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Uma produção
Empreendedorismo 
e Crise
Um terreno fértil a ser explorado
CAPÍTULOS
Ideias e reflexões para empreendedores e intraempreendedores 
sobre o lado bom dos tempos ruins
TEMPO DE 
LEITURA: 30 MIN
4
CONTEÚDO EM
O poder do menos
se com recursos e boas condições de trabalho já é difí-cil prosperar no mundo VUCA, quando eles pratica-mente desaparecem, a missão se torna praticamente 
impossível, certo? Errado. 
“Empreendedor é aquele que tira 
de onde não tem e põe onde não cabe”
É nessa frase, atribuída a Nizan Guanaes, na realidade 
de milhões de empreendedores no mundo todo e na obra 
de Scott Sonenshein que encontro apoio para minha afir-
mação. Mas, antes que me acusem de glamurizar a falta 
de investimento, peço licença para contar a você um pou-
co mais sobre o livro O poder do menos, de Sonenshein.
O autor, que foi considerado por ninguém menos que 
Jim Collins como provocativo e criador de um desconfor-
to construtivo, defende a ideia da “mentalidade elástica”, 
definida como: 
“Um conjunto de atitudes e habilidades que 
se aprende e sua origem está em uma mudança 
simples, mas poderosa: deixar de querer mais 
recursos e agir de acordo com as possibilidades 
proporcionadas pelos recursos já disponíveis”.
Na visão de Sonenshein, as pessoas que esticam os recur-
sos rotineiramente, que ele chama de esticadores, exploram 
o que podem fazer com o que têm, em vez de perguntar o 
que está faltando.
“Minha pesquisa explica como pessoas e organizações 
podem expandir seus recursos para obter grandes con-
quistas e sentirem-se realizadas – como podem tornar-se 
elásticas – seja adaptando-se a mudanças importantes, 
seja realizando rotinas diárias, seja construindo carreiras 
e vidas significativas”.
O oposto do esticador é o perseguidor, pessoa que sempre 
busca mais recursos e têm dificuldade de fugir da máxima 
“mais recursos, melhores resultados”. Segundo Sonenshein, 
essa abordagem é intuitivamente reconfortante. A relação 
parece natural: quanto mais você tem, mais pode fazer e 
melhor vai se sentir. Porém, por mais que esse sentimento 
seja sedutor, ele falha em produzir melhores resultados por-
que nos leva a procurar recursos de que não precisamos e a 
não prestar atenção ao potencial dos recursos que já temos.
Ideia explanada, eu pergunto a você: se Sonenshein ti-
vesse chamado esse indivíduo de “empreendedor” ao in-
vés de “esticador”, seria uma troca justa, não é mesmo? 
Empreendedor é um esticador por natureza. 
Trabalhar com escassez de recursos e explorar 
terrenos nunca antes percorridos fazem parte 
da mentalidade empreendedora, que este e-book 
busca exaltar.
Aqui, além de encontrar reflexões sobre os impactos 
da covid-19 no ecossistema empreendedor, você confe-
re as inovações que estão surgindo em meio ao caos e 
também histórias de startups que já se mostravam pro-
missoras antes mesmo da pandemia. Tudo isso com um 
único objetivo: inspirar você a continuar empreendendo 
ou intraempreendendo para que, juntos, sejamos a mu-
dança que queremos ver no mundo.
Gabrielle Teco
Editora-executiva da 
Revista HSM Management
Inovação para salvar vidas
Nesta entrevista, Leandro Mattos, CEO na 
CogniSigns, faculty na Singularity University 
Brazil e membro da Associação Catarinense de 
Tecnologia (Acate), conta como startups estão 
inovando para combater o coronavírus e seus 
reflexos negativos. 
Como a Covid-19 impacta o ecossistema 
empreendedor no Brasil e quais lições essa 
pandemia deve nos deixar? Empreendedores 
respondem
• Dario Neto, diretor geral do Capitalismo 
Consciente Brasil e CEO do Anga Capital
• Tatiana Pimenta, CEO e fundadora 
da Vittude
• Rafael Mendes, CEO e fundador 
da RP Trader
• Cesário Martins, diretor do meuDNA 
e fundador da ClickBus
Sumário
1
2
3
4
Saúde mental no trabalho: 
otimizando o ROI do seu maior ativo
Romero Rodrigues, sócio da 
Redpoint eventures, analisa os impactos 
das doenças mentais nas empresas 
e sugere cuidados com colaboradores
Um futuro sem carne? Conheça 
o universo das foodtechs e das 
proteínas alternativas
Reportagem de Heinar Maracy 
sobre este setor em ascensão no Brasil 
e no mundo
Sumário
1
Inovação para 
salvar vidas
 
Respiradores produzidos em impressoras 3D e 
plataforma que identifica pessoas com sintomas de 
transtornos mentais estão entre os projetos que a 
Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) vem 
encabeçando para combater os impactos negativos 
do novo coronavírus. Leandro Mattos, CEO na 
CogniSigns, faculty na Singularity University Brazil 
e membro da Acate fala sobre essas inovações e 
convoca empreendedores a adotarem uma postura de 
enfrentamento positivo neste momento crítico.
Por Gabrielle Teco
1. Como empreendedor, que há anos está desbravando o segmento de health techs no Brasil, como você enxerga este momento que 
estamos vivendo? 
Vejo este momento ímpar com um olhar histórico e cientí-
fico. Historicamente, quando estamos dentro de um fenô-
meno social, muitas vezes é difícil enxergá-lo por completo, 
entendê-lo e fazer predições. Porém, no futuro, olharemos 
para esse momento e nos questionaremos sobre como não 
tomamos decisões que então vão parecer óbvias. 
