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2ª ATIVIDADE COMPLEMENTAR – ESTÁGIO 3 – CURSO DE FÉRIAS 1/º2021 Responda as questões a seguir, justificando sua resposta com base nos elementos do caso simulado da questão, na lei e na jurisprudência. Você pode utilizar até 30 linhas em cada questão para justificar sua resposta. QUESTÃO 01 Após receber informações de que teria ocorrido subtração de valores públicos por funcionários públicos no exercício da função, inclusive com vídeo das câmeras de segurança da repartição registrando o ocorrido, o Ministério Público ofereceu, sem prévio inquérito policial, uma única denúncia em face de Júlio e Alberto, em razão da conexão, pela suposta prática do crime de peculato, sendo que, ao primeiro, foi imputada conduta dolosa e, ao segundo, conduta culposa. De acordo com a denúncia, Alberto, funcionário público, com violação do dever de cuidado, teria contribuído para a subtração de R$ 2.000,00 de repartição pública por parte de Júlio, que teria tido sua conduta facilitada pelo cargo público que exercia. Diante da reincidência de Alberto, já condenado definitivamente por roubo, não foram à ele oferecidos os institutos despenalizadores. O magistrado, de imediato, sem manifestação das partes, recebeu a denúncia e designou audiência de instrução e julgamento. No dia anterior à audiência, Alberto ressarciu a Administração do prejuízo causado. Com a juntada de tal comprovação, após a audiência, foram os autos encaminhados às partes para apresentação de alegações finais. O Ministério Público, diante da confirmação dos fatos, requereu a condenação dos réus nos termos da denúncia. Insatisfeito com a assistência técnica que recebia, Alberto procura você para, na condição de advogado(a), assumir a causa e apresentar memoriais. Com base nas informações expostas, responda, como advogado(a) contratado por Alberto, aos itens a seguir. A) Qual o argumento de direito processual a ser apresentado em memoriais para questionar toda a instrução produzida? O magistrado deveria ter intimado o réu para apresentar a defesa prévia antes de receber a denúncia. Houve, portanto, violação ao art. 514 do CPP (crime praticado contra a Administração pública por funcionários públicos), eis que não houve a notificação do réu para apresentar defesa prévia, acarretando nulidade diante da não observância aos princípios constitucionais (artigo 5º, LIV e LV da CF). B) Existe argumento de direito material a ser apresentado em favor de Alberto para evitar sua condenação? Sim. Poderá ser requerido a extinção da punibilidade eis que houve a reparação do dano por parte de Alberto antes da sentença. Isso porque, conforme art. 312, §3º do CP, a reparação do dano em crime de peculato culposo, se for anterior à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade do agente. QUESTÃO 02 Em 05 de junho de 2019, Saulo dirigia veículo automotor em via pública, com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool, ocasião em que veio a atropelar Jéssica por avançar cruzamento com o sinal fechado para os veículos. Jéssica sofreu lesões que a deixaram com debilidade permanente no braço, o que foi reconhecido pelo laudo pericial respectivo, também ficando comprovado o estado clínico em que se encontrava o motorista atropelador. Considerando que Saulo arcou com as despesas que Jéssica teve que despender em razão do evento, a vítima não quis representar contra ele. Inobstante tal manifestação da vítima, o Ministério Público denunciou Saulo pela prática dos injustos do Art. 303, § 2º, e do Art. 306, ambos da Lei nº 9.503/97. Considerando as informações narradas, esclareça, na condição de advogado(a), aos seguintes questionamentos formulados por Saulo, interessado em constituí-lo para apresentação de resposta à acusação. A) Diante da ausência de representação por parte da ofendida, o Ministério Público teria legitimidade para propor ação penal contra Saulo? Sim. Em que pese o crime de lesão corporal culposa ser ação penal pública condicionada a representação (art. 129, § 6º, CP), o CTB (art. 291, I do CTB) executa nos casos em que o agente ativo estiver sob a “influencia de álcool ou qualquer outra substancia psicoativa que determine dependência”. Neste caso, a ação penal é publica incondicionada, com a legitimidade de proposição do MP. B) Qual a tese jurídica de direito material que a defesa de Saulo deverá alegar para contestar a tipificação apresentada? Poderá contestar alegando a culpa concorrente da vítima, eis que Jéssica avançou o sinal vermelho e também foi responsável pela criação do risco. Ainda, é possível a evocação do princípio da confiança, eis que ninguém, ao agir, deve preocupar-se necessariamente com a possibilidade de outra pessoa agir em desconformidade com a lei. Nesses casos, pode-se buscar a atenuante na análise da primeira fase da dosimetria da pena (circunstâncias judiciais – art. 59 do CP) Por fim, deve-se requerer a aplicação do princípio da consunção dos crimes imputados ao agente do art. 303, §2º e 306 do CTB, tendo em vista que a circunstância da condução do veículo sob a influência de álcool, com capacidade psicomotora alterada, é elementar do crime de lesão corporal culposa por ingestão de bebida alcoólica, ou seja, o crime qualificado (art. 303, §2º) tem como elementar o próprio delito do art. 306. Assim, a aplicação de ambos os intitutos caracteriza bis in idem. QUESTÃO 03 Marcos, 43 anos, foi flagrado, no dia 10 de março de 2014, transportando arma de fogo de uso permitido. Foi denunciado, processado e condenado à pena de 02 anos de reclusão, a ser cumprida em regime aberto, e multa de 10 dias, à razão unitária mínima, sendo a pena privativa de liberdade substituída por duas penas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e