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Filosofia Lógica e Ética - Prof Sales R H_2017 2 2ª edição Cap01

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Prévia do material em texto

Filoso�a Lógica e Ética
Autores
João Carlos Rodrigues da Silva
Francisco Sales da Cunha Neto
eXPediente
DIREÇÃO GERAL: PROF. ME. CLÁUDIO FERREIRA BASTOS
DIREÇÃO GERAL ADMINISTRATIVA: PROF. DR. RAFAEL RABELO BASTOS
DIREÇÃO DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS: PROF. DR. CLÁUDIO RABELO BASTOS
DIREÇÃO ACADÊMICA: PROF. DR. VALDIR ALVES DE GODOY
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: PROFA. ESP. MARIA ALICE DUARTE GURGEL SOARES
COORDENAÇÃO NEAD: PROFA. ME. LUCIANA RODRIGUES RAMOS DUARTE
Ficha tÉcnica
AUTORIA: JOÃO CARLOS RODRIGUES DA SILVA /
FRANCISCO SALES DA CUNHA NETO
DESIGNER INSTRUCIONAL: JOÃO PAULO S. CORREIA
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: FRANCISCO ERBÍNIO ALVES RODRIGUES /
FRANCISCO CLEUSON DO N. ALVES
CAPA: FRANCISCO ERBÍNIO ALVES RODRIGUES
TRATAMENTO DE IMAGENS: FRANCISCO ERBÍNIO ALVES RODRIGUES / 
FRANCISCO CLEUSON DO N. ALVES 
REVISÃO TÉCNICA: ISMAEL DE OLIVEIRA BRASILEIRO FILHO /
FERNANDA ROCHELLY DO NASCIMENTO MOTA / LEANDRO ARAÚJO CARVALHO 
REVISÃO ORTOGRÁFICA: JOÃO PAULO DE SOUZA CORREIA
REVISÃO METODOLÓGICA: MARLISE APARECIDA DOS SANTOS /
EMANUELLE OLIVEIRA DA FONSECA / JULIANA HILÁRIO MARANHÃO
Ficha cataloGrÁFica
Índice para Catálogo Sistemático
1. Educação Ensino Superior I. Título
FATE : Faculdade Ateneu. Educação superior – graduação e pós-graduação. 1. ed.
Fortaleza, 2017.
 ISBN 978-85-64026-33-9
Para alunos de ensino a distância – EAD.
1. Educação Superior I. Título
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou parcialmente, por 
quaisquer métodos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia fotostática ou outros, sem a autori-
zação escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedidos para tal autorização, especificando a extensão do 
que se deseja reproduzir e o seu objetivo, deverão ser dirigidos à Direção.
Seja bem-vindo!
Prezado estudante, quanta satisfação poder, por meio deste texto, realizar 
um diálogo com você. Aliás, o diálogo já é uma boa iniciativa para o estudo da 
Filosofia porque exige a capacidade de ler, ouvir, refletir, vislumbrar novos conhe-
cimentos, criar e transformar.
Certamente, você traz consigo conhecimentos prévios sobre essa disciplina 
que servirão como base para novas aprendizagens. As reflexões aqui propostas 
poderão ser enriquecidas por outras leituras disponíveis no ambiente virtual de 
aprendizagem - AVA, nas leituras complementares, nas contribuições dos educa-
dores e dos estudantes nos fóruns de participação e em outras fontes que você 
buscará visando aprofundar ideias.
Que possamos constituir, no decorrer dos estudos, uma verdadeira comu-
nidade de conhecimento na qual a aprendizagem aconteça colaborativa e mutua-
mente. Que, por meio desse recurso e no AVA, possamos construir novos saberes.
Bons estudos!
Sumário
UNIDADE 01
FILOSOFIA E HISTÓRIA DA FILOSOFIA ...........................................................................7
1. PARA QUE SERVE A FILOSOFIA? ................................................................................8
1.1. Da consciência mítica ao pensamento filosófico racional ..........................................10
1.2. A Filosofia grega e os principais pensadores: Sócrates, Platão e Aristóteles ............12
1.3. A conduta humana: reflexão acerca do pensamento grego clássico .........................19
2. FILOSOFIA NA HISTÓRIA ............................................................................................21
2.1. Filosofia e Idade Média: fé versus razão ....................................................................22
2.2. Filosofia e Idade Moderna: da queda da Idade Média ao pensamento científico ......27
2.3. Filosofia e Idade Moderna: pensamento político do mundo moderno ........................32
2.4. Filosofia e Idade Contemporânea: o homem e a crise existencial .............................39
Referências .......................................................................................................................49
UNIDADE 02
LÓGICA E QUESTÕES FUNDAMENTAIS DA FILOSOFIA .............................................51
1. COMPREENDENDO A LÓGICA ...................................................................................52
1.1. Termo e proposição ....................................................................................................52
1.2. Princípios da lógica ....................................................................................................55
1.3. Argumentação ............................................................................................................56
1.3.1. Tipos de argumentação ...........................................................................................56
2. Questões fundamentais da Filosofia: contribuição das doutrinas filosóficas ................58
2.1. Epistemologia .............................................................................................................59
2.1.1. René Descartes e o inatismo ..................................................................................61
2.1.2. John Locke e o empirismo .......................................................................................61
2.2. Antropologia ...............................................................................................................62
2.2.1. Concepção essencialista .........................................................................................63
2.2.2. Concepção naturalista .............................................................................................64
2.2.3. Concepção histórico-social ......................................................................................64
2.3. Ontologia ....................................................................................................................65
2.4. Ética ............................................................................................................................67
Referências .......................................................................................................................70
UNIDADE 03
ÉTICA E MORAL ...............................................................................................................71
1. ÉTICA ............................................................................................................................71
2. MORAL ..........................................................................................................................74
3. CONCEPÇÕES ÉTICAS NA HISTÓRIA DA FILOSOFIA .............................................76
4. A CRISE DO COMPORTAMENTO HUMANO NA ATUALIDADE ................................85
Referências .......................................................................................................................91
UNIDADE 04
COMPORTAMENTO PROFISSIONAL .............................................................................93
1. COMPORTAMENTO PROFISSIONAL – 
 ÉTICA NOS ESTUDOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS ..................................94
1.1. Componentes e indicadores da ética empresarial .....................................................98
1.2. Responsabilidade social nas empresas: código de ética e questão moral ..............101
Referências .....................................................................................................................105
Material complementar – Ações de Ressocialização dos 
Reeducandos do Regime Semiaberto ............................................................................106
FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA 7
FilosoFia e histÓria da FilosoFia
Apresentação
A partir de agora, você entrará no mundo da Filosofia, da Lógica e da Ética. 
Neste primeiro momento, discutiremos a importância da Filosofia, que nasceu com 
base no estranhamento e no questionamento. Posteriormente, você estudará o 
caminho da consciência mítica ao pensamento filosófico racional, passeando pelaFilosofia Grega e conhecendo seus principais pensadores - Sócrates, Platão e 
Aristóteles -, bem como a conduta humana, fazendo uma reflexão acerca do pen-
samento grego clássico.
Esse percurso filosófico continuará no decorrer da História: Filosofia e Idade 
Média: Fé versus Razão; Filosofia e Idade Moderna: da queda da Idade Média ao 
pensamento científico; Filosofia e Idade Moderna: pensamento político do mundo 
moderno. Esse primeiro momento da disciplina é concluído com a Filosofia na 
Idade Contemporânea: o homem e a crise existencial.
• Apresentar os fundamentos da Filosofia, compreendendo suas manifestações, natureza e história, 
visando iniciar o estudante na reflexão filosófica;
• Reconhecer as inter-relações entre Filosofia, Ciência e Sociedade;
• Reconhecer as contribuições dos principais filósofos gregos;
• Compreender o percurso do pensamento filosófico no decorrer da história;
• Compreender o desenvolvimento do pensamento humano, da consciência mítica ao pensamento 
filosófico racional.
Objetivos de aprendizagem
Uni
8 FilosoFia, lógica e Ética
1. Para que serve a FilosoFia?
Eis a primeira pergunta que você deve estar se fazendo. Perceba que você 
tem seu estilo de vida, seus objetivos, suas verdades e modos de agir, enfim, você 
tem sua filosofia de vida. Viu só!? Você é um filósofo, tem uma filosofia de vida.
Mas sua filosofia não é a Filosofia (palavra oriunda do grego: filo = amigo e 
sofia = sabedoria, amigo da sabedoria). Sua maneira de ver o mundo talvez não 
seja tão sistemática, profunda, metodológica e reflexiva quanto à maneira daque-
les que dedicaram e dedicam a vida toda a esse trabalho.
Heródoto, historiador que viveu no século V a.C., conta-nos uma primeira 
manifestação da atividade filosófica valendo-se do encontro entre Sólon, legis-
lador de Atenas (VII-VI a.C.) e um dos Sete Sábios, Creso, rei da Lídia. Este se 
dirige a Sólon dizendo que chegaram até seu reino, a Lídia, notícias da sabedoria 
e das viagens de Sólon. E continuou: “não ignoro absolutamente que, por amar a 
sabedoria, percorreste muitos países, por causa de teu desejo de conhecer”. Como 
se percebe, naquele tempo, a Filosofia era representada pelas muitas viagens 
realizadas por Sólon, as quais tinham por objetivo conhecer, adquirir vasta expe-
riência da realidade e dos homens, descobrir países e costumes diferentes. 
Essa experiência poderia fazer daquele que a possuísse um bom juiz das atitudes 
humanas e um homem apto ao convívio social.
Hoje, Filosofia não é mais sinônimo de um homem viajado, e sim a vontade 
de saber por si e em si mesmo, desinteressadamente e dominar tudo o que se 
refere à cultura intelectual. A Filosofia é, então:
[...] um estilo de vida e uma opção que não se situa no momento 
da atividade filosófica, como uma consequência de um caminho de 
conversão. Ao contrário, esta escolha existencial se posiciona logo 
no começo em uma complexa relação e interação entre a crítica a 
outras atitudes existenciais, a visão global do mundo e a própria 
decisão voluntária e responsável. A opção escolhida determina, 
até certo ponto, a doutrina filosófica a ser professada e o modo de 
transmiti-la para os outros (HADOT, 1999).
FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA 9
Mas, ainda assim, um leitor mais atrevido poderá dizer que a Filosofia não 
possui utilidade prática (sempre se quer uma aplicação prática, saber para que 
serve determinada ideia). Poderá, ainda, afirmar que ela é tão inútil quanto o xa-
drez (e os enxadristas irão reclamar, gritar, educadamente), que a Filosofia é muito 
obscura, mas ela é, acima de tudo e antes de tudo, uma interpretação hipotética 
do desconhecido ou do conhecido de forma inexata, mas, ao mesmo tempo, é 
uma reflexão crítica sobre a realidade. 
Refletir é retomar o próprio pensamento, pensar o já pensado, voltar para si mesmo e 
questionar o já conhecido. Aristóteles já dizia que “todas as outras ciências serão mais necessárias 
do que esta, mas nenhuma lhe será superior”.
Fique atento
O filósofo não se contenta em descrever o fato, como o faz o cientista. O 
filósofo quer averiguar a relação do fato com a experiência em geral e, a partir 
disso, chegar ao seu significado e ao seu valor. Ele produz uma síntese interpre-
tativa, tentando remontar aquilo que o cientista desmonta analiticamente. Assim, 
observar e coordenar processos é com a ciência; criticar e coordenar fins é com a 
Filosofia (DURANT, 2000).
A Filosofia abrange cinco campos de estudo: a lógica, a estética, a ética, 
a política e a metafísica. Veja, sinteticamente, cada um deles:
• A lógica consiste no estudo do método ideal de pensamento e pesquisa: ob-
servação e introspecção, dedução e indução, hipótese e experimento, análise 
e síntese. São essas as formas da atividade humana que a lógica procura 
compreender e explicar;
• A estética estuda a forma ideal, a beleza, por isso é considerada a fi losofi a da arte; 
• A ética estuda a conduta ideal, o conhecimento do bem e do mal, do justo e do 
injusto, do certo e do errado, analisa as ações humanas quanto a direitos e a 
deveres, quanto a valores morais e amorais, e até o imoral; 
• A política é o estudo da organização social ideal; a monarquia, a aristocracia, 
a democracia, o socialismo, o anarquismo, o feminismo consistem em seus 
objetos de estudo;
10 FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA
• Por fi m, a metafísica consiste no estudo da realidade máxima de todas as coisas: 
da natureza real e fi nal da matéria, da mente e dos processos de conhecimento, 
ou seja, investiga o que seja a verdade, a existência, o conhecimento, o signi-
fi cado, a causalidade, a necessidade, a liberdade. Em outras palavras, estuda 
o ser enquanto ser, independentemente de suas determinações particulares. 
Estas são as questões principais da metafísica: a essência do ser, do mundo, 
da alma, de Deus (DURANT, 2000).
Como se vê, pode-se afirmar que a ciência proporciona o conhecimento, 
mas só a Filosofia pode dar a sabedoria.
Para os filósofos gregos, quem filosofa tendo o útil como objetivo perde a liberdade, uma 
vez que o desejo de transformar perturba o momento do conhecimento. Dessa maneira, a Filo-
sofia verdadeira, que é o amor desinteressado pelo saber, se submeteria à prática e deixaria 
de ser Filosofia.
Fique atento
1.1. Da consciência mítica ao pensamento filosófico racional
O homem da caverna, certamente, deparava-se com uma realidade des-
conhecida e desconcertante. Misteriosa, enfim. Sua razão inicial, talvez embrio-
nária, exigia que ele explicasse os fenômenos que testemunhava: o sol aparecia 
e desaparecia; a lua também; chovia, trovejava e relampejava; havia enchentes e 
secas; árvores, pássaros e insetos nasciam, cresciam e morriam; os seus parentes 
também nasciam, cresciam e morriam. Enfim, toda essa misteriosa ordem natural 
e social merecia e exigia uma explicação. Que explicação seria essa?
A primeira explicação que os homens primitivos encontraram para explicar 
a realidade foi o pensamento mítico. E o que vem ser o pensamento mítico? Tra-
ta-se de uma forma de explicar e compreender a realidade natural e social sem 
esquematização nem princípios abstratos, ou seja, é uma intuição compreensiva 
da realidade. Por meio de mitos, o homem primitivo aquietava, de certa forma, 
sua mente diante do desconhecido, que, às vezes, lhe parecia aterrorizante. Com 
as narrativas míticas, os primeiros homens explicavam o mundo utilizando uma 
FilosoFia, lógica e Ética 11
linguagem constituída de elementos do mundo real com elementos concretos: 
uma árvore, o sol, a lua, a água, um peixe, dentre outros. Nunca se utilizavam de 
leis, princípios, causas ou generalizações (TELES, 1986).
Para você se situar no tempo, é importante destacar que o pensamento mí-
tico teve sua expansão no período Neolítico, há cerca de quinze mil anos e pre-
valeceu até o aparecimento da Filosofia, no século VII a.C. De acordo com Teles:
[...] o conjunto do saber adquirido pelo pensar mítico, neste longo 
período, forma o que a Antropologia chama de Ciênciado Concre-
to. Entenda-se por esta expressão aquela sistematização e elabo-
ração da realidade feita pelos mitos. Sua metodologia consistia em 
explicar os fatos e a realidade, quer natural quer cultural, por meio 
de outros fatos e realidades sensíveis do meio. Era uma “metodolo-
gia” ou modo de agir da mente (TELES, 1986, p. 13).
O mito, portanto, não consiste em um tipo de conhecimento que busca a 
verdade objetiva da realidade concreta, das coisas e dos fatos. Ainda de acordo 
com Teles (1986), não procura seus princípios e suas causas (esse tipo de atitude 
diante da realidade só apareceria muitos séculos mais tarde). Assim, o conhe-
cimento mítico era muito limitado por não apresentar generalizações, por não 
permitir deduções, raciocínio, cálculo. O poeta grego Hesíodo, por exemplo, em 
sua obra Teogonia, apresentou os diversos mitos gregos antigos, ou seja, tratou da 
crença dos gregos antigos nos mitos, daí a famosa mitologia grega, que explica, 
à sua maneira, as origens dos deuses e do mundo, em que as forças emergentes 
da natureza vão se transformando nas próprias divindades à medida que surgem 
do caos: a Terra é chamada de Gaia; o Céu, Urano; o Mar, Pontos. 
Esses seres nascem, às vezes, por segregação (Gaia se separa de Urano); 
outras pela intervenção de Eros (o Amor), princípio divino que aproxima os opostos 
(Urano fecunda Gaia, de quem nascem outros deuses, como Cronos, o Tempo, 
que devora seus filhos, dentre eles escapa Zeus, que passa a ser o Senhor do 
Olimpo) (ARANHA; MARTINS, 2009).
12 FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA
A consciência mítica é, tanto quanto a consciência filosófica, uma maneira de organizar 
um conhecimento sobre a realidade” (Georges Gusdorf).
Mito é um conjunto fechado de conhecimento capaz de ordenar e dar significação a 
realidades da natureza, do mundo, as quais eram mistérios para o homem primitivo.
Fique atento
Depois desse longo estágio mítico, veio o pensamento racional-científico. 
Ciência é descrição analítica, quer decompor o todo em partes, o organismo 
em órgãos, o obscuro em conhecido, utilizando-se de um método. A ciência não 
procura estudar os valores e as possibilidades ideais de seu objeto de estudo, nem 
o seu significado total e final, contenta-se em mostrar a sua realidade e a sua ope-
ração atuais, reduz o foco de observação e análise, concentrando-se no processo, 
procura ser imparcial (DURANT, 2000).
@
CO
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CT
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• Anote suas ideias e dúvidas para ampliar sua discussão na sala virtual, no fórum tutori@conectada.
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1.2. A Filosofia grega e os principais pensadores:
 Sócrates, Platão e Aristóteles
No período da Grécia clássica, Filosofia, educação, Antropologia e polí-
tica coincidem. Os gregos consideravam sua cultura tão superior às outras que 
chamavam de bárbaros aqueles que não eram helênicos (Hélade = Grécia, daí o 
FilosoFia, lógica e Ética 13
adjetivo helênico se referir aos gregos). O esforço intelectual dos gregos girava 
principalmente em torno da compreensão do que era o mundo, chamado por 
eles de Cosmos. E só poderiam, segundo eles, chegar a tal conhecimento por 
intermédio da razão.
Os primeiros filósofos propriamente ditos e ora reconhecidos como tal vi-
veram nos séculos VII e VI a.C. Depois, receberiam o nome de filósofos pré-so-
cráticos, pois, com Sócrates, houve a primeira grande divisão dos estudos filo-
sóficos. Desses filósofos não há muitos registros escritos. A maior parte de suas 
ideias sobreviveu citada em obras de outros autores que viveram posteriormente. 
Dentre os primeiros filósofos, merecem destaque os nomes de Tales de Mileto, 
Anaximandro, Anaxímenes, Parmênides de Eleia, Heráclito de Éfeso, Pitágoras, 
Empédocles, Anaxágoras, Leucipo e Demócrito (estes dois últimos foram atomis-
tas, pois consideravam que o elemento essencial da vida era uma minúscula partí-
cula indivisível, o átomo). Com eles e com os próximos filósofos, houve a ruptura 
entre mito e filosofia: o mito é a narrativa que não se questiona e a filosofia, por 
sua vez, problematiza, convida à discussão, sendo, portanto, pensamento abstrato. 
Mas por que Sócrates é considerado um marco divisor da Filosofia, se ele 
nada deixou escrito, e o que dele se sabe chegou por intermédio dos diálogos de 
Platão, seu discípulo, e dos relatos de Xenofonte e de outros comentaristas? Qual 
seria, então, a verdadeira identidade de Sócrates? Sobre ele é sabido que:
[...] viveu em Atenas no século V a.C. Dizem que era um homem 
feio, mas quando falava, exercia estranho fascínio. Procurado pelos 
jovens, passava horas discutindo na praça pública. Interpelava os 
transeuntes, dizendo-se ignorante, e fazia perguntas aos que julga-
vam entender determinado assunto. Ao final, o interlocutor concluía 
não haver saída senão reconhecer a própria ignorância. Dessa ma-
neira, Sócrates conseguiu alguns discípulos mas também rancoro-
sos inimigos. Essa primeira parte do seu método, conhecida como 
ironia, consiste em destruir a ilusão do conhecimento. A ela se se-
gue a maiêutica, centrada na investigação sobre os conceitos. O in-
teressante, nesse método, é que nem sempre as discussões levam, 
de fato, a uma conclusão efetiva (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 21).
