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AS ORIGENS DOM PENSAMENTO GEOGRÁFICO Jussara Alves Pinheiro Sommer 1.1 A história da geografia A geografia desenvolveu-se num primeiro momento na Grécia antiga, com o nascimento da filosofia e da história. A geografia, no contexto histórico, primeiramente, foi chamada de história natural ou filosofia natural. No mundo ocidental, foi dominada pelos gregos (a.C.), pois havia o interesse pelas descobertas de novos territórios para a atuação comercial. Era fundamental conhecer os elementos físicos no conjunto dos fenômenos naturais. As observações dos gregos determinaram inúmeros fundamentos sobre diferentes estudos, como a astronomia, a descrição da terra, além de conceituar termos e aprofundar alguns conhecimentos já existentes em relação à localização e a extensão dos oceanos. Os romanos, que, posteriormente, dominaram os gregos, nutriram-se do saber geográfico e o submeteram-no aos seus fins expansionistas. Na construção do conhecimento da geografia, devemos citar também a participação dos árabes (d.C.), que trouxeram contribuições para as questões de localização geográfica e representação de mapas. No século XII, os árabes apresentaram algumas contribuições nos estudos dos climas do planeta, com algumas regionalizações sobre o tema. A geografia europeia ganhou destaque a partir do século XV, com as grandes navegações, em busca de novos territórios, apresentando um interesse pelas grandes explorações e pela descrição da Terra. Nesse processo de estudos geográficos, inúmeros nomes, como, por exemplo, Goethe, Kant, e Montesquieu, preocuparam-se em estabelecer a relação da geografia com o meio social, ou seja, entre a humanidade e seu ambiente. Nesse período, podemos contar e descrever, a partir de registros existentes, a origem, a formação e o engajamento da ciência geográfica, além de analisar o fato de a geografia servir aos interesses políticos das classes dominantes. Pode-se citar como exemplo a Conferência Internacional de Geografia, sediada em Bruxelas pelo monarca belga Leopoldo II. Essa convenção foi organizada com o intuito de reunir o maior stark Realce stark Realce stark Realce stark Realce stark Realce número de informações sobre a África (especialmente a região do Congo) e delimitar as “zonas de influência” do continente africano. A tentativa foi fracassada devido às rivalidades interimperialistas e acabou culminando em outra conferência, a Conferência de Berlim, na qual essas rivalidades não foram resolvidas, e, por fim, acarretou a Primeira Guerra Mundial. A Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra, título da obra de Lacoste, oferece uma noção do contexto histórico citado. Uma síntese histórica da formação oficial canaliza e elucida principais colaboradores de outras áreas de conhecimento e teóricos da geografia, dentro do processo histórico das sociedades, como Kant, Montesquieu, Marx e Nietzche. Durante o processo de evolução do pensamento geográfico, a geografia enquanto ciência passa a consolidar-se, principalmente, a partir da Idade Média, pois o conhecimento do espaço torna-se um saber estratégico para subsidiar as expansões territoriais. A partir de 1750, a geografia adquire status científico, tornando-se um saber “nacionalizado”. Na Alemanha, país cujo capitalismo estava atrasado perante as nações como a França e a Inglaterra, a geografia prosperou a serviço da burguesia alemã, que, através desse saber, visava resolver dois problemas: unificação e expansão colonialista. A geografia, como saber exclusivamente alemão, iniciou-se com Kant, aperfeiçoou-se com Humboldt (geografia física) e Ritter (geografia humana) e atingiu seu ápice com Ratzel. Este se afasta do idealismo kantiano, sem romper com ele e retira de Darwin (evolucionismo) e Spencer (materialismo mecanicista) suas teorias sobre o determinismo geográfico e o espaço vital, os quais se encaixam perfeitamente numa Alemanha no auge de seu imperialismo.E Ainda no século XIX, surge a escola francesa, que lança o possibilismo, filosofia que trazia a ideia de que as sociedades poderiam determinar seu grau de desenvolvimento a partir de seu próprio ambiente natural, destacando o conceito de desenvolvimento cultural. O longo percurso do pensamento geográfico apresenta ambiguidade na definição de seu objeto de estudo, apesar de o termo Geografia encaminhar a uma definição de descrição da Terra ou estudo da superfície da terra. Na concepção de Kant stark Realce caberia à Geografia descrever todos os fenômenos manifestados na superfície do planeta, sendo uma síntese de todas as ciências (Moraes 1992 p.14). Ruy Moreira (2011 p. 14) apresenta que para Kant a Geografia estaria associada à percepção que temos do mundo físico (ou Natureza) e por tanto seu estudo poderia ser sistematizado com base na sua descrição e taxonomia. Kant qualifica a geografia física como uma ciência que estuda as relações espaciais entre elementos heterogêneos, sem lhe atribuir a função de produzir leis gerais, como a física e a matemática. A geografia forneceria uma estrutura de conhecimentos para ordenar as percepções sobre o mundo (Diniz, 2009 p.26). A geografia conhecida associava-se à relatos de viajantes, com ênfase na descrição das paisagens em detrimento à cultura e a história dos povos. Ainda segundo Moraes (1992) a ciência geográfica se constituiu a partir de alguns pressupostos, o primeiro está relacionado ao conhecimento da real extensão do planeta para ser pensado de forma unitária o seu estudo. Esta condição vem a partir das “grandes navegações” e