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1 HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.3 - POPULISTA INTRODUÇÃO Após a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial e a consequente derrota das ditaduras fascistas, os mais diversos grupos sociais passaram a clamar por uma urgente redemocratização das instâncias políticas internacionais. A despeito da participação da União Soviética stalinista nesse triunfo, o recado que o fi m da guerra parecia dar ao mundo era que as relações humanas precisavam ser travadas em níveis mais liberais. A criação da ONU, a Declaração dos Direitos Humanos e a difusão dos movimentos de descolonização imperialista correspondiam, em planos distintos, a essas novas demandas. Aqui no Brasil, mesmo com a popularidade do presidente Getúlio Vargas, tal clamor libertário se materializou no crescimento das críticas ao Estado Novo. Setores das forças armadas e da imprensa encabeçavam a oposição à ditadura varguista, que viria a padecer com a convocação de novas eleições presidenciais, das quais Vargas fora proibido de participar e Eurico Gaspar Dutra sairia vitorioso. Você entendeu o porquê da queda de Vargas? Não? Então vamos falar de outra forma: O Brasil participou da Segunda Guerra ao lado de países que combatiam as ditaduras nazifascistas. No entanto, Getúlio mantinha no país um estilo de governo semelhante ao Fascismo europeu. Este fato leva países democráticos como Estados Unidos, Inglaterra e França a questionarem a permanência de Vargas no poder. Além disso, dentro do Brasil alguns setores da sociedade civil e até das forças armadas também passaram a exigir o fi m do Estado Novo. No fi nal de 1945, Getúlio foi forçado a renunciar. E agora, melhorou? É importante lembrar que tal mudança na presidência da república não indicou necessariamente um rompimento com a política varguista. Ao contrário, Dutra foi eleito fundamentalmente pelo apoio ofertado por seu antecessor à sua campanha. Além disso, dos novos partidos que viriam a ser criados, dois dos mais importantes apresentavam o “DNA político” de Vargas: o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e a o PSD (Partido Social Democrático). A própria UDN (União Democrática Nacional), representante de setores conservadores e opositores ao Estado Novo, ganhou espaço no espectro político brasileiro justamente pelos ataques que fazia a Getúlio. O GOVERNO DE EURICO GASPAR DUTRA Com a vitória de Eurico Gaspar Dutra para Presidente da República (1946-1951), o país dava mais um importante passo no processo de redemocratização e de ruptura com a ditadura estadonovista. Neste cenário, a criação de uma nova constituição se impunha como algo fundamental à liberalização das estruturas políticas nacionais. Em 1946, uma nova Carta Magna foi, então, elaborada, através dela estavam garantidas as mais diversas liberdades, como de pensamento e expressão, imprensa e organização partidária. O caráter liberal foi uma marca da nova Constituição. Havia um motivo para isso: a Constituição de 1946 foi a mais democrática que o país teve até então, o que se deveu à heterogeneidade político-ideológica dos parlamentares que a redigiram. Pela primeira vez, uma bancada comunista participou do processo constituinte. No mesmo plenário estavam Luiz Carlos Prestes e seu primeiro perseguidor, o ex-presidente Artur Bernardes; notórios opositores do Estado Novo, como Afonso Arinos, e ministros do regime deposto, como Gustavo Capanema, além do próprio Vargas. Entre os dispositivos básicos regulados pela Carta estavam a separação dos três Poderes, a garantia ampla de defesa do acusado, a garantia de prisão só em fl agrante delito, a liberdade de expressão e a liberdade de consciência, de crença e de culto religioso, entre outras medidas avançadas para a época. No entanto, a construção da jovem democracia brasileira foi profundamente abalada pelos caminhos que as relações internacionais tomaram no país. Em um contexto mundial marcado pela Guerra Fria, o Brasil de Dutra se alinhou às diretrizes norte-americanas, o que motivou o corte de relações com a União Soviética, além da perseguição a políticos comunistas e, mais exemplarmente, da cassação do Partido Comunista Brasileiro (PCB). As relações entre Brasil e Estados Unidos fi caram ainda mais estreitas com a criação da Missão Abbink* e da assinatura do TIAR** (Tratado Interamericano de Assistência Recíproca). Enquanto a primeira criava uma comissão com representantes dos dois países para discutir os caminhos tomados pela economia brasileira, o segundo ampliava a rede de combate à expansão comunista no continente americano. A formação da ESG (Escola 11 10 28 14 14 01 APLICAÇÕES DAS LEIS DE NEWTONB CAPÍTULO 3.3 POPULISTA HISTÓRIA 08 00 36 38 46 11 2 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR2 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.3 - POPULISTA Superior de Guerra) evidenciava igualmente a interferência estadunidense em importantes questões nacionais, face à grande participação de militares norte-americanos em sua criação. Missão Abbink e TIAR Em 1948, Brasil e Estados Unidos construíram uma comissão técnica destinada a estudar a situação econômica do país, bem como fazer sugestões objetivando o seu desenvolvimento. A Missão Abbink, como ficou conhecida, tinha naquele sentido, balizes bem delimitadas pelo seu governo. Se os dois países tinham óticas diferentes na maneira de encaminhar a cooperação econômica, nos aspectos políticos e militares houve completo alinhamento na gestão do presidente Eurico Gaspar Dutra. Ele foi o primeiro presidente brasileiro a visitar os Estados Unidos em 1949, em retribuição a visita de Truman ao Brasil em 1947. Um dos marcos do alinhamento do Brasil e da América Latina ao bloco de poder liderado pelos Estados Unidos, NO CONTEXTO DA GUERRA FRIA, foi a assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), no Rio de Janeiro, em 2 de Setembro de 1947, com a presença, inclusive, do secretário de Estado