Logo Passei Direto
Buscar

4- HISTÓRIA DA LIBRAS NO BRASIL E NO MUNDO

User badge image

Enviado por Mônia Carla Cibien em

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

HISTÓRIA DA LIBRAS NO BRASIL E NO MUNDO
Introdução
· O ser surdo está presente como sinal e marca de uma diferença, de uma cultura e de uma alteridade que não equivale à dos ouvintes.
Para refletirmos sobre as fundamentações da educação de surdos atual, não há nada melhor do que fazer um breve passeio pelas raízes da história de surdos. Conhecer a história de surdos não nos proporciona apenas a ocasião para adquirimos conhecimentos, mas também para refletirmos e questionarmos diversos acontecimentos relacionados com a educação em várias épocas. Por exemplo, por que atualmente, apesar de se ter uma política de inclusão, o sujeito surdo continua excluído? Você já parou para pensar e/ou pesquisou algo sobre o povo surdo e as suas comunidades? Não? Nesta disciplina você irá refletir sobre algumas apreciações referentes nas unidades que são de significativa importância não só para a compreensão do conhecimento histórico, mas também para percorrermos com diferentes olhares acerca da história de povos surdos. O alvo principal que norteia as discussões no transcurso das unidades é o sujeito surdo.
A forma parcial dos registros dos vários pesquisadores mostra-nos sua preocupação em nos apresentar a história de surdos numa visão limitada que focalizam, na maior parte, os esforços de tornar os sujeitos surdos de acordo com os modelos ouvintes oferecendo "curas" para as suas "audições" danificadas. O povo surdo já existia, voltando muito mais no tempo, centenas de gerações antes de vocês desenvolveram conhecimentos e realizarem transformações que produziram a comunidade surda. No entanto, tem muito mais que ainda precisa ser aprimorado e criado, e para essa tarefa é de importância fundamental o conhecimento do passado, o saber histórico. Esta conquista, a memória viva que define o nosso presente, fornecerá artefatos culturais que permitirão alterar para melhor o mundo do povo surdo. A história da educação de surdos não é uma história difícil de ser analisada e compreendida, ela evolui continuamente apesar de vários impactos marcantes, no entanto, vivemos momentos históricos caracterizados por mudanças, turbulências e crises, mas também de surgimento de oportunidades. Conhecer a educação de surdos, a partir de uma perspectiva histórica e social, possibilita refletir sobre as práticas educacionais na atualidade. Conhecer sobre a diferença humana e assim, evitar as tragédias do passado.
A Importância do Conhecimento Histórico
“A história comum dos Surdos é uma história que enfatiza a caridade, o sacrifício e a dedicação necessários para vencer “grandes adversidades” 
Nídia Limeira de Sá 
O Estudo da história de surdos pode ser uma fonte de prazer, isto porque ela desperta a nossa curiosidade, não é mesmo? Antes de raciocinarmos sobre a história de surdos, primeiro vamos contemplar o que é história.
A história é a ciência que estuda a forma de como os homens se organizaram e viveram no passado e entender o processo de constante transformação, no caso da história de surdos, estudamos de como os povos surdos se organizaram e viveram no passado e entender o processo e de transformações de como as comunidades surdas surgiram. O estudo do passado é importante para entendermos a situação atual e nos ajuda a compreender o presente. Para saber o motivo de estudar a história, devemos nos lembrar de três palavras essenciais: passado, presente e futuro. Por exemplo: vivemos o presente, temos um passado e esperamos ter um futuro, com as comunidades surdas é a mesma coisa.
Para estudarmos a História é, portanto, voltar às épocas passadas para conhecê-lo.
Um Breve Passeio pelas Raízes da História da Educação dos Surdos
A história dos surdos é marcada por tragédias. Na antiguidade, a educação dos Surdos variava de acordo com a concepção que se tinha deles, algumas sociedades destinavam tratamento desumano aos surdos. Os surdos eram mortos por motivos diversos. Assim como qualquer outra diferença humana, os surdos não tinham direito à vida. Até o século XII os Surdos eram privados até mesmo de se casarem. Certa vez, Aristóteles afirmou que considerava o ouvido como o órgão mais importante para a educação, o que contribuiu para que o Surdo fosse visto como incapacitado pra receber qualquer instrução naquela época.
Concepções Históricas Acerca da Surdez
· Antiguidade Período da Exclusão 
Em Esparta na Grécia a tradição militarista, privilegiava-se o treinamento do corpo. Os recen-nascidos eram examinados por um conselho de anciões que ordenava eliminar os que fossem portadores de deficiência física ou mental ou não fossem suficientemente robustos.
· Gregos
Na Grécia, os surdos eram tratados como seres incompetentes e que por não possuírem uma linguagem, não eram capazes de raciocinar, para eles o pensamento se dava mediante a fala, e sem a audição os surdos ficavam fora dos ensinamentos e com isso, não adquiriam o conhecimento. Assim, não tinham direitos, eram marginalizados e muitas vezes condenados à morte.
Sócrates, em 360 a.C., declarou que era aceitável os surdos se comunicarem com as mãos e o corpo. Eram considerados incapazes de serem ensinados, por isso, não frequentavam escolas.
SÓCRATES (c. 470-399 AC) afirmava que os surdos tinham que usar o gesto.
Eram excluídos da sociedade, privados de seus direitos básicos (como casar, herdar bens), ficando com a própria sobrevivência comprometida.
· Romanos
Os Romanos, influenciados pelo povo grego, também viam os surdos como seres imperfeitos e os excluía da sociedade. Privavam os surdos de direitos legais: casar, herdar os bens da família (não podiam fazer parte dos testamentos) e somente se casavam com a permissão do papa, pois eram considerados incapazes de gerenciar seus atos, perdiam sua condição de ser humano e eram confundidos com retardados. A igreja católica considerava os surdos sem salvação, ou seja, não iriam para o reino de Deus após a morte.
Segundo Moura(2000) de acordo com Aristóteles:  
A linguagem era ao que dava condições de humano para o indivíduo. Portanto, sem linguagem, o surdo não era considerado humano e também, o surdo não tinha possibilidade de desenvolver faculdades intelectuais.
