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O PROCESSO CIVIL MODERNO EM HOMENAGEM AO PROFESSOR RAIMUNDO CÂNDIDO JÚNIOR

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O PROCESSO CIVIL MODERNO
Em homenagem ao Professor
Raimundo Cândido Júnior
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Organizadores
Luis Cláudio da Silva Chaves
Egmar Sousa Ferraz
O PROCESSO CIVIL MODERNO
Em homenagem ao Professor
Raimundo Cândido Júnior
Brasília – DF, 2017
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© Ordem dos Advogados do Brasil
Conselho Federal, 2017
Setor de Autarquias Sul - Quadra 5, Lote 1, Bloco M
Brasília - DF
CEP: 70070-939
Distribuição: Gerência de Relações Externas - GRE
Fones: (61) 2193-9606
E-mail: oabeditora@oab.org.br
FICHA CATALOGRÁFICA
____________________________________________________________
P963
Processo civil moderno: em homenagem ao professor Raimundo
Cândido / organizador: Luis Cláudio da Silva Chaves, Egmar
Sousa Ferraz – Brasília: OAB, Conselho Federal, 2017.
364 p.
ISBN 978.85.7966.075.7
1. Processo Civil - Brasil. 2. Intimação (processo civil). 3. Processo
de execução. I. Cândido, Raimundo. II. Chaves, Luis Cláudio da
Silva. III. Ferraz, Egmar Sousa. IV. Brasil. Código de Processo Civil
(2015). V. Título.
CDDir: 341.46
CDU: 347.91/.95
____________________________________________________________
Elaborada por: Lityz Ravel Hendrix Brasil Siqueira Mendes (CRB 1-3148)
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Gestão 2016/2019
Diretoria
Claudio Lamachia Presidente
Luis Cláudio da Silva Chaves Vice-Presidente
Felipe Sarmento Cordeiro Secretário-Geral
Ibaneis Rocha Barros Junior Secretário-Geral Adjunto
Antonio Oneildo Ferreira Diretor-Tesoureiro
Conselheiros Federais
AC: Erick Venâncio Lima do Nascimento, João Paulo Setti Aguiar e Luiz Saraiva Correia; AL: Everaldo Bezerra
Patriota, Felipe Sarmento Cordeiro e iago Rodrigues de Pontes Bomm; AP: Alessandro de Jesus Uchôa de
Brito, Charlles Sales Bordalo e Helder José Freitas de Lima Ferreira; AM: Caupolican Padilha Junior, Daniel
Fábio Jacob Nogueira e José Alberto Ribeiro Simonetti Cabral; BA: Fabrício de Castro Oliveira e Fernando
Santana Rocha; CE: Caio Cesar Vieira Rocha e Ricardo Bacelar Paiva; DF: Ibaneis Rocha Barros Junior, Marcelo
Lavocat Galvão e Severino Cajazeiras; ES: Flavia Brandão Maia Perez, Luciano Rodrigues Machado e Marcus
Felipe Botelho Pereira; GO: Leon Deniz Bueno da Cruz, Marcello Terto e Silva e Valentina Jugmann Cintra;
MA: José Agenor Dourado, Luis Augusto de Miranda Guterres Filho e Roberto Charles de Menezes Dias; M T:
Duilio Piato Júnior, Gabriela Novis Neves Pereira Lima e Joaquim Felipe Spadoni; MS: Alexandre Mantovani,
Ary Raghiant Neto e Luís Cláudio Alves Pereira; MG: Eliseu Marques de Oliveira, Luis Cláudio da Silva Chaves
e Vinícius Jose Marques Gontijo; PA: Jarbas Vasconcelos do Carmo, Marcelo Augusto Teixeira de Brito Nobre
e Nelson Ribeiro de Magalhães e Souza; PB: Delosmar Domingos de Mendonça Júnior, Luiz Bruno Veloso
Lucena e Rogério Magnus Varela Gonçalves; PR: Cássio Lisandro Telles, José Lucio Glomb e Juliano José
Breda; PE: Adriana Rocha de Holanda Coutinho, Pedro Henrique Braga Reynaldo Alves e Silvio Pessoa de
Carvalho Junior; PI: Celso Barros Coelho Neto, Cláudia Paranaguá de Carvalho Drumond e Eduarda Mourão
Eduardo Pereira de Miranda; RJ: Carlos Roberto de Siqueira Castro, Luiz Gustavo Antônio Silva Bichara e
Sergio Eduardo Fisher; RN: Aurino Bernardo Giacomelli Carlos, Paulo Eduardo Pinheiro Teixeira e Sérgio
Eduardo da Costa Freire; RS: Cléa Carpi da Rocha, Marcelo Machado Bertoluci e Renato da Costa Figueira;
RO: Bruno Dias de Paula, Elton José Assis e Elton Sadi Fülber; RR: Alexandre César Dantas Soccorro, Antonio
Oneildo Ferreira e Bernardino Dias de Souza Cruz Neto; SC: João Paulo Tavares Bastos Gama, Sandra Krieger
Gonçalves e Tullo Cavallazzi Filho; SP: Guilherme Octávio Batochio, Luiz Flávio Borges D’Urso e Márcia
Machado Melaré; SE: Arnaldo de Aguiar Machado Júnior, Maurício Gentil Monteiro e Paulo Raimundo Lima
Ralin; TO: Andre Francelino de Moura, José Alves Maciel e Pedro Donizete Biazotto.
Conselheiros Federais Suplentes
AC: Odilardo José de Brito Marques, Sérgio Baptista Quintanilha e Wanderley Cesário Rosa; AL: Adrualdo de
Lima Catão, Marié Alves Miranda Pereira e Raimundo Antonio Palmeira de Araujo; AP: Lucivaldo da Silva
Costa e Maurício Silva Pereira; AM: Alberto Bezerra de Melo, Bartolomeu Ferreira de Azevedo Júnior e Diego
D’Avila Cavalcante; BA: Antonio Adonias Aguiar Bastos, Ilana Kátia Vieira Campos e José Maurício Vasconcelos
Coqueiro; CE: Francilene Gomes de Brito e Vicente Bandeira de Aquino Neto; DF: Carolina Louzada Petrarca,
Felix Angelo Palazzo e Manuel de Medeiros Dantas; ES: Cláudio de Oliveira Santos Colnago, Dalton Santos
Morais e Henrique da Cunha Tavares; GO: Dalmo Jacob do Amaral Júnior, Fernando de Paula Gomes Ferreira
e Marisvaldo Cortez Amado; MA: Antonio José Bittencourt de Albuquerque Junior, Alex Oliveira Murad e
Rosana Galvão Cabral; M T: Josemar Carmelino dos Santos, Liliana Agatha Hadad Simioni e Oswaldo Pereira
Cardoso Filho; MS: Gustavo Gottardi e Marilena Freitas Silvestre; MG: Bruno Reis de Figueiredo, Luciana
Diniz Nepomuceno e Mauricio de Oliveira Campos Júnior; PA: Antonio Cândido Barra Monteiro de Britto,
Jeferson Antonio Fernandes Bacelar e Osvaldo Jesus Serão de Aquino; PB: Alfredo Rangel Ribeiro, Edward
Johnson Gonçalves de Abrantes e Marina Motta Benevides Gadelha; PR: Edni de Andrade Arr uda, Flavio
Pansieri e Renato Cardoso de Almeida Andrade; PE: Carlos Antonio Harten Filho, Erik Limongi Sial e Gustavo
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Ramiro Costa Neto; PI: Chico Couto de Noronha Pessoa, Eduardo Faustino Lima Sá e Robertonio Santos
Pessoa; RJ: Flávio Diz Zveiter, José Roberto de Albuquerque Sampaio e Marcelo Fontes Cesar de Oliveira; RN:
Aldo Fernandes de Sousa Neto, André Luiz Pinheiro Saraiva e Eduardo Serrano da Rocha; RS: Luiz Henrique
Cabanellos Schuh; RO: Fabrício Grisi Médici Jurado, Raul Ribeiro da Fonseca Filho e Veralice Gonçalves de
Souza Veris; RR: Emerson Luis Delgado Gomes; SC: Cesar D’Avila Winckler, Luiz Antônio Palaoro e Reti
Jane Popelier; SP:Aloísio Lacerda Medeiros, Arnoldo Wald Filho e Carlos José Santos da Silva; SE: Clodoaldo
Andrade Junior, Glícia ais Salmeron de Miranda e Klebe r Ren iss on Nascim ento do s San tos ; TO: Adilar
Daltoé, Nilson Antônio Araújo dos Santos e Solano Donato Carnot Damacena.
Ex-Presidentes
1.Levi Carneiro (1933/1938) 2. Fernando de Melo Viana (1938/1944) 3. Raul Fernandes (1944/1948)
4. Augusto Pinto Lima (1948) 5. Odilon de Andrade (1948/1950) 6. Haroldo Valladão (1950/1952) 7.
AttílioViváqua (1952/1954) 8. Miguel Seabra Fagundes (1954/1956) 9. Nehemias Gueiros (1956/1958) 10.
Alcino de Paula Salazar (1958/1960) 11. José Eduardo do P. Kelly (1960/1962) 12. Carlos Povina Cavalcanti
(1962/1965) 13. emístocles M. Ferreira (1965) 14. Alberto Barreto de Melo (1965/1967) 15. Samuel Vital
Duarte (1967/1969) 16. Laudo de Almeida Camargo (1969/1971) 17. Membro Honorário Vitalício José
Cavalcanti Neves (1971/1973) 18. José Ribeiro de Castro Filho (1973/1975) 19. Caio Mário da Silva Pereira
(1975/1977) 20. Raymundo Faoro (1977/1979) 21. Membro Honorário Vitalício Eduardo Seabra Fagundes
(1979/1981) 22. Membro Honorário Vitalício J. Bernardo Cabral (1981/1983) 23. Membro Honorário
Vitalício Mário Sérgio Duarte Garcia (1983/1985) 24. Hermann Assis Baeta (1985/1987) 25. Márcio omaz
Bastos (1987/1989) 26. Ophir Filgueiras Cavalcante (1989/1991) 27. Membro Honorário Vitalício Marcello
Lavenère Machado (1991/1993) 28. Membro Honorário Vitalício José Roberto Batochio (1993/1995) 29.
Membro Honorário Vitalício Ernando Uchoa Lima (1995/1998) 30. Membro Honorário Vitalício Reginaldo
Oscar de Castro (1998/2001) 31. Rubens Approbato Machado (2001/2004) 32. Membro Honorário Vitalício
Roberto Antonio Busato (2004/2007) 33. Membro Honorário Vitalício Cezar Britto (2007/2010) 34. Membro
Honorário Vitalício Ophir Cavalcante Junior (2010/2013) 35. Membro Honorário Vitalício Marcus Vinicius
Furtado Coêlho (2013/2016).
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AGRADECIMENTO
Egmar Sousa Ferraz
Foi com grande alegria que recebi o convite do meu eterno presidente
Luis Cláudio Chaves, Vice Presidente do Conselho Federal da OAB, para con-
juntamente organizar esta obra em homenagem ao Professor Raimundo Cândido
Júnior, nosso querido “Raimundinho”.
Aceitei o convite Consciente do desao e da responsabilidade, mas convic-
to de que o contexto era extremamente favorável. Primeiro quanto ao indubitável
manancial de processualistas que Minas Gerais concentra, desde a então Escola
de Processualistas do Triângulo Mineiro. Doutro norte, nosso homenageado é
personalidade ícone da advocacia mineira que inspira em todos o ardente desejo
de homenageá-lo como reconhecimento pelo seu trabalho em prol da advocacia
e da sociedade.
Assim sendo, o projeto foi desenvolvido para contemplar pensadores dos
quatro cantos de Minas Gerais, tonando-se, portanto, uma obra plúrima na
mesma proporção do reconhecimento da Advocacia para com o Raimundinho.
Aos Autores, meu obrigado por presentear o mundo jurídico com esta
obra, fruto do estudo de cada um.
Por m, agradeço ao Egrégio Conselho Federal da OAB na pessoa do
nosso bâtonnier, Presidente Claudio Lamachia, que de pronto capitaneou a
homenagem, demonstrando que o Brasil também reconhece a importância do
Professor Raimundinho para a advocacia brasileira.
Com certeza, uma obra histórica.
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ..................................................................................... 11
COOPERAÇÃO PROCESSUAL E CONTRADITÓRIO NO NOVO
CPC . .......................................................................................................... 13
Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias
A CIDADANIA COMO LINHA MESTRA DO PROCEDIMENTO
NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL . ................................................... 27
Fernando Gonzaga Jayme e Clara Ramos Jayme
JULGAMENTO VIRTUAL E A DENSIFICAÇÃO DA
PSEUCOLEGIALIDADE ......................................................................... 45
Jéssica Galvão Chaves e Welignton Luzia Teixeira
COMO CONSTRUIR UMA INTERPRETAÇÃO GARANTISTA DO
PROCESSO JURISDICIONAL? .............................................................. 59
Lúcio Delno
A EFETIVIDADE E SUSTENTABILIDADE DO PROCESSO EM
FOCO: análise dos dados estatísticos da Justiça Comum do Estado de
Minas Gerais, no período de 2003 a 2013, e o meio ambiente .................... 77
Magno Federici Gomes e Wallace Douglas da Silva Pinto
NOVO DELINEAMENTO DA CONEXÃO ......................................... 111
Leonardo de Faria Beraldo
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS E O NOVO CPC: valorização da
advocacia . ................................................................................................. 131
Luis Cláudio da Silva Chaves
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL ....................................................................................................... 145
Carlos Henrique Soares
AS NOVAS FIGURAS DE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO
CPC/2015: incidente de desconsideração da personalidade jurídica e
amicus curiae ............................................................................................. 171
Érico Andrade e Leonardo Parentoni
AFINAL, OS MAGISTRADOS PODEM ARBITRARIAMENTE
DETERMINAR A REDUÇÃO DE PETIÇÕES? .................................... 201
Renata C. Vieira Maia
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INTIMAÇÃO DAS PARTES VIA WHATSAPP NO PROCESSO CIVIL
BRASILEIRO .......................................................................................... 217
Guilherme Henrique Lage Faria
EXECUÇÃO APÓS 01 ANO DE VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL . .......................................................................... 245
Gustavo Chalfun
PROCESSO DE EXECUÇÃO E CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
NO CPC/2015: inovações e alterações ..................................................... 249
Sebastião José Vieira Filho e Bárbara Angeli Vieira
OS PRECEDENTES JUDICIAIS NO NOVO CPC . ............................. 265
Paulo Roberto de Gouvêa Medina
O CPC/2015 E A VALORIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA COMO
FONTE DE DIREITO ............................................................................ 279
Humberto eodoro Júnior
A TENDÊNCIA DE UTILIZAÇÃO ESTRATÉGICA DO IRDR POR
LITIGANTES HABITUAIS E A NECESSIDADE DOS TRIBUNAIS
REFLETIREM SOBRE SUA COOPTAÇÃO: a proibição do incidente
preventivo e o caso SAMARCO ................................................................ 295
Dierle Nunes, Ana Luiza Pinto Coelho Marques, Isadora Tofani Gonçalves
Machado Werneck e Laura Freitas
A ADVERTÊNCIA E A MULTA COMO MEIOS INDIRETOS E
DESPROPORCIONAIS DE COIBIR O DIREITO AO RECURSO ..... 323
Carolina Fagundes Cândido Oliveira
O ART. 1.025 DO CPC/15 E A SÚMULA 211 DO STJ: a exigibilidade
do recurso especial com “fundamento especíco” como instrumento técnico
para otimizar sua admissibilidade mesmo na vigência do CPC/15 .............. 343
Bernardo Câmara
* Os artigos estão organizados conforme a estrutura do CPC.
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O PROCESSO CIVIL MODERNO
 Em homenagem ao Professor 
Raimundo Cândido Júnior
Organizadores 
Luis Cláudio da Silva Chaves
Egmar Sousa Ferraz
O PROCESSO CIVIL MODERNO
 Em homenagem ao Professor 
Raimundo Cândido Júnior
Brasília – DF, 2017
© Ordem dos Advogados do Brasil
Conselho Federal, 2017
Setor de Autarquias Sul - Quadra 5, Lote 1, Bloco M
Brasília - DF
CEP: 70070-939
Distribuição: Gerência de Relações Externas - GRE
Fones: (61) 2193-9606 
E-mail: oabeditora@oab.org.br
FICHA CATALOGRÁFICA
____________________________________________________________
P963
Processo civil moderno: em homenagem ao professor Raimundo 
Cândido / organizador: Luis Cláudio da Silva Chaves, Egmar 
Sousa Ferraz – Brasília: OAB, Conselho Federal, 2017.
364 p. 
ISBN 978.85.7966.075.7
1. Processo Civil - Brasil. 2. Intimação (processo civil). 3. Processo 
de execução. I. Cândido, Raimundo. II. Chaves, Luis Cláudio da 
Silva. III. Ferraz, Egmar Sousa. IV. Brasil. Código de Processo Civil 
(2015). V. Título.
CDDir: 341.46
CDU: 347.91/.95
____________________________________________________________
Elaborada por: Lityz Ravel Hendrix Brasil Siqueira Mendes (CRB 1-3148)
Gestão 2016/2019
Diretoria
Claudio Lamachia Presidente
Luis Cláudio da Silva Chaves Vice-Presidente
Felipe Sarmento Cordeiro Secretário-Geral
Ibaneis Rocha Barros Junior Secretário-Geral Adjunto
Antonio Oneildo Ferreira Diretor-Tesoureiro
Conselheiros Federais
AC: Erick Venâncio Lima do Nascimento, João Paulo Setti Aguiar e Luiz Saraiva Correia; AL: Everaldo Bezerra 
Patriota, Felipe Sarmento Cordeiro e Thiago Rodrigues de Pontes Bomfim; AP: Alessandro de Jesus Uchôa de 
Brito, Charlles Sales Bordalo e Helder José Freitas de Lima Ferreira; AM: Caupolican Padilha Junior, Daniel 
Fábio Jacob Nogueira e José Alberto Ribeiro Simonetti Cabral; BA: Fabrício de Castro Oliveira e Fernando 
Santana Rocha; CE: Caio Cesar Vieira Rocha e Ricardo Bacelar Paiva; DF: Ibaneis Rocha Barros Junior, Marcelo 
Lavocat Galvão e Severino Cajazeiras; ES: Flavia Brandão Maia Perez, Luciano Rodrigues Machado e Marcus 
Felipe Botelho Pereira; GO: Leon Deniz Bueno da Cruz, Marcello Terto e Silva e Valentina Jugmann Cintra; 
MA: José Agenor Dourado, Luis Augusto de Miranda Guterres Filho e Roberto Charles de Menezes Dias; MT: 
Duilio Piato Júnior, Gabriela Novis Neves Pereira Lima e Joaquim Felipe Spadoni; MS: Alexandre Mantovani, 
Ary Raghiant Neto e Luís Cláudio Alves Pereira; MG: Eliseu Marques de Oliveira, Luis Cláudio da Silva Chaves 
e Vinícius Jose Marques Gontijo; PA: Jarbas Vasconcelos do Carmo, Marcelo Augusto Teixeira de Brito Nobre 
e Nelson Ribeiro de Magalhães e Souza; PB: Delosmar Domingos de Mendonça Júnior, Luiz Bruno Veloso 
Lucena e Rogério Magnus Varela Gonçalves; PR: Cássio Lisandro Telles, José Lucio Glomb e Juliano José 
Breda; PE: Adriana Rocha de Holanda Coutinho, Pedro Henrique Braga Reynaldo Alves e Silvio Pessoa de 
Carvalho Junior; PI: Celso Barros Coelho Neto, Cláudia Paranaguá de Carvalho Drumond e Eduarda Mourão 
Eduardo Pereira de Miranda; RJ: Carlos Roberto de Siqueira Castro, Luiz Gustavo Antônio Silva Bichara e 
Sergio Eduardo Fisher; RN: Aurino Bernardo Giacomelli Carlos, Paulo Eduardo Pinheiro Teixeira e Sérgio 
Eduardo da Costa Freire; RS: Cléa Carpi da Rocha, Marcelo Machado Bertoluci e Renato da Costa Figueira; 
RO: Bruno Dias de Paula, Elton José Assis e Elton Sadi Fülber; RR: Alexandre César Dantas Soccorro, Antonio 
Oneildo Ferreira e Bernardino Dias de Souza Cruz Neto; SC: João Paulo Tavares Bastos Gama, Sandra Krieger 
Gonçalves e Tullo Cavallazzi Filho; SP: Guilherme Octávio Batochio, Luiz Flávio Borges D’Urso e Márcia 
Machado Melaré; SE: Arnaldo de Aguiar Machado Júnior, Maurício Gentil Monteiro e Paulo Raimundo Lima 
Ralin; TO: Andre Francelino de Moura, José Alves Maciel e Pedro Donizete Biazotto.
Conselheiros Federais Suplentes
AC: Odilardo José de Brito Marques, Sérgio Baptista Quintanilha e Wanderley Cesário Rosa; AL: Adrualdo de 
Lima Catão, Marié Alves Miranda Pereira e Raimundo Antonio Palmeira de Araujo; AP: Lucivaldo da Silva 
Costa e Maurício Silva Pereira; AM: Alberto Bezerra de Melo, Bartolomeu Ferreira de Azevedo Júnior e Diego 
D’Avila Cavalcante; BA: Antonio Adonias Aguiar Bastos, Ilana Kátia Vieira Campos e José Maurício Vasconcelos 
Coqueiro; CE: Francilene Gomes de Brito e Vicente Bandeira de Aquino Neto; DF: Carolina Louzada Petrarca, 
Felix Angelo Palazzo e Manuel de Medeiros Dantas; ES: Cláudio de Oliveira Santos Colnago, Dalton Santos 
Morais e Henrique da Cunha Tavares; GO: Dalmo Jacob do Amaral Júnior, Fernando de Paula Gomes Ferreira 
e Marisvaldo Cortez Amado; MA: Antonio José Bittencourt de Albuquerque Junior, Alex Oliveira Murad e 
Rosana Galvão Cabral; MT: Josemar Carmelino dos Santos, Liliana Agatha Hadad Simioni e Oswaldo Pereira 
Cardoso Filho; MS: Gustavo Gottardi e Marilena Freitas Silvestre; MG: Bruno Reis de Figueiredo, Luciana 
Diniz Nepomuceno e Mauricio de Oliveira Campos Júnior; PA: Antonio Cândido Barra Monteiro de Britto, 
Jeferson Antonio Fernandes Bacelar e Osvaldo Jesus Serão de Aquino; PB: Alfredo Rangel Ribeiro, Edward 
Johnson Gonçalves de Abrantes e Marina Motta Benevides Gadelha; PR: Edni de Andrade Arruda, Flavio 
Pansieri e Renato Cardoso de Almeida Andrade; PE: Carlos Antonio Harten Filho, Erik Limongi Sial e Gustavo 
Ramiro Costa Neto; PI: Chico Couto de Noronha Pessoa, Eduardo Faustino Lima Sá e Robertonio Santos 
Pessoa; RJ: Flávio Diz Zveiter, José Roberto de Albuquerque Sampaio e Marcelo Fontes Cesar de Oliveira; RN: 
Aldo Fernandes de Sousa Neto, André Luiz Pinheiro Saraiva e Eduardo Serrano da Rocha; RS: Luiz Henrique 
Cabanellos Schuh; RO: Fabrício Grisi Médici Jurado, Raul Ribeiro da Fonseca Filho e Veralice Gonçalves de 
Souza Veris; RR: Emerson Luis Delgado Gomes; SC: Cesar D’Avila Winckler, Luiz Antônio Palaoro e Reti 
Jane Popelier; SP:Aloísio Lacerda Medeiros, Arnoldo Wald Filho e Carlos José Santos da Silva; SE: Clodoaldo 
Andrade Junior, Glícia Thais Salmeron de Miranda e Kleber Renisson Nascimento dos Santos; TO: Adilar 
Daltoé, Nilson Antônio Araújo dos Santos e Solano Donato Carnot Damacena.
Ex-Presidentes
1.Levi Carneiro (1933/1938) 2. Fernando de Melo Viana (1938/1944) 3. Raul Fernandes (1944/1948) 
4. Augusto Pinto Lima (1948) 5. Odilon de Andrade (1948/1950) 6. Haroldo Valladão (1950/1952) 7. 
AttílioViváqua (1952/1954) 8. Miguel Seabra Fagundes (1954/1956) 9. Nehemias Gueiros (1956/1958) 10. 
Alcino de Paula Salazar (1958/1960) 11. José Eduardo do P. Kelly (1960/1962) 12. Carlos Povina Cavalcanti 
(1962/1965) 13. Themístocles M. Ferreira (1965) 14. Alberto Barreto de Melo (1965/1967) 15. Samuel Vital 
Duarte (1967/1969) 16. Laudo de Almeida Camargo (1969/1971) 17. Membro Honorário Vitalício José 
Cavalcanti Neves (1971/1973) 18. José Ribeiro de Castro Filho (1973/1975) 19. Caio Mário da Silva Pereira 
(1975/1977) 20. Raymundo Faoro (1977/1979) 21. Membro Honorário Vitalício Eduardo Seabra Fagundes 
(1979/1981) 22. Membro Honorário Vitalício J. Bernardo Cabral (1981/1983) 23. Membro Honorário 
Vitalício Mário Sérgio Duarte Garcia (1983/1985) 24. Hermann Assis Baeta (1985/1987) 25. Márcio Thomaz 
Bastos (1987/1989) 26. Ophir Filgueiras Cavalcante (1989/1991) 27. Membro Honorário Vitalício Marcello 
Lavenère Machado (1991/1993) 28. Membro Honorário Vitalício José Roberto Batochio (1993/1995) 29. 
Membro Honorário Vitalício Ernando Uchoa Lima (1995/1998) 30. Membro Honorário Vitalício Reginaldo 
Oscar de Castro (1998/2001) 31. Rubens Approbato Machado (2001/2004) 32. Membro Honorário Vitalício 
Roberto Antonio Busato (2004/2007) 33. Membro Honorário Vitalício Cezar Britto (2007/2010) 34. Membro 
Honorário Vitalício Ophir Cavalcante Junior (2010/2013) 35. Membro Honorário Vitalício Marcus Vinicius 
Furtado Coêlho (2013/2016).
AGRADECIMENTO 
Egmar Sousa Ferraz
 
Foi com grande alegria querecebi o convite do meu eterno presidente 
Luis Cláudio Chaves, Vice Presidente do Conselho Federal da OAB, para con-
juntamente organizar esta obra em homenagem ao Professor Raimundo Cândido 
Júnior, nosso querido “Raimundinho”.
Aceitei o convite Consciente do desafio e da responsabilidade, mas convic-
to de que o contexto era extremamente favorável. Primeiro quanto ao indubitável 
manancial de processualistas que Minas Gerais concentra, desde a então Escola 
de Processualistas do Triângulo Mineiro. Doutro norte, nosso homenageado é 
personalidade ícone da advocacia mineira que inspira em todos o ardente desejo 
de homenageá-lo como reconhecimento pelo seu trabalho em prol da advocacia 
e da sociedade.
Assim sendo, o projeto foi desenvolvido para contemplar pensadores dos 
quatro cantos de Minas Gerais, tonando-se, portanto, uma obra plúrima na 
mesma proporção do reconhecimento da Advocacia para com o Raimundinho.
Aos Autores, meu obrigado por presentear o mundo jurídico com esta 
obra, fruto do estudo de cada um.
Por fim, agradeço ao Egrégio Conselho Federal da OAB na pessoa do 
nosso bâtonnier, Presidente Claudio Lamachia, que de pronto capitaneou a 
homenagem, demonstrando que o Brasil também reconhece a importância do 
Professor Raimundinho para a advocacia brasileira.
Com certeza, uma obra histórica.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .....................................................................................11 
COOPERAÇÃO PROCESSUAL E CONTRADITÓRIO NO NOVO 
CPC . ..........................................................................................................13
Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias
A CIDADANIA COMO LINHA MESTRA DO PROCEDIMENTO 
NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL . ...................................................27
Fernando Gonzaga Jayme e Clara Ramos Jayme
JULGAMENTO VIRTUAL E A DENSIFICAÇÃO DA 
PSEUCOLEGIALIDADE .........................................................................45
Jéssica Galvão Chaves e Welignton Luzia Teixeira
COMO CONSTRUIR UMA INTERPRETAÇÃO GARANTISTA DO 
PROCESSO JURISDICIONAL? ..............................................................59
Lúcio Delfino
A EFETIVIDADE E SUSTENTABILIDADE DO PROCESSO EM 
FOCO: análise dos dados estatísticos da Justiça Comum do Estado de 
Minas Gerais, no período de 2003 a 2013, e o meio ambiente ....................77
Magno Federici Gomes e Wallace Douglas da Silva Pinto
NOVO DELINEAMENTO DA CONEXÃO .........................................111
Leonardo de Faria Beraldo
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS E O NOVO CPC: valorização da 
advocacia . .................................................................................................131
Luis Cláudio da Silva Chaves 
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO 
CIVIL .......................................................................................................145
Carlos Henrique Soares
AS NOVAS FIGURAS DE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO 
CPC/2015: incidente de desconsideração da personalidade jurídica e 
amicus curiae .............................................................................................171
Érico Andrade e Leonardo Parentoni 
AFINAL, OS MAGISTRADOS PODEM ARBITRARIAMENTE 
DETERMINAR A REDUÇÃO DE PETIÇÕES? ....................................201
Renata C. Vieira Maia
INTIMAÇÃO DAS PARTES VIA WHATSAPP NO PROCESSO CIVIL 
BRASILEIRO ..........................................................................................217
Guilherme Henrique Lage Faria
EXECUÇÃO APÓS 01 ANO DE VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO 
DE PROCESSO CIVIL . ..........................................................................245
Gustavo Chalfun
PROCESSO DE EXECUÇÃO E CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
NO CPC/2015: inovações e alterações .....................................................249
Sebastião José Vieira Filho e Bárbara Angeli Vieira
OS PRECEDENTES JUDICIAIS NO NOVO CPC . .............................265
Paulo Roberto de Gouvêa Medina
O CPC/2015 E A VALORIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA COMO 
FONTE DE DIREITO ............................................................................279
Humberto Theodoro Júnior
A TENDÊNCIA DE UTILIZAÇÃO ESTRATÉGICA DO IRDR POR 
LITIGANTES HABITUAIS E A NECESSIDADE DOS TRIBUNAIS 
REFLETIREM SOBRE SUA COOPTAÇÃO: a proibição do incidente 
preventivo e o caso SAMARCO ................................................................295
Dierle Nunes, Ana Luiza Pinto Coelho Marques, Isadora Tofani Gonçalves 
Machado Werneck e Laura Freitas
A ADVERTÊNCIA E A MULTA COMO MEIOS INDIRETOS E 
DESPROPORCIONAIS DE COIBIR O DIREITO AO RECURSO .....323
Carolina Fagundes Cândido Oliveira
O ART. 1.025 DO CPC/15 E A SÚMULA 211 DO STJ: a exigibilidade 
do recurso especial com “fundamento específico” como instrumento técnico 
para otimizar sua admissibilidade mesmo na vigência do CPC/15 ..............343
Bernardo Câmara
* Os artigos estão organizados conforme a estrutura do CPC.
APRESENTAÇÃO
Claudio Lamachia*
O processo civil representa, indubitavelmente, um dos temas mais relevan-
tes da literatura jurídica, devido à sua influência determinante na concretização 
de direitos. Por conseguinte, são absolutamente louváveis os esforços no sentido 
de instigar reflexões acerca do assunto, como propõe esta obra. 
Nos últimos anos, a matéria adquiriu ainda maior proeminência no Brasil, 
em decorrência da elaboração e da promulgação da Lei n. 13.105/2015 (Código 
de Processo Civil), que entrou em vigor em 2016, alterando substancialmente a 
legislação adjetiva pátria. Logo, é imprescindível examinar as inovações, a apli-
cação e as limitações do novo CPC, a fim de instruir os operadores do direito, 
garantir o pleno respeito à lei e promover novos avanços normativos.
Por essas razões, é particularmente oportuna a edição deste livro, o qual, 
ao abordar o processo civil moderno, presta, simultaneamente, justa homenagem 
a um dos mais destacados conhecedores do assunto no País: Raimundo Cândido 
Júnior. Liderança consagrada da advocacia mineira, esse insigne jurista tornou-se 
também, em virtude de suas numerosas qualidades profissionais e humanas, 
referência nacional incontestável. 
Seja como Presidente do Conselho Seccional da OAB/Minas Gerais (Ges-
tões 1993/1995, 1995/1997, 2004/2006 e 2007/2009), seja como Conselhei-
ro Federal (Gestões 1998/2001 e 2010/2013), seja como Procurador Regional 
da República, seja como Professor, seja como Advogado militante, Raimundo 
Cândido sempre se notabilizou pela devoção à ética e pelo empenho decido em 
prol da justiça, da cidadania e da advocacia – causas não apenas complementares 
mas indissociáveis.
Em vista de tudo isso, cumpre exaltar enfaticamente a iniciativa de ho-
menageá-lo por intermédio desta obra organizada por meu colega e amigo Luis 
Cláudio da Silva Chaves, Vice-Presidente do Conselho Federal da OAB, com 
quem tenho o privilégio e a honra de compartilhar a responsabilidade de defender 
e representar a advocacia nacional na Gestão 2016/2019.
Mediante esta publicação, a Ordem dos Advogados do Brasil rende tributo 
a uma das mais admiráveis personalidades jurídicas nacionais, ao tempo em que 
reafirma o seu compromisso institucional com o aperfeiçoamento da cultura 
* Advogado e Presidente Nacional da OAB
jurídica no País, em observância ao disposto no art. 44 da Lei n. 8.906/1994 
(Estatuto da Advocacia e da OAB). Dessa forma, a Instituição reitera a certeza 
de que o debate qualificado e plural é o mais eficaz instrumento para assegurar a 
promoção do interesse coletivo – cuja garantia constitui a verdadeira finalidade 
do ordenamento jurídico pátrio.
Boa leitura.
13
COOPERAÇÃO PROCESSUAL E CONTRADITÓRIO NO NOVO CPC
Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias*
SUMÁRIO: 1 Introdução. 2 A cooperação processual no direito comparado. 
3 Contraditório entrelaçado com a fundamentação das decisões jurisdicionais.4 Cooperação processual e contraditório. 5 Considerações conclusivas. 
1 INTRODUÇÃO
Como novidade, o Código de Processo Civil de 2015 emprega em seu 
texto as expressões cooperar (art. 6º.) e cooperação (arts. 26, 27 e 357, § 3º.), 
as quais não possuem tradição no estudo do direito processual no Brasil, pois 
nunca foram utilizadas nas disposições normativas dos Códigos processuais an-
teriormente vigentes, os de 1939 e de 1973.
Exame da doutrina brasileira revela que a considerada cooperação pro-
cessual mereceu estudo e menção codificada ou legislativa no direito processual 
alemão, francês, português e inglês: é ver, na Alemanha, a ZPO, § 139 (reforma 
feita pela Lei de 27/7/2001); na França, o Código de Processo Civil, art. 16; em 
Portugal, o novo Código de Processo Civil, art. 7º.; e, na Inglaterra, o texto do 
Civil Procedure Rules – Part 1 (1998).1
* Advogado. Doutor em Direito Constitucional e Mestre em Direito Civil pela UFMG. Professor Permanente 
dos Cursos de Mestrado e Doutorado da PUC Minas Gerais. Professor Convidado do Curso de Especialização 
em Processo Civil da Universidade Federal do Piauí. Membro Honorário da Associação Brasileira de Direito 
Processual. Membro Efetivo do Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Membro Aderente do Instituto 
Panamericano de Derecho Procesal. Membro do Instituto do Direito de Língua Portuguesa. Ex-Advogado 
Chefe Adjunto da Assessoria Jurídica Regional do Banco do Brasil, S. A., no Estado de Minas Gerais. Ex-
Diretor Geral da Escola Superior de Advocacia da OAB Minas Gerais. Ex-Diretor Secretário Geral-Adjunto 
da OAB Minas Gerais.
1 Ver DIDIER JR., Fredie. O princípio da cooperação: uma apresentação. Revista de Processo, São Paulo, 
v. 127, p. 75-79, set. 2005; DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil, 17. ed. Salvador: 
JusPodivm, 2015, v. 1, p. 126-128; MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, 
Daniel. Novo Curso de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015. v. 1, p. 487. GREGER, Renhard. Cooperação 
como princípio processual. In: DIDIER JR., Fredie; NUNES, Dierle; FREIRE, Alexandre. Normas 
fundamentais. Salvador: JusPodivm, 2016. (Grandes Temas do Novo CPC; 8); CUNHA, Leonardo 
Carneiro da. O princípio do contraditório e a cooperação no processo. Revista Brasileira de Direito 
Processual – RBDpro, Belo Horizonte, v. 79, p. 147-159, abr. 2012.CUNHA, Leonardo Carneiro da. 
Comentários ao art. 6º. do CPC. In: STRECK, Lenio Luiz; NUNES, Dierle; CUNHA, Leonardo Carneiro 
da (org.). Comentários do Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 41-44; KOCHEN, 
Ronaldo. Introdução às raízes históricas do princípio da cooperação (Koooperationsmaxime). In: DIDIER 
JR., Fredie; NUNES, Dierle; FREIRE, Alexandre. Normas fundamentais. Salvador: JusPodivm, 2016. 
(Grandes Temas do Novo CPC ; 8),p. 311-314;ZUFELATO, Camilo. Análise comparativa da cooperação 
e colaboração entre os sujeitos processuais nos projetos de novo CPC. In: FREIRE, Alexandre et al. Novas 
tendências do processo civil. Salvador: JusPodivm, 2013, p. 101-123. FIGUEIREDO FILHO, Eduardo 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
14
Em relação ao tema, é preciso ressaltar que o texto normativo do novo 
Código de Processo Civil, ao tratar do assunto, deveria ter sido redigido com 
melhor clareza e precisão, em linguagem que possibilitasse exata compreensão 
do seu objetivo, ao se referir à cooperação processual, preferindo o emprego 
de nomenclatura jurídica adequada, ao invés da linguagem comum ou ordinária 
ali utilizada, já que as normas processuais, em grande maioria, versam temas e 
assuntos técnicos.2
Assim, o presente trabalho tentará demonstrar que, no novo Código de 
Processo Civil, o emprego das expressões cooperar, no art. 6º., e cooperação, 
no art. 357, § 3º., desatendeu a tais ponderações, pois, em seu lugar, melhor 
andaria o Código se empregasse as palavras comparticipar e comparticipação, 
com sentido técnico mais preciso, correlacionadas à garantia fundamental do 
contraditório e adequadas à natureza dialética do processo, que é procedimento 
em contraditório, na concepção de Fazzalari, quando concebeu a teoria estru-
turalista do processo.3
 Lado outro, o presente texto estará sustentando que o termo coopera-
ção, empregado nos arts. 26 e 27 do novo Código de Processo Civil, diferente 
e acertadamente, o foi com o sentido da linguagem comum ou ordinária, qual 
seja, colaboração, auxílio ou ajuda.
2 A COOPERAÇÃO PROCESSUAL NO DIREITO COMPARADO
Em linhas gerais, pesquisa feita por Fredie Didier Jr. revela que, no di-
reito comparado, ao exame dos textos normativos das codificações processuais 
da Alemanha, França e Portugal, é preponderante o considerado princípio da 
cooperação processual, que despontou sob a cogitação de orientar o juiz a assumir 
posição de agente público-colaborador do processo, a fim de torná-lo participante 
Augusto Madruga; MOUZALAS, Rinaldo. Cooperação e vedação às decisões judiciais por emboscada 
(“ambush decision”). In: DIDIER JR., Fredie. (org.). Novo CPC: doutrina selecionada, 2. ed. Salvador: 
Juspodivm, 2016. v. 1, p. 509-510. 
2 A respeito, ver Lei Complementar nº 95, de 26/2/1998, art. 11, inciso I, alínea a; e inciso II, alínea a, que 
trata da elaboração, da sistematização, da redação e da consolidação das leis brasileiras, recomendando o 
emprego de palavras com sentido técnico na elaboração dos textos normativos. Esta Lei Complementar 
foi editada por recomendação do art. 59, parágrafo único, da Constituição Federal.
3 A propósito da teoria do processo como procedimento em contraditório, cunhada por Fazzalari, a seguinte e 
esclarecedora observação de Ulisses Moura Dalle: “A constante preocupação de Elio Fazzalari com a estrutura 
normativa do procedimento fez com que Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias, perspicazmente, denominasse a 
teoria do processualista italiano de ´teoria estruturalista do processo´. (BRÊTAS, Ronaldo de Carvalho Dias. 
Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2015, p. 91)”. 
(DALLE, Ulisses Moura. Técnica processual e imparcialidade do juiz. In: BRÊTAS, Ronaldo de Carvalho Dias; 
SOARES, Carlos Henrique (coord.). Técnica processual. Belo Horizonte: Del Rey, 2015, p. 79, nota nº 29). 
15
ativo do contraditório, em substituição a sua tradicional postura de mero fiscal 
do cumprimento das normas processuais. Assim, a obediência do magistrado 
ao considerado princípio da cooperação impõe-lhe postura que o impede ou 
dificulte declarar nulidades processuais e proferir decisões que exteriorizem juí-
zos de inadmissibilidade recursal por meros vícios formais dos recursos. Em tais 
perspectivas, a cooperação processual gera os seguintes deveres ao juiz: (a) dever 
de esclarecer; (b) dever de consultar; (c) dever de prevenir. Em síntese, o dever 
de esclarecer impõe ao juiz a tentativa de sanar eventuais dúvidas geradas pelas 
alegações, requerimentos e pedidos formulados pelas partes no processo, antes 
de decidi-lo. O dever de consultar gera proibição ao juiz de decidir o processo 
com base em fundamentos ou questões de fato ou de direito ali não alvitradas 
ou debatidas pelas partes, ainda que cognoscíveis de ofício, sem que fossem 
consultadas a respeito, instadas a se manifestar previamente sobre elas, possibili-
tando-lhes contraditório. Já o dever de prevenir traduz recomendação ao juiz de 
apontar às partes deficiências ou vícios das suas postulações comprometedoras do 
julgamento de mérito, permitindo-lhes corrigi-los, antes de decidir o processo.4 
Em relação às partes, a cooperação processual lhes proíbe litigar de má-fé, ou 
seja, incentiva-lhes a praticar atos processuais obedientes à boa-fé processual e 
atentos aos deveres da lealdade e da probidade processuais.5
A literatura jurídica especializada, segundo relato de Renhard Greger, 
informa que,na Alemanha, o sentido técnico de cooperação no processo não 
guarda a mínima relação com a ideia de colaboração harmônica e recíproca 
das partes na prática dos atos processuais que lhes cabem, vale dizer, não se 
lhes obriga um “íntimo companheirismo processual”. Deve ser compreendida 
a cooperação como a exigência de as partes adotarem comportamento tecnica-
mente adequado à discussão da solução das questões suscitadas no processo, em 
regime de participação, juntamente com o juiz. Portanto, cooperação, no direito 
processual alemão, não significa que esteja uma das partes obrigada a fornecer à 
parte adversária matéria fática ou jurídica ou a praticar atos processuais que lhe 
facilitem a vitória no processo. Lado outro, o sentido de cooperação também não 
se coaduna com a imagem de um juiz “terapeuta social”, ou seja, um juiz que, no 
curso do processo, exerça extremada atividade terapêutica ou medicinal, voltada 
a curar todos os males ou vicissitudes processuais causados pelas partes, em suas 
manifestações, as quais dificultem a solução de mérito.6
Nesse ponto, são valiosas as lições de Renato Beneduzi, decorrentes de 
4 Cf. DIDIER JR., 2005, p. 76-77.
5 Cf. DIDIER JR., 2016, p. 128.
6 Cf. GREGER, op. cit., p. 303-304.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
16
proveitoso trabalho de pesquisa que realizou no direito processual civil alemão, 
acentuando que, na Alemanha, o dever de cooperar é imposição normativa di-
rigida ao juiz, de certa forma decorrente de um princípio processual ali levado 
a sério, a pretensão a ser ouvido em juízo (Anspruch auf rechtliches Gehör): 
[...] o juízo tem também o dever, e talvez consista o pará-
grafo 139 ZPO, especialmente na sua redação atual (desde 
2002), em fonte de inspiração para o processo brasileiro, de 
cooperar com as partes. Embora controversos na doutrina 
o conceito e mesmo a utilidade de uma Kooperationsma-
xime, parece inegável que o parágrafo 139 ZPO consagra 
um verdadeiro dever de cooperar, por exemplo, quando 
a narrativa dos fatos apresentada por uma das partes for 
incompleta, contraditória, pouco clara ou equívoca, ou 
quando forem também equívocos ou confusos os pedi-
dos formulados pelo autor. Deste dever decorre ainda o 
de evitar surpresa. O parágrafo 139 (3) ZPO exige do 
tribunal, por exemplo, que alerte as partes sobre pontos 
cognoscíveis de ofício sobre os quais elas não tenham ainda 
falado, dando-lhes oportunidade de se manifestarem em 
tempo. Mas este dever não deve ser confundido com um 
“dever de conversar” (Pflicht zum Rechtsgesprüch); ao 
tribunal não se exige, com efeito, que revele às partes an-
tecipadamente suas impressões e convicções sobre a causa, 
dando-lhe oportunidade de manifestarem-se sobre como 
ele pretende julgar.7
Até na Inglaterra, vinculada ao common law, sistema jurídico no qual o juiz 
aparece tradicionalmente “[...] entronado acima das partes rivais [...]” - na enfa-
ticamente correta expressão de Renhard Greger - há recomendações normativas 
explícitas para que o magistrado e as partes colaborem entre si, visando a alcançar 
o objetivo comum de um processo justo, correto e econômico. A tal desiderato, 
ainda segundo Greger, é recomendado ao juiz inglês, nos processos considerados 
mais importantes, a tarefa “active case management conference”, pelo que se lhe 
impõe discutir e acertar com as partes o curso do processo e as questões de fato 
e de direito que nele serão decididas (Civil Procedure Rules – Part 1, de 1998).8
7 BENEDUZI, Renato. Introdução ao processo civil alemão. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 82-84.
8 GREGER, op. cit., p. 304. 
17
3 CONTRADITÓRIO ENTRELAÇADO COM A FUNDAMEN-
TAÇÃO DAS DECISÕES JURISDICIONAIS
 Na atualidade, o contraditório não significa somente ciência bilateral 
e contrariedade dos atos e termos do processo e simples ou mera possibilidade 
de as partes contrariá-los, dentro do esquema simplista de antanho, um mero 
dizer-contradizer pelas partes. Técnica e cientificamente, em concepção atual, o 
contraditório deve ser compreendido como garantia constitucional de partici-
pação efetiva das partes no desenvolvimento do processo em suas fases lógicas 
e atos, a fim de que, em igualdade de condições, possam influenciar o juiz no 
julgamento das questões de fato e de direito que surjam discutidas ao longo de 
todo o itinerário procedimental, relevantes à solução decisória almejada. Portanto, 
nessa perspectiva, no Estado Democrático de Direito, o contraditório se mostra 
de extrema relevância, pois vem a ser, no processo, a concretização do princípio 
político de participação democrática das partes na solução de quaisquer questões 
e problemas que lhes afligem e interessam, perante o Estado.9
Sem dúvida, no processo, o juiz não é um contraditor, não existindo 
livro ou doutrina que diga o contrário. Todavia, deve o juiz observar e fazer 
observar a garantia constitucional (fundamental) do contraditório, pela qual é 
assegurada a concretização do princípio político da participação das partes no 
processo, propiciando-lhes todas as possibilidades de eficazmente influenciarem 
na construção do pronunciamento decisório que ali será proferido.
Nessa linha argumentativa, como percebeu atiladamente André Cordeiro 
Leal, em obra pioneira sobre o assunto, o contraditório se apresenta correlaciona-
do com a fundamentação das decisões jurisdicionais, ao se tornar fonte geradora 
das bases argumentativas acerca das questões de fato e de direito debatidas no 
processo, que deverão ser apreciadas séria e detidamente na decisão que será 
9 Cf. BRÊTAS et al. Estudo sistemático do NCPC, 2. ed. Belo Horizonte: D’Plácido, 2016, p. 51. FREITAS, 
José Lebre de. Introdução ao processo civil. Lisboa: Coimbra, 1996, p. 96-97. GRECO, Leonardo. 
Contraditório, o princípio do (verbete). In: BARRETO, Vicente de Paulo (coord.). Dicionário de Filosofia 
do Direito. São Leopoldo ; Rio de Janeiro: Unisinos ; Renovar, 2009, p. 155. Nesse mesmo sentido, 
considerações de Eduardo Augusto Madruga de Figueiredo Filho e Rinaldo Mouzalas: “A consolidação de um 
Estado Democrático de Direito consubstancia [...] terreno ideal para a ampliação da noção de contrariedade 
e para refutar a ideia de atos repentinos e inesperados por parte de um órgão público que aplica o direito. 
Nessa conjuntura, surge a cooperação na sua faceta ‘dever de diálogo’, para atualizar e dinamizar o conceito 
do contraditório [...], de modo a injetar a previsibilidade, a participação e a influência como elementos 
essenciais desse novo rosto” (FIGUEIREDO FILHO, Eduardo Augusto Madruga; MOUZALAS, Rinaldo. 
Cooperação e vedação às decisões judiciais por emboscada (“ambush decision”). In: DIDIER JR., Fredie. 
(org.). Novo CPC: doutrina selecionada, 2. ed. Salvador: Juspodivm, 2016. v. 1, p. 507-508). 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
18
proferida pelo juiz, agente público ao qual o Estado delegou o exercício da 
função jurisdicional.10
Em face dessas considerações, como sustentei em anteriores publica-
ções doutrinárias, instaura-se na dinâmica do procedimento o que qualifico de 
quadrinômio estrutural do contraditório, qual seja, informação-reação-di-
álogo-influência, como resultado lógico-formal da correlação do princípio do 
contraditório com o princípio da fundamentação das decisões jurisdicionais, 
ambos elevados à categoria de garantias constitucionais ou garantias fundamentais 
do processo. Mencionado quadrinômio estrutural do procedimento significa 
que o efetivo contraditório (Código de Processo Civil, art. 7º.) garante regular 
informação às partes dos atos processuais e a oportunidade a cada uma delas de 
reação aos atos da parte adversa. Para que tal objetivo seja atingido, é necessário 
permanente diálogo do juiz com as partes, a fim de lhes permitir a oportunidade 
de ampla manifestaçãosobre o desenvolvimento do processo e assim exercerem 
influência no seu resultado decisório.11
Considero oportuno consignar que desenvolvi essas ideias sobre o qua-
drinômio estrutural do contraditório no Congresso da Magistratura e do 
Ministério Público de Minas Gerais sobre o novo Código de Processo Civil, 
realizado na cidade de Tiradentes, Minas Gerais, no período de 25 a 27 de no-
vembro de 2015, ao expor o tema “Normas fundamentais do processo”. Como 
resultado do evento, suas entidades organizadoras, em 10/3/2016, elaboraram 
a Carta de Tiradentes, na qual relacionados trinta e um enunciados aprovados, 
como sínteses conclusivas dos temas expostos e debatidos. Dentre eles, para 
meu gáudio, o Enunciado n. 7, do seguinte teor: “A cooperação constante do 
art. 6º. do Novo CPC deve ser entendida como coparticipação, que se liga ao 
contraditório, consistente nos princípios informação, reação, diálogo e influência 
na construção da decisão.”
Nessa linha de pensamento, as considerações de Leonardo Carneiro da 
Cunha:
[...] a participação propiciada pelo contraditório serve não 
apenas para que cada litigante possa influenciar a decisão, 
mas também para viabilizar a colaboração das partes com o 
exercício da atividade jurisdicional. Em razão do contradi-
tório, a atividade jurisdicional deve pautar-se num esquema 
10 LEAL, André Cordeiro. O contraditório e a fundamentação das decisões jurisdicionais. Belo Horizonte: 
Mandamentos, 2002, p. 105.
11 Cf. BRÊTAS, 2015, p. 133, nota nº 71. BRÊTAS et al., 2016, p. 53 et seq. 
19
dialógico, de modo que o juiz exerça a jurisdição com o 
auxílio das partes. A decisão judicial não deve ser fruto 
de um trabalho exclusivo do juiz, mas resultado de uma 
atividade conjunta, em que há interações constantes entre 
diversos sujeitos que atuam no processo. [...]. A sentença 
e, de resto, as decisões judiciais passam a ser fruto de uma 
atividade conjunta.12
4 COOPERAÇÃO PROCESSUAL E CONTRADITÓRIO
O enunciado normativo do art. 6º. do vigente Código de Processo Civil 
prescreve o dever de cooperação aos sujeitos do processo: “Todos os sujeitos 
do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, 
decisão de mérito justa e efetiva”.
Essa norma se encontra no Capítulo I, Título Único, Livro I, da Parte 
Geral do vigente Código de Processo Civil, que trata das normas fundamentais 
do processo civil, o que sinaliza estar a cooperação processual relacionada ao 
processo constitucional ou modelo constitucional do processo.
De propósito, utilizei a expressão dever de cooperação, por divergir do 
entendimento majoritário, quiçá unânime, da doutrina brasileira, no sentido 
de que cooperação seja princípio. Aliás, no direito alemão, a literatura jurídica 
especializada assinala que a ideia de cooperação como princípio ali não tem 
aceitação unânime.13 Observa-se, ademais, nos textos publicados por eminentes 
processualistas brasileiros, que a cooperação processual ora é referida como 
princípio, ora é considerada dever, mesmo por aqueles que a consideram prin-
cípio, sem rigorosa padronização terminológica.14
Na linha do raciocínio anteriormente esboçado neste trabalho (ver Intro-
dução), por primeiro, observo que semântica é ramo da linguística que estuda 
o significado das palavras. Assim, o significado ou sentido da palavra pode ser 
o comum, usualmente empregado na linguagem cotidiana, ordinária ou colo-
quial. Mas pode ser o técnico, utilizado restritamente nas chamadas linguagens 
especiais, próprias do vocabulário de determinado ramo da ciência, e que deve 
12 CUNHA, 2016, p. 42-43.
13 Cf. GREGER, 2016, p. 302. Sustentando que cooperação processual não é princípio, com relevante e ampla 
fundamentação, ver ALVES, Isabella Fonseca. A cooperação processual no novo Código de Processo 
Civil. 2016. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo 
Horizonte, 2016, f. 61 et seq.
14 Por todos, ver CUNHA, 2016, p. 41-43. 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
20
ser observado nos textos normativos.15 Cooperar, em sentido comum, não logra 
tradição na ciência do direito processual estudada em terras brasileiras, como 
afirmei, porque não guarda a mínima compatibilidade lógica com a estrutura 
dialética do processo. Logo, destituída de sentido técnico. Na linguagem comum 
ou ordinária, segundo apontam os léxicos, o conteúdo semântico da palavra 
cooperar exprime o sentido de trabalhar em comum, colaborar, auxiliar, ajudar 
e é com este significado que a expressão desponta nos enunciados normativos 
dos arts. 26 e 27 do novo Código de Processo Civil, ao tratarem da cooperação 
internacional.
Entretanto, cooperação processual não tem o anteriormente apontado sen-
tido da linguagem ordinária, quando o novo Código emprega a palavra cooperar 
no enunciado normativo do seu art. 6º. Apresso-me em justificar o que afirmo 
de há muito, com insistência.16 A rigor, o trabalho ou a atividade em comum dos 
sujeitos do processo limita-se tão somente à obtenção de um pronunciamento 
decisório no processo. Assim o é, porque o autor, sujeito parcial do processo, ao 
exercer seu direito constitucional de ação, postula solução decisória que acolha 
sua pretensão (lesão ou ameaça a direito) deduzida em juízo. O réu, outro sujeito 
parcial, reage e opõe tenaz resistência à pretensão deduzida pelo autor, exercendo 
em toda sua plenitude a garantia fundamental da ampla defesa, com todos os 
meios que lhe são possíveis, almejando decisão jurisdicional que a rejeite. É por 
isto que a principal defesa do réu, a contestação, pode ser tecnicamente chamada 
de pretensão resistida. O juiz, sujeito imparcial do processo, que representa o 
Estado no exercício da atividade jurisdicional, equidistante dos interesses das 
partes, tem como objetivo dar-lhes resposta decisória que concretize ou realize as 
normas componentes do ordenamento jurídico no caso em julgamento. A partir 
desse tenso cenário dialético, parece-me muito difícil existir a possibilidade de que 
os sujeitos do processo – juiz e partes – possam trabalhar em comum, plenamente 
15 Atualmente, o assunto se insere na temática da chamada comunicação normativa, que, ao contrário 
do desejável, não desperta muito a atenção dos estudiosos do direito. A respeito, as lições oportunas de 
Emerson Garcia: “A linguagem jurídica, analisada sob a ótica dos signos linguísticos utilizados, costuma ser 
caracterizada por um arquétipo básico, que se reflete no emprego de (1) termos técnicos, com significados 
puramente técnicos; (2) termos técnicos com significados comuns; (3) termos ordinários com significados 
comuns; (4) termos ordinários com significados incomuns ou técnicos; (5) termos de origem estrangeira, 
especialmente latina; e (6) termos técnicos ou ordinários, vagos ou ambíguos, daí decorrendo uma polissemia 
interna (significados distintos na própria linguagem jurídica) ou uma polissemia externa (um significado na 
linguagem ordinária e outro na linguagem jurídica), o que aumenta o risco de interferências no processo de 
comunicação. Não é por outra razão que, na atualidade, a linguagem estritamente jurídica, pelas barreiras 
que cria, não tem se mostrado um meio totalmente eficaz à veiculação dos conteúdos jurídicos. Distanciar-se 
do egocentrismo e aproximar-se do conhecimento mútuo é o grande desafio a ser enfrentado tanto pelas 
autoridades responsáveis pela elaboração dos textos normativos, como pelo intérprete, aumentando, com 
isso, as chances de sucesso no processo de comunicação normativa”. (GARCIA, Emerson. ALVES, Rogério 
Pacheco. Improbidade administrativa, 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 181-182). 
16 Ver BRÊTAS, 2015, p. 233.
21
acordados, acertados, unidos, de mãos dadas, colaborando gentilmente uns com 
os outros ou se auxiliando fraternal, carinhosa emutuamente, em todos os atos 
e fases processuais, rumo à decisão final de mérito. Enfim, como bem adverte 
Renhard Greger, o dever de cooperação não obriga que os sujeitos processuais 
“[...] devam resolver o [...] processo [...] em íntimo companheirismo”.17
No assunto, portanto, precisas são as lições de Leonardo Carneiro da 
Cunha, em comentários ao enunciado normativo do art. 6º., do novo Código 
de Processo Civil: 
Cooperar entre si não é unir-se à parte contrária, ajudá-la, 
mostrar-lhe simpatia, contribuir para sua atuação. Não se 
está diante de um compadrio ou de uma reunião de ami-
gos. O termo cooperar pode causar essa falsa impressão. É 
por isso que há quem critique a cooperação no processo, 
afirmando ser uma utopia, um surrealismo ou uma inge-
nuidade”, pois não se deve pensar, imaginar ou supor “que 
o processo é um alegre passeio de jardim que as partes dão 
de mãos dadas, na companhia do juiz.18
A partir dessas considerações, o normatizado dever de cooperação, como 
prescreve o enunciado do art. 6º. do Código de Processo Civil, deve ser tecni-
camente entendido e seguido no processo como comparticipação dos sujeitos 
processuais. Em outras palavras, os sujeitos do processo devem praticar os atos 
processuais que lhes tocam em regime de comparticipação, concretizada pelo 
efetivo contraditório (art. 7º.), seu elemento normativo estruturador, na medida 
em que o contraditório se entrelaça com a fundamentação da decisão jurisdicio-
nal. É justamente este amálgama técnico-procedimental que permite às partes 
exercer influência junto ao juiz, em atividade processual compartilhada, a fim de 
que o pronunciamento decisório final desponte construído em conjunto pelos 
sujeitos do processo.
Por consequência, no Estado Democrático de Direito brasileiro, é essa 
forma de estruturação procedimental que legitima o conteúdo das decisões juris-
dicionais proferidas no processo, como resultado da comparticipação (sentido 
técnico de cooperação) dos sujeitos processuais – juiz (agente público julgador 
que exerce a jurisdição, por delegação do Estado) e partes contraditoras (autor e 
réu) – cada uma delas buscando subordinar o interesse da parte contrária ao seu 
17 GREGER, 2016, p. 303.
18 CUNHA, 2016, p. 42. 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
22
próprio e assim fiquem implementados os direitos e garantias fundamentais (cons-
titucionais) assegurados aos destinatários da decisão jurisdicional a ser proferida.
Daí considerar Leonardo Carneiro da Cunha que o
[...] princípio da cooperação tem base constitucional, sendo 
extraído da cláusula geral do devido processo legal, bem 
como do princípio do contraditório”. E conclui referido 
autor: “Se o contraditório exige participação e, mais espe-
cificamente, uma soma de esforços para melhor solução 
da disputa judicial, o processo realiza-se mediante uma 
atividade de sujeitos em cooperação.19
Não discrepa desse entendimento Lúcio Delfino, quando afirma: 
[...] na seara processual, é dever do juiz – dever de consulta 
– proveniente do princípio da colaboração – assegurar às 
partes a participação delas (=contraditório), de maneira 
ativa e direta, na criação da norma jurídica pacificadora – 
expressão do poder estatal – a qual instala a jurisdição.20
 
