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Uma produção Empreendedorismo e Crise Um terreno fértil a ser explorado CAPÍTULOS Ideias e reflexões para empreendedores e intraempreendedores sobre o lado bom dos tempos ruins TEMPO DE LEITURA: 30 MIN 4 CONTEÚDO EM O poder do menos se com recursos e boas condições de trabalho já é difí-cil prosperar no mundo VUCA, quando eles pratica-mente desaparecem, a missão se torna praticamente impossível, certo? Errado. “Empreendedor é aquele que tira de onde não tem e põe onde não cabe” É nessa frase, atribuída a Nizan Guanaes, na realidade de milhões de empreendedores no mundo todo e na obra de Scott Sonenshein que encontro apoio para minha afir- mação. Mas, antes que me acusem de glamurizar a falta de investimento, peço licença para contar a você um pou- co mais sobre o livro O poder do menos, de Sonenshein. O autor, que foi considerado por ninguém menos que Jim Collins como provocativo e criador de um desconfor- to construtivo, defende a ideia da “mentalidade elástica”, definida como: “Um conjunto de atitudes e habilidades que se aprende e sua origem está em uma mudança simples, mas poderosa: deixar de querer mais recursos e agir de acordo com as possibilidades proporcionadas pelos recursos já disponíveis”. Na visão de Sonenshein, as pessoas que esticam os recur- sos rotineiramente, que ele chama de esticadores, exploram o que podem fazer com o que têm, em vez de perguntar o que está faltando. “Minha pesquisa explica como pessoas e organizações podem expandir seus recursos para obter grandes con- quistas e sentirem-se realizadas – como podem tornar-se elásticas – seja adaptando-se a mudanças importantes, seja realizando rotinas diárias, seja construindo carreiras e vidas significativas”. O oposto do esticador é o perseguidor, pessoa que sempre busca mais recursos e têm dificuldade de fugir da máxima “mais recursos, melhores resultados”. Segundo Sonenshein, essa abordagem é intuitivamente reconfortante. A relação parece natural: quanto mais você tem, mais pode fazer e melhor vai se sentir. Porém, por mais que esse sentimento seja sedutor, ele falha em produzir melhores resultados por- que nos leva a procurar recursos de que não precisamos e a não prestar atenção ao potencial dos recursos que já temos. Ideia explanada, eu pergunto a você: se Sonenshein ti- vesse chamado esse indivíduo de “empreendedor” ao in- vés de “esticador”, seria uma troca justa, não é mesmo? Empreendedor é um esticador por natureza. Trabalhar com escassez de recursos e explorar terrenos nunca antes percorridos fazem parte da mentalidade empreendedora, que este e-book busca exaltar. Aqui, além de encontrar reflexões sobre os impactos da covid-19 no ecossistema empreendedor, você confe- re as inovações que estão surgindo em meio ao caos e também histórias de startups que já se mostravam pro- missoras antes mesmo da pandemia. Tudo isso com um único objetivo: inspirar você a continuar empreendendo ou intraempreendendo para que, juntos, sejamos a mu- dança que queremos ver no mundo. Gabrielle Teco Editora-executiva da Revista HSM Management Inovação para salvar vidas Nesta entrevista, Leandro Mattos, CEO na CogniSigns, faculty na Singularity University Brazil e membro da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), conta como startups estão inovando para combater o coronavírus e seus reflexos negativos. Como a Covid-19 impacta o ecossistema empreendedor no Brasil e quais lições essa pandemia deve nos deixar? Empreendedores respondem • Dario Neto, diretor geral do Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Anga Capital • Tatiana Pimenta, CEO e fundadora da Vittude • Rafael Mendes, CEO e fundador da RP Trader • Cesário Martins, diretor do meuDNA e fundador da ClickBus Sumário 1 2 3 4 Saúde mental no trabalho: otimizando o ROI do seu maior ativo Romero Rodrigues, sócio da Redpoint eventures, analisa os impactos das doenças mentais nas empresas e sugere cuidados com colaboradores Um futuro sem carne? Conheça o universo das foodtechs e das proteínas alternativas Reportagem de Heinar Maracy sobre este setor em ascensão no Brasil e no mundo Sumário 1 Inovação para salvar vidas Respiradores produzidos em impressoras 3D e plataforma que identifica pessoas com sintomas de transtornos mentais estão entre os projetos que a Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) vem encabeçando para combater os impactos negativos do novo coronavírus. Leandro Mattos, CEO na CogniSigns, faculty na Singularity University Brazil e membro da Acate fala sobre essas inovações e convoca empreendedores a adotarem uma postura de enfrentamento positivo neste momento crítico. Por Gabrielle Teco 1. Como empreendedor, que há anos está desbravando o segmento de health techs no Brasil, como você enxerga este momento que estamos vivendo? Vejo este momento ímpar com um olhar histórico e cientí- fico. Historicamente, quando estamos dentro de um fenô- meno social, muitas vezes é difícil enxergá-lo por completo, entendê-lo e fazer predições. Porém, no futuro, olharemos para esse momento e nos questionaremos sobre como não tomamos decisões que então vão parecer óbvias. Atualmente, vivemos um