Atualmente, vivemos um fenômeno social devido à pan-
demia e isso nos “cega”. Devido à sensação de ameaça, 
deixamos nosso estado de homeostase e somos coloca-
dos em uma situação reativa conhecida como mecanismo 
“luta ou fuga”. 
Segundo Walter Bradford Cannon, quando estamos diante 
de estresse podemos reagir de três formas distintas: lutar, 
fugir ou paralisar. É possível identificar a presença forte 
dessas três reações na população em geral por conta da 
situação de estresse à qual está submetida. Como exem-
plo: alguns podem reagir lutando para gerar soluções para 
combater o vírus e suas consequências, para se proteger e 
proteger seus entes queridos. Alguns tentam fugir, fragili-
zando-se em uma clara demonstração reativa chamada de 
enfrentamento negativo. Outros simplesmente paralisam 
diante da sensação de ameaça.
Como empreendedor, vejo este momento extremo 
como um chamado. Nosso país precisa de apoio e 
nós, startups, temos que adotar o enfrentamento 
positivo, dar um passo à frente e nos colocar a 
postos para dar a nossa colaboração.
Por sua vez, se faz necessário que empresas e autoridades 
governamentais estejam abertas para analisar e adotar 
as novas soluções, inclusive dando oportunidades para as 
empresas já existentes provarem seu valor. Muitas dei-
xam de existir ou migram para outros países por falta de 
oportunidade. 
É o momento de sermos ágeis e criativos no desenvolvimen-
to e na adoção de novas soluções tecnológicas, exponenciais 
e democráticas. Chegou a hora de reforçarmos o time Brasil! 
2. Como membro da vertical de saúde da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), quais projetos estão saindo do 
papel e virando MVP, com potencial de amenizar os 
problemas causados pela Covid-19?
Devido ao momento e aos resultados apresentados, a ver-
tical de saúde da Acate, composta por diretoria, startups e 
empresas patrocinadoras, segue empenhada em gerar solu-
ções rápidas, inovadoras e aplicáveis à sociedade. De tudo 
que está sendo feito para combater o novo coronavírus e 
suas consequências negativas, destaco dois projetos:
1. Ventiladores pulmonares passíveis de fabricação 
por impressoras 3D. 
Dirigido pela startup Anestech, o projeto pode ajudar o país 
a romper barreiras de produção, financeiras e logística no 
que tange à demanda urgente por respiradores pulmonares 
em nosso país.
2. Plataforma digital preditiva que identifica e 
apoia indivíduos fragilizados. 
Encabeçado pela CogniSigns e focado em saúde mental, 
esse projeto oferece ajuda a pessoas fragilizadas pela sen-
sação reativa de fuga e que se encontram em estado de 
enfrentamento negativo, ameaçadas pelo risco de adqui-
rirem estresse, ansiedade e depressão.
O objetivo é identificar indícios de estresse, ansiedade e 
depressão, para auxiliar em ações individuais debusca por 
atendimento especializado, e criar estratégias corporativas 
educativas e preventivas para evitar o desenvolvimento de 
comportamento prejudicial em colaboradores. 
Essa plataforma encontra-se em fase de teste em uma 
respeitada corporação catarinense e, em breve, estará 
à disposição da população e das empresas, no apoio ao 
planejamento de ações preventivas que possam evitar o 
desenvolvimento de comportamentos prejudiciais e pato-
logias em seus colaboradores.
Entendemos que neste momento a atenção à saúde 
mental é fundamental não só para sobrevivermos 
a essa fase extrema, mas também para superá-la e 
retomarmos nossas vidas, nesse novo mundo que 
criaremos após a quarentena. 
Outros projetos que também possuem grande potencial 
e merecem toda nossa atenção são: sistema de monitora-
mento e acompanhamento de casos diagnosticados com 
covid-19; sistema com IOT para monitoramento de pa-
râmetros em tempo real; sistema de inteligência voltado 
para contaminação cruzada; diversas iniciativas de tele-
medicina para teleatendimento e teleconsulta; sistema de 
dados para controle de epidemias com dados coletados 
por agentes comunitários; chatbots para atendimento via 
web ou whatsaap para prevenção ou auxilio ao diagnósti-
co de covid-19, entre outros. 
3. E sobre os impactos da Covid-19 no ecossistema da ACATE, existe algum projeto para apoiar empreendedores neste 
momento de crise? 
Sim, temos uma ação colaborativa voltada para minimizar 
os impactos que a pandemia pode causar aos empreendedo-
res e empresas associadas. 
Desde que a pandemia exigiu a adoção de medidas restriti-
vas em Santa Catarina, a Acate está mobilizada e realizando 
a interlocução com os órgãos públicos. 
Para fortalecer ainda mais a união do setor, 
somando forças para que todos possam 
atravessar esse período adverso, a ACATE 
estruturou um plano de ação, dividido em sete 
eixos: Financeiro; Trabalhista; Tributário; Saúde 
mental & boas práticas; Soluções tecnológicas; 
Acesso ao mercado; e Renegociação com 
fornecedores.
Dessa forma, por força do colaborativismo, a associação de-
seja criar mecanismos de proteção não só à economia mas 
à continuidade da geração de inovação em nosso país. Essa 
ação pode inspirar outros ecossistemas, mercados, grupos de 
empresas, cidades e até governos para agirmos de forma cola-
borativa, fortalecendo as comunidades, sociedade e todos os 
indivíduos. Essa é a força do coletivo e é assim que agimos há 
décadas e colhemos resultados que são exemplos para o mun-
do, e que deu a Florianópolis o apelido de “Ilha do Silício”.
