buscaria apenas a concretização da venda, Carlzon agora buscava iniciar um relacionamento junto aos clientes e construir a lealdade diante dos serviços oferecidos. Ao projetar a construção 4 de uma satisfação contínua dos clientes, era possível estabelecer um relacionamento de longo prazo com eles. No sétimo capítulo Carlzon fala sobre a importância em assumir riscos que nem sempre estão alinhados a uma visão tradicional de gestão nas organizações. Para o autor há momentos em que é necessário arriscar, fazendo uso de sua intuição na hora de tomar uma decisão. Como exemplificação, é mencionado a estratégia adotada por Carlzon ao assumir a SAS. Diante de uma situação em que a empresa já acumulava prejuízo, Carlzon optou por aumentar os custos e implementar um serviço diferenciado para atender aos executivos. A medida deu tão certo que logo no primeiro ano a empresa foi capaz de obter resultados positivos apenas com essa segmentação. O oitavo capítulo trata sobre a necessidade de uma comunicação clara e objetiva dentro de uma empresa. Há casos em que as diretrizes definidas e as modificações nem sempre conseguem alcançar a organização como um todo,pois a comunicação corporativa não foi estabelecida da maneira correta. Carlzon ressalta que o exemplo passado pelo líder dentro da empresa é um dos melhores meios de de comunicar o comportamento que os demais devem seguir. A velha história do “faça o que eu digo, mas não o que faço” , pode não só gerar revoltas no meio dos colaboradores e funcionários como também passar a mensagem errada acerca do que precisa ser feito. No nono capítulo o autor discorre de um conselho administrativo dentro das organizações e sobre o papel dos sindicatos para com a gerência da companhia. Para formular as estratégias que conduzirão a empresa dentro da visão do corpo executivo, é necessário um conhecimento prévio sobre a função dos membros e colaboradores que serão direcionados dentro do novo planejamento. Quando não existe um alinhamento geral entre a cabeça e os membros da organização, dificilmente será possível conduzir a empresa no rumo certo. Carlzon defende a ideia de que os membros da alta gerência da companhia, devem estar mais voltados à discussão de questões relevantes e estratégias empresariais do que a assuntos de menor interesse. A participação do conselho administrativo em assuntos de alta relevância proporciona perspectivas mais experiente na troca de opiniões. Além disso, Carlzon tenta quebrar um pouco da visão de que os sindicatos são 5 inimigos das empresas, indicando que esses possuem um papel essencial quando alinhados à gestão da companhia. O décimo capítulo trata a respeito dos métodos de avaliação de resultados e sua importância para entender a saúde da organização nos processos internos e o nível de satisfação dos clientes. O autor menciona que em relação aos funcionários da linha de frente é mais fácil de se obter um retorno da opinião dos clientes. No entanto, quanto aos colaboradores que estão nos bastidores esse feedback é mais difícil. Carlzon então sugere o desenvolvimento de um sistema na qual seja possível mensurar os feedbacks internos e analisar os resultados de tempos em tempos. A partir desse acompanhamento é possível identificar quais pontos da empresa necessitam melhorar e focar os esforços na resolução destes itens. No décimo primeiro capítulo o autor faz um gancho com o assunto do capítulo anterior e trata da importância de retribuir os funcionários pelo seu empenho. É importante que as empresas desenvolvam um sistema meritocrático de reconhecimento dos colaboradores, com recompensas que sejam bem aceitas por todo o staff. Além de incentivar a equipe a estarem sempre se dedicando no exercer de suas funções, o processo também atua na construção de um vínculo emocional dos colaboradores para com a organização. No último capítulo do livro o autor destaca a necessidade de um planejamento estratégico de longo prazo nas organizações e uma percepção mais voltada à necessidade dos clientes e não tão focadas nos produtos. Carlzon faz um breve resumo de sua carreira no comando da SAS e a principal diretriz que estabeleceu para a empresa sair de sua crise interna. Mesmo havendo uma certa resistência do corpo de colaboradores na implementação de suas ideias, os resultados obtidos deixaram evidentes sua competência e assertividade como gestor da organização. A solução desenvolvida na SAS foi simples: trabalhar com eficiência em um ambiente livre de concorrências. As medidas adotadas ao implementar essa visão geraram um certo desconforto interno na organização, por não estarem de acordo com os processos tradicionais até então adotados. No entanto, após apenas um ano no 6 comando da empresa, as decisões de Carlzon geraram ótimos resultados e levaram a empresa de volta a seu ritmo. Em suma, o livro apresenta as dificuldades ao traçar uma estratégia de marketing adequada nas organizações. Os interesses distintos entre o corpo executivo e a equipe operacional da empresa, o desconhecimento das necessidades dos clientes, a falta de um processo de comunicação adequado na organização, todos esses são fatores que dificultam o estabelecimento de diretrizes que culminem em um maior nível de satisfação e fidelização dos clientes com a empresa. O processo de construção da lealdade dos clientes exige uma equipe bem preparada e consciente de que a satisfação dos clientes é essencial na construção de um relacionamento de longo prazo com eles. Nem sempre a força da marca está associada a uma boa experiência de seus consumidores, abrindo espaço para que outras empresas construam sua reputação baseada na oferta de um serviço de excelência.