Buscar

1 - Inicial Aposentadoria Rural - Clotilde

Prévia do material em texto

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL PREVIDENCIÁRIO DA CIDADE DE JACAREZINHO CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ.
CLOTILDE CYRIACO DE SOUZA PRADO, já cadastrada eletronicamente, por seus advogados ao final firmados, regularmente inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, Secção do Estado do Paraná, com escritório profissional na Rua Benjamin Constant, n.º 1922 – Centro – Siqueira Campos (PR), onde recebe avisos e intimações, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, propor a presente
AÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO COM AVERBAÇÃO DE TEMPO DE SERVIÇO RURAL E CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL EM COMUM
 em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS), pelos fundamentos fáticos e jurídicos que passa a expor:
SÍNTESE FÁTICA
A Requerente, Sra. Clotilde, nascida em 09/10/1967, atualmente contando com a idade de 53 (cinquenta e três) anos, laborou tanto em atividade urbana, quanto em rural. Trabalhou desde tenra idade na atividade lavoureira, juntamente com sua família. No ano de 2002 mudou-se para a cidade em busca de melhores condições de trabalho. A tabela a seguir demonstra, de forma objetiva, as atividades laborativas desenvolvidas:
	FAZENDA BOM JARDIM
09/010/1979 a 30/01/1982
	2 anos, 3 meses, 23 dias.
	FAZENDA MARIMBONDINHO
01/02/1982 a 02/05/1987
	5 anos, 3 meses, 2 dias
	SITIO SÃO FRANCISCO
03/05/1987 a 16/02/2002
	14 anos, 9 meses, 15 dias
	MCZUT INDUSTRIA E COMERCIO DE CONFECCOES LTDA
07/08/2002 a 07/11/2002
	0 anos, 3 meses, 2 dias.
	JAMATA INDUSTRIA E COMERCIO DE CONFECCO
02/01/2003 a 07/02/2003
	0 anos, 1 mes, 7 dias.
	FRANCIELE SHIRLEI TEBON BUENO
02/06/2003 a 31/10/2006
	3 anos, 4 meses, 29 dias.
	FLAVIO ROBERTO BONILHA
18/02/2008 a 21/01/2010
	1 ano, 11 meses, 4 dias.
	RECOLHIMENTO
01/05/2011 a 31/03/2016
	4 anos, 11 meses, 0 dias.
	LAR SAO VICENTE DE PAULO DE SIQUEIRA
26/09/2016 a 27/02/2020
	3 anos, 5 meses, 12 dias
(Especial 25)
	TOTAL DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO ATÉ A DER (27/02/2020)
	37 anos, 0 meses e 9 dias 
	TOTAL DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO ATÉ A EMENDA 103/2019 (12/11/2019)
	36 anos, 8 meses e 24 dias
Ao se mudar para o meio urbano celebrou os seus primeiros contratos de trabalho filiado ao Regime Geral da Previdência Social, com exposição a diversos agentes nocivos à saúde, conforme pode ser verificado através da tabela a seguir:
	Período
	Empresa/ Empregador
	Cargo Desempenhado
	Tempo de contribuição
	26/09/2016 a 27/02/2020 (DER)
	Asilo São Vicente de Paulo de Siqueira Campos - PR
	Cuidadora de Idosos
	3 anos, 5 meses e 2 dias, convertidos em 4 anos, 1 mês, e 6 dias. Acréscimo de 8 meses e 5 dias (fator 1,2).
Exposição a agentes biológicos;
 
Assim sendo, no dia 27 de fevereiro de 2020 o Sra. Clotilde pleiteou, junto a Autarquia Ré, o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição com averbação de período rural e conversão de tempo especial em comum, a qual foi indeferida sob a justificativa de que não foi atingido o tempo mínimo de contribuição. 
Em que pese a requerente tenha manifestado interesse em indenizar o período rural posterior a 31/10/1991, e complementar eventuais contribuições, a autarquia federal veio a indeferir o pleito sem oportunizar tal ato.
A requerente antes mesmo da Emenda Constitucional 103/2019 fazia jus ao benefício pleiteado, deste modo, a decisão indevida do INSS motiva a presente demanda.
	Dados do benefício:
	NB: 196.184.259-5
	Tipo de benefício: Aposentadoria por Tempo de Contribuição.
	DER: 27/02/2020
DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
A aposentadoria por tempo de contribuição encontra-se estabelecida no art. 201, § 7o, I, da Constituição Federal e nos arts. 52 a 56 da Lei 8.213/91.