fenômeno social devido à pan- demia e isso nos “cega”. Devido à sensação de ameaça, deixamos nosso estado de homeostase e somos coloca- dos em uma situação reativa conhecida como mecanismo “luta ou fuga”. Segundo Walter Bradford Cannon, quando estamos diante de estresse podemos reagir de três formas distintas: lutar, fugir ou paralisar. É possível identificar a presença forte dessas três reações na população em geral por conta da situação de estresse à qual está submetida. Como exem- plo: alguns podem reagir lutando para gerar soluções para combater o vírus e suas consequências, para se proteger e proteger seus entes queridos. Alguns tentam fugir, fragili- zando-se em uma clara demonstração reativa chamada de enfrentamento negativo. Outros simplesmente paralisam diante da sensação de ameaça. Como empreendedor, vejo este momento extremo como um chamado. Nosso país precisa de apoio e nós, startups, temos que adotar o enfrentamento positivo, dar um passo à frente e nos colocar a postos para dar a nossa colaboração. Por sua vez, se faz necessário que empresas e autoridades governamentais estejam abertas para analisar e adotar as novas soluções, inclusive dando oportunidades para as empresas já existentes provarem seu valor. Muitas dei- xam de existir ou migram para outros países por falta de oportunidade. É o momento de sermos ágeis e criativos no desenvolvimen- to e na adoção de novas soluções tecnológicas, exponenciais e democráticas. Chegou a hora de reforçarmos o time Brasil! 2. Como membro da vertical de saúde da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), quais projetos estão saindo do papel e virando MVP, com potencial de amenizar os problemas causados pela Covid-19? Devido ao momento e aos resultados apresentados, a ver- tical de saúde da Acate, composta por diretoria, startups e empresas patrocinadoras, segue empenhada em gerar solu- ções rápidas, inovadoras e aplicáveis à sociedade. De tudo que está sendo feito para combater o novo coronavírus e suas consequências negativas, destaco dois projetos: 1. Ventiladores pulmonares passíveis de fabricação por impressoras 3D. Dirigido pela startup Anestech, o projeto pode ajudar o país a romper barreiras de produção, financeiras e logística no que tange à demanda urgente por respiradores pulmonares em nosso país. 2. Plataforma digital preditiva que identifica e apoia indivíduos fragilizados. Encabeçado pela CogniSigns e focado em saúde mental, esse projeto oferece ajuda a pessoas fragilizadas pela sen- sação reativa de fuga e que se encontram em estado de enfrentamento negativo, ameaçadas pelo risco de adqui- rirem estresse, ansiedade e depressão. O objetivo é identificar indícios de estresse, ansiedade e depressão, para auxiliar em ações individuais debusca por atendimento especializado, e criar estratégias corporativas educativas e preventivas para evitar o desenvolvimento de comportamento prejudicial em colaboradores. Essa plataforma encontra-se em fase de teste em uma respeitada corporação catarinense e, em breve, estará à disposição da população e das empresas, no apoio ao planejamento de ações preventivas que possam evitar o desenvolvimento de comportamentos prejudiciais e pato- logias em seus colaboradores. Entendemos que neste momento a atenção à saúde mental é fundamental não só para sobrevivermos a essa fase extrema, mas também para superá-la e retomarmos nossas vidas, nesse novo mundo que criaremos após a quarentena. Outros projetos que também possuem grande potencial e merecem toda nossa atenção são: sistema de monitora- mento e acompanhamento de casos diagnosticados com covid-19; sistema com IOT para monitoramento de pa- râmetros em tempo real; sistema de inteligência voltado para contaminação cruzada; diversas iniciativas de tele- medicina para teleatendimento e teleconsulta; sistema de dados para controle de epidemias com dados coletados por agentes comunitários; chatbots para atendimento via web ou whatsaap para prevenção ou auxilio ao diagnósti- co de covid-19, entre outros. 3. E sobre os impactos da Covid-19 no ecossistema da ACATE, existe algum projeto para apoiar empreendedores neste momento de crise? Sim, temos uma ação colaborativa voltada para minimizar os impactos que a pandemia pode causar aos empreendedo- res e empresas associadas. Desde que a pandemia exigiu a adoção de medidas restriti- vas em Santa Catarina, a Acate está mobilizada e realizando a interlocução com os órgãos públicos. Para fortalecer ainda mais a união do setor, somando forças para que todos possam atravessar esse período adverso, a ACATE estruturou um plano de ação, dividido em sete eixos: Financeiro; Trabalhista; Tributário; Saúde mental & boas práticas; Soluções tecnológicas; Acesso ao mercado; e Renegociação com fornecedores. Dessa forma, por força do colaborativismo, a associação de- seja criar mecanismos de proteção não só à economia mas à continuidade da geração de inovação em nosso país. Essa ação pode inspirar outros ecossistemas, mercados, grupos de empresas, cidades e até governos para agirmos de forma cola- borativa, fortalecendo as comunidades, sociedade e todos os indivíduos. Essa é a força do coletivo e é assim que agimos há décadas e colhemos resultados que são exemplos para o mun- do, e que deu a Florianópolis o apelido de “Ilha do Silício”. 