O processo deve desenvolver-se em forma tal que propicie adequada e 
efetiva participação dos seus sujeitos (juiz e partes) em todos os seus atos e fases. 
Daí acentuarem Marinoni, Arenhart e Mitidiero: 
[...] um procedimento que não permite a efetiva participa-
ção das partes não tem qualquer condição de legitimar o 
exercício da jurisdição e a realização de seus fins”, pois isto 
significa, “um procedimento incapaz de atender ao direito 
de participação daqueles que são atingidos pelos efeitos 
da decisão, [...] longe de espelhar a ideia de democracia, 
pressuposto indispensável a legitimidade do poder.21
 
Portanto, cooperação processual traduz a ideia básica de promover e in-
centivar a participação das partes em todos os atos e fases do procedimento e o 
adequado diálogo que o juiz (agente público decisor) deverá manter com elas, 
19 CUNHA, 2012, p. 153. Sobre o devido processo legal, pilar do processo constitucional, ver BRÊTAS et 
al., 2016, p. 45-49.
20 DELFINO, Lúcio. Direito processual civil: artigos e pareceres. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 39-40.
21 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo 
Civil. São Paulo: RT, 2015. v. 1, p. 487.
23
dentro da concepção estrutural quadripartite do moderno contraditório que sus-
tento seja necessário existir, qual seja, informação-reação-diálogo-influência.22
Atualmente, a ideia de participação no processo é tão preponderante na 
dinâmica do contraditório, que alguns autores chegam a propor a substituição 
da expressão contraditório pela palavra participação, como integrante do enun-
ciado principiológico do devido processo legal, como já ocorre em ordenamentos 
jurídicos estrangeiros.
 Nesse sentido, as considerações de Edilson Vitorelli: 
A literalidade da palavra ‘contraditório’ se tornou pequena 
para abarcar o que a garantia hoje a representa. O conteúdo 
do princípio, tal como atualmente delimitado, pouco se 
relaciona com o sentido linguístico da palavra. Os autores, 
no intuito de conservar uma locução tradicional, perverte-
ram seu significado. Aludir ao contraditório como garantia 
máxima do processo não sinaliza a compreensão que se 
pretende estabelecer, uma vez que, mais importante que 
contradizer é a oportunidade de participar da construção 
de uma decisão justa, em conjunto com os demais atores 
processuais. Por essa razão, em vez de pretender estender 
a expressão ´contraditório´ para abarcar toda a realidade 
do processo, melhor seria, como nos Estados Unidos, se 
referir, em caráter geral, ao devido processo legal, como 
garantia matriz do processo, cujo cerne é o direito de par-
ticipação significativa, inclusive, mas não necessariamente, 
em contraditório. Isso daria às expressões um sentido mais 
aderente à linguagem corrente. Participação, portanto, e 
não contraditório, é o cerne do devido processo legal.23
De forma coerente, no texto normativo do novo Código de Processo Civil 
(art. 357), há recomendação expressa para que o juiz, conjuntamente com as 
partes, em decisão de saneamento e organização do processo, resolva questões 
processuais pendentes, delimite questões de fato e de direito e defina a distribuição 
do ônus da prova, e assim deverá fazê-lo sob designação de audiência com tal 
objetivo, se as questões de fato e de direito (=questões de mérito) discutidas no 
caso concreto se mostrarem complexas.24
22 Ver BRÊTAS et al., 2016, p. 53-54.
23 VITORELLI, Edilson. O devido processo legal coletivo. São Paulo: RT, 2016. (O Novo Processo Civil), 
p. 155-156.
24 Cf. BRÊTAS et al., 2016, p. 108-110.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
24
Ora, em face de todas as considerações até agora expendidas, em confor-
midade com o devido processo constitucional,25 levando-se em conta o apontado 
quadrinômio estrutural do contraditório que se instala na estrutura dinâmica 
do procedimento – informação, reação, diálogo, influência- percebe-se que o 
juiz não poderá proferir a decisão de saneamento e de organização do processo 
de forma solipsista, ou seja, sem a participação das partes, menosprezando o 
efetivo contraditório que lhes deve ser assegurado.
Muito pelo contrário, seguindo as normas fundamentais processuais dos 
arts. 6º. e 7º. do vigente Código de Processo Civil, para sanear e organizar o pro-
cesso, deverá o juiz ouvir as partes, em contraditório, com elas dialogando, assim 
preservando e concretizando o cogitado regime de cooperação (=comparticipa-
ção), que deve ser observado entre os sujeitosdo processo, no desenvolvimento, 
na organização e no resultado decisório do processo, tal como recomendado nas 
normas do art. 357, § 3º., do mesmo Código. 
 
5 CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS
Do exposto, como resultado das pesquisas realizadas, posso concluí-las, 
em síntese, com as afirmativas que se seguem: 
1ª.) - A cooperação recomendada aos sujeitos do processo, no enunciado 
do art. 6º., do Código de Processo Civil, significa comparticipação, pois rela-
cionada está com a observância do efetivo contraditório imposta no art. 7º., 
do mesmo Código, princípio-garantia integrante da norma fundamental do 
processo explicitada no enunciado do devido processo legal, viga-mestra do 
processo constitucional.
2ª.) - A cooperação dos sujeitos processuais entre si, como enunciado no 
Código de Processo Civil (art. 6º.), não significa companheirismo entre os sujeitos 
do processo.
3ª.) - Tecnicamente, cooperação processual deve ser entendida como possi-
bilidade concreta de as partes exercerem influência junto ao juiz na construção 
do pronunciamento decisório de mérito almejado no processo, pelo que o juiz, 
em contrapartida, deverá ter postura receptiva a tanto, mantendo permanente 
diálogo com as partes, em todas as fases lógicas do procedimento, a fim de lhes 
assegurar a garantia fundamental do contraditório.
4ª.) - Como relatório do Congresso da Magistratura e do Ministério Pú-
blico de Minas Gerais sobre o novo Código de Processo Civil, realizado de 25 a 
27 de novembro de 2015, na cidade de Tiradentes, Minas Gerais, foi elaborada 
25 Cf. Ibid., p. 43-45.
25
a Carta de Tiradentes, em 10/2/2016, com trinta e um enunciados aprovados 
em decorrência dos temas ali expostos e debatidos, apresentando o Enunciado 
n. 7 o seguinte teor: “A cooperação constante do art. 6º. do novo CPC deve ser 
entendida como coparticipação, que se liga ao contraditório, consistente nos 
princípios informação, reação, diálogo e influência na construção da decisão.” 
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27
A CIDADANIA COMO LINHA MESTRA DO PROCEDIMENTO 
NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
Fernando Gonzaga Jayme*
Clara Ramos Jayme*
1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
É necessário, em primeiro lugar, salientar a imensa honra que é participar 
desta obra em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior, baluarte e 
líder da advocacia, mestre de gerações de juristas cujas lições capacitaram-nos 
ao exercício profissional pautado na ética e na alteridade. Justa e merecida ho-
menagem.
O Estado Democrático de Direito convive com o conflito, mas não tolera 
o ilícito, de modo que o devido processo legal propicia ao Estado, por intermédio 
da jurisdição, reparar a lesão ou fazer cessar a ameaça a direito. O exercício da 
função jurisdicional é, assim, um dos meios pelos quais se concretiza o princípio 
da segurança jurídica, basilar à democracia.
O conteúdo do provimento jurisdicional dependerá, entretanto, da obser-
vância do devido processo legal, ou seja, do atendimento das normas de direito 
processual que possibilitam a instauração e desenvolvimento de um processo 
válido. 
Somente se o processo estiver imaculado é que o juiz poderá prover sobre 
o mérito da situação jurídica controvertida, cujo teor dependerá da demonstração 
dos fatos constitutivos do direito alegado e da inexistência de prova de quaisquer 
fatos desconstitutivos, extintivos ou modificativos desse direito.
A proteção dos direitos outorgados pelo ordenamento jurídico, portanto, 
pode ser compreendida como a teleologia da democracia. O devido processo 
legal, a seu turno, é o meio legítimo para proteger os indivíduos contra incursões 
ilícitas no seu patrimônio jurídico. Com efeito, democracia e processo entrela-
çam-se umbilicalmente: aprimorar o devido processo legal é contribuir para o 
aperfeiçoamento do regime democrático. 
* Advogado, Mestre e Doutor pela UFMG. Professor Associado de Direito Processual Civil e Diretor da 
Faculdade de Direito da UFMG. Membro do CONEDH – Conselho Estadual de Defesa dos Direitos 
Humanos. Associado ao Instituto os Advogados de Minas Gerais. Membro do Instituto de Direito Processual 
– IDPRO. Membro do Conselho Técnico-Científico do Parque Tecnológico BHTEC. Conselheiro Seccional 
da OAB/MG.
* Bacharel em Direito pela PUC Minas. Mediadora extrajudicial de conflitos.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
28
O Código de Processo Civil de 2015, ao modernizar a técnica proces-
sual harmonizando-a com os princípios e valores constitucionais democráticos, 
transformou o processo em poderoso instrumento para possibilitara promoção 
da justiça social e da dignidade humana, nos exatos termos preconizados no 
preâmbulo da Constituição da República, ou seja, um Estado “destinado a as-
segurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o 
bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos 
de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia 
social e comprometida [...] com a solução pacífica das controvérsias”. 
A democratização do processo civil tem como consequência positiva a 
transferência do protagonismo do juiz para as partes. Com efeito, essa mudança 
do epicentro da resolução do conflito, transferindo-o para a cidadania, reconhece 
a aptidão e valoriza a autonomia dos indivíduos para solucioná-lo, realçando, 
com isso, nossa dignidade.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, ao explicitar que nossa 
humanidade decorre do fato de sermos dotados de razão e consciência, permite 
inferir que os seres humanos são livres e responsáveis. Com efeito, o reconheci-
mento da liberdade e responsabilidade implica, também, no reconhecimento da 
presença dos atributos imprescindíveis para a construção autônoma e dialógica 
da solução adequada dos conflitos. Seres humanos iguais, livres, racionais e 
autônomos assumem o controle de suas vidas, constituindo-se uma sociedade 
de cidadãos emancipados. 
Nesse aspecto, o devido processo legal se projeta como garantia funda-
mental, na medida em que possibilita ao cidadão repousar tranquilo, seguro 
quanto à garantia de seus direitos.
O CPC/2015 concede a oportunidade para se promover profunda ruptura 
com a ordem jurídica processual pretérita. As mudanças trazidas com o Código de 
Processo Civil não se resumem à formalidade procedimental, mas transformam 
o âmago da filosofia do processo.
O procedimento disciplinado no CPC/2015 pauta-se na lógica da solução 
do conflito. A flexibilização da forma do procedimento, passível de adaptação 
às exigências do caso concreto em conformidade com o direito material reivin-
dicado em juízo, bem como a valorização do contraditório e o estímulo à busca 
da solução consensual demonstram o comprometimento do processo civil com 
a construção da melhor solução possível. 
Inolvidável a garantia de duração razoável do processo como meta inerente 
a qualquer sistema jurídico, haja vista que há mais de um século, o presidente 
dos EUA, Howard Taft assentou:
29
Pode ser afirmado, como uma proposição geral, que o que 
tende a prolongar ou demorar o processo é uma grande 
vantagem para o litigante que tem a maior bolsa. O indiví-
duo que tem envolvido no litígio tudo o que possui é muito 
prejudicado em uma luta judiciária com um contendor 
apto, pelos seus recursos, a prolongar a lide e, portanto, 
a manter, pelo maior espaço de tempo possível, o outro 
litigante privado daquilo que realmente lhe pertence1. 
Há, portanto, uma profunda ruptura com o paradigma anterior, que se 
pautava em um procedimento intensificador da litigiosidade endoprocessual, 
na medida em que os espaços dialógicos eram reduzidos, a participação das 
partes relegada a plano secundário e os poderes do juiz eram exacerbados, em 
um ambiente de pouco ou nenhum compromisso das partes com a efetividade 
do processo. A necessidade de reconhecimento da autonomia teórica do direi-
to processual civil exagerou e chegou a tal ponto que, no Código revogado, o 
processo representava fim em si mesmo. Não raras vezes, a realização do direito 
material cedeu espaço para questões processuais prejudiciais do mérito, frustrando 
a solução da controvérsia. 
Nada há a celebrar, portanto, em relação à herança recebida dos poucos 
mais de 42 anos de vigência do malsinado Código de 1973. A judicialização 
cresceu exponencialmente e, na mesma proporção a incapacidade de a jurisdi-
ção resolver os conflitos em tempo hábil. A crise do Poder Judiciário, portan-
to, tornou-se inevitável, muitas demandas para poucos juízes e um normativo 
processual inspirado em uma teoria que enaltecia o formalismo e o tecnicismo, 
em um ambiente de restrição das liberdades. A depreciação da autonomia dos 
cidadãos impeliu-nos a sempre buscar na sentença judicial a resposta para os 
nossos conflitos. A consequência é o número extraordinário e abismante de 
processos perante o Poder Judiciário, mais de 100 milhões, e a infraestrutura 
existente, carente de recursos humanos e materiais para administrar essa massa 
de demandas, evidenciam encontrar-se o sistema de justiça às raias do colapso. 
O CPC/2015 pode ser um alento para contornar a grave situação atual, 
desde que a comunidade jurídica e a sociedade assimilem os valores democráti-
cos que o inspiraram e comprometam-se com as mudanças culturais propostas, 
tendentes à construção da cidadania, democratização, desjudicialização e à solução 
autônoma dos conflitos.
1 BRASIL. Decreto-lei nº 1608/1939 (Exposição de Motivos do CPC/1939). Diário Oficial da União. Rio 
de Janeiro, 24 jul. 1939. Disponível em: <https://goo.gl/puXU1X>. Acesso em: 1º maio 2017.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
30
O Código de Processo Civil de 2015, ao estabelecer o princípio da pri-
mazia do mérito como um dos fundamentos do processo, restaura a concepção 
de processo como instrumento de salvaguarda dos direitos materiais. Integrado 
pela Resolução nº 125/2010 do CNJ, que instituiu uma política pública de 
tratamento adequado dos problemas jurídicos e dos conflitos de interesses, é 
possível acreditar em um futuro melhor.
Nesse sentido, o ordenamento jurídico preconiza uma nova forma de 
conceber o processo mediante o reconhecimento de que a cultura da litigiosidade 
há de ceder espaço para a da solução pacífica do conflito. 
Em sintonia com essa alvissareira possibilidade de se promover uma mu-
dança cultural, o tema, procedimento, será abordado sob o fundamento da 
cidadania participativa em três aspectos considerados primordiais para a imple-
mentação dessa nova cultura na prática processual: a coparticipação na construção 
dos provimentos judiciais, a autonomia das partes na resolução dos conflitos e 
a eticidade. 
2 O CONTRADITÓRIO: fundamento de legitimidade do devido 
processo legal
O processo tem por propósito conferir efetividade às normas de direito 
material e às garantias constitucionais do Estado Democrático de Direito. A rea-
lização desses objetivos pressupõe a legitimidade democrática do procedimento, o 
que só se alcança por meio do contraditório, disciplinado no CPC/2015 com uma 
abrangência inédita, na medida em que o regulamenta em suas três dimensões. 
É o contraditório fundamento de legitimidade da atuação do Poder Ju-
diciário na medida em que assegura o diálogo e o poder de influência das partes 
posicionando-se no debate processual em simétricas posições e em igualdade 
de oportunidades, com efetivo poder de influenciar o conteúdo da sentença, 
coparticipativamente construída com o juiz.2
Nessa ordem de ideias, o direito de participação das partes em simétrica 
paridade corresponde ao dever de o Estado-juiz proferir uma resposta congruente 
com o objeto do diálogo estabelecido entre as partes e adequada à resolução do 
conflito. Com efeito, do direito de participação emerge o dever de o juiz proferir 
uma decisão fundamentada de forma congruente e adequada ao caso sub judice.
2 THEODORO JR. Humberto. Processo justo e contraditório dinâmico. Revista de Estudos Constitucionais, 
Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD). São Paulo, v. 2, n. 1, p. 64-71, jan. /jun. 2010. Disponível 
em: <https://goo.gl/j7g2Na>. Acesso em: 1º mar. 2013. 
31
Desta forma, evidencia-se que o processo legitima-se democraticamente 
quando a decisão judicial é consequência da participação isonômica, dialética 
e influente das partes. Assim, incumbe aos magistrados assegurar a produção 
de alegaçõese de provas pelos interessados e que as informações pertinentes, 
produzidas pelas partes sejam efetivamente examinadas. 
Esse entendimento decorre da interpretação constitucional da garantia 
do contraditório levada a termo pelo Supremo Tribunal Federal:
Há muito vem a doutrina constitucional enfatizando que 
o direito de defesa não se resume a um simples direito de 
manifestação no processo. Efetivamente, o que o consti-
tuinte pretende assegurar – como bem anota Pontes de 
Miranda – é uma pretensão à tutela jurídica (Comentários 
à Constituição de 1967 com a Emenda nº 1, 1969. T. V, 
p. 234). [...]. Não é outra a avaliação do tema no direito 
constitucional comparado. Apreciando o chamado Ans-
pruch auf rechtliches Gehör (pretensão à tutela jurídica) 
no direito alemão, assinala o Bundesverfassungsgericht que 
essa pretensão envolve não só o direito de manifestação e 
o direito de informação sobre o objeto do processo, mas 
também o direito do indivíduo de ver os seus argumentos 
contemplados pelo órgão incumbido de julgar [...]. Daí 
afirmar-se, correntemente, que a pretensão à tutela jurídi-
ca, que corresponde exatamente à garantia consagrada no 
art. 5º, LV, da Constituição, contém os seguintes direitos:
1-direito de informação (Recht auf Information), que obriga 
o órgão julgador a informar à parte contrária dos atos pra-
ticados no processo e sobre os elementos dele constantes;
2- direito de manifestação (Recht auf Äusserung), que asse-
gura ao defendente a possibilidade de manifestar-se oral-
mente ou por escrito sobre os elementos fáticos e jurídicos 
constantes do processo;
3- direito de ver seus argumentos considerados (Recht auf Berü-
cksichtigung), que exige do julgador capacidade, apreensão 
e isenção de ânimo (Aufnahmefähigkeit und Aufnahme-
bereitschaft) para contemplar as razões apresentadas [...]. 
Sobre o direito de ver os seus argumentos contemplados 
pelo órgão julgador (Recht auf Berücksichtigung), que 
corresponde, obviamente, ao dever do juiz ou da Ad-
ministração de a eles conferir atenção (Beachtenspflicht), 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
32
pode-se afirmar que ele envolve não só o dever de tomar 
conhecimento (Kenntnisnahmepflicht), como também o 
de considerar, séria e detidamente, as razões apresentadas 
(Erwägungspflicht) (Cf. DÜRIG/ASSMANN. In: MAUN-
Z-DÜRIGi. Grundgesetz-Kommentar. Art. 103, vol. IV, nº 
97). É da obrigação de considerar as razões apresentadas 
que deriva o dever de fundamentar as decisões (Decisão 
da Corte Constitucional – BverfGE 11, 218 (218); Cf. 
DÜRIG/ASSMANN. In: MAUNZ-DÜRIG. Grundge-
setz-Kommentar. Art. 103, v. 4, n. 97).”3
Com efeito, reconhece a jurisprudência do STF que 
O ordenamento jurídico brasileiro, ao tornar a exigência 
de fundamentação das decisões judiciais um elemento 
imprescindível e essencial à válida configuração dos atos 
sentenciais, refletiu, em favor dos indivíduos, uma po-
derosa garantia contra eventuais excessos do Estado-Juiz, 
e impôs, como natural derivação desse dever, um fator 
de clara limitação dos poderes deferidos a magistrados e 
Tribunais. [...] Não há, em tema de liberdade individual, 
a possibilidade de se reconhecer a existência de arbítrio 
judicial. Os juízes e tribunais estão, ainda que se cuide do 
exercício de mera faculdade processual, sujeitos, expressa-
mente, ao dever de motivação dos atos constritivos do status 
libertatis que pratiquem no desempenho de seu oficio. - A 
conservação de um homem na prisão requer mais do que 
um simples pronunciamento jurisdicional. A restrição ao 
estado de liberdade impõe ato decisório suficientemente 
fundamentado, que encontre suporte em fatos concretos4.
Pois bem, tratando-se de interpretação da Constituição, promulgada em 
1988, pode-se, a princípio, acreditar que o CPC/2015 não trouxe inovação al-
guma, haja vista que o que foi dito emerge diretamente da norma constitucional. 
Entretanto, a experiência não autoriza esse entendimento. 
3 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança nº 24.268, Tribunal Pleno. Relator: Min. 
Gilmar Mendes. Brasília, 5 de fevereiro de 2004. Diário de Justiça: 17 set. 2004. Trechos do voto do 
Ministro Gilmar Mendes, destaques no original.
4 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 68530, Primeira Turma. Relator: Min. Celso de 
Mello. Brasília, 5 de março de 1991. Diário de Justiça: 12 abr. 1991. 
33
O princípio do contraditório, sob a égide da legislação revogada, não era 
um elemento essencial do devido processo legal. Era indiferente a observância de 
um contraditório substancial, pois, o juiz cuja autoridade e poder sobrepairavam 
na atmosfera social, “conhece o direito” e encarna a Justiça, razão pela qual a 
participação das partes era indiferente. 
Desta maneira, inegável reconhecer o avanço democratizador do 
CPC/2015 ao conferir centralidade ao contraditório quando o identifica com 
a “garantia de participação em simétrica paridade, das partes, daqueles a que 
se destinam os efeitos da sentença”5. Nesta definição, liberdade e igualdade se 
fazem explicitamente presentes. 
O indivíduo tem a liberdade de participar, em igualdade de condições, na 
construção do provimento que repercutirá no seu patrimônio jurídico. Todavia, 
se por qualquer razão, optar por não participar do procedimento, sujeitar-se-á aos 
ônus da sua inércia. Inegável, portanto, a indissociabilidade entre contraditório 
e ordem jurídica democrática.6
Corolário do contraditório é a vedação de decisões surpresa, conforme 
explicita o art. 9º do CPC: “Não se proferirá decisão contra uma das partes sem 
que ela seja previamente ouvida”. Nesse aspecto, o contraditório limita o poder 
jurisdicional, ao estabelecer a congruência decisória, exigindo em caráter de 
imprescindibilidade, o debate prévio de todas as matérias a serem consideradas 
no decisum7. A regra transcrita aplica-se inclusive às questões apreciáveis ex officio. 
Isso quer dizer que o juiz não pode surpreender as partes, mesmo em face de 
matéria de ordem pública cognoscível de ofício. 
Há de se reconhecer, assim, que o contraditório e a motivação decisória 
estabelecem um nexo entre o direito de ação e o dever de o Estado prestar a ju-
5 GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica processual e teoria do processo, 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 
2012, p. 103.
6 Segundo Ada Pellegrini Grinover, é “[...] comum a observação de que o princípio da igualdade é parte 
essencial do processo [...]” ou de que “[...] defesa e contraditório são corolários do princípio da igualdade”. 
Todavia, a igualdade, como essência do contraditório, não pode ser vista apenas como uma isonomia 
formal que exprime a “[...] simples exigência de que os sujeitos possam agir em plano de paridade”; 
diferentemente, a igualdade deve ser compreendida sob a ótica material, isto é, “[...] como contraposição 
dialética paritária e forma organizada de cooperação no processo [...]”, da qual emerge o princípio de 
par condicio (princípio de equilíbrio de situações ou igualdade de armas). Sendo assim, a “plenitudee a 
efetividade do contraditório indicam a necessidade de se utilizarem todos os meios necessários para evitar 
que a disparidade de posições no processo possa incidir sobre seu êxito, condicionando-o a uma distribuição 
desigual de forças” (GRINOVER, Ada Pellegrini. O processo constitucional em marcha. São Paulo: Max 
Limonad, 1985, p. 11-18, grifo no original).
7 THEODORO JUNIOR, Humberto; NUNES, Dierle. Uma dimensão que urge reconhecer ao contraditório 
no direito brasileiro: sua aplicação como garantia de influência, de não surpresa e de aproveitamento da 
atividade processual. Revista de Processo, São Paulo, ano 34, n. 168, fev. 2009. p. 125.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
34
risdição. Isso porque o direito de ação, como “direito subjetivopúblico dirigido 
frente ao Estado a fim de que este preste a tutela jurisdicional sobre os direitos e 
interesses em conflito”,8 outorga às partes a prerrogativa de que sejam devidamente 
respondidas as questões por elas levantadas no processo. Paralelamente, a neces-
sidade de fundamentação racional das decisões judiciais (art. 93, IX, da CR/88) 
impõe que o órgão julgador decida exclusivamente com base nos elementos 
trazidos aos autos, como expressão do princípio da inafastabilidade da jurisdição 
(art. 5º, XXXV, da CR/88). A interpretação constitucional corrobora a tese:
O art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão 
ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, 
sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada 
uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os 
fundamentos da decisão9.
Reveste-se de nulidade o ato decisório, que, descumprindo 
o mandamento constitucional que impõe a qualquer Juiz 
ou Tribunal o dever de motivar a sentença ou o acórdão, 
deixa de examinar, com sensível prejuízo para o réu, fun-
damento relevante em que se apoia a defesa técnica do 
acusado10.
Em harmonia com o entendimento do STF, vem em boa hora a lição de 
Comoglio: 
[...] graças a uma tríplice ordem de situações subjetivas 
processuais, na qual a qualquer parte vêm reconhecidos: (I) 
o direito de receber adequadas e tempestivas informações, 
sobre o desencadear do juízo e as atividades realizadas, as 
iniciativas empreendidas e os atos de impulso realizados 
pela contraparte e pelo juiz, durante o inteiro curso de 
processo; (II) o direito de defender-se ativamente, posi-
cionando-se sobre cada questão, de fato ou de direito, que 
seja relevante para a decisão da controvérsia; (III) o direito 
de pretender que o juiz, a sua vez, leve em consideração as 
8 LLOBREGAT, José Garberí. El derecho a la tutela judicial efectiva en la jurisprudencia del Tribunal 
Constitucional. Barcelona: Bosch, 2008, p. 18, tradução nossa.
9 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Questão de Ordem no Agravo de Instrumento nº 791.292-RG. 
Relator: Min. Gilmar Mendes. Brasília, 23 jun. 2010. Diário de Justiça, n. 149, 13 ago. 2010.
10 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 74.073, Primeira Turma. Relator: Min. Celso de 
Mello. Brasília, 20 maio 1997. Diário de Justiça: 27 jun. 1997.
35
suas defesas, as suas alegações e as suas provas, no momento 
da prolação da decisão11.
Enfim, a disciplina do contraditório contida no CPC/2015 representa 
garantia democrática e cívica do jurisdicionado, exteriorizadora do princípio 
constitucional da soberania popular12 mediante a qualificação do processo como 
legítimo instrumento para a realização da democracia, da cidadania e da sobe-
rania popular.
3 OS MÉTODOS AUTÔNOMOS DE RESOLUÇÃO DE 
CONFLITOS
O Ministro Cezar Peluso, em 2011, vaticinou:
[...] encontra-se em curso mudança paradigmática subs-
tancial, resultante do desenvolvimento de nova cultura de 
pacificação, que evidenciará às pessoas que os conflitos não 
precisam ser resolvidos apenas com recurso à velha solução 
adjudicada, que se dá mediante produção de sentenças 
e, em cujo seio, sob influxo de uma arraigada cultura de 
dilação, proliferam os recursos inúteis e as execuções mo-
rosas e, não raro, ineficazes. Essa salutar transformação só 
atingirá sua plena potencialidade com a adoção de uma 
política pública menos ortodoxa em relação ao tratamento 
dos conflitos de interesses. [...] Serão elevados os sensos de 
cidadania, justiça efetiva e paz social13.
A partir da Resolução nº 125/2010 do CNJ, instituindo uma política 
pública de tratamento adequado dos conflitos, o CPC/2015, no § 2º do art. 3º, 
reforça o prestígio à resolução consensual dos conflitos, contribuindo, essas nor-
mas, sobremaneira para a construção da cidadania. Na medida em se reconhece 
que nem sempre a adjudicação é a melhor solução para o conflito de interesses, 
o ordenamento passa a admitir que as partes, de forma autônoma e dialógica, 
11 THEODORO JR., 2010.
12 BONAVIDES, Paulo. O Poder Judiciário e o parágrafo único do art. 1º da Constituição do Brasil. In: 
CUNHA, Sérgio Sérvulo da; GRAU, Eros Roberto (org.). Estudos de Direito Constitucional em 
homenagem a José Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 69, 85-86.
13 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Relatório de Atividades de 2011. Disponível em: <https://goo.gl/
nGT3fE>. Acesso em: 27 maio 2017. 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
36
assumam a responsabilidade pela solução do conflito que as aflige. Com efeito, há 
possibilidade de utilização de diversos métodos de resolução de litígios conforme 
a particularidade de cada caso. Mas, em qualquer situação em que se busca uma 
forma consensual de solucionar o conflito, há uma prática emancipatória, na 
medida em que as partes deixam de carecer da tutela jurisdicional.
A coexistência de outros métodos, além da adjudicação, é uma forma de 
o Direito Processual implementar uma promessa até então descumprida, a de 
que o processo judicial seria instrumento de restauração da paz social. Teleolo-
gicamente, o processo visa a encerrar o conflito mediante a imposição de um 
provimento imperativo, vinculante e definitivo em decorrência da autoridade de 
coisa julgada. Todavia, restabelecer os vínculos subjetivos afetados pelo conflito 
não é preocupação do órgão judicante.
A processualística contemporânea, portanto, evoluiu na direção do reco-
nhecimento da possibilidade de utilização de diversos métodos de resolução de 
litígios, conforme a particularidade de cada caso, “citem-se, como exemplos, a 
arbitragem, a mediação, a conciliação, a negociação direta, os comitês, ouvidoria, 
o coaching” 14.
Os métodos autônomos têm o objetivo de propiciar às partes resolverem 
o conflito de forma dialógica, sem a necessidade de uma sentença proferida 
por um terceiro imparcial. Por meio do diálogo oportuniza-se a construção da 
melhor solução possível para o caso, respeitadas a autonomia da vontade e a 
voluntariedade.
A possibilidade de desjudicialização dos conflitos decorrente da adoção dos 
métodos autônomos de resolução dos conflitos deve ser um compromisso de toda 
a sociedade. É imprescindível contribuir para a diminuição do abarrotamento 
de processos no Judiciário, que atualmente, tem de administrar a tramitação de 
mais de cem milhões de processos.
Há um notável esforço de o Poder Judiciário contribuir para a difusão de 
uma nova cultura na resolução dos conflitos. A partir da instalação dos Centros 
Judiciários de Solução de Conflito e Cidadania (CEJUSC), se tem trabalhado 
para construir uma cultura de consensualidade por meio da capacitação de me-
diadores, promoção palestras, debates, dentre outras ações, visando a possibilitar 
que os contendores sintam-se suficientemente empoderados e responsáveis pela 
solução dos seus conflitos. 
14 FARIA, Juliana Cordeiro de. Princípio da cooperação, efetividade e responsabilidade processual: balizas 
do CPC/2015 para as empresas como sujeitos do processo. In: FERRUCI, Felipe Falcone, MAIA, Felipe 
Fernandes Ribeiro, LEROY, Guilherme Costa (org.). Os impactos do novo CPC no Direito Empresarial. 
Belo Horizonte: D’Plácido, 2017, p.15.
37
Obviamente, pelo fato de esse movimento encontrar-se ainda no alvorecer, 
várias iniciativas devem ser implementadas para conferir eficiência e confiabili-
dade a esses métodos de solução dos conflitos. O sistema atual é merecedor de 
muitas reprimendas, nesse sentido, pontua-se o critério de avaliação do trabalho 
dos juízes, pautado, primordialmente, no aspecto quantitativo, contabilizando-
-se o número de acordos homologados. Ao quantificar as práticas consensuais, 
desconsideram-se uma série de fatores benéficos delas resultantes, tais como o 
diálogo como ferramenta para a reaproximação das pessoas, ainda que nãose 
realize o acordo. A efetividade e expansão dos métodos consensuais devem ser 
considerados também sob o aspecto qualitativo, avaliando-se a vantajosidade que 
propiciou a reaproximação das partes, de modo a garantir sua máxima efetivação 
na busca da melhor solução.
Os métodos autônomos têm como sustentáculo a liberdade, por presti-
giarem a autonomia da vontade, o que acarreta, consequentemente, a vedação 
de imposição por parte de um terceiro de qualquer decisão final. Solucionar o 
conflito é atribuição privativa das partes. 
Como ressalta Fernanda Tartuce, os métodos autônomos permitem 
[...] que o indivíduo decida os rumos da controvérsia e 
protagonize uma saída consensual para o conflito: ao in-
cluir o sujeito como importante ator na abordagem da 
crise, valoriza-se sua percepção e considera-se seu senso 
de justiça. Como facilmente se percebe, a autonomia da 
vontade está ligada à dignidade e à liberdade.15
Christopher Moore corrobora esse entendimento ao dizer:
Voluntário refere-se a uma participação por livre escolha 
e a um acordo realizado livremente. Os litigantes não são 
obrigados a negociar, mediar ou fazer acordo influenciados 
por nenhuma parte interna ou externa à disputa.16
Humberto Theodoro Júnior17 destaca o papel que tem o CPC/2015 na 
maturação de uma mudança de mentalidade, fazendo emergir uma cultura de 
solução de conflitos de forma autônoma, cooperativa e consensual:
15 TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis, 3. ed. São Paulo: Método, 2016, p. 190.
16 MOORE, Christopher W. O Processo de Mediação: Estratégias Práticas para a Resolução de Conflitos, 
2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998, p. 38.
17 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual 
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, 56. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 9.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
38
A valorização do papel da mediação e da conciliação dentro 
da atividade jurisdicional se faz presente de maneira mais 
expressiva no Novo Código de Processo Civil [...] Aos 
poucos vai-se encaminhando para processos e procedimen-
tos em que o objetivo maior é a solução justa e adequada 
dos conflitos jurídicos, e que, de fato, possam reduzir as 
tensões sociais, valorizando a pacificação e a harmonização 
dos litigantes, em lugar de propiciar a guerra judicial em 
que só uma das partes tem os louros da vitória e à outra 
somente resta o amargor da sucumbência. 
Resta evidente, portanto, que o CPC/2015 garante efetividade aos mé-
todos autônomos de resolução de conflitos e demonstra os avanços da prática 
jurisdicional na busca da “pacificação social”. 
Sendo assim, a cidadania resta não só garantida, mas estimulada pela 
protagonização das partes na solução do litígio, propiciando uma mudança da 
cultura de litigiosidade para uma cultura de paz e, ainda, resguardados os prin-
cípios da liberdade, autonomia da vontade e porque não, celeridade, tão caros 
à solução dos conflitos, adjudicada ou autônoma. 
4 O DEVER DE COOPERAÇÃO
O contraditório enquanto fundamento da legitimidade democrática do 
processo e elemento de construção da cidadania, deve assegurar acesso à ordem 
jurídica justa, mediante limites à atuação das partes. O processo é um método 
democrático de resolução de conflitos com o objetivo de reparar lesão ou fazer 
cessar ameaça a direitos. Portanto, o resultado do processo, a decisão judicial há 
de coincidir com a ordem jurídica, no sentido de dar a cada um o que efetiva-
mente tem direito. 
Por essa razão, no processo inadmite-se o emprego de artifícios ou ardis 
tendentes a frustrar a correta aplicação do Direito. Não é sem razão que o acesso 
à justiça pressupõe o jus postulandi, ou seja, a capacidade de postular em juízo, 
atributo privativo da advocacia, Defensoria Pública e Ministério Público. A 
presença dessas instituições perante a jurisdição, nos termos da Constituição 
da República, é indispensável e essencial por serem esses profissionais capazes 
de decodificar o conflito de interesses intersubjetivo em linguagem jurídica, 
possibilitando, assim, ao Poder Judiciário proferir uma decisão que assegure 
a integridade do ordenamento jurídico, mantendo a estabilidade do Estado 
Democrático de Direito. Portanto, concomitantemente ao munus de defender 
39
os interesses postulados em juízo, há para a advocacia, Defensoria Pública e 
Ministério Público o compromisso com a realização do Direito. 
A ideia de cooperação não é novidade. Os grandes jusprocessualistas da 
primeira metade do século passado já trabalhavam a teoria do processo como 
atividade colaborativa. Eis, a propósito, o ensinamento de Calamandrei:
Quem se detenha a observar o modo como se desenvolve 
um processo judicial, civil ou penal, vê efetivamente que o 
mesmo consiste em uma série de atividades, realizadas pelos 
indivíduos, que colaboram para a consecução do objeto 
comum, o qual, por sua vez, consiste no pronunciamento 
de uma sentença ou em por em prática medida executiva. 
Esta colaboração não é simultânea, mas sucessiva, de modo 
que as várias atividades que devem ser realizadas pelas dife-
rentes pessoas que fazem parte do processo distribuem-se 
no tempo e no espaço seguindo uma certa ordem lógica, 
quase como em um drama teatral, em que as intervenções 
dos atores se sucedem não por casualidade, mas seguindo 
o fio da ação, de modo que a frase seguinte seja justificada 
pela precedente e, por sua vez, dê motivo à que vem depois, 
a ordem em que se desenvolve o discurso dos interlocutores 
não poderia alterar-se sem destruir o sentido18.
Há mais de meio século Frederico Marques, invocando o magistério de 
Carnelutti, desenvolveu o conceito de processo a partir da cooperação. Para o 
autor, o processo define-se como “um conjunto de atos destinados à formação 
de imperativos jurídicos, que se caracterizam pela cooperação ou colaboração, 
para este fim, de pessoas interessadas com uma ou mais pessoas desinteressadas”19. 
Entretanto, a ideia de colaboração se esvaiu na vigência do Código re-
vogado, que como mencionado, exaltava a litigiosidade, repelia os métodos 
consensuais e a coparticipação. 
A cooperação no ordenamento jurídico brasileiro veio a ser ressuscitada 
no CPC/2015. Entretanto, há deturpações em seu sentido e dimensão, creio, 
fruto da cultura herdada da legislação revogada plasmada na litigiosidade, ou da 
incompreensão do princípio em virtude da inovação cultural que a cooperação 
significa. A propósito desse mal vezo:
18 CALAMANDREI, Piero. Instituições de Direito Processual Civil. Campinas: Bookseller, 2003. v. 1, p. 265.
19 MARQUES, José Frederico. Instituições de Direito Processual Civil, 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
1966. v. 1, p. 28. 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
40
Numa palavra final: se o “dever de as partes cooperarem” 
não for fulminado (ou mitigado mediante interpretação 
conforme a Constituição) pelo STF, poderemos estar re-
pristinando um protagonismo de mais de 100 anos atrás. 
Já dá para imaginar o juiz, como presidente dos trabalhos 
(sim, paradoxalmente, quer-se a democracia e o regime 
processual, neste caso, continua “presidencialista”), dizen-
do: vocês têm de cooperar para que eu possa decidir com 
justiça. Consequentemente... e aí começa o drama das 
partes. Vai sobrar para os advogados. Ah, vai!20
A convicção neste trabalho é de que o dever de cooperação, explicitado 
no art. 6º do CPC/2015, é muito bem-vindo e de fundamental relevância para 
o bom funcionamento da função jurisdicional. O Código, ao estabelecer o com-
promisso com a colaboração, reveste de eticidade a atuação das partes em juízo, 
pautando suas condutas pelos princípios da boa-fé e da lealdade processuais. Na 
dicção de Carlos Alberto Álvaro de Oliveira,o dever de cooperação é essencial 
“quando se atenta em que o processo deve servir para a produção de decisões 
conforme a lei, corretas a esse ângulo visual, mas, além disso, dentro do marco 
dessa correção, presta-se essencialmente para a produção de decisões justas”21. 
A cooperação exige que as partes observem os deveres que lhes são exigi-
dos no curso do contraditório, dentre eles, conforme o art. 77 do CPC/2015, 
os de expor os fatos em juízo conforme a verdade, não formular pretensão ou 
de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento, não 
produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à 
defesa do direito, cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza 
provisória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação, informar o endereço 
onde receberão intimações e não praticar inovação ilegal no estado de fato de 
bem ou direito litigioso.
Para Leonardo Carneiro da Cunha, o dever de cooperação compreende 
os deveres de esclarecimento, de prevenção e de auxílio a fim de que o processo 
represente efetiva garantia de proteção judicial.
O autor, com propriedade, esclarece que cooperar não significa, em hi-
pótese alguma, submissão do interesse próprio ao da parte contrária. Os deveres 
de cooperação “[...] destinam-se a regular melhor o comportamento dos sujeitos 
20 STRECK, Lenio Luiz et al. Aposta na bondade: A cooperação processual do novo CPC é incompatível 
com a Constituição. Revista Consultor Jurídico, São Paulo, 23 dez. 2014. Disponível em: <https://goo.
gl/eV33be>. Acesso em: 30 abr. 2017.
21 OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Do formalismo no processo civil, 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 270.
41
envolvidos, evitando abusos de direito e tornando mais leal e mais ética a busca 
pelo resultado a ser obtido com o processo”22.
Fredie Didier Jr. compartilha o mesmo entendimento dizendo que “ao 
integrar o sistema jurídico, o princípio da cooperação garante o meio (imputa-
ção de uma situação jurídica passiva) necessário à obtenção do fim almejado (o 
processo cooperativo)”23.
A lição de Humberto Theodoro Jr. é importantíssima. A invocação do 
direito português preenche lacuna na literatura jurídica brasileira. Além disso, 
explicita os deveres de cooperação do magistrado com as partes de maneira didá-
tica revestida de pragmatismo. Ensina Humberto Theodoro que a cooperação se 
realça no dever do juiz decidir conforme o direito para assegurar acesso à ordem 
jurídica justa por meio de um provimento baseado em pleno conhecimento da 
causa, com o exaurimento dos meios de informação disponíveis para subsidiar o 
veredito. Ressalta, ainda, que o papel cooperativo do juiz não acarreta qualquer 
comprometimento com o dever de imparcialidade, constituindo-se em:
a) consagração de um poder-dever de o juiz promover o 
suprimento de insuficiência ou imprecisões na exposição 
da matéria de fato alegada por qualquer das partes;
b) consagração de um poder-dever de suprimir obstáculos 
procedimentais à prolação da decisão de mérito;
c) consagração de um poder-dever de auxiliar qualquer das 
partes na remoção de obstáculos que as impeçam de atuar 
com eficiência no processo;
d) consagração, em combinação com o princípio do 
contraditório, da obrigatória discussão prévia com as 
partes da solução do pleito, evitando a prolação de 
decisões surpresa, sem que as partes tenham oportunidade 
de influenciar as decisões judiciais24.
A atuação colaborativa destina-se a “[...] fazer com que os homens se falem, 
que desenvolvam uma relação intersubjetiva sem violência, com que os desejos 
e as paixões, incrustados nos sótãos do humano se exteriorizem”25.
22 CUNHA, Leonardo Carneiro da. Comentário ao art. 6º. In: STRECK, Lenio Luiz; NUNES, Dierle; 
________. (org.). Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 42. 
23 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil, 17. ed. Salvador: JusPodivm, 2015. v. 1, p. 217.
24 THEODORO JR., op. cit., p. 84.
25 GAMBOGI, Luís Carlos Balbino. Direito: razão e sensibilidade : as intuições na hermenêutica jurídica. 
Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p.133.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
42
A democracia é mais que discurso, é compromisso, é per-
manente autodisciplina e exigência de respeito à dignidade 
própria e à dignidade do outro, principalmente do outro, 
porque no cuidar de nós mesmos, somos todos por demais 
diligentes.26
A jurisprudência, gradativamente, vem assimilando o dever de cooperação. 
O Superior Tribunal de Justiça reconhece que:
O nosso sistema processual é informado pelo princípio da 
cooperação, sendo pois, o processo, um produto da ativida-
de cooperativa triangular entre o juiz e as partes, onde todos 
devem buscar a justa aplicação do ordenamento jurídico 
no caso concreto, não podendo o Magistrado se limitar a 
ser mero fiscal de regras, devendo, ao contrário, quando 
constatar deficiências postulatórias das partes, indicá-las, 
precisamente, a fim de evitar delongas desnecessárias e a 
extinção do processo sem julgamento do mérito27.
O TJMG decidiu que o dever de cooperação cujo objetivo é possibilitar 
uma decisão justa e efetiva de mérito, estende-se a todos os sujeitos processuais, 
inclusive ao juiz, incumbindo-lhes “colaborarem entre si, sem protagonismo 
dos envolvidos na relação jurídico-processual, sem a criação de embaraços e 
armadilhas processuais”28.
O TJRS reconhece violação ao dever de cooperação quando, a parte se 
vale de artifícios que obstaculizam o contraditório substancial, deixando admitir 
recurso eletrônico, cuja instrução é deficiente pelo fato de o recorrente deixar de 
individualizar os documentos necessários ao conhecimento do pleito29.
Por sua vez, para o TJSP, com fundamento no art. 774, inc. V, decidiu que 
“viola-se a cooperação no processo de execução quando o executado, intimado, 
26 CALMON DE PASSOS, J.J. Direito, justiça, processo e poder. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 71-72.
27 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus nº 37.587-SC, Quinta Turma. Relator: 
Min. Reynaldo Soares da Fonseca. Brasília, 16 de fevereiro de 2016. Diário de Justiça: 23 fev. 2016.
28 MINAS GERAIS (Estado). Tribunal de Justiça do Estado. Apelação Cível nº 1.0301.14.007535-1/003, 
Nona Câmara Cível. Relator: Des. Marcio Idalmo dos Santos Miranda. Belo Horizonte: 23 de março de 
2017. Diário de Justiça: 11 abr. 2017.
29 RIO GRANDE DO SUL (Estado). Tribunal de Justiça de Estado. Agravo de Instrumento nº 70072050180. 
Décima Nona Câmara Cível. Rel. Des. Voltaire de Lima Moraes. Porto Alegre, 24 abr. 2017. Diário de 
Justiça: 25 abr. 2017.
43
deixa de informar ao juízo existência de patrimônio passível de responder pela 
obrigação”30.
O dever de cooperação é um imperativo ético inerente ao contraditório. 
Com efeito, o devido processo legal constitui instrumento legítimo de garantia 
fundamental da dignidade humana e dos direitos a ela correlatos se e somente 
se o procedimento desenvolver-se conforme a boa-fé e a lealdade. 
Não se pode perder de vista, ainda, a estreita relação existente entre o 
dever de cooperação e a duração razoável do processo, na medida em que coíbe 
a prática de atos processuais inúteis por manejo abusivo das prerrogativas e fa-
culdades processuais pelas partes ou, pelo juiz, dilações indevidas.
5 CONCLUSÃO
A previsão do contraditório enquanto princípio essencial ao processo 
coloca em evidência a necessidade de coparticipação dos envolvidos no confli-
to. Ressalta-se, neste ponto, a importância dos dispositivos do CPC/2015 na 
efetivação deste princípio, na medida em que, embora desde 1988 fosse cons-
titucionalmente previsto, teve sua imprescindibilidade destacada pela nova lei.
No que tange à efetivação de direitos e solução de controvérsias por meiode métodos autônomos, o que se observa no Código de Processo Civil é não 
só o resguardo aos princípios da celeridade, autonomia da vontade e liberdade, 
como a possibilidade de decisões mais satisfatórias às partes, uma vez que por 
elas determinadas e que propiciam, ainda que não haja acordo, a difusão de uma 
cultura de paz em detrimento de uma cultura de litígio. 
O CPC/2015 teve extrema importância também ao colocar em evidência 
o princípio da cooperação em um contexto de mudanças culturais que passaram 
a preterir a litigiosidade. 
Observa-se, portanto, a concatenação do contraditório com a solução au-
tônoma de conflitos e o princípio da cooperação, na medida em que representam 
o ideal na relação processual, envolvendo os litigantes de forma a solucionarem o 
conflito em igualdade de condições e visando à melhor solução possível a ambos.
30 SÃO PAULO (Estado). Tribunal de Justiça do Estado. Agravo de Instrumento nº 2237890-96.2016.8.26.0000, 
Vigésima Quinta de Direito Privado. Relator: Des. Hugo Crepaldi. São Paulo, 30 de março de 2017. Diário 
de Justiça: 31 mar. 2017. “Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE ARBITRAMENTO 
DE HONORÁRIOS – MULTA – ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA – Art. 774, 
Parágrafo único, do CPC – Compra de imóvel de alto padrão à vista no curso da execução, demonstrando 
injustificada oposição ao cumprimento da obrigação, bem como patente omissão de informações perante 
o Juízo – Dever de cooperação – Quebra do padrão de boa-fé processual que justifica a imposição de multa 
fixada mediante prudente arbítrio – Negado provimento.”
45
JULGAMENTO VIRTUAL E A DENSIFICAÇÃO DA 
PSEUCOLEGIALIDADE
Jéssica Galvão Chaves*
Welignton Luzia Teixeira*
 