O fato gerador da aposentadoria em apreço é o tempo de contribuição, o qual, na regra permanente da nova legislação, é de 30 anos para mulheres. Trata-se do período de vínculo previdenciário, sendo também consideradas aquelas situações previstas no art. 55 da Lei 8.213/91. No caso em comento, verifica-se que a Autora possuia na DER, computando o periodo rural, e convertendo o periodo especial, um total de 37 anos, e 9 dias de tempo de contribuição, tornando o requisito preenchido.
Quanto à carência, verifica-se que foram realizadas efetivamente até a DER mais de 180 contribuições, conforme previsto no art. 25, inciso II, da lei 8.213/91. 
Destarte, cumprindo os requisitos exigidos em lei, tempo de serviço e carência, a Autora adquiriu o direito à aposentadoria por tempo de contribuição.
2.1 DA ATIVIDADE RURAL EXERCIDA.
Cinge-se a controvérsia quanto ao período de rural, eis que o conjunto probatório demonstra o efetivo desempenho do labor rurícola pela Sra. Clotilde, ao menos desde os seus 12 anos de idade, em mútua e recíproca colaboração com seus pais, irmãos, e posterimente, conjugue.
Salienta-se a possibilidade de contagem do período de atividade rural como tempo de contribuição para fins previdenciários a partir dos 12 anos de idade. (processo nº 44232.268884/2014-53), acompanhando a jurisprudência pacificada do TRF4, STJ e STF. Veja-se (grifos nossos):
(...) Verifica-se, ainda, que o recorrente completou 12 anos idade em 05/12/1981. Com efeito, a vedação constitucional do trabalho antes de completados 14 (quatorze) anos de idade, tem como objetivo coibir o trabalho infantil, não podendo trazer prejuízo ao trabalhador, no que diz respeito à contagem de tempo de contribuição para fins previdenciários. Todavia, pacificado na jurisprudência, o entendimento segundo o qual o labor para fins previdenciários pode ser computado a partir dos 12 anos de idade. (...)
Por oportuno, destaca-se que a atividade rural desempenhada pela Sr. Clotilde e sua família está em estrita consonância com o conceito de “atividade desenvolvida em regime de economia familiar” constante no § 1 º do art. 11, inciso VII da Lei 8.213/91: 
§ 1o Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes.
O início de prova material anexado, que pode ser corroborado por prova oral, demonstra que a parte Autora possui vocação campesina, dedicando-se, efetivamente, às lides campestres durante o período em questão, nos imóveis rurais supracitados, localizados no município de Salto do Itararé - PR.
As certidões de nascimento, casamento, óbito, declarações, historico escolar, notas, guias de pagamento de impostos em nome da Autora, de seu pai e conjugue, acostadas ao processo administrativo corroboram com todo o alegado, no sentido de que em enquanto não foi empregada no meio urbano permaneceu trabalhando com sua familia. 
A Autarquia Federal em seu parecer denegatório reconhece haver indícios de atividade rurícola, entretanto, de forma contraditória, indefere o benefício sem maiores análises. 
Insta, ainda, registrar que as provas em nome dos pais da Autora são revestidas de veracidade, sendo certo que, por ser humilde e pouco instruída na época o Sra.Clotilde não haveria como apresentar provas em seu nome qualificando-o como trabalhadora rural. Deve, portanto, serem-lhe atribuídas as provas emprestadas em nome de seus familiares pela eficácia dos documentos e de sua materialidade, reputando-se, assim, satisfeita a exigência do § 3º do art. 55 da Lei 8.213/91, que assim dispõe (grifos acrescidos):
Art. 55. O tempo de serviço será comprovado na forma estabelecida no Regulamento, compreendendo, além do correspondente às atividades de qualquer das categorias de segurados de que trata o art. 11 desta Lei, mesmo que anterior à perda da qualidade de segurado:(...)
§ 3º A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta Lei, inclusive mediante justificação administrativa ou judicial, conforme o disposto no art. 108, só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrênciade motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no Regulamento.(...)
Importa salientar que o início de prova material não deve, necessariamente, abranger todo o período de exercício da atividade rural, basta ser contemporâneo ao lapso temporal a ser comprovados, como ocorre no presente caso.
