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MAPEAMENTO E GERENCIAMENTO DE PROCESSOS E-book 4 Rafael Coelho Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 BUSINESS PROCESS MANAGEMENT NOTATION ����������������������4 Conceito e Definição ������������������������������������������������4 Abordagem Funcional Versus Por Processos �����������8 Modelagem do BPMN ������������������������������������������ 12 IMPORTÂNCIA DO ALINHAMENTO ESTRATÉGICO ���������������������������������������������18 Alinhamento Estratégico �������������������������������������� 18 Governança Corporativa E BPM �������������������������� 21 Liderança na Gestão por Processos �������������������� 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������30 SÍNTESE ��������������������������������������������������������31 2 INTRODUÇÃO Neste módulo, trataremos de aspectos práticos do Business Process Management Notation (BPMN), como a construção de um processo, em seguida, avaliaremos quais são os elementos dispensáveis do BPMN. Também dedicaremos um espaço para estudar a importância do alinhamento estratégico e o papel da liderança no gerenciamento dos pro- cessos, com vistas a amarrar o conteúdo estudado, assim como demonstrar de que maneira gestores, colaboradores e organizações podem, por meio da gestão por processos, atingir níveis de excelência na administração contemporânea. 3 BUSINESS PROCESS MANAGEMENT NOTATION Neste momento, já aprofundamos nossos conhe- cimentos acerca de conceitos importantes para os processos organizacionais. Compreendemos que se trata do conjunto de atividades que utilizam insumos para produzir um produto ou prestar um serviço, seja para pessoa física seja para pessoa jurídica, gerando valor a quem adquire� Também consideramos que toda organização é uma coleção de processo, e que não existe um produto/serviço sendo oferecido por uma empresa sem que tenha passado por um pro- cesso, mesmo que esteja documentado (mapeado). Por isso, estudaremos uma metodologia muito uti- lizada pelas organizações no mapeamento e ge- renciamento dos processos: o Business Process Management Notation (BPMN)� Conceito e Definição Antes de entrar no conceito de BPMN, é importante retomar as premissas de um processo. Todo proces- so contém insumos (materiais, serviços e informa- ções) que “entram” (inputs) em processamento com uma série de atividades (throughputs) que gere valor� Após o processamento, temos a saída (outputs), ou seja, 4 o produto ou serviço final no qual o cliente percebe o valor gerado (Figura 1): Entrada Processamento Agregação de valor Saída Materiais Serviços Informações Materiais Serviços Informações Figura 1: Conceito base de processo. Fonte: Elaboração própria. Para que esse processo ocorra, é fundamental que a organização responda a algumas perguntas: • Quais serão os departamentos envolvidos? • Quem serão os responsáveis? • Qual será o resultado dessa atividade? As respostas trarão luz para o mapeamento de todo processo. Nesse sentido, o BPMN torna-se uma re- ferência para as organizações desenharem os seus processos, visto que o BPMN [...] parte da premissa de que uma organização não deve ser gerenciada por tentativa e erro, exigindo mais das pessoas ou manipulando dados financeiros, mas por meio do gerencia- mento deliberado dos processos de negócio ponta a ponta por intermédio dos quais se cria todo o valor para o cliente. Aliás, BPM é uma abordagem de gestão organizacional centrada 5 no cliente. Os clientes não têm consciência nem se interessam pelos vários problemas que normalmente estão na mira da maioria dos executivos: estratégias, estruturas or- ganizacionais, estruturas de capital, planos de sucessão e todo o resto. Os clientes se importam com uma única coisa: resultados (HAMMER, 2013, p. 6). As premissas defendidas por Michel Hammer (2013) vão ao encontro de todo contexto, discussões e re- flexões que já estudamos: o processo deve agregar valor ao processo que deve ser