1 INTRODUÇÃO 
A decisão colegiada virtual constitui uma forma de julgamento atualmente 
adotada em alguns Tribunais do Estado Brasileiro como, por exemplo, o Tribunal 
de Minas Gerais1, Tribunal de Justiça de Rondônia2, Tribunal de Justiça de São 
Paulo3, consubstanciada no julgamento de recursos pelo meio eletrônico, desde 
que a sustentação oral não seja permitida, bem como inexista oposição das partes.
Uma vez adotada tal forma de julgamento caberá ao relator do recurso 
enviar no ambiente virtual seu voto para os demais componentes da turma jul-
gadora que, igualmente, por meio eletrônico emitirão seu voto, isoladamente, 
nos respectivos gabinetes, com a dispensabilidade da inclusão do recurso em 
sessão de julgamento. 
Depreende-se que no âmbito do Superior Tribunal de Justiça e do Su-
premo Tribunal Federal o julgamento virtual, também denominado de plenário 
virtual, é prática usual para o julgamento do recurso de embargos de declaração 
e do agravo interno e especificadamente no Supremo Tribunal Federal o plenário 
virtual é utilizado para a apreciação da existência ou não de repercussão geral 
(art. 184-A, RISTJ e arts. 317, 323 e 324, RISTF). 
* Mestre em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2017). Especialista 
em Direito Processual Civil pela Universidade Gama Filho (2014) e em Direito Internacional pelo Centro 
de Direito Internacional - CEDIN - (2012). Professora de Direito Processual Civil e Direito Processual 
do Trabalho da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e da Escola Superior de Advocacia da 
Ordem dos Advogados do Brasil, seção Minas Gerais. Trabalha na equipe de assessoria de Desembargador 
do TJMG. Membro da Associação Brasileira de Direito Processual.
* Advogado, Professor Universitário, Mestre em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica 
de Minas Gerais, Ex-Conselheiro Federal e Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Minas 
Gerais, Coordenador na Escola Superior da Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Minas 
Gerais.
1 Regimento Interno do Tribunal de Justiça de Minas Gerais criado pela resolução do Tribunal Pleno nº 
0003, de 26 de julho de 2012, disponível em: <https://goo.gl/cN741n>. 
2 Resolução 549/2011, do Tribunal de Justiça de São Paulo. 
3 Resolução 049/2010, do Tribunal de Justiça de Rondônia. 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
46
A partir de tais premissas, o presente ensaio objetivo demonstrar que a 
adoção do julgamento virtual, nos moldes utilizados pelos tribunais brasileiros, 
enseja na densificação da pseudocolegialidade, em virtude da promoção da des-
naturalização do órgão colegiado, tendo em vista a eliminação do diálogo entre 
os membros da turma julgadora. 
Evidencia-se, ainda, que tal forma de julgamento expurga a publicidade 
da deliberação, visto que cada julgador irá proferir seu voto de forma isolada 
dos demais, nos respectivos gabinetes, impossibilitando a fiscalização de toda 
a sociedade ao exercício da função jurisdicional, notadamente pelo fato de que 
somente as partes podem efetuar oposição ao julgamento virtual. 
O presente texto visa demonstrar que a mudança paradigmática empre-
endida pelo Código de Processo Civil 2015 ao disciplinar no Livro I as normas 
fundamentais pretendem delimitar a atuação dos sujeitos processuais para a for-
mação comparticipada e policentrica da decisão jurídica. Assim, será apresentado 
o julgamento virtual e a densificação da pseudocolegialidade (falsa colegialidade), 
visto que a adoção do plenário virtual, sem qualquer racionalidade processual 
constitucional de uso, estabelece o esvaziamento completo do diálogo.
O objetivo deste trabalho é demostrar que a adoção do julgamento vir-
tual, nos moldes como tem sido empregada pelos tribunais brasileiros agrava a 
ausência de deliberação nos tribunais, sendo a decisão pluripessoal fruto de uma 
atuação teatral e solitária do julgador relator. 
2 A MUDANÇA PARADIGMÁTICA EMPREENDIDA PELO 
NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (LEI 13.105/2015)
Com a constante e inacabada construção do Estado Democrático de Di-
reito tornou-se fundamental atribuir outra roupagem à decisão jurídica, diante 
da necessidade de se garantir a efetiva participação dos destinatários na formação 
comparticipada do provimento final.
A atuação do juiz no Estado Democrático de Direito é de zelador das 
garantias processuais aos jurisdicionados. Assim, a literatura jurídica tem desem-
penhado relevante tarefa de revisitar os institutos jurídicos com o compromisso de 
ressignificar-los, bem como de perquirir a compatibilidade de eventuais práticas 
adotadas pelos tribunais com processo jurisdicional democrático. 
Com maior intensidade busca-se desconstruir as bases alicerçadas pu-
ramente no instrumentalismo processual, bem como expurgar as práticas que 
não coadunam com o processo jurisdicional democrático. Nesses termos, restou 
latente a necessidade de se retirar por completo a concepção no sentido de que ao 
47
juiz é atribuído um privilégio cognitivo, devendo o processo ser entendido como 
um espaço procedimental discursivo, visto que todos os sujeitos processuais, de 
forma igualitária, participação da formação do provimento final, tendo como 
viga mestra o policentrismo e comparticipação processual (NUNES, 2009). 
Assim, as garantias e os direitos fundamentais estabelecidos constitucio-
nalmente são as diretrizes basilares do processo no paradigma do Estado Demo-
crático de Direito, devendo ser incorporadas na prática processual, renovando 
todo o seu formalismo4. 
Explicita Nunes (2009): 
Deve-se vislumbrar que o processo estruturado em perspec-
tiva comparticipativa e policêntrica, não mais embasado no 
protagonismo de qualquer sujeito processual (juiz, partes, 
advogados), mas, na sua atuação responsável, competente 
(Handlungskompetenz) e interdependente, ancorado nos 
princípios processuais constitucionais, impõe um espaço 
público no qual se apresentam as condições comunicativas 
para que todos os envolvidos, assumindo seu respectivo 
papel, participem na formação de provimentos legítimosque permitirá a clarificação discursiva das questões fáticas 
e jurídicas.
Garante-se, desse modo, a cada afetado a exposição de 
razões relevantes para determinação do tema a ser debati-
do e julgado endoprocessualmente, dentro de uma linha 
temporal, de uma fixação adequada do objeto de discussão 
e de uma distribuição dos papéis a serem desenvolvidos44, 
em um espaço público processual moldado pelos princípios 
do modelo constitucional de processo, notadamente o con-
traditório como garantia de influência e de não-surpresa.
O processo, em perspectiva comparticipativa, embasado 
nos princípios processuais constitucionais, fixa os limites 
de atuação e constitui condição de possibilidade para que 
todos os sujeitos processuais discutam argumentos nor-
mativos para formação da decisão mais adequada a cada 
caso em análise.
4 As garantias processual-constitucionais forjam um renovado formalismo constitucional, que induz a 
mantença tão somente das técnicas processuais (instrumentalidade técnica) embasadas em fundamentos 
constitucionalizados (NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre.Processo, jurisdição e processualismo 
constitucional democrático na América Latina: alguns apontamentos. Revista Brasileira de Estudos 
Políticos, Belo Horizonte, n. 101, p.61-96, jul./dez. 2010. Disponível em: <https://goo.gl/aedGmR>. 
Acesso em: 6 nov. 2017). 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
48
A partir de tais premissas, evidencia-se que a mudança inaugurada pelo 
Novo Código de Processo Civil objetiva promover um ambiente processual de 
igualdade entre todos os sujeitos processuais, acabando com toda atuação privi-
legiada seja do juiz ou das partes. Theodoro Júnior et al. (2015, p. 70) leciona: 
Uma das bases da perspectiva democrática, trazida no Novo 
CPC, reside na manutenção da tensão entre perspectivas 
liberais e sociais, impondo que a comunidade de trabalho 
deva ser revista em perspectiva policêntrica e comparticipa-
tiva, afastando qualquer protagonismo e se estruturando a 
partir do modelo constitucional de processo, induzindo a 
convivência de poderes diretivos e gerenciais do juiz com 
uma renovada autonomia privada das partes e dos advoga-
dos (como v.g., na cláusula de negociação processual – art. 
189), mediante as balizas do contraditório como garantia 
de influência (art. 10) e na fundamentação estruturada 
(art. 486) que fomentarão o melhor debate de formação 
decisória, que permitirá a diminuição das taxas de recursos 
e, ainda, imporá a diminuição do retrabalho processual na 
medida em que todos deverão exercer na primeira vez sua 
atividade com alta responsabilidade. Diversamente de hoje, 
em que as atividades processuais exercidas com superficiali-
dade induzem a prática do mesmo ato processual (decisões, 
por exemplo) inúmeras vezes no mesmo procedimento em 
devido processo.
 
