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V1 Nanoprodutos - o que já está no mercado brasileiro - final

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na construção do conhecimento
Elaine Cristina
Marques
Licenciada em Química, possui Mestrado e Dou-
torado em Engenharia e Ciência dos Materiais
pela Universidade São Francisco, tendo defendi-
do a tese “Desenvolvimento de Compósitos
de compósitos de Polianilina/Nanotubos de
Carbono visando Aplicações Tecnológicas”, em
tema nanotecnologia e é professora na área.
Nanoprodutos: o que já está
no mercado brasileiro
Frutas demorarão a apodrecer. Pomada eliminará tumores de pele,
com precisão imediata e inédita. Será possível tomar água do mar,
após passá-la por um aparelho destilador. Secadores de cabelo serão
resistentes a mofo. O petróleo não será mais nossa principal fonte de
energia. Quem quer que ouvisse essas frases há 30 anos diria que seu
interlocutor estaria louco. Estaria, porque tudo isso já está se tornando
realidade. A nanotecnologia está aí e já dá seus frutos.
Embora a utilização e a busca da aplicação nanotecnológica seja
recente, trata-se mais uma vez da tentativa do homem de desvendar e
copiar a natureza, haja vista que há bilhões de anos, os átomos e as
moléculas começaram a se organizar e a formar estruturas complexas
que deram origem à vida. A fotossíntese realizada pelas plantas, por
exemplo, ocorre em células que possuem em seu interior verdadeiras
“nanomáquinas-verdes”, responsáveis por absorver a energia lumino-
sa, armazenar sob a forma de energia química e liberar para o uso do
organismo (PIMENTA e MELO, 2007).
A nanotecnologia pode ser entendida como a ciência que estuda e
aplica em produtos pelo menos em uma das dimensões o “nano”, ou
seja, está envolvida com a manipulação de átomos e moléculas. Um
nanômetro é a bilionésima parte do metro (10-9- m) e, para que tenha-
mos a ideia de sua dimensão, podemos afirmar um nanômetro é um
milhão de vezes menor do que a cabeça de um alfinete, ou 80.000
vezes menor que a espessura de um fio de cabelo. Na Figura 1, está
apresentada uma comparação para situar a escala “nano”.
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Figura 1 – Comparação de escala dimensional entre o planeta, o homem e seu
protótipo molecular, montado por manipulação atômica, isto é átomo a átomo
(TOMA, 2004, p.13).
A alteração de tamanho, do macroscópico para o nanoscópico,
causa mudanças nas propriedades dos materiais não somente pela re-
dução de tamanho, mas também devido a novos fenômenos intrínse-
cos, como forças de atrito, gravitacionais, eletrostáticas, condutividade
elétrica, cor, dureza, ponto de fusão etc.
As novas propriedades atribuídas aos nanomateriais têm levado a
uma busca constante por seu desenvolvimento nas mais diversas áreas.
Na saúde, por exemplo, espera-se a criação de sistemas avançados de
diagnóstico e tratamento de doenças, principalmente o câncer. No
campo de tecnologias de informação e comunicação, a promessa é de
que a nanotecnologia permitirá o aumento exponencial da capacidade
de armazenamento de informação, por meio da diminuição do tama-
nho dos dispositivos e a mudança da escala molecular para atômica,
como o desenvolvimento da spintrônica. Na área de energia, tem-se
aguardado o avanço no sistema de armazenamento de energia e de
células fotovoltaicas mais eficientes. A indústria alimentícia, por sua
vez, se beneficiará dessa tecnologia por meio da nutrigenômica e do
desenvolvimento de produtos alimentares “interativos”, capazes de
mudar suas propriedades organolépticas em função do gosto do con-
sumidor ou com a incorporação de nutrientes específicos (MORATO,
2010).
Na Tabela 1, são apresentados alguns setores e produtos
nanotecnológicos que estão sendo desenvolvidos.
 O desenvolvimento da nanotecnologia tem sido tão acentuado,
que a ISO (International Organization for Stardadization) já lançou uma
série de normas relacionadas ao controle de síntese e tamanho de
nanopartículas obtidas. A ISO TC 299, que trata da padronização in-
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ternacional na área de inovação em nanotecnologia, afirma que o em-
prego da nanotecnologia pode envolver: o conhecimento e o controle
de materiais e processo em nanoescala, geralmente abaixo de 100
nanômetros em uma ou mais dimensões que geram novas aplicações
a esses materiais; a utilização de propriedades de materiais em nanoescala
com propriedades diferenciadas das propriedades dos átomos, molé-
culas ou materiais quando em sua forma macroscópica, para o desen-
volvimento de novos materiais, dispositivos e sistemas, explorando-
se, portanto, essas novas propriedades.
Alguns nanoprodutos genuinamente brasileiros já estão sendo
comercializados. A maioria é fruto da relação universidade-empresa,
o que tem alavancado seu desenvolvimento frente o mercado brasilei-
ro. Uma grande inovação no setor foi desenvolvida pela EMBRAPA
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e tem sido sucesso nos
congressos e feiras internacionais da área. Trata-se do que tem sido
chamado de língua eletrônica, um sensor gustativo capaz de avaliar a
qualidade de líquidos e identificar sabores, principalmente de vinhos e
cafés. Consiste em um conjunto de eletrodos formados por polímeros
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condutores que, em contato com os líquidos, geram padrões elétricos
que variam em função da bebida avaliada, podendo quantificar a pre-
sença de determinadas moléculas em seu meio.