4. Sabemos que ainda é cedo para tirar conclusões, mas, pelo o que você tem observado, quais lições a Covid-19 deve 
deixar ao ecossistema brasileiro de startups? 
Para as startups, deve trazer reforço ao cooperativismo, in-
teroperabilidade entre diversos setores em prol da sociedade 
e principalmente uma grande lição: toda empresa precisará 
estar preparada para situações possíveis e imprevisíveis de 
caos eminente. 
Para a área da saúde, haverá um entendimento maior sobre 
a importância de viabilizarmos soluções tecnológicas ágeis, 
acessíveis e democráticas, com um olhar especial à teleme-
dicina em complemento ao atendimento humanizado.
Para a sociedade com um todo, solidariedade. Temos hoje 
uma grande oportunidade de refletir e nos questionar. A dor 
do distanciamento social e a perda de um sem número de vi-
das serão dois grandes professores que nos acompanharão 
por muito tempo, mas aqueles que tiverem essa percepção 
terão a chance de começar de novo, dessa vez com os olhos 
voltados para a nossa evolução e o bem-estar comum em 
nível global. É o que espero de mim, de você e de todos nós!
2
Como a Covid-19 
impacta o 
ecossistema 
empreendedor no 
Brasil e quais lições 
essa pandemia deve 
nos deixar?
Fiz essa pergunta a quatro empreendedores. Mesmo 
correndo o risco de errar, já que o momento ainda 
não nos permite chegar a grandes conclusões, 
eles toparam o desafio. Aspectos negativos, 
como desemprego ou piora na saúde mental, são 
preocupações destacadas por eles. Mas, para quem 
está acostumado a enxergar o copo meio cheio, 
as oportunidades ficam cada vez mais claras. 
É tempo de aprender e de se reinventar.
Dario Neto
Diretor geral do 
Capitalismo Consciente Brasil 
e CEO do Anga Capital
A covid-19 fez o futuro do trabalho virar presente do tra-balho. Mais do que um bom conjunto de ferramentas para viabilizar o trabalho remoto, as empresas estão 
percebendo a necessidade de mudar paradigmas de gestão 
e cultura organizacional. Quem já se ancorava em confian-
ça, autonomia e transparência certamente está enfrentna-
do o trabalho remoto com mais tranquilidade e observando 
a continuidade na boa performance do time. Esses valores 
tornam as organizações muito mais responsivas a desafios 
inesperados como este que vivemos. O ecossistema em-
preendedor definitivamente irá evoluir nessa direção e os 
que já estavam preparados em sistema de gestão e cultura 
irão despontar.
Além de novas perspectivas sobre modelos de trabalho e cul-
tura, apesar de todo o gigante impacto econômico que mul-
tiplicará o desemprego e as falências, a taxa básica de juros 
travada abaixo de 4% como forma de fomentar a economia 
tende a favorecer investimentos. Principalmente pós-pan-
demia, com a volta gradual da economia, o fluxo de capitais 
para investimentos merece atenção.
Ainda na perspectiva macroeconômica, a flutuação do câm-
bio com o dólar a máximas históricas torna o Brasil muito 
barato para investimentos estrangeiros e M&A. 
Além disso, vemos sinais claros de que a lógica 
dos negócios conscientes e do capitalismo de 
stakeholders, que já estava na pauta no mundo 
pré-pandemia, deve ganhar ainda mais relevância. 
O questionamento sobre a forma como fazemos negócios, 
investimos e vivemos está sendo ampliado e o fluxo de capi-
tais condicionados a novos requisitos de investimento, como 
propósito, impacto socioambiental positivo e orientação 
para stakeholders, devem guiar muitas das teses e visões de 
investimento pós-covid-19 no Brasil. 
Em síntese, para além dos desafios gigantes no curto prazo, 
há muitas oportunidades florescendo, como em toda crise. 
Responsividade e consciência podem ser duas tags interes-
santes para o ecossistema empreendedor pós-pandemia.
Tatiana Pimenta
CEO e fundadora da Vittude, plataforma 
que conecta pacientes a psicólogos para 
consultas em ambiente físico e virtual
O primeiro ponto é que a covid-19 chega para nos mos-trar que não temos controle sobre todas as coisas. A lição que fica é que precisamos ter flexibilidade, 
jogo de cintura e criatividade. Foco e priorização nunca 
foram tão relevantes como agora. Vamos ter que apren-
der a dizer não ou seremos atropelados pela avalanche de 
informações, lives, webinars e todas as novas demandas 
que estão surgindo. 
Precisamos estar cientes de que não vamos 
dar conta de tudo e os pratinhos vão cair. 
Se não aceitarmos isso, teremos 
sérios problemas de saúde. 
Com relação ao ecossistema, com certeza essa pandemia vai 
provocar grandes reflexões e mudanças de mindset quanto 
às relações de trabalho, à digitalização de alguns serviços e 
também ao nosso estilo de vida. Uma maior adoção do tra-
balho remoto e o uso mais consciente de recursos são refle-
xos esperados.
Na área de saúde, onde atuo, creio que teremos uma 
intensificação do teleatendimento (telehealth), 
inteligência artificial e processos mais ágeis.
Novas tecnologias surgirão, sempre há muita inovação em 
períodos de crises e guerras. Um historiador de Stanford, 
chamado Walter Scheidel, afirma que um país só realiza 
mudanças significativas após viver “grandes choques trazi-
dos por guerras, revoluções e epidemias”. 
E o legado que o novo coronavírus vai nos deixar, com 
certeza será a possibilidade de nos reinventarmos e se-
guirmos evoluindo. 