Denota-se, por conseguinte, que não é possível sustentar na atualidade a 
compreensão do processo por meio da ótica da teoria relação jurídica, visto que 
o processo não é um instrumento para a realização da jurisdição, assim como 
por inexistir qualquer privilégio cognitivo ao julgador. 
Pontuam Bahia e Nunes (2010, p. 84-85):
Em assim sendo promove uma análise do sistema proces-
sual que suplanta a mera interpretação técnica e dogmática 
ao verificar as grandes características e questões latentes no 
direito processual brasileiro, que padecem de peculiarida-
des no contexto de sua aplicação.
Nesses moldes, tornar-se-ia necessário o aumento da im-
portância do processo constitucional, mas ao mesmo tem-
49
po com rechaço das formalidades exacerbadas e das decisões 
judiciais solitárias (solipsismo judicial), como alguns ainda 
defendem com ares de novidade.
Nesses termos, promovendo uma mudança paradigmática o Novo Código 
de Processo Civil brasileiro (Lei 13.105, de 16 de março de 2015) disciplina na 
parte geral5, livro I, capítulo I, as normas fundamentais do Processo Civil, que 
disciplina expressamente a constitucionalização das normas processuais civis6. 
Trata-se de positivar no bojo do Código de Processo Civil as garantias 
processuais constitucionais, de modo a evidenciar a imprescindibilidade consubs-
tanciada no sentido de que todas as normas infraconstitucionais devem guardar 
estrita observância aos ditames constitucionais, devendo ser esse o pressuposto 
de atuação de todos os sujeitos processuais, para a formação do provimento final. 
A constitucionalização contida nos dispositivos normativos do “Capítulo 
I – Das normas fundamentais do Processo Civil” foi um dos objetivos da comissão 
na elaboração do novo Código de Processo Civil, nos termos da exposição de 
motivos da comissão do anteprojeto7, advindo do movimento de constitucio-
nalização do Direito, iniciado no início do século XX8.
Nesse sentido, os 12 (doze) primeiros artigos do novo Código de Processo 
Civil, abrangendo regras e princípios e não sendo um rol taxativo, inauguram 
a positivação da constitucionalização das normas processuais civis e, por conse-
guinte, do devido processo constitucional. 
5 Registra-se que sob o prisma da organicidade e coesão objetivadas pela comissão de juristas que elaboram 
o novo Código de Processo Civil a criação de uma parte geral no vigente código (SCHMITZ, Leonard 
Ziesemer. A Teoria Geral do Processo e a Parte Geral do Novo Código de Processo Civil. In: DIDIER JR. 
Fredie (coord.) Novo CPC doutrina selecionada: parte geral. Salvador: JusPodivm, 2015. v. 1, p. 103). 
6 Didier Jr. pontua: “O CPC, com clara inspiração no CPC português, dedicou o seu primeiro capítulo a 
apresentar um pequeno elenco com as normas fundamentais do processo civil brasileiro – arts. 1º a 12 
(DIDIER JR, Fredie. CABRAL, Antônio do Passo; CRAMER, Ronaldo (coord.). Comentários ao novo 
Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 1). 
7 Consta na exposição de motivos da comissão do anteprojeto: “poder-se-ia dizer que os trabalhos da Comissão 
se orientaram precipuamente por cinco objetivos: 1. Estabelecer expressa e implicitamente verdadeira sintonia 
fina com a constituição federal [...]. Esta Exposição de Motivos obedece à ordem dos objetivos acima listados. 
1 a Necessidade de que fique evidente a harmonia da lei ordinária em relação à Constituição Federal da 
República fez com que se incluíssem no Código, expressamente, princípios constitucionais, na versão 
processual. Por outro lado, muitas regras foram concebidas, dando concreção a princípios constitucionais, 
como, por exemplo, as que preveem um procedimento, com contraditório e produção de provas, prévio à 
decisão que desconsidera da pessoa jurídica, em sua versão tradicional, ou “às avessas”. Está expressamente 
formulada a regra no sentido de que o fato de o juiz estar diante de matéria de ordem pública não dispensa 
a obediência ao princípio do contraditório”. 
8 CÂMARA, Alexandre Freitas. Dimensão Processual do Princípio do Devido processo Constitucional. In: 
DIDIER JR. Fredie (coord.). Novo CPC doutrina selecionada: parte geral. Salvador: JusPodivm, 2015. 
v. 1, p. 246. 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
50
Em tais artigos vemos a posição infraconstitucional da garantia processual 
da duração razoável do processo (art. 4º), boa-fé processual (art. 5º), cooperação 
e a primazia do julgamento do mérito (art. 6º), igualdade processual (art. 7º), 
vedação de decisão surpresa (art. 10), publicidade e fundamentação das decisões 
(art. 11). 
Nota-se que alguns dispositivos são a reprodução das normas constitucio-
nais, tornando mais evidente à assertiva de que toda a aplicação e interpretação 
das disposições normativas processuais civis devem estar em consonância com 
o texto magno da Constituição Federal/889. 
O Novo Código de Processo efetivou a construção de um arcabouço 
normativo que visa implementar a concepçãode que toda a atuação dos sujeitos 
processuais deve se dar por meio da boa-fé processual, de forma cooperativa, com 
estrito respeito ao contraditório dinâmico entendido como garantia de influência 
e não surpresa, para a construção do provimento final. 
Nesses termos, o processo jurisdicional democrático deve ser “[...] isonô-
mico, que se desenvolve em contraditório, perante o juízo natural, que proferirá 
decisões fundamentadas, alcançando-se seu resultado final em tempo razoável”10. 
A partir da compreensão do processo jurisdicional democrático a decisão 
colegiada deve ser o resultado da participação de todos os sujeitos processuais, 
em simétrica paridade, com a estrita observância a boa-fé, cooperação, igualdade, 
devendo o julgador zelar pelo efetivo contraditório dinâmico, não proferindo 
decisão surpresa, padecendo, por conseguinte, o julgador relator de qualquer 
privilégio cognitivo sobre o julgamento da demanda que lhe é posta. 
3 A VELHA PROBLEMATICA DA PSEUDOCOLEGIALIDADE
A colegialidade das decisões entendida como o somatório dos votos profe-
ridos pelos membros da turma julgadora enseja na efetiva deliberação interna do 
órgão colegiado e deste com as partes, em um verdadeiro contraditório dinâmico, 
com o enfrentamento da identidade do arcabouço argumentativo ofertado, por 
meio da irresignação recursal. 
Assim, partindo-se do horizonte que a baliza estruturante dos tribunais é o 
julgamento empreendido pelo colégio decisor, especialmente pelo fato de que em 
nosso sistema processual civil, superada as hipóteses de inadmissibilidade recursal, 
9 DIDIER JR.; CABRAL; CRAMER, op. cit., p. 2.
10 CÂMARA, op. cit., p. 248. 
51
por ausência de algum dos requisitos de admissibilidade (art. 932, III, CPC), 
somente é cabível o enfretamento do mérito recursal pelo relator, dando-lhe ou 
negando-lhe provimento, em delegação de competência da respectiva turma jul-
gadora, nas hipóteses em que sua decisão representar uma verdadeira ratificação 
ao entendimento já consolidado pelos tribunais superiores por meio de súmula, 
acordão proferido em julgamento de recursos repetitivos e em entendimentos 
firmados em sede de incidente de desconsideração da personalidade jurídica 
ou de assunção de competência (art. 932, IV e V, CPC), a pseudocolegialidade 
mostra-se um grande problema a ser enfrentado, sendo, inclusive, densificado 
com a adoção do julgamento virtual pelos tribunais brasileiros. 
A pseudocolegialidade que nada mais é do que a falsa colegialidade evi-
denciada pelo mecânico “[...] de acordo com o relator [...]” não é uma questão 
nova como já pontou Moreira (1997): 
Aumenta de modo considerável a probabilidade de votos 
pouco meditados. Recorre-se com maior frequência, de 
ordinário, à saída cômoda do puro e simples “de acordo 
com o relator”. A suscitação de preliminares ou questões 
de ordem e o próprio exercício, pelo (s) advogado (s), 
do direito de sustentar oralmente suas razões costumam 
provocar reações mal disfarçadas de impaciência, quando 
não de irritação. A pressa de chegar ao termo da jorna-
da pode impor aos julgamentos ritmo por demais célere, 
quiçá tumultuá-los, com consequências que facilmente se 
adivinham.
Nesses termos, é o apontamento de Theodoro Junior et al. (2015, p. 148, 
400):
Ademais, o “tradicional” modo de julgamento promovido 
pelos Ministros (e desembargadores), que, de modo uni-
pessoal, com suas assessorias e sem diálogo e contraditório 
pleno entre eles e com os advogados, proferem seus votos 
partindo de premissas próprias e construindo fundamen-
tações completamente díspares, não atende a esse novo 
momento que o Brasil passa a vivenciar. 
[...]
Esse movimento merece muita atenção e cuidado quando 
se percebe que esse uso de precedentes ainda desafia vá-
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
52
rias intempéries, como a da aqui nominada “pseudocole-
gialidade”: tal fenômeno, que vem sendo justificado pela 
quantidade de processos nos tribunais, ocorre quando as 
decisões, que deveriam ser efetivamente colegiadas, são 
proferidas monocraticamente pelo relator, sem que haja 
real pacificação de entendimentos sobre o caso julgado, ou 
mesmo, de modo mais perverso, quando a decisão fruto 
de uma turma, é, de fato, a decisão monocrática do relator 
no qual os demais julgadores do colegiado simplesmente 
chancelam com um superficial “de acordo”, que põe muitas 
vezes significar “não olhei, mas acho que concordo com 
o relator.
A densificação da pseudocolegialidade pela adoção do julgamento virtual 
consubstancia-se na total ausência de diálogo (deliberação) entre os membros do 
órgão colegiado, ainda que por vídeoconferência, estabelecendo uma desnatu-
ralização dos julgamentos pluripessoais em razão da eliminação do debate entre 
os membros da turma julgadora. 
Constata-se, ainda, que o plenário virtual na remota hipótese da existência 
de diálogo entre os julgadores, elimina a publicidade da deliberação, notada-
mente, pelo fato de cada julgador proferirá seu voto de forma individualizada no 
seu gabinete, impedindo a fiscalização do procedimento de tomada da decisão 
pela sociedade. 
4 JULGAMENTO VIRTUAL
O Novo Código de Processo Civil disciplina um sistema misto para a 
realização dos atos processuais ora em autos físicos, ora em autos eletrônicos, 
conforme se depreende dos arts. 193 a 199, 213, do § 2º, do art. 229, 246, 270 e 
513. Disciplinava o CPC/15 antes da alteração dada pela Lei nº 13.105 a prática 
do julgamento virtual no art. 945, possuindo a seguinte redação:
A critério do órgão julgador, o julgamento dos recursos e 
dos processos de competência originária que não admitem 
sustentação oral poderá realizar-se por meio eletrônico.
§ 1º O relator cientificará as partes, pelo Diário da Justiça, 
de que o julgamento se fará por meio eletrônico.
§ 2º Qualquer das partes poderá, no prazo de 5 (cinco) 
53
dias, apresentar memoriais ou discordância do julgamento 
por meio eletrônico.
§ 3º A discordância não necessita de motivação, sendo apta 
a determinar o julgamento em sessão presencial.
§ 4º Caso surja alguma divergência entre os integrantes do 
órgão julgador durante o julgamento eletrônico, este ficará 
imediatamente suspenso, devendo a causa ser apreciada 
em sessão presencial.
Em tal forma de julgamento o relator incluirá o feito a ser julgado em 
uma sessão virtual, sendo que os demais componentes da turma julgadora irão 
proferir seu voto no ambiente virtual, nos respectivos gabinetes com a dispen-
sabilidade da sessão presencial. 
Na dicção do revogado § 4º, do art. 945, CPC/15 em caso de diver-
gência, o julgamento do feito deveria ser suspenso, passando a ser julgado em 
sessão presencial, notadamente em virtude da possível aplicabilidade da técnica 
de ampliação da colegialidade estabelecida, no art. 942, do diploma processual 
citado. Pontue-se que embora o art. 945, CPC/15 tenha sido revogado pela Lei 
nº 13.256/2016, a prática do julgamento virtual continua a ser efetivada pelos 
tribunais brasileiros, sendo disciplinada nos regimentos internos dos tribunais. 
Já nos julgamentos empreendidos pelo plenário virtual perante o Supe-
rior Tribunal de Justiça há a figura do ora denominado “[...] de acordo com o 
relator automático [...]”, visto que a não manifestação dos integrantes da turma 
julgadora, no prazo de 7 (sete) dias, gera a aquiescência do ministro que deixou 
de manifestar as razões da sua decisão ao voto proferido pelo relator do recurso. 
Art. 184-F. A não manifestação do Ministro no prazo de 
sete dias corridos previstos no art. 184-E acarretará a adesão 
integral ao voto do relator.
§ 1º O disposto no caput não se aplica ao Ministro que 
deixar de votar por motivo de impedimento ou suspeição 
ou por licença ou afastamento que perdurem os cinco úl-
timos dias de votação.
§ 2º O processoserá excluído da pauta de julgamento 
virtual nas hipóteses em que, no prazo do parágrafo único 
do art. 184-D, qualquer integrante do Órgão Julgador 
expresse não concordância com o julgamento virtual, se 
acolhida a oposição feita por qualquer das partes, pelo 
defensor público ou pelo Ministério Público ou se houver 
o deferimento de sustentação oral.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
54
§ 3º Aplicam-se ao julgamento virtual, no que couber, as 
disposições dos arts. 55 e 103, §§ 6º e 8º.
Art. 184-G. Findo o prazo de sete dias corridos de que 
trata o art. 184- E, o sistema contará os votos e lançará, de 
forma automatizada, na plataforma eletrônica, o resultado 
do julgamento. 
Outra peculiaridade advinda da adoção do plenário virtual, perante o 
Supremo Tribunal Federal, reside no fato do ministro que deixar de manifestar 
poderá ser sorteado na redistribuição, se vencido o relator, para redigir o acordão, 
nos termos do art. 324, § 3º, do RISTF, in verbis: 
Art.  324. Recebida a manifestação do(a) Relator(a), os 
demais ministros encaminhar-lhe-ão, também por meio 
eletrônico, no prazo comum de 20 (vinte) dias, manifes-
tação sobre a questão da repercussão geral.)
[...]
§ 3º No julgamento realizado por meio eletrônico, se ven-
cido o Relator, redigirá o acórdão o Ministro sorteado na 
redistribuição, dentre aqueles que divergiram ou não se 
manifestaram, a quem competirá a relatoria do recurso 
para exame do mérito e de incidentes processuais. 
Nesse esteio, evidencia-se que a adoção da forma de julgamento virtual, 
nos moldes como tem sido empregada pelos tribunais brasileiros, sem uma ra-
cionalização processual democrática de uso, enseja na desnaturalização do órgão 
colegiado, visto que elimina o diálogo entre os membros do colégio julgador. 
De igual maneira, o julgamento virtual expurga a publicidade da decisão, 
diminuindo, por conseguinte, a possibilidade de fiscalização de toda a sociedade 
do exercício da função jurisdicional, especificamente pelo fato de que somente 
as partes podem efetuar a oposição ao julgamento virtual. 
Todavia, evidencia-se que tal forma de julgamento pode contribuir para 
a promoção da razoável duração do processo, visto que por meio da ferramenta 
digital o julgamento do pedido na instância revisora pode ser de maneira mais 
ágil, viabilizando, por conseguinte, a diminuição do aparelho estatal. 
Depreende-se, por conseguinte, que é indispensável, para a correta ado-
ção dos julgamentos virtuais, o desenvolvimento de recursos tecnológicos que 
permitem a promoção das garantias processuais, não que agravando mais os 
problemas processuais já existentes no nosso sistema processual. 
55
Diante de tais considerações, nota-se que em virtude da adoção do jul-
gamento virtual pelos tribunais brasileiros temos a necessidade de criação de 
mecanismos que objetivam a expurgação dos problemas atinentes à eliminação 
da colegialidade e, por conseguinte, da densificação da pseudocolegialidade, bem 
como da ausência de publicidade na formação da decisão pluripessoal. 
5 CONCLUSÃO
A necessidade de uma construção efetivamente participada do mérito, 
garantindo-se o efetivo contraditório dinâmico, o devido processo legal, deve 
nortear a atuação de todos os sujeitos processuais. 
O Novo Código de Processo Civil ao estabelecer as normas fundamen-
tais que irão embasar a atuação das partes durante toda a marcha processual 
representou uma efetiva mudança paradigmática, visto que todos os sujeitos 
processuais devem desempenhar a sua função endoprocessualmente de maneira 
comparticipada e policentrica para a formação da decisão final. 
Nesses termos, a formação da decisão colegiada deve ser o fruto do con-
traditório dinâmico entre todos os sujeitos processuais. Ou seja, os julgadores 
do órgão colegiado devem dialogar entre si e com as partes. 
Assim, o presente ensaio objetivou explicitar que a adoção do julgamento 
virtual (plenário virtual), nos moldes como tem sido empregado pelos tribunais 
brasileiros, promove um total esvaziamento da colegialidade, enraizando a velha 
problemática acerca da pseudocolegialidade no âmbito dos tribunais brasileiros. 
Além de fortalecer a velha prática do “de acordo com o relator” cria a 
figura da aquiescência automática ao voto do relator e permite, ainda, que, se 
vencido o relator, o julgador silente, que deixou de votar no plenário virtual, 
possa ser o relator do acordão. 
No julgamento virtual torna mais latente a constatação que o voto do 
relator em nosso sistema processual representa um convite à adesão, não um 
convite à deliberação. Assim, o julgamento virtual, nos moldes como tem sido 
empregado pelos tribunais brasileiros agrava a ausência de deliberação, sendo a 
decisão pluripessoal fruto de uma atuação solitária do julgador relator. 
Nesse sentido, a formação da decisão colegiada se dá de forma teatral, 
em virtude de ser o resultado da atuação singular do julgador relator, em razão 
da ausência de diálogo com os demais membros integrantes do órgão colegiado. 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
56
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59
COMO CONSTRUIR UMA INTERPRETAÇÃO GARANTISTA 
DO PROCESSO JURISDICIONAL?
HOW TO BUILD A GUARANTEE-ORIENTED INTERPRETATION 
OF THE JURISDICTIONAL PROCESS?
Lúcio Delfino*
RESUMO: O artigo aponta possibilidades para uma interpretação garantista 
do processo jurisdicional, em atenção ao seu ser constitucional, bem assim 
ao papel fundamental que desempenha (ou que deveria desempenhar) em 
compromisso com a preservação da liberdade das partes na arena processual. 
Palavras-chaves: Garantismo processual. Devido processo legal. Liberalismo. 
Ciência processual. Jurisdição.
ABSTRACT: the article presents possibilities towards a guarantee-oriented 
interpretation of the jurisdictional process, considering its constitutional being, 
as well as the base role such process plays (our should play) in commitment 
with the preservation of the liberty of the parties in the process field.
Keywords: Guarantee oriented procedural. Due law process. Liberalism. 
Procedural science. Jurisdiction.
SUMÁRIO:1 A metáfora Matrix e a depredação do processo por lentes 
estatólatras de compreensão. A baixa constitucionalidade e o desdém ao devido 
processo legal. 2 O social-liberalismo encampado pela Carta Constitucional de 
1988. Ideologia política, jurisdição e processo. Os percursos escolhidos para 
esta breve jornada. 3 O papel da jurisdição no Estado Democrático de Direito. 
O amesquinhamento do processo por uma compreensão enviesada decorrente 
da transposição de topoi político-ideológicos estranhos à sua gênese. O devido 
processo legal como garantia fundamental compromissada com a preservação 
da liberdade. 4 O artigo escrito por Eduardo José da Fonseca Costa em prol 
do desvelamento da gênese do processo. A pergunta pelo ser constitucional 
* Pós-doutor em Direito (UNISINOS). Doutor em Direito (PUC-SP). Diretor da Associação Brasileira de 
Direito Processual (ABDPro). Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB). Membro do Instituto 
dos Advogados de Minas Gerais (IAMG). Diretor da Revista Brasileira de Direito Processual (RBDPro). 
Advogado.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
60
do processo como condição apriórica de possibilidade da ciência processual. O 
desencaminhamento promovido por correntes dogmáticas que desenraizaram o 
processo da Constituição. O processo em sua institucionalidade garantística e seu 
papel de contenção de abusos e desvios no exercício da atividade jurisdicional. 
5. Considerações finais. Acepções inautênticas e generalizadas sobre o processo. 
O processo encarado a partir de uma leitura forte do devido processo legal.
1 A METÁFORA MATRIX E A DEPREDAÇÃO DO PROCESSO 
POR LENTES ESTATÓLATRAS DE COMPREENSÃO. A BAI-
XA CONSTITUCIONALIDADE E O DESDÉM AO DEVIDO 
PROCESSO LEGAL
Há um gravíssimo vezo no domínio do direito processual notabilizado 
por uma espécie de miscelânea retórico-argumentativa cada vez mais comum 
hodiernamente. É que a construção teórica e legislativa segue sendo forjada 
segundo miradas cujo compromisso capital está sobretudo no apoderamento 
judicial, em desprezo à gênese que caracteriza mais de perto a instituição que é 
o processo. O estrago causado por esse tipo de postura tem se pronunciado dia a 
dia na praxe forense e ajuda a desvelar por qual razão o Direito é cotidianamente 
depredado por arbitrariedades de toda sorte. 
Não que seja uma obviedade facilmente percebível, pois desponta tão so-
mente a partir de um doloroso empenho de des-vivicação da própria experiência 
de mundo na qual todos estamos mergulhados. Por aqui há tempos o paroquia-
lismo doutrinário fez soberano o ensino do direito processual encimado em bases 
publicistas (ou hiperpublicistas), cujas elaborações teórico-conceituais privilegiam 
exatamente uma compreensão que prima a jurisdição pela superioridade.
A diluição do processual pelo jurisdicional é um fenômeno deveras real, 
uma promiscuidade oriunda de pré-juízos que se enraizaram na tradição jurídica 
pela labuta impactante e serial da dogmática durante longo trajeto histórico, a 
ponto de fazer com que antevejamos o processo por uma via de pensamento 
profundamente aferrada à perspectiva da atividade jurisdicional e dos seus (de-
nominados) escopos sociais, políticos e jurídicos. Grosso modo, ecoa de ponta 
a ponta no País o mantra: o processo é de somenos importância, ancilar e 
subserviente, mero instrumento a serviço da jurisdição. 
Já é hora, pois, de desvelar e destruir algumas compreensões alcançadas 
no interior da tradição e que foram se sedimentando até constituírem o com-
portamento assumido de modo geral pelos profissionais do direito na atualidade. 
61
Algo como tomar “pílula vermelha”, expandir a percepção a fim de enriquecer 
horizontes em socorro ao conhecimento do processo tal como ele é. Não por 
deleite teórico, vaidades ou coisas do gênero, mas porque só assim se dará o 
giro paradigmático, passo absolutamente necessário para salvaguardar teoria e 
prática processuais da baixa constitucionalidade na qual se encontram atoladas.
2 O SOCIAL-LIBERALISMO ENCAMPADO PELA CARTA 
CONSTITUCIONAL DE 1988. IDEOLOGIA POLÍTICA, JU-
RISDIÇÃO E PROCESSO. OS PERCURSOS ESCOLHIDOS 
PARA ESTA BREVE JORNADA 
Tenha-se em mente que o social-liberalismo é a base político-ideológica 
subjacente à Carta Constitucional em vigor, que ilumina o curso da ordem 
econômica, financeira, jurídica, educacional e assistencial. Se outrora estavam 
os brasileiros suspensos entre liberalismo e estatismo, hoje, porém a opção 
manifesta é por uma convergência de ideologias.1
Não se tem, por isso, um liberalismo infenso à justiça social, e sim uma 
proposta político-normatizada cujo mote é o continuado balanceamento de va-
lores liberais e sociais entremeados em diversas conjunturas: embora dotado de 
muitas atribuições, o Estado não é (não deve ser) exclusivista, não é seu mister 
monopolizar a exploração econômica, mas tão-somente regular a economia para 
reprimir abusos, não lhe sendo lícito operar em conflito com a livre iniciativa, 
salvo em hipóteses expressamente previstas na Constituição.2
De maneira pontual, os principais traços característicos do social-libe-
ralismo são: i) o individualismo egoísta do liberalismo clássico cedeu espaço 
ao individualismo altruísta e progressista, que enxerga uma conexão entre os 
homens por laços de simpatia e atenção; ii) diante do fracasso do livre comércio 
e da inviabilidade da empresa privada sem restrições, o capitalismo se submeteu 
a uma regulação destinada a promover prosperidade, harmonia na sociedade 
civil e a redução das desigualdades de pontos de partida; iii) o Estado mínimo 
dos liberais radicais (incapaz de corrigir as injustiças e desigualdades) e o Estado 
máximo dos socialistas marxistas (pesado, ineficaz e opressivo) cedem lugar a 
um Estado fiscal e ágil, a um “liberalismo de Estado” que ajuda as pessoas a se 
ajudarem, intervindo na economia e promovendo serviços de bem-estar social 
(saúde, segurança e educação); iv) a liberdade negativa dos liberais clássicos foi 
1 REALE, Miguel. O Estado Democrático de Direito e o conflito das ideologias. São Paulo: Saraiva, 
2010, p. 43-51.
2 REALE, 2010,loc. cit.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
62
superada por uma liberdade positiva, isto é, pela ideia de que a liberdade também 
pode ser ameaçada pelas desigualdades sociais e desvantagens intensas.3
O que isso, entretanto, importa ao direito processual? Ora, ideologias 
políticas exercem sugestão indeclinável sobre a forma como se visualizam a or-
ganização administrativo-funcional do Estado-juiz, o modo de formularem-se as 
decisões judiciais, a maneira de ocupação dos cargos judiciários e de apoio, e os 
objetivos, as metas e as tarefas que cabem ao Estado no desempenho específico 
da função jurisdicional.4 Tendo isso em consideração, um pequeno esforço é 
suficiente para se concluir que influxos ideológicos também se mostram capazes 
de fomentar ingerências sobre a apreensão e manejo da instituição (processo) 
que legitima a atuação jurisdicional e o seu resultado.5 Indo direto ao ponto: o 
substrato de inúmeras concepções e construções dogmático-processuais preten-
samente técnicas tem por fundamento reflexos oriundos da transposição de topoi 
político-ideológicos imperantes em determinado tempo e espaço,6 cuja difusão 
devotada, massiva e equivocada corroborou para calcificar camadas e camadas de 
compreensão que obnubilam àquilo que o processo possui de mais distintivo.7
E tudo se complica em países onde o senso comum teórico assume pela 
jurisdição especial afeição, tomando-a inclusive como centro gravitacional da 
3 COSTA, Eduardo José da Fonseca. Los critérios de la legitimación jurisdicional según los activismos 
socialista, facista y gerencial. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 21, 
n. 82, p. 205-216, abr./jun. 2013. Vale a lembrança que esse trabalho serviu de base à palestra ganhadora 
do Prêmio “Humberto Briseño Sierra”, proferida pelo autor, em 19 de outubro de 2012, na ocasião do 
XII Congreso Nacional de Derecho Procesal Garantista, na cidade de Azul, Argentina.
4 COSTA, Eduardo José Fonseca. Uma espectroscopia ideológica do debate entre garantismo e ativismo. 
In: DIDIER JR., Fredie et al. (org.). Ativismo Judicial e Garantismo Processual. Salvador: JusPodivm, 
2015, p. 171-186.
5 Juan Montero Aroca elucida que a origem das concepções assumidas pelos estudiosos acerca do processo 
é de ordem política, embora muitas vezes ocultada sob o manto da técnica processual. Sobre o tema: 
MONTERO AROCA, Juan. Sobre el mito autoritário de la buena fe procesal. In: ________. (coord.). 
Proceso civil e ideología: un prefacio, una sentencia, dos cartas y quince ensayos, 2. ed. Valencia: Tirant 
lo Blanch, 2011, p. 292-352.
6 COSTA, 2015.
7 Nessa linha, leciona João Maurício Adeodato que “[...] toda dogmática jurídica é necessariamente ideológica, 
daí a necessidade de compreender a relativa autonomia do direito dogmático em relação à moral. O conteúdo 
ideológico atravessa toda a estrutura da dogmática por estar contido no próprio dogma e, como bem nota 
Viehweg, não se deve preterir determinada teoria jurídica sob a pecha de ‘mera ideologia’, haja vista que 
todo discurso dogmático segue uma linha ideológica, e não descritiva, buscando como efeito a crença, e 
não o conhecimento neutral de seus postulados. Mesmo assente este fato, pode-se notar uma constante 
preocupação de ‘desideologizar’ a ação social do pensamento dogmático, emprestando ao direito um 
conteúdo eminentemente técnico e fazendo com que o sistema jurídico e suas normas, embora elaborados a 
partir desta ou daquela ideologia, passem a funcionar o mais possivelmente desvinculados de seus pontos de 
partida, reduzindo ao mínimo o inevitável pano de fundo ideológico. ‘Este mundo jurídico pode funcionar, 
pois, sem reflexões ideológicas; naturalmente, não porque esteja livre de ideologias e sim porque a ideologia 
trivial, que se pressupõe e não se discute, tenha sido dogmatizada de uma maneira tecnicamente perfeita’ 
(Viehweg).” (ADEODATO, João Maurício. Ética & Retórica: para uma teoria da dogmática jurídica, 5. 
ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 161).
63
Teoria do Processo.8 Não é à toa que a aludida transposição dos topoi políticos-
-ideológicos ganha ares sobranceiros no Brasil, fazendo com que técnicas legis-
lativas sejam elaboradas e interpretadas a partir de lentes desvirtuadas de uma 
específica perspectiva histórico-cultural que lhes deveria servir de modelo. Entre 
nós, processo e direito processual surgem amesquinhados por pré-conceitos 
inautênticos que doutrina e prática forense gradualmente consolidaram.
Mas, o que afinal torna equivocado encarar o processo com os olhos da 
jurisdição, qual o problema dessa cegueira epistemológica em relação ao ser pro-
cessual, e precisamente que mal habita esse tipo de (im) postura hermenêutica? 
A resposta a essas questões demanda um trabalho de decomposição da coisa 
em exame voltado a desobstruir estruturas teóricas prévias já encrostadas a fim 
de, em última análise, demonstrar que o ativismo judicial, as correntes teóricas 
que o subjazem e as suas consequências corrosivas estão longe de serem autoevi-
dentes ou sustentáveis a partir de um horizonte fundado constitucionalmente.
Conquanto diversos os caminhos segundo os quais a empreitada poder-se-
-ia alcançar seu desiderato, optou-se por duas vertentes: i) a histórico-ideológica, 
tendo-se em vista uma investigação centrada nas origens do devido processo legal; 
e ii) a filosófica, cuja base é um artigo de Eduardo José da Fonseca Costa, escrito 
sob a influência da ontologia fenomenológica de Martin Heidegger. 
3 O PAPEL DA JURISDIÇÃO NO ESTADO DEMOCRÁTICO 
DE DIREITO. O AMESQUINHAMENTO DO PROCESSO 
POR UMA COMPREENSÃO ENVIESADA DECORRENTE 
DA TRANSPOSIÇÃO DE TOPOI POLÍTICO-IDEOLÓGI-
COS ESTRANHOS À SUA GÊNESE. O DEVIDO PROCESSO 
LEGAL COMO GARANTIA FUNDAMENTAL COMPROMIS-
SADA COM A PRESERVAÇÃO DA LIBERADE
Ninguém ancorado à realidade atribuiria à jurisdição hoje, pós Consti-
tuição de 1988, função restrita a ordenar e resolver os conflitos que pululam na 
8 Nas palavras de Gumerato Ramos (tradução livre): “[d]entro desse panorama de propor a organização dos 
Institutos Fundamentais seguindo a ordem jurisdição, ação e processo, o discurso da doutrina foi sempre 
uniforme e legitimador do Poder estatal como o grande dirigente e protagonista da cena processual, e por 
isso a jurisdição é trabalhada como o polo metodológico preponderante. A partir daí a doutrina passou a 
valorizar a importância dos Institutos Fundamentais, porém sempre com o enaltecimento da jurisdição 
(= Poder) por sobre o processo (= Garantia) e a própria ação (= Liberdade). Como já assinalado, isso se 
verifica na forma como os livros de teoria geral do processo metodicamente organizam o assunto, de regra 
principiando pela exaltação/explicação sobre a jurisdição, sendo a ação e o processo tratados sempre após 
aquela.” (RAMOS, Glauco Gumerato. Proceso jurisdicional, Repúplica y los Institutos Fundamentales del 
derecho procesal. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 22, n. 88, 
p. 251-272, out./dez. 2014, grifo nosso).
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
64
sociedade. Seu papel segue para além disso, evidentemente. Opera também em 
prol da concretização do projeto constitucional, promovendo por conseguinte 
espécie de (re)engenharia social. O exemplo da Constituição brasileira é ideal, 
pois analítica que é, abrange inúmeras questões pautadas por direitos funda-
mentais de distintas dimensões, tradicionalmente decididas com exclusividade 
no âmbito político. 
Parece não haver dúvida de que – parafraseando Lenio Luiz Streck – o 
paradigma do Estado Democrático de Direito, com enfoque no Brasil onde o 
coeficiente de promessas incumpridas da modernidade é muito elevado, liga-se 
inexoravelmente à função transformadora que o Direito e a jurisdiçãoconsti-
tucional assumem na atualidade. A especificidade da Constituição brasileira, a 
qual contém um leque de direitos fundamentais-sociais com altíssimo grau de 
inefetividade, tornou a judicialização algo inescapável. Ou seja, frente à inércia 
verificada na atuação do Executivo e Legislativo na concretização de direitos 
fundamentais, não se pode abrir mão de certo grau de intervencionismo da 
justiça constitucional.9
Mas considerar o valor da jurisdição nos tempos atuais não autoriza o 
soterramento daquilo que o processo tem de imanente, tampouco a tratá-lo com 
inferioridade, em desatenção às suas raízes histórico-positivas e à ideologia que 
o sustenta.10 Muito pelo contrário, porquanto a valorização da atividade jurisdi-
cional, com a sua ingerência em uma diversidade de assuntos, implica rigorosas 
cautelas no seu controle para impedir e debelar abusos11 – afinal, uma jurisdição 
9 STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e decisão judicial. 3. ed. São Paulo: RT, 2013, p. 113-
118. É bastante conhecida a distinção feita pelo autor entre judicialização da política e ativismo judicial, 
a evidenciar sua preocupação com a atuação judicial desmedida, cujos resultados são discricionariedades e 
decisionismos de toda sorte. Em seus textos verifica-se claramente o combate que trava contra o ativismo 
judicial e as posições teóricas que encaram o Judiciário como o superego da sociedade. Sobre a distinção 
entre ativismo judicial e judicialização da política, consultar também: TASSARINI, Clarissa. Jurisdição e 
ativismo judicial: limites da atuação do Judiciário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013.
10 Como demonstra Lenio Luiz Streck, “[...] o processo constitucional, adequadamente concebido, pode 
representar um elemento de fundamental importância para evitar que a democracia se transforme numa 
judiciariocracia... O elevado grau de autonomia assumido pelo direito nesse novo paradigma acarreta 
responsabilidade política cada vez maior ao Poder Judiciário. Por isso, o necessário cuidado – no sentido 
coloquial e hermenêutico da palavra (Sorge) – que a comunidade jurídica deve ter com o modo como 
a jurisdição constitucional pode e deve ser desenvolvida. Afinal, tudo começa e termina no respeito ao 
devido processo legal. Processo: eis a questão!” (STRECK, Lenio Luiz. À guisa de apresentação: o processo 
constitucional no novo paradigma do estado democrático de direito.In: ARRUDA ALVIM, Eduardo; 
THAMAY, Rennan Faria Kruger; GRANADO, Daniel Willian. Processo constitucional. São Paulo: RT, 
2014, p. 11-14).
11 Em interessante pesquisa, Ran Hirschl analisa a transferência de poder das instituições representativas para 
o Judiciário, fenômeno por ele designado de juristocracia. Uma tendência crescente, que avança do Leste 
Europeu para a América Latina, e atinge sistemas de tradição institucional fundada na soberania parlamentar. 
É a crença na legitimidade de se garantir direitos pela via judicial, mesmo que em evidente contraposição 
ao poder político parlamentar. Hirschl apresenta o outro lado da moeda mediante uma análise que envolve 
a experiência concreta de quatro países que perpassaram pela “revolução constitucional” (Canadá, Nova 
65
mais intervencionista traz consigo o risco de discricionariedades, ativismos e 
decisionismos judiciais, que só fazem sedimentar intepretações afrontosas a prin-
cípios constitucionais fundantes, entre os quais a própria separação de poderes.12 
Em poucas palavras: se é inegável o fato de que a Constituição de 1988 confiou 
especial relevo à jurisdição no Estado Democrático de Direito, é igualmente no-
tório o destaque não menos relevante que também atribuiu ao processo devido.
Ou seja, pensar ontologicamente o processo implica um necessário recuo 
na tradição em busca de suas origens. A chave está em investigar, em sua alvora-
da, o devido processo legal, previsto na Constituição de 1988 entre os direitos 
e garantias individuais e coletivas, matriz fundante do processo em particular, e 
da ciência processual de maneira geral. 
A ideia mesma envolta no due process of law surgiu com a Magna Carta 
Libertatum, outorgada em 1215 pelo João “Sem Terra”.13A expressão, porém, 
só mais tarde veio a ser cunhada, utilizada primeiramente no ano 1354, na 
Cláusula 3 do 28 Estatuto de Eduardo III, na qual se lia que “[…]no man of 
what state or condition he be, shall be put out of his lands or tenements nor taken, 
nor disinherited, nor put to death, without he be brought to answer by due process 
of law”.14Mais: conquanto de origem anglo-saxã, seu aperfeiçoamento deu-se na 
América do Norte, na emergência do fenômeno de constitucionalização dos 
direitos humanos ali ocorrido, tendo sido inserido na Quinta (1791) e Décima 
Quarta (1868) Emendas da Constituição dos Estados Unidos, cujas redações 
serviram de modelo para a Constituição Federal de 1988.15
Zelândia, Israel e África do Sul). Segundo demonstra, hoje praticamente tudo pode ser judicializado, de 
maneira que juízes não eleitos pelo povo, sem responsabilização política, assumem-se dia a dia no mundo 
como o principal corpo decisório sobre questões importantes para a vida coletiva. (HIRSCHL, Ran. 
Towards juristocracy: the origins and consequences of the new constitucionalismo. Cambridge, MA: 
Harvard University Press, 2007).
12 STRECK, 2013.
13 Como leciona Antônio Dória, “[...] a teoria política ocidental deve inegavelmente à Magna Carta a primeira 
concepção de um poder político limitado.” (SAMPAIO DÓRIA, Antônio Roberto. Direito constitucional 
tributário e due processo of law, 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1986, p. 16).
14 STRECK, Lênio Luiz. Conteúdo do princípio: a atuação da Suprema Corte norte-americana. In: ARRUDA 
ALVIM, Eduardo; THAMAY, Rennan Faria Kruger; GRANADO, Daniel Willian. Processo constitucional. 
São Paulo: RT, 2014, p. 25.
15 Sobre o tema há ampla literatura: ARRUDA ALVIM, Eduardo; THAMAY, Rennan Faria Kruger; 
GRANADO, Daniel Willian. Processo constitucional. São Paulo: RT, 2014; BARACHO, José Alfredo 
de Oliveira. Direito Processual Constitucional: Aspectos Contemporâneos. Belo Horizonte: Fórum, 2006; 
BRÊTAS, Ronaldo de Carvalho Dias. Processo Constitucional e Estado Democrático de Direito, 3. ed. 
Belo Horizonte: Del Rey, 2015; CALMON DE PASSOS, J. J. Democracia, participação e processo. In: 
GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido R.; WATANABE, Kazuo (coord.). Participação e 
processo. São Paulo: RT, 1988; CATONI, Marcelo. Direito constitucional. Belo Horizonte: Mandamentos, 
2002; COSTA, Miguel do Nascimento. Das garantias constitucionais e o devido processo no Estado 
Liberal aos direitos fundamentais e o processo justo no Estado Democrático de Direito. Revista AJURIS, 
Porto Alegre, v. 42, n. 139, dez. 2015; DEL NEGRI, André. Teoria da Constituição e do Direito 
Constitucional. Belo Horizonte: Fórum, 2009; COSTA, Eduardo José da Fonseca. O processo como 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
66
Importa aqui o fato de que o due process ganhou força num contexto polí-
tico-ideológico inegavelmente liberal, pois compromissado quer com a limitação 
das ações estatais, quer com o reforço da lei como ordem geral e abstrata. Vale 
dizer, o motor ideológico tinha por matriz direitos fundamentais de resistência 
(primeira dimensão), fruto das revoluções liberais francesa e norte-americana, 
por meio das quais a burguesia reivindicava o respeito às liberdades individuais 
e consequentes limitações aos poderes até então absolutos do Estado. Nessa fase 
inaugural do constitucionalismo ocidental ansiava-se por pretensões de caráter 
negativo, cujos titulares eram os indivíduos.
Na contemporaneidade sabidamente o due process é encarado não apenas 
em sua perspectiva procedimental (procedural due processo of law), mas tam-
bém sob um viés substantivo (substantive due process fo law). Esse sentido foialavancado nos Estados Unidos em 1798, no caso Calder vs. Bull, firmando-se 
o entendimento de que atos normativos, legislativos ou administrativos, que 
ferissem direitos fundamentais, ofenderiam por conseguinte o devido processo 
legal, a demonstrar que o princípio tem aplicabilidade também fora dos limites 
processuais.16 De um lado, salvaguarda direitos fundamentais no âmbito do 
procedimento (contraditório, ampla defesa, isonomia, fundamentação e publi-
cidade das decisões judiciais, entre outros), de outro, revela a segurança de que 
os direitos fundamentais do indivíduo jamais serão violentados pelo ente estatal 
ou por quem quer que seja.17
instituição de garantia. Revista Consultor Jurídico, São Paulo, 16 nov. 2016. Opinião. Disponível em: 
<https://goo.gl/awSkCG>. Acesso em: 7 nov. 2017; NERY JR, Nelson. Princípios do processo civil na 
Constituição Federal, 8. ed. São Paulo: RT, 2004; LIMA, Maria Rosynete Oliveira. Devido processo 
legal. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1999; MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa. Direito 
Processual Constitucional, 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015; LOPES JR., Aury. Direito processual 
penal, 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014; MATTOS, Sérgio Luíz Wetzel de. Devido processo legal e 
proteção de direitos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009; PORTANOVA, Rui. Princípios do 
processo civil, 7. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008; RAMOS, Glauco Gumerato. Proceso 
jurisdicional, Repúplica y los Institutos Fundamentales del derecho procesal. Revista Brasileira de Direito 
Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 22, n. 88, p. 251-272, out./dez. 2014; DÓRIA, Antônio 
Roberto Sampaio. Direito constitucional tributário e due processo of law, 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
1986; SILVEIRA, Paulo Fernando. Devido processo legal. Belo Horizonte: Del Rey, 2001; STRECK, 
Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e decisão jurídica, 3. ed. São Paulo: RT, 2013; STRECK, Lenio 
Luiz; OLIVEIRA, Rafael Tomaz de. O que é isto: as garantias processuais penais? Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2012; TORRES, Artur. Fundamentos de um direito processual civil contemporâneo: Parte 
I. Porto Alegre: Arana Editora, 2016; ZANETI JÚNIOR, Hermes. Processo constitucional: o modelo 
constitucional do processo civil brasileiro. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2007.
16 STRECK, 2014, p. 28.
17 Consoante lecionam Nelson Nery Jr. e Georges Abboud, a origem do substantive due process teve lugar 
justamente com o exame da questão dos limites do poder governamental, submetida à apreciação da 
Suprema Corte norte-americana no final do século XVIII. Já em 1798, no caso Calder vs. Bull, firmou o 
entendimento de que os atos normativos, quer legislativos, quer administrativos, que ferirem os direitos 
fundamentais ofendem, ipso facto, o devido processo legal e, por tal razão, devem ser nulificados pelo 
Judiciário (NERY JR. Nelson; ABBOUD, Georges. Direito Constitucional Brasileiro: curso completo. 
São Paulo: RT, 2017, p. 161).
67
 Enfim, é preciso ter claro que o devido processo legal (ou como preferem 
alguns, o processo legal devido) apresenta, em sua identidade essencial, o 
papel garantístico de preservação da liberdade do cidadão; assim foi outrora e 
permanece sendo ainda hoje, mesmo diante dos influxos evolutivos que recebeu 
ao longo das quadras pelas quais perpassou a história. 
4 O ARTIGO ESCRITO POR EDUARDO JOSÉ DA FONSE-
CA COSTA EM PROL DO DESVELAMENTO DA GÊNESE 
DO PROCESSO. A PERGUNTA PELO SER CONSTITU-
CIONAL DO PROCESSO COMO CONDIÇÃO APRIÓRICA 
DE POSSIBILIDADE DA CIÊNCIA PROCESSUAL. O DE-
SENCAMINHAMENTO PROMOVIDO POR CORRENTES 
DOGMÁTICAS QUE DESENRAIZARAM O PROCESSO DA 
CONSTITUIÇÃO. O PROCESSO EM SUA INSTITUCIONA-
LIDADE GARANTÍSTICA E SEU PAPEL DE CONTENÇÃO 
DE ABUSOS E DESVIOS NO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE 
JURISDICIONAL
O caminho que se segue na sequência tem por alvo o desvelamento do 
processo a partir de uma atitude filosófica que assumidamente pretenda o retorno 
às coisas mesmas. Ao fim e ao cabo, o objetivo permanece idêntico àquele até 
então almejado: alijar a encrosta teórica que, desde há muito, oculta a gênese do 
ser processual. É, pois, um embate contra o senso comum teórico. 
Embora difícil a empreitada, ela já teve início pelas mãos de alguns juris-
tas, os quais ainda que apegados em bases teóricas diversas, adotam como pauta 
comum justamente a peleja na construção do projeto sempre inconcluso do 
Estado Democrático de Direito. Entre eles a escolha recaiu sobre Eduardo José 
da Fonseca Costa, especificamente porque recentemente elaborou, radicado à 
ontologia fenomenológica de Heidegger, texto teórico revelador de riquíssimo 
conteúdo e de proveito inconteste para esse trabalho de explicitação dogmática 
daquilo que realmente é o processo.18
O ponto de partida é ter em mente que a processualística não é um 
livre projeto ou artifício intelectual: ainda que disponha de um sistema de 
categorias fortemente estruturado, é cega se antes não esclarece suficientemen-
te o ser constitucional do processo e se não compreende esse esclarecimento 
como tarefa fundamental. Afinal de contas, é a Constituição que traça as linhas 
mestras estruturais do processo, vale dizer, é a sua plataforma de lançamento 
18 Esse tópico basicamente é um resumo do artigo aludido: COSTA, 2016.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
68
institucional, de maneira que não se pode conceber uma processualística que 
não se anteceda de uma constitucionalistica do processo. Implicado em todo 
pensamento processual há de estar um pensamento constitucional. A pergunta 
pelo ser constitucional do processo é a condição apriórica de possibilidade de 
uma ciência processual.19
E uma exploração, mesmo que superficial da Constituição de 1988, é 
mais que suficiente para identificar a institucionalidade garantística como o ser 
constitucional do processo.20 Processo é instituição de garantia, estando a serviço 
dos jurisdicionados, não é instrumento do poder jurisdicional. Enquanto a função 
da jurisdição é aplicar imparcialmente o direito, a do processo é garantir que 
essa aplicação se faça sem desvios e excessos.21 Lembre-se: na jurislação, o direito 
é criado; na jurisdição, o direito é aplicado por terceiro imparcial; na admi-
nistração, o direito é aplicado pela própria parte ou por terceiro não imparcial. 
19 Nessa mesma linha, Aury Lopes Jr. aponta a necessidade de se pensar o processo penal (mas o mesmo 
vale para o processo civil) a partir da Constituição. Ensina que somente “a partir da consciência de que a 
Constituição deve efetivamente constituir (logo, consciência de que ela constitui-a-ação), é que se pode 
compreender que o fundamento legitimante da existência do processo penal democrático se dá através 
da sua instrumentalidade constitucional. Significa dizer que o processo penal contemporâneo somente se 
legitima à medida que se democratizar e for devidamente constituído a partir da Constituição.” Em outro 
trecho de sua obra, ensina que o “processo não pode mais ser visto como um simples instrumento a serviço 
do poder punitivo (Direito Penal), senão que desempenha o papel de limitador do poder e garantidor 
do indivíduo a ele submetido. Há que se compreender que o respeito às garantias fundamentais não se 
confunde com impunidade, e jamais se defendeu isso. O processo penal é um caminho necessário para 
chegar-se, legitimamente, à pena. Daí por que somente se admite sua existência quando ao longo desse 
caminho forem rigorosamente observadas as regras e garantias constitucionalmente asseguradas (as regras 
do devido processo legal.” LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal, 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, 
p. 41-45).
20 Para uma apresentação do debate envolvendo ativismo vs garantismo: RAMOS, Glauco Gumerato. Activismo 
vs. Garantismo en el processo civil: presentación del debate. SOARES,Carlos Hernique et al. (coord.). 
Proceso Democrático y Garantismo Procesal. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2015, p. 1-13.
21 Sem dúvida que o livro Direito e Razão, de Ferrajoli, encontra lugar certo em toda biblioteca de estudiosos 
que seguem uma linha de pensamento garantista. Segundo o jurista italiano, são três as acepções possíveis 
da expressão garantismo: i) designa um modelo normativo de direito (precisamente, no que diz respeito ao 
direito penal, o modelo de estrita legalidade, próprio do Estado de Direito, que sob o plano epistemológico 
se caracteriza como um sistema cognitivo ou de poder mínimo, sob o plano político se caracteriza como 
uma técnica de tutela idônea a minimizar a violência e maximizar a liberdade e, sob o plano jurídico, como 
um sistema de vínculos impostos a função punitiva do Estado em garantia dos direitos dos cidadãos); ii) 
significa teoria jurídica da validade e da efetividade como categorias distintas não só entre si, mas também 
pela existência ou vigor das normas (a palavra garantismo exprime uma aproximação teórica que mantém 
separados o ser e o dever ser no direito; e, aliás, põe como questão teórica central, a divergência existente nos 
ordenamentos complexos entre modelos normativos, tendencialmente garantistas, e práticas operacionais, 
tendencialmente anti-garantistas, interpretando-a com antinomia que subsiste entre a validade dos primeiros 
e a efetividade – e invalidade – das segundas; e iii) trata-se de uma filosofia política que requer do direito e 
do Estado o ônus da justificação externa com base nos bens e nos interesses dos quais a tutela ou a garantia 
constituem a finalidade (o garantismo pressupõe a doutrina laica da separação entre direito e moral, entre 
validade e justiça, entre ponto de vista interno e ponto de vista externo na valoração do ordenamento, ou 
mesmo entre o ser e o dever ser do direito). (FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão: Teoria do Garantismo 
Penal, 2. ed. São Paulo: RT, 2006, p. 785-788). 
69
Na realidade, o que está a serviço da realização do direito material é a 
jurisdição, não o processo: ao processo cabe apenas cuidar para que essa rea-
lização não deslize em abusividades. Ou seja, o exercício da jurisdição radica 
no processo, é o último que legitima a primeira; não o contrário. Tanto assim 
é que o processo é tratado no título da Constituição sobre direitos e garantias 
fundamentais, não nos títulos sobre organização do Estado. Mais ainda: processo 
é instituição de garantia de liberdade, pois regulado no Capítulo I do Título II, 
que cuida sobretudo dos direitos fundamentais de primeira dimensão. Presta-se, 
enfim, a resguardar a liberdade das partes em relação ao Estado-juiz. 
Acontece que são muitas as correntes dogmáticas desencaminhadas, que 
inconfessadamente desenraizam o processo da Constituição e o envolvem em 
sobrecargas inconvenientes, esfumaçando-lhe seu ser constitucional e, por con-
sequência, sua institucionalidade garantística. São doutrinas de cunho ativista, 
apegadas a uma perspectiva utensiliar, cuja dimensão historial representa exercício 
renitente de esquecimento do ser constitucional do processo. O que fazem é 
dissolver o processo (que é garantia) na jurisdição (que é poder), como se processo 
fosse a própria jurisdição-funcionalmente-manifestada, fazendo-o perder a pró-
pria autonomia ôntica, dando o direito processual lugar a um disforme “direito 
jurisdicional”. Derivam de uma processualística orgulhosa, que logrou isolar-se 
ou alhear-se, que escapou ao englobamento constitucionalístico, ensimesmou-se 
ou se prostituiu, adoecendo de si própria. Esquecem o ser constitucional do 
processo por indiferença, e seguem rumo como se fosse legítimo ao processual 
recuar para autofundar-se ou fundar-se em extrajuridicidades não constitucionais 
(ideologias, interesses, alienações, repressões, teologias, versões de mundo, que 
intrusivamente ocupam a suprema posição fundante que deveria caber à Cons-
tituição). A pior dessas doutrinas é a instrumentalidade do processo, fundada 
num princípio epocal mântrico sem consistência positivo-constitucional, que 
reduz o processo a mero “artefato para boas intenções”, e tem servido como fonte 
de compreensão e racionalidade de qualquer manifestação no universo processual.
Somente quando a processualista “de-siste” de enclarusurar-se e “in-sis-
te” numa constitucionalística, ela “ek-siste” como ramo dogmático legitimante 
autônomo. A partir dessa articulação instala-se novo ponto de apoio teórico-ar-
quitetônico para novas terminologias, novos pressupostos operacionais, novos 
procedimentos metodológicos, novos modelos interpretativos. Na medida em 
que ser garantia define o processo em suas estruturas elementares, significativas e 
práticas, para além de uma analítica garantista, instalam-se também possibilidades 
de uma hermenêutica garantista e de uma pragmática garantista.
Mais: um dos títulos pseudo-fundantes e enganadores da processualística 
ativista é a categoria pragmática da técnica. Não por acaso que por meio de uma 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
70
técnica constitucionalmente desertificada, o ativista faz de tudo para eficiente-
mente – mediante cálculo de meios e fins (utilitarismo) – mobilizar energias e 
transformar realidades. A técnica processual não representa um mal em si, mas é 
preciso religá-la ao seu chão próprio, à sua terra natal, à sua pátria original, que 
é a sua esquecida moldura garantístico-constitucional. Para ser direto: é hora de 
uma montagem técnico-processual criativa a serviço da garantia, o que é tarefa 
ainda irrealizada no Brasil, onde a empolgação concentra-se numa engenharia 
processual a serviço do autor, compromissada com a efetividade jurisdicional.
Por fim, décadas de cegamento ativista fizeram com que a maioria veja 
aquilo que é óbvio como estranho e o insuspeito como familiar. O que era para 
ser escancaramento tornou-se iniciação a uma obviedade despercebida. É o ga-
rantista um constitucionalista do devido processo legal cujo papel é reconduzir 
os olhares para o ser constitucional do processo. Ou seja, a empresa garantista 
sempre antepõe à sua processualística uma constitucionalística especializada, 
navegando pelas duas numa zona de fronteira epistemológica, o que torna o 
garantismo uma interdogmática e o garantista um interjurista.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS. ACEPÇÕES INAUTÊNTICAS 
E GENERALIZADAS SOBRE O PROCESSO. O PROCESSO 
ENCARADO A PARTIR DE UMA LEITURA FORTE DO DE-
VIDO PROCESSO LEGAL 
É curioso (e sintomático) observar que, no meio popular, processo sig-
nifica nada menos que autos de processo, ou ainda é encarado (o que é ainda 
pior) como a própria atividade jurisdicional em exercício. Meu processo não 
anda ... Ou julgaram meu processo ... O processo do fulano não teve o êxito 
esperado ... Quase ninguém em absoluto o enxerga como instituição de ga-
rantia! Afinal, ler a Constituição é um hábito ainda a ser difundido no Brasil.22
22 Por exemplo, em “conversas de esquina” não se ouvem assoberbamentos como: ... no julgamento do meu 
caso o juiz foi ligeiro demais, afrontou meu direito a um processo devido; ... que coisa é essa de o juiz não 
me permitir produzir prova pericial; cadê o devido processo legal?; ... essas justificativas nada dizem, não 
enfrentaram as especificidades do meu problema; não dá para engolir esta decisão, afinal o devido processo 
me assegura uma prestação jurisdicional fundamentada; ... estou revoltado: meu advogado me encaminhou 
hoje o resultado do meu caso, e nada do que consta ali, na sentença, retrata o que eu e aquele desgraçado que 
me causou prejuízo debatemos ao longo de dois anos; ... então eu disse para o juiz: não doutor, não admito 
que meu advogado saia da audiência para que o senhor, eu e o réu tenhamos uma conversa “amigável” em 
particular; sei perfeitamente que tenho direitoa ampla defesa, e isso só vai acontecer, porque tudo aqui é 
técnico demais, se meu advogado permanecer ao meu lado durante o desenrolar de todo o procedimento; 
... meu Deus, fui chamado para uma audiência na condição de testemunha e tive que ouvir o juiz me 
chamar de mentiroso; tive pena do réu, pois sua condenação estava estampada na testa daquele infeliz que 
vai julgar o caso e que não tem a mínima intimidade com a ideia de imparcialidade.
71
O advogado que se vende como processualista corre o risco de passar 
fome. Como é evidente, trata-se de palavra que não ingressou no vocabulário 
vulgar. A própria mídia a confunde regularmente. Nem desconfia o jurisdi-
cionado que precisa ter ao seu lado um causídico suficientemente versado na 
ciência processual, porquanto isso, no mínimo, assegurar-lhe-á tentativas mais 
vigorosas para que seus direitos fundamentais processuais sejam cumpridos pelo 
Estado-juiz ao longo da marcha procedimental. Doa a quem doer, mas na arena 
processual, vez ou outra, o adversário da parte não é apenas a contraparte, mas 
também o próprio julgador, que por olvidar seu papel de guardião da Consti-
tuição, arvora-se em posturas atentatórias ao devido processo legal: determina 
a produção oficiosa de provas, ameaça testemunhas, admoesta advogados a fim 
de impor sua autoridade, impede a produção probatória requerida por uma das 
partes, cria embaraços à publicidade processual, vira as costas solenemente para o 
contraditório substancial, nega aos litigantes o direito a decisões fundamentadas, 
não leva à sério a cláusula do juiz natural e seu dever de imparcialidade,23 despreza 
a presunção de inocência, autoriza buscas e apreensões coletivas, utiliza-se de 
prisões preventivas como técnica para a obtenção de delações premiadas, etc. 
Se teoricamente já abandonamos a velha dicotomia indivíduo versus Estado, o 
mesmo não se deu por completo na lida nua e cura da praxe forense. 
Mais grave, porém, é constatar que, entre profissionais do direito, o pro-
cesso é comumente encarado como mero instrumento a serviço da jurisdição. 
Alguns juristas, versados em dadas especialidades do direito material, chegam a 
desdenhá-lo sem pudor, inclusive em salas aulas, como se fosse nada mais que 
mera técnica manejável para o desenrolar da atividade jurisdicional e a aplicação 
do direito positivo.24
23 Acerca da imparcialidade, esclarece Carlos Adolfo Picado Vargas: “[…] vemos que la doctrina entiende que 
un juez imparcial es aquel que aplica la ley sin tender a un fin determinado, sea propio o ajeno (acá juega 
la independencia) y para esto tiene vedada la realización de actividades propias de las partes (acá juega 
la impartialidad). La importancia de la imparcialidad judicial radica en la necesidad de su existencia para 
tener por configurado un proceso como debido. Y esto se justifica en la legitimidad que ella otorga al juez 
como tercero ajeno al litigio para resolverlo. Las partes sólo pueden concebir la resolución de un conflicto 
intersubjetivo de intereses por un tercero si este actúa en base al respeto de los derechos de ambas, actor y 
demandado, llevando a cabo un proceso según constitución. Consecuentemente, la afirmación de que el 
terceo llamado a resolver el litigio ha de ser imparcial permitió que los particulares consientan someter el 
conflicto a su conocimiento y permitió así que éstos se resuelvan de modo pacífico.” (PICADO VARGAS, 
Carlos Adolfo. La independencia del juez. Memoria XXVII Congreso Panamericano de Derecho Procesal. 
Colombia: Sigma Editores, 2016, p. 213-218).
24 O desrespeito ao processo como instituição de garantia colabora sobremaneira para o recrudescimento do 
fenômeno da depreciação do Direito, verificado pela enxurrada de decisões ativistas que recheiam as páginas 
dos jornais semanalmente, cuja pauta de comando assenta-se em especial no subjetivismo dos julgadores. 
E o mais grave é que legisladores e doutrinadores, praticando espécie de haraquiri institucional, por vezes 
alimentam o atual estado de coisas. A ordem vem dos altos escalões (leia-se: Conselho Nacional de Justiça), 
e é cumprida quase bovinamente: julguem, julguem, julguem; e muito! Incentivam-se magistrados com 
promoções por produtividade, e a cartilha é seguida à risca. Há um fetiche por números altos. A atividade 
jurisdicional está se matematizando. Quer-se boas estatísticas, e para obtê-las o motor legislativo é aquecido 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
72
Noutros termos, a versão difundida, em meios populares e especializados, 
refere-se a algo que, com o devido respeito, em nada se relaciona ao ser consti-
tucional do processo. Nem mesmo se pode falar em vulgata. Mais adequado é 
afirmar que entre nós vigora uma percepção delirante de processo. Sua função 
de garantia a serviço da liberdade das partes encontra-se eclipsada, vale dizer, 
perdeu densidade e respeito a sua feição de blindagem contra desmandos e ar-
bitrariedades praticados pela autoridade judicial. 
Há, portanto, muito a ser feito para se construir uma interpretação ga-
rantista do processo jurisdicional. É um trabalho de base, cujos esforços recaem 
notadamente sobre as costas dos estudiosos, que precisam refletir sobre conceitos 
postos e sedimentados, reformulá-los se necessário, pensar sobre a legitimidade 
de algumas técnicas processuais hoje festejadas, seguir rumo a construção de uma 
ciência processual que não se ancore em particularismos e retóricas subjetivistas 
de tal ou qual doutrinador, e sim esteja compromissada fielmente com a Cons-
tituição. Sobretudo, é preciso compreender e interpretar o processo sempre a 
partir de uma leitura forte do devido processo legal25 – “Ninguém será privado 
da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” (CF/88, art. 5o, LIV). 
REFERÊNCIAS
ABBOUD, Georges. Discricionariedade administrativa e judicial: O ato 
administrativo e a decisão judicial. São Paulo: RT, 2014. 
para o fabrico de numerosas técnicas: julgamento parcial de mérito, antecipações liminares de tutela com 
base na evidência, estabilização de tutelas provisórias, reforço dos poderes dos relatores, suplemento da 
autocomposição. E o senso comum teórico não fica atrás; segue a maré de bom grado... Por exemplo, o 
CPC-2015 reforçou nosso modelo de “precedentes”. Nele cabe tudo, até súmulas. Muitos veem nisso o 
mecanismo do qual carecia a engrenagem judicial para que julgamentos surjam mecanizados, pré-moldados 
e, portanto, facilitados. Enfim, o autoritarismo avançando a passos largos sobre o perfil democrático 
e republicano traçado pela Carta Constitucional. O trem da celeridade rolando sobre os trilhos do 
tempo em atropelo a coisas mais importantes, como a própria qualidade das decisões judiciais. Muito 
melhor (e necessário) seria nutrir preocupação, como faz Georges Abboud, em viabilizar um modelo jurídico 
que possa atingir uma resposta (jurisdicional) correta e, deste modo, combater o relativismo (a ideia de que 
qualquer resultado é aceitável e sempre válido) e o ceticismo interpretativos, afastar a utilização estratégica 
do direito para perseguir fins políticos e afrontar a confiança desenfreada em valores e convicções pessoais 
dos magistrados. (ABBOUD, Georges. Discricionariedade administrativa e judicial: o ato administrativo 
e a decisão judicial. São Paulo: RT, 2014, p. 468).
25 Como bem ensina Alvarado Velloso, o garantismo processual pretende o irrestrito respeito à Constituição. 
Os autores que encampam essa via de pensamento não buscam um juiz comprometido com pessoas ou coisas 
distintas da Constituição, e sim uma autoridade judicial que esteja empenhada em respeitar, e fazer respeitar, 
a qualquer preço as garantias constitucionais. E o processo é a máxima garantia que a Constituição confere 
para a defesa dos direitos individuais, a começar pela própria liberdade. Afinal, “as garantais constitucionaissão como o sol, que nasce para todos, sobretudo para aqueles que delas mais necessitam.” (VELLOSO, 
Adolfo Alvarado. El garantismo procesal.Rosario: Editorial Juris, 2010, p. 57-58).
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77
A EFETIVIDADE E SUSTENTABILIDADE DO PROCESSO 
EM FOCO: análise dos dados estatísticos da Justiça 
Comum do Estado de Minas Gerais, no período de 2003 
a 2013, e o meio ambiente1
THE EFFECTIVENESS AND SUSTAINABILITY OF THE 
PROCESS IN FOCUS: analysis of statistical data of the 
Ordinary Courts of the State of Minas Gerais, in the 
period 2003-2013, and the environment
Magno Federici Gomes*
Wallace Douglas da Silva Pinto*
RESUMO: Este trabalho compilou os dados fornecidos pelo Conselho 
Nacional de Justiça (CNJ) do período entre 2003 a 2012, relativos ao Estado 
de Minas Gerais, e, por meio de uma análise gráfica e numérica, verificou que 
apesar da tentativa de justificar a demora na entrega da tutela jurisdicional 
como resultado do excesso de burocracia e formalismo do sistema judiciário, 
existem questões estruturais que, por não estarem sendo contempladas, 
implicam em um aumento no tempo de duração do processo. Para o estudo, 
utilizou-se o método empírico com análise das informações fornecidas pelo 
CNJ, para, posteriormente, analisar o impacto do crescimento pela procura do 
Poder Judiciário, em geral. Concluiu-se que a morosidade do procedimento, 
1 Trabalho financiado pelo Edital nº 05/2016 (Projeto nº FIP 2016/11173-S2) do FIP/PUC, resultante dos 
Grupos de Pesquisas (CNPQ): REGA, NEGESP e CEDIS (FCT-PT).
* Pós-doutor em Direito Público e Educação pela Universidade Nova de Lisboa-Portugal. Pós-doutor em 
Direito Civil e Processual Civil, Doutor em Direito e Mestre em Direito Processual, pela Universidad de 
Deusto-Espanha. Mestre em Educação pela PUC Minas. Professor do Mestrado Acadêmico em Direito 
Ambiental e Sustentabilidade na Escola Superior Dom Helder Câmara. Professor Adjunto da PUC Minas 
e Professor Titular licenciado da Faculdade de Direito Arnaldo Janssen. Advogado Sócio do Escritório 
Moraes & Federici Advocacia Associada. Integrante dos grupos de pesquisa: Regulação Ambiental da 
Atividade Econômica Sustentável (REGA)/CNPQ-BRA, Centro de Investigação & Desenvolvimento sobre 
Direito e Sociedade (CEDIS)/FCT-PT e Núcleo de Estudos sobre Gestão de Políticas Públicas (NEGESP)/
CNPQ-BRA. ORCID: <http://orcid.org/0000-0002-4711-5310>. Currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.
br/1638327245727283>. Endereço eletrônico: federici@pucminas.br
* Mestrando em Direito Ambiental e Sustentabilidade na Escola Superior Dom Helder Câmara. Pós-Graduado 
em Finanças e Controladoria pelo IEC – Instituto de Educação Continuada da PUC Minas. Graduado 
em Direito e em Ciências Econômicas pela PUC Minas. Advogado Sóciodo Escritório Souza & Pinto 
Advogados Associados. Integrante do grupo de pesquisa: Regulação Ambiental da Atividade Econômica 
Sustentável (REGA)/CNPQ-BRA. Endereço eletrônico: wallace@souzaepinto.com.br.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
78
seu excesso de formalismo e a gama de recursos disponíveis não são os fatores 
exclusivos da causa da lentidão da justiça. O desrespeito judicial a certos 
princípios constitucionais aumenta a litigiosidade entre as partes e os meios 
impugnativos por elas utilizados. Ademais, a majoração de demandas não é 
acompanhada pelo correlato investimento em infraestrutura e tecnologia pelo 
Poder Judiciário, aumentando a sobrecarga de trabalho, o encalhe de processos 
a serem decididos e os impactos ao meio ambiente. Tais fatores importam em 
violação ao princípio simbólico do desenvolvimento sustentável.
Palavras-chave: Tutela jurisdicional. Sustentabilidade. Demandas judiciais. 
Meio Ambiente. Investimento em infraestrutura e tecnologia.
ABSTRACT: This study compiled the data supplied by the National Council 
of Justice (CNJ) in the period between 2003 and 2012, from de Minas Gerais 
State, and through a graphical and numerical analysis, it was found that, despite 
the attempt to justify the delay in the delivery of legal protection as a result of 
excess bureaucracy and formalism of the judiciary, there are structural issues 
that are not being addressed by, imply an increase in delivery time of tutelage. 
We used the empirical method with analysis of data provided by the CNJ, 
and later through tables and graphs to analyze the impact of demand growth 
by Judiciary Power. The paper concludes that the length of the procedure, its 
excessive formalism and the range of available resources are not the main factors 
causing the slowness of justice, because the process that does not respect the 
constitutional principles will be a process poorly educated and therefore will 
take longer to be resolved. In fact, the increasingly brings the number of cases 
submitted to the magistrates for trial, in contrast, has expanded investment 
in the judiciary, which inevitably leads to an overload of work and stranding 
processes. Such factors matter in violation of the symbolic principle of 
sustainable development.
Keywords:Jurisdictional tutelage. Sustainability. Judicial Demands. 
Environment. Investment in technology and infrastructure.
SUMÁRIO: 1 Introdução. 2 Análise da questão da celeridade procedimental. 
3 Considerações finais. 
1 INTRODUÇÃO
Pretende-se discutir a atividade e o exercício jurisdicional abordando a 
função do Estado na solução dos conflitos e também a do juiz no exercício da 
jurisdição, tratando também do acesso à jurisdição, explanando a confusão que 
79
ainda existe entre ele e o acesso à justiça e passando também pelas questões do 
fator tempo no resultado efetivo do processo.
O Estado realiza diversas atividades recorrendo, para tanto, a uma divisão 
de funções a partir da qual consegue organizar e agrupar os atos necessários à 
produção do bem comum: os atos praticados com função de reger a atividade 
do Estado cabem, como regra, ao Poder Executivo, enquanto o Poder Legislati-
vo exerce, predominantemente, a função de elaborar as normas que regulam as 
atividades dos indivíduos, tão necessárias ao convívio em sociedade. Por último, 
há a função jurisdicional, atividade típica exercida pelo Poder Judiciário, em 
que o magistrado, investido no poder do Estado, atua na solução de conflitos, 
a fim de manter ou restabelecer a paz social com respeito aos direitos e deveres 
previstos e a preservação da liberdade e do ordenamento jurídico, como ensina 
Gonçalves (1992, p. 50).
A função jurisdicional foi concebida com o fito de entregar uma “resposta” 
aos cidadãos nas situações em que haja uma conduta contrária aos ordenamen-
tos jurídicos e, portanto, considerada ilícita ou desconforme ao direito. Nestes 
casos, como afirma Gonçalves (1992, p. 53), o Estado faz uso de seu poder para 
repreender essas ações. Nesse sentido:
Dentre as flutuações históricas da racionalidade e da ir-
racionalidade, de que fala Weber, o Estado organizou sua 
função jurisdicional dirigida a dar respostas à sociedade 
sobre as condutas valoradas negativamente, que seriam 
qualificadas de ilícitos, e, em consequência, assumiu a 
tutela dos direitos da sociedade. “Direitos da sociedade” 
é expressão internacionalmente escolhida, para que nela 
se introduzam os direitos individuais e coletivos, em suas 
várias classificações: sociais, culturais, econômicos e polí-
ticos, cujo reconhecimento e ampliação se observa como 
uma tendência comum nas sociedades contemporâneas.
Em conformidade com Gonçalves (1992, p. 55), a jurisdição tem, por-
tanto, a função de proteger do ilícito que consiste no desrespeito a uma con-
duta valorada como correta pela norma, os direitos e liberdades garantidos na 
ordem jurídica. Assim, o Estado transfere ao juiz o poder e o dever de exercer 
a atividade jurisdicional, que, investido deste poder, julga e decide os diversos 
problemas relativos às demandas judiciais. Esta não é uma tarefa simples, em 
função da complexidade que permeia a ação de julgar, como explicam Nunes e 
Teixeira (2013, p. 84):
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
80
O juiz, órgão atuante do direito, não pode ser uma pura 
máquina, uma figura dos processos, só agindo por provo-
cação, requerimento ou insistência das partes [...]. O juiz é 
o Estado administrando a justiça; não é um registro passivo 
e mecânico dos fatos, em relação aos quais não anima 
nenhum interesse de natureza vital. Este é o interesse da 
comunidade, do povo, do Estado e é no juiz que um tal 
interesse se representa e personifica.
Em sua atividade jurisdicional, o magistrado não é apenas um julgador, 
pois cabe a ele, antes de realizar a prévia análise da lei, compreender o caso 
concreto, sem se afastar da realidade em que vive e, portanto, da percepção de 
novas situações, como o avanço cultural e tecnológico.
Como afirma Marinoni (2013, p. 114-115), mesmo depois que o juiz 
compreende o caso concreto e busca apoio nos direitos constitucionais, estando 
já convencido de sua decisão e concluindo que o demandante tem um direito 
que deve receber tutela jurisdicional, a jurisdição deve ainda dar tutela a estes 
direitos, não sendo suficiente apenas dizer quem é merecedor deles na hipótese 
concreta. Ou seja, segundo esse autor, a função jurisdicional não se exaure com 
a simples sentença. Assim:
Frise-se que o direito de ação – visto como contrapartida 
da proibição da auto-tutela e da reserva do poder de diri-
mir os conflitos ao Estado – foi concebido, já há bastante 
tempo, como direito a uma sentença de mérito. Acontece 
que a sentença que reconhece a existência de um direito, 
não é mais suficiente para satisfazê-lo, não é capaz de 
expressar uma prestação jurisdicional efetiva, uma vez que 
não tutela o direito e, por isso mesmo, não representa uma 
resposta que permita ao juiz se desincumbir do seu dever 
perante a sociedade e os direitos (grifo nosso).
Não restam dúvidas, portanto, de que, ao contrário do que era antes 
pensado, a atividade jurisdicional não pode e nem deve se prender à ideia de 
que sua única função é a de “dizer o direito”. Segundo Marinoni (2013, p. 
115), “[...] mais do que direito à sentença, o direito à sentença hoje, tem como 
corolário o direito ao meio executivo adequado” (MARINONI, 2013, p. 115). 
Mais especificamente:
81
A tutela jurisdicional do direito é prestada quando o di-
reito é tutelado e, dessa forma realizado, seja através da 
sentença (quando ela é bastante para tanto), seja através 
da execução. De modo que passa a importar, nessa pers-
pectiva, a maneira como a jurisdição deve se comportar 
para realizaros direitos ou implementar a sua atividade 
executiva. Ou melhor, o modo como a legislação e o juiz 
devem se portar para que os direitos sejam efetivamente 
tutelados (ou executados). Trata-se na verdade, de trilhar 
dois caminhos que se cruzam: um primeiro que aponta a 
necessidade de a técnica processual executiva ser estrutu-
rada pela lei conforme o direito material, e um segundo 
que obriga o juiz a pensar a regra processual definidora 
das técnicas processuais com base no direito fundamental 
à tutela jurisdicional efetiva e segundo as necessidades de 
direito material, particularizadas no caso concreto.
Ainda segundo Marinoni (2013, p. 93), a evolução processual levou, com 
o passar do tempo, a que se exigisse que o juiz interpretasse o caso concreto de 
modo a dar sentido a ele. Essa nova concepção fez com que os fatos sociais se 
tornassem imprescindíveis para a compreensão do direito, embora não se possa 
afastar da prévia análise da lei, pois, após entendido o caso, o juiz irá decidi-lo 
com base nela. Esta atual conformação dá ao magistrado um papel, além de 
muito mais importante, muito mais complexo porque exige um trabalho maior 
para julgar os casos que chegam a ele. Não se pode, portanto, simplificar a ati-
vidade do juiz, confundindo rapidez com efetividade: esta confusão gera graves 
implicações no resultado do processo, pois afeta a segurança jurídica da tutela a 
ser entregue – o que será discutido mais detalhadamente a seguir. 
Ao se falar de acesso à jurisdição, é preciso antes diferenciar expressões que 
são equivocadamente entendidas como sinônimas: “acesso à justiça” e “acesso 
à jurisdição”. São expressões que não devem ser confundidas. Para Marinoni 
(2013, p. 314):
[...] a questão do acesso à justiça se originou da necessidade 
de integrar as liberdades clássicas, inclusive as de natureza 
processual, com os direitos sociais. O direito de acesso à 
jurisdição – visto como direito do autor e do réu – é um 
direito à utilização de uma prestação estatal imprescindível 
para a efetiva participação do cidadão na vida social, e assim 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
82
não pode ser visto como um direito formal e abstrato aos 
obstáculos sociais que possam inviabilizar o seu efetivo 
exercício. A questão do acesso à justiça, portanto, propõe a 
problematização do direito de ir a Juízo – seja para pedir a 
tutela do direito, seja para se defender – a partir da ideia de 
que obstáculos econômicos e sociais não podem impedir o 
acesso à jurisdição, já que isso negaria o direito de usufruir 
de uma prestação social indispensável para o cidadão viver 
harmonicamente na sociedade.
Também não se pode confundir a expressão “acesso à justiça” com “justiça” 
já que, como afirma Leal (2012, p. 54), o acesso à justiça não significa acesso aos 
direitos fundamentais. Dessa forma:
É certo que o cognominado “acesso à justiça” nada tem a 
ver com o acesso aos direitos fundamentais do homem, 
porque simploriamente definido como “algo posto à dis-
posição das pessoas como vistas a fazê-las mais felizes (ou 
menos felizes), mediante a eliminação dos conflitos que 
as envolvem, com decisões justas.” Também a expressão 
“acesso à justiça” não é a síntese de todos os princípios e 
garantias constitucionais do processo, porque atualmente 
o modelo constitucional do processo democrático é que, 
por incorporar o princípio da ampla defesa pelo direito de 
ação, é que gera o livre acesso à jurisdição, como direito 
irrestrito de provocar a tutela legal.
O Estado vem criando “portas de entrada” na justiça de modo a propor-
cionar a um número grande de pessoas, através da isenção de várias despesas no 
decurso do processo, a oportunidade de buscar seus direitos, muitos dos quais 
elas sequer imaginavam possuir. Diante desse quadro, o mais importante, como 
afirma Silva (1999, p. 09-24), não é dar o acesso à justiça, mas, além disso, a 
garantia, por meio do Poder Judiciário, dos direitos subjetivos públicos ou indivi-
duais com imposição do respeito a todas as garantias de uma tutela jurisdicional 
justa. Ao encontro deste pensamento, Dinamarco (2003, p. 283) defende que 
mais importante que o acesso à justiça através do Poder Judiciário é o acesso 
efetivo à jurisdição. Assim:
O acesso à justiça é, mais do que o ingresso no processo e 
aos meios que ele oferece, modo de buscar eficientemente, 
na medida da razão de cada um, situações e bens da vida 
83
que por outro caminho não se poderiam obter. Seja por que 
a lei veda a satisfação voluntária de dadas pretensões (v.g., 
anulação de casamento), seja porque a pessoa de quem se 
poderia esperar a satisfação não satisfez (inadimplemento), 
quem não vier a Juízo ou não puder fazê-lo, renunciará 
àquilo que aspira. Em outras palavras, não terá acesso à 
“ordem jurídica justa” nos casos em que, por fás ou por ne-
fas, sem o processo não possa sequer chegar até o processo.
O processo, entendido como um instrumento, deve respeitar os princípios 
da economia e da instrumentalidade das formas que levam ao entendimento da 
efetividade processual (GOMES; DRUMOND, 2012, p. 27-28), como o alcance 
da finalidade do processo de forma a garantir a pacificação social e justiça por 
meio de decisões jurídicas e legítimas – o que importa em um procedimento 
célere, seguro e eficaz para a obtenção de uma tutela jurisdicional adequada.
Cercado de muitos questionamentos por parte da sociedade em geral, den-
tre eles o motivo das demandas judiciais serem tão morosas, o sistema processual 
vem, ao longo dos anos, sofrendo mudanças, muitas delas com foco apenas em 
rapidez procedimental, sem haver a preocupação de que talvez essa busca pela 
urgencialidade esteja tirando do foco os princípios processuais que garantem a 
entrega de uma tutela jurisdicional justa.
Maior problema existe quando há a intenção de aliar rapidez com efe-
tividade, uma vez que um processo veloz não é necessariamente um processo 
efetivo. Segundo Gomes e Drumond (2012, p. 32), o conceito de efetividade 
engloba um instrumento capaz de satisfazer ou alcançar os efeitos desejados, 
onde o acesso à jurisdição se confunde com o desejo de efetividade da tutela 
jurisdicional. Ainda segundo os autores (2012, p. 32), não há sentido em dar 
garantias formais ao acesso à jurisdição se não for possível alcançar um resultado 
eficaz no mais curto período de tempo.
É claro que o tempo, nesse contexto, é fator determinante na oportunidade 
ou não de garantir à parte vencedora a possibilidade de usufruir de forma prática 
dessa decisão, direito esse previsto pelo inciso XXXV, do art. 5o da Constituição 
da República de 1988 (CR/88). O fator tempo, antes considerado desimportan-
te, é agora, ao contrário, crucial para o processo, posto que pode influenciar na 
efetividade do direito de ação. Como explica Marinoni (2013, p. 234):
O direito à duração razoável exige um esforço dogmático 
capaz de atribuir significado ao tempo processual. A de-
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
84
mora para a obtenção da tutela jurisdicional obviamente 
repercute sobre a efetividade da ação. Isso significa que a 
ação não pode se desligar da dimensão temporal do proces-
so ou do problema da demora para a obtenção daquilo que 
através dela se almeja. A efetividade da ação não depende 
apenas de técnicas processuais (técnica antecipatória) ca-
pazes de impedir que o dano interino ao processo possa 
causar prejuízo ao direito material. O direito de ação exige 
que o tempo para a concessão da tutela jurisdicional seja 
razoável, mesmo que não exista qualquer perigo de dano.
O processo judicial, apontado como excessivamente formal na solução 
dos conflitos, é envolto em uma série de procedimentos que têm a finalidade 
de garantir que, ao final, seja cumprida a função de entregar umatutela justa.
Cumpre salientar que a efetividade da tutela jurisdicional e a razoável du-
ração do processo, hoje erigidos a direito fundamental do cidadão (art. 5º, inciso 
LXXVIII, da CR/88), têm íntima relação com o princípio, atualmente simbóli-
co, do desenvolvimento sustentável, não aplicável apenas ao direito ambiental. 
Afirma-se isso com base em Almeida e Araújo (2013, p. 46) que concluíram:
[...] que é possível admitir o desenvolvimento sustentável 
como instituto de direito constitucional, classificando-o 
como princípio fundamental de força normativa superior, 
aplicável para a obtenção de conclusões jurídicas vinculan-
tes de todas as práticas do Estado e da sociedade, sempre 
guardando a ideia do poder-dever do primeiro para com 
a efetividade das propostas jurídicas e concretização fina-
lística da ideologia social adotada pela carta constitucional 
vigente. O ordenamento jurídico brasileiro tem acompa-
nhado e observado muitas dessas propostas, prevendo, 
ainda que implicitamente, o desenvolvimento sustentável 
como um princípio de natureza fundamental.
Isso quer dizer que o desenvolvimento sustentável deve ser ampliado, não 
se restringindo mais à compatibilização entre o meio ambiente e as atividades 
econômicas da sociedade2, para ser compreendido como desenvolvimento social-
mente includente, economicamente sustentado e ambientalmente sustentável, 
ante as dimensões básicas e essenciais da sociedade. Nesse sentido:
2 Para analisar a ideia de desenvolvimento econômico em contraposição ao desenvolvimento sustentável e 
estudar um caso concreto, ver: BIZAWU; GOMES, 2016, p. 18-21.
85
Verifica-se que o projeto do desenvolvimento sustentável 
verdadeiramente se presta a harmonizar os direitos funda-
mentais constitucionalizados do desenvolvimento econô-
mico, do meio ambiente sadio e, mais do que isso, resta 
como princípio constitucional fundamental por conta da 
perfeita congruência de seus contornos conceituais com 
a ideologia constitucional do bem-estar social, cultural e 
ético (ALMEIDA; ARAÚJO, 2013, p. 45).
Portanto, o desenvolvimento sustentável deve ser interpretado ampliati-
vamente, como modo de garantir os direitos fundamentais e sociais3, incluído 
neles o princípio da razoável duração do processo (art. 5º, inciso LXXVIII, da 
CR/88), a fim de se assegurar a plena satisfação das pretensões trazidas ao Poder 
Judiciário e, por conseguinte, entregar o bem da vida almejado pelos jurisdi-
cionados dentro de um Estado de bem-estar social4. Isso garantirá a dignidade 
da pessoa humana, isto é, dos jurisdicionados que buscam suas pretensões no 
referido Poder estatal constituído.
Neste ponto, faz-se necessária a distinção entre processo e procedimento, 
entendendo-se, deste modo, que, apesar dos procedimentos serem etapas do 
processo, na verdade eles representam muito mais que isso. Tem-se que:
[...] o processo foi visto a partir do seu fim de atuação na 
lei. Já o procedimento foi encarado como algo eminen-
temente formal ou como uma mera sequência de atos. 
3 Em sentido equivalente, “[...] a aplicação do Princípio do Desenvolvimento Sustentável não encontra 
efetivação na forma como o Judiciário faz a sua aplicação, na medida em que os possíveis significados do 
princípio, encontrados tanto na Constituição brasileira quanto na legislação infraconstitucional, pressupõem 
uma sustentação mais ampla, disposta a efetivar não só a dimensão ambiental, mas também os direitos 
fundamentais e sociais” (ALMEIDA; ARAÚJO, 2013, p. 15).
4 A previsão constitucional do princípio do desenvolvimento sustentável foi assim indicada: “As questões 
econômicas e ambientais englobam o conjunto de direitos humanos e por isso são tidas como de cunho 
social na atual Constituição, não podendo tais dimensões ficar excluídas do conjunto de valores a serem 
considerados na contemplação do Direito Constitucional. Nessa perspectiva, ao se estudar o objeto de 
tutela ambiental, preconizado pelo artigo 225 da Constituição Federal de 1988, o qual anuncia o direito 
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, pode-se afirmar que o direito protegido nesta seara deve 
ser a síntese havida entre a qualidade do meio ambiente em função da apropriação dos recursos naturais 
como meio de sobrevivência do homem, representado pela expressão constitucional “desenvolvimento 
sustentável”, e portanto a Carta da República de 1988 e toda a legislação infraconstitucional passaram a 
ser informadas por esses objetos acolhidos, como forma de garantir sua observância, a fim de elevar tais 
elementos à categoria de valores, dentro de um sistema integrado. Observa-se ainda que tal compatibilização 
deve acontecer tendo em vista a matriz econômica liberal acolhida pelo nosso Estado de Direito, uma vez 
que dentro os princípios fundamentais da República Federativa do Brasil está a livre iniciativa, preconizada 
no artigo 1º, inciso IV e reafirmada nos artigos 5º, incisos XIII, XXII e XXIII, 170, incisos I a IX da Carta 
Constitucional” (ALMEIDA; ARAÚJO, 2013, p. 19-20).
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
86
Ao procedimento não foi atribuído qualquer fim. Mas, 
como procedimento e processo seriam duas faces de uma 
única realidade, é possível dizer que o procedimento seria 
a forma de algo que somente adquiriria relevância quando 
considerado a partir do seu objetivo (MARINONI, 2013, 
p. 398-399).
Já na visão de Gonçalves (1992, p. 65), processo e procedimento são 
assim diferenciados:
A doutrina pátria, em sua expressão mais jovem e brilhan-
te, aprofundou o conceito do procedimento como “meio 
extrínseco” de desenvolvimento do processo, “meio pelo 
qual a lei estampa os atos e fórmulas da ordem legal do 
processo”, até reduzi-lo a manifestação exterior do proces-
so, “sua realidade fenomelógica perceptível”.
Em contraposição, ao processo é atribuída natureza tele-
ológica, “nele se caracteriza sua finalidade de exercício do 
poder” como “instrumento através do qual a jurisdição 
opera (instrumento para a positivação do poder).”
Etapa importante em um processo são os recursos, que na atualidade são 
vistos como um dos elementos responsáveis pela demora do trâmite procedi-
mental, mas que, se estiverem em um processo instruído de forma correta, não 
causará morosidade. 
Um processo que tramita de forma rápida por simples necessidade de 
urgência corre o risco de ser (e muito provavelmente será) malconduzido, além 
da possibilidade de não atender ao fim a que foi proposto, qual seja, o de chegar 
a uma decisão com respeito aos princípios constitucionais e com garantias do 
contraditório e ampla defesa que, nas palavras de Nunes e Teixeira (2013, p. 
454), não impedem a obtenção de celeridade procedimental. Justifica-se tal afir-
mativa porque o não respeito a esses princípios basilares do processo pode, sim, 
gerar um enorme número de recursos – dentre eles os embargos de declaração, 
na maioria das vezes, inúteis e sem implicar na alteração do resultado decisório.
De todo modo, não há como fazer uma discussão nesse sentido sem pensar 
em outras questões estruturais do sistema judiciário, assim levantadas:
Por derradeiro, não se deve olvidar das condições estrutu-
rais, físicas e humanas que o Poder Judiciário dispõe, sendo 
87
deficitário seu quadro de servidores e de juízes; inadequada 
sua estrutura física e operacional; defasados e insuficientes 
seus equipamentos de informática e tecnologia. Acrescen-
ta-se a essa realidade, a vertiginosa e crescente demanda 
pela atividade jurisdicional no Brasil, notadamente após 
a edição da Lei no 9.099/1995 (GOMES; DRUMOND, 
2012, p. 36). 
É impossível negar que o processo é muito formal e que é necessário o 
cumprimento de uma série de etapas para se chegar ao final de uma lide. Por 
outro lado, não é possível deixar de lado os aspectos estruturais, principalmente 
por constituíremquestão relevante, com poder de determinar ou mesmo obstar 
ou retardar, o trâmite do procedimento. 
Dessa forma, torna-se importante tentar determinar a influência das con-
dições estruturais sobre a morosidade ou a rapidez dos procedimentos, mantendo, 
no entanto, todas as suas garantias e princípios, o que será feito a seguir.
Adotou-se, para cumprir tal intento, o marco teórico Marinoni (2013) e 
o método empírico, com análise dos dados estatísticos fornecidos pelo Conselho 
Nacional de Justiça (CNJ) sobre o Poder Judiciário Estadual de Minas Gerais, 
compilando informações do período compreendido entre 2003 até 2013 (10 
anos), através da utilização das seguintes variáveis: número de magistrados, nú-
mero de computadores por usuário, carga de trabalho dos juízes, quantidade 
de processos judiciais distribuídos anualmente, pessoal efetivo no quadro de 
servidores, demandas judiciais novas por magistrado, taxa de congestionamento 
e taxa de recorribilidade. Na pesquisa, foi limitado o período e foi excluída da 
análise os dados das Turmas Recursais dos Juizados Especiais do Estado para não 
ampliar em demasia a investigação.
2 ANÁLISE DA QUESTÃO DA CELERIDADE PROCEDI-
MENTAL
Esta parte da pesquisa deseja analisar o sistema processual, sua impor-
tância e influência no que diz respeito à celeridade procedimental, bem como 
se dedicar à parcela instrumental do trabalho. Nela são expostas e trabalhadas 
questões como a demora na entrega da tutela jurisdicional e a possibilidade de 
que ela esteja sendo, de algum modo, influenciada por questões estruturais como 
número insuficiente de juízes, funcionários públicos efetivos e a falta de recursos 
financeiros para aparelhar a máquina judiciária.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
88
O desejo cada vez maior da sociedade de ter uma tutela jurisdicional 
rápida faz com que o sistema processual seja alvo de inúmeras críticas devidas, 
principalmente, a sua demora, sua ineficiência e seu excesso de formalismo. Como 
explicam Gomes e Drumond (2012, p. 38), o processo não deveria ser visto sob 
o prisma de um instrumento de resolução de conflitos através do Poder Judiciá-
rio, mas, ao contrário, como um instrumento garantidor da implementação dos 
direitos fundamentais do cidadão, assegurando o desenvolvimento sustentável. 
No Brasil, em especial, é nítida a ideia de que o processo só é demorado por 
força da lei, o que levou o legislador a criar a Emenda Constitucional (EC) nº 
45, de 30 de dezembro de 2004, que teve a seguinte intenção:
A ideia de que o processo seja moroso em virtude da lei e 
de que não propicia, no tempo (cronológico) devido, uma 
eficaz fruição do bem da vida pretendido pelos litigantes 
em Juízo, levou o legislador reformista a aprovar a Emenda 
Constitucional nº 45/04 e diversas leis infraconstitucionais, 
visando constitucionalizar a necessidade de razoabilidade 
na duração do processo com celeridade em sua tramitação. 
A fórmula mítica encontrada para maquiar a solução desse 
problema foi dotar o representando do Estado - “Poder 
Judiciário” (o magistrado) de poderes na aplicação do di-
reito. Desse modo, o seu livre convencimento motivado é 
suficiente para fundamentar e legitimar as suas decisões à 
margem dos destinatários normativos, que simplesmente 
com elas aquiescem, sem que lhes seja ofertada a oportu-
nidade de influir de forma dialógica, isonômica e irrestrita 
na sua construção, ou seja, de forma compartilhada com o 
primeiro (GOMES; DRUMOND, 2012, p. 38).
Esta e outras medidas, como as Leis no 9.099, de 26 de setembro de 
1995, e n° 10.259, de 12 de julho de 2001, que criaram os Juizados Especiais 
estaduais e federais, mostram a intenção predominante do legislador que, mesmo 
respeitando os princípios constitucionais garantidores do devido processo legal, 
ainda coloca o tempo como fator de grande importância na solução de conflitos.
Não se pode negar a louvável intenção do legislador, demonstrada por 
meio das citadas leis, de dar às classes menos favorecidas economicamente, que 
são, em sua maioria, desprovidas de orientação e escolaridade, a chance de ter o 
direito ao acesso e busca da tutela jurisdicional.
89
Ainda que seja indiscutível a produção de benefício social em razão dessas 
medidas, a intenção do legislador de criar um canal de “livre acesso ao Poder 
Judiciário” fez necessária a instituição de princípios informativos da oralidade, da 
simplicidade, da economia processual e da celeridade, dispensando a participação 
do advogado em alguns dos procedimentos regulamentados pelas referidas leis 
federais, como afirmam Gomes e Drumond (2012, p. 44).
É clara a intenção do legislador, quando da criação da EC n° 45/2004, 
de diminuir o tempo dos procedimentos por meio de aspectos instrumentais, 
criando mecanismos de promoção ligados à maior produtividade dos magistrados. 
O fato do juiz, na sua atividade jurisdicional, precisar também se ater a questões 
de produtividade pode levar a decisões que não foram totalmente fundamentadas 
nos princípios garantidores de uma tutela judicial justa.
Um dos possíveis problemas deste critério avaliativo da produtividade dos 
magistrados, a partir do número de processos julgados, é a possibilidade de uma 
escolha de qual processo o magistrado irá julgar primeiro. Uma demanda pode, 
em função de sua complexidade, exigir muito mais tempo para ser concluída, já 
que envolve a necessidade de ouvir testemunhas, produção de provas periciais e/
ou inspeção judicial. Neste caso, tendo o magistrado que responder com maior 
produtividade nos julgamentos, é possível que ele priorize, dentro dos casos de 
sua responsabilidade, aqueles de mais fácil solução, obtendo assim um ganho de 
produtividade muito maior. Essa busca insensata por rapidez, provoca mudança 
no comportamento dos juízes. Para Nunes (2008, p. 155), essa corrida cada vez 
mais intensa em busca de rapidez procedimental é fruto de um modelo estatal 
imposto durante os anos de 1990, o qual gerou:
[...] um discurso processual peculiar, no qual a aludida 
rapidez permitiu a defesa sub-reptícia de supressão de di-
reitos fundamentais, mediante sua leitura formal, além da 
criação de um ideal de julgamento de ações em larga escala, 
massificante, de modo a atender as tendências do mercado e 
a defesa da propriedade (conforme documento apresentado 
pelo Banco Mundial) (NUNES, 2008, p. 155).
Tudo isso leva a crer que a busca pela rapidez nos processos acaba por co-
locar em segundo plano os princípios constitucionais e processuais que garantem 
que a tutela entregue tenha segurança jurídica. Ademais, há que se frisar que o 
Poder Judiciário brasileiro não é ainda capaz de fornecer condições estruturais 
de trabalho aos envolvidos na “produção” de uma tutela jurisdicional, o que 
enseja a demora na sua entrega. 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
90
A partir das considerações feitas e da revisão da literatura antes empreen-
dida, faz-se um estudo do impacto do aumento da demanda pelo Poder Judici-
ário do Estado de Minas Gerais e da sua estrutura disponível para atender a tal 
demanda, a título de exemplo para os demais órgãos jurisdicionais.
Assim, a demora na entrega da tutela jurisdicional e a morosidade do 
sistema judiciário são invariavelmente vistas como efeito do número de recursos 
existentes na legislação brasileira. Por parte da população leiga, em sua maioria 
desconhecedora das técnicas processuais, estas questões de tempo são também 
interpretadas como consequência de um velho jargão da cultura brasileira: “fun-
cionário público não trabalha”.
É claro que não se pode desconsiderar que há sim, no funcionalismo pú-
blico, assim como em instituições privadas, aqueles que não cumprem com suas 
obrigações e não zelam pela qualidade dos serviços prestados, mas, como tambémna iniciativa privada, para se prestar um bom serviço é necessário ter condições 
mínimas de trabalho. Para que uma sociedade empresária seja bem-sucedida e 
entregue um produto ou serviço nas condições esperadas pelos consumidores, 
é necessário fazer investimentos em tecnologia, mão de obra e treinamento, ou 
seja, deve-se ter uma gama de insumos e fatores de produção mínimos, a fim de 
que se obtenha um produto ou um serviço com qualidade e eficiência, capaz de 
satisfazer o consumidor final. Não há como falar em entrega de bem ou serviço 
sem imaginar que, para se chegar a um produto final, é necessário passar por 
diversas etapas, que estão cercadas de uma série de procedimentos que podem 
ser melhores ou não, dependendo da qualidade dos investimentos feitos para a 
sua produção.
O sistema judiciário não consegue produzir sem insumos (fatores de pro-
dução e mão de obra), ou seja, não há como movimentar a “máquina judiciária” 
sem esses requisitos. Com relação à mão de obra, o Poder Judiciário é basicamente 
composto por julgadores e servidores de cunho administrativo, com a função do 
manuseio operacional dos processos. Ao se fazer a primeira análise, com base na 
Tabela 01 e no Gráfico 01, abaixo, percebe-se que houve um aumento expressivo 
no número de cargos de magistrados ocupados entre 2003 e 2011, já que em 
2003 havia 775 magistrados trabalhando, contra 1355 em 2011 – ou seja, um 
aumento de 74,16%:
91
Ano Número de Magistrados
Variação 
2003/2013
2003 775
2004 913
2005 915
2006 955
2007 979
2008 990
2009 998
2010 1064
2011 1355
2012 989
2013 1068 37,81%
Fonte: Elaborada pelos autores
Tabela 01 - Número de magistrados
Gráfico 01 – Número de magistrados
775
913
915
955
979
990
998
1064
1355
989
1068
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Fonte: Os autores.
Os números mostram que, apesar do ligeiro aumento de 2003 para 2004, 
a partir daí não houve, em média, nenhuma variação no quadro de magistrados 
ao longo do período em análise, com o número variando substancialmente 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
92
apenas no ano de 2011. Os relatórios divulgados não explicam o real motivo 
desse crescimento pontual, tampouco da grande redução do ano 2011 para 2013 
(em 26,87%). No período de dez anos, a majoração foi de 37,81%. É necessário 
salientar que os números mostrados acima representam a quantidade de cargos 
ocupados por magistrados, uma vez que o número de vagas é maior, mas elas 
não são totalmente preenchidas, seja porque os exames para a entrada de novos 
juízes são excessivamente exigentes ou porque os candidatos não se preparam o 
suficiente e, portanto, não estão aptos a ocupar a função.
Também como consequência da produtividade dos magistrados, atual-
mente é possível encontrar cada vez menos juízes voltados a uma formação 
humanística adequada. Ao contrário, o que se tem são magistrados ainda mais 
adeptos de uma lógica neoliberal da produtividade. Assim, afirma Nunes (2008, 
p. 167) que:
A análise do perfil atual dos juízes em exercício no nosso 
país e dos mecanismos de avaliação dos candidatos ao in-
gresso na magistratura pelos concursos públicos revela que 
não se busca um magistrado com uma formação humanís-
tica adequada, mas, sim, um especialista na dogmática. 
Juízes com adequada formação humanística representam 
uma pequena parcela, e mesmo esses são consumidos pela 
lógica neoliberal da produtividade, uma vez que, caso de-
sejem fazer uma análise adequada de todos os casos, cer-
tamente não cumprirão o requisito objetivo de promoção 
por merecimento (produtividade) (art. 93, inc. II, alínea 
“c”, CFRB/88).
É claro que o aumento do número de julgadores traz uma melhora na 
situação do acúmulo processual, embora não se possa deixar de levar em conta 
as questões de formação desses magistrados, como acima exposto.
Ao prosseguir na análise dos dados acerca da estrutura do Poder Judiciário 
mineiro, pode-se constatar que houve também crescimento expressivo do quadro 
de funcionários efetivos no período em estudo, como demonstram a Tabela 02 
e seu respectivo Gráfico 02, a seguir:
93
Ano Pessoal 
Efetivo
Variação % 2003/2013
2003 6212
2004 7833
2005 7082
2006 12555
2007 12975
2008 13443
2009 12471
2010 13601
2011 13848
2012 13785
2013 13911 123,94%
Fonte: Elaborada pelos autores
Tabela 02 – Pessoal efetivo da Justiça Estadual
Gráfico 02 – Pessoal efetivo da Justiça Estadual
6212
7833
7082
12555
12975
13443
12471
13601
13848
13785
13911
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Fonte: Os autores.
No ano de 2003 havia 6.212 funcionários efetivos, contra 13.911 no ano 
de 2013, o que indica um crescimento de 123,94% no período; isto é, em dez 
anos o número de servidores efetivos mais que dobrou nos diversos níveis dentro 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
94
do sistema judiciário mineiro. Os dados apresentados indicam que houve um 
esforço de investimento em mão de obra, fator de produção de suma impor-
tância para a movimentação da máquina judiciária. Como é natural, havendo 
aumento em capital humano, espera-se ter havido também investimento nos 
níveis de tecnologia, de modo a fornecer as devidas condições de trabalho. No 
entanto, os números mostram que, apesar de ter havido um aumento de 63,79% 
no volume de computadores entre 2003 e 2013, ele não chega a ser suficiente 
para atender as necessidades dos usuários, uma vez que em dito ano o número 
de computadores por usuário ainda foi menor que um. Assim, os funcionários 
não teriam condições de trabalhar todos ao mesmo tempo por falta de máquinas 
para uso. Quanto a isto, apresentam-se os números na Tabela 03 e no Gráfico 
03, nos seguintes termos:
Ano
Pessoal 
Efetivo
Variação % 
2003/2013
2003 0,58
2004 0,66
2005 0,72
2006 0,78
2007 0,93
2008 0,83
2009 0,93
2010 0,86
2011 0,82
*2012 0,98
*2013 0,95 63,79%
Fonte: Elaborada pelos autores
Tabela 03 – Computadores por usuário
5
5 (*) Quanto ao número de computadores, os relatórios datados de 2012 e 2013, apenas informaram que o 
investimento em informática aumentou de 2011 para 2012, em 20,2%. De 2013 para 2014, houve redução 
no investimento em 2,4%. Aplicados tais percentuais ao número de computadores, tem-se em 2012 o 
patamar estimado de 0,98 por usuário, reduzindo no ano seguinte para 0,95, conforme apresentado no 
gráfico supramencionado. Salienta-se que tais percentuais somente seriam precisos se não houvesse qualquer 
alteração no número de magistrados e servidores e se não houvesse a necessidade de reparos e atualizações 
no maquinário preexistente.
95
Gráfico 03 – Computadores por usuário
0,58
0,66
0,72
0,78
0,93
0,83
0,93
0,86 0,82
0,98
0,95
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 *2012 *2013
Fonte: Os autores
Ao que parece, quando se observa a linha de evolução dos dados de nú-
mero de computadores ano a ano, apesar de ser possível perceber que houve um 
investimento financeiro muito grande na aquisição deste maquinário entre 2003 
e 2007, em 2008 a quantidade caiu de forma marcante. Além do aumento no 
número de servidores públicos em tal ano, suspeita-se que, como esse insumo 
é essencialmente dependente de evolução tecnológica, o investimento em com-
pras deve ter sido impactado por gastos com reposição e manutenção, dentre 
outros - o que explicaria esta queda após cinco anos. Com relação ao número 
de computadores por usuário no ano de 2012 e 2013, os relatórios publicados 
nãocontemplaram esta variável, mas foi feita uma estimativa aproximada para 
fins deste estudo.
Analogamente a uma demanda de mercado, conforme exposto na Tabela 
04 e em seu respectivo gráfico, ambos abaixo, há também as novas ações que 
são distribuídas ao Poder Judiciário anualmente. Esses números são extrema-
mente elevados e se mantêm constantes ao longo do período de 2003 até 2013, 
impactando enormemente na quantidade de processos a serem decididos pelos 
magistrados, com tendência de alta durante todo o período. Nos anos de 2011 a 
2013 houve um aumento substancial de demandas ajuizadas na Justiça Comum 
Estadual de Minas Gerais, ao redor de 34,33%. Em 2013, houve uma majoração 
de 8,89% de causas ajuizadas em relação à 2012 que, por sua vez, teve aumento 
de 27,92%, em comparação ao ano anterior (2011).
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
96
Ano 1 Grau 2 Grau Juizado Especial Total Casos
2003 842.529 122.517 514.002 1.479.048
2004 1.014.026 144.797 559.807 1.718.630
2005 727.579 160.597 480.639 1.368.815
2006 847.097 169.697 575.815 1.592.609
2007 924.202 192.655 554.142 1.670.999
2008 985.361 211.301 570.768 1.767.430
2009 690.112 162.072 332.007 1.184.191
2010 685.654 189.612 308.689 1.183.955
2011 752.483 192.201 308.371 1.253.055
2012 1.089.716 223.440 425.159 1.738.315
2013 1.235.224 235.653 437.094 1.907.971
Media 890.362 182.231 460.590 1.533.183
Fonte: Elaborada pelos autores
Tabela 04 – Total de novas demandas por ano
Gráfico 04 – Total de novas demandas por ano
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
1 Grau 2 Grau Juizado Especial Total Casos
Fonte: Os autores.
Numa situação hipotética, em que não houvesse no Brasil tantos feriados 
(os quais, além de sobrestarem o funcionamento do Poder Judiciário, ainda 
influenciam na contagem dos prazos das partes), e fossem desconsiderados os 
recessos forenses, isto é, supondo o funcionamento ininterrupto do sistema por 
97
365 dias no ano; restariam 5.227 demandas novas para serem julgadas diariamen-
te. Devido ao número médio de juízes existentes, ter-se-ia 4,9 processos novos 
a serem julgados por dia, por magistrado, sem levar em consideração o estoque 
de causas pendentes de julgamento6
Observa-se que chegam anualmente mais de mil processos novos para cada 
magistrado, em média. Eles devem ser analisados e julgados, o que demanda 
tempo, pois é necessário respeitar os procedimentos e garantias processuais, de 
modo a entregar uma tutela jurisdicional cercada de um mínimo de segurança 
jurídica. Abaixo estão expostos os dados anuais (Tabela 05 e Gráfico 05):
Ano 1 Grau 2 Grau Juizado Especial
2003 1.531 1.113 4.469
2004 1.520 1.238 4.340
2005 1.101 1.373 3.508
2006 1.217 1.414 4.143
2007 1.275 1.605 4.135
2008 1.344 1.776 4.136
2009 1.155 1.158 2.808
2010 1.058 1.567 2.085
2011 887 1.478 881
2012 1.449 1.759 1.085
2013 1.363 1.846 898
Média 1.264 1.484 2.953
Fonte: Elaborada pelos autores
Tabela 05 - Demandas novas por magistrados
6 No relatório de 2013, a Justiça Estadual de Minas Gerais acusou como os seguintes números de demandas 
pendentes de julgamento (estoque): 1º Grau: 3.183.445; 2º Grau: 225.993; Juizados Especiais: 357.579 
e Turmas Recursais: 31.737. Os únicos Juízos que conseguiram decidir maior número de causas que as 
recebidas, foram o 2º Grau e as Turmas recursais (1º Grau: 853.708; 2º Grau: 262.604 e Juizados Especiais: 
410.743 e Turmas Recursais: 43.940).
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
98
Gráfico 05 – Demandas novas por magistrado
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
5.000
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
1 Grau 2 grau Juizado Especial
Fonte: Os autores.
É claro que, com um número tão alto de novos processos ajuizados e to-
dos eles devendo ser julgados com respeito às etapas processuais, não é possível 
chegar ao fim de um ano com todos eles resolvidos. Além disso, dentre as ações 
há sempre aquelas que, em decorrência de sua complexidade, demandarão maior 
tempo. A consequência disso é que haverá, ao longo do tempo, um acúmulo 
de processos, pois os novos que são distribuídos juntar-se-ão aos casos que, por 
diversos fatores, terão ficado pendentes de julgamento.
Esta junção de novos casos com aqueles que estão em trâmite por julga-
dores é tratada pelo CNJ como “carga de trabalho dos magistrados” e estes dados 
estão agrupados na Tabela 06 e respectivo gráfico, abaixo:
Tabela 06 - Carga de trabalho
Ano Carga de Trabalho 1 Grau
Carga de 
Trabalho 2 Grau
Carga de Trabalho 
Juizado Especial
2003 3812 1783 7138
2004 4281 1554 7189
2005 4079 1714 5877
2006 3960 2187 6514
2007 3998 2425 6565
2008 4230 2627 6593
2009 3088 2489 3912
2010 4588 3277 4227
2011 3818 3214 1870
2012 5837 3758 2045
2013 5800 4042 1858
Fonte: Elaborada pelos autores
99
Gráfico 06 – Carga de trabalho
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Carga Trabalho 1 grau Carga Trabalho 2 Grau Carga Trabalho Juizado Especial
Fonte: Os autores.
Os dados mostram que, assim como foi exposto, o número de proces-
sos que chegam ao Poder Judiciário anualmente não diminui - pelo contrário, 
mantém uma média estável e bastante alta (Tabela 05 acima), com tendência 
de majoração. O grande problema é que os magistrados, mesmo julgando a 
maior quantidade possível de litígios, ainda podem se deparar com muitos que 
demandarão mais tempo. Além disso, há aqueles que, por absoluta falta de tempo, 
não serão julgados, juntando-se às novas demandas que chegam para aumentar 
a carga de trabalho a níveis de execução humanamente impossíveis.
Julgar esse número de processos de forma a dar uma tutela jurisdicional 
cercada de todas as garantias do devido processo legal não é tarefa fácil, devido 
aos diversos procedimentos intrínsecos aos processos, o que leva a uma situação 
em que é impossível responder às demandas da sociedade sem que haja, por parte 
do Estado, um esforço grande para dar solução a esse problema.
Algumas das medidas com o intuito de se modificar essa situação, como 
a EC n° 45, de 2004, aparentemente não surtiram o efeito desejado, fato que 
pode ser percebido ao se verificar que, após o ano de 2004 e com a EC n° 45 já 
em vigor, não houve queda significativa nos números de carga de trabalho dos 
magistrados.
Com relação às Leis no 9.099, de 1995, e n° 10.529, de 2001, o que 
houve foi apenas a criação de um canal de acesso para os economicamente des-
favorecidos, não havendo, a priori, nenhuma redução significativa de trabalho 
dos magistrados, o que é percebido de forma muito clara através dos dados 
aqui analisados. Ademais, nos anos de 2012 e 2013, nota-se que o número de 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
100
ações propostas nos Juizados Especiais permanece quase inalterado, enquanto 
as demandas de primeira instância aumentaram sobremaneira7, indicando uma 
opção da população, em geral, pela não utilização dos procedimentos das Leis 
no 9.099/1995 e n° 12.153/2009 (Juizados Especiais de Fazenda Pública).
Como mencionado anteriormente, não se pode confundir rapidez com 
efetividade do processo. Para se discutir efetividade processual é necessário pas-
sar por tudo o que envolve e garante que os procedimentos de um feito sejam 
cercados de fatores que, ao final, permitam a entrega de uma tutela jurisdicional 
justa e com segurança jurídica, ou seja, envolta pelos princípios constitucionais 
do processo, notadamente ampla defesa, contraditório e devido processo legal.
Não é possível considerar uma celeridade procedimental que não esteja 
cercadapelos princípios que garantam um devido processo legal, pois, repita-se, 
um processo mal instruído gera grande quantidade de recursos e possibilidade de 
cassação de decisões, o que invariavelmente implica em demora em seu trâmite 
e retrabalho judicial.
Os números fornecidos pelo CNJ não deixam dúvidas de que há um 
acúmulo de trabalho gerado pela quantidade de processos que chegam e se jun-
tam a outros que ainda não foram julgados, mas mostram também, por outro 
lado, que o maior problema não está nos recursos, indicados por muitos como 
responsáveis por essa demora8.
Nas tabelas e gráficos abaixo, as variáveis Taxa de Congestionamento e 
Taxa de Recorribilidade dão uma ideia clara do panorama atual do Poder Judi-
ciário mineiro:
Ano 1 Grau 2 Grau Juizado Especial
2003 58,74% 50,74% 36,90%
2004 78,90% 49,70% 65,60%
2005 78,00% 47,20% 32,90%
2006 76,60% 52,00% 43,80%
2007 71,30% 48,50% 43,80%
2008 69,60% 41,70% 41,60%
2009 65,40% 51,80% 40,00%
2010 69,00% 50,80% 34,00%
2011 76,00% 54,00% 49,00%
2012 76,90% 53,00% 48,30%
2013 77,60% 55,40% 47,80%
Fonte: Elaborada pelos autores
Tabela 07 - Taxa de congestionamento
7 Segundo Tabela 04 antes apresentada.
8 Cabe salientar que nos relatórios de 2012 e 2013, publicados pelo CNJ, não foi divulgada a variável Taxa de 
Recorribilidade, o que obsta uma análise sobre a satisfação dos jurisdicionados pela tutela jurisdicional entregue.
101
Gráfico 07 – Taxa de congestionamento
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
1 Grau 2 Grau 3 Grau
Fonte: Os autores
Ano 1 Grau 2 Grau 1 Grau 2 Grau Interna Externa
2003 Indisponível 12,99% 16,38% 12,82% 2,11% 2,11%
2004 0,90% 16,60% 6,20% 25,50% 0,30% 1,50%
2005 1,50% 17,10% 13,10% 22,90% 0,60% 3,30%
2006 1,50% 17,40% 13,30% 23,30% 0,60% 3,30%
2007 1,50% 16,00% 12,70% 23,90% 0,70% 4,70%
2008 1,50% 15,70% 13,70% 31,00% 0,80% 4,50%
2009 3,00% 18,50% 11,20% 34,00% 5,50% 4,50%
2010 5,90% 17,60% 7,40% 29,50% 8,70% 2,60%
2011 23,80% 16,60% 11,30% 27,20% 36,10% 0,10%
2012 Indisponível Indisponível Indisponível Indisponível Indisponível Indisponível
2013 Indisponível Indisponível Indisponível Indisponível Indisponível Indisponível
Fonte: Elaborada pelos autores
Interna Externa Juizado Especial
Tabela 08 - Taxa de recorribilidade
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
102
Gráfico 08 – Taxa de recorribilidade
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Tx Interna 1 Grau Tx Interna 2 Grau Tx Externa 1 Grau
Tx Externa 2 Grau Tx Interna JE'S Tx Externa JE'S
Fonte: Os autores.
Contrariamente à taxa de recorribilidade, a taxa de congestionamento tem 
números muito elevados, o que demonstra que o acúmulo de serviço é fator de 
maior impacto na tutela jurisdicional do que o é a quantidade de recursos impe-
trados. Medidas criadas no intuito de garantir a duração razoável dos processos, 
como a EC nº 45, de 2004, além da criação dos Juizados Especiais, de certo 
não podem se estagnar e necessitam de aprimoramento para que cumpram sua 
função de dar celeridade ao procedimento - sem, no entanto, ocasionar a perda 
das garantias constitucionais inerentes a ele.
O fato das condições de trabalho no sistema judiciário estarem muito 
aquém do que se espera, principalmente em virtude da falta de tecnologia e 
da carência de mão de obra, além do crescimento vertiginoso de demandas 
propostas ao Poder Judiciário, é comentado por Marinoni (2013, p. 233) com 
o seguinte argumento:
Um procedimento destituído de técnica processual capaz 
de possibilitar a antecipação da tutela em caso de “fundado 
receio de dano” e “abuso de direito de defesa” certamente 
seria incompatível com o direito à duração razoável. Hoje, 
o procedimento ordinário clássico expressaria evidente in-
constitucionalidade.
103
Por outro lado, não há mais como aceitar as desculpas de 
que, por exemplo, os juizados especiais não respondem à 
expansão da litigiosidade ou ao aumento do número de 
ações, ou mesmo de que determinado órgão judiciário 
está impedido de prestar a tutela jurisdicional em razão 
de acúmulo de serviço. Na verdade, a afirmação de que há 
acúmulo de serviço, ou de que a estrutura da administra-
ção da justiça não viabiliza a adequada prestação da tutela 
jurisdicional, constituem autênticas confissões de violação 
ao direito fundamental à duração razoável do processo. O 
acúmulo de serviço, assim como a falta de pessoal e instru-
mentos concretos, pode desculpar o juiz e eventualmente 
o próprio Judiciário, mas nunca eximir o Estado do dever 
de prestar a tutela jurisdicional de forma tempestiva.
Desse modo, não é possível desobrigar o Estado da responsabilidade pela 
duração razoável do processo e pela efetividade do princípio do desenvolvimento 
sustentável. Durante o seu trâmite normal, há diversas técnicas que podem ser 
utilizadas de forma a protelar uma decisão judicial (ou pelo menos o seu cum-
primento) e desta maneira dar à parte derrotada na lide um ganho de tempo. 
Esta possibilidade pode gerar prejuízo à parte vencedora em alguns casos e, em 
muitos, é possível que ela não consiga sequer usufruir da tutela jurisdicional que 
lhe foi dada. É claro que situações de tutela antecipada, desde que presentes suas 
condicionantes, podem minorar o problema, mas quando não há essa possibili-
dade e o juiz percebe que uma das partes está apenas protelando o feito, deve o 
Estado dar ao seu representante condições de inibir esta prática.
O direito à razoável duração do processo, insculpido no art. 5º, inciso 
LXXVIII, da CR/88, incide tanto sobre o Poder Executivo quanto sobre o Poder 
Legislativo e o Poder Judiciário, e ele, segundo Marinoni (2013, p. 201), tem a 
obrigação de organizar a distribuição da justiça, equipar os órgãos judiciários e 
adotar técnicas para permitir a tempestividade processual e impedir práticas que 
possam retardar o trâmite do processo ou a entrega da tutela jurisdicional efetiva.
As situações propostas para a celeridade procedimental e, como consequ-
ência, a tempestividade, são todas ligadas ao trâmite do feito, ou seja, já depois de 
estar o processo sob a responsabilidade do magistrado. Mas, não se pode esquecer 
que antes que as ações estejam prontas para o julgamento é necessário que elas 
passem por algumas etapas primárias, as quais envolvem pessoas para recebê-las 
nas secretarias e organizá-las, além de equipamentos capazes de agilizar todos os 
procedimentos necessários até o momento de serem analisadas.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
104
Neste ponto, percebe-se que o Estado, além de sua responsabilidade téc-
nica de dar condições à tempestividade da tutela jurisdicional, tem a obrigação 
de fornecer uma estrutura condizente com as necessidades do Poder Judiciário 
e com o investimento de cotas maiores para a aplicação em tecnologia, capital 
humano e estrutura física, dando condições para que não exista o acúmulo de 
serviço e para que seja possível acompanhar o aumento do acesso à jurisdição, 
tendo, com isso, uma estrutura capaz de responder aos anseios da sociedade de 
modo sustentável.
Como exposto por Marinoni (2013, p. 233), esses problemas estruturais 
servem como desculpa para o magistrado e para o Poder Judiciário, que com isso 
justificam as longas demandas e os atrasos que são praxe atualmente no sistema 
judiciário brasileiro. Independentemente de quem seja, nesse contexto, o culpado 
pela situação vivida hoje no Poder Judiciário, ao final, o maior prejudicado é 
sem dúvida o cidadão, que busca o Estado para a solução de um conflito e tem 
invariavelmente seus direitos violados.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após todo o exposto até aqui, deve-sedar uma resposta ao questionamento 
que motivou a construção deste trabalho: por que o sistema processual é tão 
moroso? A questão é complexa e para respondê-la não se pode partir do redu-
cionismo de apenas dizer que esta lentidão é causada pelo excesso de formalidade 
do sistema, dentre outras inúmeras afirmações que já caíram no gosto popular.
Entregar uma tutela jurisdicional que resolva uma demanda não é apenas 
dizer a quem pertence o direito em questão, pois, ao dizer que uma das partes 
é detentora de determinado direito, de outra forma também se está dizendo, ao 
outro lado da lide, que este direito não lhe pertence, muitas vezes lhe impondo 
uma sanção. Portanto, a tutela a ser entregue deve estar cercada de segurança 
jurídica, de modo que tanto o réu quanto o autor, ao final, entendam que a de-
cisão foi dada com lisura, imparcialidade e acerto, em especial que o derrotado 
compreenda que aquele direito realmente não lhe pertence. Isso só acontecerá 
se a decisão for devidamente fundamentada, acolhendo e refutando todos os 
argumentos das partes, de maneira dialógica e sem exceções.
Com isso, os atos processuais devem ocorrer mediante o respeito aos prin-
cípios da ampla defesa e do contraditório, de forma que todos os integrantes da 
demanda possam participar de maneira crítica e tentar interferir no processo. É 
claro que não há como passar por todas as fases de um procedimento de forma 
105
rápida sem que isso gere, ao final, um processo com pouca segurança jurídica. 
O mais importante com relação ao tempo do processo é que ele não seja curto 
demais, de modo a fragilizar a tutela, nem longo demais, inviabilizando o seu 
resultado efetivo. Ao contrário, ele deve durar o tempo suficiente para que seja 
cercado de segurança jurídica, mas, ao ser entregue, é preciso que possa o detentor 
da tutela se utilizar do benefício que lhe foi concedido.
Os dados empíricos aqui analisados mostram que, apesar de ter havido 
aumento de investimentos no aparato da máquina judiciária, eles não foram 
suficientes, porque ainda é possível perceber um “encalhe” gigantesco de pro-
cessos a serem julgados pelos magistrados. Caso as condições estruturais atuais 
sejam mantidas, dificilmente ocorrerá, a curto e médio prazo, uma solução para 
esses problemas - e os processos continuarão a tramitar com extrema lentidão.
O que se pode concluir, ao final, é que a morosidade do procedimento, 
seu excesso de formalismo e a gama de recursos disponíveis não são os fatores 
principais causadores da lentidão do sistema judiciário, já que, como exposto 
acima, se uma decisão é proferida com debate e respeito ao processo constitu-
cional, diminui-se o número de recursos ou sua chance de êxito. Ao contrário 
do que se pensa, reitera-se, o uso dos princípios constitucionais não gera retardo 
procedimental, posto que um processo que não respeita esses princípios será 
um processo mal instruído e consequentemente levará mais tempo para ser 
solucionado.
O Código de Processo Civil/2015 (CPC/2015), Lei nº 13.105/2015, foi 
visto como um possível instrumento que poderia dar solução ao problema da 
morosidade nas demandas, mas, em decorrência da complexidade que envolve 
uma entrega mais célere da tutela jurisdicional, essa mudança legislativa certa-
mente não levará aos resultados desejados, já que não abarca questões de maior 
impacto no tempo processual.
Medidas como a assunção de competência e o incidente de resolução de 
demandas repetitivas foram tratadas no CPC/2015 de modo a dar rapidez aos 
processos individuais, deixando os Tribunais com maiores poderes de decisão. 
No entanto, para as demandas que não envolvem questões de direito, continua 
o hiato de tempo gigantesco entre início e término do procedimento, no qual a 
parte, ao receber o direito que foi pedido, não consegue usufruir dele.
Muito embora o CPC/2015 não tenha sido o foco deste trabalho, não há 
como deixar de citá-lo, pois o legislador, por meio dele, evidenciou pelo menos 
sua intenção de tentar resolver a situação discutida neste trabalho. Somente as 
questões de edição e modernização das leis não serão suficientes para solucionar 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
106
o dilema, inclusive porque há questões de cunho estrutural que geram outros 
problemas. Para que as leis atendam aos fins a que se propõem, é necessário 
que haja quem as movimente e, para isso, é de suma importância que existam 
condições de trabalho, capital humano e investimento em estrutura física do 
Poder Judiciário.
Portanto, é necessário pensar em criar condições de trabalho para juízes 
e servidores públicos, bem como estruturar a máquina judiciária de maneira a 
gerar estrutura para que a tutela jurisdicional seja o mais célere possível, sem, 
contudo, deixar de respeitar todas as garantias constitucionais, especialmente as 
do contraditório e da ampla defesa.
Assim, o princípio do desenvolvimento sustentável em matéria processual, 
com a efetividade da tutela jurisdicional em ações com duração razoável, deve, 
além da reforma legislativa, estar acompanhada da questão estrutural e de uma 
proporção entre recursos humanos e demandas em trâmite, como foi previsto na 
EC nº 45/2004, no atual art. 93, inciso XIII, da CR/889. Sem embargo, os dados 
do CNJ não demonstram isso. A título de exemplo, o número de magistrados 
permaneceu quase inalterado de 2004 até 2013, enquanto o de servidores efetivos 
pouco variou de 2008 até 2013. Contrariamente, a população e o número de 
demandas aumentam a cada ano que passa. O primeiro fato, por si só, já com-
prova o descumprimento do mandamento constitucional vigente desde 2004.
É certo que o número de demandas pode derivar de uma majoração de 
advogados inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, da ampliação de acesso 
à jurisdição, do acréscimo de informações pessoais dos jurisdicionados e da busca 
incessante pelos seus direitos10. Sabe-se que, a partir do aumento do número de 
advogados, também haverá influência nos demais fatores supracitados. Todavia, 
não foi possível analisar o reflexo deste elemento com os demais dados.
Finalmente, o processo eletrônico, que se materializa virtualmente em 
bancos de dados, certamente ensejará a diminuição do uso de materiais como 
papel, etiquetas, pastas, envelopes, malotes, mobiliário e espaço físico para aco-
modação dos autos, sejam eles ativos ou arquivados. Reduzirá também as despesas 
de recursos públicos (com materiais, transporte de feitos e edifícios) e particulares, 
porque os advogados terão menor necessidade de deslocamento pelas cidades 
e foros para diligenciarem o cumprimento dos prazos processuais, produzindo 
economia de combustível e água.
9 Art. 93 da CR/88. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto 
da Magistratura, observados os seguintes princípios: XIII o número de juízes na unidade jurisdicional será 
proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva população (BRASIL, 1988).
10 Fenômeno da pós-modernidade.
107
O tempo da demanda deveria ter sido otimizado, pela desnecessidade de 
rotinas inexistentes no processo eletrônico. Entre elas, pode-se citar a juntadas 
de petições e decisões, inclusive dos tribunais, formação de autos, recursais ou 
não, e devolução dos feitos das demais instâncias para as Comarcas de origem. 
Pode-se inserir no processo eletrônico funcionalidades capazes de agilizar os 
trâmites e a apreciação de peças processuais, como a prioridade concedida aos 
idosos, enfermos e as tutelas provisórias de urgência (cautelares e antecipatórias), 
respectivamente. No entanto, não é isso que vem ocorrendo, pois, a falta de 
condições laborais dos magistrados, número precário de juízes e a dificuldade 
de leitura dos documentos eletrônicos demonstra a maior necessidade de capital 
humano para lidar com os processoseletrônicos.
No entanto, o processo eletrônico provavelmente irá reduzir a necessidade 
de servidores públicos, antes destinados ao atendimento de advogados, à conta-
gem de prazos processuais e à movimentação interna dos autos nas Secretarias 
dos Juízos, mas isso não é suficiente para outorgar a celeridade procedimental 
que a sociedade almeja.
No entanto, é inegável que a atividade judiciária virtual gera menor im-
pacto ao meio ambiente, de modo sustentável, em benefício do jurisdicionado, 
das gerações atuais e futuras, acaso os envolvidos na tutela jurisdicional não 
imprimam os documentos para facilitar a leitura. 
Nesse interim, o processo eletrônico possibilita maior acesso ao Poder 
Judiciário, demandando então a majoração de recursos humanos qualificados 
(especialmente magistrados e escrivães, todos com conhecimento tecnológico 
e sobre os procedimentos aplicáveis às ações), para garantir o cumprimento do 
princípio da sustentabilidade e do direito fundamental à razoável duração dos 
processos.
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O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
108
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SILVA, José Afonso da. Acesso à justiça e cidadania. Revista de Direito 
Administrativo, Rio de Janeiro, n. 216, p. 09-24, abr./jun. 1999.
111
NOVO DELINEAMENTO DA CONEXÃO
Leonardo de Faria Beraldo*
SUMÁRIO: 1 Introdução. 2 Da modificação de competência. 2.1 Conexão. 
2.2 Continência. 2.3 Prevenção. 2.4 Ausência de oposição em se tratando de 
incompetência relativa. 2.5 Foro de eleição. 2.6 Inexistência de preliminar 
de convenção de arbitragem. 3A disciplina da conexão no novo CPC. 3.1 
Considerações iniciais. 3.2 Requisitos. 3.3 Efeito. 3.3.1Regra geral. 3.3.2 
Processo de execução. 3.3.3 Risco de decisões contraditórias. 3.3.4 Reunião 
de ações em que não há conexão. 3.3.5 Obrigatoriedade do juiz? 3.3.6 Juízo 
responsável pela reunião dos processos. 3.4 Momento oportuno para se requerer 
a reunião de ações e suas consequências. 4 Recurso cabível.
1 INTRODUÇÃO
A nossa intenção, com o presente estudo, é mostrar como ficou a figura 
da conexão no novo Código de Processo Civil (CPC), bem como os seus pos-
síveis efeitos. Para tanto, passaremos, antes, pelas hipóteses de modificação de 
competência, situação jurídica na qual a conexão está inserida, juntamente com 
a continência e a cláusula de eleição de foro, apenas para citar alguns exemplos.
O texto será curto e objetivo, com doutrina antiga e atual e, claro, com a 
jurisprudência construída durante a vigência do CPC/1973.
Antes de iniciarmos o texto propriamente dito, é preciso recordar quais são 
os três elementos da ação: partes, causa de pedir e pedido. A existência simultânea 
dos três é necessária para a configuração da coisa julgada, da litispendência ou da 
perempção. Já para a percepção da conexão, da continência e da prejudicialidade 
basta a coexistência de causa de pedir (total ou parcial) ou objeto mediato.
2 DA MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA
O novo CPC cuida, na Seção II, do Capítulo I, do Título III, do Livro 
II, da Parte Geral, mais precisamente nos arts. 54 a 63, as hipóteses de modi-
* Advogado. Mestre em Direito pela PUC Minas. Especialista em Processo Civil. Professor em cursos de 
graduação e pós-graduação de Processo Civil, Arbitragem, Direito Civil e Societário. Ex-Diretor da Escola 
Superior de Advocacia da OAB/MG. Ex-Diretor do Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Presidente 
da Comissão Especial da OAB/MG encarregada do estudo do projeto de lei de novo CPC. Ex-Diretor e 
Membro do Conselho Deliberativo da Câmara de Arbitragem Empresarial Brasil (CAMARB).
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
112
ficação de competência. Não esgota todas nessa parte, uma vez que o art. 65, 
por exemplo, inserido na Seção seguinte, cuida da prorrogação por ausência de 
preliminar de incompetência relativa. 
A prorrogação da competência pode ser legal ou voluntária. Essa decorre 
da vontade das partes, e, aquela, de imposição da própria lei. Em ambos os ca-
sos, ressalte-se, é preciso que a competência seja relativa. O juiz absolutamente 
incompetente não poderá atuar no caso, por vedação expressa da lei. Assim 
sendo, a flexibilização, em se tratando de competência, só pode atingir a relativa.1
As razões que justificam essa modificação são das mais variadas ordens: (i) 
prestigiar a autonomia privada das partes; (ii) punir ou compreender o silêncio 
do réu; (iii) evitar a possibilidade de existirem decisões conflitantes; e, até mesmo, 
(iv) imprimir maior efetividade nos processos, evitando e impedindo a prática 
de atos desnecessários.
2.1 CONEXÃO
Discorreremos sobre a conexão no item 3 do presente trabalho, contudo, 
é possível adiantar que a sua disciplina ficou por conta do art. 55 do novo CPC.
2.2 CONTINÊNCIA
A continência está regulamentada pelo art. 56 do novo CPC, que assim 
dispõe: “[...] dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver 
identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser 
mais amplo, abrange o das demais”. Como se vê, continua com a mesma defi-
nição do CPC/1973.
A novidade está por conta do art. 57 do novo CPC, que diz que “[...] 
quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta anteriormen-te, no processo relativo à ação contida será proferida sentença sem resolução de 
mérito, caso contrário, as ações serão necessariamente reunidas”. O CPC/1973 
não possuía dispositivo como esse. É claro que a reunião de ações nas quais existia 
1 A doutrina traz uma exceção a essa regra geral: “As hipóteses de prorrogação de competência previstas pelo 
Código de Processo Civil aplicam-se exclusivamente às regras de competência relativa, que, justamente 
por serem de natureza dispositiva, admitem o afastamento de sua aplicação no caso concreto. A exceção 
fica por conta da tutela coletiva, que permite a reunião de demandas conexas mesmo com a determinação 
de competência absoluta do local do dano” (NEVES, Daniel Assumpção. Manual de direito processual 
civil,7. ed. São Paulo: Método, 2015, item 4.7.1. Vital Source Bookshelf Online).
113
continência entre ambas era possível, mas essa nova solução, de se extinguir uma 
delas, sem dúvida é algo novo. 
A ideia é boa, mas por certo gerará problemas, e, para tanto, vamos nos 
valer de dois exemplos bem práticos. No primeiro, imaginemos que a ação que 
será extinta é a primeira que foi proposta. Ora, tendo em vista que juros e correção 
monetária têm, como termo inicial, muitas vezes, a data da propositura da ação 
ou a data da citação, como será resolvida essa questão? No segundo, quem é que 
arcará com as despesas processuais, tais como custas e honorários sucumbenciais, 
na ação que será extinta com base no art. 57?
Por fim, cumpre lembrar que é possível a ocorrência de litispendência 
parcial, e que ela não se confunde com a continência, devendo, pois, merecer o 
tratamento próprio e correto para a sua resolução.2
2.3 PREVENÇÃO
No CPC/1973, existiam duas regras distintas para a determinação da 
prevenção (arts. 106 e 219). No novo CPC só há uma regra e ela encontra-se 
no seu art. 59: “o registro ou distribuição da petição inicial torna prevento o 
juízo”. Como se pode ver, não interessa mais em qual juízo houve a primeira 
citação válida ou qual deles despachou em primeiro lugar. Sem dúvida alguma, 
essa inovação facilita a praxe forense.
Assim como ocorria no CPC/1973, “a reunião das ações propostas em 
separado far-se-á no juízo prevento, onde serão decididas simultaneamente” (art. 
58 do novo CPC). Essa regra vale até mesmo para a continência, salvo se for 
aplicável, no caso concreto, o disposto no art. 57 do novo CPC.
2.4 AUSÊNCIA DE OPOSIÇÃO EM SE TRATANDO DE INCOM-
PETÊNCIA RELATIVA
Tanto a incompetência absoluta como a relativa devem ser arguidas da 
mesma maneira no novo CPC, qual seja, por meio de preliminar na contes-
tação. Segundo o art. 64, “a incompetência, absoluta ou relativa, será alegada 
como questão preliminar de contestação”. Acabou, desse modo, a exceção de 
incompetência.
2 Cf. VILHENA, Paulo Emílio de Andrade. Conexidade pela “causa excipiendi” e individuação da causa. 
Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 395, set./1968, p. 30.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
114
A incompetência absoluta continua podendo ser alegada em qualquer 
tempo e grau de jurisdição, devendo ser declarada ex officio pelo juiz.
2.5 FORO DE ELEIÇÃO
As partes podem eleger, por livre e espontânea vontade, o foro compe-
tente para o julgamento de eventuais litígios decorrentes do contrato por elas 
celebrado. Isso se dá por meio da chamada cláusula de eleição de foro. O novo 
CPC continua permitindo seja inserida em contratos a chamada cláusula de 
eleição de foro (§ 1º do art. 63). 
Merece destaque o § 3º do art. 63, que estatui que, “antes da citação, a 
cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo 
juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu”. 
Antigamente, no CPC/1973, o juiz somente tinha esse poder se a referida cláusula 
estivesse inserida em contrato de adesão.
Também deve ser destacado o teor do § 4º do mesmo art. 63: “[...] citado, 
incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, 
sob pena de preclusão”.
Concluímos que, se ocorrer a citação do réu, é porque o juiz entende que 
a cláusula de eleição de foro é válida e eficaz, não podendo arguir essa matéria 
ex officio posteriormente. Nada impede, todavia, que a parte ré possa arguir a 
dita invalidade da cláusula em preliminar na contestação, como se fosse incom-
petência relativa.
Também deve ser salientado que, havendo cláusula de eleição de foro, ela 
deverá ser observada pelo proponente da ação judicial. A não observância gera 
para o réu o direito de alegar, em preliminar na contestação, a incompetência 
relativa do juízo. Haverá preclusão se o réu, regularmente citado, não se mani-
festar sobre esse ponto no prazo e na forma da lei.
2.6 INEXISTÊNCIA DE PRELIMINAR DE CONVENÇÃO DE 
ARBITRAGEM
Convenção de arbitragem é gênero do qual são espécies a cláusula com-
promissória e o compromisso arbitral.3 Existindo um deles, e o autor, mesmo 
3 Sobre o tema, confira-se: BERALDO, Leonardo de Faria. Curso de arbitragem: nos termos da Lei n. 
9.307/96. São Paulo: Atlas, 2014, p. 157-169.
115
assim, insistir em ir ao Judiciário, deverá o réu arguir, em sede de preliminar na 
contestação, a existência da convenção arbitral, sob pena de preclusão. É o que 
dispõe o § 6º do art. 337: “a ausência de alegação da existência de convenção 
de arbitragem, na forma prevista neste Capítulo, implica aceitação da jurisdição 
estatal e renúncia ao juízo arbitral”. Trata-se de positivação daquilo que já era 
entendimento pacífico na doutrina e na jurisprudência. 
3. A DISCIPLINA DA CONEXÃO NO NOVO CPC
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Não é simples trabalhar com conexão de forma isolada, tanto é que Cân-
dido Rangel Dinamarco assevera que “[...] a conexidade é uma categoria jurí-
dico-processual de tanta amplitude, que conceitualmente é capaz de abranger 
em si todas as demais modalidades de relações entre demandas. No confronto 
com ela, cada uma destas está em relação de especialidade: na figura genérica 
da conexidade acomodar-se-iam todas as demais, não fossem as notas específicas 
de cada uma e os tratamentos diferenciados que a lei lhes dá (prejudicialidade, 
continência etc.)”.4
O art. 55 do novo CPC preceitua que “reputam-se conexas 2 (duas) ou 
mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir”. 
Ao comentar o art. 103 do CPC/1973, cuja redação sobre conexão é 
idêntica à atual, Celso Agrícola Barbi afirma que a lei não está errada, mas é 
incompleta, na medida em que “[...] a falha da lei está em que a hipótese prevista 
é aquela uma, entre as várias em que ocorre a conexão”.5 O doutrinador ainda 
cita como outras hipóteses de conexão as seguintes situações: (i) quando entre as 
causas há relação de acessório à principal; (ii) quando uma das partes denuncia 
a lide a outrem; (iii) quando o réu age em reconvenção; e (iv) quando uma das 
partes propõe a declaratória incidental.6
4 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil, 5. ed. São Paulo: Malheiros, 
2005. v. 2, p. 149. Essas outras modalidades às quais o autor se refere são as seguintes: continência, 
prejudicialidade, subsidiariedade, mera afinidade, principal e acessória, sucessividade.
5 BARBI, Celso Agrícola. Comentários ao Código de Processo Civil, 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994. 
v. 1, p. 284. Nesse sentido: OLIVEIRA NETO, Olavo de. Conexão por prejudicialidade. São Paulo: RT, 
1994, p. 61; SILVA, Edward Carlyle. Conexão de causas. São Paulo: RT, 2006, p. 87-88.
6 Cf. BARBI, op. cit.,p. 284. Outros casos específicos de reunião de ações podem ser vislumbrados na seguinte 
obra: LOPES, João Batista. A conexão e os arts. 103 e 105 do CPC. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 
707, set./1994, p. 37-39.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo CândidoJúnior
116
Em princípio, quando pensamos em conexão dentro do contexto da rela-
ção entre demandas, costumamos dizer que a conexidade decorre da afinidade 
entre duas ou mais ações. No entanto, tanto a doutrina7 como a jurisprudência8 
consideram possível a existência de conexão entre duas demandas não só pela afi-
nidade, mas, também, em razão da prejudicialidade de uma em relação à outra.
3.2 REQUISITOS
A lei apresenta dois requisitos alternativos para que possa ocorrer a cone-
xão, quais sejam, identidade de causa de pedir ou de objeto.
A causa de pedir pode ser dividida em remota ou próxima. A causa de 
pedir remota refere-se aos fundamentos de fato; a causa de pedir próxima diz 
respeito aos fundamentos de direito.
O objeto também comporta uma divisão, podendo ser imediato ou me-
diato. O objeto imediato é o pedido de tutela jurisdicional. No processo de 
conhecimento, por exemplo, pode ser uma sentença declaratória, constitutiva 
ou condenatória. O objeto mediato é o bem da vida que se pretende com a 
sentença ou mesmo com a tutela antecipada antecedente estabilizada.
Desse modo, para que duas ou mais causas possam ser definidas como 
conexas, basta que haja coincidência entre a causa de pedir ou o objeto. O ob-
jeto precisa ser o mediato, sem dúvida.9 Já em relação à causa de pedir, pode ser 
tanto a próxima, quanto a remota, ou, até mesmo, as duas. Conforme se extrai 
da doutrina de Athos Gusmão Carneiro, 
[...] supõem-se estejam tramitando perante diferentes 
juízos, juízos A e B, duas (ou mais) ações conexas, i.e, 
ligadas pela identidade de objeto (eadem petitum) ou pela 
identidade, total ou parcial, de causa de pedir (eadem causa 
petendi), ou pela identidade de ambos os elementos (CPC, 
art. 103). As causas podem ser reunidas, e até devem sê-
7 Nesse sentido: OLIVEIRA NETO, op. cit., p. 82-107.
8 Nesse sentido: “No caso dos autos, o Tribunal a quo reconheceu a existência da conexão entre as ações, 
tendo em vista que o resultado da ação de prestação de contas poderá produzir efeitos diretos na ação de 
cobrança, ficando, pois, configurada a relação de prejudicialidade entre elas” (BRASIL. Superior Tribunal 
de Justiça. Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial nº 565.190-PR, Quarta Turma. Relator: 
Min. Raul Araújo. Brasília, 23 de setembro de 2014. Diário de Justiça: 23 out. 2014).
9 Nesse sentido: BARBI, op. cit., p. 161.
117
-lo quando necessário para evitar decisões eventualmente 
contraditórias (art. 105).10
A jurisprudência quase unânime do STJ entende que não se pode exigir 
perfeita identidade entre esses elementos caracterizadores da conexão, e que um 
liame que possibilite a decisão unificada já seria o suficiente.11
 