4. Sabemos que ainda é cedo para tirar conclusões, mas, pelo o que você tem observado, quais lições a Covid-19 deve deixar ao ecossistema brasileiro de startups? Para as startups, deve trazer reforço ao cooperativismo, in- teroperabilidade entre diversos setores em prol da sociedade e principalmente uma grande lição: toda empresa precisará estar preparada para situações possíveis e imprevisíveis de caos eminente. Para a área da saúde, haverá um entendimento maior sobre a importância de viabilizarmos soluções tecnológicas ágeis, acessíveis e democráticas, com um olhar especial à teleme- dicina em complemento ao atendimento humanizado. Para a sociedade com um todo, solidariedade. Temos hoje uma grande oportunidade de refletir e nos questionar. A dor do distanciamento social e a perda de um sem número de vi- das serão dois grandes professores que nos acompanharão por muito tempo, mas aqueles que tiverem essa percepção terão a chance de começar de novo, dessa vez com os olhos voltados para a nossa evolução e o bem-estar comum em nível global. É o que espero de mim, de você e de todos nós! 2 Como a Covid-19 impacta o ecossistema empreendedor no Brasil e quais lições essa pandemia deve nos deixar? Fiz essa pergunta a quatro empreendedores. Mesmo correndo o risco de errar, já que o momento ainda não nos permite chegar a grandes conclusões, eles toparam o desafio. Aspectos negativos, como desemprego ou piora na saúde mental, são preocupações destacadas por eles. Mas, para quem está acostumado a enxergar o copo meio cheio, as oportunidades ficam cada vez mais claras. É tempo de aprender e de se reinventar. Dario Neto Diretor geral do Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Anga Capital A covid-19 fez o futuro do trabalho virar presente do tra-balho. Mais do que um bom conjunto de ferramentas para viabilizar o trabalho remoto, as empresas estão percebendo a necessidade de mudar paradigmas de gestão e cultura organizacional. Quem já se ancorava em confian- ça, autonomia e transparência certamente está enfrentna- do o trabalho remoto com mais tranquilidade e observando a continuidade na boa performance do time. Esses valores tornam as organizações muito mais responsivas a desafios inesperados como este que vivemos. O ecossistema em- preendedor definitivamente irá evoluir nessa direção e os que já estavam preparados em sistema de gestão e cultura irão despontar. Além de novas perspectivas sobre modelos de trabalho e cul- tura, apesar de todo o gigante impacto econômico que mul- tiplicará o desemprego e as falências, a taxa básica de juros travada abaixo de 4% como forma de fomentar a economia tende a favorecer investimentos. Principalmente pós-pan- demia, com a volta gradual da economia, o fluxo de capitais para investimentos merece atenção. Ainda na perspectiva macroeconômica, a flutuação do câm- bio com o dólar a máximas históricas torna o Brasil muito barato para investimentos estrangeiros e M&A. Além disso, vemos sinais claros de que a lógica dos negócios conscientes e do capitalismo de stakeholders, que já estava na pauta no mundo pré-pandemia, deve ganhar ainda mais relevância. O questionamento sobre a forma como fazemos negócios, investimos e vivemos está sendo ampliado e o fluxo de capi- tais condicionados a novos requisitos de investimento, como propósito, impacto socioambiental positivo e orientação para stakeholders, devem guiar muitas das teses e visões de investimento pós-covid-19 no Brasil. Em síntese, para além dos desafios gigantes no curto prazo, há muitas oportunidades florescendo, como em toda crise. Responsividade e consciência podem ser duas tags interes- santes para o ecossistema empreendedor pós-pandemia. Tatiana Pimenta CEO e fundadora da Vittude, plataforma que conecta pacientes a psicólogos para consultas em ambiente físico e virtual O primeiro ponto é que a covid-19 chega para nos mos-trar que não temos controle sobre todas as coisas. A lição que fica é que precisamos ter flexibilidade, jogo de cintura e criatividade. Foco e priorização nunca foram tão relevantes como agora. Vamos ter que apren- der a dizer não ou seremos atropelados pela avalanche de informações, lives, webinars e todas as novas demandas que estão surgindo. Precisamos estar cientes de que não vamos dar conta de tudo e os pratinhos vão cair. Se não aceitarmos isso, teremos sérios problemas de saúde. Com relação ao ecossistema, com certeza essa pandemia vai provocar grandes reflexões e mudanças de mindset quanto às relações de trabalho, à digitalização de alguns serviços e também ao nosso estilo de vida. Uma maior adoção do tra- balho remoto e o uso mais consciente de recursos são refle- xos esperados. Na área de saúde, onde atuo, creio que teremos uma intensificação do teleatendimento (telehealth), inteligência artificial e processos mais ágeis. Novas tecnologias surgirão, sempre há muita inovação em períodos de crises e guerras. Um historiador de Stanford, chamado Walter Scheidel, afirma que um país só realiza mudanças significativas após viver “grandes choques