No mais, a de se atentar que, havendo início de prova material irrefutável, deve ser assegurado ao Requerente o direito de processamento de Justificação Administrativa – procedimento mediante o qual poderá ser colhida prova testemunhal do exercício de atividade rural, em regime de economia familiar, pelo Segurado, desde quando completou 12 anos de idade.
A IN 77/2015/INSS/PRES é clara ao permitir a JA para a comprovação de atividade rural, em qualquer categoria:
 Art. 579. Para a comprovação de atividade rural em qualquer categoria, caso os documentos apresentados não sejam suficientes, por si só, para a prova pretendida, mas se constituam como início de prova material, a pedido do interessado, poderá ser processada JA, observando que:
I -  servem como prova material, dentre outros, no que couber, os documentos citados nos arts. 47 e 54;
II - deverá ser observado o ano de expedição, de edição, de emissão ou de assentamento dos documentos referidos no inciso I deste artigo; e
III - os documentos dos incisos I e III a X do artigo 47, quando em nome do próprio requerente dispensam a realização de JA para contagem de tempo rural em benefício urbano e certidão de contagem recíproca.
§ 1º  Tratando-se de comprovação na categoria de segurado especial, o documento existente em nome de um dos componentes do grupo familiar poderá ser utilizado como início de prova material, por qualquer dos integrantes deste grupo, assim entendidos os pais, os cônjuges, companheiros, inclusive os homo afetivos e filhos solteiros ou a estes equiparados.
E, de acordo com a melhor doutrina:
O processamento de JA não será admitido em apenas um caso: para comprovação de fatos que apenas podem ser confirmados por registro público, tais como data de nascimento, casamento (embora para a comprovação de união estável seja admitida), óbito, ou outros, conforme esclarece o art. 574, § 2º, da IN nº 77/2015.
Para todo e qualquer fato, circunstância ou evento, o seu processamento será admitido desde que haja a mínima comprovação material que estabeleça um liame causal entre a pessoa e a situação que se pretenda comprovar. Sempre lembrando que, nas práxis administrativas, a Justificação Administrativa é o último recurso de prova. [...] é possível utilizar esse procedimento para qualquer tipo de fato alegado no processo administrativo que não possua provas suficientes, exceto nos casos de fatos confirmados por registros públicos. (sem grifos no original)
Logo, antes de indeferir o benefício, deveria a Autarquia ter realizado a respectiva JA, para que assim se pudesse comprovar todo o alegado e reforçado início de prova material apresentado.
DO PERIODO RURAL POSTERIOR A 31/10/1991
Sabe-se que reconhecido o período rural pleiteado, o seu aproveitamento até 31/10/1991, independerá de recolhimento das respectivas contribuições previdenciárias, conforme expressamente autoriza o art. 55, §2º, da Lei n.º 8.213/91, e o art. 127, inc. V, do Decreto n.º 3.048/99, e que período posterior a 31/10/1991 ficará condicionado à prévia indenização das contribuições previdenciárias, caso pretenda a parte autora utilizá-lo para fins de incrementação do tempo de contribuição do benefício previdenciário.
Deste modo, frisa-se já que quando do cálculo dos valores a serem indenizados, deverá ser levando em consideração a desnecessidade de indenização de todo o período posterior a 31/10/1991, bastando apenas o pagamento do tempo faltante para a concessão da aposentadoria, sem a incidência de juros e multas no período anterior a 12/10/1996, conforme será exposto a seguir:
É isento de juros e multas as guias indenizatórias referentes aos períodos anteriores a 12/10/1996, conforme o entendimento do TRF-4 no seguinte precedente: (TRF-4, RECURSO CÍVEL: 50045206920154047104 RS 5004520-69.2015.404.7104, Data de julgamento: 19/04/2017, TERCEIRA TURMA RECURSAL DO RS).
O STJ possui sólido entendimento nesta mesma linha, senão vejamos:
PREVIDENCIÁRIO. SEGURADO ESPECIAL. TRABALHADOR RURAL EM REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR. TEMPO DE SERVIÇO RURAL POSTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI Nº 8.213/91. INDENIZAÇÃO. INCIDÊNCIA DE JUROS E MULTA. EMISSÃO DE GUIA DE RECOLHIMENTO. CÔMPUTO COMO CARÊNCIA DO PERÍODO EM GOZO DE AUXÍLIO-DOENÇA. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO / CONTRIBUIÇÃO. REQUISITOS NÃO IMPLEMENTADOS. AVERBAÇÃO DE TEMPO NO RGPS. [...] 4. As disposições do artigo 45-A da Lei n. 8.212/91, introduzidas pela Lei Complementar nº 128/2008, não prejudicam o entendimento jurisprudencial consagrado pelo STJ e por este Tribunal no sentido de que a exigência do pagamento de consectários somente tem lugar quando o período a ser indenizado é posterior à edição da Medida Provisória nº 1.523/1996. [...] Social. 0008525- 07.2014.4.04.9999/RS (STJ - REsp: 1669604 RS 2017/0108362-8, Relator: Ministra REGINA HELENA COSTA, Data da Publicação: DJ 09/03/2018).