O primeiro produto brasileiro com nanotecnologia a ser
comercializado foi n-Domp, um dosímetro de raios UV, capaz de
detectar e medir a incidência de raios UV. É constituído de três cama-
das de filmes finos com as seguintes funções: a primeira guarda as
informações da dose de UV; a segunda permite a leitura da dose; a
terceira bloqueia as interações com a água. Seu desenvolvimento foi
realizado pelo pesquisador Petrus Santa Cruz, da Universidade Fede-
ral do Ceará (UFPE), e permitiu o nascimento da primeira empresa
brasileira voltada para a nanotecnologia, a Ponto Quântico.
Outros produtos brasileiros podem ser citados tais como
(FERNANDES, e FILGUEIRAS, 2008; MCT, 2012):
• O cosmético Vitactive Nanoserum Antissinais, do Boticário, que
possui um sistema de “liberação direcionada” dos ingredientes ativos
nas camadas da pele: Comucel (complexo antienvelhecimento); Priox-
in (complexo antioxidante); Lumiskin® (clareador e atenuador de olhei-
ras) e vitaminas A, C e K.
• A Taiff, em parceria com a empresa Nanox, lançou o primeiro
secador de cabelos com nanotecnologia. De acordo com a empresa,
o aparelho Taiff Titanium contém nanopartículas de titânio que com-
batem bactérias e fungos, proporcionando um jato de ar mais puro,
uma secagem mais higiênica e cabelos mais limpos.
• A Faber Castell, por meio de estudos do pesquisador Elson
Longo, da Universidade Federal de São Carlos, lançou um lápis que
contém nanopartículas organometálicas, o que confere maior resistên-
cia, maciez e intensidade de cor.
• A Bunge, em parceria com o pesquisador Fernando Galembeck,
lançou uma tinta com o nome Biphor, comercializada desde 2009,
com pigmento branco de nanopartículas de fosfato de alumínio que
substitui o dióxido de titânio, que é tóxico, além disso é mais barato e
possui maior durabilidade.
• O CVdntus, pontas odontológicas ultrassônicas fabricadas a partir
da deposição de diamante CVD (deposição química a vapor), apre-
senta alta durabilidade, silêncio durante a utilização, é indolor, preciso,
não corta tecido mole e não é agressivo ao meio ambiente.
• Revestimentos nanoestruturados da Nanox permitem elevar a
resistência dos materiais a altas temperaturas, corrosão, contaminação
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biológica, água e produtos químicos.
• Os nanocompósitos de polipropileno e polietileno com argilas
desenvolvidas pela Braskem podem ser utilizadas como barreira a ca-
lor, umidade, gases e óleos.
• A Nanocore lançou nanocápsulas com sistema de liberação con-
trolada de drogas, com efeito terapêutico local, constituindo um siste-
ma de maior efetividade da droga, com menores concentrações e
toxicidade.
Alguns dos produtos citados são mostrados na Figura 2.
Figura 2 – Fotografias ou representaçãodos principais produtos
brasileiros com nanotecnologia: (a) língua eletrônica, (b) n-Domp, (c)
Vitactive Nanoserum Antissinais, (d) secador de cabelos Taiff, (e) lápis
da Faber Castell, (f) CVdntus, (g) nanocápula da Nanocore e (h) tinta
Biphor (MCT, 2013).
Esses e outros produtos podem ser consultados no site do Minis-
tério da Ciência e Tecnologia, um dos principais investidores dos pro-
dutos nanotecnológicos brasileiros.
É inegável que os produtos nanotecnológicos já estão presentes
no nosso dia a dia, alguns comercializados para as empresas, em gran-
des empreendimentos ou em melhorias para os seus processos. Mas
também já estão ao alcance de nossas mãos nas gôndolas dos super-
mercados e lojas especializadas. O futuro chegou!
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Referências bibliográficas
ABIPLAST, Associação Brasileira das Indústrias Plásticas. Disponível
em: <http://www.abiplast.org.br/>. Acesso em: 27 dez. 2012.
FERNADES, M.F.M.; FILGUEIRAS, C.A.L. Um panorama da
nanotecnologia no Brasil (e seus macroo-desafios). Química Nova, v. 31,
n. 8, p. 2205-2213, 2008.
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia. Disponível em: <http://
www.mct.gov.br>. Acesso em: 08 jan. 2013.
MORATO, A. Um novo paradigma que mudará nossas vidas. Inovação em
pauta, 2010. Disponível em: <http://www.finep.gov.br/imprensa/re-
v i s t a/quar t a_ed i cao/ inovacao_em_pauta_4_pag46a47_
artigoanamorato.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2012.
PIMENTA, M. A.; MELO, C. P. Nanociências e nanotecnologias. III Escola
de Inverno de Física UFSM, 2007. Disponível em: <http://
www.ufsm.br/pgfisica/mc2.pdf>. Acesso em: 26 dez. 2012.
TOMA, H.E. O mundo nanométrico: A dimensão do novo século. 2. Ed. São
Paulo: Oficina de Textos, 2009. 104 p.

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