14 FilosoFia, lógica e Ética
Como se vê, o método de Sócrates consistia em fazer perguntas para 
o interlocutor e analisar as respostas sucessivamente até chegar à verdade 
ou à contradição do que fora dito. Esse método era chamado de maiêutica, 
que significa parto das ideias. A grande inovação desse método era a mudança 
que trazia em relação ao ponto de partida da análise. Geralmente, as pessoas 
começam a pensar a partir do que conhecem, mas Sócrates começava pelo 
que não conhecia, ou seja, pela ignorância. Era como se fosse um trabalho de 
investigação de detetive intelectual. O investigador começa pelo que não sabe: 
“Quem assassinou?”. A partir desse momento, usa o que sabe para ter acesso 
ao que não sabe. Surge dessa situação a famosa afirmação: “só sei que nada 
sei”. Por isso é que se diz que o verdadeiro sábio é aquele que reconhece suas 
limitações, sua ignorância (=não saber) e busca caminhos para superá-la.
Figura 01: Sócrates, um dos maiores filósofos gregos.
Fonte: http://goo.gl/1yliW9.
Sócrates tinha muitos discípulos entre os jovens atenienses de então, 
inclusive os pertencentes à alta classe de seu tempo, a aristocracia. Em uma 
época de crise, em lugar de ir para os bosques sagrados venerar os deuses e 
pedir ajuda a eles, encaminhava-os para a discussão de qual seria o melhor ca-
minho para a sociedade e para o futuro da pólis e de cada um. Por conta disso, 
foi acusado de corromper a juventude e de ateísmo; então, condenado à morte 
por envenenamento por cicuta (TELES, 1986).
FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA 15
A pólis foi uma forma de organização social e política desenvolvida entre os séculos 
VIII e VI a.C. Nela, os cidadãos livres dirigiam os destinos da cidade. Como criação dos cidadãos 
e não dos deuses, a pólis estava organizada e podia ser explicada de forma racional, de acordo 
com a razão.
A prática constante da discussão política em praça pública pelos cidadãos fez com que, 
com o tempo, o raciocínio bem formulado e convincente se tornasse o modo adotado para se 
pensar sobre todas as coisas, não só as questões políticas.
Fique atento
Um dos discípulos de Sócrates chamava-se Platão. Este pertencia à alta 
aristocracia ateniense e, durante sua vida, viajou bastantepelo mundo conhecido 
de então. Platão dedicou grande parte de seus estudos à política. Suas ideias a 
esse respeito estão expostas principalmente no livro República. Para ele, a política 
deve visar ao bem comum, e o cidadão encarregado de governar a pólis (= a 
cidade) deveria ser preparado desde a infância para isso, a fim de se tornar um 
rei-filósofo, por volta dos 50 anos de idade, quando, então, estaria em condições 
de bem governar. 
Fonte: http://goo.gl/LmW8kr
Figura 02: Platão, discípulo de Sócrates.
16 FilosoFia, lógica e Ética
Platão defende uma sociedade hierárquica ascendente dividida em 
operários, soldados e guardiões, artesãos e encarregados do Governo. A essa 
última classe as outras devem servir e proteger. O filósofo compara as classes 
principais ao corpo humano: os governantes seriam a cabeça; os soldados, o 
peito; os trabalhadores em geral, o baixo ventre. Pode-se perceber que Platão 
não defendia a tão famosa democracia ateniense e culpava-a pela derrota de 
Atenas frente à Esparta.
Outra contribuição importante de Platão foi a chamada teoria dos dois 
mundos: o mundo que vemos e em que vivemos versus o mundo das ideias. O 
filósofo parte do princípio de que este mundo em que vivemos e as coisas e os 
fatos que percebemos não correspondem à realidade. Tudo que há neste mundo 
é aparência, reflexo, cópia, sombra da verdadeira realidade, a qual reside de fato 
em outro mundo: o mundo das ideias. Nesse mundo, residiriam as ideias eter-
nas, imóveis, verdadeiras e absolutas. Enquanto que em nosso mundo conhe-
cemos as coisas como se estivéssemos distraídos; já no outro mundo, temos a 
contemplação ou a visão das ideias eternas. Assim, existem tantas ideias quanto 
são as classes das coisas. Por exemplo, há só uma ideia de cadeira, e todas as 
cadeiras concretas são como se fossem cópias daquela cadeira eterna e imutá-
vel que habita o mundo das ideias. Por isso, para Platão, conhecer consistia em 
recordar o que o espírito aprendeu em suas diversas vidas no mundo das ideias 
e mantinha oculto.
A fim de explicar isso, Platão usa a famosa alegoria da caverna: nosso co-
nhecimento assemelha-se ao de pessoas que estão acorrentadas dentro de uma 
caverna, de costas para a entrada; muito distante delas, há uma fogueira que pro-
jeta as sombras do que se passa entre a fogueira e as costas das pessoas; ou seja, 
as pessoas só percebem as sombras projetadas na parede no fundo da caverna e 
pensam que essas sombras são a realidade.
FilosoFia, lógica e Ética 17
Figura 03: Mito da caverna, de Platão.
Fonte: http://goo.gl/ul4lHW.
Após Platão, outro filósofo grego viria mudar radicalmente a maneira de 
pensar do Ocidente. Chamava-se Aristóteles. Sem dúvida, foi o pensador que 
mais influenciou o pensamento medieval europeu. Seu pai era médico da corte 
macedônica e, aos 18 anos, foi enviado para Atenas, onde se tornou discípu-
lo de Platão. Algum tempo depois, foi nomeado preceptor do jovem Alexandre 
Magno, até que este completou 16 anos e partiu para seus anos de guerras, 
conquistas e glórias.
Figura 04: Aristóteles, filósofo grego.
Fonte: http://goo.gl/jhVndJ.
Aristóteles fundou sua própria Academia, que chamou de Liceu, para 
onde acorreram muitos discípulos. Ele e seus discípulos organizaram, então, no 
decorrer dos anos, uma quantidade imensa de dados de observação e de livros 
que abrangiam quase todos os campos de estudo, os quais deram origem às 
mais diversas disciplinas e ciências até hoje estudadas, tais como a Anatomia, 
a Botânica, a Zoologia, a Física entre outras.
18 FilosoFia, lógica e Ética
Aristóteles criticava as teses de Platão afirmando que este reduzira a noção 
de ideia ou o universal a uma situação de coisa ou objeto. Para Aristóteles, 
porém, o universal está nas coisas ou nos objetos singulares. A ideia de cadeira 
se realiza em cada cadeira, sem ser necessária a existência independente dessa 
ideia, conforme Platão defendia.
O universal aristotélico era chamado de matéria-prima, também chama-
da de substância.
Quando se constrói, se produz ou se aplica uma forma à matéria-
-prima ou substância, ela se transforma num objeto ou ser singular. 
Vejamos um exemplo. Quando a forma “cadeira”, “livro” etc. é apli-
cada à “matéria-prima” madeira, plástico ou papel, temos uma ca-
deira particular ou um livro. Um indivíduo, enquanto ser singular, é 
composto de “matéria-prima” ou “substância”, que é algo universal, 
e de “forma”, que o particulariza. [...] o mundo, então, é composto 
destas “formas materializadas”, ou substâncias simplesmente, e de 
seus acidentes (as qualidades ou propriedades das mesmas). As-
sim, as substâncias seriam os suportes para as qualidades, isto é, 
os suportes para as cores, o peso, o som, o gosto. As propriedades 
não podem subsistir sozinhas. A cor, por exemplo: há que haver 
uma coisa colorida, pois do contrário não há cor. Só percebemos, 
diretamente, os acidentes. As substâncias são apenas percebidas 
através de suas qualidades. Além disso, as substâncias ou coisas, 
com respeito às mudanças, estão em ato (realidades) ou em potên-
cia (em vias de transformar-se em outra coisa). Por exemplo, uma 
semente, em ato, é uma semente, mas, em potência, pode ser uma 
árvore (TELES, 1986, p. 36).
Além dessa tese sobre a composição do mundo, Aristóteles é considera-
do o criador (ou sistematizador) da Lógica, que foi objeto do seu tratado denomi-
nado Organon. Nessa obra, além de analisar as características da argumentação, 
o filósofo cria o famoso raciocínio silogismo: todos os seres vivos são mortais. 
O homem é um ser vivo. Logo, todo homem morre.
FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA 19
Aristóteles também se preocupou com a política, enquanto arte de gover-
nar e organização da sociedade. Para ele, há três formas puras de governar a 
pólis: a monarquia (governo de um só), a aristocracia (governo dos melhores) e 
a democracia (governo de muitos cidadãos). Essas formas somente serão válidas 
e justas se buscarem o verdadeiro sentido de organização do cidadão, a fim de que 
as necessidades básicas (alimentação, trabalho, família, educação) sejam coloca-
das no plano do convívio humano visando sempre o bem comum, o bem de todos.
Diferentemente de Platão, Aristóteles escrevia em forma dissertativa, ou 
seja, não usava o diálogo fictício entre dois sábios para expor suas ideias.
Utilizando-se da técnica do diálogo entre Sócrates e Glauco, o filósofo Platão, no Livro 
VII de A República, apresenta-nos o famoso trecho em que expõe a alegoria da caverna. Veja o 
início do famoso diálogo em que Sócrates serve de porta-voz da ideias de Platão no seguinte link: 
<http://goo.gl/0NUiYA>.