percebido pelo clien- te, por meio do cumprimento de expectativas em relação ao produto adquirido ou serviço prestado. Assim, o valor é uma atribuição fixada pelo cliente, não pela organização. Em síntese, devem-se eliminar os processos que não agregam valor, dado que consomem recursos e não produzem resultados. Outro ponto é que o valor global (cadeia de processos) é proporcional à relação entre eficiência e eficácia da organização na cadeia de processos. Essa evolução da gestão empresarial, do controle da qualidade e da inserção da tecnologia da informação nos processos organizacionais, trouxe uma amplitu- de ao escopo da administração de empresas, bem como novos rumos ao mapeamento e gerenciamento de processos. Nesse sentido, a Figura 2 ilustra como essa tríplice aliança formada por gestão de negócios, 6 controle de qualidade e tecnologia da informação está interligada: BPMS Gestão de nogócios Tecnologia da informação Controle da qualidade, seis sigma, lean BPMSimplificação do Trabalho Figura 2: Visão geral das abordagens sobre mudança de processos de negócio. Fonte: Hammer (2013). Podcast 1 Para gerar valor ao cliente, temos como opção a perspectiva de Hammer (2013), que é apresentada na Figura 3, sintetizando o ciclo na gestão de pro- cessos, cujas premissas estão ligadas aos planos de intervenção, controles, aprendizado e contínuo aperfeiçoamento: 7 https://famonline.instructure.com/files/708257/download?download_frd=1 Compreender a origem da disparidade de desempenho: Desenho versus execução Compreender as necessidades do cliente e conhecer os concorrentes de referência Assegurar a conformidade do processo Estruturar, documentar e implementar o processo Identificar e corrigir o problema de execução Desenvolver um plano de intervenção Aperfeiçoar o desenho Medir o desempenho do processo Substituir o desenho Mudar o desenho Medir os resultados Estabelecer a meta de desempenho Figura 3: Ciclo essencial da gestão de processos. Fonte: Hammer (2013). O conceito de BPMN corrobora nossa abordagem sobre a geração de valor, da integração entre os de- partamentos, o conhecimento do ambiente geral e da tarefa com o objetivo de desenvolver organizações mais enxutas e menos hierarquizadas, ou seja, orien- tadas por processos. Assim, é preciso antes verificar as diferenças das organizações com abordagem funcional e aquelas orientadas por processos. Abordagem Funcional Versus Por Processos Quando uma organização deseja mudar a gestão, é fundamental que ela olhe para si e trace as estra- 8 tégicas corretas, ainda mais quando uma empresa possui uma estrutura mais rígida e deseja mudar por completo. Uma estrutura funcional caracteriza-se por uma forte hierarquia, os fluxos ficam velados (não são claros), não há inter-relações, não foca o cliente (geração de valor), a cadeia de processos é longa, as pessoas são individualistas e há gargalos não explicados no processo. A Figura 4 ilustra uma organização funcionalista, que Morgan (2002) entende como mecanicista. As decisões são top-down (de cima para baixo)� Gerente 1 Gerente 2 Gerente 3 Gerente 4 Diretor RHDiretorAdministrativo Presidência Niveis hierárquicos Figura 4: Abordagem funcional. Fonte: Adaptada de Maximiano (2012). Mudar não é fácil, pois exige disciplina, novos apren- dizados e engajamento de todos para que isso acon- teça. A fim de construir uma visão de futuro, orien- tada por processos, uma visão integradora deve ser mais do que fundamental. As pessoas devem estar 9 conectadas, tal qual o mundo contemporâneo, e as atividades devem ser interdependentes, visando ao principal interessado: o cliente. Quando abordamos a visão de Marcovitch (1973) para explicar a importância de a organização ser en- tendida como um corpo, foi justamente para chamar a atenção desse olhar humanizado e cuidadoso, cuja união de esforços forma a organização. Na própria visão de Morgan (2002), comparam-se as organizaçõesvistas como mecanicistas (mais funcionais) e organicistas (mais humanas). Se, por um lado, a abordagem preconiza a hierarquização da empresa, a abordagem por processos traz outras perspectivas: • Requer novas habilidades, maior autonomia e com- partilhamento de responsabilidade. • Sistema gerencial descentralizado, estimulando a cooperação e comunicação direta. • Promove o trabalho em equipe, avaliando os resultados pelos resultados da equipe (fim do individualismo)� • As decisões são baseadas nas necessidades dos clientes� • Quebra do paradigma da visão por função, passan- do para a visão do todo. Na Figura 5, podemos observar uma amostra de abor- dagem orientada por processos. 10 Gerente 1 Gerente 2 Gerente 3 Gerente 4 Diretor RHDiretorAdministrativo Presidência Niveis hierárquicos Cadeia de processos Figura 5: Abordagem por processos. Fonte: Adaptada de Maximiano (2012). Para melhor compreender as diferenças entre as estruturas funcional e as orientadas por processos, a Figura 6 estabelece as peculiaridades de cada uma. Atributos Abordagem fun- cional Abordagem orienta- da por processos Foco Chefe Cliente Relacionamento primário Cadeia de comando Cliente -> Fornecedor Orientação Hierárquia Processo Tomada de decisão Gerência Fóruns Estilo Autoritário Parcipativo Objeto Redução de custos Prevenção de custos Figura 6: Diferenças entre as abordagens funcional e por processos. Fonte: Adaptada de Maximiano (2012). 11 Ao analisar essas diferenças, podemos perceber que a visão por processos preconiza o processo partici- pativo das pessoas, priorizando o cliente e preservan- do a relação na cadeia de valor. Em síntese, o foco da abordagem funcional está nas áreas da empresa, ao passo que o foco da abordagem por processos está no conjunto de atividades da empresa, horizon- talizada (Figura 7): Abordagem funcionalista (top down) Abordagem orientada por processos (horizontalizada) Presidência Direção Gerência Figura 7: Abordagem funcionalista versus Abordagem orientada por processos. Fonte: Adaptada de Maximiano (2012). Com vistas a modelar um processo/uma cadeia de processos, é fundamental que a organização seja orientada por processos. Por essa razão, trataremos de apresentar a modelagem do BPMN e de que ma- neira essa técnica de mapeamento pode contribuir para que as empresas se orientem por processos. Modelagem do BPMN Criado pelo Business Process Management Initiative (BPMI), o BPMN é uma técnica que auxilia a orga- 12 nização na modelagem dos processos. Trata-se de uma técnica voltada à documentação e descrição bem definidas pela empresa, ou seja, é uma técnica especialmente voltada à definição e documentação de processos de negócio com padrões de notação bem definidos: O BPMN é o resultado de um acordo entre diversas empresas de ferramentas de mode- lagem, que possuíam suas próprias notações, com a finalidade de criar uma linguagem única e padrão para a modelagem de processos de negócio capaz de facilitar o entendimento e treinamento do usuário final (ALMEIDA NETO, 2013, p. 53). Almeida Neto (2013) explica que o BPMN tem um único “modelo de diagrama”, o Business Process Diagram (BPD), que auxilia no desenho dos mais diversos tipos de modelagem de processos. Nesse diagrama, podem estar dispostos os diversos ele- mentos que formam um modelo. Para modelar o processo, é necessário estabelecer as diferentes perspectivas em que se deseja analisá- -lo. Uma maneira é definir as visões do processo em função daquilo que se pretende gerar de valor ao cliente. É preciso ter uma visão funcional, ou seja, ter a capacidade de identificar a atividade ou o elemento do processo que está sendo executado e pelos atores ou colaboradores� 13 É preciso também que a organização seja capaz de ter uma visão comportamental, relacionando quando e como o processo está sendo executado. A ativi- dade ou o processo como um todo poderiam estar passando por um ciclo de realimentação ou um pro- cesso de repetição. Agregando às duas visões, a visão informacional deve representar os