trazi- dos por guerras, revoluções e epidemias”. E o legado que o novo coronavírus vai nos deixar, com certeza será a possibilidade de nos reinventarmos e se- guirmos evoluindo. Rafael Mendes CEO e fundador da RP Trader, startup de prospecção e vendas diante de um cenário em que praticamente99% das empresas brasileiras atuam em um modelo que se espelha no que conhecemos como “tradicional”, com posições fixas de trabalho e imposições de horário, o primeiro ponto de impacto será a mudança nas relações de trabalho, já que a conjuntura fez com que todos preci- sassem se reinventar não por opção, mas por regra básica de sobrevivência. Um exemplo que ilustra isso é a previsão de que depois que tudo isso passar cerca de 25% das pessoas possivelmente trabalharão até dois dias por semana no mesmo modelo apli- cado hoje. Além disso, outro ponto que podemos presumir a partir de dados como a previsão de PIB e um desemprego que pode chegar a 40 milhões de pessoas no Brasil é que provavelmente voltaremos a um patamar de empreendedo- rismo em que as pessoas empreendem mais pela necessida- de, como mão de obra parada, o que tende a elevar de certa forma a taxa de amadorismo. E de lição tanto para quem já está empreendendo quanto para esses novos entrantes é que, de uma vez por todas, precisamos nos reinventar pela oportunidade – porque pela necessidade dói muito mais. É preciso ter planejamento, plano B e reserva. É preciso, indo bem ou indo mal, oxigenar as ideias, juntar o time com frequência e quebrar a cabeça para responder como pode- mos fazer nossos ou novos negócios de um jeito mais sim- ples. E, para o caso de um novo vírus nos parar no futuro, é preciso estar preparado novamente para o pior com base em três pilares de sustentação: reserva financeira, melhoria contínua de processo e reinvenção constante. Cesário Martins Diretor do meuDNA, healthtech do Grupo Mendelics e fundador da ClickBus, maior plataforma de vendas de passagens de ôni- bus do Brasil Se imprevisibilidade é a palavra que marca a chegada da pandemia, acredito que também seja a maior li-ção para o ecossistema empreendedor. Isso porque, da mesma forma que não foi possível prever a sua chega- da, hoje é impossível cravar a sua partida e tampouco o cenário que deixará quando passar. As duas únicas certezas são que vai haver algum tipo de mudança no comportamento do consumidor de forma geral e que vai se sair melhor quem se readaptar mais rápido à nova realidade. No nosso caso, e também no de outras empresas, a co- vid-19 impactou, por exemplo, a agenda de lançamento de novos produtos. O espaço de mídia e a atenção dos consumidores se voltaram para assuntos e notícias re- lacionados à pandemia, diminuindo a oportunidade de exposição para um lançamento. E precisamos nos reor- ganizar de maneira ágil para, enquanto isso, não perder a relevância. Decidimos utilizar esse tempo para con- tinuar o desenvolvimento e lançar uma solução ainda mais madura e robusta em um momento mais adequado. 3 Saúde mental no trabalho: otimizando o ROI do seu maior ativo* É inegável que a saúde mental no ambiente de trabalho será trending topic em 2020. Ansiedade, burnout e depressão viraram capa de revista (HSM Management saiu na frente, com a capa de julho de 2019), e não é por acaso. Somos o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, só ficamos atrás do Japão quando o indicador é o estresse. Por Romero Rodrigues mais estressados do mundo Brasil ocupa o segundo lugar entre os países com maior incidência de burnout na população economicamente ativa Fonte: Isma-BR Japão China Alemanha Estados Unidos70% 30% 24% 20% 17% Brasil Os problemas relacionados à saúde psicológica já constituem a segunda maior causa de incapacidade no Brasil, sendo que, em alguns setores e atividades, eles já assumiram o primeiro lugar em 2019. No entanto, por mais que diversos veículos estejam noticiando e cum- prindo seu papel de conscientizar a população, os índices de adoecimento mental não param de piorar. No universo corporativo, o adoecimento emocional afeta diretamente a lucratividade das organizações. Esses índices se configuram em prejuízo e aumento de custos, literalmente. Um estudo realizado pela London School of Economi- cs and Political Science aponta que a depressão custa às empresas brasileiras mais de R$ 300 bilhões em perda de produtividade. Estamos falando de bilhões de reais jo- mais de U$ 78 bilhões são perdidos em função da depressão Menor produti- vidade, faltas ou perturbação da capacidades cog- nitiva. Fontes: 1- Evans-Lacko, S & Kanpp, M. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol (2016); 2- Brazilian Budget - preliminary report que o orçamento brasileiro com Minas e Energia em produtividade perdida orçamento brasileiro do ministério de Minas e Energia 3x mais u$ 78 bi U$ 23,5 bi gados no lixo por não tratarmos adequadamente um pro- blema sério. É sabido que o ativo mais precioso de qualquer empre- sa é o seu colaborador. Este, quando adoecido, impacta diretamente o resultado financeiro da organização, redu- zindo a lucratividade. É isso mesmo que você quis dizer Romero? Sim, exatamente isso. Já estive na posição de CEO durante anos, e sou adep- to da psicoterapia desde 2007, quando estava à frente do Buscapé. Como investidor, acompanho a trajetória de vá- rias startups e empreendedores. Com base na minha experiência pessoal, posso afirmar que um ambiente emocionalmente saudável é mais produtivo e lucrativo. E as pesquisas estão aí para comprovar. Convido você, leitor, a refletir comigo. Quando um lí- der ou funcionário de bom desempenho se afasta, ou mesmo pede desligamento da organização, por questões emocionais, o que acontece? A empresa precisa abrir um novo processo seletivo e arcar com custos da consultoria que fará o hunting (em geral 25% do salário anual para a posição). Além disso, precisa investir em treinamento e aguardar entre 9 e 12 meses para que aquele novo inte- grante consiga passar pelo ramp up e comece a entregar resultados de forma consistente. Quanto custo financei- ro, emocional e de clima organizacional é envolvido nesse movimento? E não é só isso: não cuidar da saúde emocional tem efeito direto em outros indicadores como faltas, afasta- mentos e aumento do sinistro de saúde, em especial com custos em pronto atendimento, em que as despesas médi- cas são grandes ofensoras dos convênios médicos. Imagine a seguinte situação: um colaborador com cri- se de ansiedade começa a sentir fisicamente sinais de ta- quicardia. Ele corre para o pronto-socorro, pois acha que está à beira de um infarto, e, quando chega ao PS, a hipó- tese do médico plantonista é exatamente essa: infarto. O protocolo faz com que diversos exames sejam realizados de modo a salvar aquela vida. Após ser revirado do aves- so, o trabalhador descobre que não tem qualquer proble- ma cardíaco e que, provavelmente, aqueles eram sinais de ansiedade. Sua empregadora, porém, fica com a fatura de todos os exames e consultas feitas no cenário mais onero- so para seu contrato. Contudo, se as doenças mentais estão custando tanto aos bolsos das empresas, por que a implementação de programas de saúde psicológica e bem-estar ainda é tão lenta? Uma pesquisa realizada pela Mercer Marsh em 2019 apontou que cerca de 50% das empresas alegam falta de budget para tratar o problema. OMS e KPMG, por sua vez, já publicaram estudos comprovando um retorno sobre o investimento superior a quatro vezes para ações pre- ventivas de saúde mental. Se estamos falando de inves- timento, e não de custo, talvez esteja na hora de CEOs e CFOs colocarem a temática em pauta em suas reuniões estratégicas. É de suma importância que líderes empresariais compreendam que a intervenção em saúde psicológi- ca requer o desenvolvimento de programas abrangen- tes. Estamos falando de prevenção, diagnóstico preco- ce, estruturação de programas eficientes de qualidade de vida e bem-estar, bem como uma cobertura mais competitiva de benefícios corporativos. É preciso olhar para a saúde de forma integral, englobando desde a dis- ponibilização de psicólogos até incentivos à prática de atividadefísica e alimentação saudável. Para driblar a falta de psicólogos em cerca de 50% dos municípios brasileiros, a tecnologia chega para ajudar. Soluções que contemplam streaming de vídeo e teleconsultas ampliam o acesso para pessoas que estão em cidades menores, bem como aquelas que desejam evitar o trânsito caótico dos grandes centros. Startups como a Vittude têm auxiliado empresas como SAP, Resultados Digitais, RSI e 99 a cuidarem mais ati- vamente da saúde mental dos colaboradores. Além disso, empresas como Teladoc, Headspace e Calm seguem cres- cendo apoiadas em telemedicina e aplicativos para fun- cionários. Apostar em saídas acessíveis e escaláveis pode ser o caminho, senão a solução. Entendo ser responsabilidade do empregador criar políticas internas e estabelecer uma cultura de saúde psicológica e bem-estar, bem como práticas de diversi- dade e inclusão consistentes. É necessário oferecer recursos para que cada colaborador, individualmente, consiga ter acesso ao tratamento psicológico adequado, de forma preventiva, e não somente um canal de emergência, no qual ele só ligue nos casos em que a situação já está extremamente crítica. A conscientização da alta gestão e dos principais líderes das organizações também é de suma importância, além de ações de comunicação robustas, para que a totalidade dos colaboradores tenha ciência dos benefícios disponibi- lizados e seja educada a buscar ajuda. A grande maioria das empresas ainda tem, como prin- cipal motivador para a gestão de saúde psicológica, o cum- primento única e exclusivamente das leis trabalhistas, demonstrando baixo interesse em investir na prevenção e no tratamento adequado das doenças mentais. Infelizmente, as organizações ainda não respondem à saúde mental com a mesma paridade que o fazem em re- lação à saúde física, mesmo havendo evidências claras da eficácia e elevado retorno sobre o investimento. No entanto, tenho certeza de que esse fato pode e deve ser mudado. Saúde mental dá lucro e está na hora de vi- rar prioridade na pauta dos CEOs brasileiros. Disclosure: Vittude.com.br é uma empresa investida pela Redpoint eventures Romero Rodrigues é sócio da Redpoint eventures, fundo de Venture Capital em Startups. Anteriormente, ocupou a ca- deira