3.3 EFEITO
A doutrina é contundente em afirmar que não se pode confundir o con-
ceito de conexão com o seu efeito primordial, que é a reunião de processos. 
Conexão é um fato processual que pode ter, como consequência, a reunião de 
duas ou mais ações conexas entre si. Nos próximos tópicos discorreremos mais 
detalhadamente sobre isso. 
Em suma, para se verificar se será necessária ou não a reunião das ações 
conexas será preciso analisar, com cautela, a intensidade da conexão,12 pois, às 
vezes, apesar da aparente obviedade, pode ser que não exista o risco de existirem 
pronunciamentos judiciais logicamente conflitantes, o que levaria à desnecessi-
dade de se apensar os feitos.
10 CARNEIRO, Athos Gusmão. Jurisdição e Competência, 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 103. Nesse 
sentido: BARBI, op. cit., p. 160; WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de 
processo civil, 16. ed. São Paulo: RT, 2016. v. 1, p. 162. Em sentido contrário: DALL’AGNOL, Antônio. 
Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2000. v. 2, p. 39; BRASIL. Superior Tribunal 
de Justiça. Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial nº 91.138-MG, Terceira Turma. Relator: 
Min. Sidnei Beneti. Brasília, 22 de maio de 2012. Diário de Justiça: 31 maio 2012; BRASIL. Superior 
Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 31.516-SP, Quarta Turma. Relator: Min. Jesus Costa Lima. Brasília, 
7 de agosto de 1995. Diário de Justiça: 28 ago. 1995.
11 Cf. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial nº 753.638-
DF, Terceira Turma. Relator: Min. Humberto Gomes de Barros. Brasília, 3 de dezembro de 2007. Diário 
de Justiça: 12 dez. 2007, p. 415; BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Agravo em 
Recurso Especial nº 119.985-GO, Quarta Turma. Relator: Min. Luis Felipe Salomão. Brasília, 14 de agosto 
de 2012. Diário de Justiça: 22 ago. 2012; BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência 
nº 126.681-RJ, Segunda Seção. Relator: Min. Nancy Andrighi. Brasília, 13 de agosto de 2014. Diário de 
Justiça: 19 ago. 2014; BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 780.509-MG, Quarta 
Turma. Relator: Min. Raul Araújo. Brasília: 25 de setembro de 2012. Diário de Justiça: 25 out. 2012; 
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial nº 1.226.016-RJ, Terceira Turma. Relator: Min. 
Nancy Andrighi. Brasília, 15 de março de 2011. Diário de Justiça: 25 mar. 2011.
12 Sobre a intensidade da conexão, confira-se: THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito 
processual civil, 56. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. 1, p. 235-238. Sobre o referido cuidado que 
acabamos de mencionar, tome-se como exemplo o seguinte aresto, no qual foi decretada a existência de 
litispendência mesmo sem que as partes fossem exatamente as mesmas: BRASIL. Superior Tribunal de 
Justiça REsp n. 1.120.000-SP, Primeira Turma. Relator: Min. Benedito Gonçalves. Brasília, 17 de agosto 
de 2010. Diário de Justiça: 3 set. 2010. A decisão, no nosso sentir, está correta, pois observou-se o espírito 
da norma, bem como quem é a verdadeira parte no mandamus.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
118
3.3.1 REGRA GERAL
A regra geral sobre o efeito da conexão está contida no § 1º do art. 55 
do novo CPC: “[...] os processos de ações conexas serão reunidos para decisão 
conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado”.
A única exceção, posta de forma clara e expressa, para justificar a im-
possibilidade de reunião de processos, é se um deles já tiver sido sentenciado. 
Trata-se de posicionamento antigo da jurisprudência, como se pode constatar 
do enunciado de Súmula n. 235 do STJ. 
No entanto, conforme veremos no item 3.3.3, a simples existência de 
conexão, por si só, não justifica a reunião de processos.
3.3.2 PROCESSO DE EXECUÇÃO
O § 2º do art. 55 do novo CPC reza o seguinte: “aplica-se o disposto no 
caput: I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa 
ao mesmo ato jurídico; II - às execuções fundadas no mesmo título executivo”.
O novo CPC positivou o entendimento já existente na jurisprudência, 
construído durante a vigência do CPC/1973.13
13 Cf. “PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL E AÇÃO ANULATÓRIA DO DÉBITO. CONEXÃO.1. 
Se é certo que a propositura de qualquer ação relativa ao débito constante do título não inibe o direito do 
credor de promover-lhe a execução (CPC, art. 585, § 1º), o inverso também é verdadeiro: o ajuizamento da 
ação executiva não impede que o devedor exerça o direito constitucional de ação para ver declarada a nulidade 
do título ou a inexistência da obrigação, seja por meio de embargos (CPC, art. 736), seja por outra ação 
declaratória ou desconstitutiva. Nada impede, outrossim, que o devedor se antecipe à execução e promova, 
em caráter preventivo, pedido de nulidade do título ou a declaração de inexistência da relação obrigacional.2. 
Ações dessa espécie têm natureza idêntica à dos embargos do devedor, e quando os antecedem, podem 
até substituir tais embargos, já que repetir seus fundamentos e causa de pedir importaria litispendência.3. 
Assim como os embargos,a ação anulatória ou desconstitutiva do título executivo representa forma de 
oposição do devedor aos atos de execução, razão pela qual quebraria a lógica do sistema dar-lhes curso 
perante juízos diferentes, comprometendo a unidade natural que existe entre pedido e defesa. 4. É certo, 
portanto, que entre ação de execução e outra ação que se oponha ou possa comprometer os atos executivos, 
há evidente laço de conexão (CPC, art. 103), a determinar, em nome da segurança jurídica e da economia 
processual, a reunião dos processos, prorrogando-se a competência do juiz que despachou em primeiro lugar 
(CPC, art. 106). Cumpre a ele, se for o caso, dar à ação declaratória ou anulatória anterior o tratamento 
que daria à ação de embargos com idêntica causa de pedir e pedido, inclusive, se garantido o juízo, com a 
suspensão da execução” (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência nº 38.045-MA, 
Primeira Seção. Relator. Min. Teori Albino Zavascki. Brasília: 12 de novembro de 2003. Diário de Justiça: 
9 dez. 2003, p. 202). Existia entendimento em sentido contrário, porém, era minoritário. Apenas a título 
exemplificativo, confira-se: “- Não há que se falar em conexão entre processo de conhecimento e processo 
de execução. Aquele depende de conhecimento de mérito, este não. - Apesar das ações serem fundadas em 
um mesmo contrato celebrado entre as partes, não existe risco de decisões conflitantes. - Enuncia o artigo 
585, §1°, do CPC: ‘a propositura de qualquer ação relativa ao débito constante do título executivo não 
inibe o credor de promover-lhe a execução’” (MINAS GERAIS (Estado). Tribunal de Justiça do Estado. 
Agravo de Instrumento nº 1.0210.11.004862-1/002, Décima Sexta Câmara Cível. Relator: Des. Batista 
de Abreu. Belo Horizonte, 13 de novembro de 2014. Diário de Justiça: 24 nov. 2014). 
119
Existem, destarte, duas situações distintas e objetivas de conexão. Na 
primeira, basta que exista uma execução de título executivo extrajudicial e uma 
ação de conhecimento visando invalidar, modificar ou desconstituir o referido 
título.14 Na segunda, é preciso que haja mais de um procedimento executivo 
fundado no mesmo título executivo, v.g., sendo um para pagamento de quantia 
certo e o outro para obrigação de fazer.15
Observe-se, no entanto, que o legislador afirmou que, nos dois casos do § 
2º do art. 55, há conexão. Em outras palavras, não foi dito, pelo novo CPC, que 
nas hipóteses do referido § 2º deveria sempre ocorrer o apensamento das ações. 
Conforme já explanado anteriormente, a reunião de ações conexas é um efeito 
da conexão, contudo, que só deve ocorrer se existir o risco, por menor que seja, 
de serem proferidas decisões contraditórias. Desse modo, podemos concluir que 
o disposto no § 2º do art. 55 está sujeito ao crivo do regramento previsto no § 
3º do art. 55, ou seja, somente diante da ameaça de serem prolatados pronun-
ciamentos judiciais conflitantes é que se justificará a reunião das ações conexas.16
3.3.3 RISCO DE DECISÕES CONTRADITÓRIAS
A grande justificativa para se apensar ações conexas é a de se evitar a 
ocorrência de decisões contraditórias. A contradição que interessa nesse ponto é 
aquela que impossibilita a efetivação de uma das decisões judiciais.17 Pense-se, por 
exemplo, em uma ação de invalidação de deliberação tomada em uma assembleia 
de uma sociedade anônima, sociedade limitada ou mesmo de um condomínio 
edilício. Se existirem duas ações contra a mesma parte, com a mesma causa de 
pedir ou objeto, e uma for acolhida e a outra não, certamente instaurar-se-á 
um verdadeiro caos, uma vez que, para um juízo, a deliberação será inválida, 
enquanto que, para o outro, será válida.
Apenas para trazer um exemplo que denota a inexistência de decisões 
contraditórias, não nos parece que seria preciso reunir ações de compensação 
14 Nesse sentido: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. CC nº 38.045-MA.
15 Nesse sentido: MINAS GERAIS (Estado). Tribunal de Justiça do Estado. Agravo de Instrumento nº 
1.0687.14.000222-5/001, Sétima Câmara Cível. Rel. Des. Peixoto Henriques. Belo Horizonte, 26 de 
maio de 2015. Diário de Justiça: 1º jun. 2015.
16 Nesse sentido: THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 232-233. 
17 Apenas por curiosidade, recentemente o STJ foi provocado, por meio de Petição, a atribuir efeito suspensivo 
a recurso especial interposto e já admitido, mas que ainda não tinha chegado a essa Corte. A base legal foi o 
art. 1.029, § 5º, I, do novo CPC. O objeto do recurso especial é, justamente, a existência de duas decisões 
judiciais contraditórias. Seguem os dados da decisão monocrática: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 
Pet. nº 11.399-SP, Quarta Turma. Relator: Min. Marco Buzzi. Brasília, 14 de abril de 2016. Diário de 
Justiça: 19 abr. 2016.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
120
por danos morais oriundas do mesmo atraso de voo. A causa de pedir é, sem 
dúvida, a mesma, no entanto, pouco importa, para o Direito, se João terá êxito 
na sua lide, e Maria, por outro lado, não, por entender o juiz que o dito atraso 
não é ato ilícito, mas, sim, mero aborrecimento. É claro que é desagradável tal 
situação, especialmente se as partes se conhecem, contudo, essa diferença de 
resultados nos dois processos, um com resultado de procedência e o outro com 
decisão de improcedência, com lastro na mesma causa de pedir, não pode ser 
vista, para os fins almejados e pensados para o § 3º do art. 55 do novo CPC, 
como decisões logicamente conflitantes. As decisões logicamente contraditórias 
são aquelas inconvivíveis dentro do mesmo ordenamento.
Sabendo dessa particularidade, disse o legislador no § 3º do art. 55 do 
novo CPC que: “[...] serão reunidos para julgamento conjunto os processos que 
possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso 
decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles”.
Conforme bem ponderou Guilherme Rizzo Amaral, 
[...] é fundamental ressaltar que tal conflito ou contradi-
ção não diz respeito a conflito de tese. É dizer: demandas 
com o mesmo fundamento, propostas em juízos distintos, 
poderão ter decisões discrepantes. O que interessa, aqui, 
é que as decisões sejam contraditórias entre si com rela-
ção ao mesmo objeto, tornando-se inviável a efetivação 
(cumprimento ou execução) de ambas simultaneamente.18
Alexandre Freitas Câmara reforça esse posicionamento no sentido de que, 
para haver o apensamento de ações conexas, é preciso que haja a identidade 
quanto ao objeto, e, não, em relação à causa de pedir.19
Nessa mesma esteira é o escólio de Cândido Rangel Dinamarco: “[...] essa 
utilidade está presente sempre que as providências a tomar sejam aptas a pro-
porcionar a harmonia de julgados ou a convicção única do julgador em relação 
a duas ou mais demandas”.20
Portanto, sempre que existir o risco de existirem pronunciamentos ju-
diciais logicamente contraditórios, será necessária a determinação para que as 
ações conexas (e mesmo as que não sejam, conforme se extrai da parte final do 
§ 3º do art. 55) sejam reunidas perante o juízo prevento.
18 AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC. São Paulo: RT, 2015, p. 113.
19 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2015, p. 53.
20 DINAMARCO, op. cit., p. 151.
121
3.3.4 REUNIÃO DE AÇÕES EM QUE NÃO HÁ CONEXÃO
Uma vez mais reputamos necessário transcrever o § 3º do art. 55 do novo 
CPC: “[...] serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam 
gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos 
separadamente, mesmo sem conexão entre eles”. 
O que nos interessa, nesse exato momento, é a parte final do dispositivo, 
qual seja: “mesmo sem conexão entre eles”. Conforme já informamos no item 
anterior, esse § 3º, como um todo, inexistia no CPC/1973, contudo, a sua pri-meira parte já era aceita por toda a doutrina. Já essa parte final tem sido objeto 
de alguns debates e incompreensões. Como e por que reunir duas ações que não 
sejam conexas? Já que não se sabe quem foi o criador do dispositivo, tentaremos 
apresentar algumas possíveis explicações para tanto. O que se pode afirmar, to-
davia, é que o legislador quis criar uma flexibilidade maior para o ordenamento 
processual em se tratando de reunião de ações.
A primeira explicação seria a possibilidade de se reunir ações com base 
apenas na similitude entre as causas de pedir remotas ou somente entre as causas 
de pedir próximas. Para o profissional do direito que não acompanha de perto 
a evolução doutrinária e jurisprudencial do direito processual civil, e que ainda 
acha que, para que houvesse conexão, seria preciso identidade entre causas de 
pedir como um todo, ou seja, no seu aspecto próximo e remoto, esse § 3º ser-
viria para mostrar que a reunião de processos seria possível apenas com base na 
identidade parcial entre causas de pedir. A doutrina e a jurisprudência, citadas 
no item 3.2, demonstram isso.
A segunda explicação seria a possibilidade de se reunir ações com base na 
prejudicialidade de uma em relação à outra. A prejudicialidade externa sempre 
foi vista no CPC/1973 (art. 265, IV, a) como uma possível causa de suspensão 
da causa prejudicada em relação à outra. Talvez o legislador quis abarcar essa 
possibilidade dentro do novo regramento aberto disposto no § 3º. Essa explica-
ção, porém, não é muito convincente, uma vez que, dificilmente, existirá uma 
relação de prejudicialidade entre duas ações sem que, pelo menos, uma das causas 
de pedir fosse similar uma à outra. De todo modo, queremos afirmar que, no 
nosso sentir, é possível a reunião de duas ações, que não possam ser consideradas 
conexas entre si, mas que exista relação de prejudicialidade entre ambas, desde 
que haja o risco de prolação de decisões logicamente contraditórias. 
A terceira explicação seria a possibilidade de se reunir ações cuja relação 
jurídica seja a mesma. Exemplos disso seriam a reunião: (i) de ação de investigação 
de paternidade e ação de alimentos proposta pelo menor em face do suposto 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
122
pai; (ii) de ação de despejo e ação de consignação em pagamento, oriundas do 
mesmo contrato. Concordamos que exista a necessidade de se reunir as ações nos 
dois exemplos, porém, em ambos, seria possível reuni-las com base na existência 
de causa de pedir comum. Como em ambos os exemplos consideramos que a 
causa de pedir remota seja a mesma,21 vê-se que estamos, uma vez mais, diante 
de uma explicação não convincente. Uma vez mais, se se entender que nos dois 
exemplos acima, bem como em outros que possam vir a surgir, inexista conexão 
ou mesmo prejudicialidade externa, ainda assim será possível a reunião das ações, 
desde que haja o risco de prolação de decisões logicamente conflitantes.
Cássio Scarpinella Bueno escreveu o seguinte sobre a parte final do § 
3º do art. 55: “[...] o dispositivo certamente terá, dentre tantas outras, intensa 
aplicação aos casos que têm como ponto de partida uma mesma lesão ou ame-
aça a direito envolvendo diversos interessados e que, não obstante, precisam ser 
homogeneamente resolvidos”.22 O doutrinador está correto e por isso reiteramos 
que é prudente deixar uma regra mais aberta para a resolução de circunstâncias 
excepcionais.23
Concluímos nossos comentários sobre essa parte final do § 3º do art. 55 
transcrevendo os ensinamentos de Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade 
Nery: 
[...] fica realmente difícil imaginar a existência de interesse 
em julgamento conjunto se não existe pelo menos um 
dos pressupostos apresentados no coment. 2 acima. Pro-
vavelmente o legislador do atual CPC incorreu em erro ao 
considerar a antiga definição de conexão do CPC/1973, 
que, como visto acima, disse menos do que queria. Na 
prática, acaba ocorrendo conexão.24
21 É possível sustentar o contrário, especialmente no primeiro exemplo.
22 BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 115.
23 Isso, nada mais é, daquilo que a doutrina costumava denominar de afinidade. Nesse sentido, confira-se: “[...] 
a afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito é uma relação tênue de semelhança 
entre duas ou mais demandas. É uma conexidade degradada, de intensidade menor, caracterizada por uma 
causa petendi parcialmente igual, mas que não chega ao ponto de ser a mesma. Basta que lhes seja comum 
o fundamento na mesma disposição de lei ou a alegação de um fato-base do qual hajam decorrido crédito 
ou prejuízos para mais de uma pessoa. Exemplo típico é o caráter lesivo de um medicamento, que pode 
ser alegado por um grande número de consumidores...” (DINAMARCO, op. cit., p. 151). No entanto, 
quando escreveu sobre isso à luz do CPC/1973, o mesmo autor disse que “[...] a mera afinidade não é 
fator de prorrogação da competência, nem de admissibilidade da reconvenção, nem da reunião de causas 
propostas separadamente” (Ibid., p. 152).
24 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil. 
São Paulo: RT, 2015, p. 340. Apenas para elucidar o leitor, no denominado coment. 2 referido na citação, 
os dois doutrinadores estão discorrendo sobre os requisitos da conexão, quais seja, causa de pedir ou objeto. 
Nesse mesmo sentido, entendendo ser, de certa forma, desnecessária essa expressão final do § 3º do art. 55. 
123
3.3.5 OBRIGATORIEDADE DO JUIZ?
A jurisprudência que se formou ao longo da vigência do CPC/1973 foi 
no sentido de que o apensamento de ações conexas seria faculdade do juiz, e, 
não, obrigação.25 Para tanto, partiu-se da premissa de que, para a reunião de 
ações conexas, seria preciso, antes, verificar se nelas existia o risco de prolação de 
decisões conflitantes. O entendimento adotado foi o de que isso seria um juízo de 
discricionariedade do magistrado, logo, seria uma faculdade a reunião dos feitos. 
De fato, não há como negar a exatidão desse posicionamento, uma vez 
que o juiz deverá estar ou ser convencido do risco ou, pelo menos, do potencial 
risco de se ter, nas ações conexas, decisões contraditórias, o que causaria um 
imbróglio jurídico, na medida em que geraria a dúvida, nas partes e no próprio 
Poder Judiciário, sobre qual das decisões deve prevalecer. 
No novo CPC não há resposta para esse problema, tendo em vista que 
os §§ 1º a 3º do art. 55 não trouxeram maiores informações ou determinações 
acerca da matéria. A única observação que deve ser tecida, nesse instante, é a de 
que o juiz tem o dever de determinar a reunião de ações conexas sempre que 
acreditar que haja o risco, por menor que seja, de prolação de decisões logica-
mente conflitantes.
Dito isso, cumpre mencionar que, no magistério de Leonardo Greco,26 
Disse o autor: “a pergunta é: por que será que existe risco de sobrevirem decisões incompatíveis entre duas 
ou mais demandas não afins, idênticas ou relacionadas por continência? A resposta, simples, é a existência 
de algum tipo de conexidade (por identidade ou por oposição) entre elas. A circunstância de esses tipos de 
vínculos lógico-conectivos não virem ‘batizados’ pelo Código altera em nada a realidade das coisas, não, 
ao menos, no altiplano dos conceitos lógico-jurídicos” (OLIVEIRA, Bruno Silveira de. Comentários ao 
art. 55 do CPC/2015. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. (coord.). Breves comentários ao novo 
Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015, p. 224-225).
25 Nesse sentido: “2. Segundo a jurisprudência desta Corte, a reunião dos processos por conexão configura 
faculdade atribuída ao julgador, sendo que o art. 105 do Código de Processo Civil concede ao magistrado 
certa margem de discricionariedade para avaliar a intensidadeda conexão e o grau de risco da ocorrência 
de decisões contraditórias. 3. Justamente por traduzir faculdade do julgador, a decisão que reconhece a 
conexão não impõe ao magistrado a obrigatoriedade de julgamento conjunto. 4. A avaliação da conveniência 
do julgamento simultâneo será feita caso a caso, à luz da matéria controvertida nas ações conexas, sempre 
em atenção aos objetivos almejados pela norma de regência (evitar decisões conflitantes e privilegiar a 
economia processual). 5. Assim, ainda que visualizada, em um primeiro momento, hipótese de conexão 
entre as ações com a reunião dos feitos para decisão conjunta, sua posterior apreciação em separado não 
induz, automaticamente, à ocorrência de nulidade da decisão” (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, 
Recurso Especial nº 1.255.498-CE, Terceira Turma. Relator: Min. Ricardo Villas Bôas Cueva. Brasília, 19 
de junho de 2012. Diário de Justiça: 29 ago. 2012). Confiram-se, ainda: RTJ 104/700, RT 569/216, RT 
493/137, RT 499/222 e RT 600/194.
26 Cf. “Apesar de toda a ênfase que o Código de 2015 confere à conveniência de uniformidade nas decisões 
judiciais e à sua coerência, o que se exterioriza nos diversos mecanismos que prestigia ou institui para a 
consolidação da jurisprudência, é inevitável que a decisão sobre a reunião de ações conexas fique sempre 
submetida a um preponderante juízo de utilidade, ou seja, de conveniência e oportunidade, com caráter 
preponderantemente discricionário. Por outro lado, nenhuma sinalização suficientemente enfática dessa 
suposta obrigatoriedade se encontra no Código de 2015 quando trata dos pressupostos de validade do 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
124
seria lícito ao magistrado deixar de ordenar o apensamento das ações conexas, 
mesmo diante das expressas hipóteses do § 2º do art. 55, se acreditar que a 
efetividade do processo restará comprometida. 
A ponderação do doutrinador, em princípio, está totalmente em desa-
cordo com o disposto no § 1º do art. 55, pois, o que se permite extrair, desse 
regramento, é que as ações conexas somente poderão deixar de ser apensadas se 
uma delas já tiver sido sentenciada. No entanto, é possível que as partes de um 
mesmo polo da relação processual, nas hipóteses de litisconsórcio facultativo 
unitário, de comum acordo, possam pretender se valer do processo para querer 
atrapalhar ou prejudicar a outra parte. Basta pensar numa deliberação tomada 
em assembleia geral de um condomínio edilício de uma grande cidade em que 
os condôminos vencidos, aos poucos, ingressem em juízo, separadamente, claro, 
para questionar a validade da deliberação. Com amparo nos §§ 1º e 3º do art. 
55, todas as ações deverão ser apensadas e julgadas conjuntamente, porém, como 
a cada instante surge uma nova ação judicial, é possível que se demore muitos 
anos até o dia em que as sentenças, finalmente, serão prolatadas. Isso, além de 
poder prejudicar seriamente a vida do condomínio, não está em consonância 
com o inciso LXXVIII do art. 5º da CF/88 e com o art. 4º do novo CPC.
De lege ferenda, a solução para se conter casos como esse narrado no pará-
grafo anterior, que podem ou não decorrer de abuso de direito das partes, seria 
a de se alterar a nossa legislação, no sentido de se criar um prazo decadencial 
bastante enxuto para lides dessa natureza, bem como criar regras mais rígidas 
de legitimidade ativa, de competência absoluta, de conexão e de coisa julgada, e 
que poderiam valer tanto para o direito societário quanto para os condomínios 
edilícios. Já tivemos a oportunidade de discorrer com detalhes sobre isso, inclusive 
mostrando como é disciplinado na Alemanha, na Itália e em Portugal.27 Vale 
a pena, portanto, refletir sobre uma mudança no nosso ordenamento jurídico 
nessa seara.
3.3.6 JUÍZO RESPONSÁVEL PELA REUNIÃO DOS PROCESSOS
No CPC/1973 existia regra expressa determinando que as ações conexas 
que estivessem tramitando em juízos diferentes deveriam ser reunidas perante 
processo ou do tema das invalidades processuais. Isso significa que, mesmo em hipóteses em que o legislador 
é expresso, como as do § 2º do artigo 55, em recomendar a reunião de ações no mesmo processo, há um 
largo espaço para deixar de aplicar tal recomendação, tendo em vista inúmeros fatores, como o estágio 
em que se encontre um ou outro processo, a maior necessidade ou utilidade de associar a solução de um 
a do outro, a excessiva morosidade ou onerosidade que poderão decorrer dessa reunião. Não se pode 
esquecer, ademais, que a reunião de ações conexas implicará cumulação de ações no mesmo processo, cujos 
pressupostos, de que trataremos mais adiante no item 8.7, poderão impedir, sob pena de nulidade, essa 
reunião” (GRECO, op. cit., item 7.3).
27 Cf. BERALDO, op. cit., p. 395-397.
125
o juízo prevento. Esse dispositivo, entretanto, não foi repetido pelo novo CPC. 
Apesar dessa supressão legislativa, consideramos que o seu espírito permanece 
vivo dentro do Código. Nesse caso, nos casos de conexão, continência e nas 
ações que tenham risco de ter decisões conflitantes, dever-se-á reuni-las, se for 
o caso, perante o juízo prevento, ex vi do disposto no art. 58 do novo CPC.28
3.4 MOMENTO OPORTUNO PARA SE REQUERER A REUNIÃO 
DE AÇÕES E SUAS CONSEQUÊNCIAS
A conexão tem natureza de matéria de ordem pública, logo, pode ser ar-
guida a qualquer tempo e grau de jurisdição,29 por todos os sujeitos do processo, 
inclusive ex officio pelo magistrado. No entanto, o momento mais oportuno para 
se apresentar essa defesa processual dilatória é em preliminar na contestação (art. 
337, VIII, do novo CPC).
Como no novo CPC a apresentação da contestação ficou postergada, 
como regra geral, para depois da audiência de conciliação ou de mediação do 
art. 334, nada impede que a parte interessada em imprimir maior celeridade às 
ações conexas peticione, tão logo tenha conhecimento do fato, e peça ao juiz 
que apense as ações conexas (se estiverem no mesmo juízo) ou, então, decline de 
sua competência para o juízo prevento onde já tramita uma das ações conexas 
(se estiverem em varas distintas).
É oportuno registrar que o pedido de reunião de ações que não sejam 
conexas entre si, mas que contenham o risco de produzir decisões contraditórias, 
conforme disposição do § 3º do art. 55 do novo CPC, pode se dar a qualquer 
momento. É verdade que o novo CPC não trouxe qualquer tipo de regra sobre 
isso, porém, defendemos essa tese aplicando-se, analogicamente, as disposições 
sobre conexão.
A base legal para o conhecimento da alegação de reunião de feitos em razão 
da não observância do § 3º do art. 55, a qualquer tempo e grau de jurisdição, 
28 Nesse sentido: WAMBIER; TALAMINI, op. cit., p. 163.
29 O entendimento quase unânime é no sentido de que não se pode arguir tais vícios, em sede de recursos 
especial ou extraordinário, se não tiver havido o devido prequestionamento. Isso porque, tanto o STJ quanto 
o STF, não podem ser vistos como tribunais de terceira instância. A função de ambos, em linhas gerais, 
é zelar pela correta aplicação da lei federal e da CF/88. Desse modo, não se pode alegar algum vício no 
processo sem que a matéria tenha sido previamente debatida. Em suma, o efeito translativo não se aplica 
às cortes superiores, salvo se o respectivo recurso tiver sido admitido pelo tribunal superior em questão. 
Nessa hipótese, o efeito devolutivo engloba as questões de ordem pública. Nesse sentido: BRASIL. Superior 
Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 869.534-SP, Primeira Turma. Relator: Min. Teori Albino Zavascki. 
Brasília, 27 de novembro de 2007. Diário de Justiça: 10 dez. 2007, p. 306; BRASIL. Superior Tribunal 
de Justiça. Recurso Especial nº 789.062/MG, Segunda Turma. Relator: Min. Castro Meira. Brasília, 28 
de novembro de 2006. Diário de Justiça: 11 dez. 2006, p. 343.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao ProfessorRaimundo Cândido Júnior
126
está no § 3º do art. 485 do novo CPC.30 No nosso sentir, esse assunto deve ser 
enquadrado dentro do inciso IV do art. 485, isto é: “[...] verificar a ausência de 
pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo”. 
Assim, sempre que o § 3º do art. 55 for violado ou estiver correndo algum risco 
iminente de assim o ser, é porque há algum problema de competência do juízo, 
devendo, pois, ser corrigido.31
Com efeito, também faz-se mister salientar que o não apensamento de 
ações, conexas ou não, e que apresentem risco iminente de produzir decisões 
conflitantes, por si só, não pode gerar invalidades no processo. Como diz o jargão 
jurídico, “não há nulidade sem prejuízo”. Por conseguinte, a parte interessada 
em arguir o erro ao não se deferir o pedido de reunião de ações, bem como pelo 
não apensamento por omissão das partes ou do juiz (sem pedido expresso), com 
esteio no § 3º do art. 55, deverá demonstrar o seu efetivo ou iminente prejuízo, 
sob pena de não lograr êxito nesse pleito. 
O STJ, aliás, já teve a oportunidade de julgar o tema e assim decidiu: 
“assim, ainda que visualizada, em um primeiro momento, hipótese de conexão 
entre as ações com a reunião dos feitos para decisão conjunta, sua posterior 
apreciação em separado não induz, automaticamente, à ocorrência de nulidade 
da decisão. O sistema das nulidades processuais é informado pela máxima pas de 
nullité sans grief, segundo a qual não se decreta nulidade sem prejuízo, aplicável 
inclusive aos casos em que processos conexos são julgados separadamente”.32
4 RECURSO CABÍVEL
O sistema recursal ordinário no novo CPC ficou delineado da seguinte 
maneira: (i) apelação contra sentença (art. 1.009); (ii) agravo de instrumento 
contra as decisões interlocutórias elencadas no rol taxativo do art. 1.015, caput 
e parágrafo único; (iii) preliminar na apelação ou nas contrarrazões contra as 
interlocutórias não sujeitas a agravo de instrumento (§ 1º do art. 1.009); (iv) 
embargos de declaração contra qualquer decisão judicial (art. 1.022); e, (v) agravo 
interno contra as decisões monocráticas do relator em TJ ou TRF.
Quando a parte estiver diante de uma decisão interlocutória que não seja 
agravável, terá quatro alternativas: (i) opor embargos de declaração, caso haja 
30 Cf. § 3º do art. 485. “O juiz conhecerá de ofício da matéria constante dos incisos IV, V, VI e IX, em 
qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado”.
31 Nesse sentido: NEVES, op. cit., item 4.7.2.1.4.
32 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.366.921-PR, Terceira Turma. Relator: Min. 
Ricardo Villas Bôas Cueva. Brasília, 24 de fevereiro de 2015. Diário de Justiça: 13 mar. 2015.
127
omissão, obscuridade, contradição ou erro material; (ii) apresentar pedido de 
reconsideração, se os aclaratórios não forem cabíveis; (iii) impetrar mandado de 
segurança, caso a decisão seja ilegal e exista direito líquido e certo;33 e, (iv) ques-
tionar a validade ou o mérito da dita decisão, na apelação ou nas contrarrazões, 
se não existir urgência e for possível esperar a sentença.
Em relação ao rol exaustivo do art. 1.015, é uma pena que ali não conste, 
como hipótese de cabimento de agravo de instrumento, as decisões do juiz de 
primeira instância que versarem sobre competência. Além de ser mais eficaz 
para o processo a imediata resolução de questões desse jaez, certamente não im-
pactariam, de forma negativa, o volume do número de processos nos tribunais. 
Antes de adentrarmos na parte recursal, cumpre salientar que, nos termos 
do § 3º do art. 64 do novo CPC, “caso a alegação de incompetência seja acolhida, 
os autos serão remetidos ao juízo competente”. E, segundo o parágrafo único do 
art. 66 do novo CPC, “o juiz que não acolher a competência declinada deverá 
suscitar o conflito, salvo se a atribuir a outro juízo”. Apesar de não ser recurso, 
as decisões judiciais em matéria de competência podem, em alguns casos, serem 
objeto de conflito de competência, que é um procedimento, já do conhecimento 
de todos os que trabalham com o direito processual civil, e que será julgado pelo 
tribunal competente. Suas hipóteses de cabimento estão previstas no art. 66 e 
o seu procedimento está regulamentado pelos arts. 951 a 959 do novo CPC.
Assim, não caberá agravo de instrumento contra as decisões interlocu-
tórias que acolherem ou rejeitarem pedidos de reunião de feitos por conexão, 
continência e prevenção. Também não será viável tal recurso se o juiz rejeitar 
preliminar na contestação de incompetência absoluta ou relativa. 
Sobre a preliminar de existência de convenção de arbitragem, se for rejei-
tada caberá o agravo de instrumento (art. 1.015, III); se for acolhida, o processo 
será extinto por sentença (art. 485, VII), logo, desafiará apelação. É possível, 
todavia, que o juiz rejeite em parte a preliminar de convenção de arbitragem, 
caso, por exemplo, entenda que apenas parte da lide judicial esteja acobertada pela 
convenção arbitral.34 Nessa hipótese, entendemos ser admissível a interposição 
de agravo de instrumento com fulcro no inciso III do art. 1.015.
33 Nesse sentido: “A irrecorribilidade, in casu, traz como consequência a possibilidade do mandado de segurança 
se a parte se sentir violada pela decisão do relator, sempre que se puder nela divisar ilegalidade ou abuso 
de poder” (THEODORO JÚNIOR, Humberto. As novas reformas do Código de Processo Civil. Rio 
de Janeiro: Forense, 2006, p. 84).
34 Isso decorre de as partes poderem estabelecer, por meio de cláusula compromissória ou de compromisso 
arbitral, que apenas parte do contrato (indicando qual é) está sujeito à resolução por meio de arbitragem.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
128
REFERÊNCIAS 
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Processo Civil: novo CPC (Lei 13.105/2015). Belo Horizonte: Del Rey, 2015.
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9.307/96. São Paulo: Atlas, 2014.
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ed. São Paulo: Malheiros, 2005. v. 2.
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LOPES, João Batista. A conexão e os arts. 103 e 105 do CPC. Revista dos 
Tribunais, São Paulo, v. 707, set./1994.
MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa. A conexão de causas no processo civil. 
Revista de Processo, São Paulo, n. 109, jan./mar.2003.
129
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao 
Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015.
NEVES, Celso. Notas a propósito da conexão de causas. Revista de Processo, 
São Paulo, n. 36, out./dez. 1984.
NEVES, Daniel Assumpção. Manual de direito processual civil, 7. ed. São 
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OLIVEIRA, Bruno Silveira de. Comentários ao art. 55 do CPC/2015. In: 
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. (coord.). Breves comentários ao novo 
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OLIVEIRA, Bruno Silveira de. Conexidade e efetividade processual. São 
Paulo: RT, 2007.
OLIVEIRA NETO, Olavo de. Conexão por prejudicialidade. SãoPaulo: RT, 
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THEODORO JÚNIOR, Humberto. As novas reformas do Código de 
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________. Curso de direito processual civil, 56. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2015. v. 1.
VILHENA, Paulo Emílio de Andrade. Conexidade pela “causa excipiendi” e 
individuação da causa. Revista dos Tribunais. São Paulo, v. 395, set./1968.
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de 
processo civil,16. ed. São Paulo: RT, 2016. v. 1.
131
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS E O NOVO CPC: 
valorização da advocacia
Luis Cláudio da Silva Chaves*
SUMÁRIO: 1 Introdução. 2 Teoria geral dos honorários advocatícios. 
3 Valorização dos honorários de sucumbência no novo CPC. 4 Considerações 
finais. 
1 INTRODUÇÃO
Muito se tem dito que o novo Código de Processo Civil – CPC (Lei n. 
13.105, de 16 de março de 2015) é um marco histórico das conquistas da ad-
vocacia brasileira. Primeiro diploma civil-processual sancionado em um regime 
democrático no País, traz uma concepção democratizante acerca dos processos 
judiciais, das partes e dos sujeitos que atuam no processo, através de princípios 
que buscam reduzir a litigiosidade, efetivar a celeridade processual, desburo-
cratizar os procedimentos, e, sobretudo, garantir os direitos fundamentais de 
todos os cidadãos envolvidos na prestação jurisdicional. Quanto à advocacia, 
em seu favor revertem valiosas aquisições. Dentre as mais relevantes, podemos 
destacar as disposições normativas sobre os honorários sucumbenciais, inovação 
paradigmática do novo Código. 
Essa matéria era tratada, pelo Código de 1973, de maneira escassa, flagran-
temente insuficiente. Agora, a novel legislação cuidou de dispensar-lhe tratamento 
minucioso e exaustivo, ao resolver várias controvérsias que afloraram nas mais 
de quatro décadas de vigência do CPC/73, muitas sequer solucionadas pelos 
tribunais. É reconhecida uma clara intenção do legislador de tutelar a dignidade 
dos honorários, proscrevendo seu aviltamento – intenção que cumula, afinal, na 
tutela da dignidade dos próprios advogados e do sistema de Justiça, haja vista 
a indispensabilidade da advocacia para o Estado democrático de direito, nos 
termos do art. 133 da Constituição.
* Advogado. Vice-Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Professor da Escola 
Superior Dom Helder Câmara. Mestre em Direito. Doutorando em Direito na Universidade Autônoma 
de Lisboa.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
132
2 TEORIA GERAL DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Honorários é o nome dado à retribuição pecuniária fixada amigavelmente 
como contraprestação pelos serviços prestados no exercício de certas profissões 
liberais. Sua origem histórica e etimológica está ligada à ideia de honra. Os 
romanos acreditavam que a retribuição do cliente ao seu patrono era uma hon-
raria, e não propriamente pecúnia: “A designação de ‘honorários’ significa não só 
(etimologicamente e historicamente) que se trata de pagamento de uma dívida 
de honra (...), mas também que a dignidade da profissão não se compadece com 
o pagamento do vulgar ‘salário’” (ARNAUT apud MEDINA, 2016, p. 129).
A advocacia ostenta especial dignidade no ordenamento jurídico de to-
das as nações comprometidas com a Justiça. A Constituição Federal do Brasil 
reconhece expressamente que o advogado, em seu exercício profissional, presta 
serviço público e exerce função social (ver art. 133 da CF, e também art. 2º, 
§1º, da Lei 8.906/94 – Estatuto da Advocacia e da OAB – EAOAB). Seguindo 
uma tradição de séculos, o direito brasileiro prescreve que o advogado perceberá 
honorários, remuneração ajustada pela prestação do serviço que foi contratado, 
assegurando-lhe a possibilidade de cobrá-los do cliente, caso este descumpra a 
obrigação de contrapartida. Eles deverão ser compatíveis “com o trabalho e o 
valor econômico da questão, não podendo ser inferiores aos estabelecidos pelo 
Conselho Seccional da OAB” (art. 22, §2º do EAOAB), e devem exprimir o com-
promisso da advocacia de mostrar-se incompatível com “qualquer procedimento 
de mercantilização” (art. 5º do Código de Ética e Disciplina da OAB – CED). 
Desdobram-se basicamente em três tipos: i) os honorários contratuais ou 
convencionais, ii) os honorários sucumbenciais e iii) os honorários fixados por 
arbitramento judicial. Todos, embora tenham origem de estipulação distinta, têm 
por ponto comum o objetivo de remunerar os serviços prestados pelo advogado 
(ver art. 22 do EAOAB: “A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos 
na OAB o direito aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento 
judicial e aos de sucumbência”).
i) Os honorários contratuais ou convencionais são aqueles combinados 
entre o profissional e o cliente, mediante contrato via de regra escrito e assi-
nado pelas duas partes. Na condição de produto de acordo mútuo, podem ser 
estipuladas diversas formas de cobrança, tais como um valor acertado no início 
do processo (a ser pago em prestação única ou em mensalidades); um valor no 
final do processo, geralmente um percentual sobre o êxito do cliente ou uma 
combinação das formas anteriores (ver art. 22, § 3º do EAOAB).1
1 Art. 22, § 3º do EAOAB: “Salvo estipulação em contrário, um terço dos honorários é devido no início do 
serviço, outro terço até a decisão de primeira instância e o restante no final”.
133
ii) Os honorários sucumbenciais são praticáveis pela imposição de que, 
em um processo, a parte vencida deva pegar um valor ao advogado da parte 
vencedora. São fixados pelo juiz que presidiu o processo e, apesar de não serem 
tabelados, devem variar entre 10% e 20% sobre o valor da condenação (art. 85, 
§ 2º do novo CPC e art. 20, § 3º do antigo CPC). Conforme art. 85, § 1º do 
novo CPC, “são devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumpri-
mento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos 
recursos interpostos, cumulativamente”.
iii) Os honorários arbitrados judicialmente são praticados quando o ad-
vogado e o cliente não combinam previamente os honorários contratuais ou 
discordam após uma combinação verbal. Nessa situação, um juiz analisa o caso 
e fixa um valor que entende como correto, tendo em vista o valor do trabalho, o 
valor econômico da questão e os limites da tabela de honorários da OAB. Deve o 
advogado renunciar previamente ao mandato que recebera do cliente em débito, 
fazendo-se representar por um colega (art. 43 do CED). 
No que respeita aos honorários sucumbenciais – que são, precisamente, o 
escopo desta explanação – note-se que são independentes daqueles convencionais, 
de maneira que o profissional poderá receber ambos. Esse tipo de honorário tem 
como norte a aplicação associada dos equilaterais princípios da sucumbência e da 
causalidade. O princípio da sucumbência determina que “quem perdeu, paga”. 
Normalmente, constata-se que o sucumbente foi o responsável pela propositura 
da ação, foi quem criou um problema sem o qual a ação não teria existido, e, 
por essa razão, deve ser condenado a pagar os honorários do advogado da parte 
oposta, na proporção mesma em que deu causa à litigância. Aqui aparece o prin-
cípio complementar da causalidade, segundo o qual a verba honorária deverá ser 
paga por aquele que causou os motivos de propositura da ação.
No entanto, é possível, em contrário à regra, que a parte responsável pela 
existência da causa seja a parte vencedora, a qual, apesar de ter triunfado na 
demanda, motivou por atitude própria que o problema tenha surgido. Como 
exemplo, temos o caso de “perda de objeto processual”, em que o interesse pro-
cessual da parte se perde por ato praticado pela outra (ver art. 85, § 10: “Nos 
casos de perda do objeto, os honorários serão devidos por quem deucausa ao 
processo”). Nesses casos, será o vencedor (e não o sucumbente) quem pagará 
os honorários advocatícios, hipótese em que os princípios da sucumbência e 
da causalidade se dissociam, este prevalecendo sobre aquele. A esse respeito, a 
Corte Especial do STJ editou a Súmula 303: “em embargos de terceiro, quem 
deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios”. A 
lição é desenvolvida em arestos do mesmo tribunal:
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
134
Em se tratando de embargos de terceiro, deve o magistra-
do, na condenação dos ônus sucumbenciais, atentar para 
os princípios da sucumbência e da causalidade, pois há 
casos em que o embargante, embora vencedor na ação, 
é o responsável por seu ajuizamento, devendo sobre ele 
recair as despesas do processo e os honorários advocatícios 
(BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 
724.341-MG, Primeira Turma. Rel. Min. Denise Arruda. 
Brasília, 2 de outubro de 2007. Diário de Justiça: 12 nov. 
2007, p. 158).
[...]
Nos embargos de terceiro cujo pedido foi acolhido para 
desconstituir a constrição judicial, os honorários advocatí-
cios serão arbitrados com base no princípio da causalidade, 
responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se 
este não atualizou os dados cadastrais. Os encargos da su-
cumbência serão suportados pela parte embargada, porém, 
na hipótese em que esta, depois de tomar ciência da trans-
missão do bem, apresentar ou insistir na impugnação ou 
recurso para manter a penhora sobre o bem cujo domínio 
foi transferido para terceiro (BRASIL. Superior Tribunal de 
Justiça. Recurso Especial nº 1.452.840-SP, Primeira Seção. 
Relator: Min. Herman Benjamin. Brasília, 14 de setembro 
de 2016. Diário de Justiça: 5 out. 2016) (Info 591).
Modificações de primeira grandeza foram inseridas pelo novo CPC no 
assunto dos honorários advocatícios, consubstanciadas no art. 85 e seus incisos 
e parágrafos. No novo Código, os honorários deixaram de ser uma espécie do 
gênero “Despesas processuais” para integrar a seção “Das despesas, dos honorários 
advocatícios e das multas”, sendo reconhecida, afinal, sua autonomia enquanto 
remuneração pertencente ao patrimônio jurídico do advogado, em maior con-
sonância com o Estatuto da Advocacia.
Verificamos considerável incremento da previsão legal no que diz res-
peito às hipóteses de honorários, se usarmos o art. 20 do CPC de 1973 como 
parâmetro. Entre as novidades, está a previsão expressa de que os honorários são 
devidos também na hipótese de o advogado atuar em causa própria (art. 85, § 
17), a possibilidade de os honorários serem levantados em nome da sociedade de 
advogados (art. 85, § 15), a incidência a partir do trânsito em julgado dos juros 
de mora dos honorários fixados em quantia certa (art. 85, § 16), e o cabimento 
135
de ação autônoma nos casos em que a sentença tenha sido omissa quanto à 
condenação (art. 85, § 18).2
No que concerne às questões trazidas a lume pelo novo CPC, em maté-
ria de honorários sucumbenciais, há aquelas que positivaram entendimentos já 
cristalizados pelos tribunais à luz do CPC/73 e aquelas que de fato alteraram 
os entendimentos emanados pelo CPC/73 e por sua jurisprudência. Exemplos 
da primeira categoria são a repetição da regra da causalidade (art. 85, § 10) e a 
positivação da cobrança pela sociedade de advogados à qual pertence o patrono 
credor (art. 85, § 15), na linha do que já fora entendido pelo STJ (v.g. no AgRg 
no REsp 1002817/PR, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 
16/12/2008). Aqueles que consideramos os mais relevantes exemplos da segunda 
categoria serão expostos logo adiante.
3 VALORIZAÇÃO DOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA 
NO NOVO CPC
Feitos os apontamentos gerais sobre o instituto dos honorários advoca-
tícios, indicaremos sete ocasiões em que o novo diploma processual envidou 
esforços para a valorização da dignidade da advocacia, por meio de previsões 
normativas que disciplinam os honorários sucumbenciais com o intuito de lhes 
conferir a devida proeminência que possuem não só para a subsistência e o 
reconhecimento do trabalho dos advogados, como também para a regular ad-
ministração da Justiça em um Estado democrático de direito.
Ressaltaremos as seguintes previsões sobre os honorários: a) o reconhe-
cimento de sua natureza alimentar; b) o estabelecimento de critérios objetivos 
para sua fixação; c) disposições nos casos em que a Fazenda Pública figura como 
parte; d) a previsão da sucumbência recursal; e) a previsão de sua cobrança por 
meio de ação autônoma; f ) a vedação de compensação na sucumbência recíproca; 
e g) a consagração de sua extensão aos advogados públicos. Vejamos.
a) Para dar fim a qualquer equívoco, o novo CPC trouxe no art. 85, § 
14, a concepção basilar de que, qualquer que seja a sua natureza – quer se trate 
de honorários contratuais, quer se cuide de honorários sucumbenciais –, os 
honorários possuem natureza alimentar e constituem direito do advogado. Tal 
redação veio dirimir a polêmica de que os honorários em que a parte vencida ficou 
condenada pertenceriam à parte vencedora. In fine: “Os honorários constituem 
2 Ficou explicitamente revogada a Súmula n. 453 do STJ, que preconizava: “Os honorários sucumbenciais, 
quando omitidos em decisão transitada em julgado, não podem ser cobrados em execução ou em ação 
própria”. 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
136
direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos 
créditos oriundos da legislação do trabalho (...)”. 
A razão desse entendimento é um tanto óbvia. Trata-se, o honorário, do 
meio de subsistência e de provisão material dos advogados e de suas respectivas 
famílias; de parte fundamental de sua renda e de seu patrimônio, e, portanto, 
de componente indispensável para a dimensão existencial desses profissionais 
enquanto pessoas humanas. O recebimento de honorários adequados está ligado, 
no limite, à própria dignidade humana. Nas palavras de Bueno (2009, p. 3):
A sobrevivência é um dos direitos fundamentais da pessoa 
humana e para isso ela precisa de condições materiais bási-
cas para prover o seu próprio sustento. O meio adequado e 
normal de alcançar esse objetivo é o trabalho. Dentro desse 
contexto, por serem os honorários a forma, por excelência, 
de remuneração pelo trabalho desenvolvido pelo advogado, 
um trabalho humano que merece a tutela do ordenamento 
jurídico, [é] correta sua qualificação como verba de natu-
reza alimentar, eis que também vitais ao desenvolvimento 
e à manutenção (necessarium vitae) do profissional [...].
Essa concepção motivou a edição da Súmula Vinculante n. 47, do STF, 
publicada em junho de 2015, resultante de proposta da OAB: 
Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou 
destacados do montante principal devido ao credor con-
substanciam verba de natureza alimentar cuja satisfação 
ocorrerá com a expedição de precatório ou requisição de 
pequeno valor, observada ordem especial restrita aos cré-
ditos dessa natureza.
Entre as consequências significativas da natureza alimentar dos honorários, 
podemos salientar a impenhorabilidade; a possibilidade de penhora de verbas 
remuneratórias para pagamento de honorários; o crédito preferencial diante da 
Fazenda Pública (ver art. 100, § 1º da Constituição); a preferência sobre crédito 
hipotecário etc. 
b) Não há valor taxativo disponível relativamente aos honorários a serem 
exigidos, contanto que o valor firmado orbite dentro da tabela de fixação da OAB 
e dos percentuais de 10% a 20% estampados no § 2º do art. 85. Os seguintes 
137
aspectos devem ser levados em conta para o ajuste: complexidade do caso, es-
timativa da duração do processo, dedicação ao cliente (se é exclusiva ou não), 
tipo de cliente, relevânciae valor da causa. Ou, nos termos dos incisos do § 2º 
do art. 85 do novo CPC (repetição do art. 20, § 3º do CPC/73): o grau de zelo 
do profissional (inc. I), o lugar de prestação do serviço (inc. II), a natureza e a 
importância da causa (inc. III), e o trabalho realizado pelo advogado e o tempo 
exigido para o seu serviço (inc. IV). O CED, ao estipular que os honorários 
sejam fixados com moderação, requer o atendimento dos seguintes elementos 
(art. 49 e incisos): 
I - a relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade 
das questões versadas;
II - o trabalho e o tempo a ser empregados;
III - a possibilidade de ficar o advogado impedido de in-
tervir em outros casos, ou de se desavir com outros clientes 
ou terceiros;
IV - o valor da causa, a condição econômica do cliente 
e o proveito para este resultante do serviço profissional;
V - o caráter da intervenção, conforme se trate de serviço 
a cliente eventual, frequente ou constante;
VI - o lugar da prestação dos serviços, conforme se trate 
do domicílio do advogado ou de outro;
VII - a competência do profissional;
VIII - a praxe do foro sobre trabalhos análogos.
De acordo com a lição de Paulo Roberto Medina, ao comentar o disposi-
tivo supra, a moderação deve atender ao critério de que o valor nem amesquinhe 
nem superestime o trabalho realizado, de sorte a “guardar o indispensável equi-
líbrio entre o esforço despendido, a importância da tarefa cumprida, o tempo 
exigido para sua execução, a influência exercida para a obtenção do resultado 
almejado e o benefício que aproveite ao destinatário do serviço” (MEDINA, 2016, 
p. 248). Além disso, cabe destacar que os honorários não podem ser diminuídos 
em decorrência da solução do litígio por qualquer dos mecanismos adequados 
de solução extrajudicial de conflitos, por improcedência ou julgamento sem 
resolução do mérito (art. 48, § 5º do CED c/c art. 85, § 6º do novo CPC).3
c) A nova legislação processual extirpou o arbitramento de honorários 
com base no juízo de equidade, que estava previsto no art. 20, § 4º do CPC 
3 Art. 85, § 6º: “Os limites e critérios previstos nos §§ 2o e 3o aplicam-se independentemente de qual seja o 
conteúdo da decisão, inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução de mérito”.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
138
/73: “Nas ações de valor inestimável ou pequeno, bem como naquelas em que 
for vencida a Fazenda Pública, os honorários serão fixados consoante apreciação 
equitativa do juiz (...)”. Esse parágrafo autorizava o juiz a fixar verba honorária 
sem levar em conta os parâmetros indicados pelo §3º do mesmo artigo. O novo 
Código diminuiu drasticamente o espaço de discricionariedade – e, por vezes, 
arbitrariedade – do magistrado para fixar o quantum remuneratório devido ao 
advogado, circunstância comum quando a Fazenda Pública era parte vencida. 
Sob a vigência do antigo estatuto processual, eram comuns iniquidades, como 
a fixação de valores completamente irrisórios para o advogado. 
Duas foram as alterações notáveis nesta matéria: primeiramente, a adoção 
de um critério único de cálculo para todas as causas em que a Fazenda Pública 
for parte, aplicada indistintamente a ela e à parte contrária; e, em segundo lugar, 
o abandono do critério de equidade através da adoção de percentuais objetivos 
sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido pela parte ven-
cedora (THEODORO JR., 2015, p.478).
No § 3º do art. 85 há o estabelecimento de critérios objetivos que desacon-
selham, a um só tempo, o aviltamento e o arbitramento em patamares astronô-
micos dos honorários, buscando trazer equilíbrio e justeza ao cálculo. In litteris:
Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação 
dos honorários observará os critérios estabelecidos nos in-
cisos I a IV do § 2º e os seguintes percentuais: 
I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o 
valor da condenação ou do proveito econômico obtido até 
200 (duzentos) salários-mínimos; 
II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o 
valor da condenação ou do proveito econômico obtido 
acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois 
mil) salários-mínimos; 
III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre 
o valor da condenação ou do proveito econômico obtido 
acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 
(vinte mil) salários-mínimos; 
IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre 
o valor da condenação ou do proveito econômico obtido 
acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000 
(cem mil) salários-mínimos; 
V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o 
valor da condenação ou do proveito econômico obtido 
acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos. 
139
Na mesma linha, o §4º do art. 85 dispõe que, em qualquer das hipóteses 
do §3º, os percentuais previstos devem ser aplicados desde logo quando for lí-
quida a sentença(inc. I); não sendo líquida a sentença, a definição do percentual 
somente ocorrerá quando liquidado o julgado (inc. II); não havendo condena-
ção principal ou não sendo possível mensurar o proveito econômico obtido, a 
condenação em honorários dar-se-á sobre o valor atualizado da causa ( inc. III); 
e será considerado o salário mínimo vigente quando prolatada sentença líquida 
ou o que estiver em vigor na data da decisão de liquidação (inc. IV).
Outra inovação interessante foi a inserção de uma regra de cumulatividade 
de critérios. Conforme o §5º do art. 85:
Quando, conforme o caso, a condenação contra a Fazenda 
Pública ou o benefício econômico obtido pelo vencedor ou 
o valor da causa for superior ao valor previsto no inciso I do 
§ 3o, a fixação do percentual de honorários deve observar a 
faixa inicial e, naquilo que a exceder, a faixa subsequente, 
e assim sucessivamente. 
Por exemplo, se o valor da condenação for de dois mil e quinhentos sa-
lários mínimos, deverão ser feitos três arbitramentos: um para a faixa de valores 
que compreende o inc. I, um segundo para a faixa que compreende o excedente 
ao inc. I até o teto do inc. II, e um terceiro para o que exceder o teto do inc. II. 
d) De forma inédita, veio a ser consagrado no texto legislativo o cabi-
mento obrigatório dos chamados honorários recursais, aqueles cabidos quando 
a parte triunfa em fase de recurso, mesmo que venha a perder ao final da causa. 
Até a vigência do antigo CPC, a interposição de recurso não fazia surgir direito 
ao recebimento de nova verba honorária. O art. 20, § 1º determinava que, ao 
julgar recurso e incidente, a autoridade jurisdicional deveria ater-se a condenar 
o vencido ao pagamento de despesas processuais, excluindo a condenação do 
vencido no recurso e no incidente processual ao pagamento de honorários ao 
advogado do vencedor.
O novo CPC já de antemão impõe que são devidos honorários “[...] nos 
recursos interpostos, cumulativamente [...]” (art. 85, § 1º), desde que o cômputo 
geral dos honorários arbitrados em primeiro grau e em sede recursal não ultra-
passe o teto de 20%. O exercício do direito ao duplo grau de jurisdição, afinal, 
pode demandar um trabalho excepcional do advogado. Ora, se o objetivo dos 
honorários é remunerar, é natural que a remuneração seja aumentada em razão 
de recursos que fazem com que o processo não chegue imediatamente ao seu fim. 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
140
Em atenção e prestígio à dedicação do advogado da causa, que se prolongará em 
âmbito recursal, o novo CPC trouxe, no art. 85, § 11 um comando de majorar 
os honorários levando-se em consideração o trabalho adicional:
O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixa-
dos anteriormente levando em conta o trabalho adicional 
realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o 
disposto nos §§ 2º a 6º, sendo vedado ao tribunal, no côm-
puto geral dafixação de honorários devidos ao advogado 
do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos 
nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento.
 