detalhes da informação ou ob- jetos que estão sendo manipulados pelo processo, que podem ser dados ou detalhes do objeto/produ- to, considerando os dados envolvidos e as relações entre eles� Por fim, a visão organizacional deve transmitir quem está executando o processo, bem como identificar qual é a interação ou a transferência de conteúdo entre os departamentos para geração de valor. Além das quatro visões explicadas anteriormente, é impor- tante atentar-se às etapas da modelagem: • Preparação do projeto de modelagem. • Entrevistas e coleta de dados com usuários. • Documentação do processo. • Validação do processo. A partir dessas definições, deve-se avaliar o ciclo de vida dos processos, ou seja, como o processo é e como deve ficar após a nova modelagem, o que compreende mais duas etapas: a modelagem do estado atual (As Is) e a otimização e modelagem do estado futuro (To be)� Entre as atividades relacionadas ao ciclo de vida dos processos, podemos destacar as seguintes: 14 • Visitar a área (levantar atividades em todas as etapas). • Criar uma fotografia do processo atual e os rela- cionamentos entre as suas diversas etapas. • Participar da equipe de melhoria, dono do processo e facilitador. • Desenhar o mapa de processo (fluxo). Das atividades elencadas, destaca-se o mapa de processos, visto que é exatamente o mapeamento sequencial das atividades do processo que torna visíveis as etapas de um processo para subsequente análise e melhoria. Um software utilizado para esse fim é o Bizagi Modeler, cujas funcionalidades ajudam a organização no mapeamento do processo� Figura 8: Ambiente do Bizagi Modeler. Fonte: Bizagi Modeler versão 3.6.0.044 (2019). 15 SAIBA MAIS Saiba mais sobre o software, consultando seu Guia do Usuário, que está disponível em: http:// download.bizagi.com/docs/modeler/3300/en/ Modeler_user_Guide.pdf. Acesso em: 13 nov. 2019. Ou baixe o software em: https://portal.bi- zagi.com/� Vamos exemplificar a aplicação dos recursos desse software de modelagem (Figura 9) com um Processo de Compras de Matéria-prima de uma empresa cuja base está nas premissas do BPMN. Figura 9: Exemplo de modelagem de processo. Fonte: Elaboração própria. Não é uma tarefa simples orientar uma organização por processos. Infelizmente, há organizações que não têm essa maturidade e, por isso, coordenam 16 http://download.bizagi.com/docs/modeler/3300/en/Modeler_user_Guide.pdf http://download.bizagi.com/docs/modeler/3300/en/Modeler_user_Guide.pdf http://download.bizagi.com/docs/modeler/3300/en/Modeler_user_Guide.pdf https://portal.bizagi.com/ https://portal.bizagi.com/ projetos de reestruturação de maneira isolada, não envolvendo as pessoas-chave da organização, sem investimento e com perspectivas limitadas e estáti- cas. Observe, na Figura 10, a visão do processo de amadurecimento da gestão por processos. Otimizado (5) Melhoria continua Gerenciado (4) Mantido e controlado Receptível (3) Caracterizado e bem entendido Inicial (1) Controlado e imprevisível Receptível (2) Pode repetir tarefas execultadas com sucesso Processo de melhoria continua Processo previsivel Processo pradronizado Processo pradronizado Figura 10: Maturidade de processo.Fonte: Elaboração própria. Para atingir essa maturidade de gestão por proces- sos, a organização precisa conhecer seus fatores críticos de sucesso, adotar uma abordagem holística (humana) e sistêmica (integrada), olhar na direção do mercado, orientar os processos para gerar valor ao cliente, focar no conteúdo e resultado e não so- mente nas questões operacionais, alocar os recursos disponíveis da maneira correta, medir os resultados e, sobretudo, liderar estrategicamente e saber in- fluenciar a equipe. 