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Fisiologia Humana – Ed Física - BF 081 Depto. de Fisiologia, SCB - UFPR - 2019 Aula Prática - “FUNÇÃO RESPIRATÓRIA NO HOMEM” 1. INTRODUÇÃO As células do corpo humano obtêm energia a partir de reações oxidativas que envolvem oxigênio e devem eliminar o produto final destas reações, o gás carbônico. Para isso, os organismos complexos necessitam de sistemas que permitam a troca de gases contínua entre o meio interno e o externo - sistema respiratório - além do transporte de gases no interior do corpo até as células - sistema circulatório. O aparelho respiratório compõe-se de: nariz - boca - faringe (garganta; comum aos tratos digestivo - esôfago - e respiratório); laringe (com cordas vocais) - traqueia - brônquios - bronquíolos - alvéolos. A partir dos brônquios, as ramificações das vias aéreas já se localizam no interior dos pulmões. Estes, por sua vez, localizam-se no interior da caixa torácica, a qual é um compartimento fechado, ligado ao pescoço por músculos e tecido conjuntivo e, separado do abdome (cavidade abdominal), por uma lâmina abobada de músculo (septo músculo fibroso) esquelético, o diafragma. A parede externa é constituída pelo esterno, por doze costelas e pelos músculos intercostais, além de grande quantidade de tecido conjuntivo elástico. Firmemente aderida na parte interna da caixa torácica há uma fina camada de células, a pleura parietal que contém uma camada de líquido intrapleural separando-a da pleura visceral que recobre o pulmão. Nesta aula, estudaremos principalmente a primeira etapa do processo respiratório como um todo, ou seja, a troca de ar entre o meio externo e os alvéolos. Este movimento de ar para dentro e para fora dos pulmões associado a distribuição do ar entre os alvéolos é denominado ventilação. Além disso, estudaremos os movimentos respiratórios básicos e as alterações destes em diferentes situações fisiológicas, correlacionando essas alterações com as diversas aferências para os centros de controle da respiração. 2. MOVIMENTOS RESPIRATÓRIOS, VOLUMES E CAPACIDADES PULMONARES Devido às forças elásticas dos tecidos da caixa torácica, a pleura é puxada para longe dos pulmões o que diminui a pressão intrapleural, resultando na distensão dos pulmões. Como estes se comunicam com a atmosfera, há entrada de ar devido à diminuição da pressão interna do ar nos pulmões distendidos. Durante a inspiração, há a contração: (1) dos músculos intercostais (aumento nos diâmetros torácicos ântero-posterior e látero-lateral) e do diafragma (contrai em direção ao abdome; aumenta o diâmetro céfalo-caudal do tórax), o que torna a pressão intrapleural ainda mais subatmosférica e promove a entrada de ar nos pulmões por fluxo de volume. Fisiologia Humana – Ed Física - BF 081 Depto. Fisiologia, SCB - UFPR 2018 Já na expiração, há o relaxamento dos intercostais e do diafragma causando o retorno do tórax e pulmões ao seu comprimento original. Assim, o ar alveolar é comprimido e a pressão alveolar fica maior que a atmosférica, o que promove a saída do ar dos alvéolos pelas vias aéreas de volta ao exterior. A expiração torna-se ativa apenas durante o exercício, a tosse, o espirro, o vômito ou algumas pneumopatias. O volume de ar que penetra e abandona os pulmões numa única respiração é o volume corrente e determina um ciclo ventilatorio. O volume corrente e outros volumes pulmonares podem ser medidos através de um espirômetro (veja Mat. e Mét.). Tais medidas fornecem valores que variam em função de diferentes fatores, como p. ex., idade, sexo, superfície corporal, atividade física, postura, doenças. São, portanto, utilizadas na clínica. Os principais volumes (4) e capacidades (4) pulmonares são: - V1) volume corrente: é a quantidade de ar inspirada ou expirada espontaneamente em cada ciclo respiratório. No repouso, oscila entre 350 e 500 ml (homem). - V2) volume de reserva