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ALBERTS, Bruce et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre, Editora Artmed, 2017. Valdimir Ferreira Maciel Medicina, UFC REPARO DE DNA ● Manutenção da estabilidade genética: mecanismo extremamente preciso para replicar DNA e para corrigir as lesões acidentais (alterações espontâneas ou aleatórias) ● Uma enorme porcentagem da capacidade codificadora da maioria dos genomas é dedicada exclusivamente às funções de reparo de DNA. ● Associação de diversas doenças com a capacidade reduzida de reparo ● Dna é um material “estável”, mas suscetível a alterações espontâneas ou induzidas: ○ Depurinação: Quebra da ligação glicosídica (tipo de lesão mais frequente sofrida pelo DNA) ○ Desaminação: Converte citosina em uracila (também pode ocorrer com outras bases) ○ Metabólitos produzidos na própria célula: formas reativas de oxigênio e S-adenosilmetionina ○ Produtos químicos no ambiente ○ Radiação ultravioleta do sol ● Importância da dupla fita: se uma é danificada, a fita complementar possui uma cópia intacta da mesma informação ● As células possuem múltiplas vias para o reparo do DNA, usando diferentes enzimas que atuam em diferentes tipos de lesões. ● Reparo por excisão de bases: Envolve as DNA-glicosilases, cada uma capaz de reconhecer um tipo específico de base alterada no DNA e de catalisar sua remoção hidrolítica ○ Acredita-se que essas enzimas deslocam-se pelo DNA usando a projeção das bases (Nucleotídeo projetado para fora da hélice) para avaliar a situação de cada par de bases. Uma vez reconhecida a lesão, a enzima remove a base do açúcar. ○ DNA-glicosilase remove a base desaminada -> Porção de açúcar-fosfato clivada pela endonuclease AP e fosfodiesterase -> Intervalo preenchido pela DNA-polimerase e pela DNA-ligase ● Reparo por excisão de nucleotídeos: ○ Alteração volumosa na estrutura da dupla-hélice (Ligação covalente das bases do DNA aos hidrocarbonetos); dímeros de pirimidina (T-T, T-C e C-C) causados pela luz do sol ○ Enorme complexo multienzimático verifica o DNA à procura de distorções -> cadeia fosfodiéster da fita anormal clivada -> intervalo corrigido pela DNA-polimerase e DNA-ligase ○ Alternativa a esses processos: química reversa da lesão de DNA - remoção rápida de lesões altamente mutagênicas ou tóxicas. ● Células direcionam o reparo para as sequências em que ele é mais necessário: acoplamento da RNA polimerase à via de reparo por excisão de nucleotídeos (ACOPLAMENTO DE TRANSCRIÇÃO) ● CLÍNICA: Síndrome de Cockayne: Defeito no acoplamento, retardo de crescimento, anormalidades esqueléticas, retardo neural progressivo e uma grave sensibilidade à luz solar (moléculas de RNA-polimerase ficaram permanentemente estacionárias nos sítios de lesões no DNA onde se localizam genes importantes) ● A desaminação espontânea de C o converte em U. Porém, se o DNA contivesse U como base natural, o sistema de reparo seria incapaz de distinguir um C desanimado de uma base U de ocorrência natural. ● Polimerase translesão: Polimerases de reserva, versáteis mas menos precisas que são empregados pelas células em casos de emergência, com DNA extremamente danificado e insuficiência dos mecanismos de reparo mostrados anteriormente. ○ impõe riscos à célula podendo gerar mutações ● Quebra de fita dupla: Não existe fita molde intacta para o reparo ○ causadas por radiação ionizante,na maioria das vezes por erros na replicação (forquilhas de replicação estacionária ou quebrada), agentes oxidantes e alguns outros metabólitos produzidos pela célula. ● Ligação de extremidades não homólogas: Extremidades da quebra simplesmente justapostas e religadas ○ “Solução aceitável” pois pouco do DNA de mamíferos é essencial para a vida ○ Perigo: Pode gerar rearranjos em que um cromossomo quebrado seja ligado a outro ● A progressão ordenada do ciclo celular é suspensa se uma lesão no DNA for detectada, e reinicia somente após sua correção. ● As lesões no DNA também resultam em um aumento da síntese de algumas enzimas de reparo do DNA. ● CLÍNICA: Ataxia-telangiectasia - defeitos nos genes que codificam a proteína ATM, cinase envolvida na geração de sinais intracelulares. Seus sintomas incluem neurodegeneração, predisposição ao câncer e instabilidade genômica. ● Recombinação homóloga: Troca de fitas do DNA entre um par de sequências de DNA de duplex homólogo, em outras palavras, usa a cromátide-irmã. ○ Principal via para restaurar com precisão as quebras de dupla-fita ○ Função especial na meiose: troca ordenada de porções entre cromossomos homólogos (crossing-over) ○ Ocorre logo após o processo de replicação quando as duas moléculas estão bem próximas e uma pode servir de molde para outra ● Os processos fundamentais que promovem a recombinação homóloga são comuns a todas as células, ou seja, foram preservados durante a evolução por ser