17 IMPORTÂNCIA DO ALINHAMENTO ESTRATÉGICO O foco desta reflexão está vinculado ao alinhamento estratégico. Abordamos as diferenças dasorganiza- ções orientadas pela funcionalidade e aquelas orien- tadas por processos. Percebemos que uma gestão orientada por processos gera valor ao cliente, pois estabelece uma comunicação horizontalizada, cujos fatores-chave de sucesso são a integração, a visão sistêmica e o perfil humanizado. No entanto, destacamos que, para atingir tal maturi- dade, a organização precisa cumprir antes algumas etapas. Nesse sentido, a seguir apontaremos os ca- minhos para que a organização atinja a maturidade preconizada pela gestão por processos. Podcast 2 Alinhamento Estratégico Quando falamos de alinhamento estratégico, deve- mos ter em mente uma visão holística e sistêmica da organização. Como um construto integrado, é possível então construir a cadeia de valor (Figura 11): 18 https://famonline.instructure.com/files/708258/download?download_frd=1 Gerente 1 Gerente 2 Gerente 3 Gerente 4 Diretor RHDiretorAdministrativo Presidência Niveis hierárquicos Cadeia de processos Figura 11: Cadeia de valor de Porter. Fonte: Hammer (2013). Para que a organização consiga gerar valor, é ne- cessário que algumas questões sejam respondidas: • Quais clientes queremos servir no futuro? • Por meio de quais canais pretendemos acessá-los? • Quem serão nossos concorrentes no futuro? • Qual será a base de nossa competitividade no futuro? • De onde virão nossas margens no futuro? • Que habilidades e competências nos farão únicos no futuro? Essas perguntas devem respondidas por todos os setores da organização de maneira integrada e sis- 19 têmica, cada qual no seu respectivo nível hierárquico: estratégico, tático e operacional. A respeito do nível estratégico, os objetivos devem estar relacionados à adaptação da organização a um am- biente mutável, orientados para o futuro a partir de um processo de aprendizagem organizacional e construído consensualmente com os níveis tático e operacional� • No nível tático, as atividades devem enfatizar a dis- seminação da cultura organizacional e gerenciar os de- partamentos� Esse nível também acompanha o desem- penho de cada área, sendo que o gestor responsável deve motivar e animar a equipe em todos os sentidos� Por fim, o nível operacional tem a função de executar segundo os prazos e objetivos traçados pelos níveis su- periores� Por isso, os colaboradores operacionais preci- sam de treinamento e motivação constantes para atingir os objetivos estratégicos da organização� Precisamos retomar esses conceitos para fixarmos de maneira cristalina a importância do alinhamento estra- tégico� Dessa forma, é fundamental que tenhamos uma liderança proativa e capaz de conduzir a organização rumo a uma mudança cultural� Nesse sentido, vale refletir que, mesmo com empresas certificadas pela ISO, com padrões e processos bem defi- nidos, um sem número de empresas ainda não entende que de nada vale uma certificação se a cultura e o mind- set continuam na funcionalidade� Para chegar nesse nível de cultura e estrutura organizacional, deve-se criar valor 20 ao cliente e, para tanto, é fundamental que entendamos a importância da governança corporativa no BPM� Governança Corporativa E BPM Conceitualmente, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) entende Governança Corporativa como o [...] sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envol- vendo as práticas e os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, di- retoria e órgãos de controle. As boas práticas de Governança Corporativa convertem princí- pios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso ao capital e contribuindo para a sua longevidade (IBGC, [s. d.]). Silveira (2010) informa que a Governança Corporativa é um processo decisório da alta cúpula e com os relacionamentos entre os principais stakeholders das organizações, executivos, conselheiros e acionistas� Também pode ser definido como o conjunto de mecanis- mos que visam a fazer com que as decisões corporativas sejam sempre tomadas com a finalidade de maximizar a perspectiva de geração de valor de longo prazo para os negócios� 21 Na Governança Corporativa, há quatro princípios que devem ser respeitados e ponderados pela organização: 1. Transparência. 