Mais tarde, Santo Agostinho defendia a ideia de que os pais de filhos surdos pagavam por algum pecado que haviam cometido. Acreditava que os surdos
podiam comunicar por meio de gestos, que, em equivalência à fala, eram aceitos para a salvação da alma.
· O Surdo na Idade Média 
Na Idade Média, com o feudalismo, os surdos começaram a ter atenção diferenciada pelo clero, a Igreja Católica teve papel fundamental na discriminação no que se refere às pessoas com deficiência, já que para o homem foi criado à “Imagem e semelhança de Deus”. Portando, os que não se encaixavam neste padrão eram postos à margem, não sendo considerados humanos. Entretanto, isso incomodava a Igreja, principalmente em relação às famílias abastadas.
As pessoas não iam se confessar porque não apresentavam uma língua estruturante para seu pensamento. Mas a igreja também estava muito preocupada, pois nasciam muitos surdos nos castelos dos nobres, devido à frequência dos casamentos entre os próprios familiares, comuns na época, visto que a nobreza não queria dividir sua herança com outras famílias e acabavam casando-se entre primos, sobrinhas, tios e até irmãos. Como nos mosteiros da Igreja havia padres, monges e frades que utilizavam de uma língua gestual rudimentar, porque nesses ambientes existia o voto do silêncio, esses religiosos foram deslocados para esses castelos com a missão de educar os filhos surdos dos nobres em troca de grandes fortunas.
O problema é que, de acordo com os mandamentos da Igreja Católica, a alma só poderia ser salva se os cristãos passassem pelo sacramento da Confissão, ou seja, comunicar seus pecados aos sacerdotes. Apesar de terem direito à vida, os surdos não eram considerados seres humanos. Argumentava-se que eles não comunicavam como as demais pessoas. Por isso, não tinha valor perante o mundo. Os surdos, então, eram colocados fora do meio social. Até a Igreja Católica Romana
defendia uma teoria de que os surdos não tinham alma (MORAIS, 2010).
· Privações Civis e Religiosas
A igreja católica acreditava que as almas dos   surdos eram consideradas mortais, porque eles não podiam falar os sacramentos.
Foi a partir da preocupação em tornar os Surdos de famílias nobres efetivamente cristãos como também confirmar o vínculo entre a Igreja e a Nobreza que ocorreu a primeira tentativa de educá-los e torná-los indivíduos comunicáveis.
· O Surdo na Idade Moderno 
É somente a partir do final da Idade Média que os dados com relação à educação e a vida do Surdo tornam-se mais disponíveis. É exatamente nesta época que começam a surgir os primeiros sentidos de educar a criança surda e de integrá-la (ainda não é inclusão) na sociedade. É o período do cientificismo em que surgem propostas de cura para a surdez. Esse período é marcado pela busca do corpo perfeito. Os surdos eram vistos como defeituosos. Foi na Idade Moderna que se distinguiu, pela primeira vez, surdez de mudez. A expressão “surdo-mudo” deixou de ser a designação do Surdo.
Até o século XV, os Surdos, bem como todos os outros deficientes, tornaram-se alvo da Medicina e da religião católica. A primeira estava mais interessada em suas pesquisas e a segunda, em promover a caridade com pessoas tão desafortunadas, pois para ela a doença representava punição.
· Idade Moderna: Período da Segregação
Naquela época surgiram os asilos e os hospitais psiquiátricos, com o objetivo não de tratar, mas de segregar as pessoas com qualquer tipo de deficiência. “Tais instituições eram pouco mais do que prisões”, segundo Aranha (2001, p.165). Pessotti (1984) afirma que, nessa conjuntura, o deficiente passou a ser tutelado pela medicina, que tinha a autonomia de julgá-lo, condená-lo ou salvá-lo.
No ocidente, os primeiros educadores de Surdos de que se tem notícias, começam a surgir a partir do século XVI. Um deles é o médico, matemático e astrólogo italiano Gerolamo Cardano (1501-1576),cujo primeiro filho era surdo. Cardano afirmava que a surdez não impedia os Surdos de receberem instruções. Ele fez tal afirmação depois de pesquisar e descobrir que a escrita representava os sons da fala   ou das ideias do pensamento.
Outro foi Pedro Ponce de Leon (1510 – 1584) monge beneditino, nascido na Espanha, que viveu em um monastério, era o educador dos filhos surdos dos nobres e usava sinais rudimentares para se comunicar, pois lá havia o Voto do Silêncio.
Desenvolve o alfabeto manual, que ajudava os surdos a soletrar as palavras. Fundou em Madri a primeira Escola para Surdos. Ponce é considerado o “Pai da Educação dos Surdos”.
Strnadová, uma autora checa Surda nos conta em seu livro que foi desta forma que se teve o registro da primeira vez que se fez uso do alfabeto manual: “Não conversavam entre si em voz alta, porém seus dedos tagarelavam. Eram monges, mas não era bobos”. Acreditamos que a privação de comunicação que existia neste mosteiro possibilitou a criação de outra forma de expressão, não muito diferente do que observamos na convivência com os Surdos.
Há registros de que uma família espanhola teve muitos descendentes Surdos por ter o costume, já mencionado anteriormente, de se casarem entre si para não dividirem os bens com estranhos. Dois membros dessa família foram para o mosteiro de Ponce de Leon e lá, junto dele, deram origem à Língua de Sinais. Ponce de Leon foi tutor de muitos Surdos e foi dado a ele o mérito de provar que a pessoa Surda era capaz, contrariando a afirmação anterior de Aristóteles. Seus alunos foram pessoas importantes que dominavam Filosofia, História, Matemática e outras ciências, o que fez com que o trabalho de Leon fosse reconhecido em toda a Europa. Pelo pouco que restou de registro de seu método, sabemos que seu trabalho iniciativa com o ensino da escrita, por meio dos objetos, e em seguida o ensino da fala, começando pelos fonemas.
Os nobres, que tinham em sua família um descendente Surdo, começaram a educá-lo, pois os primogênitos Surdos não tinham direito à herança não aprendessem a falar, o que colocava em risco toda a riqueza da família. Se falassem teriam garantidos sua posição e seu reconhecimento como cidadão. No século XVI, a grande revolução se deu pela concepção de que a compreensão da ideia não dependia da audição de palavras.