Os referidos limites mínimos e máximos devem ser observados, de modo 
que o valor cumulado dos honorários de sucumbência, incluindo a fase recursal, 
não sejam inferiores a 10% nem superiores a 20% do valor da causa. Nada impede 
que os honorários recursais sejam atribuídos ao advogado do vencedor do recurso 
que, porém, vier a perder com o trânsito em julgado: “[...] vencedor e vencido 
devem ser identificados em concreto no âmbito do seguimento procedimental 
que faz surgir os direitos aos honorários” (JORGE, 2015). Essa norma, no fim 
das contas, pode funcionar como um desestímulo significativo ao chamado 
recurso temerário, aquele meramente protelatório.
e) Com o advento do novo Código, passa a ser pacificado o entendimento 
de que o advogado tem legitimidade ativa autônoma para promover a cobrança 
judicial dos honorários de sucumbência. Nos termos do art. 85, § 18: “Caso a 
decisão transitada em julgado seja omissa quanto ao direito aos honorários ou 
ao seu valor, é cabível ação autônoma para sua definição e cobrança”. O dispo-
sitivo obriga o juiz a enfrentar a questão do arbitramento desses honorários, sem 
possibilidade de omissão: “o pagamento dessa verba não é o resultado de uma 
questão submetida ao juiz. Ao contrário, é uma obrigação legal, que decorre 
automaticamente da sucumbência, de sorte que nem mesmo ao juiz é permitido 
omitir-se frente à sua incidência” (THEODORO JR., 2015, p.471).
Uma vez assentado o princípio de que os honorários pertencem ao advo-
gado (ver art. 23 do EAOAB c/c art. 51 do CED), nada mais natural que eles 
possam ser executados pelos advogados em determinadas condições processuais. 
Caso mais de um advogado tenha atuado na causa, a verba correspondente será 
repartida entre o substabelecente e o substabelecido, resguardadas as proporções 
da atuação de cada qual no processo, ou conforme haja sido ajustado entre eles 
(art. 51, § 1º do CED). O mesmo se aplica em caso de renúncia.
141
f ) Passa a ser vedada expressamente a prática da compensação de hono-
rários na sucumbência recíproca, a qual era ordenada pelo art. 21 do CPC/73 
e reconhecida jurisprudencialmente (ver Súmula n. 306 do STJ).4 Na época 
de edição daquele Código, entendia-se (equivocadamente) que os honorários 
deveriam reverter-se em favor da parte, compreensão que ficou de vez obsoleta 
com a promulgação do art. 23 do EAOAB, não obstante a negligência do STJ 
em levá-lo devidamente em consideração. Revoga-se essa interpretação com o 
fundamento de que os valores constituem direito autônomo do advogado, e não 
da parte, e não podem ser dispostos ou negociados por esta. Na dicção do art. 85, 
§ 14, parte final, é “[...] vedada a compensação em caso de sucumbência parcial”.
A sucumbência parcial refere-se à hipótese em que ambas as partes são, 
concomitantemente, derrotadas e vencedoras, cada qual tendo seu pedido apenas 
parcialmente julgado procedente. Não mais se considera lícito que o crédito dos 
honorários de sucumbência possa ser utilizado para arcar com a dívida da parte 
com o advogado da outra parte, já que, para haver compensação, “é preciso haver 
dívidas recíprocas, o que não ocorre entre os advogados que patrocinam causas 
em que cada litigante é em parte vencedor e em parte vencido” (LAMACHIA, 
2015, p. 50).
Afinal, ao proceder à compensação à luz do EAOAB, o magistrado estava 
dispondo de direito alheio às partes processuais. Em conformidade com o art. 368 
do Código Civil, para haver compensação, é necessário que sejam concorrentes na 
mesma pessoa as figuras de credor e devedor: “Se duas pessoas forem ao mesmo 
tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde 
se compensarem”. Não é esse o caso na sucumbência recíproca, pois o devedor é 
a parte e o credor é o advogado. Entendimento contrário afronta o art. 380 do 
Código Civil: “Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro”. 
g) Outra controvérsia resolvida pelo novo CPC de maneira inconteste foi 
a discussão sobre a quem pertenceriam os honorários sucumbenciais da Fazenda 
Pública: se à Entidade ou ao advogado público que atuou na causa. O art. 85, § 
19 fixa que “[...] os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, 
nos termos da lei [...]”, reconhecendo aí a igualdade de direito entre advogados 
públicos e privados, isto é, a unidade da profissão, em sintonia com o art. 3º, § 
1º do EAOAB.5 Ambas as categorias são regidas, afinal, pelo Estatuto da Ad-
4 Súmula n. 306, STJ: “Os honorários advocatícios devem ser compensados quando houver sucumbência 
recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à execução do saldo sem excluir a legitimidade da 
própria parte”.
5 Art. 3º, § 1º do EAOAB: “Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do 
regime próprio a que se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da União, da Procuradoria da 
Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos Estados, do 
Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas entidades de administração indireta e fundacional”.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
142
vocacia e da OAB, sujeitas a normas e códigos de disciplina comuns – a saber, 
ao CED (ver art. 8º).6
Recentemente, a fim de regulamentar esse dispositivo, foi promulgada a Lei 
n. 13.327/2016, que dispõe sobre honorários advocatícios de sucumbência7nas 
causas em que forem parte a União, suas autarquias e fundações. No art. 27, 
dispôs que os honorários pertencem aos ocupantes dos cargos de: I - Advogado 
da União; II - Procurador da Fazenda Nacional; III - Procurador Federal; IV 
- Procurador do Banco Central do Brasil; V - dos quadros suplementares em 
extinção previstos no art. 46 da MP n. 2.229-43/2001. O inciso V refere-se 
aos antigos cargos que faziam a assistência jurídica da União, suas autarquias e 
fundações, antes da AGU/Procuradoria Federal, e que estão atualmente extintos, 
havendo, contudo, pessoas que foram aposentadas neles.
Note-se ainda que “os honorários não integram o subsídio e não servirão 
como base de cálculo para adicional, gratificação ou qualquer outra vantagem 
pecuniária”, conforme disposto no art. 29, parágrafo único. Ademais, “os honorá-
rios não integrarão a base de cálculo, compulsória ou facultativa, da contribuição 
previdenciária”, conforme art. 32.Conforme o § 6º do mesmo artigo, os limites 
e critérios dos §§2º e 3º do art. 85 “[...] aplicam-se independentemente de qual 
seja o conteúdo da decisão, inclusive aos casos de improcedência ou extinção do 
processo sem resolução do mérito”. 
É importante ressalvar que o novo CPC previu, no § 7º do art. 85, uma 
hipótese de dispensa de fixação de honorários no processo de execução, nos se-
guintes termos: “[...] não serão devidos honorários no cumprimento de sentença 
contra a Fazenda Pública que enseje expedição de precatório, desde que não 
tenha sido impugnada”. O dispositivo, ao tratar de cumprimento de sentença, 
não se aplica à execução autônoma fundada em título extrajudicial. Além disso, 
o mencionado parágrafo, ao referir-se exclusivamente à sentença “que enseje 
expedição de precatório”, afasta a incidência do § 7º quando se tratar de crédito 
de pequeno valor.
6 Art. 8º do CED: “As disposições deste Código obrigam igualmente os órgãos de advocacia pública, e 
advogados públicos, incluindo aqueles que ocupem posição de chefia e direção jurídica. § 1º O advogado 
público exercerá suas funções com independência técnica, contribuindo para a solução ou redução de 
litigiosidade, sempre que possível. § 2º O advogado público, inclusive o que exerce cargo de chefia ou 
direção jurídica, observará nas relações com os colegas, autoridades,servidores e o público em geral, o 
dever de urbanidade, tratando a todos com respeito e consideração, ao mesmo tempo em que preservará 
suas prerrogativas e o direito de receber igual tratamento das pessoas com as quais se relacione”.
7 Para os fins da Lei nº 13.327/2016, os honorários advocatícios de sucumbência incluem: “I - o total do 
produto dos honorários de sucumbência recebidos nas ações judiciais em que forem parte a União, as 
autarquias e as fundações públicas federais; II - até 75% do produto do encargo legal acrescido aos débitos 
inscritos na dívida ativa da União, previsto no art. 1º do Decreto-Lei nº 1.025/69; III - o total do produto 
do encargo legal acrescido aos créditos das autarquias e das fundações públicas federais inscritos na dívida 
ativa da União, nos termos do § 1º do art. 37-A da Lei nº 10.522/2002”.
143
Debate importante diz respeito à aplicabilidade do parágrafo aos processos 
coletivos, haja vista o teor da Súmula n. 345 do STJ, segundo a qual “são devi-
dos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções individuais de 
sentença proferida em ações coletivas, ainda não embargadas”. Assim, quando 
se tratar de ações coletivas, são devidos honorários no cumprimento de sentença 
contra a Fazenda Pública, uma vez que as mudanças na lei processual civil devem 
ser interpretadas restritivamente no que se refere à sua aplicação aos processos 
coletivos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As regras estatuídas pelo novo CPC representam vultuosas conquistas da 
advocacia, na medida em que impedem a desvalorização da profissão, ao tutelar 
de forma justa e adequada o instituto dos honorários sucumbenciais, que é 
um pressuposto da dignidade humana dos profissionais da classe. Tratam-se de 
questão de maior importância para a boa atuação da advocacia e para a tutela 
dos direitos da sociedade. Com a valorização da profissão e da remuneração de 
seus membros, todo o sistema de Justiça tem a ganhar, de modo que se assegura 
que a defesa judicial e extrajudicial dos direitos dos cidadãos será empreendida 
por profissionais motivados, honrados e bem recompensados por sua dedica-
ção que, com efeito, traduz uma notável função pública, múnus atribuído pela 
Constituição, elemento central para um Estado democrático de direito em pleno 
funcionamento.
REFERÊNCIAS
BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de Direito Processual 
Civil, 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v.1.
JORGE, Flávio Cheim. Os honorários advocatícios e o novo CPC: A 
sucumbência recursal. Migalhas, São Paulo, 22 maio 2015. Disponível em: 
<https://goo.gl/h7nsqp>. Acesso em: 12 jul. 2017.
LAMACHIA, Claudio. A valorização da Advocacia e o fim do aviltamento dos 
honorários no novo CPC. In: COÊLHO, Marcus Vinícius Furtado et al. As 
conquistas da advocacia no novo CPC. Brasília: Conselho Federal, 2015.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
144
MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa. Comentários ao Código de Ética e 
Disciplina da OAB: análise do Código de 2015, pelo relator do anteprojeto e 
da sistematização final do texto. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
SICA, Heitor Vitor Mendonça. O advogado e os honorários sucumbenciais no 
Novo CPC. Genjurídico.com.br. Disponível em: <https://goo.gl/RENzGr>. 
Acesso em: 12 jul. 2017.
THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 56. ed. 
Rio de Janeiro: Forense, 2015. v.1.
145
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL1
Carlos Henrique Soares*
RESUMO: O presente texto versa sobre o abuso do direito processual brasileiro 
e a técnica de repressão como instrumento de garantia da democracia e do 
processo constitucional. 
Palavras-chave: Abuso do direito processual. Processo constitucional. Litigância 
de má-fé. Repressão.
 