inspiratório (entre 2500-3000 ml): é o volume máximo que pode ser inspirado voluntariamente a partir do final de uma inspiração espontânea. - V3) volume de reserva expiratório (1000 ml): é o volume máximo que pode ser expirado voluntariamente a partir do final de uma expiração espontânea. - V4) volume residual: é o volume de gás que permanece no interior dos pulmões após a expiração máxima. Não pode ser medido pelo espirômetro, embora possa ser calculado/estimado. - C1) Capacidade vital: é a quantidade de gás mobilizada entre uma inspiração e uma expiração máximas. É a soma de três volumes pirimários: corrente, de reserva inspiratório e de reserva expiratório. - C2) Capacidade inspiratória: é o volume máximo inspirado a partir de uma expiração espontânea. É a soma dos volumes corrente e de reserva inspiratório. - C3) Capacidade residual funcional: é a quantidade de gás contida nos pulmões no final de uma expiração espontânea. Corresponde à soma dos volumes de reserva expiratório e residual. - C4) Capacidade pulmonar total: é a quantidade de gás contida nos pulmões ao final de uma inspiração máxima e equivale à adição dos quatro volumes primários. *Ventilação (pulmonar total) por minuto: produto do volume corrente pela frequência respiratória (respirações / min). É importante lembrarmos que dos 500 ml de ar que normalmente penetram nas vias respiratórias a cada ciclo respiratório, cerca de 150 ml nunca alcançam os alvéolos e são meramente movidos para dentro e para fora das vias sem realizar trocas gasosas. Isto corresponde ao espaço anatômico morto, que somado a outros volumes pulmonares não efetivos na troca de gases (p. ex., regiões ventiladas, mas não perfundidas), constitui o espaço morto fisiológico. Assim, o volume de ar atmosférico novo que penetra nos alvéolos a cada inspiração é a chamada ventilação alveolar, de maior significado que a ventilação pulmonar total, pois corresponde, efetivamente, ao que pode fornecer oxigênio e retirar gás carbônico dos alvéolos. Fisiologia Humana – Ed Física - BF 081 Depto. Fisiologia, SCB - UFPR 2018 Além dos estudos referentes aos volumes e capacidades pulmonares, focalizaremos também as alterações que ocorrem nos movimentos respiratórios (do tórax e abdomem) em diferentes situações, através da utilização de um pneumógrafo (veja Mat. e Mét.). Os movimentos respiratórios são controlados pelo sistema nervoso central, mais precisamente por um complexo neural situado no tronco cerebral: o centro respiratório. As aferências da periferia ao conjunto dos vários núcleos que compõem o centro de controle respiratório são compostas por sistemas: quimiorreceptores (sensíveis à variação de pH, pO2, pCO2 no sangue arterial) e barorreceptores aórticos e carotidianos; de propriocepção das juntas, músculos da caixa torácica e principalmente receptores de estiramento que disparam em proporção ao grau de insuflação dos pulmões. Assim, a manutenção de níveis adequados de O2 e CO2 no sangue deve- se aos ajustes contínuos e respostas reflexas discretas que envolvem uma retroalimentação (“feed-back”) sensorial fornecido pelos receptores citados. Além disso, conexões provenientes de outras regiões do sistema nervoso central possibilitam que funções como a fala, a deglutição, a tosse, o controle voluntário da respiração etc. se realizem harmônica e eficientemente. Qualquer estado fisiológico que implique em um aumento do metabolismo provoca um aumento da necessidade de suprimento de O2 para os tecidos e as respostas respiratórias se caracterizam por um aumento da frequência e amplitude dos movimentos, o que deveremos verificar em nosso procedimentoexperimental. 3. OBJETIVOS 3.1) Parte I - Espirometria 3.1.1) Familiarizar os alunos com a técnica da espirometria; 3.1.2) Demonstrar os diversos volumes e capacidades pulmonares em condições padrões. 