 Em 1620, Juan Pablo Bonet  um padre espanhol (1579 -1633) filosofo, educador e soldado  a serviço secreto do rei, foi o pioneiro na educação de Surdos e considerado um dos primeiros preceptores de Surdos, criou o primeiro tratado de ensino de surdos-mudos que iniciava com a escrita sistematizada pelo alfabeto, que foi editado na França com o  título Redução das Letras e Arte de Ensinar a Falar os Mudos.
Bonet foi quem primeiro idealizou e desenhou o alfabeto manual. Ele, em seu livro, destaca como ideia principal que seria mais fácil para o Surdo aprender a ler se cada som fosse da fala fosse substituído por uma forma visível.
O seu método, ao ensinar surdos, explicava que seria mais fácil ensinar o surdo a ler, se fosse usado um alfabeto manual (dactilologia). Um desses alfabetos já existia há cerca de 30 anos. No entanto, apesar do uso do alfabeto manual, Bonet proibia o uso da língua gestual (língua de sinais).
Alguns estudiosos da língua também se dedicaram ao ensino dos Surdos e um exemplo é o holandês Van Helmont (1614 – 1699) que propunha a oralização do Surdo por meio do alfabeto da língua hebraica, pois, segundo ele, as letras hebraicas indicavam a posição da laringe e da língua ao reproduzir cada som. Helmont foi quem primeiro descreveu a leitura labial e o uso do espelho, que posteriormente foi aperfeiçoado por Amman sobre quem mencionaremos a seguir.
Jacob Rodrigues pereira (1715 – 1780) foi um educador de Surdos português (emigrou para a França ainda criança) que, embora usasse a Língua de Sinais com fluência, defendia a oralização dos Surdos. Seu trabalho consistia na desmutização por meio da visão (usava um alfabeto digital especial e manipulava os órgãos da fala de seus alunos). Educou doze alunos, todos eles usuários de linguagem oral. Existem relatos que colocam em risco o seu método, ressaltando que ele era professor somente dr alunos que a escrita não era vista como inserção do sujeito na sociedade, mas sim como uma tentativa de substituir o que lhe faltava, a fala.
Johann Conrad Amman (1669-1724) foi um médico e educador de Surdos suíço que aperfeiçoou os procedimentos de leitura labial por meio de espelhos e tato, percebendo as vibrações da laringe, método usado até em terapias fonoaudiológicas.
Para Amman, o foco do seu trabalho era o Oralismo, pois acreditava que os Surdos eram pouco diferentes dos animais, devido à incapacidade de falar. Acreditava que “na voz residiria o sopro da vida, o espírito de Deus”. Era contra o uso da Língua de Sinais, acreditando que seu uso atrofiava a mente, impossibilitando o Surdo de, no futuro, desenvolver a fala por meio do pensamento. O segredo de seu método só foi descoberto após a sua morte. Relatos demonstram que usava o paladar para a aquisição da fala.
Registros Históricos
· Charles Michel de L’Epée
Pedagogo francês e terapeuta da fala, dedicou sua vida aos avanços na área. Ele nasceu no dia 25 de novembro de 1712, em Versalhes, na França, e estudou para ser padre católico, mas teve seu pedido negado, decidindo depois estudar Direito e, por fim, ser designado abade.
Na presença religiosa, voltou sua atenção a obras de caridade, quando conheceu duas jovens irmãs surdas, em uma zona pobre de Paris. Elas se comunicavam por meio de língua de sinais. A partir daí, fundou um abrigo destinado a surdos e mobilizou a nível filosófico à época o conhecimento de que os surdos são capazes de possuir linguagem. Por isso, desenvolveu um sistema de ensino da língua francesa e de religião aos surdos, fazendo com que seu abrigo, em meados de 1760, se tornasse a primeira escola de surdos pública do mundo.
O Surdo na Era Contemporânea
LAURENT CLERC (1785-1869) e THOMAS GALLAUDET (1787-1851), o francês e o americano foram os
responsáveis pela introdução dos sinais e pela educação institucionalizada para surdos nos Estados Unidos. O americano, interessado na educação de surdos e em aprender um método que permitisse que ele implantasse um ensino especializado para surdos nos EUA, então viajou para a Europa. Ele não conseguiu as informações, uma vez que Braidwood se negou a revelar o seu método (oralista), por conta de interesses financeiros.
Em 1816, Gallaudet foi até a França e realizou um estágio no Instituto Nacional para surdos-mudos (L’Epée), no qual Clerc (brilhante ex-aluno (surdo) daquela escola) foi o seu instrutor. Clerc foi contratado por Gallaudet e eles foram juntos pra os EUA naquele mesmo ano.
1817- Em abril deste ano foi fundada a primeira escola pública para surdos, em Hartford, Connecticut, com o nome de Connecticut Ayslum for the Education and Instruction of the Deaf and Dumb Persons (Asilo Connecticut para a Educação e Instrução das Pessoas Surdas e Mudas). Posteriormente a escola recebeu o nome de Hartford School.
A língua de sinais francesa foi aos poucos sendo substituída pelos alunos, começando então a se formar a Língua de Sinais Americana – no início os professores contratados aprenderam a Língua de Sinais Francesa, os próprios alunos traziam os sinais, alguns sinais metódicos foram adaptados para o inglês – visto que até hoje a Língua de Sinais Americana apresenta semelhanças com a francesa.
Depois, foram sendo fundadas outras escolas nos mesmos moldes da de Hartford, todas eram residenciais, tinham como objetivo a educação dos surdos por meio da língua de sinais e a difusão de conhecimentos que permitissem a independência e o trabalho de surdos na comunidade.
1864 - funciona a primeira faculdade para surdos fundada por Edwuard Gallaudet, filho de Thomas Gallaudet, autorizada pelo Congresso americano e localizada em Washington (National Deaf-Mute College, atualmente Gallaudet University).
Na metade do século XIX, a utilização da língua de sinais nos EUA passou a sofrer uma pressão contrária por conta da onda nacionalista que aconteceu após a Guerra de Secessão. A partir disso, houve um desejo de reunificação do país e manutenção da própria língua: alegando-se que a língua de sinais não era uma versão do inglês, então esta começou a ser rejeitada e foi forçada a ser substituída pelo inglês oral.