2. Prestação de contas (accountability)� 3. Equidade� 4. Responsabilidade corporativa (incluindo o com- pliance legal e ético)� Destacados os princípios da Governança Corporativa, salientamos que a Governança Corporativa preconiza a separação mais clara de papéis (segregação de funções) entre acionistas, conselheiros e executivos, especialmente em empresas de controle familiar; contribui no aprimoramento do processo decisório da alta gestão, bem como permite uma clarificação dos papéis dos responsáveis pelas etapas de iniciação (geração de ideias), aprovação, implantação e moni- toramento; aprimora os mecanismos de avaliação de desempenho e recompensa dos executivos (remune- ração variável); diminui a probabilidade de fraudes, em decorrência do melhor gerenciamento de riscos e do aprimoramento dos controles internos e permite maior institucionalização (menor dependência de pessoas específicas) e maior transparência perante as partes interessadas (stakeholders) (SILVEIRA, 2010)� Outros benefícios da Governança Corporativa que me- recem destaque são: • Melhoria da imagem e reputação corporativas junto ao mercado� 22 • Redução do custo de capital em operações de funding (captação de recursos)� • Melhores condições de redefinição do perfil de alavancagem financeira (nível de endividamento) junto aos credores� • Melhoria do ambiente organizacional interno� • Melhoria da qualidade do processo decisório da alta gestão. • Maior atratividade de investimento junto aos po- tenciais investidores do mercado� • Maior geração de valor ao acionista. Do ponto de vista do BPM, a otimização e a manuten- ção de melhorias da organização passam de alguma forma pela governança, sendo ela a responsável pela implementação de processos, criação de estruturas, coordenação de papéis e desenvolvimento de instru- mentos que sejam capazes de medir o desempenho dos processos de negócio ponta a ponta (SPANYI, 2013). A seguir, temos alguns pontos que fazem as organi- zações se preocuparem com a mudança para uma gestão orientada por processos (SPANYI, 2013, p. 62): • Falta de um framework robusto: embora as publica- ções de negócio enfatizem a importância de melhorar e gerenciar os processos de negócio ponta a ponta, existe um déficit de informações exatamente sobre como realizar isso� 23 • Falta de sistematização das práticas de gestão: a sistematização de métodos de melhoria de processo não enfatiza suficientemente a necessidade de se ter o tipo de comportamento de liderança intrínseco à governança de BPM. • Resistencia à mudança: a maioria das empresas continua sendo estruturada de acordo com as linhas tradicionais, e as medidas financeiras tradicionais continuam dominando tanto o raciocínio quanto o comportamento executivo. Existe resistência às mudanças sutis, porém fundamentais nas práticas de mensuração e gestão que a governança de BPM necessita para manter as melhorias obtidas no de- sempenho operacional. Diante disso, Spanyi (2013) desenvolveu uma pesqui- sa de governança de BPM em parceria com o Centro de Gestão de Processos da Babson College. A amos- tra foi composta por 18 empresas, e seu objetivo era realizar um levantamento qualitativo das práticas de gestão sob as premissas de organizações orienta- das por processos. Os respondentes participantes eram executivos e tinham uma maior orientação por processo de empresas como Air Products and Chemicals, Caterpillar, Infosys, Nokia e Xerox. Como hipóteses, Spanyi (2013) considerou que: I) a equipe de liderança teria monitorado as princi- pais medidas de desempenho do ponto de vista do cliente e tentado associá-las às principaismedidas financeiras; 24 II) a equipe de liderança teria desenvolvido uma visão empresarial de sua atividade em termos de processo. Por exemplo, um esquema ou mapa; III) as empresas teriam designado os donos de pro- cesso no caso de processos de negócio interfuncio- nais de grande escopo. O pesquisador