norte-americano, Marshall. O TIAR integrava o sistema interamericano ao sistema mundial e previa mecanismos de manutenção da paz e segurança do hemisfério. O sistema regional, todavia, teria liberdade de atuação no continente, em relação à Organização Universal. De qualquer modo, a América Latina enquadrava-se na geopolítica norte- americana sem barganhar uma decisão desse alcance. Além da atuação na elaboração do TIAR, na gestão Dutra, de seu chanceler Raul Fernandes, tomou-se outra medida de alcance no contexto da Guerra Fria e que mais ainda afastava o país do bloco do Leste: a ruptura de relações diplomáticas com a União Soviética. Se liga: Em 1947, o presidente Truman havia lançado a Doutrina de combate à expansão do socialismo. Dentro desse contexto, em 1950 nasce a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), uma aliança militar para enfrentar a temida União Soviética. Portanto, não difícil entender essa aproximação dos Estados Unidos com o Brasil, bem com a criação da aliança militar denominada de TIAR. Era uma espécie de OTAN da América Latina. O Plano Salte Quinze anos de governo varguista foram mais que suficientes para consolidar uma política desenvolvimentista baseada nos princípios do planejamento econômico com uma forte interferência estatal nos setores produtivos industriais e financeiros. Ao contrário do intervencionismo varguista, Dutra adotou a política do liberalismo econômico no início de seu governo, liberando o câmbio e facilitando as importações. Tais medidas levam o Brasil a gastar os 708 milhões de dólares que Getúlio havia acumulado nos seus quinze anos de governo. Todo esse dinheiro foi gasto na importação de bens supérfluos como automóveis, ioiôs, rádios, meias de náilon e aparelhos de televisão (sem que o Brasil tivesse uma emissora de Tv até 1950). Em 1948, Dutra lançou o Plano SALTE, iniciais que representavam planejamento na área da saúde (S), alimentação (AL), transporte (T) e energia (E). O plano SALTE não alcançou o êxito esperado, poisnão existiam verbas suficientes e o governo dos Estados Unidos não concedeu novo empréstimo ao Brasil. Curiosidade: Em 1950, o empresário e jornalista Assis Chateaubriand inaugura o primeiro canal de televisão do Brasil, a Tv Tupi. Artistas do rádio e do teatro migraram para a televisão e a sociedade brasileira (parte mais rica) passa a ter mais um meio de entretenimento. VARGAS, O RETORNO (1951 – 1954) A Eleição de 1950 http://memorialdademocracia.com.br/card/em-sp-ademar-anuncia- volta-de-vargas No dia 3 de outubro de 1950, compareceram às urnas 8.254.989 eleitores. Vargas obteve uma vitória maiúscula, quase alcançando a maioria absoluta com 3.849.040 votos (48,7%). Eduardo Gomes ficou bem abaixo, com 2.342.384 votos (29,6%), e Cristiano Machado não passou de um distante terceiro lugar, com 1.697.193 votos (21,5%). O quarto candidato, João Mangabeira, teve uma votação simbólica: 9.466 votos. O número de votos anulados foi 145.473, enquanto 211.433 eleitores votaram em branco. Viu porque Getúlio era considerado o “pai dos pobres”? O povo sentiu sua falta. Ao criar o salário mínimo e as leis trabalhistas, Vargas passou a ser visto como “um Deus” para as camadas mais baixas da população. Além disso, no governo Dutra houve arrocho salarial e trabalhador sonhava com um substancial reajuste. Em meados do ano de 1950, a marchinha “Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar” embalou o retorno de Getúlio Vargas à presidência. Entretanto, a popularidade do líder populista não se repetiu em seu segundo governo (1951- 1954), período marcado por crises intensas e pela inflamação dos grupos oposicionistas. Uma das discussões que mais se fez presente na pauta política do governo Vargas foi o grau de abertura de nossa economia. Contrariando os interesses de boa parte do empresariado brasileiro, vinculado ao grande capital estrangeiro, Getúlio adotou medidas econômicas nacionalistas, como a limitação da remessa de lucros ao exterior e da entrada de multinacionais no país. O lançamento da campanha “O Petróleo é Nosso” e a criação da Petrobras representaram o auge dessa plataforma nacionalista. 3EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR 3EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.3 - POPULISTA Vargas na inauguração da Petrobras (Foto: Reprodução) Em 1951 começaram os trabalhos de uma Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o desenvolvimento econômico, cuja finalidade era criar condições para eliminar obstáculos ao fluxo de investimentos, públicos e privados, estrangeiros e nacionais, necessários para promover o desenvolvimento da nação. Em uma mensagem ao Congresso Nacional, Getúlio afirmou que “facilitaria o investimento de capitais privados estrangeiros, sobretudo em associação com os nacionais, desde que não firam interesses políticos fundamentais do nosso país”. Em 1954, dois eventos elevaram a níveis alarmantes a crise na qual estava submersa a administração varguista. Em primeiro lugar, a proposta de aumento de 100% do salário mínimo feita pelo então Ministro do Trabalho, João Goulart, que despertou a preocupação dos setores mais conservadores, temerosos em relação à “natureza comunista” da medida. No início de 1954, começou a crescer a pressão dos trabalhadores pelo aumento do salário mínimo. Manter o salário em níveis não inflacionários era condição indispensável para o êxito da política de estabilização desenvolvida por Oswaldo Aranha nos últimos meses. Entretanto, corriam boatos de que Goulart cederia às pressões populares e concederia um aumento para o mínimo de cerca de 100%. Por ter prometido um reajuste de 100% no salário mínimo, o ministro João Goulart provocou reações contrárias de vários setores, como empresários e militares. A reação não demorou acontecer. No mês seguinte, fevereiro de 1954, 82 coronéis e tenentes-coronéis, ligados à ala conservadora do Exército no Rio de Janeiro, assinaram um documento que ficou conhecido como Manifesto ou Memorial dos