HORACE MANN (1796-1859) e SAMUEL HOWE (1801- 1876): responsáveis por esta modificação, sendo que o primeiro era um político e realizador de reformas na educação em geral nos EUA influenciado pelo segundo o filantropo e adversário do suo de sinais que desejava montar uma escola oralista para surdos. Mann desarraigou o uso de sinais da educação do surdo nos EUA, com base na visão oralista dos países germânicos.
Visando a unificação da língua alemã e a não-formação de grupos minoritários que ameaçassem a sua unidade enquanto país, a Alemanha tentava desde o século XVIII desalojar o lugar que os sinais tinham na educação do surdo. Vários educadores alemães haviam tentado a implantação de um modelo oralista sem a utilização de sinais e alguns deles concluíram que isso não era possível, o objetivo continuava sendo, neste país, a oralização do sujeito surdo, mas sem liminar o uso de sinais.
O relatório de Mann, fez com que o conselho da escola de Hartford enviasse um representante, Lewis Weld, à Europa para verificar a situação da educação do surdo em alguns países. De volta, Weld concluiu que Mann não tinha razão e que não havia motivos para eliminar os sinais. Então sugeriu a realização de treinamento de fala para os semi-surdos (aqueles que pudessem se beneficiar deste treinamento) e propôs também treinamento em leitura orofacial.
ALEXANDER GRAHAN BELL (1847-1922) um dos maiores defensores para a implantação do oralismo nos EUA. Ele era filho de Surdos e casado com Mabel, que perdera a audição quando jovem. Oralizada, ela não gostava de estar na presença dos Surdos. Para ele, a surdez era um desvio. Os Surdos deveriam se passar por ouvintes encaixados num mundo ouvinte e um aluno Surdo ter como professor um instrutor Surdo só serviria como empecilho para sua integração com a comunidade ouvinte.
Bell acreditava que os Surdos deveriam estudar junto com os ouvintes, não como direito, mas para evitar que se unissem, que se casassem e criassem congregações. O fato de que os Surdos se casassem para ele representava um perigo para a sociedade. Criou o telefone em 1876 tentando criar um acessório para Surdos.
Veditz, ex-presidente da Associação Nacional dos Surdos, ressalta que Bell foi considerado “o mais temido inimigo dos surdos americanos”.
As instituições de educação de surdos se disseminaram por toda a Europa, e em 1879, em Paris, aconteceu o I Congresso Internacional de Surdos-Mudos, instituindo que o melhor método para a educação dos surdos consistia na articulação com a leitura labial e no uso e no uso de gestos nas séries iniciais. Esta determinação somente durou dois anos, pois em 1880, em Milão, ocorreu o II Congresso Mundial de Surdos-Mudos, que promoveu uma votação para definir qual seria a melhor forma de educar uma pessoa Surda. A partir desta votação com os participantes do congresso, foi recomendado que o melhor método seria oral puro, abolindo oficialmente o uso da Língua de Sinais na educação dos Surdos. Vale ressaltar que apenas um Surdo participou do congresso, mas não teve direito de voto, sendo convidado a se retirar da sala de votação.
· Conheça oito definições votadas no Congresso de Milão 
Definição 1
Considerando em exceção de preferência de sinais do que de fala ao integrar o surdo-mudo à sociedade, e em dar-lhe um conhecimento melhor da língua, Declara: Que o método oral deve ser preferido do que a de língua de sinais para o ensino e na educação dos surdos-mudos.
160 votação a favor e 4 contra, em 7/9/1880.
Definição 2
Considerando que o uso simultâneo da fala e de língua de sinais tem a desvantagem de prejudicar a fala, a leitura labial e a precisão das ideias, Declara: Que o método oral puro deve ser preferido.
150 votação a favor e 16 contra, em 9/9/1880.
Definição 3
Considerando que um grande número de surdos-mudos não está recebendo os benefícios da educação, e que esta circunstância é devida à ineficácia das famílias e das instituições, Recomenda: que os governos tomem as medidas necessárias para que todos os surdos-mudos possam receber educação. 
Votação a favor unanimemente em 10/9/1880.
Definição 4
Considerando-se que o ensino ao surdo oralizado pelo Método Oral Puro deve se assemelhar tanto quanto possível ao ensino daqueles que ouvem e falam, Declara:
· Que o meio mais natural e mais eficaz através do qual o surdo oralizado pode adquirir o conhecimento da língua é o método “intuitivo”, o qual consiste em expressar-se primeiramente pela fala, e em seguida através da escrita, os objetos e os fatos que são colocados diante dos olhos dos alunos.
· Que no período inicial, ou maternal, o surdo-mudo deve ser conduzido à observação de formas gramaticais por meio de exemplos e de exercícios práticos, e no segundo período ele deve receber auxílio para deduzir as regras gramaticais a partir dos exemplos, expressadas com o máximo de simplicidade e clareza.
· Que os livros, escritos com palavras e em formas linguísticas familiares aos alunos, estejam sempre acessíveis.
Aprovado em 11/09/1880.
Definição 5
Considerando-se a carência de livros elementares o suficiente para auxiliar no desenvolvimento gradual e progressivo da língua, Recomenda: Que os professores do sistema oral devem se dedicar à publicação de obras especiais sobre o assunto.
Aprovado em 11/09/1880.
Definição 6
Considerando-se os resultados obtidos por meio de várias pesquisas realizadas a respeito de surdos-mudos de todas as idades e condições que haviam se evadido da escola há muito tempo, e que quando tinham de responder a perguntas sobre diversos assuntos, responderam corretamente, com clareza de articulação suficiente e conseguiram ler os lábios de seus interlocutores com grande facilidade, Declara: 
· Que os surdos-mudos
ensinados pelo método oral puro não se esquecem, após ter deixado a escola, os conhecimentos que lá adquiriram, mas os desenvolvem continuamente através das conversação e da leitura, quando estas são facilitadas.
· Que em sua conversação com pessoas ouvintes, os surdos-mudos fazem uso exclusivo da fala.
· Que a fala e a leitura labial, muito longe de terem sido abandonadas, são desenvolvidas através de prática.
Aprovado em 11/09/1880.
Definição 7
Considerando-se que o ensino de surdos-mudos através da fala tem exigências peculiares; considerando-se também que a experiência dos professores de surdos-mudos é quase unânime, Declara:
· Que a idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre oito e dez anos.
· Que o período letivo deve ter ao menos sete anos; mas preferencialmente oito anos.