um processo versátil. ● Ocorre apenas entre dois duplex de DNA com extensas regiões de sequências similares (homologia). ● Hibridização do DNA: as duplas-hélices de DNA podem se refazer a partir das fitas separadas em uma reação que depende da colisão aleatória entre duas fitas complementares. A maioria dessas colisões não é produtiva, mas algumas poucas resultam em uma pequena região em que os pares de bases complementares são formados (nucleação da hélice). Um rápido pareamento leva, então, à formação de uma dupla-hélice completa. Pelo processo de tentativa e erro, uma fita de DNA encontra sua parceira complementar mesmo entre milhões de fitas não complementares. ○ Pode produzir uma região de dupla-hélice de DNA formada por fitas originárias de duas moléculas de DNA diferentes (heteroduplex), raramente ocorre in vivo, é a base de diversos métodos para estudar células. ● “Dança das fitas”: Extremidades do DNA danificado são removidas por nucleases especializadas -> Troca de fitas(invasão de fitas): Uma das extremidades 3’ da molécula quebrada abre caminho até o duplex-molde e busca a sequência homóloga pelo pareamento de bases -> DNA polimerase alonga a fita, corrigindo o dano -> regeneram as duas hélices duplas de DNA originais e completam o processo de reparo. ● A troca de fitas é realizada pela proteína RecA (E. coli) e Rad51 (praticamente todos os eucariotos) ● Uma função crucial da recombinação homóloga, talvez sua atribuição mais importante seja o resgate de forquilhas de replicação de DNA estacionárias ou quebradas. ● Problemas à célula: pode acabar corrigindo a lesão usando um segmento errado ○ Perda de heterozigosidade: algumas vezes um cromossomo humano quebrado é “reparado” usando um homólogo do outro progenitor em vez da cromátide-irmã como molde. Como os cromossomos materno e paterno diferem em várias posições na sequência de DNA. Apesar de rara, é uma etapa crucial no desenvolvimento de diversos tipos de câncer. ● As etapas da recombinação homóloga são fortementes reguladas ● Um conjunto de proteínas acessórias, incluindo Rad52, é necessário nas células eucarióticas para assegurar que a recombinação homóloga seja eficiente e precisa. ● BRCA1 e BRCA2: Proteínas cujas mutações nos seus genes causam aumento na frequência de câncer de mama. Como essas mutações resultam em reparo ineficientepor recombinação homóloga, o acúmulo de lesões do DNA podem originar um câncer em um reduzido número de células. O Brca1 regula uma etapa inicial do processamento de extremidades quebradas; sem ele, as extremidades quebradas não são processadas corretamente para a recombinação homóloga e serão corrigidas com erros pela via de ligação de extremidades não homólogas.A proteína Brca2 liga-se à Rad51 a mantendo inativa até ela ser necessária. ● Como a recombinação homóloga durante a meiose produz o entrecruzamento e a conversão gênica, resultando em cromossomos híbridos contendo informação dos dois homólogos, materno e paterno? ○ A recombinação meiótica inicia com uma quebra programada de fita dupla ○ Proteínas específicas da meiose e resultado diferente da recombinação homóloga como via de reparo ○ Na meiose ocorre preferencialmente entre os cromossomos homólogos (em vez de entre as cromátides-irmãs) maternos e paternos ○ Junção de Holliday ou troca cruzada de fitas: intermediário na recombinação homóloga meiótica, pode adotar múltiplas conformações e um conjunto de proteínas de recombinação se liga a ele ● Em seres humanos, aproximadamente 90% das quebras de fita dupla produzidas durante a meiose são resolvidas como não entrecruzamentos. (não há permuta de genes) ● Controle de entrecruzamento: Os poucos entrecruzamentos formados são distribuídos ao longo dos cromossomos de tal modo que um entrecruzamento em um local inibe entrecruzamentos nas regiões próximas. ● Conversão gênica: divergência da distribuição dos alelos esperada durante a meiose. Ocasionalmente, por exemplo, a meiose produz três cópias da versão materna do gene e apenas uma cópia do alelo paterno. o sistema de reparo não é capaz de diferenciar as fitas materna e paterna e escolhe aleatoriamente a fita que será usada como molde para o reparo. Como consequência, um alelo será perdido, e o outro, duplicado. ● Dois tipos diferentes de recombinação: a transposição (também chamada de recombinação transposicional) e a recombinação sítio-específica conservativa. ○ Não necessitam de grande homologia entre as regiões de DNA ○ Podem alterar a ordem dos genes e, assim, provocar mutações ○ Responsáveis pelo deslocamento de elementos genéticos móveis de uma posição a outra em um genoma. ● Elementos genéticos móveis (genes saltadores): Variedade de segmentos especializados de DNA, que podem variar em tamanho de algumas poucas centenas a dezenas de milhares de pares de nucleotídeos, e cada um geralmente carrega um