chegou às seguintes conclusões: • A capacitação e o interesse por melhorar o desem- penho operacional são cada vez maiores quando existe um único processo de negócio de pequeno escopo. • A mentalidade tradicional dos líderes continua sen- do o principal obstáculo para o avanço dos princípios e das práticas de gestão de processos por meio da governança de BPM, em que há́ uma ênfase sus- tentável sobre a melhoria e a gestão dos processos de negócio ponta a ponta e de amplo escopo da empresa. • 6 dos 18 entrevistados haviam evidenciado algum avanço em cada uma dessas áreas, ao passo que os outros 12 não. Com base nisso, o grupo de em- presas que havia apresentado algum avanço em modelos, medidas e responsabilização serão cha- madas de “empresas de vanguarda” e o outro grupo será chamado de “empresas típicas”. Três atributos e três comportamentos comuns nessas empresas de vanguarda foram responsáveis por seu sucesso em estabelecer um framework de governança para suas iniciativas de melhoria, isto é, uma governança de BPM� 25 Quantitativamente, é interessante notar que 12 das 18 organizações, ou seja, 66,67% dos respondentes, não haviam evoluído a contento, principalmente no quesito liderança. Por isso, como último passo na trajetória deste módulo, abordaremos a temática da liderança na gestão por processos, principalmente pela importância em uma Governança de BPM. Liderança na Gestão por Processos No correr destas últimas reflexões, trouxemos uma perspectiva mais humana a respeito da gestão con- temporânea. Comparando as abordagens funcional e por processos, concluímos que a maturidade da organização passa justamente por mudanças, com organizações com perfis mais horizontais (orientadas por processos) e menos hierarquizadas (funcional), orientadas para a geração de valor ao cliente. E a persona responsável por essa mudança é o líder. Na história das organizações nem sempre foi pos- sível encontrar líderes ou um estilo de liderança mais humano e mais próximo dos colaboradores. Antigamente, o colaborador era visto como extensão da máquina (recordamos a visão mecanicista de Morgan [2002]); bastava o líder “mandar” para que os empregados acatassem suas regras. Contudo, com a introdução dos estudos da psicologia e sociologia na administração de empresas, as orga- 26 nizações começaram a “despertar” esse olhar mais “humano” para seus colaboradores, principalmente a partir da década de 1930 com as contribuições de Elton Mayo, Douglas McGregor, Maslow, Carl Rogers, entre outros (MAXIMIANO, 2012). SAIBA MAIS Aprofunde seus conhecimentos sobre liderança, consulte Gestor brando com as pessoas e firme com os problemas, disponível em: https://webin- sider.com.br/gestor-brando-com-as-pessoas-e- -firme-com-os-problemas/ e https://webinsider. com.br/gestao-participativa-pede-o-engajamen- to/. Acesso em: 14 nov. 2019. O Quadro 1 engloba um resumo das contribuições sobre liderança: Período Estudos 1930-1940 Teoria dos traços de liderança Líder possui características inatas 1940-1960 Teorias comportamentais Líder tem determinados compor- tamentos específicos (voltado a tarefas versus voltado a pessoas) 27 https://webinsider.com.br/gestor-brando-com-as-pessoas-e-firme-com-os-problemas/ https://webinsider.com.br/gestor-brando-com-as-pessoas-e-firme-com-os-problemas/ https://webinsider.com.br/gestor-brando-com-as-pessoas-e-firme-com-os-problemas/ https://webinsider.com.br/gestao-participativa-pede-o-engajamento/ https://webinsider.com.br/gestao-participativa-pede-o-engajamento/ https://webinsider.com.br/gestao-participativa-pede-o-engajamento/ Período Estudos Final anos 1960 Teorias contingenciais Modelo da contingência de Fiedler Teoria do recurso cognitivo Teoria da Liderança Situacional: liderança dependendo da situação Teoria da troca entre líderes e liderados: líderes criam grupos “dos de dentro” e “dos de fora” Teoria da meta e do caminho: líder deve ajudar subordinados no alcance de suas metas Modelo de Participação