· Que nenhum professor pode ensinar um grupo de mais de dez crianças no método oral puro.
Aprovado em 11/09/1880.
Definição 8
Considerando-se que a aplicação do método oral puro nas instituições onde ele ainda não está em pleno funcionamento, deve ser - para evitar um fracasso do contrário inevitável - prudente, gradual, progressiva. Recomenda:
· Que os alunos com ingresso recente nas escolas devem formar um grupo em si, onde o ensino poderia ser ministrado através da fala.
· Que estes alunos devem absolutamente ser separados de outros alunos que tiveram defasagem no ensino através da fala, e cuja educação será finalizada através de sinais.
· Que um novo grupo oralizado seja estabelecido todos os anos, e que todos os alunos antigos que foram ensinados por sinais terminem sua educação.
Aprovado em 11/09/1880.
As determinações do Congresso foram:
·  a fala é incontestavelmente superior aos Sinais e deve ter preferência na educação dos Surdos; 
· o método oral puro deve ser preferido ao método combinado.
A partir do II Congresso Internacional de Surdos-Mudos, o método oral foi adotado em vários países da Europa, acreditando-se que esta era a melhor maneira para o Surdo receber a instrução no ambiente escolar.
Acreditamos que esta foi uma fase de extrema importância para entendermos o processo que se deu na educação dos Surdos. Quando eles já estavam em uma situação diferenciada, sendo instruído, educados e usuários de uma língua que lhes permitia conhecimento de mundo, uma determinação lhe s colocou de novo em uma posição submissa, proibindo-os, a partir daquela data, de usarem a língua que lhes era de direito.
A partir da convivência que temos tido com as pessoas Surdas percebemos que se trata de uma comunidade que costuma, em sua maioria, conviver em “guetos”, optar por casamentos entre si e estudar com os iguais. Muitos se mostram desconfiados quando os ouvintes se aproximaram, pois se consideram incompreendidos. Podemos entregar que este comportamento é resultado dessas ações de mais de dois séculos. Ainda colhemos frutos amargos deles.
Não podemos deixar de levar em conta que o passado foi necessário para chegarmos a um presente, mas adequado e naquela época histórica aquelas ações eram consistentes.
Os surdos, muitas vezes, foram usados, deslocados e colocados em situação de desconforto social que lhe causou muito sofrimento e tudo isso muito mais por não serem usuários de uma língua oral do que por serem surdos.
O que observamos fazendo esta retrospectiva histórica é que muitos estudiosos defensores do Oralismo, depois de uma vida de tentativas, resolveram aceitar o uso da Língua de Sinais como possibilidade para o Surdo.
História da Educação dos Surdos no Brasil
No Brasil no período imperial, com a chegada do educador francês Hernest Huet, (surdo congênito) em 1855 com apoio de D. Pedro II, funda no Rio de Janeiro em 1857 o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos (Lei número 939, de 26 setembro de 1857) Através da Lei número 3198 de 06 de julho de 1957, temos a denominação de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).
O interesse de D. Pedro II em fundar o Imperial Instituto de Surdos-Mudos, se deve ao fato segundo a escritora Reis que: “o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque, discípulo do professor João Brasil Silvado, diretor do INSM em 1907, informou a ele em entrevista, que o interesse do imperador D. Pedro II em educação de surdos, viria do fato de ser a princesa Isabel, mãe de um filho surdo”, além de ser casada com o Conde D’Eu, parcialmente surdo.
O Instituto segue a proposta educacional de Huet contendo em seu currículo as disciplinas: Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil, Linguagem Articulada, Doutrina Cristã e Leitura sobre os Lábios. Posteriormente a data de fundação foi mudada conforme informação no site da INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos).
Até o ano de 1908 era considerada a data de fundação do Instituto o dia 1º de Janeiro de 1856. A mudança deu-se através do artigo 7º do decreto nº. 6.892 de 19 de março de 1908, que transferiu a data de fundação para a da promulgação da Lei 939 de 26 de setembro de 1857 que em seu artigo 16, inciso 10, consta que o Império passa a subvencionar o Instituto. Antes desse decreto os alunos eram subvencionados por entidades particulares ou públicas e até mesmo pelo Imperador.
No período da inauguração do Instituto houve várias mudanças de nomenclatura: 1856 a 1857 – Collégio Nacional para Surdos-Mudos, 1857 a 1858 – Instituto Imperial para Surdos-Mudos, 1858 a 1865 – Imperial Instituto para Surdos-Mudos, 1865 a 1874 – Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, 1874 a 1890 – Instituto dos Surdos- Mudos, 1890 a 1957 – Instituto Nacional de Surdos Mudos e de 1957 até os dias de hoje chamado de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).
Desse modo o ensino da língua de sinais por Huet teve grande influência francesa, país originário de Huet. Durante muito tempo, surdos de todo o Brasil e países vizinhos, concorriam para o Rio de Janeiro devido a ser a única escola referência para educação, profissionalização e socialização.
O INES, atualmente, oferece turmas para crianças de 0 a 3 anos de idade, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior através do Curso Bilíngue de Pedagogia.
No ano de 1875 um ex-aluno do Instituto, Flausino José da Gama publica o livro Iconografia dos Sinais dos Surdos, no intuito de divulgar o modo de comunicação da comunidade surda no Brasil.
Em 1915 a comunidade surda dá um passo importantíssimo no espaço político, criando a Word Federation of the Deaf (W.F. D).
Funda-se no Brasil a Associação Brasileira de Surdos, movimento de conscientização pelo direito do ensino para os surdos em língua de sinais. Isso nos anos de 1923 a 1929.
Um grande passo na educação dos surdos foi iniciado pelo governo Dutra (1946 – 1950). Aprovando um regimento, ao qual determinou o uso de metodologias dos Estados Unidos e um maior atendimento aos surdos.
No ano de 1951 no mês de junho temos a regulamentação do ensino do Curso Normal de Formação de Professores para Surdos-Mudos, o mesmo fora determinado pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra e assinado pelo Ministro da Educação e Saúde, Clemente Mariano (SOUZA 1999:70). O Decreto tinha o objetivo de alfabetização da comunidade surda em todo o território nacional.