Rafael Mendes
CEO e fundador da RP Trader, startup de 
prospecção e vendas
diante de um cenário em que praticamente99% das empresas brasileiras atuam em um modelo que se espelha no que conhecemos como “tradicional”, 
com posições fixas de trabalho e imposições de horário, o 
primeiro ponto de impacto será a mudança nas relações 
de trabalho, já que a conjuntura fez com que todos preci-
sassem se reinventar não por opção, mas por regra básica 
de sobrevivência. 
Um exemplo que ilustra isso é a previsão de que depois que 
tudo isso passar cerca de 25% das pessoas possivelmente 
trabalharão até dois dias por semana no mesmo modelo apli-
cado hoje. Além disso, outro ponto que podemos presumir 
a partir de dados como a previsão de PIB e um desemprego 
que pode chegar a 40 milhões de pessoas no Brasil é que 
provavelmente voltaremos a um patamar de empreendedo-
rismo em que as pessoas empreendem mais pela necessida-
de, como mão de obra parada, o que tende a elevar de certa 
forma a taxa de amadorismo. 
E de lição tanto para quem já está empreendendo 
quanto para esses novos entrantes é que, de 
uma vez por todas, precisamos nos reinventar 
pela oportunidade – porque pela necessidade 
dói muito mais. 
É preciso ter planejamento, plano B e reserva. É preciso, 
indo bem ou indo mal, oxigenar as ideias, juntar o time com 
frequência e quebrar a cabeça para responder como pode-
mos fazer nossos ou novos negócios de um jeito mais sim-
ples. E, para o caso de um novo vírus nos parar no futuro, 
é preciso estar preparado novamente para o pior com base 
em três pilares de sustentação: reserva financeira, melhoria 
contínua de processo e reinvenção constante.
Cesário Martins
Diretor do meuDNA, healthtech do Grupo 
Mendelics e fundador da ClickBus, maior 
plataforma de vendas de passagens de ôni-
bus do Brasil
Se imprevisibilidade é a palavra que marca a chegada da pandemia, acredito que também seja a maior li-ção para o ecossistema empreendedor. Isso porque, 
da mesma forma que não foi possível prever a sua chega-
da, hoje é impossível cravar a sua partida e tampouco o 
cenário que deixará quando passar. 
As duas únicas certezas são que vai haver algum 
tipo de mudança no comportamento do consumidor 
de forma geral e que vai se sair melhor quem se 
readaptar mais rápido à nova realidade. 
No nosso caso, e também no de outras empresas, a co-
vid-19 impactou, por exemplo, a agenda de lançamento 
de novos produtos. O espaço de mídia e a atenção dos 
consumidores se voltaram para assuntos e notícias re-
lacionados à pandemia, diminuindo a oportunidade de 
exposição para um lançamento. E precisamos nos reor-
ganizar de maneira ágil para, enquanto isso, não perder 
a relevância. Decidimos utilizar esse tempo para con-
tinuar o desenvolvimento e lançar uma solução ainda 
mais madura e robusta em um momento mais adequado.
3
Saúde mental no 
trabalho: otimizando o 
ROI do seu maior ativo*
É inegável que a saúde mental no ambiente de 
trabalho será trending topic em 2020. Ansiedade, 
burnout e depressão viraram capa de revista (HSM 
Management saiu na frente, com a capa de julho 
de 2019), e não é por acaso. Somos o país mais 
ansioso do mundo e o quinto mais depressivo, de 
acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). 
Além disso, só ficamos atrás do Japão quando o 
indicador é o estresse.
Por Romero Rodrigues
mais estressados do mundo
Brasil ocupa o segundo 
lugar entre os países 
com maior incidência de 
burnout na população 
economicamente ativa
Fonte: Isma-BR
Japão
China
Alemanha
Estados Unidos70%
30%
24%
20%
17%
Brasil
Os problemas relacionados à saúde psicológica já constituem a segunda maior causa de incapacidade no Brasil, sendo que, em alguns setores e atividades, 
eles já assumiram o primeiro lugar em 2019. No entanto, 
por mais que diversos veículos estejam noticiando e cum-
prindo seu papel de conscientizar a população, os índices 
de adoecimento mental não param de piorar. 
No universo corporativo, o adoecimento emocional 
afeta diretamente a lucratividade das organizações. Esses 
índices se configuram em prejuízo e aumento de custos, 
literalmente.
Um estudo realizado pela London School of Economi-
cs and Political Science aponta que a depressão custa às 
empresas brasileiras mais de R$ 300 bilhões em perda 
de produtividade. Estamos falando de bilhões de reais jo-
mais de U$ 78 bilhões são perdidos 
em função da depressão
Menor produti-
vidade, faltas ou 
perturbação da 
capacidades cog-
nitiva.
Fontes: 1- Evans-Lacko, S & Kanpp, M. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol 
(2016); 2- Brazilian Budget - preliminary report
que o orçamento 
brasileiro com 
Minas e Energia
em produtividade
perdida
orçamento brasileiro
do ministério de
Minas e Energia
3x mais
u$ 78 bi
U$ 23,5 bi
gados no lixo por não tratarmos adequadamente um pro-
blema sério.
É sabido que o ativo mais precioso de qualquer empre-
sa é o seu colaborador. Este, quando adoecido, impacta 
diretamente o resultado financeiro da organização, redu-
zindo a lucratividade. É isso mesmo que você quis dizer 
Romero? Sim, exatamente isso.
Já estive na posição de CEO durante anos, e sou adep-
to da psicoterapia desde 2007, quando estava à frente do 
Buscapé. Como investidor, acompanho a trajetória de vá-
rias startups e empreendedores. 