3.2) Parte II – Efeito da hiperventilação sobre a apneia 3.2.1) Verificar o efeito de alterações no padrão de ventilação sobre o tempo de apneia, relacionando com o controle químico da respiração. 3.3) Parte III - Pneumografia 3.3.1) Familiarizar os alunos com a técnica da pneumografia; 3.3.2) Estudar as alterações de respiração em circunstâncias funcionais diversas. Verificar os efeitos decorrentes de alterações nos gases sanguíneos; 3.3.3) Conhecer algumas das aferências dos centros respiratórios que auxiliam no ajuste do padrão de ventilação a alterações comportamentais. Fisiologia Humana – Ed Física - BF 081 Depto. Fisiologia, SCB - UFPR 2018 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1) Espirometria 4.1.1) O espirômetro e procedimento experimental O espirômetro original (Fig. 1) consiste de dois cilindros fechados numa das extremidades e abertos na outra. Uma mangueira de ar encontra-se conectada a um tubo que percorre em direção ao centro do cilindro externo, junto à extremidade inferior, e depois, verticalmente para cima. O cilindro externo (corpo do espirômetro) é preenchido com água até aproximadamente 3 a 4 cm da borda. O cilindro interno (sino) contém ar e encontra-se posicionado com a extremidade fechada para cima, flutuando na água. Uma corrente presa à face superior do cilindro interno passa por uma roldana calibrada e prende-se na outra extremidade a um contrapeso existente dentro de um tubo adjacente à face externa do cilindro externo. Quando ar é exalado, o volume de ar aumenta empurrando o cilindro interno para cima, ao mesmo tempo que a roldana gira no sentido horário. Um sistema de registro (um cilindro com papel graduado em litros) pode estar acoplado à corrente, de forma que é possível determinar o volume exato de ar exalado (ou inalado) durante o ciclo respiratório. Ou então, o próprio cilindro interno do espirômetro apresenta-se graduado em ml para permitir a leitura dos volumes acima citados. Atualmente, os volumes e capacidades pulmonares podem ser medidos e/ou calculados através do sistema de aquisição de dados, “Power Lab”, que inclui um hardware e vários softwares para obtenção de diversas medidas fisiológicas. Os periféricos do equipamento específicos para a espirometria (p. ex., tubos de ar, filtro de ar, bocal e prendedor nasal) serão previamente montados e/ou disponibilizados. Antes do início das medidas o aparelho será devidamente calibrado. Um aluno voluntário, sentado, com postura ereta e usando o prendedor nasal, terá seus volumes primários aferidos e os demais calcularão alguns valores a partir destes (Fig. 2). O voluntário não deve ver os registros durante a aquisição das medidas e deve acusar imediatamente, em qualquer fase da experimentação, a manifestação de sintomas estranhos para que deixe de executar os experimentos. Para o bom andamento da aula é necessária uma disciplina razoável do restante da turma (observadores). * Determinação dos volumes e capacidades pulmonares a) volume corrente (VC; Fig. 2): será quantificado o valor basal (em litros) do volume de ar inspirado ou expirado. VC (repouso) (l): b) volume de reserva inspiratória (VRI, Fig. 2): ao término de uma inspiração normal, inspire a maior quantidade de ar possível através do bocal. Anotar os valores inicial e final, subtrair o VC e anotar o resultado. Este é o VRI. VRI (repouso) (l): Fisiologia Humana – Ed Física - BF 081 Depto. Fisiologia, SCB - UFPR 2018 c) volume de reserva expiratória (VRE, Fig. 2): no final de uma expiração normal, tampe o nariz e expire através do bocal, esvaziando os pulmões o máximo possível. A sensação deve ser de soprar o ar no bocal. Anotar os valores inicial e final, subtrair o VC e anotar o resultado. Este é o VRE. VRE (repouso) (l): d) capacidade vital (CV, Fig. 2): inspire pelo nariz e, após, expire pelo bocal o máximo de ar possível. Teste seus resultados: CV deve ser igual a VC + VRI + VRE, medidos nas etapas precedentes! Eventuais discrepâncias