de CEO Global de Comparação de Preço na Naspers. Cofundou o Buscapé Company em 1998, onde realizou mais de 15 aquisições e recebeu quatro rodadas de investidores como Great Hill Partners, Merrill Lynch e Itaú Unibanco. Romero é tam- bém membro do conselho da Endeavor Brasil e é bacharel em Engenharia Elétrica com ênfase em ciência da com- putação pela Universidade de São Paulo. * Este texto foi produzido originalmente para a coluna digital “Vida de startup”, que Romero Rodrigues mantém no site da HSM Management. Clique aqui e confira outros textos dele. 4 Um futuro sem carne? Conheça o universo das foodtechs e das proteínas alternativas Ele tem gosto, cheiro e textura de hambúrguer, mas não é um hambúrguer. A cara é de maionese, mas nenhum ovo foi usado em sua composição. E antes de rotular como “coisa de vegano”, atenção: a tecnologia de ponta chegou ao setor de alimentos e, tanto grandes empresas, como a M. Dias Branco, quanto startups conhecidas como foodtechs prometem revolucionar toda a cadeia de produção do setor. Por Heinar Maracy No dia primeiro de abril de 2019, nos Estados Unidos, uma grande rede de fast-food pregou uma peça nos clientes servindo um hambúrguer que não era de carne. O resultado: a maioria nem percebeu que não esta- va comendo um produto de origem animal. O Impossible Whopper é fruto de uma parceria do Burger King com a Impossible Foods (IF), startup que desde 2014 vem de- senvolvendo um hambúrguer baseado em vegetais. Comida sintética, proteínas alternativas, novos ingre- dientes e novos processos de produção – que incluem a impressão 3D de alimentos, uma das atrações da edição 2019 do evento South by Southwest (SXSW), de Austin, EUA – devem revolucionar a indústria de alimentos nos próximos anos. O objetivo é claro: tornar a comida indus- trializada (que é conveniente para os consumidores sem tempo) mais saudável e menos dependente de aditivos químicos, e reduzir a pegada de carbono do setor substi- tuindo a carne por insumos vegetais. Que tal um hambúrguer impossível? A Impossible Food é um bom exemplo dessa tendência. Seu ovo de Colombo foi desenvolver um produto direcio- nado não para o público vegano ou vegetariano, mas para os tradicionais carnívoros. Aqueles para quem a carne é fraca quando se trata de resistir a um bom hambúrguer, mesmo sabendo que quase 15% do efeito estufa responsá- vel pelo aquecimento global vem da agropecuária. O Impossible Burger tem cheiro e gosto de carne e até sangra quando é mordido. Isso acontece graças ao heme, uma molécula encontrada no sangue de animais. É o heme que dá à carne (e ao sangue) sua cor e seu gosto meio me- tálico. Ele existe no sangue, nos músculos e em vegetais como a soja, em proteínas muito parecidas umas com as outras. Em vez de plantar soja, os cientistas da IF encontra- ram um jeito mais barato e escalável de produzir o heme: modificaram geneticamente uma levedura para que ela o produzisse. O heme é então adicionado a uma mistura de proteínas de trigo, batata e óleo de coco para imitar a tex- tura e o aspecto de um hambúrguer de carne de boi. A empresa começou a tentar a aprovação de seu pro- duto no FDA em 2014, mas ela só chegou em julho de 2018. O crescimento da IF foi mais do que exponencial; foi estratosférico. De 40 estabelecimentos que vendiam seu Impossible Burger em 2017, eles passaram para mais de 3 mil ao redor do mundo em 2018. “Hoje você encon- tra o produto da IF em qualquer esquina de São Francis- co”, diz Barbara Minuzzi, fundadora da Babel Ventures, fundo que investe em empresas de biotecnologia. “Tem hambúrguer, macarrão à bolonhesa e, outro dia, experi- mentei um Impossible Tartar. Mas ainda é tudo restrito a um público de alto poder aquisitivo. O acordo com o Bur- ger King vai dar uma chacoalhada nesse mercado. É uma coisa que traz a proteína alternativa para todas as classes socioeconômicas.” Expansão das proteínas alternativas pelo mundo Minuzzi considera que o primeiro movimento de di- vulgação das proteínas alternativas foi quando a WeWork, gigante de escritórios de coworking, decidiu cortar a car- ne de todo seu cardápio. “Eles estão no mundo todo e só servem Impossible ou pratos veganos em seus eventos. Como atuam principalmente com um público jovem e a mensagem de sustentabilidade foi bem clara, a aprovação foi 100%.” A Babel Ventures tem US$ 30 milhões investidos em empresas de biotecnologia, o que inclui várias empresas de proteína alternativa, como Mission Barns (carne), Fin- less Foods (peixe), Shiok (frutos do mar) e Wild Earth (comida para pets baseada em fungos). Todas desenvol- vem produtos baseados na produção de proteína animal a partir de células-tronco. A produção de carne in vitro em laboratório, também chamada de agricultura celular, vem sendo pesquisada desde 2000, quando o NSR/Touro Applied BioScience Research Consortium produziu filés de peixe a partir de células de peixinhos dourados. Em 2001, a Nasa conse- guiu produzir carne de peru em laboratório a partir de células-tronco. O processo é basicamente o mesmo: cé- lulas-tronco do animal são cultivadas em um caldo nu- triente em um ambiente esterilizado. As células são esti- muladas a se agrupar e formar tecido