Com base na minha experiência pessoal, posso 
afirmar que um ambiente emocionalmente saudável 
é mais produtivo e lucrativo. E as pesquisas estão 
aí para comprovar.
Convido você, leitor, a refletir comigo. Quando um lí-
der ou funcionário de bom desempenho se afasta, ou 
mesmo pede desligamento da organização, por questões 
emocionais, o que acontece? A empresa precisa abrir um 
novo processo seletivo e arcar com custos da consultoria 
que fará o hunting (em geral 25% do salário anual para a 
posição). Além disso, precisa investir em treinamento e 
aguardar entre 9 e 12 meses para que aquele novo inte-
grante consiga passar pelo ramp up e comece a entregar 
resultados de forma consistente. Quanto custo financei-
ro, emocional e de clima organizacional é envolvido nesse 
movimento?
E não é só isso: não cuidar da saúde emocional tem 
efeito direto em outros indicadores como faltas, afasta-
mentos e aumento do sinistro de saúde, em especial com 
custos em pronto atendimento, em que as despesas médi-
cas são grandes ofensoras dos convênios médicos.
Imagine a seguinte situação: um colaborador com cri-
se de ansiedade começa a sentir fisicamente sinais de ta-
quicardia. Ele corre para o pronto-socorro, pois acha que 
está à beira de um infarto, e, quando chega ao PS, a hipó-
tese do médico plantonista é exatamente essa: infarto. O 
protocolo faz com que diversos exames sejam realizados 
de modo a salvar aquela vida. Após ser revirado do aves-
so, o trabalhador descobre que não tem qualquer proble-
ma cardíaco e que, provavelmente, aqueles eram sinais de 
ansiedade. Sua empregadora, porém, fica com a fatura de 
todos os exames e consultas feitas no cenário mais onero-
so para seu contrato.
Contudo, se as doenças mentais estão custando 
tanto aos bolsos das empresas, por que a 
implementação de programas de saúde psicológica 
e bem-estar ainda é tão lenta?
Uma pesquisa realizada pela Mercer Marsh em 2019 
apontou que cerca de 50% das empresas alegam falta de 
budget para tratar o problema. OMS e KPMG, por sua vez, 
já publicaram estudos comprovando um retorno sobre 
o investimento superior a quatro vezes para ações pre-
ventivas de saúde mental. Se estamos falando de inves-
timento, e não de custo, talvez esteja na hora de CEOs e 
CFOs colocarem a temática em pauta em suas reuniões 
estratégicas.
É de suma importância que líderes empresariais 
compreendam que a intervenção em saúde psicológi-
ca requer o desenvolvimento de programas abrangen-
tes. Estamos falando de prevenção, diagnóstico preco-
ce, estruturação de programas eficientes de qualidade 
de vida e bem-estar, bem como uma cobertura mais 
competitiva de benefícios corporativos. É preciso olhar 
para a saúde de forma integral, englobando desde a dis-
ponibilização de psicólogos até incentivos à prática de 
atividadefísica e alimentação saudável.
Para driblar a falta de psicólogos em cerca de 50% dos 
municípios brasileiros, a tecnologia chega para ajudar. 
Soluções que contemplam streaming de vídeo e 
teleconsultas ampliam o acesso para pessoas 
que estão em cidades menores, bem como 
aquelas que desejam evitar o trânsito caótico 
dos grandes centros.
Startups como a Vittude têm auxiliado empresas como 
SAP, Resultados Digitais, RSI e 99 a cuidarem mais ati-
vamente da saúde mental dos colaboradores. Além disso, 
empresas como Teladoc, Headspace e Calm seguem cres-
cendo apoiadas em telemedicina e aplicativos para fun-
cionários. Apostar em saídas acessíveis e escaláveis pode 
ser o caminho, senão a solução.
Entendo ser responsabilidade do empregador criar 
políticas internas e estabelecer uma cultura de saúde 
psicológica e bem-estar, bem como práticas de diversi-
dade e inclusão consistentes. 
É necessário oferecer recursos para que cada 
colaborador, individualmente, consiga ter acesso 
ao tratamento psicológico adequado, de forma 
preventiva, e não somente um canal de emergência, 
no qual ele só ligue nos casos em que a situação já 
está extremamente crítica.
A conscientização da alta gestão e dos principais líderes 
das organizações também é de suma importância, além 
de ações de comunicação robustas, para que a totalidade 
dos colaboradores tenha ciência dos benefícios disponibi-
lizados e seja educada a buscar ajuda.
A grande maioria das empresas ainda tem, como prin-
cipal motivador para a gestão de saúde psicológica, o cum-
primento única e exclusivamente das leis trabalhistas, 
demonstrando baixo interesse em investir na prevenção 
e no tratamento adequado das doenças mentais.
Infelizmente, as organizações ainda não respondem à 
saúde mental com a mesma paridade que o fazem em re-
lação à saúde física, mesmo havendo evidências claras da 
eficácia e elevado retorno sobre o investimento.
No entanto, tenho certeza de que esse fato pode e deve 
ser mudado. Saúde mental dá lucro e está na hora de vi-
rar prioridade na pauta dos CEOs brasileiros.
Disclosure: Vittude.com.br é uma empresa investida 
pela Redpoint eventures
Romero Rodrigues é sócio da Redpoint 
eventures, fundo de Venture Capital em 
Startups. Anteriormente, ocupou a ca-
deira de CEO Global de Comparação de 
Preço na Naspers. Cofundou o Buscapé 
Company em 1998, onde realizou mais de 15 aquisições e 
recebeu quatro rodadas de investidores como Great Hill 
Partners, Merrill Lynch e Itaú Unibanco. Romero é tam-
bém membro do conselho da Endeavor Brasil e é bacharel 
em Engenharia Elétrica com ênfase em ciência da com-
putação pela Universidade de São Paulo.