Link da Web
1.3. A conduta humana: reflexão acerca
 do pensamento grego clássico
O pensamento grego clássico, representado por cerca de uma dezena de 
filósofos (nem todos exatamente gregos de nascimento), até hoje exerce influên-
cia no mundo ocidental, principalmente as reflexões oriundas das mentes brilhan-
tes da tríade Sócrates, Platão e Aristóteles. Veja algumas ideias que até hoje são 
perenes e que envolvem tanto a Filosofia quanto as ciências de modo geral, com 
base em Teles (1986).
Pitágoras, aquele do teorema de Pitágoras (a2 + b2 = c2), além de nos legar 
obviamente os estudos matemáticos, foi um dos primeiros a sistematizar o co-
nhecimento religioso, uma vez que sistematizou a religião órfica, criando um 
movimento que corresponde hoje à religião denominada por espiritismo, pois ele 
diz que “tudo o que nasce torna a nascer nas revoluções de um determinado ciclo, 
até se libertar efetivamente da roda dos nascimentos”. 
20 FilosoFia, lógica e Ética
Demócrito de Abdera defendia que tudo que existe é composto por 
átomos, os quais são indivisíveis, tanto pelo tamanho quanto pelas proprieda-
des. Como se vê, Demócrito chegou bem perto da moderna ciência atômica. 
Mas ele ia além. Dizia que a própria alma era constituída de átomos. A tarefa 
do filósofo, para ele, era abstrair de todas as coisas as aparências do mundo 
e saber encontrara verdade, esse era o movimento infinito dos átomos for-
mando todas as coisas e suas qualidades: cor, cheiro, peso, som, beleza, vida 
etc. essas qualidades nada mais são que movimentos e diferentes modos de 
agregação dos átomos.
Heráclito de Éfeso (Éfeso era uma cidade comercial na Ásia Menor ou 
Jônia) era conhecido como o filósofo do humor negro. Segundo Heráclito, o 
devir, que são as contínuas mudanças, constitui a lei fundamental do univer-
so. A constante mudança, a transformação de todas as coisas – inclusive o 
ciclo vital nascer, crescer, declinar e morrer – é a lei mais geral do universo. 
Tudo segue seu curso, coisa alguma é estável. Dizia o filósofo: “nunca nos 
banhamos duas vezes nas mesmas águas do mesmo rio. Tudo flui e nada fica 
como é”. As ideias filosóficas de Heráclito, que persistem até hoje, podem 
assim ser resumidas: 
• Não existem coisas e sim processos que se desenrolam, principiam, têm seu 
ponto máximo e morrem; 
• As coisas estão em movimento, nada é estável nem parado; 
• Todo o movimento leva a seu contrário: se é vida, leva à morte; se é morte, pode 
levar à outra forma de vida.
Zenão de Cítio foi o fundador e o difusor do estoicismo. Essa corrente 
filosófica não tem interesse em teorizar sobre o mundo exterior, mas a respeito 
do eu interior. Os estoicos acreditavam que havia uma lei universal, superior a 
tudo, e os homens deveriam segui-la. Assim, os deveres e as obrigações devem 
ficar acima de tudo e os homens devem procurar seguir a lei, de acordo com a 
apatheia, isto é, a indiferença diante do inevitável, o que lembra um pouco o fata-
lismo. O estoicismo ganhou seguidores entre os pensadores romanos e exerceu 
influência no cristianismo, uma vez que ambos defendem que o ser humano 
deve aguentar bravamente, sem reclamar, se for o caso, o sofrimento. Aliás, o 
cristianismo incorporou também, aprimorando-as, as ideias de Platão sobre os dois 
mundos: este e o outro mundo.
FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA 21
Outras ideias oriundas da Filosofia grega que até hoje são seguidas têm a ver 
com o epicurismo. Recebeu esse nome porque Epicuro foi o filósofo que o conce-
beu. Para os epicuristas, a razão de viver seria o prazer, uma vez que a natureza 
faz todos os organismos preferirem seu próprio bem ao bem dos outros. Ele defendia 
que não devemos evitar os prazeres e sim escolhê-los, selecioná-los a fim de obter-
mos o melhor. O prazer, entretanto, não deve trazer prejuízo, deve ser um prazer in-
teligente. O essencial, segundo os epicuristas, é viver e aproveitar o melhor possível 
cada momento da vida, sem preocupação de qualquer espécie. O prazer máximo é, 
então, a tranquilidade, a paz de espírito e a harmonia consigo próprio.
A escola cínica, por outro lado, criticava as posições epicuristas e estoicas, 
considerando-as incompatíveis e excludentes, então assumia uma atitude negati-
va em relação ao conhecimento e à vida. O fundador da escola cínica foi Diógenes.
Como você pode perceber, muitas das ideias dos filósofos gregos perma-
necem vivas nos dias de hoje, mesmo após mais de dois mil anos. É que, justiça 
seja feita, tais ideias são bem fundamentadas e ajustadas a uma correta reflexão 
crítica sobre a realidade.
Você deve ter percebido que os nomes dos filósofos, geralmente, se faziam acompanhar 
do nome da cidade onde nasceram. Em suas cidades de origem, estimulavam seus discípulos 
a desenvolver o pensamento com autonomia por meio da discussão, da argumentação e da 
proposição de ideias próprias. Para isso, incentivam o uso permanente da razão ao invés das 
explicações de cunho mítico.
Fique atento
2. FilosoFia na histÓria
A Filosofia tem sua origem na antiguidade grega e se desenvolve no de-
correr da história procurando dar conta de todas as questões que surgiram em 
cada período. Na Idade Média, por exemplo, a Filosofia dialogará com a Teolo-
gia, dando a esta bases racionais. Na modernidade, a Filosofia se distancia de 
questões que giravam em torno da fé e traz o ser humano e as suas ações para 
o centro das reflexões, além disso, dá subsídios para as primeiras produções de 
22 FilosoFia, lógica e Ética
caráter científico, apoiando o surgimento da ciência. A Filosofia contemporânea 
lida com questões existenciais ligadas especialmente aos contextos de desen-
volvimento das tecnologias, da ciência e dos grandes conflitos humanos, especial-
mente das duas grandes guerras mundiais.
2.1. Filosofia e Idade Média: fé versus razão
A Idade Média é comumente associada a um período de trevas, de igno-
rância, de estagnação do conhecimento humano, tanto é que o adjetivo medieval 
ganhou um significado pejorativo. Afirmar que “alguém teve uma atitude ou um 
pensamento medieval” é ofensivo. Mas não é bem isso. O período histórico que 
se conhece por Idade Média abrange cerca de um milênio (do século V ao XV), 
período que vai do fim do Império Romano (ou do que restava dele) até o Renas-
cimento, cujo nome já denota que o período anterior tinha sido uma espécie de 
morte. Nesse período, a Igreja Católica consolidou sua força espiritual e políti-
ca, influenciando todo o mundo europeu de então e até mais onde seus religiosos 
pudessem ir. Silva alerta que:
[...] se é verdade que a Idade Média representou certo momento de 
trevas, dada às invasões, epidemias como a “peste negra”, guer-
ras intermináveis, conquistas de terras, lutas e domínio do Império 
Romano, é verdade também que houve, indiscutivelmente nesse 
período, um florescimento cultural muito grande, importantíssimo à 
construção da cultura ocidental. Portanto, se desejarmos conhecer 
criteriosamente o que representou a Idade Média em termos de 
produção intelectual e herança acadêmica, é importante abando-
narmos essa imagem distorcida, enviesada, falseada que nos foi 
passada nos primeiros anos de nossa formação e embarcar em 
um universo denso, porém, instigante do estudo e da pesquisa, da 
leitura rigorosa dos grandes intelectuais desse tempo (2009, p. 2). 
Os grandes intelectuais daquele tempo dos quais fala o autor são basica-
mente dois: Agostinho e Tomás de Aquino. Naquele período, o cristianismo 
foi alçado à condição de religião oficial do decadente Império Romano, sob o 
governo de Constantino, que buscava apoio na florescente religião do povo. A esse 
respeito, Silva observa que:
FilosoFia, lógica e Ética 23
[...] de religião proibida, o cristianismo passou a ser a religião oficial 
do império. As primeiras testemunhas do cristianismo, homens sim-
ples, camponeses, pobres, estropiados de toda sorte, foram sucedi-
dos pelos doutos da época. Uma mudança radical foi empreendida 
nos dogmas dessa fé. Das reuniões clandestinas nas catacumbas, 
o culto cristão ascendeu para grandes e ricos templos nas praças 
públicas. De religião dos simples passou-se à religião dos conhece-
dores das leis. A fé cristã se tornou instrumento de prestígio e domi-
nação, apropriada pelos intelectuais da época (SILVA, 2009, p. 3).
A patrística, filosofia que deu sustentação à nascente e crescente religião 
católica, teve Agostinho como principal nome. Ele fez uma releitura da dicotomia 
de Platão – mundo sensível e mundo das ideias – substituindo o mundo das 
ideias pelo mundo divino e das ideias divinas. Segundo Agostinho, os homens 
recebem de Deus o conhecimento das verdades eternas. Como se fosse o Sol, 
Deus ilumina a razão e faculta o correto pensar. A patrística, então, estabelecia a 
ortodoxia e “era importante que ela fosse convincente, que apresentasse coerên-
cia, lógica, resultado de raciocínios bem elaborados, demonstrações bem constru-
ídas, do ponto de vista da argumentação, para que pudesse convencer” (SILVA, 
2009, p. 5), não somente mas também os próprios cristãos.
Figura 05: Agostinho de Hipona, pai da patrística.
Fonte: http://goo.gl/XkpIvh.
Silva esclarece ainda que, para Agostinho:
[...] a felicidade se realiza plenamente na ascensão do espírito à vida 
contemplativa, ao encontro de Deus. Contemplar no sentido platônico, 
elevar-se ao plano das ideias, do imutável,do imaterial, à aquilo que diz 
24 FilosoFia, lógica e Ética
respeito ao mundo do espírito. Para Santo Agostinho, essa elevação 
só é possível por um exercício de busca interior, um trabalho intelectual 
profundo e solitário no sentido de encontrar o Mestre interior, o Cristo 
que habita em cada um dos homens e que os faz compreender a essên-
cia de todas as coisas. Portanto, a compreensão da realidade espiritual, 
exige o uso sensato e reflexivo da inteligência e da razão (2009, p. 5).