muscular que passa por diversos processos para crescer e ser “colhido” quan- do atinge o tamanho desejado. “Estamos muito animados com esse movimento da proteína alternativa. Normalmente, você investe em uma empresa depois de estudar a viabilidade de uma ideia, analisar mercado, tudo muito teórico. Você é impulsiona- do mais pelo otimismo do que por outra coisa e no fundo sempre tem aquela ponta de desconfiança se vai mesmo dar certo. Nesse mercado, você entrano laboratório, ex- perimenta o produto e vê pratos feitos com ele sendo ser- vidos. É incrível”, explica Minuzzi. Tem atum de laboratório enganando sushiman Das startups apoiadas pela Babel, a fundadora destaca a Shiok, criada por duas cientistas de Singapura com apoio do governo local, que trabalhavam no desenvolvimento de um camarão sintético. “A evolução foi impressionan- temente rápida. Fizemos o primeiro aporte em setembro de 2018 e em março de 2019 já estávamos provando o produto.” Outro destaque é a Finless Foods, que está de- senvolvendo um atum de laboratório “capaz de enganar muito sushiman”, segundo ela. A Mission Barns deve co- meçar suas atividades com bacon de laboratório e car- ne de pato. Em seu pipeline produtivo está o desafio de produzir uma das iguarias menos ecológicas do mundo: o foie gras, patê obtido tragicamente por confinamento e hiperalimentação de patos e gansos até sua morte por hi- pertrofia lipídica. Maionese que não é maionese, preparada pelo Chef Giuseppe, que não é chef. Fundada em 2015, a chilena NotCo (The Not Com- pany) chamou a atenção do mundo quando levantou US$ 30 milhões em uma rodada de investimentos li- derada pela The Craftory, fundo com participação de Jeff Bezos. A NotCo segue um caminho da “agricultura celular” que é diferente. Ela tem entre seus fundadores um bioquímico e um cientista da computação que criaram uma mistura de in- teligência artificial com paladar humano para desenvol- ver seus produtos. Giuseppe, como se chama a inteligência artifical da NotCo, analisa moléculas de produtos como a maionese e o leite e vasculha em um banco de dados gi- gantesco de vegetais qual planta tem molécula similar. En- tão, os técnicos da empresa vão refinando a combinação. A NotCo chegou recentemente ao Brasil, em parceria com a rede Pão de Açúcar. Segundo Giuliana Vespa, gerente de operações da empresa no Brasil, a entrada aqui segue a estratégia internacional de expandir para mercados vizi- nhos. “Estamos começando a atuar simultaneamente na Argentina, onde estão nossos primeiros investidores, e no Brasil, devido a sua importância na região. Somente São Paulo é um mercado do tamanho do Chile.” O crescimento da empresa, como o das outras foodte- chs, foi espantoso. Lançada em 2017, a NotMayo [veja qua- dro abaixo] abocanhou 10% do mercado de maioneses em um ano. Como na Impossible Foods, o segredo do sucesso foi criar um produto que agradasse ao público tradicional. “No Chile, 92% de nossos consumidores não têm nenhum tipo de restrição alimentar. Os veganos, vegetarianos ou ovo-intolerantes representam apenas 8%.” A NotMayo chega ao Brasil com preço ao redor de R$ 10, categorizado por Vespa como “premium aces- sível”. Os investimentos recentes aportados à empresa servirão para dar início à próxima etapa de sua expan- são: a construção de uma nova fábrica para começar a entrada nos mercados mexicano e norte-americano. Os próximos produtos a serem lançados pela NotCo serão o NotMilk e o NotIceCream. A comida que é invisível aos olhos A Noviga é uma startup brasileira de foodtech que sur- giu da patente de um ingrediente alternativo à gordura trans, e hoje é especializada no uso de nanotecnologia na produção de alimentos. Segundo Maria Cristina Nuc- ci Mascarenhas, sua sócia-fundadora, a nanotecnologia é um dos campos mais promissores para o setor, pois per- mite encapsular ingredientes como gorduras, polissacarí- deos e aromas para liberação posterior, permitindo a me- lhoria de qualidade dos produtos, a redução de aditivos e conservantes e o aumento da produtividade. “A utilização de nanotecnologia na indústria de alimentos está atrasa- da em relação a outros setores, como o de cosméticos, por exemplo, no qual o nanoencapsulamento já é utilizado em larga escala.” Para Mascarenhas, o atraso no Brasil se deve à pouca integração entre a indústria e as universidades e startups. “Temos muitas ideias e pesquisas, mas para um ingrediente ou processo virar um produto há necessidade de testes em escala industrial. Isso só uma grande indús- tria pode fornecer.” Como diz Mascarenhas, “não basta ter uma ideia de um ingrediente ou processo novo. Para uma startup de alimentos vingar, ela precisa mostrar ao mercado um pro- duto viável, escalável e apetitoso”. Mascarenhas discorda da estratégia de rotular pro- dutos como “hambúrguer sem carne” ou “maionese sem ovo”. “Essa referência a alimentos que já existem, na minha opinião muito particular, frustra o consumi- dor e desperdiça investimentos em tornar um novo ali- mento parecido com um que já existe. É mais vantajoso criar novas categorias de alimentos. Em vez de vender um ‘leite sem lactose’ oferecer uma ‘bebida vegetal’, por exemplo.” Vespa, da