e Liderança enfoca o comporta- mento da liderança e compar- tilhamento ou não do processo decisório 1990- Teorias carismáticas Liderança carismática: seguido- res do líder lhe atribuem caracte- rísticas heroicas. Liderança transacional: motivam seus seguidores na direção das metas Liderança transformacional: contém carisma e oferece con- sideração individualizada a seus liderados Liderança visionária: cria e articu- la uma visão de futuro Quadro 1: Teorias de liderança. Fonte: Adaptado de Maximiano (2012). Tais contribuições também potencializaram a mu- dança do perfil do líder, fazendo com que surgissem muitas pesquisas a respeito da liderança. Diversas são as definições sobre liderança, bem como suas interpretações. 28 Contudo, o mais importante é salientar a mudança do perfil do líder: antes o líder era visto como capataz, com decisões top-down, do tipo “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, características presentes nas organizações orientadas pela funcionalidade; na contemporaneidade das organizações, o líder é visto como quem compartilha e agrega valores à equipe, características presentes em organizações orientadas por processos. Ao enfatizar o papel da liderança em um processo de mudanças, é justamente pela dificuldade que as organizações ainda encontram para atingir seus re- sultados a curto, médio e longo prazo. Portanto, quando uma organização propõe mudar sua cultura organizacional e orientá-la para a geração de valor, ou seja, orientar para uma gestão por pro- cessos, deve-se ter à frente um board que seja capaz de orientar e conduzir todas as ações necessárias para atingir essa mudança esperada. SAIBA MAIS Saiba mais sobre o tema liderança assistindo ao filme Invictus (Dir. Clint Eastwood, Warner Bros, 2009), o qual aborda um trecho da impor- tante contribuição de Nelson Mandela para a humanidade� 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste módulo, estudamos a importância de conhe- cermos as principais diferenças entre organizações funcionais e organizações orientadas por processos. Percebemos também que as organizações orienta- das por processos são aquelas que preconizam a integração departamental, boa comunicação, pro- cessos bem delineados e dotados de uma visão sistêmica. Abordamos ainda o BPMN e suas peculiaridades, bem como a exemplificação do Bizagi Modeler, que é baseado na técnica do BPMN. Por fim, abordamos a importância do alinhamento estratégico, do papel da Governança Corporativa e, principalmente, da liderança. Buscamos, de modo geral, ir além do “simples” ma- peamento de um processo, pois é a partir de uma visão sistêmica sobre o gerenciamento de processos que o gestor contemporâneo atingirá os resultados nas organizações. 30 SÍNTESE MAPEAMENTO E GERENCIAMENTO DE PROCESSOS CONTEÚDO Neste módulo, pudemos perceber a importância do conceito de processos, do diagnóstico, do mapeamento e do gerenciamento dos processos, do controle estatístico, dos indicadores de desempenho da organização e das metodologias de processos que podem contribuir para melhoria da gestão nas organizações� Nesse contexto, compreendemos o conteúdo em três pilares: o Business Process Management Notation (BPMN), os elementos indispensáveis para implantação do BPMN e a criação da cadeia de valor ao cliente� Os dois primeiros pontos estão intrinsicamente correlacionados ao gerenciamento de processos, à modelagem do processo e aos elementos que circundam esse universo� Sobre a cadeia de valor, destacamos a importância da comunicação interdepartamental para potencializar a geração de valor ao cliente, apontando caminhos na busca de uma gestão horizontalizada e integradapara as organizações� Nesse sentido, o módulo foi estruturado da seguinte maneira: Business Process Management Notation (BPMN)� Elementos indispensáveis no BPMN� Criação da cadeia de valor ao cliente� Referências Bibliográficas & Consultadas ALBERTIN, M. 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