Eis aqui, portanto, a tentativa cristã de reunir dois polos antagônicos à pri-
meira vista: a fé e a razão. Para Agostinho, a fim de atingir o nível maior de exis-
tência, é preciso crer, mas:
[...] para crer, é necessário entender, de modo que a fé pressupõe a 
razão e se mantém nela. Para ele, fé e razão convivem de forma har-
mônica numa estreita colaboração. É o que observa Zilles (1996, p. 
40, apud SILVA, 2009, p. 5), quando diz que, para Santo Agostinho, 
a inteligência prepara a fé; depois, a fé dirige e ilumina a inteligência. 
Finalmente, a fé, iluminada pela inteligência, conduz ao amor. Desta 
forma, vai do entendimento para a fé e da fé para o entendimento e 
de ambos para o amor. Nessa perspectiva, a relação entre fé e razão 
é intrínseca e endógena. A existência de uma se realiza na existência 
da outra, numa relação recíproca, de modo que, pela fé atingimos a 
razão e pela razão iluminamos a fé. Assim, é necessário crer como 
primeiro passo para o entendimento [...] (SILVA, 2009, p. 5-6).
O outro filósofo-doutor da Igreja foi Tomás de Aquino. Ele nasceu no Cas-
telo de Rocasseca, próximo à cidade de Aquino, daí o sobrenome. Fez seus es-
tudos em mosteiros da ordem Beneditina e ali iniciou seu apostolado eclesiástico. 
Intensamente estudioso e disciplinado, o que era natural para um 
discípulo beneditino, Tomás de Aquino se inquietou profundamente 
com o debate intelectual de seu tempo. As discussões que emer-
giam nesse momento, contrapunham o conhecimento pela fé e pela 
razão, liberdade racional e desconfiança dogmática, Teologia e 
Filosofia, crença na revelação bíblica e investigações dos filósofos 
gregos (SILVA, 2009, p. 7).
FilosoFia, lógica e Ética 25
Figura 06: Tomás de Aquino.
Fonte: http://goo.gl/TaVzOC.
Tomás de Aquino baseou-se principalmente nas obras de Aristóteles e no 
conhecimento formulado pela tradição neoplatônica cristã de Plotino, também 
sistematizada anteriormente por Agostinho. A partir desse conhecimento, Tomás 
de Aquino “reinterpreta a filosofia de Aristóteles pelo viés da doutrina cristã, no 
sentido de conciliar criticamente a fé e a razão, a fim de ascender ao conheci-
mento de Deus” (SILVA, id. ib.). Tomás de Aquino raciocina, seguindo Aristóteles, 
da seguinte maneira:
[...] a existência de Deus é provada, segundo o filósofo, partindo do 
princípio de que se todo efeito provém de uma causa e uma causa 
não pode causar a si mesmo, a causa primeira de todas as coisas 
é o supremo bem, que é Deus. Uma primeira causa não causa-
da, causa sui, causa de si mesmo, que é ao mesmo tempo causa 
primária e causa final. Motor imóvel que governa o mundo, causa 
eficiente, ente ao máximo, verdade suprema (SILVA, 2009, p. 7-8).
De acordo com Tomás de Aquino, apenas por intermédio da razão e do 
juízo reto é que se pode alcançar a fé como condição essencial ao encontro da 
verdade revelada. Por intermédio da razão, encontrou as bases para fundamentar 
a fé católica e provar a existência de Deus. Nas palavras do filósofo (apud SILVA, 
26 FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA
2009, p. 7): a fim de que a inteligência humana adquira perfeitamente a verdade 
da fé, são exigidas duas condições. “Uma, compreender bem o objeto proposto, o 
que compete ao dom da inteligência, como foi dito. Outra, ter juízo certo e reto do 
objeto proposto, discernindo o que deve ou não deve crer”.
Ainda nas palavras de Silva:
[...] a questão da razão como guia de orientação e entendimento da 
fé é marcante na obra de Tomás de Aquino. Sua leitura e reorien-
tação dos conceitos Aristotélicos para a fé cristã foi extremamente 
valorosa sob pelo menos três aspectos: i. permitiu a divulgação 
dos conceitos filosóficos de Aristóteles que que foram, durante 
alguns séculos, censurados pela Igreja Católica; ii. cumpriu com 
seu objetivo de esclarecer a fé cristã pelo entendimento racional, 
usando a lógica e o silogismo e iii. enriqueceu qualitativamente a 
produção intelectual da Idade Média, nos possibilitando conhecer 
o trabalho acurado de seu pensamento instigante, que alimenta o 
trabalho de reflexão e engrandece a humanidade como um todo 
(SILVA, 2009, p. 8).
Perceba, portanto, que a Idade Média não foi um período de trevas e de 
império cego da fé sobre a razão. É bem verdade que muitos dogmas nasceram 
e cresceram nesse período, mas a leitura dos dois filósofos-religiosos cristãos, 
depois santificados (Santo Agostinho e São Tomás de Aquino), permite que você 
compreenda que ambos reconhecem e divulgam, no seio da igreja, a razão como 
uma espécie de farol que torna possível compreender plenamente Deus. É, em 
última análise, a razão a serviço da fé. 
As obras de Santo Agostinho exerceram forte influência nos primeiros séculos do cris-
tianismo e na Filosofia ocidental desse período, tornando-o um dos mais relevantes pensadores 
da Igreja católica.
Também São Tomás de Aquino deixou vasta produção. Assim como Agostinho, em seus 
estudos, procurou dar base racional à Teologia. Fundou escolas superiores e foi professor. São 
deles os princípios a serem estimulados junto aos estudantes no sentido de favorecer uma educação 
autêntica: impedir que o tédio gere aversão ao desejo de aprender e estimular a aprendizagem por 
meio da capacidade de admirar e indagar.
Fique atento
FilosoFia, lógica e Ética 27
2.2. Filosofia e Idade Moderna: da queda da 
 Idade Média ao pensamento científico
A mudança de paradigma consistiu na passagem do pensamento mar-
cadamente religioso e dogmático para o pensamento científico, o qual é uma 
forma de conhecimento relativamente recente, uma vez que surgiu no início do 
século XVII. Naquela época, Galileu foi o primeiro a estabelecer novos métodos 
investigativos em duas ciências um pouco novatas: a Astronomia e a Física. 
Posteriormente, outras ciências trataram de aprimorar seus métodos, o que levou 
a uma grande repercussão tecnológica. O nascente saber ampliou a capacidade 
do homem de agir sobre a natureza e transformá-la.
Figura 07: Galieu Galilei.
Fonte: http://goo.gl/8ZJK0B.
É claro que, antes da revolução científica, as muitas civilizações humanas 
já dominavam inúmeras técnicas que não se utilizavam, obviamente, do método 
científico, mas exigiam boa dose de conhecimento. Dentre essas técnicas, desta-
camos: o domínio das curvas de nível, da construção de grandes e complexas 
construções, tais como palácios e aquedutos. Destaque-se também a fundição de 
peças de bronze e do aço e o domínio de técnicas de ourivesaria. 
28 FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA
É importante que você perceba que todas essas atividades eram conhecimentos sis-
tematizados, mesmo apoiadas mais no senso comum, no uso da imaginação e da razão, nas 
tentativas (ensaio e erro), outras vezes com base na dedução ou na indução, por isso, é preciso 
valorizar o refinamento dos saberes antigos, os quais eram capazes de produzir maravilhas.
Memorize
A essa altura, você deve estar se perguntando: o que mudou, realmente, 
a partir do século XVII? O que mudou foi o modo, a metodologia, de se fazer 
uma investigação de um fenômeno natural. Não bastava mais acreditar naquilo 
que os olhos estavam vendo, pois poderia ser enganoso. Aristóteles que o diga: 
vendo que uma esfera de pedra caía mais rápido que uma pena, ele afirmou que 
os corpos mais pesados caiam mais rápido. E essa “verdade”, vista por todos os 
olhos, permaneceu equivocadamente por séculos, até que Galileu demonstrou, 
por intermédio de experimentos, que não era bem assim. O que mudou foi a busca 
por um conhecimentosistemático, mais preciso, objetivo, com capacidade de 
embasar generalizações sustentáveis.
Método é palavra oriunda do grego meta (“ao longo de”) e hodós (“via, caminho”), con-
siste no conjunto de regras que norteiam o pesquisador a fim de que ele alcance seus objetivos 
de pesquisa. Na Ciência, o método requer procedimentos que testam a hipótese ou a teoria.
Fique atento
Acompanhe quais as novas características desse novo pensamento, que 
não recebeu inicialmente o nome de científico, mas que, depois, passou a sê-lo. 
Certamente, não é novidade para você que a metodologia da pesquisa 
veio sistematizar os procedimentos de investigação e, para isso, vale-se de 
uma sequência de etapas, as quais constituem a base do método científico das 
ciências experimentais. São elas:
FilosoFia, lógica e Ética 29
• constata-se um problema que desafia o entendimento humano;
• observando o problema, o cientista elabora uma hipótese e estabelece as 
condições para seu controle com o intuito de confirmá-la ou não;
• o cientista elabora testes e, por vezes, se possível, reproduz em laboratório o 
fenômeno observado;
• se for confirmada a hipótese inicial, ele chega a uma conclusão;
• se não for confirmada a hipótese, o cientista reelabora-a e repete as experiências, 
até encontrar aquela que explica adequadamente o fenômeno;
• explicado adequadamente o fenômeno e encaixada a hipótese, o cientista 
enuncia uma lei.
Uma lei científica nada mais é, então, que uma conclusão geral válida 
não só para uma dada situação, mas para outras semelhantes. Mas o interessante 
é que essa lei não é uma cláusula pétrea, ou seja, ela pode ser modificada e ajusta-
da no decorrer do aprimoramento das pesquisas científicas. A esse respeito, assim 
se pronunciam Aranha e Martins:
[...] a Ciência dispõe de uma linguagem rigorosa cujos conceitos 
são definidos para evitar ambiguidades. A linguagem torna-se cada 
vez mais precisa, à medida que utiliza a Matemática para trans-
formar qualidades em quantidades. [...] A Ciência constitui-se de 
corpos de conhecimento organizado, nos quais as classificações 
assumem uma tarefa indispensável. Mesmo que o senso comum 
seja capaz de organizar conhecimentos e de fazer classificações, 
a Ciência distingue-se dele porque suas conclusões se baseiam 
em investigações sistemáticas, empiricamente fundamentadas pelo 
controle dos fatos. As explicações científicas são formuladas em 
enunciados gerais, alcançados pelo exame das diferenças e se-
melhanças das propriedades dos fenômenos, de modo que um nú-
mero pequeno de princípios explicativos possa unificar um grande 
número de fatos (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 344-45).