ABSTRACT: This paper deals with the abuse of the Brazilian procedural law 
and the technique of repression as a tool to guarantee democracy and the 
constitutional process.
Keywords: Abuse of procedural law. Constitutional process. Litigation in bad 
faith. Repression.
SUMÁRIO: 1 Introdução. 2 Elementos caracterizadores do abuso do direito. 
3 Abuso do direito processual. 4 Responsabilidade processual por litigância de 
má-fé. 5 Técnica de repressão ao abuso de direito processual (litigância de má-
fé). 6 Conclusão. 
1 INTRODUÇÃO
 As reflexões sobre a técnica de repressão ao abuso do direito processual 
apresentadas no presente texto serão feitas levando em consideração a técnica 
processual moderna, qual seja, aquela que “importa na superação do critério 
de aplicação da justiça do tipo salomônico, inspirada apenas na sabedoria, no 
equilíbrio e nas qualidades individuais do julgador, ou na sensibilidade extremada 
do juiz2 [...]”. Isso significa que buscaremos estabelecer parâmetros processuais, 
1 Este texto foi adaptado de: SOARES, Carlos Henrique. Abuso del Derecho Procesal Brasileño. In: ________ 
et al. (coord.). Processo Democrático y Garantismo Procesal. Belo Horizonte: Arraes ; Astrea, 2015, p. 
134-151. (cap. 8).
* Doutor e Mestre em Direito Processual (PUCMinas), Professor da PUCMinas de Direito Processual 
Civil, Coordenador de Pós-Graduação em Direito Processual Civil do IEC/PUCMinas, Professor de Pós-
Graduação em Direito Processual Civil, Escritor, Palestrante. Advogado e Sócio da Pena, Dylan, Soares e 
Carsalade - Sociedade de Advogados. E-mail: carlos@pdsc.com.br.
2 GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica Processual e teoria do processo. Rio de Janeiro: Aide, 1992, 
p. 45.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
146
mediante uma técnica processual, que possibilite uma qualidade nas decisões e 
uma repressão ao abuso processual, mesmo não estando diante de um juiz que 
concentre os melhores dotes intelectuais. 
A expressão abuso de direito é atualmente considerada pelos juristas como 
sendo o mau uso ou uso excessivo ou extraordinário do direito. Isso significa que 
a expressão abuso do direito nos remete a ideia de que alguém está exercendo 
um ato ilícito, em razão de um excesso. Assim, a expressão, de forma isolada, 
quer informar ao intérprete que o justo é exercer o direito, nem mais (abuso), 
nem menos (aquém).
 Etimologicamente, a expressão em latim abusos e abuti não possuíam a 
ideia de mau uso, mas significava um uso intenso, um aproveitamento completo 
da coisa ou do direito3. Falar em abuso de direito, etimologicamente, significa o 
uso completo do direito, em todas as suas formas e modalidades. Ou seja, o uso 
intenso do direito. Isso não sofria punição e nem era considerado ilegal.
 Em termos atuais, a expressão abuso do direito obteve nova conotação, 
significando o excesso dos limites do poder da faculdade (facultas agendi) que o 
direito objetivo (normas agendi) confere ao indivíduo, na qualidade de sujeito 
de direito (sui iuris)4. 
 Segundo sustenta Helena Najjar Abdo:
Muitos doutrinadores enxergam na consagrada locução 
´abuso do direito’ uma contradição intrínseca. De fato, a 
combinação não é das mais felizes, pois dá margem a va-
riadas interpretações, tanto em razão da imprecisão técnica 
do termo abuso quanto da amplitude do termo direito. 
Todavia, quando se atenta para o fato de que o direito de 
que se abusa é evidentemente o direito subjetivo, a contra-
dição tende a desaparecer: abusa-se do direito subjetivo, ou 
seja, da faculdade que a norma (direito objetivo) confere 
ao indivíduo (sujeito de direitos).5”
 No direito brasileiro, a expressão abuso do direito já se encontra sedimen-
tada e consagrada, querendo informar aquele que extrapola os limites de atuação 
do direito subjetivo, ou seja, o abuso da faculdade ou ao poder conferido ao 
indivíduo pela norma de direito positivo, a qual reconhece a prevalência de um 
interesse juridicamente protegido.
3 ROTONDI, Mario. L´abuso di diritto: “AEmulatio”. Pádua: Cedam, 1979,p. 37-38.
4 ABDO, Helena Najjar. O abuso do processo. São Paulo: RT, 2007, p. 32.
5 ABDO, op. cit., p. 32.
147
2 ELEMENTOS CARACTERIZADORES DO ABUSO DO 
DIREITO 
Colocada a questão sobre a utilização da expressão abuso de direito, ve-
rificamos a necessidade indicar três elementos que concorrem para a existência, 
quais sejam:
a) a aparência de legalidade; b) preexistência de um direito subjetivo 
e c) o fato de que o abuso do direito se referir ao exercício do direito e não 
ao direito em si6. O que fica em discussão, essencialmente, sobre o abuso do 
direito é justamente a questão do elemento subjetivo, qual seja, o dolo ou a 
culpa para a sua verificação. Para quem defende a teoria subjetiva do abuso do 
direito, o elemento dolo ou culpa são indispensáveis, já para quem defende a 
teoria objetiva do abuso do direito, esses elementos subjetivos são desnecessários 
ou irrelevantes.
 O atual Código Civil brasileiro, em seu artigo 187, elegeu a opção pela 
teoria objetiva do abuso do direito. A sua redação é nesse sentido: “Art. 187. 
Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede ma-
nifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé 
ou pelos bons costumes.” (grifo nosso).
O artigo 187 do Código Civil indica outro elemento para a caracterização 
do abuso do direito, qual seja, aquele que age excedendo os limites impostos 
pela lei, no que tange aos fins econômicos e sociais, pela boa-fé e pelos bons 
costumes. Esse artigo, na verdade, é uma cláusula geral do Direito Civil.
A boa-fé também se encontra constitucionalmente prevista no Brasil, no 
inciso I do art. 3º, o qual prevê, expressamente, que a República Federativa do 
Brasil tem por objetivo “[...] construir uma sociedade livre, justa e solidária”. In-
terpretando-se tal dispositivo constitucional, pode-se dizer que o mesmo está “[...] 
elevando a um grau máximo o dever de cooperação e lealdade no trato social.” 7
O abuso de direito está relacionado diretamente com o combate a apa-
rência de licitude. Isso significa que o caminho para aferir um ato abusivo é 
mais complexo, pois, num primeiro momento, deve-se quebrar a falsa ideia de 
licitude que paira sobre o referido ato.
Pela leitura do referido artigo 187 do Código Civil, verificamos que o 
direito brasileiro estabelece critérios para a configuração do abuso do direito, 
quais sejam: a) que o abuso do direito é um ato ilícito; b) esse ato ilícito deve 
6 Ibid., p. 37.
7 VICENZI, Brunela Vieira de. A Boa-fé no Processo Civil. São Paulo: Atlas, 2003, p. 163.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
148
ser praticado pelo titular do direito subjetivo; c) que tenha sido excedido 
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes e d) que tenha sido o ato ilícito abusivo manifesto.
 Assim, verificando a ocorrência desses elementos acima indicados, o agente 
(titular do direito subjetivo) causador ficará com a obrigação de indenizar, nos 
termos do art. 1878 e 9279 do Código Civil, lembrando que tal indenização, 
deve ser medida pela extensão do dano, nos termos do art. 944 do Código Civil10. 
3 ABUSO DO DIREITO PROCESSUAL
O abuso do direito processual é uma variação do abuso de direito. As 
normas de direito material e as normas processuais possuem objetos diferentes. 
Enquanto as primeiras buscam estabelecer direitos e deveres para as pessoas, 
sujeitos de direitos, as normas processuais, no entendimento de Aroldo Plínio 
Gonçalves é justamente aquela “[...] que disciplina a jurisdição e seu instrumento 
de manifestação, o processo [...]”11
Assim, levando em consideração os parâmetros para a fixação do abuso 
de direito, podemos estabelecer também parâmetros para a verificação do abuso 
de direito processual, bem como, a melhor técnica para sua repressão. 
O Código de Processo Civil brasileiro de 1939 já demonstrava a preo-
cupação com o abuso do direito processual em suas linhas gerais. Conforme se 
verifica na análise conjunta dos art. 3º e 63 desse Código (1939), o abuso era 
caracterizado pela verificação dos seguintes elementos: dolo, temeridade, fraude, 
emulação, capricho, erro grosseiro, violência, protelação da lide, falta do dever 
de dizer a verdade e o anormal uso do poder de disposição do processo12. 
 Pelo que se verifica no CPC de 1939, constata-se a presença do elemento 
subjetivo, ou seja, a intenção do sujeito para a prática do ato processual abusivo. 
No entanto, tal necessidade do elemento subjetivo foi revogada pelo Código de 
Processo Civil de 1973, sugerindo critérios objetivos para a verificação do abuso 
do direito processual13. 
8 Brasil. Código Civil, art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
9 Brasil. Código Civil, art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo.
10 Brasil. Código Civil, art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
11 GONÇALVES, op. cit., p. 58.
12 CASTRO FILHO, José Olímpio de. Abuso do Direito no Processo Civil, 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
1960, p. 88.
13 No direito estrangeiro, verificamos que os países tratam de forma diferenciada a questão do abuso de 
149
O Código de Processo Civil de 1973 aboliu a expressão abuso do direito 
processual e utilizou a expressão litigância de má-fé e responsabilidade pro-
cessual. Assim, passou a disciplinar do mesmo modo do CPC anterior (1939), o 
caráter reprovável dos sujeitos processuais que abusam dos direitos processuais14. 
É importante lembrar que violar uma regra de direito processual não é 
abusivo per se. Isso significa que a violação de uma norma processual não sig-
nifica o mau uso do direito processual e muito menos pode ser caracterizado 
como um ato abusivo. Ou seja, se o recorrente interpõe um recurso ao invés de 
outro, isso, por si só não é um ato abusivo, mas somente um ato equivocado, um 
erro grosseiro, que não causa prejuízo a parte contrária e nem impede o regular 
andamento do processo. No entanto, um ato processual passa a ser abusivo 
quando o mesmo recurso, é interposto, não com o fim específico de alterar a 
decisão jurisdicional, mas, simplesmente, para retardar ou impedir a execução 
ou cumprimento da sentença, com manifesto propósito protelatório. 
Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias, entende que o abuso do direito pro-
cessual possui semelhanças com a fraude processual, mas com ela não se con-
funde. O abuso do direito distingue-se da fraude à lei, embora, se comparadas, 
certos traços semelhantes sejam percebidos. Há fraude com a realização, por 
meios lícitos, de fins que a lei não permite sejam atingidos diretamente porque 
contrários ao seu preceito. No abuso de direito sobressai apenas irregularidade 
no seu exercício resultando dano ou constrangimento para terceiro. Enquanto a 
sanção, na hipótese de fraude, necessariamente será a nulidade do ato, no abuso 
do direito consistirá principalmente, na obrigação de indenizar o prejuízo15.
Pedro de Albuquerque sustenta que o abuso do direito e a litigância de 
má-fé não se confundem. Segundo ele, as principais diferenças estariam no fato 
de que o abuso do direito possui natureza objetiva e pressupõe a existência de 
dano, enquanto para a verificação da má-fé é imprescindível o elemento sub-
direito processual. Na França, por exemplo, existem regras claras e gerais concernentes ao abuso de direito 
processual e investindo a corte com o poder de sancionar abusos. Na extremidade oposta, há sistemas 
jurídicos internacionais nos quais o direito não fala abertamente do abuso de direito processual, mas 
algumas disposições gerais falam de lealdade e honestidade como padrões para a conduta processual daspartes (ver, e.g., art. 88 do Código de Processo Civil italiano). TARUFFO, Michele. Abuso de direitos 
processuais: padrões comparativos de lealdade processual (relatório geral). Revista de Processo, São Paulo. 
Ano 34, n. 177, nov. 2009, p. 155.
14 Conforme esclarece Patrícia de Deus Lima, o novo Código de Processo (1973) demonstra a preocupação do 
legislador em conferir eticidade ao processo, para ela: “[...] as regras processuais éticas delineariam esboço 
muito nítido do princípio da probidade processual, cujos desdobramentos, no processo, fariam de todos 
os sujeitos processuais (isto é, juiz, partes, terceiros, auxiliares da justiça, ministério público) seus legítimos 
destinatários.” (LIMA, Patrícia Carla de Deus. Abuso do direito e tutela ética do processo. 2006. 231 f. 
Dissertação (Mestrado em Direito Econômico e Social) Pontifícia Universidade Católica, Curitiba, 2006, 
p. 180).
15 DIAS, Ronaldo Brêtas de Carvalho. Fraude no Processo Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 1998, p. 34.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
150
jetivo e a aferição de dano não é essencial16. Isso significa dizer, que no caso de 
litigância de má-fé, o importante é a verificação de uma conduta reprovável do 
ponto de vista processual e da lealdade processual e da boa-fé, mas se houver 
ainda danos ou prejuízos, devem ser indenizados. A litigância de má-fé permite a 
punição pelo Judiciário através de multa processual, mas em casos excepcionais, 
também a condenação em indenização por danos morais e materiais, nos termos 
do Código Civil (art. 927 do CC).
 Abusa do direito processual, o sujeito que aparentemente, exerce o con-
traditório e a ampla defesa, mas busca com isso simplesmente, causar prejuízos 
a dignidade da prestação jurisdicional e aos interesses da parte contrária no 
cumprimento das decisões jurisdicionais e das normas processuais, em flagrante 
deslealdade processual. 
 O dever de lealdade processual não deve ser levado em consideração ape-
nas entre as partes litigantes, mas, sobretudo, por todos os sujeitos processuais, 
incluindo os Juízes, membros do Ministério Público e terceiros.Isso pode ser 
lido pelo artigo 4º do CPC/2015. 
 Cândido Rangel Dinamarco afirma que: 
[...] o Código de Processo Civil brasileiro, que se mostra 
particularmente empenhado em cultuar a ética no processo, 
traz normas explícitas quanto aos limites da combatividade 
permitida e impõe sanções à deslealdade; o dever de manter 
comportamentos condizentes com os mandamentos éticos 
está sintetizado na fórmula ampla e genérica proceder com 
lealdade e boa-fé [...]17
 