* Este texto foi produzido originalmente para a coluna digital “Vida de startup”, que Romero 
Rodrigues mantém no site da HSM Management. Clique aqui e confira outros textos dele.
4
Um futuro sem 
carne? Conheça 
o universo das 
foodtechs e 
das proteínas 
alternativas
Ele tem gosto, cheiro e textura de hambúrguer, 
mas não é um hambúrguer. A cara é de maionese, 
mas nenhum ovo foi usado em sua composição. 
E antes de rotular como “coisa de vegano”, 
atenção: a tecnologia de ponta chegou ao setor 
de alimentos e, tanto grandes empresas, como a 
M. Dias Branco, quanto startups conhecidas como 
foodtechs prometem revolucionar toda a cadeia de 
produção do setor. 
Por Heinar Maracy
No dia primeiro de abril de 2019, nos Estados Unidos, uma grande rede de fast-food pregou uma peça nos clientes servindo um hambúrguer que não era de 
carne. O resultado: a maioria nem percebeu que não esta-
va comendo um produto de origem animal. O Impossible 
Whopper é fruto de uma parceria do Burger King com a 
Impossible Foods (IF), startup que desde 2014 vem de-
senvolvendo um hambúrguer baseado em vegetais. 
Comida sintética, proteínas alternativas, novos ingre-
dientes e novos processos de produção – que incluem a 
impressão 3D de alimentos, uma das atrações da edição 
2019 do evento South by Southwest (SXSW), de Austin, 
EUA – devem revolucionar a indústria de alimentos nos 
próximos anos. O objetivo é claro: tornar a comida indus-
trializada (que é conveniente para os consumidores sem 
tempo) mais saudável e menos dependente de aditivos 
químicos, e reduzir a pegada de carbono do setor substi-
tuindo a carne por insumos vegetais.
Que tal um hambúrguer 
impossível?
A Impossible Food é um bom exemplo dessa tendência. 
Seu ovo de Colombo foi desenvolver um produto direcio-
nado não para o público vegano ou vegetariano, mas para 
os tradicionais carnívoros. Aqueles para quem a carne é 
fraca quando se trata de resistir a um bom hambúrguer, 
mesmo sabendo que quase 15% do efeito estufa responsá-
vel pelo aquecimento global vem da agropecuária.
O Impossible Burger tem cheiro e gosto de carne e até 
sangra quando é mordido. Isso acontece graças ao heme, 
uma molécula encontrada no sangue de animais. É o heme 
que dá à carne (e ao sangue) sua cor e seu gosto meio me-
tálico. Ele existe no sangue, nos músculos e em vegetais 
como a soja, em proteínas muito parecidas umas com as 
outras. Em vez de plantar soja, os cientistas da IF encontra-
ram um jeito mais barato e escalável de produzir o heme: 
modificaram geneticamente uma levedura para que ela o 
produzisse. O heme é então adicionado a uma mistura de 
proteínas de trigo, batata e óleo de coco para imitar a tex-
tura e o aspecto de um hambúrguer de carne de boi.
A empresa começou a tentar a aprovação de seu pro-
duto no FDA em 2014, mas ela só chegou em julho de 
2018. O crescimento da IF foi mais do que exponencial; 
foi estratosférico. De 40 estabelecimentos que vendiam 
seu Impossible Burger em 2017, eles passaram para mais 
de 3 mil ao redor do mundo em 2018. “Hoje você encon-
tra o produto da IF em qualquer esquina de São Francis-
co”, diz Barbara Minuzzi, fundadora da Babel Ventures, 
fundo que investe em empresas de biotecnologia. “Tem 
hambúrguer, macarrão à bolonhesa e, outro dia, experi-
mentei um Impossible Tartar. Mas ainda é tudo restrito a 
um público de alto poder aquisitivo. O acordo com o Bur-
ger King vai dar uma chacoalhada nesse mercado. É uma 
coisa que traz a proteína alternativa para todas as classes 
socioeconômicas.”
Expansão das proteínas 
alternativas pelo mundo
Minuzzi considera que o primeiro movimento de di-
vulgação das proteínas alternativas foi quando a WeWork, 
gigante de escritórios de coworking, decidiu cortar a car-
ne de todo seu cardápio. “Eles estão no mundo todo e só 
servem Impossible ou pratos veganos em seus eventos. 
Como atuam principalmente com um público jovem e a 
mensagem de sustentabilidade foi bem clara, a aprovação 
foi 100%.”
A Babel Ventures tem US$ 30 milhões investidos em 
empresas de biotecnologia, o que inclui várias empresas 
de proteína alternativa, como Mission Barns (carne), Fin-
less Foods (peixe), Shiok (frutos do mar) e Wild Earth 
(comida para pets baseada em fungos). Todas desenvol-
vem produtos baseados na produção de proteína animal 
a partir de células-tronco. 
A produção de carne in vitro em laboratório, também 
chamada de agricultura celular, vem sendo pesquisada 
desde 2000, quando o NSR/Touro Applied BioScience 
Research Consortium produziu filés de peixe a partir de 
células de peixinhos dourados. Em 2001, a Nasa conse-
guiu produzir carne de peru em laboratório a partir de 
células-tronco. O processo é basicamente o mesmo: cé-
lulas-tronco do animal são cultivadas em um caldo nu-
triente em um ambiente esterilizado. As células são esti-
muladas a se agrupar e formar tecido muscular que passa 
por diversos processos para crescer e ser “colhido” quan-
do atinge o tamanho desejado.
