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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL 
DIREITO CIVIL - COISAS 
TRABALHO DO SEMESTRE 
ANA PAULA FAVIM 
GIULIANO GENRO VELASQUES 
 
1. DESCRIÇÃO DO CASO 
 Amália mora com sua família num sobrado na região do interior de Caxias do 
Sul. Este sobrado faz vizinhança com outros sobrados, de outros donos. Pedro, 
vizinho de Amália, se mudou recentemente e sentiu necessidade de construir uma 
churrasqueira e uma espécie de quiosque em seu terreno. Porém, Pedro não 
observou as normas de espaçamento e sua churrasqueira está sendo construída 
encostada no muro divisório das casas. Além disso, o telhado do quiosque, que já 
está pronto, está com o escoamento da água para o terreno de Amália, causando 
infiltrações na casa toda vez que chove, prejudicando a parede e os móveis 
próximos. Diante disso, Amália entrou com uma ação judicial embasada no Direito 
de Vizinhança e na nunciação de obra nova. 
 
2. PARECER E SOLUÇÃO 
Tem-se o conceito de vizinhança como o estado de estar próximo de algo ou 
alguém, sendo vizinho aquela pessoa que mora ao lado, na mesma rua ou mesmo 
prédio. Com estas pessoas próximas, é importante que haja boa convivência, 
tornando o Direito um apontador de benefícios e obrigações, para melhor uso e 
gozo da propriedade individual sem prejuízo da propriedade comum, ou seja, da 
sociedade. A lei 10.257, de 10 de julho de 2001 instituiu o Estatuto da Cidade, onde, 
pela Constituição Federal, é a União a responsável por editar normas de direito civil 
para regular as relações privadas sobre a propriedade. A CF, no artigo 5º, inciso 
XXII estabelece o direito de propriedade e o condiciona a uma função social. Tudo 
aquilo que existe cumpre à uma determinada função, e o que possui mais de uma 
finalidade tem estabelecida sua prioridade. 
Para Fredie Didier Jr. (2018), a concepção da função social da propriedade 
impõe um conjunto de deveres, estabelecendo que ter uma propriedade traz ao 
proprietário algumas obrigações e isso, de certa forma, estruturou o direito de 
propriedade. Assim, deixa de ser um direito absoluto e não atende mais unicamente 
aos interesses do proprietário, importando a melhor utilização da propriedade. 
Surge o direito de vizinhança pela harmonização necessária na convivência 
social, estabelecendo um uso adequado para a propriedade. Não há necessidade 
do animus em causar incômodos, ou seja, não está condicionado à intenção do 
agente, mas apenas pelos efeitos gerados. Assim, vizinhança pode ser entendida 
como um agente ou um grupo, determinando o potencial lesivo dos distúrbios: 
sólido, líquido, gasoso, sonoro, comportamental, etc. O critério de uso é a 
normalidade. 
Mesmo que sem a intenção, quando há um incômodo criado pelo vizinho, 
este deve se prontificar a solucionar o problema, visando uma harmonização 
necessária para a boa convivência com a vizinhança. 
Para Fernandes (2011), as tutelas do art. 1277, do Código Civil, são a 
segurança, o sossego e a saúde. São proibidos quanto à segurança tudo que 
ataque a solidez do prédio e a isenção de dano dos moradores, protegendo de todo 
perigo pessoal ou patrimonial, como por exemplo a destruição de uma viga de 
sustentação. Ao sossego, há conexão com a privacidade, que não se submete 
apenas ao silêncio, mas sim a um estado de tranquilidade: algazarras e 
perturbações não são permitidas aqui. Por fim, à saúde se compromete com estado 
físico e funções biológicas, e não há espaço para emissão de gases poluentes, 
poluição da água, etc. 
“Os estudos de impacto de vizinhança constituem-se em importante forma de 
gestão coletiva da cidade, podem auxiliar a construir a função social da propriedade 
e da cidade e o direito à cidade, respeitando o direito dos citadinos.” 
Algumas dessas responsabilidades são de cunho público, como um 
aglomerado de pessoas carentes, loteamentos e há também atos permitidos, por 
mais que causem incômodos e outros que devem ser tolerados pelos vizinhos. 
A responsabilidade para não importunar a vizinhança é observar para não 
causar nada que ataque a segurança e a saúde, seja física ou mental. O bom 
convívio social influencia em funções locais, ajudando na evolução pessoal e 
desenvolvimento da cidade. 
Para resolução deste caso, seriam consideradas as jurisprudências: DIREITO 
DE VIZINHANÇA. Pretensão do autor à demolição de churrasqueira, forno de pizza 
e chaminé, construídos pelo réu junto ao muro divisório, sem a observância do 
recuo lateral de dois metros. Ação de natureza pessoal. Desnecessária a citação do 
cônjuge. Na ação demolitória se impõe obrigação de fazer que não tem relação 
direta com o direito de propriedade, mas com o direito de vizinhança. Hipótese na 
qual as regras da associação de moradores são mais rigorosas do que aquelas 
estabelecidas pelo poder Municipal. Irrelevância. O réu anuiu às regras da entidade. 
Participava ativamente da comissão de conciliação instituída para a solução dos 
impasses entre os moradores e a entidade e se empenhava em fazer cumprir as 
normas estabelecidas. Participava das assembléias e contribuía para a associação. 
Nota-se que esta comissão sugere modificações nas obras realizadas pelos 
proprietários a fim de que os interesses dos associados fossem atendidos. Assim, 
não pode se recusar a cumprir as normas criadas e fiscalizadas com a sua 
participação. Sentença de procedência do pedido mantida. Recurso não provido. 