conjunto determinado de genes, que normalmente codifica uma enzima que catalisa o deslocamento desse elemento, o que possibilita a reação de recombinação. ○ Os elementos genéticos móveis geralmente são considerados parasitas moleculares (também chamados de “DNA egoísta”) que persistem porque as células não podem se livrar deles. ○ Favorece mutações espontâneas, que podem ser prejudiciais ou vantajosas. ● Os elementos que se movem por transposição são chamados transpósons, ou elementos transponíveis ○ Enzima transpoase causa a sua inserção no novo sítio-alvo de DNA. ○ Com base em sua estrutura e em seu mecanismo de transposição, os transpósons podem ser divididos em três grandes classes: transpósons exclusivamente de DNA, retrotranspósons semelhantes a vírus e retrotranspósons não retrovirais. ● Transpósons exclusivamente de DNA: chamados assim porque existem apenas como DNA durante seu movimento, são predominantes em bactérias e são os principais responsáveis pela disseminação da resistência de cepas bacterianas aos antibióticos. ○ Embora esses elementos móveis possam se mover apenas em células que já os contêm, eles podem ser movidos de uma célula a outra por outros mecanismos coletivamente conhecidos como transferência gênica horizontal. ○ Uma vez introduzido na nova célula pode se inserir no genoma e ser transmitido a toda progênie ○ Repetições invertidas curtas em cada extremidade (servem para a transpoase localizá-lo). ○ Transposição de “corte e colagem”: transpóson de DNA literalmente cortado de um local do genoma e inserido em outro. ■ Essse sistema também é usado pelo sistema imune, catalisando os rearranjos de DNA que produzem a diversidade de anticorpos e receptores de células T. ● Certos vírus são considerados elementos genéticos móveis porque utilizam o mecanismo de transposição para integrar o seu genoma no genoma da célula hospedeira. Porém, ao contrário dos transpósons, esses vírus codificam proteínas que acondicionam sua informação genética em partículas virais capazes de infectar outras células. Atuam como um transpóson de DNA ou como retrotranspósons semelhantes a retrovírus. ● Retrotranspósons semelhantes a retrovírus: ○ Realiza seus movimentos nos cromossomos por um mecanismo similar aos retrovírus. ○ Repetições terminais longas (LTRs, long terminal repeats) e diretas em cada extremidade. ○ Move-se através de um intermediário de RNA cuja produção é dirigida por um promotor na LTR. ○ Não possuem a capacidade intrínseca de sair da célula em que residem. ○ Não possui a capa proteica dos vírus. ● Retrotranspóson não retroviral: versões não mutadas e truncadas de repetições nos cromossomos de vertebrados e outros seres vivos. ○ Apesar de a maior parte desses transpósons no genoma humano ser imóvel, alguns poucos são capazes de movimento. ○ Os retrotranspósons não retrovirais são encontrados em diversos organismos ○ Movem-se por meio de um mecanismo distinto que requer um complexo formado por uma endonuclease e uma transcriptase reversa. ● Os retrotranspósons não retrovirais também são bastante antigos, mas, ao contrário dos outros tipos, alguns ainda estão em movimento no nosso genoma ● Embora estejamos apenas começando a compreender como o movimento dos transpósons contribuiu para a formação dos genomas dos mamíferos atuais, foi proposto que grandes incrementos da atividade de transposição poderiam ser responsáveis pelos eventos decisivos da especiação durante a radiação das linhagens de mamíferos a partir de um ancestral comum, um processo que teve início há aproximadamente 170 milhões de anos. ● Recombinação sítio-específica conservativa: Nessa via, a clivagem e a ligação ocorrem em dois sítios específicos, um em cada molécula de DNA participante do evento. Dependendo da posição e da orientação dos dois sítios de recombinação, pode ocorrer integração, excisão ou inversão do DNA. ○ Enzimas especializadas que clivam e religam as duas hélices de DNA. ○ A recombinação sítio-específica conservativa é geralmente utilizada por vírus de DNA, para moverem (inserir e remover) seus genomas do genoma das células hospedeiras. ○ Diferenças com a transposição: ■ A recombinação sítio-específica conservativa requer sequências de DNA especializadas no DNA doador e no receptor. ■ Sítios de reconhecimento para a recombinase específica que catalisa o rearranjo. ■ As recombinases que catalisam a recombinação sítio-específica conservativa assemelham-se às topoisomerases no sentido de formarem ligações covalentes de alta energia transitórias com o DNA e utilizarem essa energia para completar o rearranjo de DNA. Desse modo, as ligações de fosfato clivadas no evento são regeneradas(conservativo). ■ Muitas bactérias utilizam a recombinação sítio-específica conservativa para controlar a expressão de determinados genes. Invertendo a sequência o produto transcrito é diferente.