limitação de final de semana. A decisão transitou em julgado, para ambas as partes, em 25 de novembro de 2015. Após a condenação definitiva, Marcos conseguiu emprego fixo em cidade diferente daquela em que morava e fora condenado, para onde se mudou, deixando de comunicar tal fato ao juizo respectivo, não sendo encontrado no endereço constante nos autos para dar início à execução da pena. Por tal motivo, o juiz, provocado pelo Ministério Público converteu, de imediato, as penas restritivas de direitos em pena privativa de liberdade, determinando a expedição de mandado de prisão. A ordem de prisão foi cumprida em 20 de dezembro de 2019, quando Marcos foi ao DETRAN/RJ objetivando a renovação de sua habilitação, certo que, após aquele fato, nunca se envolveu em qualquer outro ilícito penal. Desesperada, a família procura você, na condição de advogado(a), para a adoção das medidas cabíveis. Considerando a situação apresentada, responda, na condição de advogado(a) de Marcos, aos itens a seguir. A) Existe argumento de direito material a ser apresentado para evitar que Marcos cumpra a sanção penal imposta na sentença? Sim. Tendo em vista que o transito em julgado da decisão condenatória foi dia 25/11/2015, a o prazo para a pretensão executória (que se inicia logo após o trânsito) é de 4 anos, conforme os termos do art. 110 do CP, o prazo fatal de prescrição é no dia 25/10/2019. Isso porque a pena de 2 anos de reclusão aplicada ao presente caso, tem prazo prescricional de 4 anos, de acordo como art. 109, V, do CP. Então, no caso em comento, houve a prescrição da pretensão executória com o consequente reconhecimento de extinção de punibilidade do agente (art. 107, IV do CP). B) Para questionar a decisão do magistrado de converter a pena restritiva de direitos em privativa de liberdade e expedir mandado de prisão, qual o argumento de direito processual a ser apresentado? Em caso de descumprimento injustificado, a pena privativa de direito poderá ser convertida em privativa de liberdade, conforme art. 44, §4º do CP. Porém,para tanto, antes de ser efetuada a conversão, o apenado deverá ser intimado para se manifestar e justificar o descumprimento, com a devida observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa. No caso em apreço, a conversão ocorreu automaticamente sem a oitiva do apenado, o que acarreta a nulidade da decisão da vara de execuções. QUESTÃO 04 Saulo, estudante, condenado anteriormente por crime culposo no trânsito, em 20/08/2019 adentrou loja de conveniência de um posto de gasolina e, aproveitando-se de um descuido dos funcionários do estabelecimento, furtou todo o dinheiro que se encontrava no caixa. Após sair da loja sem ter sua conduta percebida, consumado o delito, Saulo avistou sua antiga namorada Aline, que abastecia seu carro no posto de gasolina, e contou-lhe sobre o crime que praticara momentos antes, pedindo que Aline, igualmente estudante, primária e sem qualquer envolvimento anterior com fatos ilícitos, ajudasse-o a deixar o local, pois notou que os empregados do posto já tinham percebido que ocorrera a subtração. Aline, então, dá carona a Paulo, que se evade com os valores subtraídos. Após instauração de inquérito policial para apurar o fato, os policiais, a partir das câmeras de segurança da loja, identificaram Saulo como o autor do delito, bem como o veículo de Aline utilizado pelo autor para deixar o local, tendo o Ministério Público denunciado ambos pela prática do crime de furto qualificado pelo concurso de agentes, na forma do Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal. Por ocasião do recebimento da denúncia, o juiz indeferiu a representação pela decretação da prisão preventiva formulada pela autoridade policial, mas aplicou aos denunciados medidas cautelares alternativas, dentre as quais a suspensão do exercício de atividade de natureza econômica em relação a Aline, já que ela seria proprietária de um estabelecimento de comércio de roupas no bairro em que residia, nos termos requeridos pelo Ministério Público. Considerando os fatos acima narrados, responda, na condição de advogado(a) de Aline, aos questionamentos a seguir. A) Existe argumento para questionar a medida cautelar alternativa de suspensão da atividade econômica aplicada a Aline? Sim. Conforme o art. 319 do CPP é possível a aplicação de medidas cautelares alternativas pelo juiz. Ainda, no inciso VI do mesmo artigo, estabelece-se que é possível a aplicação de medida cautelar de suspensão do exercício da função pública ou de atividade de natureza económica, desde que exista justo receio de sua utilização para outras praticas de crime. Aline foi denuncia de maneira equivocada da prática de crime contra o património, porém, somente este fato não caracteriza a medida de suspensão da atividade de natureza económica cabível. Ainda mais porque Aline é possui bons antecedentes, é primária e não possui nenhum envolvimento com o crime, não sendo justificável a medida aplicada a ela. B) Qual argumento de direito material poderá ser apresentado pela defesa técnica de Aline para questionar a capitulação delitiva imputada pelo Ministério Público? Primeiramente, cabe mencionar que a participação de Aline ocorreu somente após a consumação do crime de furto. Insta salientar que a doutrina majoritária entende ser possível a aplicação da participação após a consumação do delito, desde que ainda haja espaço para o exaurimento ou a participação tenha sido previamente combinada, o que não ocorreu no caso em comento. Aline concorreu com o crime somente após a consumação, sendo incabível o concurso de pessoas no crime de furto qualificado. Aline deve ter sua capitulação delitiva desclassificada para favorecimento pessoal, conforme art 348 do CP.