Coronéis. Nesse memorial, elaborado no dia 8 e divulgado na íntegra pela imprensa 12 dias depois, os coronéis alardeavam a “deterioração das condições materiais e morais” indispensáveis ao pleno desenvolvimento do Exército, onde “perigoso ambiente de intranquilidade” começava a se alastrar. Os coronéis conclamavam seus superiores a promover uma “campanha de recuperação e saneamento no seio das classes armadas”, com o firme propósito de restaurar os “elevados padrões de eficiência, de moralidade, de ardor profissional e dedicação patriótica, que (...) asseguravam ao Exército respeito e prestígio na comunidade nacional”. Além disso, a tragédia ocorrida na Rua Tonelero, marcada pela tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda e da morte do major Rubens Vaz, fragilizara ainda mais a popularidade de Vargas. O “Atentado da Tonelero”, de autoria de Gregório Fortunato, chefe da segurança pessoal de Getúlio, teve sua responsabilidade atribuída pela opinião pública ao presidente, que estaria interessado em se livrar das constantes críticas de seu desafeto Carlos Lacerda. Lacerda sendo levado ferido após o atentado Lacerda acusa Vargas e militares exigem a renúncia de Vargas “Mas, perante Deus, acuso um só homem como responsável por esse crime. Este homem chama-se Getúlio Vargas”. Com estas palavras Carlos Lacerda acusou o então presidente da República de ser o autor do atentado que sofreu no dia 5 de agosto de 1954. “República do Galeão” se opôs a Getúlio “República do Galeão” foi como ficou conhecida a Base Aérea do Galeão, no Rio, quando lá foi montado, em agosto de 1954, um aparato da Aeronáutica para interrogar suspeitos no atentado da rua Tonelero. No atentado foi ferido Carlos Lacerda, o principal opositor público do então presidente Getúlio Vargas, e morreu o major da FAB, Rubens Vaz. Os interrogatórios transcorriam em meio à crise do governo e às acusações de corrupção contra o presidente e aumentavam a pressão sobre Vargas. O chefe de sua guarda pessoal, Gregório Fortunato, acusado de ser o mandante do atentado, foi preso e interrogado na base. A “República do Galeão” só foi dissolvida após o suicídio de Vargas. O Suicídio (24 De Agosto De 1954) http://blogdoramonpaixao18.blogspot.com/2014/08/memoria- 24082014-ha-60-anos-o-suicidio.html Semanas após o crime e com o aumento das condenações populares ao seu governo, Getúlio Vargas se recolhe em seus aposentos no Palácio do Catete e, em um dos momentos mais dramáticos de nossa história, decide-se pelo suicídio. Em termos políticos, o ato recuperou amplamente a popularidade do ex- presidente, enfraquecendo, ao menos inicialmente, os grupos políticos que lhe faziam oposição. 4 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR4 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.3 - POPULISTA Vargas deu um tiro em seu peito e matou a oposição. A morte do presidente mais popular da História do Brasil leva o povo a acusar a UDN e os setores antivarguistas. Desta forma, na eleição seguinte, a grande maioria dos eleitores vota contra a UDN e seus aliados. Mesmo morto, Vargas continuava a maior força política da nação. GOVERNO DE CAFÉ FILHO (1954 – 1955) João Café Filho, ou simplesmente Café Filho, como era mais conhecido no meio político, teve um curto, mas agitado governo. Durante os pouco mais de 14 meses em que ocupou a Presidência da República, Café Filho teve que conciliar os problemas econômicos herdados do governo anterior com o acirramento político provocado pelo cenário aberto com a morte de Getúlio Vargas. Empossado como presidente da República no dia 3 de setembro em meio a um clima de grande comoção nacional, Café Filho montou uma equipe de governo composta basicamente por políticos, empresários e militares de oposição a Getúlio. Ficava, claro, portanto, que o novo presidente compartilhava das opiniões desses setores e afastava-se, assim, da política varguista. A sucessão presidencial Em 1955, durante a disputa presidencial, o PSD, partidoque Vargas fundara uma década antes, lançou o nome de Juscelino Kubitscheck à Presidência da República. Na disputa para vice- presidente, que na época ocorria em separado da corrida presidencial, a chapa apresentou o ex-ministro do Trabalho do governo Vargas, João, do PTB, sigla pela qual o ex-presidente havia sido eleito em 1950. Setores mais radicais da UDN, representados pelo jornalista Carlos Lacerda, receosos de que a vitória de Juscelino Kubitscheck e Jango pudesse significar um retorno da política varguista, passaram a pedir a impugnação da chapa. Lacerda chegou a declarar, na época, que “esse homem [Juscelino Kubitscheck] não pode se candidatar; se se candidatar não poderá ser eleito; se for eleito não poderá tomar posse; se tomar posse não poderá governar”. A pressão da UDN para que Café Filho impedisse a posse dos novos eleitos intensificou-se logo após a divulgação dos resultados oficiais, que davam a vitória à chapa PSD-PTB. De outro lado, entre os militares, também surgiam divergências quanto ao resultado das urnas. A principal delas ocorreu quando um coronel se declarou contrário à posse de JK e Jango, numa clara insubordinação ao ministro da Guerra de Café Filho, marechal Henrique Lott, que havia se posicionado a favor do resultado. Carlos Luz e Nereu Ramos A intenção de Lott em punir o coronel, entretanto, dependia de autorização do presidente da República, que em meio a tantas pressões foi internado às pressas num hospital do Rio de Janeiro. Afastado das atividades políticas, Café Filho foi substituído, no dia 08 de novembro de 1955, pelo primeiro nome na linha de sucessão, Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados. Próximo à UDN, Carlos Luz decidiu não autorizar o marechal Lott a seguir em frente com a punição, o que provocou sua saída do Ministério da Guerra. A partir de então, Henrique Lott iniciou uma campanha contra o presidente em exercício, que terminou na sua deposição, com apenas três dias de governo. Acompanhado de auxiliares civis e