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Repórteres & Pesquisa Centro Universitário de Patos de Minas - Unipam Teorias da Comunicação – Profª. Me. Suelen D’arc 02 É comum quem pensa em reportagem negligenciar a pesquisa. A imagem corriqueira do repórter é a de alguém dependente de fontes e sem acesso às fontes das fontes – isto é, aos documentos primários de que se origina a informação levada a público. No entanto, todo repórter, confrontando-se com assessores de imprensa e entrevistados, já sentiu o desejo de ir adiante, fuçar papéis e arquivos em busca de verdade mais completa, menos tendenciosa ou mais conforme o desejo de saber do público. 03 Se a fonte A dá uma versão, a fonte B outra e a fonte C uma terceira, contraditórias ou só parcialmente coincidentes, de um evento, deve haver uma quarta versão que corresponda ao que realmente aconteceu. Frequentemente, essa versão mais completa ou correta está disponível em algum lugar, pode ser investigada e recuperada. 04 LAGE,Nilson. 2001. A consulta a documentos, em geral, pressupõe algum conhecimento da maneira como foram indexados. O arquivamento é um processo técnico, que pode ser muito complicado em grandes acervos, mas do qual todos devemos ter algum domínio. 05 Dificuldades de pesquisa Procurar uma matéria em jornal, por exemplo, torna-se mais fácil quando se percebe a lógica da edição. A busca de um número de telefone a partir do nome do assinante pode complicar-se o indivíduo que procura não sabe, por exemplo, como foi organizado o catálogo. 06 Processos judiciais e administrativos são montados com a juntada de documentos um após o outro, de modo que os passos mais recentes são sempre os últimos do volume. 07 08 Interpretar tabelas numéricas é um exercício de inteligência. Os dados significativos estão no mesmo nível que outros insignificantes, porque se trata de documentos padronizados, que não consideram situações de relevância. Ou ainda podem ter sido deliberadamente escondidos, coisa de que se suspeita, sempre, diante de balanços e balancetes de empresas. 09 Ler balanços é uma especialidade de contabilistas, com o que devem familiarizar-se, tanto quanto possível, repórteres de editoria econômica. 10 Complicada ou não, a PESQUISA é a base do melhor jornalismo. 11 Ela está presente, e muito, por exemplo, na reportagem-ensaio. Os sertões, de Euclides da Cunha, certamente a principal obra jornalística da literatura em língua portuguesa. A pesquisa 12 Independente da formação que o jornalista tenha ou do interesse que o motive a obter informações, são as restrições existentes no Brasil para o acesso a documentos públicos. Burocratas de todo nível carimbam “confidencial”, “reservado” ou “secreto” em papéis, obedecendo a normas confusas e, sobretudo, convencidos de que o maior risco, para eles, advirá sempre da revelação do que deveria talvez ser mantido em sigilo. A principal dificuldade resulta do próprio processo de produção da informação jornalística. O jornalista é um sujeito que trabalha obedecendo a pautas e prazos; pesquisa exige tempo e tem resultados incertos. Empresas jornalísticas frequentemente resistem à ideia de deslocar um profissional do trabalho rotineiro para um processo de investigação. Preocupação inicial de quem se lança a uma pesquisa mais extensa é, sem dúvida, como financiá-la. 13 Toda reportagem pressupõe investigação e interpretação. No entanto, as categorias “jornalismo interpretativo” e “jornalismo investigativo” são sempre mencionadas apenas na leitura teórica. 14 Investigação e interpretação O jornalismo interpretativo consiste, grosso modo, em um tipo de informação em que se evidenciam consequências ou implicações dos dados. Ele é obrigatório nas coberturas de temas científicos e de economia, quando a importância ou interesse da informação não é auto-evidente. Presta-se também à cobertura política, quando se trata de contextos pouco conhecidos – por exemplo, em países remotos. 15 O jornalismo investigativo é geralmente definido como forma extremada de reportagem. Trata-se de dedicar tempo e esforço ao levantamento de um tema pela qual o repórter, em geral, se apaixona. A dificuldade de obtenção de financiamento explica em parte por que a investigação – embora muitas vezes intuitiva, voluntarista e desorganizada – prosperou no Estados Unidos, onde fundações e instituições universitárias costumam destinar recursos a esse tipo de pesquisa, não descriminando as acadêmicas daquelas com intenção jornalística. 16 A notícia é o relato do que se sabe, não do que se ignora; é isso que a faz existir. 17 O mundo tornou-se tão complicado, tão intenso o incremento da informação disponível, que o jornalista tem que ser alguém que cria, e não só transmite, um organizador, e não só um intérprete, alguém que junte os fatos e os torne acessíveis. Além de saber como redigir informações de imprensa ou como contá-las nos meios audiovisuais, deve descobrir como fazê-las chegar à mente de seu público. Em outras palavras, o jornalista tem agora que ser um administrador de dados acumulados, processador e analista desses dados. 18 MEYER, Philip. Precision journalism: a reporter’s introduction to social Science methods. 19 Muito obrigada!