(TJ-SP - -....: 43386120078260587 SP, Relator: Carlos Alberto Garbi, Data de 
Julgamento: 23/11/2010, 26ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 
13/12/2010); 
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER – DIREITO DE VIZINHANÇA - 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA – AUSÊNCIA DE CALHA DE CHUVA – INFILTRAÇÕES 
NO IMÓVEL DA AUTORA - PROVA TÉCNICA QUE COMPROVOU O NEXO DE 
CAUSALIDADE ENTRE OS DANOS E A CONDUTA DO RÉU – DEVER DE INDENIZAR. - 
Direito de vizinhança – laudo pericial que concluiu pela existência de danos, em decorrência 
da ausência de calha no telhado da ré, que faz com que a água da chuva atinja diretamente 
o imóvel da autora, causando infiltração e umidade. Dever de indenizar – Responsabilidade 
objetiva; - Manutenção da decisão por seus próprios e bem lançados fundamentos – artigo 
252 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça de São Paulo. RECURSO IMPROVIDO. 
(TJ-SP - APL: 10163354420158260037 SP 1016335-44.2015.8.26.0037, Relator: 
Maria Lúcia Pizzotti, Data de Julgamento: 07/06/2017, 30ª Câmara de Direito Privado, Data 
de Publicação: 14/06/2017); 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. DIREITO DE 
VIZINHANÇA. CONSTRUÇÃO DE TERRAÇO SEM CALHAS PARA O ESCOAMENTO DA 
ÁGUA DA CHUVA, CAUSANDO INFILTRAÇÕES NO IMÓVEL VIZINHO. CONDENAÇÃO A 
REPARAR AS INFILTRAÇÕES A SER APURADO EM LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA POR 
ARBITRAMENTO, CONFORME ART. 475-C, II, DO CPC. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. 
RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. 
(TJ-RJ - APL: 00274814620118190066 RJ 0027481-46.2011.8.19.0066, Relator: 
DES. FERNANDO FERNANDY FERNANDES, Data de Julgamento: 31/01/2014, DÉCIMA 
TERCEIRA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 06/03/2014 16:03); 
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE VIZINHANÇA. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE 
FAZER C/C PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA DE 
PROCEDÊNCIA PARCIAL DO PEDIDO, DETERMINANDO À RÉ A CONSTRUÇÃO DE 
CALHAS, DE MODO A EVITAR QUE S ÁGUA DA CHUVA ESCOE PARA A RESIDÊNCIA 
DA AUTORA. INCONFORMISMO DA DEMANDANTE. SUSPIRO EXISTENTE NA 
TUBULAÇÃO SANITÁRIA DA DEMANDADA QUE DEVE SER FECHADO. PEDIDO DE 
REMANEJAMENTO DO RELÓGIO DE ENERGIA QUE NÃO PROSPERA, JÁ QUE 
EXISTEM TRÊS EDIFICAÇÕES NO MESMO TERRENO, ENCONTRANDO-SE OS TRÊS 
MEDIDORES AFIXADOS NO MESMO QUADRO, NÃO HAVENDO NOS AUTOS 
QUALQUER JUSTIFICATIVA PARA O REMANEJAMENTO APENAS DO RELÓGIO DA 
DEMANDADA. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. SITUAÇÃO INCAPAZ DE 
COMPROMETER A DIGNIDADE DA DEMANDANTE. PROVIMENTO PARCIAL DO 
RECURSO. 
(TJ-RJ - APL: 00014041520128190082 RIO DE JANEIRO PINHEIRAL VARA 
UNICA, Relator: MYRIAM MEDEIROS DA FONSECA COSTA, Datade Julgamento: 
30/03/2016, QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 01/04/2016). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
FREDIE DIDIER JR.. A função social da propriedade e a tutela processual da posse . 
2018. Disponível em: <https://www.mpma.mp.br/arquivos/CAOPDH/a-funcao-social-e-a-
tutela-da-posse-fredie-didier.pdf>. Acesso em: 24 maio 2018. 
FERNANDES, Alexandre Cortez. DIREITO CIVIL: direitos reais. Caxias do Sul: Educs, 
2011. 
RODRIGUES, Arlete Moysés. Estatuto da Cidade: função social da cidade e da 
propriedade. Alguns aspectos sobre população urbana e espaço. 2004. Disponível em: 
<https://revistas.pucsp.br/index.php/metropole/article/view/8807>. Acesso em: 26 maio 
2018. 
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro TJ-RJ - APELACAO : APL 00274814620118190066 
RJ 0027481-46.2011.8.19.0066 Relator: DES. FERNANDO FERNANDY FERNANDES DJ: 
31 de Janeiro de 2014. JusBrasil, 2014. Disponivel em:<https://tj-
rj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/116651330/apelacao-apl-274814620118190066-rj-
0027481-4620118190066>. Acesso em: 26 mai. 2018. 
Tribunal de Justiça de São Paulo TJ-SP - Apelação : APL 10163354420158260037 SP 
1016335-44.2015.8.26.0037. Relator: Maria Lúcia Pizzotti DJ: 7 de Junho de 2017. 
JusBrasil, 2017. Disponivel em:<https://tj-
sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/469528435/apelacao-apl-10163354420158260037-sp-
1016335-4420158260037>. Acesso em: 26 mai. 2018. 
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro TJ-RJ - Apelação :00014041520128190082 RIO DE 
JANEIRO PINHEIRAL VARA UNICA Relator:MYRIAM MEDEIROS DA FONSECA COSTA 
DJ: 1 de abril de 2016. JusBrasil, 2016. Disponivel em:<https://tj-
rj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/351523058/apelacao-apl-14041520128190082-rio-de-
janeiro-pinheiral-vara-unica>. Acesso em: 26 mai. 2018.