militares, Carlos Luz refugiou-se no prédio da Marinha e, em seguida, partiu para a cidade de Santos, no litoral paulista. Com a morte de Vargas, a internação de Café Filho e a deposição de Carlos Luz, o próximo na linha de sucessão seria o vice-presidente do Senado, Nereu Ramos, que assumiu a Presidência da República e reconduziu Lott ao cargo de ministro da Guerra. Subitamente, Café Filho tentou reassumir o cargo, mas foi vetado por Henrique Lott e outros generais que o apoiavam. Café Filho era acusado de conspirar contra a posse de JK e Jango. No dia 22 de novembro, o Congresso Nacional aprovou o impedimento para que ele reassumisse a Presidência da República. Em seu lugar, permaneceu o senador Nereu Ramos, que transmitiu, sob Estado de Sítio, o governo ao presidente constitucionalmente eleito: Juscelino Kubitscheck, o “presidente bossa nova”. http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/governo-cafe-filho- 1954-1955-os-14-meses-do-vice-de-vargas.htm JUSCELINO KUBITSCHEK (1956 – 1961) 5EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR 5EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.3 - POPULISTA Para os historiadores especializados no governo JK, este último teria representado um período politicamente estável do Brasil, em que a democracia liberal pôde se manifestar através de uma liberdade política e de expressão. Entretanto, esses estudiosos lembram que essa relativa estabilidade só foi possível porque Kubitschek buscou sustentar, ao lado de uma posição inovadora quanto ao desenvolvimento econômico do país, uma aliança política conservadora, que satisfazia os interesses da classe média tradicional, da burguesia comercial e da oligarquia rural. Assim, pode-se dizer, de maneira bem geral, que o governo JK buscou conciliar uma política modernizante com outra de caráter conservador. Além disso, ao mesmo tempo em que soube atrair o apoio da classe empresarial, JK tolerou as ações dos comunistas e controlou as reivindicações sindicais, apoiando os trabalhistas por meio de seu vice, João Goulart. O Desenvolvimentismo e o Plano De Metas “50 anos em 5” foi o grande lema do governo JK, uma vez que nesse contexto a sociedade brasileira estava marcada pela ideologia da superação do atraso econômico e do rápido avanço industrial do país. Ou seja, na mentalidade da década de 1950, o Brasil deveria superar rapidamente sua condição de país subdesenvolvido através de uma política desenvolvimentista, isto é, de um projeto dirigido pelo Estado com o objetivo de modernizar o país e equipará-lo aos países plenamente industrializados. Portanto, a criação do Plano de Metas de JK só foi possível graças a um processo histórico no qual o Brasil estava, gradualmente, deixando de ser predominantemente agrário-exportador e se tornando um Estado industrializado. Esse Plano apresentava metas que deveriam ser cumpridas entre 1956 e 1961 e deveriam atingir as seguintes áreas: educação, alimentação, transporte, energia e infraestrutura/indústria de base. Procurando fomentar o desenvolvimento do país, JK também abriria o país ao capital internacional, transformando este último em um sócio do processo brasileiro de industrialização. Assim, é a partir dessa época que cerca de 400 multinacionais começam a se instalar no país, destacando-se principalmente as do ramo automobilístico. Essas indústrias traziam capital e nova tecnologia para o Brasil e, em troca, lucravam muito com a mão-de-obra barata que encontravam aqui. Além disso, o governo também investiu na expansão das usinas hidrelétricas; na abertura de novas rodovias que integraram regiões até então isoladas umas das outras; na expansão da indústria do aço; na instalação da indústria de construção naval, etc. O Rompimento Com o FMI No início de 1958, o governo Kubitschek aguardava resposta para um pedido de empréstimo externo no valor de 200 milhões de dólares. Em março, missão do Fundo Monetário Internacional esteve no Rio de Janeiro e condicionou a liberação do dinheiro à adoção de um pacote de medidas anti-inflacionárias. A inflação deveria ficar em 6% ao ano, no máximo. O governo teria que adotar uma taxa única de câmbio, abolir os incentivos aos agricultores e restringir salários. Na tentativa de atender às exigências do FMI, em outubro o presidente trocou José Maria Alkmin por Lucas Lopes no ministério da Fazenda. Mas o Plano de Estabilização Monetária (PEM) aplicado pelo novo ministro não funcionou: a estabilização pretendida fatalmente comprometeria os planos do governo e retardaria a construção de Brasília. Por isso, em junho de 1959 Juscelino Kubitschek rompeu ruidosamente com o FMI. Multidões formaram-se diante do Palácio do Catete para apoiar a decisão do presidente. O impasse encontraria solução em fevereiro de 1960, quando, em visita ao Brasil, o presidente americano, Dwight Eisenhower, perguntou a JK se haveria interesse em reatar, em novas bases, com o FMI. Assim foi feito, e em maio o FMI concedia um vultoso empréstimo ao Brasil. Obs.: Em virtude do Rompimento com o FMI, Kubitschek iniciou uma reaproximação com o governo de Cuba. Fidel em visita ao Brasil A OPERAÇÃO PAN-AMERICANA Planejada pelo escritor Augusto Frederico Schmidt, seu conselheiro, a Operação Pan-Americana (OPA) foi a grande tacada da política externa do presidente JK. A ideia nasceu quando o vice-presidente americano Richard Nixon, em visita a países da América Latina, em 1958, foi recebido em toda parte com ruidosos protestos contra a política de seu país para o continente. Instigado por Schmidt, Juscelino escreveu uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower, na qual, depois de lamentar aqueles incidentes, propôs que se buscasse um novo relacionamento entre os países das Américas, sob a forma de um programa multilateral de desenvolvimento econômico que constituiria, também, uma estratégia de defesa do continente. Eisenhower foi receptivo e conversações se puseram emmarcha. A Operação Pan-Americana empacou, no entanto, pois a opção da Revolução Cubana pelo socialismo, no início dos anos 1960, veio transformar o combate ao comunismo na política prioritária dos Estados Unidos para a América Latina. Já no governo John Fitzgerald Kennedy, numa iniciativa unilateral, Washington pôs de pé a sua própria operação pan- americana, que se chamou Aliança para o Progresso. Com seu caráter basicamente assistencialista, não teria vida longa. 