Os resultados a que chegam os pesquisadores, os cientistas, não são to-
mados como definitivos, não são dogmas, pois passam pela análise da comuni-
dade científica. Assim, um resultado divulgado nos Estados Unidos, por exemplo, 
pode ser testado, as experiências podem ser refeitas na França, e, se aqui o resul-
30 FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA
tado for diferente, haverá um debate e a possível reformulação do resultado inicial. 
Isso é muito diferente do que ocorria há séculos, quando as realizações científicas 
eram de responsabilidade de uma só mente, de um só gênio. 
Você deve conhecer, por exemplo, a história das descobertas de Galileu, as quais lhe 
renderam um julgamento pelo Tribunal do Santo Ofício, em Roma, durante o qual foi obrigado a 
renegar a teoria heliocêntrica. A discussão, hoje, é importante para que se estabeleça e se fortaleça, 
cada vez mais, mais o método científico e a produção científica também.
Curiosidade
Por outro lado, é necessário esclarecermos um outro lado da Ciência: os 
seus valores éticos e políticos. Aranha e Martins (2009, p. 346) afirmam que:
[...] é comum as pessoas afirmarem que, enquanto o senso comum 
é pragmático, por estar interessado na aplicação prática, que visa 
aos benefícios imediatos, a Ciência tem por objetivo conhecer a 
estrutura do mundo. De fato, embora sejam inegáveis as aplicações 
tecnológicas, não é essa a intenção primeira da investigação cien-
tífica, que, antes de tudo, visa ao conhecimento. Sob esse aspec-
to, a Ciência só visaria aos valores cognitivos, isto é, ao cientista 
só interessaria conhecer por conhecer, sem se preocupar com a 
aplicação do conhecimento. No entanto, veremos que o trabalho 
científico também envolve, além de valores cognitivos, os valores 
éticos e políticos (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 346).
Dentre esses valores, destacam-se a autonomia e a neutralidade. Veja, 
resumidamente, cada um deles.
• Autonomia: diz respeito à natureza independentemente da investigação 
científi ca, de modo que as pessoas sempre pensam e esperam que as instituições 
científi cas estejam sempre a salvo de pressões, ideias e ideologias externas, o 
que as permitem pesquisar o que bem entenderem.
FilosoFia, lógica e Ética 31
• Neutralidade: diz respeito à possibilidade de o conhecimento científico não 
atender nem estar submetido a nenhum valor particular e não servir a qualquer 
interesse específico. 
Esses dois valores são chamados de valores cognitivos porque estão liga-
dos ao conhecer em si. Porém, eles devem estar lado a lado com outros valores 
e também com uma reflexão ética e moral, como se percebe nas palavras de 
Aranha e Martins:
[...] pelo que foi dito sobre o valor cognitivo, pode parecer que a Ci-
ência paira acima do tempo e do espaço, por isso precisamos intro-
duzir algumas distinções. À primeira vista, a neutralidade científica 
é requisito inegociável no processo da investigação, mas sob outros 
aspectos, a atividade do cientista não é neutra, quando deve levar 
em conta valores éticos e políticos. Não se trata de incoerência, mas 
do conhecimento de que o poder da Ciência e da tecnologia é ambí-
guo porque pode estar a serviço do florescimento da humanidade ou 
apenas de uma parte dela. Daí a necessidade de o trabalho do cien-
tista e do técnico ser acompanhado por reflexões de caráter moral e 
político, para que sejam postos em questão os fins que orientam os 
meios que estão sendo utilizados (2009, p. 347).
Tendo isso em mente, é importante que destaquemos a responsabilidade 
social do cientista, pois a Ciência está inserida na sociedade como um todo, ou 
seja, não se pode desvincular o cientista e o seu trabalho da comunidade em que 
ele se insere. Conforme afirmam Aranha e Martins:
[...] essas observações nos levam a refletir sobre a formação do 
cientista, que não deve se restringir apenas ao aprendizado de con-
teúdos, metodologias e práticas de pesquisa. Mais do que isso, o 
futuro cientista precisa ter condições de examinar os pressupostos 
de seu conhecimento e de sua atividade, de se perceber como per-
tencendo a uma comunidade e de identificar os valores subjacentes 
à sua prática (2009, p. 348).
E qual a função da Filosofia em relação à Ciência e as suas aplicações? A 
resposta a essa pergunta é: o papel da Filosofia é levar o cientista a refletir acerca dos 
fins e das prioridades proposta pela Ciência, refletir também acerca das condições 
nas quais as pesquisas são realizadas e sobre as consequências delas advindas.
32 FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA
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• Anote suas ideias e dúvidas para ampliar sua discussão na sala virtual, no fórum tutori@conectada.
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2.3. Filosofia e Idade Moderna: pensamento
 político do mundo moderno
A Filosofia na modernidade, como você jádeve ter notado, abriu-se em 
um leque bastante amplo, mas, em síntese, ela tende a pôr o homem no centro 
de seu estudo, ou melhor, o homem e o seu conforto. A esse respeito, assim se 
expressam Aranha e Martins:
[...] A partir da modernidade, as ciências se multiplicaram, bus-
cando cada uma delas seu próprio caminho, ou seja, seu método. 
Cada ciência torna-se, então, uma ciência particular, pois delimita 
um campo de pesquisa e procedimentos específicos. Cada uma 
privilegia setores distintos da realidade: a Física trata do movimento 
dos corpos; a Química, da sua transformação; a Biologia, do ser 
vivo etc. Recentemente, a partir do século XX, constituíram-se as 
ciências híbridas, como a Bioquímica, a Biofísica, a Mecatrônica, a 
fim de melhor resolver problemas que exigem, ao mesmo tempo, o 
concurso de mais de uma ciência (2009, p. 345).
Mas seriam necessários livros e mais livros para escrever sobre os filósofos 
da Idade Moderna, por isso fiquemos com apenas dois deles: Immanuel Kant e 
Jean-Jacques Rousseau.
FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA 33
Figura 08: Immanuel Kant.
Fonte: http://goo.gl/98txd8.
Immanuel Kant era a perfeita encarnação do ditado que diz que não se 
deve avaliar as pessoas pela aparência. Kant, um gigante na Filosofia, era uma 
figura magra, desengonçada e corcunda, com rotina e vida espartanas. Acorda-
va às cinco da manhã, bebia seu chá, fumava seu cachimbo, relia o que escre-
vera no dia anterior e seguia para o trabalho fazendo sempre o mesmo caminho. 
Tomava sempre do mesmo vinho antes de almoçar e deitava-se sempre às dez 
da noite, para repetir a rotina no dia seguinte. Jamais se afastou de sua cidade 
natal, Konigsber, na então Prússia oriental, onde estudou, graduou-se, exerceu 
a função de preceptor de filhos de famílias ricas e foi professor universitário 
(TELES, 1986).
Uma de suas mais importantes obras é a Crítica da Razão Pura, publicada em 1781. Nela, 
o filósofo expõe o que para ele constituem os três usos fundamentais da razão humana: o teó-
rico, o prático e o estético, aplicados na vida prática do dia a dia. Segundo Kant, na vida prática, 
aceitamos que a realidade é um valor, é algo inquestionável e comportamo-nos diante dos fatos 
levando em conta a liberdade, isto é, o nosso poder de escolha. Fazemos isso porque, enquanto 
seres humanos, temos a propriedade de ser livres. Essa liberdade é um processo de conquista 
contínua, em consequência, o ser humano só se estrutura como ser humano à proporção que vai 
conquistando a liberdade. Quanto ao uso estético da razão, Kant não o relaciona somente com 
a obra de arte, mas com tudo que exija sensibilidade e percepção.
Fique atento
34 FilosoFia, lógica e Ética
De acordo com Teles,
[...] sua ideia central é a de que se a razão, como Hume demons-
trara, sólida com fenômenos e se, apesar disso, como Newton 
demonstrara, o universo tem as suas leis, e surge ante os nossos 
olhos perfeitamente coerente, isto se deve a que nós fazemos a 
coerência do universo. O espírito humano é um gigantesco sin-
tetizador. Sua capacidade de síntese cria o mundo tal como co-
nhecemos. Demonstrá-lo é a finalidade da crítica da razão pura, 
o mais célebre de todos os livros de Filosofia. Existe, contudo, 
uma realidade exterior à consciência, a coisa-em-si, o noumenon 
(1983, p. 76).
Kant também escreveu sobre o juízo estético, ou seja, a nossa capacidade 
de percepção do belo, da faculdade humana de sentir prazer. Ele partiu da se-
guinte questão básica: “há condições a priori para se fazer julgamentos baseados 
no prazer, ou seja, o julgamento de algo que é belo?”. O filósofo divide a beleza em 
dois tipos: a beleza livre e a beleza dependente. A primeira independe de concei-
to de perfeição ou uso; a segunda, obviamente depende de tal conceito. 
Os juízos estéticos, para Kant, relacionam-se à beleza livre. Assim, para 
se “fazer o julgamento de gosto, é preciso que o objeto desse julgamento gere em 
nós uma satisfação ou insatisfação totalmente desinteressada, isto é, não relacio-
nada ao uso que o objeto possa ter para nós. Quando se diz que algo é belo, diz-se 
que ele produz satisfação” (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 444).