podem ser devidas ao fato do aparelho usar, para esta estimativa, os maiores valores registrados durante todo o experimento. CV (l): VC + VRI + VRE (l) = e) frequência respiratória (FR): usar 20 segundos de registro do volume corrente e estimar o número de ciclos respiratórios (inspiração + expiração) efetuados. Multiplicar o total por 3 para obter-se a frequência respiratória ou número de ciclos respiratórios por minuto (60 segundos). FR (repouso): f) Ventilação-minuto (VE): pode ser calculada multiplicando-se a frequência respiratória (ciclos por minuto) pelo volume corrente (l por respiração). VE (l/min): VC X FR = 4.2) Efeito da hiperventilação sobre a apneia O voluntário deve estar sentado de forma confortável, respirando normalmente antes do teste. Registrar o tempo (em segundos) que o voluntário consegue prender a respiração após uma inspiração normal. O voluntário deve, após cerca de um minuto de recuperação, inspirar profundamente e fazer nova medida. E, finalmente, após cerca de um minuto de recuperação, hiperventilar, inspirando e expirando aproximadamente cinco vezes o mais profundamente possível. Imediatamente após, prender novamente a respiração e registrar o tempo de apneia (em segundos). Normal Após inspiração profunda Após hiperventilar Tempo (s): Fisiologia Humana – Ed Física - BF 081 Depto. Fisiologia, SCB - UFPR 2018 4.3) Pneumografia 4.3.1) O pneumógrafo e procedimento experimental O pneumógrafo original constitui-se em um cinto-colete que envolve o tórax. O aparelho é conectado a um transdutor e a um computador ou fisiógrafo para registro. Uma versão atual desse aparelho pode ser visualizada na Figura 3. Outros materiais necessários: um texto em português, um copo com água mineral e um saco plástico médio. Um aluno voluntário deve sentar com os braços lateralizados simetricamente. Enquanto ele estiver respirando quietamente, deve se observar se os lados da caixa torácica se movem igualmente. A partir daqui ajustar o pneumógrafo ao redor da região torácica que tiver exibido os movimentos mais pronunciados durante a respiração. O aluno voluntário não deverá ver os registros durante a execução dos experimentos! A execução de cada item deve sempre ser precedida por um tempo de recuperação e de registro controle. * Registros: a) padrão: com o sujeito sentado e respirando calmamente, registrar a respiração normal. b) inspiração forçada: seguindo-se a uma expiração normal, inspire amplamente. Observar o traçado. c) expiração forçada: seguindo-se a uma inspiração normal, fazer uma expiração forçada máxima. Observar o traçado. d) leitura em voz alta: respeitando as pausas impostas pela pontuação, ler um trecho de um texto em português. Correlacionar o aspecto do traçado com as fases da leitura. e) deglutição: ingerir normalmente um copo de água fria e observar o traçado. f) tosse e espirro: simular os reflexos da tosse e o espirro, separadamente, e observar o que ocorre com o traçado. g) respiração em ambiente confinado: o sujeito deve respirar dentro de um saco plástico, por via nasal, durante cerca de 10 a 20 segundos. Observar as alterações de amplitude e frequência. O que ocorre com ambas? h) exercício físico: o indivíduo deveefetuar uma atividade física que poderá constar, p. ex., de cerca de 20 extensões e flexões das pernas, abaixando e levantando. Faz-se o registro simultaneamente à atividade física. Explicar as possíveis origens das alterações respiratórias durante o exercício. Fisiologia Humana – Ed Física - BF 081 Depto. Fisiologia, SCB - UFPR 2018 5. FIGURAS Fig. 1 - Espirômetro. Fig. 2 - Volumes e capacidades pulmonares determinados em um espirômetro. Quando o indivíduo inspira, o registro sobe, e na expiração, ele desce. Fisiologia Humana – Ed Física - BF 081 Depto. Fisiologia, SCB - UFPR 2018 Fig. 3 - Aparelhagem para registro dos movimentos respiratórios: pneumógrafo e dispositivos de registro.