6 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR6 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.3 - POPULISTA Sem ter ido adiante, a OPA de Juscelino Kubitschek deixou pelo menos um fruto: o atuante Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), criado em dezembro de 1959. Consequências Do Modelo Desenvolvimentista Mesmo que o país tenha progredido na ampliação de sua infraestrutura e o projeto de avanço na industrialização tenha sido bem-sucedido, também surgiriam problemas sociais decorrentes das medidas econômicas implantadas durante o governo JK. A longo prazo, a instalação de multinacionais e o aumento de ofertas de emprego acabou por gerar uma migração interna que, por sua vez, ocasionou um inchaço urbano desordenado em algumas regiões do Brasil. Ou seja, o crescimento não planejado das cidades fez com que a demanda por serviços públicos crescesse exponencialmente e saísse do controle das autoridades públicas. Com isso, as pessoas que saíram do campo em busca de um emprego melhor nas indústrias tiveram de se deparar com uma situação subumana nos grandes meios urbanos. E nos meios rurais também haveria uma crise, pois não houve investimentos do governo nessas regiões. A ausência de uma reforma agrária e o crescente êxodo rural tornaram a situação ainda mais complexa, provocando tensões que dariam origem aos movimentos reivindicatórios das Ligas Camponesas. O crescimento da inflação e o aumento da dívida externa também foram algumas das heranças nefastas do desenvolvimentismo e da consequente subordinação do capital nacional ao estrangeiro. A partir daquela época, os preços dos bens de consumo começaram a subir sem a contrapartida de um reajuste dos valores dos salários dos trabalhadores. O Significado Político Da Construção De Brasília A construção da futura capital do Brasil se tornou uma das metas mais representativas do governo JK, simbolizando uma utopia nacionalista de modernização e integração do território brasileiro, de acordo com o ideário do desenvolvimentismo. Tinha-se como objetivo fazer coincidir o centro político-decisório do país com o seu centro geográfico, representado pelo Planalto Central. Ao transferir a capital federal do país da cidade do Rio de Janeiro para a região central do país, até então praticamente isolada do restante do território nacional, Kubitschek criou um projeto que pretendia representar a diminuição do atraso e das disparidades regionais do Brasil. Arquitetada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, Brasília foi oficialmente inaugurada em 21 de abril de 1960, o que também não deixa de ser simbólico, visto que essa é a data da morte de Tiradentes. Para os ideólogos do governo JK, a interiorização da capital federal era o alcance de uma meta-síntese por parte da nação, pois ela seria uma imagem monumental do desenvolvimento e da autonomia conquistados pelo país. Contudo, apesar de ter estimulado o povoamento da região Centro-Oeste e a construção de rodovias importantes que a ligassem a outras regiões do país, não se pode esquecer que ela contribuiu para o aumento dos gastos públicos e, por conseguinte, para o endividamento do Estado. GOVERNO DE JÂNIO QUADROS (1961) Eleição presidêncial de 1960 Henrique Teixeira Lott (PSD) aliado ao PTB e ao PST, PRT e PSB Nasceu no atual município de Antônio Carlos - MG em 1894, começou seus estudos em 1905 no Colégio Militar - RJ. Em 1944, foi promovido a general-de- brigada, com o suicídio de Vargas foi nomeado por Café Filho Ministro da Guerra, cargo que ocupou de 1954 a 1960, e foi a liderança militar que comandou o Movimento de 11 de novembro, que assegurou a posse de Juscelino Kubitschek. 48,27% 5.630.000 32,93% 19 ,56% Jânio Quadros (PTN) aliado a UDN e ao PDC, PL e PR Adhemar de Barros (PSP) 3.840.000 2.195.000 Jânio Quadros venceu as eleições presidenciais de outubro de 1960, tendo recebido 48% dos votos do eleitorado, contra 32% dados a Henrique Teixeira Lott e 20% a Ademar de Barros. Tomou posse, juntamente com João Goulart, no dia 31 de janeiro de 1961. Após 15 anos de domínio do PSD, a oposição finalmente chegava ao poder, embora com uma bancada minoritária no interior do Congresso. Em pouco tempo, instalou-se o conflito entre o Executivo e o Legislativo, que levaria o país à grande crise de agosto de 1961, cujo ápice foi a renúncia de Quadros e o veto dos ministros militares à posse do vice-presidente Goulart. http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/ Campanha1960/A_campanha_presidencial_de_1960 Na eleição presidencial de 1960, a vitória coube a Jânio Quadros. Naquela época, as regras eleitorais estabeleciam chapas independentes para a candidatura a vice-presidente, por esse motivo, João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) foi reeleito. A gestão de Jânio Quadros na presidência da República foi breve, durou sete meses e encerrou-se com a renúncia. Nesse curto período, Jânio Quadros praticou uma política econômica e uma política externa que desagradou profundamente os políticos que o apoiavam, setores das Forças Armadas e outros segmentos sociais. A Política Antiinflacionária 7EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR 7EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.3 - POPULISTA Jânio Quadros assumiu a Presidência em janeiro de 1961, e desde os primeiros momentos ele procurou colocar em prática as promessas feitas durante a campanha. No entanto, a crise herdada do governo anterior não era de fácil solução. Além da infl ação, a dívida externa chegava ao patamar de 3,8 bilhões de dólares. De acordo com compromissos