NotCo, concorda em termos com Mascarenhas. “Ela tem uma certa razão. Estamos criando alimentos novos. Mas é preciso conquistar o paladar dos consumidores tradicionais. Precisamos ex- plicar que nosso leite é feito de vegetais, mas não é como um leite de amêndoas ou de coco. Ele tem gosto de leite de vaca, ele faz espuma quando colocado no café. Jo- gamos nessa categoria porque é o que o consumidor já conhece. Nosso ‘chef’ Giuseppe pode fazer muito mais do que imitar um sabor já existente. Mas acredito que essa seja uma segunda etapa. Primeiro temos que pro- var que podemos ser tão saborosos e mais saudáveis do que o produto mainstream”, diz Vespa. Seja como for, podemos estar na antevéspera de uma revolução na indústria de alimentos, na visão de Masca- renhas. “Com o microencapsulamento, a qualidade da co- mida industrializada deve dar um salto, com a possibili- dade de reduzir sal e conservantes e de melhorar o sabor dos alimentos fazendo com que liberem aromas e sabores na hora em que forem consumidos.” Falamos em antevéspera porque ainda há um cami- nho longo a percorrer. “É grande a preocupação com a saúde e os efeitos sobre o ser humano, pois são nanopar- tículas que entram em nosso corpo e ninguém sabe mui- to bem aonde vão parar. É preciso muitos estudos para uma aplicação ser liberada.” A indústria de cosméticos já tem produtos que atuam nas mais profundas cama- das da pele, porque testou. Germinando startups do tipo foodtech A Noviga foi uma das selecionadas do Germinar, programa de parceria com startups promovido pela M. Dias Branco, proprietária das marcas Piraquê e Adria, entre outras. “Tudo começou com uma visita que fize- mos ao Vale do Silício, em 2017”, conta Fernando Boc- chi, diretor de pesquisa e desenvolvimento da empresa. “Fizemos uma imersão em inovação e chegamos à con- clusão de que o caminho mais promissor para estimu- lar a inovação na empresa seria promover a colabora- ção com o ecossistema de startups.” A M. Dias Branco organizou o projeto em duas fren- tes, uma de curto prazo, para transformar startups em fornecedores visando resolver problemas e necessida- des atuais do negócio; e outra focada em novos negócios e parcerias, onde a empresa atuaria como investidora e parceira das startups. Entre as etapas de entendimento dos negócios, propos- tas de desafios, avaliações, pitches de propostas, seleção, desenvolvimento e produção de um projeto-piloto se pas- sou quase um ano. De 178 startups inscritas, 31 foram se- lecionadas para o programa e oito foram aprovadas como fornecedores e parceiras. “Foodtech no Brasil está em um estágio incipiente, mas é um mercado com alto potencial”, diz Bocchi. “Nosso maior problema é encontrar startups com patentes real- mente inovadoras.” Segundo ele, a M. Dias Branco deci- diu investir no Germinar para recuperar o espírito inova- dor que tinha quando foi fundada. “O Germinar começou como um projeto, virou um programa e agora está se in- tegrando à cultura da empresa. Na segunda edição que estamos promovendo este ano, recebemos mais de 150 sugestões e projetos de nossos funcionários, um engaja- mento sensacional.” Teremos um futuro sem carne? No Brasil, nós estamos atrasados na corrida das foodte-chs? Para Minuzzi, não. “Como a onda é muito incipiente, nossas chances são as mesmas de qualquer país. O cená- rio das startups de proteínas está muito concentrado na região de Oakland – as foodtechs são poucas e se ajudam muito. Mesmo Matias Muchnick, da NotCo, volta e meia está por aqui.” Para ela, o Brasil tem um potencial imenso para essa tecnologia, só estamos um pouco isolados. “As startups nacionais só precisam vir mais para São Francis- co e se infiltrar nesse clubinho. É uma questão de vir, se expor, conectar e aproveitar o que o Brasil tem de melhor.” Em algumas décadas, matar bichos para comer sua carne vai ser tão ofensivo quanto o canibalismo é hoje? As opiniões divergem, mesmo entre os defensores das no- vas proteínas. “Acredito que teremos escolha, mas nunca a substituição total”, diz Vespa. “Meu sócio, Ryan Bethen- court, acha que em dez anos ninguém mais vai comer car- ne”, afirma Minuzzi, uma projeção que pode deixar muito pecuarista brasileiro de cabelo em pé. Porém, ela acres- centa, Bethencourt é um ativista vegano. Uma mudança paulatina de hábitos é o cenário mais provável, na opinião da própria Minuzzi. “Em dez anos, se a agricultura celular e outras formas de comida sinté- tica alcançarem 30% do mercado, já será um sucesso gi- gantesco. Agora, em um futuro um pouco mais distante, matar animais para comer talvez venha a ser considerado uma piada que ficou para a História.” HSM Management para empreendedores Esta reportagem, produzida originalmente para a edi- ção 134 de HSM Management, foi a primeira de uma série de conteúdos sobre startups que a revista tem publi- cado. As logitechs e a disrupção na logística foram tema da edição 135, e as agritechs e a revolução no campo da 136. Em breve, outras novidades para empreendedores que desejam ir além dos cases e não abrem mão de con- teúdo profundo, com números do setor e conexão com o universo das grandes empresas. 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