DA CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL EM COMUM
Para aqueles trabalhadores que sucessivamente se submeteram a atividades sujeitas ao regime de aposentadoria especial e comum, o § 1º do art. 201 da Constituição Federal estabelece a contagem diferenciada do período de atividade especial.
A conversão do tempo de serviço especial em tempo de serviço comum é feita utilizando-se um fator de conversão, pertinente à relação que existe entre o tempo de serviço especial exigido para gozo de uma aposentadoria especial (15, 20 ou 25 anos) e o tempo de serviço comum. O Decreto 3.048/99 traz a tabela com os multiplicadores:
	 TEMPO A CONVERTER
	MULTIPLICADORES
	
	MULHER (PARA 30)
	HOMEM (PARA 35)
	DE 15 ANOS
	2,00
	2,33
	DE 20 ANOS
	1,50
	1,75
	DE 25 ANOS
	1,20
	1,40
A comprovação da atividade especial até 28 de abril de 1995 era feita com o enquadramento por atividade profissional (situação em que havia presunção de submissão a agentes nocivos) ou por agente nocivo, cuja comprovação demandava preenchimento pela empresa de formulários SB40 ou DSS-8030. Entretanto, para os agentes ruído e o calor, era necessária a comprovação através de laudo pericial.
Todavia, com a nova redação do art. 57 da lei 8.213/91, dada pela lei 9.032/95, passou a ser necessária a comprovação real da exposição aos agentes nocivos, sendo indispensável a apresentação de formulários, independentemente do tipo de agente especial. Além disso, a partir do Decreto nº 2.172/97, que regulamentou as disposições introduzidas no art. 58 da Lei de Benefícios pela Medida Provisória nº 1.523/96 (convertida na Lei nº 9.528/97), passou-se a exigir a apresentação de formulário-padrão, embasado em laudo técnico, ou por meio de perícia técnica. 
	Dessa forma, para fins de comprovação das atividades, segue anexo PPP, referentes aos períodos em que a Requerente postula a conversão. 
DOS PEDIDOS
EM FACE DO EXPOSTO, requer:
1. O deferimento da Gratuidade da Justiça, tendo em vista que a parte Autora não tem recursos financeiros suficientes para custear as despesas do processo;
2. A não realização de audiência de conciliação e mediação prevista no art. 334 do CPC/2015;
3. A produção de todos os meios de provas em direito admitidos, em especial o documental;
4. O deferimento da tutela provisória satisfativa, com a apreciação do pedido de implantação do benefício em sentença;
5. Ao final, julgar procedentes os pedidos formulados na presente ação, condenando o Instituto Nacional do Seguro Social a: 
1. Reconhecer o período rural pleiteado, quanto baste para a concessão do benefício; 
2. Converter pelo fator 1,2 o tempo de serviço especial em comum desenvolvido pela Autora;
3. Conceder a Autora a APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO, com a condenação ao pagamento das prestações em atraso não prescritas a partir da DER, em 27/02/2020, corrigidas na forma da lei, acrescidas de juros de moradesde quando se tornaram devidas as prestações;
4. Subsidiariamente, caso não seja reconhecido tempo de serviço suficiente para a concessão do benefício até a DER, requer o cômputo dos períodos posteriores, e a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição, com a reafirmação da DER à data em que o segurado preencheu os requisitos para a concessão do benefício, ou, subsidiariamente, à data de ajuizamento da ação;
Nesses termos, Pede Deferimento.
Dá à causa o valor[footnoteRef:1] de R$ 19.855,00 (Dezenove mil, oitocentos e cinquenta e cinco reais). [1: Parcelas Vencidas + Parcelas Vincendas] 
Siqueira Campos – PR, 30 de Setembro de 2020.
Rosana Ramos da Silva Peres
OAB/PR 24.792