“(...) que as atividades do INSM deverão se irradiar por todo o território nacional, a fim de dar cumprimento ao que se preceitua o item V do art. 1 decreto número 26974, de 28 de julho de 1949, precitado, isto é, promover em todo o país a alfabetização dos surdos-mudos e orientar, tecnicamente, esse trabalho, colaborando com os estabelecimentos congêneres, estaduais ou locais 
Brasil, instituto nacional de Surdos-Mudos, 1951 
Durante a gestão de Ana Rimoli de Faria Dória (1951 a 1961), no INES a concepção oralista prevalecia. Dória sendo também professora do curso Normal do INES, até o ano de 1957, escreveu em seu livro Compêndios de Educação da Criança Surda – Muda o trecho no prefácio:
“A criança surda necessita de ser compreendida, querida, amada. Não é mais um pária que, pela ignorância dos que não são surdos, ficou atirada à margem, sem direito
de ser criança, como as demais. Se chegarem até elas os recursos da técnica, da “arte” de ensinar-lhe a falar e compreender o que os outros falam por certo a inteligência se desenvolverá e o progresso que fizer estará na razão direta do esforço de seu professor (...). Nada é impossível, há caminhos que conduzem a todas as coisas. Que Deus inspire e abençoe todos aqueles que se dispuserem a essa árdua, mas compensadora tarefa! 
DÓRIA, 1954 
O oralismo demandava um período enorme para a criança falar. Segundo Dória (1954, p.156). “por meio de um longo e especializado curso de treinamento.”
Durante três décadas houve muitas tentativas de mudanças.
Em 1970 a senhora Ivete Vasconcelos, educadora de surdos visita a Universidade Gallaudet. Com seu retorno ao Brasil, implanta a filosofia da Comunicação Total. Dez anos após, com os estudos sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS surge uma nova filosofia: O Bilinguismo.
Somente em 1971, por ocasião do Congresso Mundial de Surdos, em Paris, devido aos estudos e pesquisas desenvolvidos nos EUA sobre a Comunicação Total, é que a língua de sinais passa a ser valorizada. Uma abordagem educacional recém-surgida que permitia o uso dos sinais.
No ano de 1975 ocorreu o Congresso em Washington. Todos foram unânimes que durante 100 anos a comunidade surda fora dominada pelo Oralismo. A mesma     acarretou um enorme prejuízo, pois de nada serviu tal abordagem, tanto na educação como no desenvolvimento social dos surdos. O resultado do encontro foi determinante para uma nova era na condução e desenvolvimento educacional dos surdos.  Surgindo a filosofia Bilingue.
Os autores acima salientam a importância dos estudos de Danielle Bouvet, publicados em Paris, no ano de 1981, relatando as pesquisas realizadas na Suécia e Dinamarca acerca do bilinguismo na educação dos surdos. Fato que contribuiu grandemente na comunidade surda, pois resgatava o uso da língua de sinais.
No ano de 1977, surge a Feneida. Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes Auditivos. Passando em 1987 a denominar-se Feneis (Federação Nacional e Educação e Integração dos Surdos).
Finalmente em 20 de abril de 2002 temos a regulamentação da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, pela Lei número 10.436.
Analisando o desenrolar da epopéia da comunidade surda durante os séculos, fica notória, a nefasta acepção comumente presenciada nos grupos mais fortes. Infelizmente são poucos os educadores com olhares diferenciados, que aceitam e acolhem o que parece ser desprezível e insignificante. Oxalá em nosso presente século os paradigmas excludentes, possam ser eliminados, da mente de uma sociedade civilizada e democrática. Para reflexão um pensamento do saudosista educador Paulo Freire: “Se discrimino o menino ou a menina pobre, a menina ou o menino rico, o menino índio, a menina rica; se discrimino a mulher, a camponesa, a operária, não posso evidentemente escutá-las e se não as escuto, não posso falar com eles, mas a eles, de cima para baixo. Sobretudo, me proíbo entendê-los. Se me sinto superior ao diferente, não importa quem seja, recuso-me escutá-lo ou escutá-la. O diferente não é o outro a merecer respeito é um isto ou aquilo, destratável ou desprezível.”
O Início da Educação de Surdos no Brasil
Em 1855 chega ao Brasil o professor Surdo francês chamado Eduard Huet (1822 – 1882), por solicitação de Dom Pedro II com o intuito de criar uma escola de Surdos no país. No Rio de Janeiro então, em 1857 fundou-se o primeiro instituto de Surdos em 26 de Setembro, data até atualmente comemorada como o Dia Nacional do Surdo.
Este instituto, inicialmente batizado de ISM – Instituto de Surdos-Mudos que em seguida se torna o INSM – Instituto Nacional de Surdos-Mudos funcionava como um colégio de internato. As crianças e adolescentes eram deixados lá durante todo o ano, estudavam os conteúdos disciplinares e também oficinas para a profissionalização no caso dos meninos, as meninas aprendiam a cozinhar e fazer artesanatos.
O alfabeto manual francês foi difundido no Brasil pelos próprios Surdos, alunos do tal instituto que logo recebeu o nome de INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos. Pais de todo o Brasil levavam seus filhos Surdos ao INES.
Em 1861 Huet viaja para o México para lecionar aos Surdos de lá, inicialmente por problemas pessoais. Huet vendeu seus direitos relacionados ao instituto ao governo imperial neste mesmo ano devido ao término de seu contrato de trabalho.
Em 1862 o Dr. Manoel Magalhães Couto foi incumbido da direção do INES, substituindo o célebre Eduard Huet.
No entanto, antes que esta língua tomasse uma estrutura no Brasil, educadores de todo o mundo mobilizam-se para convenções mundiais para a discussão e definição do que realmente era a inclusão do Surdo na sociedade: os métodos de ensino da Língua de Sinais ou seria mesmo o Método do Oralismo.
A história dos surdos no Brasil é marcada por entraves, opressões e luta. Considerados inferiores e ineducáveis pelos ouvintes, os surdos lutaram e ainda lutam para terem seus direitos básicos garantidos, principalmente no que diz respeito à educação. Suas histórias tanto no Brasil quanto no mundo são demarcadas pelo silenciamento, pois não lhes era dada a oportunidade de falar sobre questões que lhes são próprias, sendo os ouvintes aqueles que discutiam e determinavam muitos fatores em suas vidas.