“Estamos muito animados com esse movimento da 
proteína alternativa. Normalmente, você investe em uma 
empresa depois de estudar a viabilidade de uma ideia, 
analisar mercado, tudo muito teórico. Você é impulsiona-
do mais pelo otimismo do que por outra coisa e no fundo 
sempre tem aquela ponta de desconfiança se vai mesmo 
dar certo. Nesse mercado, você entrano laboratório, ex-
perimenta o produto e vê pratos feitos com ele sendo ser-
vidos. É incrível”, explica Minuzzi.
Tem atum de laboratório 
enganando sushiman
Das startups apoiadas pela Babel, a fundadora destaca 
a Shiok, criada por duas cientistas de Singapura com apoio 
do governo local, que trabalhavam no desenvolvimento 
de um camarão sintético. “A evolução foi impressionan-
temente rápida. Fizemos o primeiro aporte em setembro 
de 2018 e em março de 2019 já estávamos provando o 
produto.” Outro destaque é a Finless Foods, que está de-
senvolvendo um atum de laboratório “capaz de enganar 
muito sushiman”, segundo ela. A Mission Barns deve co-
meçar suas atividades com bacon de laboratório e car-
ne de pato. Em seu pipeline produtivo está o desafio de 
produzir uma das iguarias menos ecológicas do mundo: 
o foie gras, patê obtido tragicamente por confinamento e 
hiperalimentação de patos e gansos até sua morte por hi-
pertrofia lipídica.
Maionese que não é maionese, 
preparada pelo Chef Giuseppe, 
que não é chef.
Fundada em 2015, a chilena NotCo (The Not Com-
pany) chamou a atenção do mundo quando levantou 
US$ 30 milhões em uma rodada de investimentos li-
derada pela The Craftory, fundo com participação de 
Jeff Bezos. A NotCo segue um caminho da “agricultura 
celular” que é diferente. 
Ela tem entre seus fundadores um bioquímico e um 
cientista da computação que criaram uma mistura de in-
teligência artificial com paladar humano para desenvol-
ver seus produtos. Giuseppe, como se chama a inteligência 
artifical da NotCo, analisa moléculas de produtos como a 
maionese e o leite e vasculha em um banco de dados gi-
gantesco de vegetais qual planta tem molécula similar. En-
tão, os técnicos da empresa vão refinando a combinação. 
A NotCo chegou recentemente ao Brasil, em parceria com 
a rede Pão de Açúcar. Segundo Giuliana Vespa, gerente de 
operações da empresa no Brasil, a entrada aqui segue a 
estratégia internacional de expandir para mercados vizi-
nhos. “Estamos começando a atuar simultaneamente na 
Argentina, onde estão nossos primeiros investidores, e no 
Brasil, devido a sua importância na região. Somente São 
Paulo é um mercado do tamanho do Chile.”
O crescimento da empresa, como o das outras foodte-
chs, foi espantoso. Lançada em 2017, a NotMayo [veja qua-
dro abaixo] abocanhou 10% do mercado de maioneses em 
um ano. Como na Impossible Foods, o segredo do sucesso 
foi criar um produto que agradasse ao público tradicional. 
“No Chile, 92% de nossos consumidores não têm nenhum 
tipo de restrição alimentar. Os veganos, vegetarianos ou 
ovo-intolerantes representam apenas 8%.”
A NotMayo chega ao Brasil com preço ao redor de 
R$ 10, categorizado por Vespa como “premium aces-
sível”. Os investimentos recentes aportados à empresa 
servirão para dar início à próxima etapa de sua expan-
são: a construção de uma nova fábrica para começar a 
entrada nos mercados mexicano e norte-americano. Os 
próximos produtos a serem lançados pela NotCo serão 
o NotMilk e o NotIceCream. 
A comida que é invisível aos olhos
A Noviga é uma startup brasileira de foodtech que sur-
giu da patente de um ingrediente alternativo à gordura 
trans, e hoje é especializada no uso de nanotecnologia 
na produção de alimentos. Segundo Maria Cristina Nuc-
ci Mascarenhas, sua sócia-fundadora, a nanotecnologia é 
um dos campos mais promissores para o setor, pois per-
mite encapsular ingredientes como gorduras, polissacarí-
deos e aromas para liberação posterior, permitindo a me-
lhoria de qualidade dos produtos, a redução de aditivos e 
conservantes e o aumento da produtividade. “A utilização 
de nanotecnologia na indústria de alimentos está atrasa-
da em relação a outros setores, como o de cosméticos, por 
exemplo, no qual o nanoencapsulamento já é utilizado em 
larga escala.” Para Mascarenhas, o atraso no Brasil se deve 
à pouca integração entre a indústria e as universidades e 
startups. “Temos muitas ideias e pesquisas, mas para um 
ingrediente ou processo virar um produto há necessidade 
de testes em escala industrial. Isso só uma grande indús-
tria pode fornecer.”
Como diz Mascarenhas, “não basta ter uma ideia de 
um ingrediente ou processo novo. Para uma startup de 
alimentos vingar, ela precisa mostrar ao mercado um pro-
duto viável, escalável e apetitoso”.