assumidos pelo governo Juscelino, o Brasil teria de pagar 2 bilhões de dólares da dívida externa durante o governo de Jânio, e só em 1961 deveriam ser saldados 600 milhões. Jânio fez uma reforma cambial, desvalorizando a moeda em 100%, além de retirar subsídios do trigo, de combustíveis e outros produtos essenciais. A desvalorização da moeda facilitaria as exportações. Essas medidas tiveram o aval do FMI, o que resultou no reatamento das relações com o órgão fi nanceiro e um novo empréstimo de 2 bilhões de dólares. A situação da economia interna não era muito confortável. A retirada dos subsídios gerou forte impacto sobre os preços de muitos produtos, afetando micro e pequenas empresas e elevando o custo de vida das camadas mais pobres da população. Em maio de 1961, a classe trabalhadora esperava um substancial aumento no salário mínimo, mas o governo frustrou essa expectativa. Não demorou muito para que eclodissem manifestações contra ao governo, daquelas mesmas pessoas que foram às urnas e elegeram o candidato que parecia ser o substituto de Vargas em popularidade. A Crise Política O governo de Jânio Quadros perdeu sua base de apoio político e social a partir do momento em que adotou uma política econômica austera e uma política externa independente. Na área econômica, o governo se deparou com uma crise fi nanceira aguda causada por intensa infl ação, défi cit da balança comercial e crescimento da dívida externa. O governo adotou medidas drásticas, restringindo o crédito, congelando os salários e incentivando as exportações. ”Che” visita o Brasil Mas foi na área da política externa que o presidente Jânio Quadros acirrou os ânimos da oposição ao seu governo. Jânio nomeou para o ministério das Relações Exteriores Afonso Arinos, que se encarregou de alterar radicalmente os rumos da política externa brasileira. O Brasil começou a se aproximar dos países socialistas. O governo brasileirorestabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética (URSS). Atitudes de menor importância também tiveram grande impacto, como as condecorações oferecidas pessoalmente por Jânio ao guerrilheiro revolucionário Ernesto “Che” Guevera (condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul) e ao cosmonauta soviético Yuri Gargarin, além da vinda ao Brasil do ditador cubano Fidel Castro. Independência E Isolamento De acordo com estudiosos do período, o presidente Jânio Quadros esperava que a política externa de seu governo se traduzisse na ampliação do mercado consumidor externo dos produtos brasileiros, por meio de acordos diplomáticos e comerciais. Porém, a condução da política externa independente desagradou o governo norte-americano e, internamente, recebeu pesadas críticas do partido a que Jânio estava vinculado, a UDN, sofrendo também veemente oposição das elites conservadoras e dos militares. Ao completar sete meses de mandato presidencial, o governo de Jânio Quadros fi cou isolado política e socialmente. Jânio Quadros renunciou em 25 de agosto de 1961. Vale lembrar que 25 de Agosto é data do aniversário da morte de Getúlio A renúncia seria parte de um golpe? Carlos Lacerda (UDN) acusou Jânio de tramar um golpe com a sua renúncia. Segundo Lacerda, Jânio esperava que o Congresso Nacional e as Forças Armadas não concordassem com a renúncia, pois o vice-presidente era visto como um homem de esquerda. Jânio também esperava manifestações populares pela sua permanência no poder. Se tudo desse certo, Jânio estabeleceria condições para fi car na presidência: imporia um governo nos moldes do Estado Novo varguista. Nada disso aconteceu e Jânio acabou saindo do Brasil dizendo que “forças ocultas” o obrigaram a renunciar. GOVERNO DE JOÃO GOULART (1961 – 1964) De acordo com a Constituição de 1946, diante da renúncia do Presidente (independentemente do tempo de governo) caberia ao vice assumir a Presidência. No entanto, naquela ocasião o vice estava viajando pela China comunista, o que fez aumentar a desconfi ança das elites e das forças armadas sobre João Goulart. Após a renúncia de Jânio Quadros, ocorrida em 25 de agosto de 1961, os três ministros militares manifestaram-se contra a posse de João Goulart devido a suas posições políticas, consideradas de esquerda. Imediatamente, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Briozola, apoiado pelo comandante do III Exército, José Machado Lopes, formou a Cadeia da Legalidade, dispondo-se a lutar pela posse do vice-presidente. Esta posição contou com o apoio de vários ofi ciais-generais que serviam em outros pontos do país. O impasse foi superado com a adoção provisória do sistema parlamentarista, com o qual João Goulart iniciou seu governo, em 7 de setembro de 1961. 8 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR8 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.3 - POPULISTA O Período Parlamentarista (1961 – 1963) Foi marcado pela elevação dos índices infl acionários e pela desvalorização progressiva do salário mínimo. Tivemos uma sequência de três Primeiros Ministros (Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes Lima). Lembre-se que a mesma emenda constitucional que implantou o parlamentarismo também previa uma consulta ao povo sobre a permanência do sistema em 1965. Porém, diante das difi culdades econômicas e dos agravantes problemas sociais, o Presidente João Goulart convenceu o Congresso Nacional a antecipar o plebiscito para 1963. A cisão militar ocorrida durante esse episódio persistiu durante todo o governo de Jango. Setores nacionalistas das Forças Armadas, articulados ao movimento sindical e a setores da esquerda, apoiaram abertamente importantes iniciativas políticas de Goulart, tais como a defesa das “reformas de base” e a antecipação do plebiscito sobre o sistema de governo, previsto inicialmente para o início de 1965. Realizado em 6 de janeiro de 1963, o plebiscito restaurou o presidencialismo. Os generais mais ligados a Goulart tornaram-se informalmente conhecidos como “generais do povo”. No mesmo