Considerar algo belo ou não, portanto, é uma atitude livre, ou pelo menos 
deveria ser, porque a experiência do belo e o gosto belo devem ocorrer no nível 
da sensibilidade e ser independente de qualquer outro juízo de valor. Kant (apud 
ARANHA; MARTINS, idem) diz que “o gosto é a faculdade de julgar um objeto 
ou um modo de representação por uma satisfação ou insatisfação inteiramente 
independentes do interesse. Ao objeto dessa satisfação chama-se belo”. Por isso, 
FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA 35
[...] julgar a beleza implica que se sinta prazer imediatamente na ex-
periência do objeto. O prazer pode ser universalmente comunicável 
se for baseado não na mera sensação, mas em estado de espírito 
que seja também universalmente comunicável. E já que os únicos 
estados de espírito universalmente comunicáveis são os cognitivos, 
de algum modo, o prazer do belo deve ter sua base na cognição. 
O julgamento do belo não faz referência a um conceito, mas é ba-
seado na cognição em geral, isto é, no livre jogo das faculdades 
cognitivas: imaginação e entendimento, em mútua harmonia. Ele 
toma uma forma conceitual, pois definimos beleza como se fosse 
uma propriedade das coisas: “isso é bonito” (ARANHA; MARTINS, 
p. 444).
O prazer do belo, portanto, de acordo com o filósofo, é oriundo da percepção da forma 
do objeto, em oposição às sensações ou aos conceitos despertados pelo próprio objeto. Por isso, 
a estética de Kant é denominada de formalista.
Fique atento
Esses e outros conceitos e estudos kantianos, especialmente na ética, in-
fluenciaram diversos outros estudiosos, tais como Hegel, Schiller (um dos funda-
dores do Romantismo), Schopenhauer, Nietzsche dentre outros.
Kant escrevia seus textos em alemão e não em latim, como era comum na-
quele tempo entre os intelectuais. Inovou também pela complexidade das ques-
tões, pelo rigor das conceituações e pela sinceridade na análise, quando, algumas 
vezes, assume seus limites ao se defrontar com um problema cuja solução ou 
explicação desconhece.
Jean-Jacques Rousseau nasceu em 28 de junho de 1712, na cidade de 
Genebra e faleceu em 1778. Foi órfão de mãe desde o primeiro mês de vida. Sua 
infância foi difícil, em outras palavras, viveu uma existência pobre, com poucos 
recursos materiais. Rousseau ficou aos cuidados de sua tia, Suzanne Rousseau. 
Com exceção de um período de ausência de dois anos em Bossey, onde ficou 
36 FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA
aos cuidados do pastor Lambercier, viveu em sua cidade natal até aos 16 anos de 
idade, quando saiu com alguns amigos para um passeio pelo campo e, ao voltar, 
encontrou os portões da cidade fechados (naquele tempo as cidades eram rodea-
das por muros para evitar invasões e saques em casos de guerras). Daí em diante, 
jurou ir embora e nunca mais voltar (PISSARRA, 2002). 
Figura 09: Jean-Jacques Rousseau.
Fonte: http://goo.gl/9NrKmi.
Em 1746, então com 28 anos, Rousseau foi para Lyon, como preceptor 
de filhos de famílias de posses, depois, para Paris, onde conheceu Diderot, Con-
dillac e outros intelectuais iluministas. Por conta desses contatos, colaborou como 
articulista da famosa Enciclopédia. No plano político, foi nomeado secretário do 
embaixador francês em Veneza.
O pensamento iluminista influenciou profundamente todas as dimensões da vida so-
cial. Sendo uma retomada e uma releitura do humanismo greco-romano antigo, postulou a razão 
enquanto meio para que todos pudessem atingir a liberdade e o crescimento pessoal e social. Por 
isso, os iluministas defendiam a expansão do ensino por meio da criação de escolas, ofertando 
educação a todos e promovendo a liberdade religiosa, diferentemente do que era visto e vivido na 
Idade Média. A Enciclopédia, obra organizada por D’Alambert e Dioderot e que reunia 35 volumes 
com textos de autores do século XVII, sintetizava todo o conhecimento de viésiluminista existente 
naquele período.
Fique atento
No plano filosófico, tornou-se conhecido e reconhecido com o Discurso so-
FilosoFia, lógica e Ética 37
bre Ciência e Artes (1750), com o qual ganhou um prêmio pela Academia de Dijon. 
Com esse reconhecimento, seu texto passou a ser lido e comentado por muitos 
intelectuais da época, inclusive um dos irmãos Grimm. Outro escrito famoso de 
Rousseau foi o Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre 
os homens. Essa obra respondia ao tema lançado pela mesma Academia de Dijon: 
Qual é a origem da desigualdade entre os homens? Ela é autorizada pela lei natu-
ral? Mas, dessa vez, Rousseau não ganhou o primeiro prêmio. Ele, contrariando a 
principal corrente da época, defendia que a desigualdade entre os homens não 
era natural, e sim um produto e uma responsabilidade dos próprios homens ao 
longo da história (PISSARRA, 2002).
Depois de ter rompido com os enciclopedistas e isolar-se de praticamente 
todos os amigos, escreveu as suas obras mais importantes: Nova Heloísa, Do 
Contrato Social e Emílio ou da Educação. Em Paris, a obra Do Contrato Social foi 
proibida pelo Parlamento (que ordenou que os exemplares encontrados fossem 
rasgados e queimados) e seu autor condenado à prisão. Também, em Genebra, 
na Suiça, acontecia o mesmo: os seus dois importantes livros – Do Contrato Social 
e Emílio – eram queimados e sua prisão fora decretada. Rousseau fugiu para uma 
propriedade de um amigo às margens do lago Neuchâtel.
Em toda parte, era criticado por suas obras; tanto a Igreja Católi-
ca quanto a calvinista apontavam o que chamavam de verdadei-
ras heresias em seus textos, o que levou o arcebispo de Paris, 
Chistophe de Beaumont, a publicar um texto intitulado Mandement 
(Mandamento) condenando o Emílio, ao qual Rousseau respondeu 
com sua Carta a Chistophe de Beaumont. Pouco tempo depois, 
também a [Universidade] Sorbone publicou sua censura ao Emí-
lio. Ao mesmo tempo, agravavam-se sua situação financeira e sua 
saúde (PISSARRA, 2002, p. 27).
Rousseau, ao escrever Emílio, sistematiza uma proposta educacional 
para a infância na qual compreende a criança como centro da aprendizagem, 
postulando que a mesma aconteça sem interferência da sociedade. Nesse senti-
do, para Rousseau, a criança nasce boa e a sociedade a corrompe. Sua obra 
integra uma das principais referências para a Revolução Francesa e, embora tenha 
vivido na Idade Moderna, expõe questões que ainda hoje são relevantes nos âm-
bitos pedagógico, filosófico e político.
38 FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA
No tempo em que Rousseau escreveu, era comum pensar que a criança 
era um ser com tendências egoístas, algo anárquica e sem consciência moral, por 
isso teria que ser educada ou permaneceria selvagem e má. Rousseau, surpre-
endentemente, também defendia que aquilo que foi criado por Deus é bom, mas é 
corrompido por causa da luta e do desejo pelo poder.
Especificamente sobre Emílio, pode-se dizer que se trata de uma obra fi-
losófica-educativa, que mescla dissertação e narração fictícia (um romance), um 
verdadeiro e minucioso tratado sobre educação, no qual o filósofo prescreve os 
passos para a formação de um jovem fictício (o famoso Emílio), desde o nasci-
mento até os 25 anos. Um termo chave é a educação negativa, que corresponde 
à proteção que se deve dar ao educando em relação aos pontos de vista já sedi-
mentados na sociedade e pela sociedade. O preceptor não deve dizer o que é e 
como é, mas sim dirigir a atenção do jovem para que ele, por si e com o decorrer 
do tempo e da educação, possa perceber a verdade.
No modelo educacional proposto por Rousseau, o ser humano não pode ser refém 
das regras artificiais da sociedade corrupta e que corompe, mas se guiar, acompanhado por um 
preceptor, por seus interesses genuinamente naturais. É a defesa da educação natural, isto é, 
de uma educação que coloca o ser humano como sujeito da aprendizagem, especialmente a partir 
de suas condições internas.
Fique atento
No modelo educacional proposto por Rousseau, o ser humano não pode 
ser refém das regras artificiais da sociedade corrupta e que corompe, mas se 
guiar, acompanhado por um preceptor, por seus interesses genuinamente naturais. 
É a defesa da educação natural, isto é, de uma educação que coloca o ser humano 
como sujeito da aprendizagem, especialmente a partir de suas condições internas.
Para Rousseau, a natureza é o primeiro mestre da criança. A primeira 
educação é a sensorial, segue-se a educação moral, depois a intelectual e, só no 
fim, a educação profissional. Ele defendia também que a educação deve respeitar 
o ritmo individual do aprendiz, valorizando a criança como ser específico, nunca 
como um adulto em miniatura, com isso, centrava o processo educativo no aluno. 
FILOSOFIA, LÓGICA E ÉTICA 39
A influência das ideias de Rousseau pode ser constatada na Psicologia, uma vez que 
mudou de vez a visão da criança como adulto em miniatura; na Educação, quando propôs a 
divisão ou as fases e as características da criança. E, apesar de exagerar, Rousseau teve um 
papel fundamental na defesa dos direitos da infância (ainda hoje ignorados em muitos casos).
Memorize
2.4. Filosofia e Idade Contemporânea: o homem e a crise existencial
Na Filosofia da Idade Contemporânea, também há muito o que e quem 
destacar, mas fiquemos com dois deles: Jean-Paul Sartre e Jean Piaget.
Jean Piaget foi escolhido porque muito contribuiu para o desenvolvimento 
do processo de ensino-aprendizagem moderno ao estudar o desenvolvimento 
individual da criança, no que se refere à gênese das habilidades mentais, e tam-
bém o desenvolvimento da moralidade, que é muito importante para a vida em 
sociedade. Será dada ênfase ao desenvolvimento do juízo moral na criança sob a 
ótica piagetiana.
Figura 10: Jean Piaget.
Fonte: http://goo.gl/uJC0h2.