A língua oficial e utilizada pelos surdos no Brasil é a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Além da Libras, há também uma segunda língua de sinais reconhecida, a Língua de sinais kaapor brasileira, falada pela comunidade indígena Ka'apor (presente no sul do Maranhão, no Brasil), criada pelo próprio grupo e com características próprias que compõe sua identidade.
No século XX e XXI
No ano de 1857, D.Pedro II convida o professor de surdos francês chamado Ernest Huet para fundar o Instituto Imperial de Surdos-Mudos, no Rio de Janeiro, que mais tarde viria a ser o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Ernest Huet foi um padre que trabalhava com a educação de surdos na França utilizando língua de sinais. A mescla da língua de sinais aplicada por Huet com a língua utilizada pelos surdos brasileiros deu origem a Língua de Sinais Brasileira (LIBRAS). O instituto era voltado para educação de meninos pertencentes a alta classe social.
O ano de 1880 é considerado um marco histórico na história mundial dos surdos, pois, neste ano foi realizado o Congresso de Milão. Pessoas influentes e líderes de diversos países se reuniram para discutir acerca das formas de se educar os surdos, e decidiram condenar e proibir as línguas de sinais, definindo assim, o oralismo como método ideal para educação dos surdos. Um fato importante é que poucos surdos participaram, porém sem direito ao voto, deste congresso que instaurou um período de aproximadamente 100 anos de obrigatoriedade do oralismo na maioria dos países.
É válido ressaltar que durante todo o período de proibição do uso da língua de sinais os surdos continuaram utilizando-a, porém na ilegalidade. Eram realizadas reuniões escondidas para que eles pudessem perpassar a língua de sinais para outros surdos, evitando que ela se perdesse.
Somente no ano de 1929 surgiu um instituto voltado para mulheres. O Instituto Santa Terezinha era um internato que educava meninas surdas também pelo método oral, depois passando a usar a filosofia da comunicação total. Assim como as demais escolas para surdos alterou a metodologia de ensino na década de 90 para a filosofia do bilinguismo.
Filosofia do bilinguismo surge em decorrência da nova forma de se estudar a surdez a partir da década de 60 quando passa a ser pelo viés etnográfico, o que leva a ideia de existência de uma cultura surda que, por sua vez, propõe uma mudança na forma de ensinar. Esta filosofia começa a substituir, na década de 90, a chamada Comunicação Total, que nos anos 80 aparece como outra forma de educar os surdos, tomando o lugar, em algumas escolas, do antigo método oral. Desta forma, a entrada do bilinguismo faz com que muitas escolas abandonem
a Comunicação Total e o Oralismo e passem a adotar a educação bilíngue no Brasil.
A partir da década de 70 a situação dos surdos começa a obter avanços. Em 1977 funda se a Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes Auditivos (FENEIDA), contudo, esta federação era composta somente por ouvintes, gerando uma ineficácia em sua atuação, pois ouvintes não compreendiam as necessidades da comunidade surda. Devido a esta falta de representatividade dentro da FENEIDA, em 1983 é criada a Comissão de Luta pelos Direitos dos Surdos, que reivindicava, principalmente, a participação de surdos dentro da federação. Já em 1987, a Comissão consegue assumir a presidência da FENEIDA por meio de uma assembleia geral e, então, cria-se a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS), que logo em seu primeiro ano e atividade oferece apoio para que a profissão de intérprete de libras obtivesse o reconhecimento necessário.
No ano de 1993, a FENEIS redige um documento intitulado: “As comunidades surdas reivindicam os seus direitos linguísticos”, sendo de suma importância, pois nele é requerido o reconhecimento da língua de sinais como língua natural dos surdos e por isso, o Estado e a sociedade deveriam reconhecer a comunidade surda como uma minoria linguística e cultural.
A Constituição Federal de 1988, nos artigos 205 e 208, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, nos artigos 4, 58, 59 e 60 garantiam às pessoas surdas o direito de igualdade de oportunidade no processo educacional. Mas, somente em 1994, na cidade do Rio de Janeiro, quando ocorre a marcha do grupo Surdos Venceremos, que mobilizou cerca de 2 mil pessoas, surdas e ouvintes, é que a causa ganhou uma relevância nacional.
Como resultado desta marcha e da crescente mobilização social, em 2002 é criada a lei n°10.436/02, que reconhece a libras oficialmente, e em 2005 é assinado o decreto n°5.626/05, que regulamenta a lei de libras e torna obrigatório o ensino de libras nos cursos superiores de licenciatura e formação de professores. A partir da implementação deste decreto, é inaugurado em 2006 a primeira licenciatura em libras do Brasil na Universidade Federal de Santa Catarina, sendo a referência na área em todo Brasil hoje em dia. Atualmente este curso é ofertado em diversas universidades federais, na região norte: UFRA, UFRR e UFAM; na região nordeste: UFAL, UFPI, UFC, UFS e UFRB; na região centro-oeste: UFMT e UFG; na região sudeste: UFMG, UFJF, UFES e UFRJ; na região sul: UFSC.
Já no ano de 2019, houve um retrocesso em relação às políticas públicas voltadas para os surdos, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) foi extinta e transformada em uma subpasta do governo e o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) está sofrendo com supostas fraudes nas eleições para o cargo de diretor, pois foi colocado para ocupar o cargo uma pessoa que perdeu a eleição e não prioriza as pautas da comunidade surda, fato que causa grande revolta nos servidores do Instituto e na comunidade surda como um todo.
Outro aspecto interessante é a origem da nossa língua de sinais, que tem suas raízes linguísticas na França e não em Portugal, como nossa língua oral. Isso também se aplica na história da Língua de Sinais Americana, sendo apenas diferenciada por ter sido levada aos Estados Unidos por um outro professor surdo.
Quanto à legislação de fundação do INES, Doria (1958, p.171) detalha:
As figuras acima têm relação direta com um dos momentos históricos da educação de surdos, quando pudemos observar o sofrimento e luta deles contra os métodos empregados pelo Oralismo. Diante de tais proibições frente à língua de sinais, muitos surdos continuaram resistindo à imposição daqueles que acreditavam que eles só poderiam constituir-se enquanto sujeitos se pudessem falar a língua oral.