período, aumentou a politização de setores da baixa hierarquia das Forças Armadas – os praças (sargentos, cabos, soldados e marinheiros). Em 12 de setembro de 1963 estourou em Brasília uma rebelião liderada por sargentos da Aeronáutica e da Marinha, revoltados contra a decisão do STF de não reconhecer a elegibilidade dos sargentos para o Legislativo (princípio vigente na Constituição de 1946). Embora o movimento tenha sido facilmente controlado, a posição de neutralidade adotada por Goulart levantou suspeitas e temores entre setores politicamente conservadores e grande parte da alta e média ofi cialidade militar. Crescia a preocupação com a possibilidade de um eventual golpe de Estado de orientação esquerdista, baseado nas praças, e com a quebra dos princípios de hierarquia e disciplina vigentes nas Forças Armadas. http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/ NaPresidenciaRepublica/Os_militares_e_o_governo_JG O Retorno ao Presidencialismo Em janeiro de 1963, Jango convocou um plebiscito para decidir sobre a manutenção ou não do sistema parlamentarista. O resultado foi que cerca de 80% dos eleitores votaram pelo restabelecimento do sistema presidencialista. A partir de então, Jango passou a governar o país com mais poderes constitucionais. Porém, no breve período em que governou o país sob regime presidencialista, os confl itos políticos e as tensões sociais se tornaram graves, e as Forças Armadas interromperam seu mandato com o golpe militar de março de 1964. Instabilidade Política Jango não dispunha de base de apoio parlamentar no Congresso Nacional para aprovar com facilidade seus projetos políticos, econômicos e sociais. Por esse motivo, a estabilidade governamental foi comprometida. Como saída para resolver os frequentes impasses, Jango adotou uma estratégia típica do período populista: recorreu à permanente mobilização das classes populares, a fi m de obter apoio social ao seu governo. Essa estratégia limitava ou impedia a adoção, por parte do governo, de medidas antipopulares. Além disso, era necessário atender as demandas dos grupos que apoiavam o presidente. Um episódio ilustrativo ocorreu quando o governo criou uma lei implantando o 13º salário. Na época, o Congresso não a aprovou. Então, líderes sindicais ligados a João Goulart mobilizaram os trabalhadores em uma greve e pressionaram os parlamentares a aprovarem a lei. As Contradições Da Política Ainda na fase parlamentarista do governo Jango, o Ministério do Planejamento e da Coordenação Econômica foi ocupado por Celso Furtado, que elaborou o chamado Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social. O objetivo do Plano Trienal era combater a infl ação a partir de uma política que demandava, entre outras coisas, a contenção salarial e o controle do défi cit público. O Plano Trienal O plano foi elaborado em apenas três meses por uma equipe liderada por Celso Furtado. O objetivo do plano era retomar o crescimento do PIB em 7% dos governos anteriores, depois do fracasso completo das políticas econômicas iniciais de João Goulart, e também pela primeira vez iniciar um plano de distribuição de renda. Este plano partia do princípio da substituição das importações gradualmente, colocando a culpa da disparada dos preços nos desiquilíbrios estruturais da economia brasileira, ignorando o efeito do ágio cambial sobre os preços. Para alcançar a performance sonhada de 7%, foram alocados 3,5 trilhões de cruzeiros para investimentos, a preços de 1962, supondo que isto ocasionaria num aumento da renda per capita de US$323,00 em 1962, para US$ 363,00 até 1965. Era esperado também um crescimento surreal de 70% da indústria. Para tanto foram estabelecidas metas setoriais, de 4,3 milhões de toneladas de lingotes de aço até 1965, 190 mil automóveis e 270 mil caminhões e crescimento da capacidade instalada geradora de energia para 7.432.00 kW em 1965. Os objetivos eram extremamentecontraditórios evidenciando o péssimo planejamento: aumento dos impostos e tarifas, ignorando o efeito sobre os investimentos privados, redução do desperdício público, mesmo assim, aumentando os salários, captação de dinheiro do mercado de capitais, mas não se criou nenhuma regra regulatória para tanto, e uma tentativa de conseguir recursos externos mesmo com a crescente hostilidade ao capital estrangeiro. 9EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR 9EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.3 - POPULISTA O plano estava condenado ao fracasso antes mesmo da derrubada do governo Goulart, começando pela falha em atingir os 25% como meta inflacionária, e o crescimento de 0,6% do PIB em 1963. Em 1964, a inflação geral fechou em 91,8%. Apesar do fracasso, deve-se levar em conta a situação em que o Plano Trienal foi formulado: o curto espaço de tempo, utilizando-se de informações e estatísticas não confiáveis, a falta de experiência brasileira até então com este tipo de plano e desconhecimento dos efeitos das políticas adotadas. O Plano Trienal, sob esse ponto de vista, foi importante para melhorar os esforços de planejamento do país. O fracasso do Plano Trienal criou uma séria crise institucional. João Goulart, em uma atitude de desespero ao final do plano, passou a fazer uso de decretos-lei, tentando nacionalizar várias empresas privadas de petróleo, e desapropriando algumas áreas para fins de uma suposta reforma agrária, causando a ira das classes média e alta brasileiras, já desgastadas pela má condição econômica, o que estimulou a derrubada do governo. Já em 1963, o governo abandonou o programa de austeridade econômica, concedendo reajustes salariais para o funcionalismo público e aumentando o salário mínimo acima da taxa pré-fixada. Ao mesmo tempo, Jango tentava obter o apoio de setores da direita realizando sucessivas reformas ministeriais e oferecendo os cargos a pessoas com influência e respaldo junto ao empresariado nacional e os investidores estrangeiros. Mas a busca de apoio político junto às classes populares levou o