Mascarenhas discorda da estratégia de rotular pro-
dutos como “hambúrguer sem carne” ou “maionese 
sem ovo”. “Essa referência a alimentos que já existem, 
na minha opinião muito particular, frustra o consumi-
dor e desperdiça investimentos em tornar um novo ali-
mento parecido com um que já existe. É mais vantajoso 
criar novas categorias de alimentos. Em vez de vender 
um ‘leite sem lactose’ oferecer uma ‘bebida vegetal’, 
por exemplo.” Vespa, da NotCo, concorda em termos 
com Mascarenhas. “Ela tem uma certa razão. Estamos 
criando alimentos novos. Mas é preciso conquistar o 
paladar dos consumidores tradicionais. Precisamos ex-
plicar que nosso leite é feito de vegetais, mas não é como 
um leite de amêndoas ou de coco. Ele tem gosto de leite 
de vaca, ele faz espuma quando colocado no café. Jo-
gamos nessa categoria porque é o que o consumidor já 
conhece. Nosso ‘chef’ Giuseppe pode fazer muito mais 
do que imitar um sabor já existente. Mas acredito que 
essa seja uma segunda etapa. Primeiro temos que pro-
var que podemos ser tão saborosos e mais saudáveis do 
que o produto mainstream”, diz Vespa.
Seja como for, podemos estar na antevéspera de uma 
revolução na indústria de alimentos, na visão de Masca-
renhas. “Com o microencapsulamento, a qualidade da co-
mida industrializada deve dar um salto, com a possibili-
dade de reduzir sal e conservantes e de melhorar o sabor 
dos alimentos fazendo com que liberem aromas e sabores 
na hora em que forem consumidos.”
Falamos em antevéspera porque ainda há um cami-
nho longo a percorrer. “É grande a preocupação com a 
saúde e os efeitos sobre o ser humano, pois são nanopar-
tículas que entram em nosso corpo e ninguém sabe mui-
to bem aonde vão parar. É preciso muitos estudos para 
uma aplicação ser liberada.” A indústria de cosméticos 
já tem produtos que atuam nas mais profundas cama-
das da pele, porque testou. 
Germinando startups 
do tipo foodtech
A Noviga foi uma das selecionadas do Germinar, 
programa de parceria com startups promovido pela M. 
Dias Branco, proprietária das marcas Piraquê e Adria, 
entre outras. “Tudo começou com uma visita que fize-
mos ao Vale do Silício, em 2017”, conta Fernando Boc-
chi, diretor de pesquisa e desenvolvimento da empresa. 
“Fizemos uma imersão em inovação e chegamos à con-
clusão de que o caminho mais promissor para estimu-
lar a inovação na empresa seria promover a colabora-
ção com o ecossistema de startups.”
A M. Dias Branco organizou o projeto em duas fren-
tes, uma de curto prazo, para transformar startups em 
fornecedores visando resolver problemas e necessida-
des atuais do negócio; e outra focada em novos negócios 
e parcerias, onde a empresa atuaria como investidora e 
parceira das startups.
Entre as etapas de entendimento dos negócios, propos-
tas de desafios, avaliações, pitches de propostas, seleção, 
desenvolvimento e produção de um projeto-piloto se pas-
sou quase um ano. De 178 startups inscritas, 31 foram se-
lecionadas para o programa e oito foram aprovadas como 
fornecedores e parceiras.
“Foodtech no Brasil está em um estágio incipiente, mas 
é um mercado com alto potencial”, diz Bocchi. “Nosso 
maior problema é encontrar startups com patentes real-
mente inovadoras.” Segundo ele, a M. Dias Branco deci-
diu investir no Germinar para recuperar o espírito inova-
dor que tinha quando foi fundada. “O Germinar começou 
como um projeto, virou um programa e agora está se in-
tegrando à cultura da empresa. Na segunda edição que 
estamos promovendo este ano, recebemos mais de 150 
sugestões e projetos de nossos funcionários, um engaja-
mento sensacional.”
Teremos um futuro sem carne?
No Brasil, nós estamos atrasados na corrida das foodte-chs? Para Minuzzi, não. “Como a onda é muito incipiente, 
nossas chances são as mesmas de qualquer país. O cená-
rio das startups de proteínas está muito concentrado na 
região de Oakland – as foodtechs são poucas e se ajudam 
muito. Mesmo Matias Muchnick, da NotCo, volta e meia 
está por aqui.” Para ela, o Brasil tem um potencial imenso 
para essa tecnologia, só estamos um pouco isolados. “As 
startups nacionais só precisam vir mais para São Francis-
co e se infiltrar nesse clubinho. É uma questão de vir, se 
expor, conectar e aproveitar o que o Brasil tem de melhor.” 
Em algumas décadas, matar bichos para comer sua 
carne vai ser tão ofensivo quanto o canibalismo é hoje? 
As opiniões divergem, mesmo entre os defensores das no-
vas proteínas. “Acredito que teremos escolha, mas nunca 
a substituição total”, diz Vespa. “Meu sócio, Ryan Bethen-
court, acha que em dez anos ninguém mais vai comer car-
ne”, afirma Minuzzi, uma projeção que pode deixar muito 
pecuarista brasileiro de cabelo em pé. Porém, ela acres-
centa, Bethencourt é um ativista vegano. 
Uma mudança paulatina de hábitos é o cenário mais 
provável, na opinião da própria Minuzzi. “Em dez anos, 
se a agricultura celular e outras formas de comida sinté-
tica alcançarem 30% do mercado, já será um sucesso gi-
gantesco. Agora, em um futuro um pouco mais distante, 
matar animais para comer talvez venha a ser considerado 
uma piada que ficou para a História.”
HSM Management para 
empreendedores
Esta reportagem, produzida originalmente para a edi-
ção 134 de HSM Management, foi a primeira de uma 
série de conteúdos sobre startups que a revista tem publi-
cado. As logitechs e a disrupção na logística foram tema 
da edição 135, e as agritechs e a revolução no campo da 
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