40 FilosoFia, lógica e Ética
Antes de tudo, é importante você relembrar de que a educação é necessá-
ria para que haja a adequada convivência social e que esse processo educativo, 
intermediado por pais, professores, adultos em geral, igreja dentre outros colabora 
para que o homem consiga superar a fase do egocentrismo, ou seja, que consiga 
sair de si e perceber o outro. É importante saber também que:
[...] do ponto de vista moral, a educação começa pela heterono-
mia (aceitação das regras dadas externamente), em que as regras 
são introjetadas sem crítica, até que possam alcançar a autonomia 
(capacidade de decidir por si mesmo) típica da maturidade. Se na 
fase da heteronomia as crianças obedecem às regras que lhes são 
impostas, aos poucos, é preciso abrir espaços de discussão a fim 
de estimular a adesão pessoal e autônoma às normas (ARANHA; 
MARTINS, 2009, p. 223).
Mas como se dá essa transformação? Como nós, seres humanos, desen-
volvemos o juízo moral? Essas respostas podem ser obtidas na obra O juízo mo-
ral na criança, publicada por Piaget originalmente em 1932, que se tornaria “um 
clássico da literatura psicológica contemporânea, referência obrigatória para todos 
os pesquisadores da moral humana e das interações sociais”. Além disso, a obra 
também serviu como “fonte de inspiração filosófica para pensadores debruçados 
sobre questões de Ética, como Habermas e Rawls” (LA TAILLE, 1992, p. 48). Nes-
sa obra, encontra-se um Piaget “instigante, arrojado, intuitivo, que, no decorrer de 
sua reflexão, retoma uma mesma ideia procurando dar-lhe um contorno cada vez 
mais significativo” (idem).
Piaget, segundo La Taille (op. cit.), parte da definição de que toda moral 
consiste em um sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser 
procurada no respeito que o indivíduo adquire por estas regras. Por isso, inspira-
do nessa definição, ele iniciou suas pesquisas investigando uma atividade muito 
comum da vida humana: o jogo de regras, uma vez que os jogos são de grande 
importância nas diversas culturas e trazem em si uma relação muito forte 
com o desenvolvimento da moralidade. Primeiro, porque os jogos represen-
tam umaatividade coletiva necessariamente regulada por normas que podem 
ser modificadas pelos membros de cada grupo de jogadores. Segundo, porque, 
embora essas normas não tenham em si um caráter moral, o respeito a elas é 
FilosoFia, lógica e Ética 41
necessário, e é moral por conta de envolver questões de justiça e de honesti-
dade. Terceiro, porque esse respeito é oriundo de acordos mútuos entre os 
jogadores, e não da simples aceitação de normas impostas por uma autoridade 
estranha à comunidade dos jogadores. Como se vê, Piaget parte do pressuposto 
de que a moralidade humana é algo contratual (lembre-se do Contrato Social, 
de Rousseau).
Piaget escolheu dois jogos: bola de gude e amarelinha. O primeiro para 
estudar os meninos e o segundo para estudar as meninas. Para cada sujeito 
envolvido nos jogos, ele pesquisou a prática e a consciência da regra do jogo. 
Ele pediu que as crianças o ensinassem a jogar e depois que lhe dissessem de 
onde provinham as regras do jogo, quem as tinham criado e se poderiam ser 
modificadas. A partir dessa metodologia (como você pode perceber, a investiga-
ção toma características do método científico), Piaget propôs que a evolução da 
prática e da consciência da regra pode ser dividida em três etapas: a anomia, a 
heteronomia e a autonomia.
A anomia, etapa que vai até 5 ou 6 anos, caracteriza-se por ser um período 
em que o ser humano não segue regras coletivas. Nesse período, crianças po-
dem se interessar por bolas de gude, mas apenas para satisfazerem seus interes-
ses motores ou suas fantasias simbólicas. Seria a fase egoística.
A heteronomia, etapa que vai dos 7 aos 9 ou aos 10 anos de idade, ca-
racteriza-se por um interesse de participar de atividades coletivas e regradas. 
Essa participação tem duas características: primeira, as crianças interpretam as 
regras como oriundas de uma autoridade superior, que as concebeu e as impôs, 
e qualquer modificação nas regras é vista como trapaça, mesmo que haja a con-
cordância dos jogadores; segunda, embora demonstrem respeito, as crianças 
se mostram muito liberais em relação às regras quando jogam, pois frequente-
mente introduzem modificações sem consultar previamente os adversários e, no 
fim da partida, é comum afirmarem que todo mundo ganhou. Nessa etapa, as 
crianças jogam mais umas ao lado das outras do que propriamente umas contra 
as outras. “A criança heterônoma não assimilou ainda o sentido da existência de 
regras: não as concebe como necessárias para regular e harmonizar as ações 
de um grupo de jogadores” (LA TAILLE, 1992, p. 50) e, por causa disso, não as 
seguem fielmente. 
42 FilosoFia, lógica e Ética
A autonomia, etapa a partir dos 10 anos de idade, caracteriza-se por ser 
oposta à fase de heteronomia. Corresponde à concepção adulta do jogo. As 
crianças seguem as regras e o respeito por essas regras “é compreendido como 
decorrente de mútuos acordos entre os jogadores, cada um concebendo a si pró-
prio como possível legislador” (LA TAILLE, idem).
Levando em conta esses dados, Piaget “formulou a hipótese de que o 
desenvolvimento do juízo moral – que dizer, aquele da prática e da compre-
ensão das regras propriamente ditas morais – seguiria as mesmas etapas” (LA 
TAILLE, id. ib.).
Mas quais as concepções que temos na nossa infância a respeito dos de-
veres morais? O ser humano ingressa no universo moral pela aprendizagem de 
diversos deveres a ele impostos pelos pais e pelos adultos. Dentre esses deveres 
morais, podemos citar: não mentir, não se apropriar das coisas dos outros, não dizer 
palavrão etc. E, segundo Piaget, tais imposições são perfeitamente possíveis na 
fase de heteronomia do ser humano, pois, já que este está inclinado a aceitar como 
inquestionáveis as regras do jogo, provavelmente reagirá da mesma forma com as 
regras morais. Perceba, que Piaget “deu um salto” dedutivo: das regras do jogo para 
as regras morais. E mais: assim como o ser humano modifica e deforma as regras do 
jogo, poderá modificar e deformar as regras morais. A fim de verificar essa hipótese:
[...] Piaget investigou as concepções morais infantis em relação ao 
dever em três situações distintas: o dano material, a mentira e o 
roubo. O método empregado consistiu em fazer com que as crianças 
desempenhassem o papel de pequenos juízes, cuja tarefa seria a de 
tomar posição sobre diversos dilemas morais. Por exemplo, contam-
-se duas histórias. Na primeira, um menino quebra dez copos sem 
querer; na segunda, outro quebra um só durante uma ação ilícita, e 
pede-se à criança que diga se ela acha os protagonistas culpados, 
qual o mais culpado e por quê. Empregando esse tipo de método, 
tem-se acesso ao juízo moral da criança. Todavia, não se pode mais 
verificar sua prática. Será que um sujeito que diz que é proibido men-
tir, ele mesmo nunca mente? (LA TAILLE, 1992, p. 51).
Os dados obtidos por Piaget revelaram, então, que há realmente uma 
primeira fase de heteronomia no desenvolvimento do juízo moral a qual se tra-
duz pelo que Piaget chamou de realismo moral. Esse tem três características, 
a saber:
FilosoFia, lógica e Ética 43
I. é considerado bom todo ato que revela obediências às regras ou aos adultos 
que as impuseram;
II. as regras são interpretadas literalmente;
III. há uma concepção objetiva da responsabilidade, ou seja, julga-se pelas conse-
quências dos atos e não pela intencionalidade daqueles que agiram.
Mas você deve estar se perguntando: qual o resultado dessas característi-
cas? O resultado é que, na prática, na fase do realismo moral, a criança julga mais 
culpado alguém que tenha quebrado dez copos sem querer do que outro que tenha 
quebrado um só durante uma ação ilícita. Isso quer dizer que, nessa etapa do de-
senvolvimento da moral, o ser humano julga pelo aspecto exterior da ação e não 
pela intencionalidade. Somente por volta dos 9 ou dos 10 anos é que o realismo 
moral é superado; a autonomia moral viria após essa etapa.
Passa-se também à noção de justiça. Enquanto o dever deve ser cumprido, 
a justiça deve ser feita.
Os deveres costumam vir sob uma forma pronta e acabada e 
como imperativos a serem obedecidos. A justiça representa mais 
um ideal, uma meta, portanto, algo a ser conquistado, um bem 
a ser realizado. A cada momento, deve-se decidir como fazer 
justiça, e, no mais das vezes, não existem procedimentos pre-
cisos para que se alcance o intento: deve-se, justamente, ava-
liar, pesar, interpretar as diversas situações e então decidir o que 
fazer. Mesmo ideais aparentemente simples de serem definidos 
pedem muita reflexão para serem alcançados. É o caso do ideal 
da igualdade, que somente recebe sua plena expressão moral 
na equidade, ou seja, quando se procura respeitar as condições 
particulares de cada um, e não mais apenas raciocinar pela iden-
tidade (LA TAILLE, 1992, p. 53).
Por exemplo, uma mãe manda sempre somente um de seus filhos ir até a 
padaria porque o outro filho sempre reclama quando ela pede. É certo a mãe agir 
assim? Para as crianças menores (até 6 ou 7 anos), a ordem do adulto é justa e 
deve ser obedecida, embora algumas, a partir dos 6 anos, já percebam a ordem 
como injusta. Mas acham também que deve ser cumprida. A partir de 8 ou 9 anos, 
a ordem já é vista como injusta e a desobediência é vista como correta, como ato 
44 FilosoFia, lógica e Ética
legítimo quando há flagrante injustiça. Já para uma criança em torno dos 12 anos, 
uma conversa com a autoridade – a mãe – poderia colaborar para que a justiça 
fosse feita. Esse é o traço característico da autonomia moral, ideal a que todos 
devem chegar.
Em síntese, pode-se dizer que, para Piaget (e para muitos outros), a moral 
é um fato social, logo, uma consciência puramente individual seria incapaz de 
elaborar e respeitar regras morais. Para ele, não existe o indivíduo enquanto uni-
dade isolada nem existe a sociedade como um todo, como um só ente. O que há 
é uma rede de relações interindividuais movida pela coação e pela cooperação. A 
coação, aqui, não deve ser entendida como

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