das descobertas pelos países europeus, que irá exigir uma articulação de suas relações em “escala planetária”, expandindo a área de ação das sociedades européias no crescente processo do capitalismo (Moraes, 1992 p. 34). Outro pressuposto apresentado por Moraes (1992 p.35) é a existência de uma ampla compilação de dados sobre diferentes lugares da Terra e agrupados em arquivos o que possibilitaria a base empírica necessária para realizar a comparação em Geografia. Pois segundo o positivismo, somente com base em evidências sobre o caráter variável dos lugares, seria possível discorrer sobre a diversidade da superfície da terra. Tal condição vai sendo construída desde a mercantilização e a formação dos impérios coloniais nos séculos anteriores. Exigindo das metrópoles o conhecimento aprofundado dos territórios coloniais, gerando inventários com informações sistemáticas, mais técnicas e científicas dos recursos naturais na sua exploração. O terceiro pressuposto apontado pelo autor para a sistematização da Geografia é o aprimoramento das técnicas cartográficas para melhor representação dos fenômenos observados e da localização dos territórios (Moraes, 1992). stark Realce No final da segunda metade do século XIX o sistema positivista adotado como filosofia explicativa da sociedade técnica se instala e se impõem a organização do pensamento. O positivismo referenda a visão física e matemática da natureza, no projeto cientifico renascentista, que separa o inorgânico, o orgânico e o humano em esferas dissociadas e apresenta o paradigma do inorgânico da Física como base. Assim, ela é alçada como fonte de referência, seguida da Química, da Biologia e da Sociologia (chamada de Física Social), ou seja, todas devem moldar-se ao padrão explicativo da Física. A Geografia também deverá assumir este modelo para ser alçada ao nível de ciência (Moreira, 2011). Entretanto há dificuldades para adotar o modelo matemático na esfera humana e, em alguns casos, também na esfera do inorgânico. De acordo com Moreira (2011) a solução para este problema é a separação das ciências em Naturais e Humanas, surgindo assim a Geografia Física e Geografia Humana. A partir das ideias de Kant, Humboldt e Ritter, estudiosos da historia natural, realizaram estudos sistematizadose empenhados em construir um conhecimento científico sobre os fenômenos naturais e humanos que ocorriam sobre a superfície da terra. Os sistematizadores da ciência geográfica É no inicio do século XIX, que os trabalhos de Karl Ritter1 e Alexander Von Humboldt2 vão sistematizar os estudos geográficos dando-lhes um caráter científico, dentro dos moldes da época. Neste momento histórico, a ciência e a vida social passam por profundos processos de mudança. É o momento no qual os estudos geográficos são institucionalizados e entram nas universidades. Primeiramente na Alemanha e na sequência na França Humboldt buscava explicar as relações existentes entre os fenômenos, apoiado na escola materialista. Nesta concepção filosófica se afirma a existência de leis gerais explicativas dos fenômenos da natureza e valoriza o rigor metodológico, como critério para a verdade das teorias científicas. 1 Karl Ritter (1779-1859) nasceu na Alemanha, historiador e professor de geografia em seus estudos buscou relacionar o meio físico com a ação humana, foi contemporâneo de Humboldt, considerado um dos fundadores da Geografia. 2 Alexander von Humboldt (1769-1859), naturalista alemão, contemporâneo de Ritter , considerado um dos fundadores da Geografia. stark Realce stark Realce Humboldt fundou os métodos de observação de quase todos os campos da geografia física. Como exemplo pode ser citado o emprego das isolinhas na cartografia e a elaboração da primeira carta de isotermas. Ele também relacionou às correntes marítimas frias à ocorrência de climas áridos em áreas próximas ao litoral demonstrando as possibilidades das relações de causa e efeito na elaboração de leis explicativas gerais sobre as influências mútuas dos elementos da natureza. Ao analisar a influência que a altitude e a latitude assumem nas características fisiológicas das plantas Humboldt, estruturou a geografia botânica. Por seus estudos ele é apontado como o fundador da geografia geral ou sistemática. Importante esclarecer o significado de geografia geral na época de Humboldt, sec. XIX, ele é relativo aos estudos comparativos de fenômenos, que ocorrem numa determinada área do planeta, à outros análogos, em áreas distintas. O objetivo era demonstrar que “haveria princípios gerais capazes de explicar as particularidades encontradas em cada área” (Diniz Filho 2009 p.29). Karl Ritter desenvolveu estudos baseados na observação e comparação, o método consistia em comparar as paisagens duas a duas, extrair os traços comuns e os singulares de cada uma, para estabelecer a ordem geral e a específica, objetivando uma classificação e a seguir produzir o mapa dos recortes nessa significação. A comparação sucessiva, destes recortes, levaria ao mapa das individualidades de cada área. Com este método, denominado de método comparativo, Ritter ultrapassa a fase explicativa, baseada na classificação taxonômica e descritiva, para uma fase centrada no conceito e na explicação, esta nova fase será denominada de Geografia Comparada (Moreira, 2011). Os trabalhos de Humboldt e Ritter e os métodos desenvolvidos por estes estudiosos, que visavam o estudo das relações entre elementos heterogêneos, foram resgatados por vários geógrafos, com novas formulações. stark Realce stark Realce stark Realce stark Realce