governo a se aproximar do movimento sindical e dos setores que representavam as correntes e ideias nacional-reformistas. João Goulart Desafia As Elites E As Forças Armadas Ao longo do ano de 1963, o país foi palco de agitações sociais que polarizaram as correntes de pensamento de direita e esquerda em torno da condução da política governamental. Em 1964, a situação de instabilidade política se agravou, com o descontentamento do empresariado nacional e das classes dominantes. Por outro lado, os movimentos sindicais e populares pressionavam para que o governo implementasse reformas sociais e econômicas que os beneficiassem. Comício na Central do Brasil Atos públicos e manifestações de apoio e oposição ao governo eclodiram por todo o país. Em 13 de março, ocorreu o comício da estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, no Rio de Janeiro, que reuniu 300 mil trabalhadores em apoio a Jango. Uma semana depois, as elites rurais, a burguesia industrial e setores conservadores da Igreja realizaram a “Marcha da Família com Deus e pela Liberdade”, considerado o ápice do movimento de oposição ao governo. Marcha da Família As Forças Armadas também foram influenciadas pela polarização ideológica vivenciada pela sociedade brasileira naquela conjuntura política, ocasionando rompimento da hierarquia, devido à revolta de setores subalternos. Os estudiosos do tema assinalam que a quebra de hierarquia dentro das Forças Armadas foi um dos principais fatores que levaram os militares apoiadores de Jango a se afastarem, facilitando o movimento golpista. As Reformas De Base As propostas para promoção de alterações nas estruturas políticas, econômicas e sociais começaram a ser discutidas no Brasil ainda no decorrer do governo de Juscelino Kubitcheck, em 1958. Naquela ocasião, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) apresentou uma alternativa para garantir o desenvolvimento do país e a diminuição das desigualdades baseada na execução de reformas. Os debates não avançaram muito e só voltaram à discussão quando João Goulart assumiu a presidência deixada por Jânio Quadros, que renunciou, em setembro de 1961. As reformas de base se transformaram na bandeira do novo governo e seriam responsáveis pelas ocorrências do mandato do novo presidente. Sob a denominação de “reformas de base” estavam reunidas iniciativas que visavam alterações bancárias, fiscais, urbanas, administrativas, agrárias e universitárias. Para completar, almejava-se oferecer o direito de voto para analfabetos e às patentes subalternas das forças armadas. As medidas causariam uma participação maior do Estado em questões econômicas, regulando o investimento estrangeiro no país. Entre as mudanças pretendidas pelo projeto de reforma apresentado, estava em primeiro lugar, liderando os debates sobre o processo, a reforma agrária. O objetivo era reduzir os combates por terras e possibilitar que milhares de trabalhadores tivessem acesso às terras. As aspirações das reformas pretendidas coincidiam com os anseios da classe média brasileira, dos trabalhadores e dos empresários nacionalistas. Por esse motivo, grande parte do povo brasileiro aderiu ao movimento, o que desagradou os setores mais conservadores do Brasil. Enquanto isso, o povo pressionava o governo pela efetiva implantação das propostas. As elites e os militares conservadores viam essas reformas do Jango como uma ameaça de “cubanização do Brasil”. Não custa nada lembrar que estamos em plena Guerra Fria e a Doutrina Truman pregava o combate ao comunismo. 10 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR10 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.3 - POPULISTA O GOLPE MILITAR A Revolta dos Marinheiros Cabo Anselmo Nome com que ficou conhecido o episódio originado pela resistência dos marinheiros, reunidos na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro no dia 25 de março de 1964, à ordem de prisão emitida pelo ministro da Marinha, Sílvio Mota. Os marinheiros realizavam uma reunião comemorativa do segundo aniversário da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais, entidade considerada ilegal. Dois mil marinheiros e fuzileiros navais liderados pelo sergipano José Anselmo dos Santos, o “cabo” Anselmo, compareceram à sede do sindicato naquele dia, a despeito da proibição do ministro. O ato contou com a presença de representantes dos sindicalistas e líderes estudantis, e além do deputado Leonel Brizola e do marinheiro João Cândido, líder da Revolta dos Marinheiros de 1910. Na abertura da solenidade, o cabo Anselmo afirmou a disposição da associação de lutar a favor das “reformas de base, que libertarão da miséria os explorados do campo e da cidade, dos navios e dos quartéis”. Durante o encontro, os marinheiros reivindicaram o reconhecimento de sua associação, a melhoria da alimentação a bordo dos navios e dos quartéis e a reformulação do regulamento disciplinar da Marinha. Finalmente, exigiram que nenhuma medida punitiva fosse tomada contra os que ali estavam. O Ministro da Marinha Silvio Mota mandou punir os marinheiros, mas Jango resolveu negociar com os mesmos, lhes prometendo aumento salarial e o direito de voto. Tal fato levou os três ministros militares a dar o sinal para o golpe. Em 31 de março de 1964, tropas militares lideradas pelos generais Carlos Luís Guedes e Olímpio Mourão Filho desencadeiam o movimento golpista. Em pouco tempo, vários comandantes militares aderiram ao movimento de deposição de Jango. Em 1º de abril, João Goulart praticamente abandonou a presidência, e no dia 2 se exilou no Uruguai. O movimento conspirador que depôs Jango da Presidência da República reuniu os mais variados setores sociais, desde as elites industriais e agrárias (empresários e latifundiários), banqueiros, Igreja Católica e os próprios militares. Todos temiam que o Brasil caminhasse para um regime socialista. Além disso, o golpe militarnão encontrou grande resistência popular, apenas algumas manifestações que foram facilmente reprimidas.