 As partes, assim, devem exercer o contraditório e a ampla defesa, mas 
não podem, em nome desse exercício, abusar, em flagrante e manifesta intenção 
de protelar a prestação jurisdicional ou atrapalhar que as decisões sejam devida-
mente cumpridas e executadas. 
Celso Hiroshi Iocohama explica:
[...] a expressão lealdade se confundirá com a boa-fé obje-
tiva, pois que ser leal significa estar de acordo com determi-
16 ALBUQUERQUE, Pedro de. Responsabilidade Processual por Litigância de Má-fé, Abuso de Direito 
e Responsabilidade Civil em virtude de actos praticados no processo. Coimbra: Almedina, 2006, p. 92.
17 DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma da reforma, 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 56. (grifo 
nosso).
151
nados padrões de conduta que independem da concepção 
particular do sujeito. Isto quer dizer que ninguém é honesto 
somente porque acredita sê-lo. É preciso que tal concepção 
se projete na visão social e, diante dela, sejam observados 
os elementos existentes para o preenchimento do modelo 
padrão de honestidade/lealdade. Logo, a boa-fé subjetiva 
não pode ser confundida com a noção de lealdade, pois, se 
há importância para o estudo da primeira e sua conotação 
jurídica, a lealdade vista do ângulo exclusivo do sujeito para 
o qual é atrelada não tem qualquer relevância18.
Infelizmente, não coadunamos com Celso Hiroshi sobre o princípio da 
lealdade processual e boa-fé. Quando se procura por padrões de lealdade e boa-fé 
processual, devemos encontrar as respostas justamente com a observância do 
respeito às normas processuais e o procedimento e com o seu devido desenvol-
vimento previsto em lei. Isso significa dizer que a lealdade processual e boa-fé 
processual são conceitos que devem estar intimamente ligados à observância 
do devido processo legal (constitucional) e nunca a questões de moralidade 
ou eticidade. Defender a lealdade e a boa-fé processual não tem o objetivo de 
proteger a parte inocente da parte faltante, mas sim o processo e a dignidade da 
prestação jurisdicional. 
O abuso do direito processual aparece no momento em que o sujeito 
processual age dissimuladamente, sob a aparência de um exercício regular de seu 
direito, o resultado que pretende é ilícito ou reprovável, uma vez que posterga 
a prestação jurisdicional, causando prejuízos inimagináveis à parte contrária e à 
dignidade do judiciário e de sua atividade. 
É bom ressaltar, que na violação de uma norma processual, a sanção será 
a aquela prevista no próprio ordenamento jurídico processual. Isto significa que 
se houver a interposição de uma defesa fora do prazo, verificamos a violação de 
uma norma processual e tal violação acarreta à revelia do réu, com a presunção 
de verdade sobre os fatos narrados na petição inicial. No entanto, quando veri-
ficamos o abuso do direito processual, estamos diante de uma prática processual 
que se afasta de sua finalidade com o manifesto propósito de retardar a prestação 
jurisdicional e interferir no direito da parte contrária19. No ato processual abu-
sivo não há qualquer direito sendo exercido, é somente um ato aparentemente 
lícito, mas com propósitos de causar prejuízos ao regular andamento processual 
18 IOCOHAMA, Celso Hiroshi. Litigância de má-fé e lealdade processual. Curitiba: Juruá, 2006, p. 45.
19 TARUFFO, op. cit., p. 166.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
152
e à prestação jurisdicional, bem como, os interesses da parte contrária. Assim, o 
agente abusador dos direitos processuais deve, a um só tempo, ser sancionado 
com pena pecuniária (multa), bem como, reparar os danos causados à parte 
contrária, se assim ficar constatado o dano. É o que o Código de Processo Civil 
chama de responsabilidade processual por litigância de má-fé.
 
4 RESPONSABILIDADE PROCESSUAL POR LITIGÂNCIA DE 
MÁ-FÉ 
A responsabilidade processual por litigância de má-fé20 se constitui no 
dever de reparar os danos causados a uma parte pela outra em razão de prática 
de atos processuais abusivos e que atrasam a prestação jurisdicional. 
Verificada qualquer atitude dos sujeitos no sentido de evitar a atuação 
jurisdicional eficiente, efetiva e eficaz, poderá a parte faltante (litigante de má-fé) 
ser multada e responsabilizada civilmente com a condenação em pagamento de 
indenização por sua conduta antijurídica. 
O ato abusivo, no âmbito processual, é aquele que possui a aparência de 
normalidade e legalidade, mas o objetivo pretendido, não é lícito, se não, causar 
prejuízo a outra parte ou ao andamento regular do procedimento e da dignidade 
da prestação jurisdicional. É o que chamamos de desvio de finalidade do ato 
processual. O abuso do direito processual, segundo estudos de Cordopatri, seria 
a violação do dever de lealdade e probidade, isto é, na distorção cometida pela 
parte ao empregar o instrumento processual ou ao praticar ato processual válido21. 
Segundo podemos verificar no Código de Processo Civil brasileiro (1973), 
em seu art. 16, determina que responde por perdas e danos aquele que plei-
tear de má-fé como autor, réu ou interveniente. Esse artigo estabelece o que 
a teoria da responsabilidade processual em razão da litigância de má-fé, ou seja, 
da possibilidadede determinar, pelo próprio juízo da demanda, a condenação 
da parte que litiga de má-fé em pagamento de indenização pelo seu ato proces-
sual abusivo, bem como em multa para indicar que sua atitude é reprovável do 
ponto de vista processual. 
20 Cf. explica D’Plácido e Silva, “[...] a expressão derivada do baixo latim malefacius [que tem mau destino 
ou má sorte], empregada na terminologia jurídica para exprimir tudo que se faz com entendimento da 
maldade ou do mali que nele se contém. A má-fé, pois, decorre do conhecimento do mal, que se encerra 
no ato executado, ou do vício contido na coisa, que ser quer mostrar como perfeita, sabendo-se que não 
o é [...] A má-fé opõe-se à boa-fé, indicativa dos atos que se praticam sem maldade ou contravenção aos 
preceitos legais. Ao contrário, o que se faz contra a lei, sem justa causa, sem fundamento legal, com ciência 
disso, é feito de má-fé.” (SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico, 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
1998, p. 131).
21 CORDOPATRI, Francesco. L´abuso del processo. Pádua: Cedam, 2000. v. 2, p. 487-488.
153
 O Código de Processo Civil brasileiro (1973) utilizou da metodologia 
discriminatória e enumerativa para indicar quais são os atos processuais conside-
rados de má-fé, e, portanto, passíveis de sancionamento processual e de reparação. 
Assim, segundo verificamos no art. 17 do CPC, reputa-se litigante de má-fé, 
aquele que: a) deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou 
fato incontroverso; b) alterar a verdade dos fatos; c) usar do processo para 
conseguir objetivo ilegal; d) opuser resistência injustificada ao andamento do 
processo; e) proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do 
processo; f ) provocar incidentes manifestamente infundados; g) interpuser 
recurso com intuito manifestamente protelatório22.
Verificamos que o art. 17 do CPC (1973) foi repetido no Novo Código 
de Processo Civil de 2015, nos artigos 79 e 8023. 
 O art. 80 do Código de Processo Civil brasileiro de 2015 estabelece di-
versos comportamentos processuais reprováveis e que se verificarmos a presença 
do elemento dolo, devemos punir o agente, do ponto de vista processual, como 
também do ponto de vista de direito material, com a reparação dos prejuízos, 
nos termos do art. 927 do Código Civil. 
 É bom ressaltar, que as condutas processuais previstas no art. 80 do Código 
de Processo Civil de 2015 podem simplesmente, gerar uma sanção pecuniária 
com a aplicação apenas de multa como também, se verificado o dano, aplicar 
a teoria da responsabilidade civil e determinar o ressarcimento pelos prejuízos 
materiais e morais causados à parte contrária. Assim, um ato processual pode 
ser apenas um ilícito processual e gerar a aplicação de multa, mas não causar 
prejuízos à parte contrária, o que, portanto, não justificaria a condenação em 
indenização por danos morais e materiais. É o que está previsto no art. 81 do 
Código de Processo Civil Brasileiro.
22 PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO. LITIGÂNCIA 
DE MÁ-FÉ NÃO VERIFICADA. MULTA AFASTADA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E 
PROVIDO.1. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que não se presume 
a litigância má-fé quando a parte se utiliza dos recursos previstos em lei, sendo necessária, em tais 
hipóteses, a comprovação da intenção do recorrente de obstruir o trâmite regular do processo, nos 
termos do art. 17, VI, do CPC.2. Incabível a condenação por litigância de má-fé quando a parte, 
na primeira oportunidade que lhe é conferida, interpõe agravo de instrumento contra decisão que 
fixou honorários advocatícios em execução não embargada. 3. Recurso especial conhecido e provido 
para afastar a condenação da recorrente ao pagamento de multa por litigância de má-fé (BRASIL. Superior 
Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 749.629-PR, Quinta Turma. Relator: Min. Arnaldo Esteves Lima. 
Brasília, 16 de maio de 2006. Diário de Justiça: 19 jun. 2006, p. 193, grifo nosso).
23 CPC/2015 - Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como autor, réu ou 
interveniente. Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que: I – deduzir pretensão ou defesa contra 
texto expresso de lei ou fato incontroverso; II – alterar a verdade dos fatos; III – usar do processo para 
conseguir objetivo ilegal; IV – opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V – proceder 
de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI – provocar incidente manifestamente 
infundado; VII – interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
154
Cândido Rangel Dinamarco informa sobre o tema litigância de má-fé e 
abuso de direito, que:
Ao disciplinar a repressão à deslealdade das partes mediante 
normas referentes à litigância de má-fé (arts. 16-18) e ao 
contemp of court (arts. 600-601), o Código de Processo 
Civil arrola algumas condutas ilícitas e estabelece sanções 
à sua prática (arts. 16-18 e 600-601). Depreende-se de 
cada uma dessas figuras o dever de comportar-se de modo 
contrário, porque cada uma delas contém em si, pelo lado 
negativo, a especificação de um aspecto inerente ao dever 
de lealdade24.
Deve se tratar, pois, que as condutas tipificadas como de má-fé podem ser 
realizadas de modo ativo ou passivo (omissivo, portanto). Optou, nosso legislador 
por numerar de forma taxativa as hipóteses de litigância de má-fé diferentemente 
do que ocorre no Código de Processo Civil alemão (artigo 138) e do Código de 
Processo Civil italiano (art. 88).
O art. 80, inciso I do CPC/2015, traz a indicação de vedação das partes 
de deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incon-
troverso. Isso significa que as partes têm, constitucionalmente, o direito de ação 
e de defesa para movimentar a jurisdição e a aplicação do direito material. No 
entanto, não é permitido buscar tal direito de ação ou de defesa quando a lei, 
sabidamente, não acoberta ou protege tal pretensão ou quando o fato que se 
opõe é um fato cujo o qual não existe contradição pelas partes. Assim, litiga de 
má-fé o sujeito que busca a declaração ou condenação de outrem ou reconheci-
mento de algum direito em juízo, com texto de lei claramente se posicionando 
ao contrário do pretendido. Um exemplo simples sobre tal hipótese de litigân-
cia de má-fé, seria o ajuizamento de ação para buscar receber dívidas de jogo 
que são, pelo ordenamento jurídico brasileiro, impossíveis de serem exigidas. 
Lado outro, há uma linha bastante tênue entre a caracterização da litigância de 
má-fé por dedução ou apresentação de defesa contra texto expresso de lei ou 
fato incontroverso e a questão de interpretação de lei diversa do que entende a 
maioria dos Tribunais. Isso significa que a dedução de ação ou a apresentação 
de defesa que busque uma interpretação diferente para determinado artigo de 
lei não pode ser considerado um ato processual abusivo. Apenas estamos diante 
do livre exercício do direito de ação. 
24 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil, 3. ed. São Paulo: Malheiros, 
2009. v. 3, p. 265.
155
 O art. 80, inciso II do CPC, indica que reputa litigante de má-fé aquele 
que no processo alterar a verdade dos fatos. Nesse ponto, precisamos em pri-
meiro lugar indicar que estamos diante de uma cláusula de litigância de má-fé 
geral e muito aberta do ponto de vista hermenêutico. A verdade que se refere 
o presente inciso do artigo 80 é a verdade processual, que significa a dedução 
de pretensão ou defesa com a devida demonstração dos mesmos com provas. 
Quanto às partes, no momento de dedução de pretensão ou de defesa, alteram 
a verdade dos fatos, significando dizer que estão buscando provar algo que não 
existiu ou que não ocorreu efetivamente e que as provas foram feitas mediante 
fraude, emulação,erro ou vício. Altera a verdade dos fatos, por exemplo, quem 
instrui as testemunhas para que informe fatos que nunca ocorreram, num claro 
objetivo de buscar o reconhecimento dos argumentos deduzidos na pretensão 
na defesa. Cândido Rangel Dinamarco afirma que: “[...] O inc. II do art. 80 
sanciona transgressão intencional do dever de veracidade quanto aos fatos. As 
inveracidades só são contrárias à ética quando acompanhadas da intenção de 
falsear os fatos, caracterizando-se assim como mentiras25”.
 O art. 80, inciso III do CPC estabelece que atua em litigância de má-fé 
as partes que usam o processo para conseguir objetivo ilegal. Verifica-se, nesse 
inciso, a preocupação do legislador com o desvio de finalidade da norma. Assim, 
este inciso busca reprimir aqueles que se utilizam do processo com o objetivo de 
obter direito ou vantagem que a norma proíbe. 
 O art. 80, inciso IV do CPC determina que litiga de má-fé a parte que 
opuser resistência injustificada ao andamento do processo. Trata-se de um 
dispositivo normativo processual que reprime a conduta comissiva e omissiva 
das partes que impedem a duração razoável do processo, conforme estabelece o 
art. 6º do CPC/2015 e art. 5º inciso LXXVIII da Constituição da República do 
Brasil. Opor resistência injustificada ao andamento do processo significa colocar 
obstáculos ao regular curso do processo. Isso significa que manifestações imperti-
nentes e fora do prazo são exemplos e formas de se opor ao regular andamento do 
processo e atentam contra a celeridade processual e contra a dignidade da justiça.
 O art. 80, inciso V do CPC determina que a parte responde por litigância 
de má-fé quando proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato 
do processo. Temerário é o ato imprudente, que não observa as normas proces-
suais e legais. Age de forma temerária quem provoca um incidente processual 
apenas para paralisar o processo ou para impedir os efeitos da preclusão. Age de 
forma temerária, quem pratica ato processual irresponsável, apenas para causar 
25 DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do processo civil moderno, 5. ed. São Paulo: Malheiros, 
2002, p. 268.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
156
prejuízos processuais para as partes. Assim, um bom exemplo de ato temerário 
seria a interposição de dois recursos contra a mesma decisão, sendo que a pri-
meira já havia se pronunciado sobre o seu não cabimento, servindo a segunda 
para desviar a finalidade da norma e evitar a preclusão.
 O art. 80, inciso VI do CPC determina que responde por litigância 
de má-fé a parte que provocar incidentes manifestamente infundados assim 
compreendidos aqueles não previstos do ponto de vista formal e legal. A palavra 
incidente indicada nesse inciso é utilizada de forma genérica, querendo referen-
ciar, ainda, qualquer conduta ativa ou passiva das partes no objetivo de atrasar a 
prestação jurisdicional. Isso significa que a oposição de embargos de terceiros, 
por exemplo, que obviamente, pode paralisar o procedimento principal, pode ser 
caracterizado como sendo um incidente manifestadamente infundado se ao final, 
for considerado um ato apenas com o intuito de evitar a prestação jurisdicional 
ou retardar seu julgamento. 
 Por fim, o art. 80, inciso VII do CPC estipula que responde por litigância 
de má-fé a parte que interpõe recurso manifestadamente protelatório. Recurso 
protelatório é aquele que não tem o objetivo de reformar a decisão, mas sim 
protelar o trânsito em julgado ou a preclusão de uma decisão. Ele é apresentado 
como um recurso destituído de fundamentos para reformar a decisão, em fla-
grante comportamento da parte para evitar e impedir a execução e cumprimento 
da decisão judicial. 
 As condutas previstas no art. 80 do CPC possuem o objetivo de balizar 
o julgador no sentido de reprimir atitudes antijurídicas claramente contrárias 
aos interesses processuais e a duração razoável do processo, nos termos do art. 
6º do CPC/2015. No entanto, verificando a ocorrência de uma das hipóteses 
indicadas no art. 80 do CPC/2015, surge a seguinte questão a ser enfrentada: 
qual seria a melhor técnica para que o processo possa reprimir as condutas 
antijurídicas praticadas pelos sujeitos processuais em litigância de má-fé? 
Tentaremos responder a seguinte indagação, no próximo capítulo.
5 TÉCNICA DE REPRESSÃO AO ABUSO DE DIREITO PRO-
CESSUAL (LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ)
Segundo afirma Rosemiro Pereira Leal, a técnica é essa atividade humana 
que abrange a capacidade de conjunção do mundo da realidade com o mental 
e a consequente expressão de pensamentos abstratos organizados (teoria) sobre 
o contexto dessa realidade26. 
26 LEAL, Rosemiro Pereira. Teoria Geral do Processo: Primeiros Estudos, 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2008, p. 43-44.
157
 Assim, quando nos referirmos à técnica de repressão ao abuso de direito 
processual estamos querendo indicar o conjunto de procedimentos pelos quais 
o direito transforma em regras claras e práticas as diretivas da política jurídica 
de repressão à litigância de má-fé. 
Nesse sentido, para que possamos responder a indagação sobre a melhor 
técnica para a repressão do abuso de direito processual precisamos antes de mais 
nada estabelecer os seguintes pressupostos para nossas reflexões.
 Primeiro, que o processo um instrumento de garantias processuais fun-
damentais, isso significa dizer que ele se constitui de um espaço de discussão 
e debate, do qual o contraditório e ampla defesa são princípios estruturantes e 
não podem ser suprimidos.
 Segundo, que o princípio do contraditório é elemento indispensável para 
a existência do processo e, portanto, não é possível a ocorrência do exercício da 
jurisdição e da repressão do abuso de direito processual sem a sua observância. 
Conforme ensina Fazzalari, o processo é um procedimento com a garan-
tia de participação das partes para a obtenção do ato final, em contraditório, 
devendo os participantes do processo se entenderem como autores da decisão 
judicial (provimento)27.
É bom ressaltar, nas palavras de Aroldo Plínio Gonçalves que:
O contraditório não é apenas a participação dos sujeitos do 
processo. O contraditório é a garantia de participação, em 
simétrica paridade, das partes, daqueles a quem se destinam 
os efeitos da sentença, daqueles que são “interessados”, ou 
seja, aqueles sujeitos do processo que suportarão os efeitos 
do provimento e da medida jurisdicional que o Estado vier 
a impor.28
 Explicando melhor, reforça o autor supracitado que: 
O contraditório não é o “dizer” e o “contradizer” sobre 
matéria controvertida, não é a discussão que se trava no 
processo sobre a relação de direito material, não é a polê-
mica que se desenvolve em torno dos interesses divergentes 
sobre o conteúdo do ato final. Constitui-se, necessariamen-
te, da igualdade de oportunidade no processo, é a igual 
27 FAZZALARI, Elio. Istituzioni di diritto processuale, 6. ed. Padova: CEDAM, 1992, p. 82-83.
28 GONÇALVES, op. cit., p. 120-124.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
158
oportunidade de tratamento, que se funda na liberdade de 
todos perante a lei. É essa igualdade que compõe a essência 
do contraditório enquanto garantia de simétrica paridade 
de participação no processo.29
 Elio Fazzalari caracteriza a estrutura do contraditório com os seguintes 
elementos: a) participação dos destinatários do ato final na fase preparatória do 
processo; b) simétrica paridade destes interessados; c) mútua implicação de seus 
atos; relevância de tais atos para o ato final.30
 Nesse sentido o contraditório é a garantia da participação das partes em 
simétrica igualdade, é a oportunidade de igual tratamento que se funda na liberda-
de de todos perante a lei. E tal participação das partes não significa que tenha de 
serigual, mas uma participação potencial, convertendo assim, o direito em ônus. 
Tanto é assim que Marcelo Galuppo lembra a possibilidade do interessado na 
produção do provimento deixar de participar, por vontade própria, da formação 
deste ato bem como o fato de não se exigir a existência de controvérsia, sendo 
possível, por exemplo, que o réu (contrainteressado) concorde com a pretensão 
do autor. Aliás, o próprio Direito brasileiro prevê e estimula essa possibilidade 
ao tornar obrigatória, na maioria dos processos, a tentativa de conciliação por 
parte do juiz. Pode-se mesmo afirmar que a nova sistemática brasileira erige em 
primeiro dever do juiz a tentativa de, na qualidade de “mediador”, fazer com 
que se restabeleça racionalmente, no âmbito de uma comunidade real de comu-
nicação, o diálogo, ou seja, o discurso entre autor e réu.31
 Sobre o assunto, assevera Didier Junior:
Não adianta permitir que a parte, simplesmente, participe 
do processo; que ela seja ouvida. Apenas isso não é o sufi-
ciente para que se efetive o princípio do contraditório. É 
necessário que se permita que ela seja ouvida, é claro, mas 
em condições de poder influenciar a decisão do magistrado. 
Se não for conferida a possibilidade de a parte influenciar 
a decisão do magistrado – e isso é poder de influência, 
poder de interferir na decisão do magistrado, interferir com 
argumentos, interferir com ideias, com fatos novos, com 
29 GONÇALVES, op. cit., p. 127.
30 FAZZALARI, op. cit., p. 82.
31 GALUPPO, Marcelo Campos. Elementos para uma compreensão metajurídica do processo legislativo. In: 
CADERNOS da pós-graduação. Belo Horizonte: Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas 
Gerais, 1995, p. 7-28.
159
argumentos jurídicos novos; se ela não puder fazer isso, 
a garantia do contraditório estará ferida. É fundamental 
perceber isso: o contraditório não se implementa, pura e 
simplesmente, com a ouvida, com a participação; exige-se 
a participação com a possibilidade, conferida à parte, de 
influenciar no conteúdo da decisão.32
 Na verdade, o contraditório significa a garantia da proibição da decisão 
surpresa, ou seja, decisões que não sofreram o devido debate pelas partes, que 
não foi garantido o efetivo direito de participação, que é muito mais do que 
apenas dizer e contradizer nos autos, mas sobretudo, o direito de influenciar o 
resultado da decisão com argumentações, fatos e provas.
Lebre de Freitas afirma que:
 
[...] a proibição da chamada decisão-surpresa tem sobre-
tudo interesse para as questões, de direito material ou 
de direito processual, de que o tribunal pode conhecer 
oficiosamente: se nenhuma das partes as tiver suscitado, 
com concessão à parte contrária do direito de resposta, 
o juiz – ou o relator do tribunal de recurso – que nelas 
entenda dever basear a decisão, seja mediante o conheci-
mento do mérito seja no plano meramente processual, 
deve previamente convidar ambas as partes a sobre elas 
tomarem posição, só estando dispensado de o fazer em 
casos de manifesta desnecessidade.33
 Assim, entendendo o contraditório como um princípio que veda uma 
decisão surpresa, temos que entender que o art. 81 do CPC, deve ser aplicado 
de outra maneira pelos Tribunais. Segundo, estabelece o artigo, o juiz, de ofício, 
ou a requerimento, condenará o litigante de má-fé a pagar multa que deverá 
ser superior a um por cento e inferior a 10% do valor corrigido da causa, a 
indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os 
honorários advocatícios e com os honorários advocatícios e com todas as 
despesas que efetuou. 
32 DIDIER JR., Fredie.  Curso de Direito Processual Civil: Teoria Geral do Processo e Processo de 
Conhecimento. Salvador: JusPodivm, 2008, p. 45.
33 FREITAS, José Lebre de. Introdução ao processo civil: conceito e princípios gerais à luz do código revisto. 
Coimbra: Coimbra Editora, 1996, p. 103.
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
160
 Uma leitura descomprometida do princípio do contraditório pode levar 
o intérprete e julgador a entender que bastaria, em suas convicções pessoais, a 
verificação de um comportamento das partes caracterizados como litigante de 
má-fé para lhe impor a penas de multa e condenação em perdas e danos apre-
sentados e permitidos pelo art. 81 do CPC brasileiro.
No entanto, a melhor técnica para a repressão do abuso de direito pro-
cessual e consequentemente a litigância de má-fé, não seria a aplicação de ofício 
pelo julgador das hipóteses previstas e exaustivas no art. 80 do CPC, pois assim, 
estaria vedando o contraditório, entendido como garantia de vedação a uma 
decisão surpresa, e contrariando o art. 6º e 10º do CPC/2015.
 Em nome da garantia do contraditório, verificando o juiz que ocorreu 
algumas das hipóteses previstas no art. 80 do CPC/2015, deve abrir, ainda que 
incidentalmente, nos próprios autos do procedimento ou em procedimento 
próprio, uma discussão paralela entre as partes sobre a ocorrência ou não de 
algumas das hipóteses de litigância de má-fé e seus eventuais danos. Isso significa 
dizer que se o julgador tomar a decisão pela aplicação de algumas punições por 
litigância de má-fé sem que haja o devido respeito ao contraditório, essa decisão 
estaria vedando a participação em contraditório e seria, do ponto de vista cons-
titucional-democrático, uma decisão passível de anulação por absoluta falta de 
garantia do contraditório e da ampla defesa.
 É claro que não basta apenas que o julgador, no momento da verificação 
da litigância de má-fé, oportunize vista dos autos às partes para que possam sobre 
ela se pronunciar. Há a necessidade também, atendendo ao disposto no art. 5º, 
inciso LV da Constituição da República, da ampla defesa, com a garantia de 
produção de todas as provas necessárias para demonstrar ou não a ocorrência de 
umas das hipóteses previstas no art. 80 do CPC/2015.
 Assim, a melhor técnica para a repressão do abuso do direito processual 
pode ser indicada pela abertura de uma discussão profunda e dialógica sobre a 
sua ocorrência e os eventuais danos que tal conduta ocasionou. Somente assim 
seria possível aplicar com eficiência todas as repercussões que estão previstas no 
art. 81 do CPC/2015. 
O que não pode faltar é o devido respeito ao contraditório e ampla defesa, 
bem como é vedado ao julgador, de ofício, aplicar penas processuais pelas hipó-
teses verificadas no art. 80 do CPC/2015, sem oportunizar a devida manifesta-
ção e provas pelas partes interessadas no resultado do julgamento por estar em 
contrariedade com as normas fundamentais do novo Código de Processo Civil 
e dar cabo ao cumprimento do art. 5º inciso LV da Constituição da República. 
161
A aplicação de ofício, em face de condutas ilícitas praticadas pelas partes 
no processo, de forma isolada, previstas no art. 80 do CPC/2015, torna muito 
difícil a efetiva aplicação do artigo 81 do CPC/2015. Portanto, não se consegue 
outra coisa, sem o contraditório, além da aplicação da multa. Indenização danos 
morais e materiais são impossíveis de serem fixados sem a devida discussão e 
produção de prova, pois como determina o art. 944 do Código Civil, o dano se 
mede pela sua extensão. 
Estamos defendendo o contraditório e ampla defesa em nome do processo 
democrático. Sem o devido contraditório fica praticamente impossível que tal 
condenação em indenização se realize, bem como a quantificação dos prejuízos 
causados pela parte infratora ou litigante de má-fé.
No Código de Processo Civil de 1973 e nos Tribunais brasileiros não 
verificamos a preocupação para evitar a decisão surpresa resguardar a garantia 
do contraditório e da ampla defesa. Pelo contrário, o que notamos, na prática 
cotidiana forense brasileira é que em nome da celeridade, decisões surpresas são 
proferidas a todo momento sem o devido contraditório,o que entendemos estar 
violando diretamente a Constituição. Apenas para demonstrar o que informamos, 
citamos algumas decisões do Superior Tribunal de Justiça que aplicam, de forma 
automática e autoritariamente, o art. 17 do CPC/1973, correspondente ao art. 
80 do CPC/2015, se entender sobre a necessidade de oportunizar as partes, o 
necessário contraditório, com base apenas na convicção pessoal do julgador. 
Vejamos:
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECUR-
SO ESPECIAL. LOCAÇÃO. PRORROGAÇÃO DO 
PRAZO. FIANÇA. NOVAÇÃO. RATIFICAÇÃO DA 
GARANTIA PELO FIADOR. EXONERAÇÃO. NÃO 
OCORRÊNCIA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. CONFI-
GURAÇÃO. AFASTAMENTO. SÚMULA 7/STJ. 1. 
Na prorrogação do contrato de locação, havendo cláusula 
expressa de responsabilidade do garante após a prorrogação 
do contrato, este deverá responder pelas obrigações poste-
riores, a menos que tenha se exonerado na forma dos artigos 
1.500 do Código Civil de 1916 ou 835 do Código Civil 
vigente. 2. Na hipótese, o Tribunal de origem identificou 
a ratificação expressa do fiador para estender a garantia 
fiduciária quando da novação. Não incidência da Súmula 
214/STJ. Precedentes. 3. A aplicação das penas do art. 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
162
17, I e II, do CPC, deu-se pela manifestação de fatos 
comprovadamente inverídicos, situação que não guarda 
semelhança com o simples exercício do direito de defesa. 
Rever tais fundamentos fáticos, somente com reexame do 
conjunto probatório, medida de impossível realização no 
âmbito do recurso especial, haja vista o óbice do enunciado 
7 da Súmula desta Corte. 4. Agravo regimental a que se 
nega provimento34. 
Repare que na presente decisão, o Superior Tribunal de Justiça enten-
deu que a aplicação do art. 17 do CPC/1973 (correspondente ao art. 80 do 
CPC/2015) não necessita da observância do contraditório e da ampla defesa, 
bastando para tanto que o julgador, em análise discricionária e solipsista, decida 
sobre a ocorrência ou não de litigância de má-fé.
 Outra decisão do Superior Tribunal de Justiça sobre a aplicação auto-
mática do art. 17 do CPC (correspondente ao art. 80 do CPC/2015) à parte 
faltante é essa:
RECONSIDERAÇÃO EM AGRAVO REGIMENTAL 
EM RECURSO ORDINÁRIO. RECURSO INTER-
POSTO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA. 
NÃO CONHECIMENTO. LITIGÂNCIA DE MÁ-
-FÉ. INTENÇÃO PROTELATÓRIA. MULTA. 1. Nos 
termos do art. 105, II, “b”, da Constituição Federal, não 
cabe interposição de recurso em mandado de segurança no 
âmbito desta Corte Superior contra decisão monocrática 
de relator. 2. Sendo evidente a intenção protelatória do 
exercício da jurisdição, mediante a interposição de re-
cursos e petições desprovidos de razão e notoriamente 
incabíveis, cabível a cominação de multa nos termos 
do art. 18 c/c o art. 17, VI e VII do CPC. 3. Pedido de 
reconsideração improvido35.
 Neste acórdão do Superior Tribunal de Justiça, mais uma vez, verificamos 
o desrespeito ao contraditório e ampla defesa na condenação em litigância de 
34 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial nº 242.123-SP, 
Quarta Turma. Relator: Min. Maria Isabel Gallotti. Brasília, 8 out. 2013. Diário de Justiça: 23 out. 2013.
35 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Pedido de Reconsideração no Recurso Ordinário em Mandado de 
Segurança nº 39.985-PA, Quarta Turma. Relator: Min. Luis Felipe Salomão. Brasília: 1 out. 2013. Diário 
de Justiça: 11 out. 2013.
163
má-fé. Entendemos que mesmo nos casos em que os autos já se encontrarem em 
sede recursal, o cumprimento ao contraditório deve ser observado. Isso significa 
que neste aspecto, não poderia o relator ter aplicado a pena prevista no art. 18 
do CPC, com similar correspondência no art. 81 do CPC/2015, apenas com 
base em entendimento formado e consolidado pelo anteriores votos e convicções 
formadas em seu trabalho junto ao Tribunal. Deveria, mesmo em sede recursal, 
instaurar, um micro procedimento de discussão e de demonstração de ocorrência 
ou não da litigância de má-fé. Do contrário e da forma como foi feita, mesmo 
informando a evidência de que houve a interposição de recurso manifestamente 
protelatório, entendemos que estamos diante de uma decisão arbitrária e incons-
titucional, em bases democráticas. 
 Portanto, dentro da constitucionalidade democrática e pelo novo Código 
de Processo Civil de 2015, especialmente os artigos 6º e 10º, e para o respeito ao 
contraditório e da ampla defesa, é preciso que o debate sobre o abuso do direito 
processual seja efetivamente discutido. Além, devemos permitir a amplitude de 
produção de prova e as discussões sobre a prática de atos de má-fé e de dolo pelas 
partes, bem como os prejuízos causados para fins de indenização. Do contrário, 
qualquer condenação em litigância de má-fé é um ato de autoritarismo e antide-
mocrático, o que desrespeita frontalmente a Constituição da República do Brasil.
 Os Tribunais brasileiros terão que mudar sua postura solipsista e con-
servadora, não podendo aplicar o art. 81 do CPC/2015 ex ofício sob pena de 
violação ao contraditório, à ampla defesa, ao Estado Democrático, à cooperação 
judicial e a vedação de decisão surpresa, o que em nosso entendimento, impede 
a decisão sobre a responsabilidade processual sem o devido debate e produção de 
prova necessários para tal. Ou se garante o art. 10 do CPC/2015 e o aplica em 
conjunto com o art. 81 do CPC/2015, ou teremos o desvirtuamento do novo 
Código de Processo Civil que irá repetir práticas antigas e antidemocráticas, o que 
não se espera com esse novo instrumento normativo processual e pela vigência 
incondicional do art. 1º. da CR/88. 
 
6 CONCLUSÃO
Pelas considerações acima expostas, podemos afirmar as seguintes 
conclusões sobre o abuso do direito processual e a sua técnica de repressão, 
quais sejam: 
a) A expressão abuso de direito é atualmente considerada pelos juristas 
como sendo o mau uso ou uso excessivo ou extraordinário do direito. Isso 
significa que a expressão abuso do direito nos remete à ideia de que alguém está 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
164
exercendo um ato ilícito em razão de um excesso. Assim, a expressão, de forma 
isolada, quer informar ao intérprete que o justo é exercer o direito, nem mais 
(abuso), nem menos (aquém). Etimologicamente, a expressão em latim abusos 
e abuti não possuíam a ideia de mau uso, mas significava um uso intenso, um 
aproveitamento completo da coisa ou do direito. Em termos atuais, a expressão 
abuso do direito obteve nova conotação, significando o excesso dos limites do 
poder da faculdade (facultas agendi) que o direito objetivo (normas agendi) 
confere ao indivíduo, na qualidade de sujeito de direito (sui iuris). 
b) Pelo Código Civil, art. 187 e 188, verificamos que o direito civil 
brasileiro estabeleceu os critérios para que possa ser configurado o abuso do 
direito, quais sejam: a) que o abuso do direito é um ato ilícito; b) esse ato ilícito 
deve ser praticado pelo titular do direito subjetivo; c) que tenha sido excedido 
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons 
costumes e d) que tenha sido o ato ilícito abusivo manifesto.
c) Violar uma regra de direito processual não é abusivo per se. Isso 
significa que o mau uso do direito processual não é um ato abusivo. Ou seja, 
se caso o recorrente interpõe um recurso ao invés de outro, isso, por si só não 
é um ato abusivo, mas somente um ato equivocado, um erro grosseiro, que 
não causa prejuízo a parte contrária e nem impede o regular andamento do 
processo. No entanto, um ato processual passa a ser abusivo quando o mesmo 
recurso é interposto, não com o fim específico de alterar a decisão jurisdicional, 
mas simplesmente, para retardar ou impedir a execução ou cumprimento da 
sentença. 
d) Violar uma regrade direito processual pode ter duas consequências. 
A primeira é eminentemente processual, uma punição para parte faltante 
estritamente dentro dos limites das faculdades, poderes e possibilidades das 
normas processuais. Assim, a ausência de apresentação de defesa no prazo 
correto é uma violação de norma processual e gera um ônus processual, qual 
seja, a revelia e a presunção de verdade sobre os fatos articulados pelo autor. 
No entanto, ocorre o abuso do direito processual, quando temos um ato 
aparentemente lícito, mas seus objetivos são reprováveis do ponto de vista da 
lealdade processual e boa-fé. Assim, abusando do direito processual, temos a 
possibilidade de aplicação de multa ou ainda a reparação dos danos. 
e) A boa-fé e lealdade processual não são elencos caracterizadores de 
uma moralidade ou eticidade processual, mas sim de elementos vinculados à 
observância do devido processo legal. Abusa do direito processual quem, de 
má-fé, busca empregar uma conduta processual com o objetivo de causar 
contrariedade à marcha processual, à eficácia das decisões e até mesmo à 
dignidade da justiça e da prestação jurisdicional. Toda litigância de má-fé é um 
165
abuso do direito processual. O abuso é gênero e a litigância é espécie. O dever 
de lealdade processual não deve ser levado em consideração, apenas entre as 
partes litigantes, mas sobretudo, por todos os sujeitos processuais, incluindo os 
juízes, membros do Ministério Público e terceiros. 
f ) O Código de Processo Civil brasileiro (1973) utilizou da metodologia 
discriminatória e enumerativa para indicar quais são os atos processuais 
considerados de má-fé e, portanto, passíveis de sancionamento processual e de 
reparação. É a mesma adotada pelo Código de Processo Civil de 2015. 
g) A melhor técnica para a repressão do abuso de direito processual e 
consequentemente a litigância de má-fé, não seria a aplicação de ofício pelo 
julgador, pois assim, estaria vedando o contraditório como garantia de vedação 
a uma decisão surpresa. Em nome da garantia do contraditório, verificando o 
juiz que aconteceu algumas das hipóteses previstas no art. 80 do CPC/2015, 
deve abrir, ainda que incidentalmente, nos próprios autos do procedimento, 
uma discussão paralela entre as partes sobre a ocorrência ou não da litigância 
de má-fé e seus eventuais danos. Isso significa dizer que se o julgador tomar 
a decisão pela aplicação de algumas punições por litigância de má-fé sem 
que haja o devido respeito ao contraditório, essa decisão estaria vedando a 
participação e seria, do ponto de vista democrático, uma decisão passível de 
anulação por absoluta falta de garantia do contraditório e da ampla defesa. 
É claro que não basta apenas que o julgador, no momento da verificação da 
litigância de má-fé, abra vista dos autos às partes para que possam sobre ela se 
pronunciar, há a necessidade também, atendendo ao disposto no art. 5º, inciso 
LV da Constituição da República, a ampla defesa, com a garantia de produção 
de todas as provas necessárias para demonstrar ou não a ocorrência de umas 
das hipóteses previstas no art. 80 do CPC. Não vislumbramos a necessidade 
de abertura de um incidente processual para a caracterização e verificação da 
ocorrência da litigância de má-fé, no entanto, se isso for necessário para evitar 
prejuízo às partes e às argumentações, verificamos que não existe nada no 
ordenamento jurídico brasileiro que desaconselhe tal prática. Se a discussão 
será feita nos próprios autos ou em incidente processual, isso revela uma 
preocupação com a economia processual. No entanto, o que não pode faltar, 
é o devido respeito ao contraditório e ampla defesa, bem como, é vedado ao 
julgador, de ofício, aplicar penas processuais, pelas hipóteses verificadas no art. 
80 do CPC, sem a oportunizar a devida manifestação e provas pelas partes 
interessadas no resultado do julgamento. 
h) Quando temos a verificação de um ato processual abusivo, com intuito 
de atrasar o processo e ferir a dignidade da justiça e sua prestação jurisdicional, 
estamos diante de uma violação de um direito fundamental, e a violação de um 
O PROCESSO CIVIL MODERNO – Em homenagem ao Professor Raimundo Cândido Júnior
166
direito fundamental deve ser punido de forma enérgica, com a aplicação de 
multa e indenização para ser pago pelo agressor, pois é inconcebível que direitos 
fundamentais seja flagrantemente violados pelas partes com o objetivo escuso 
de lesar a credibilidade do Judiciário e da parte contrária. Infelizmente, o que 
observamos no Brasil é que a presente discussão sobre a violação de direitos 
fundamentais e a possibilidade de reparação e aplicação de multa processual 
ainda está caminhando bem devagar, do ponto de vista prático. Apesar de grande 
parte da doutrina defender a possibilidade e até necessidade de responsabilizar 
o Estado pelas violações da garantia constitucional da duração razoável do 
processo, no Brasil ainda há grande resistência dos tribunais em condenar o 
Estado a indenizar o jurisdicionado nos casos.
 Os Tribunais brasileiros terão que mudar sua postura solipsista e 
conservadora, não podendo aplicar o art. 81 do CPC/2015 ex ofício sob pena de 
violação ao contraditório, a ampla defesa, ao estado democrático, à cooperação 
judicial e a vedação de decisão surpresa, o que, em nosso entendimento, impede 
a decisão sobre a responsabilidade processual sem o devido debate e produção 
de prova necessário para tal. Ou se garante o art. 10 do CPC/2015 e o aplica em 
conjunto com o art. 81 do CPC/2015, ou teremos o desvirtuamento do novo 
Código de Processo Civil que irá repetir práticas antigas e antidemocráticas, 
o que não se espera com esse novo instrumento normativo processual e pela 
vigência incondicional do art. 1º da CR/88. 
 
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