A filosofia oralista teve início no século XIX, após o avassalador Congresso de Milão. Essa concepção influenciou fortemente as práticas no contexto da Educação de Surdos em todo o mundo. Diante desse quadro, como você percebe essa filosofia no contexto atual da educação dos surdos no Brasil?
A Legislação Brasileira a Partir da Constituição de 1988
Existem dois documentos legais além da Constituição Federal de 1988, que deram a estrutura e as condições necessárias para que a educação de surdos tomasse o formato que tem hoje.
A partir da Constituição Brasileira de 1988, nosso país iniciou sua prática democrática em todos os âmbitos, níveis e situações da sociedade. A democracia ficou mais concreta e também na área da educação especial e nos movimentos surdos passou a ocorrer uma maior participação de todos, com o interesse e do apoio de todos a tornar a acessibilidade e a inclusão uma realidade. Isto se refere às próprias pessoas com deficiência. Eles mesmos “arregaçam as mangas” e vão discutir suas possibilidades, seus sonhos e direitos.
A Constituição Federal de 1988, nos artigos 205 e 208, bem como a LDB – Lei de Diretrizes e Bases, nos artigos 4ª, 58, 59 e 60, garantem às pessoas surdas o direito de igualdade de oportunidade no processo educacional. Contudo, isso não tem sido uma realidade nas nossas escolas. A Constituição dá possibilidades para a construção de novos caminhos, respeitando os direitos de todos, e isso inclui as pessoas com deficiência, suas necessidades de acessibilidade e inclusão educacional e social. A primeira lei que merece ser mencionada, a qual se refere à educação de todas as pessoas com deficiência, é a de número 10.098 de 19 de dezembro de 2000. Ela é o início das práticas dos direitos das pessoas com deficiência, junto com seus familiares e simpatizantes.
Ela estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas deficientes ou com mobilidade reduzida. Conforme a lei n°10.098/00 destacamos o artigo 18:
“O Poder Público implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em braile, língua de sinais e de guia intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação”.
No artigo 18 aparece, pela primeira vez, termos da língua que usamos hoje: intérprete, língua de sinais, guia intérprete. O artigo é claro e direto, explicando como deve ser na prática. Isto é muito importante pois, denota entendimento correto das necessidades das pessoas com deficiência e senso de inclusão e acessibilidade, cujas práticas estão em andamento por todo o mundo.
O segundo documento importante a ser destacado é o Decreto n° 5.626 de 22 de dezembro de 2005, que regulamenta a lei da Libras de n°10.436 de 24 de abril de 2002. É um documento específico sobre o uso e a difusão da Libras, como uma língua oficial no país. A promulgação desse Decreto foi um passo notável na história da educação dos surdos no Brasil, e coloca nosso país à frente de muitos países desenvolvidos, devido à visão e prática modernas de respeito, de inclusão e acessibilidade, como o mundo exige nos dias de hoje.
Seguem algumas determinações inovadoras desse Decreto:
Em primeiro lugar, o documento dá o status de língua à Libras – Língua Brasileira de Sinais. Com isso, o governo reconhece publicamente que esta língua precisa ser pesquisada nas universidades e ministrada em cursos formais com as demais línguas orais vivas hoje. Orienta que Libras deverá ser ministrada como uma disciplina obrigatória em todos os cursos de licenciatura do ensino superior, bem como no curso de fonoaudiologia. Ela deverá ser difundida em todos os níveis escolares, bem como em órgãos e departamentos de empresas públicas e particulares. Outro aspecto interessante é que o Decreto cria cursos superiores de letras-Libras, oportunizando uma formação superior para os interessados. Da mesma forma, cria cursos de formação para tradutores/intérpretes de Libras também a nível superior, oportunizando novos locais de emprego para estes profissionais.
Esse Decreto também garante o acesso à educação para as pessoas surdas, bem como acesso à saúde e
a cursos de formação cuja acessibilidade é feita com profissionais tradutores/intérpretes de Libras, cursos esses em todos os níveis e em todas as áreas do conhecimento. Ressaltamos ainda, a importância de profissionais tradutores/intérpretes na sua atuação em sala de aula para alunos surdos inclusos. São eles que possibilitam a acessibilidade do aluno usuário de Libras e atuam como intermediários entre o professor e os demais colegas ouvintes da escola.
Muitos surdos hoje tem acesso à universidade graças à atuação de tradutores/intérpretes, cuja prática tem respaldo legal. Tanto a lei da Libras de número 10.436 de 24 de abril de 2002, quanto o Decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005 foram documentos históricos memoráveis para a educação, para a cidadania, para a cultura e identidades surdas em nosso país. A partir de então, nosso país se coloca à frente de muitos outros países do mundo, devido à evolução no campo da educação e dos direitos das pessoas surdas. Trata-se de uma legislação moderna, aberta, democrática e que contempla as necessidades das comunidades dos surdos brasileiros.
As diversas leis brasileiras que tratam sobre inclusão e acessibilidade, em todas áreas da deficiência, formam uma tessitura construída ao longo dos últimos anos, que apresentam um sólido conhecimento político e social, bem como nas suas práticas um bojo concreto de realizações. Ainda que não atendam às necessidades postas, as realizações nos colocam em patamares que atendem ao padrão universal que transcende as fronteiras dos países e unifica as pessoas.
Hoje, vemos os outros, os diferentes, com olhares mais respeitosos, mais humanos e mais naturais. Mesmo com as diferenças, somos seres humanos e todos iguais diante da lei. Os surdos tem autonomia para decidirem o que querem, como e porquê. Não há mais imposições das pessoas ouvintes determinando suas vontades aos surdos. O bilinguismo é uma realidade brasileira arduamente construída ao longo da história. Com ele, o povo surdo brasileiro escreveu uma nova história no capítulo das suas vidas, com possibilidade de acesso ao conhecimento e conquista do livre arbítrio. O cabedal legal jurisprudente brasileiro garante o respaldo necessário para a cidadania do povo surdo.
O momento é de propostas e práticas de inclusão e acessibilidade. Alguns obstáculos, no entanto, continuam a dificultar o processo. Quando teremos um surdo ocupando algum cargo político importante? Eles podem e tem plenas condições para tal. O que nos falta são os meios e a vontade política para fazê-lo. Quem sabe, precisamos fazer um novo manifesto.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Mais conteúdos dessa disciplina

Mais conteúdos dessa disciplina