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AULA 6 GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS PARA TOMADA DE DECISÃO Prof. Carlos Ubiratan da Costa Schier 2 CONVERSA INICIAL Finalizando nossa conversa sobre gestão de custos e sua importância no processo de tomada de decisão nas organizações, temos de delimitar uma reflexão sobre a implantação e o gerenciamento de sistemas de custos, o que de fato deve ser considerado para fins de facilitar e consistir essa etapa importante e das mais delicadas no contexto empresarial. CONTEXTUALIZANDO Trataremos aqui de indicar a importância de um sistema de custos organizado, disponibilizando de forma simples as diversas etapas e variáveis a serem observadas no processo de implantação, e também sugeriremos um roteiro básico que visa facilitar esse procedimento. TEMA 1 – IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE CUSTOS 1.1 Implantação de um sistema de apuração de custos 1.1.1 Considerações preliminares As empresas, identificando a necessidade de controle, melhor avaliação de estoque e qualidade de informações para a tomada de decisões, acabam adotando um sistema de custos que nem sempre supre as necessidades da organização e esperam que os problemas sejam imediatamente solucionados, o que geralmente não ocorre. Nenhum sistema de custos é capaz de resolver todos os problemas, além de haver a necessidade de que o pessoal envolvido na implantação tenha conhecimento e treinamento que proporcione uma alimentação inicial ao sistema que seja consistente. Normalmente, o problema mais grave da implantação de um sistema de custos reside no despreparo do pessoal envolvido. Além disso, existe outro fator que contribui para o insucesso da implantação. Quando se resolve implantar um sistema já existente no mercado, corre-se o risco de ele não se adaptar às necessidades da organização. Existe ainda o fator de resistência das pessoas à implantação de um sistema de custos, pois, num primeiro momento, existe a sensação de aumento de controle específico ou de fiscalização. Por isso, existe a necessidade de antes, 3 durante e no período pós-implantação ficar bem claro quais são as intenções, a forma de implantação e os resultados esperados. A implantação do sistema de custos deve ser conduzida de forma gradativa, devendo ser escolhido um produto ou uma linha de produção para se efetuar um teste do sistema. Depois de aprovado, ele pode ser estendido aos demais produtos ou linhas de produção. Quanto mais simples, mais fácil será o processo de implantação do sistema. Em primeira instância, somente os custos mais relevantes devem ser apurados de forma precisa, e, à medida que houver maior comprometimento e conhecimento do pessoal sobre o sistema, os outros custos serão apurados da mesma forma. Os relatórios gerados pelo sistema deverão ser divulgados ao pessoal da produção para que possa constatar a importância e os resultados apurados por meio das informações fornecidas. 1.1.2 Análise custo versus benefício A implantação de um sistema de custos, principalmente quando é integrada à contabilidade geral, é onerosa para a empresa, pois demanda a utilização de pessoal especializado, além de envolver muita burocracia. Em decorrência desses fatores, fazem-se necessárias a análise e a prospecção de resultados para verificar se o custo com investimento no sistema será compensado. Às vezes, pode ser mais interessante para a organização manter um sistema de custos para fins gerenciais baseado no custeio variável, valorizado ao custo-padrão atualizado e valorizando os estoques para fins fiscais de acordo com os critérios estabelecidos pelo fisco. TEMA 2 – ROTEIRO PARA A IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE APURAÇÃO DE CUSTOS Vejamos alguns passos para essa implantação: É necessário conhecer a estrutura administrativa e gerencial da organização para que sejam definidos os objetivos a serem atingidos pelo sistema. Esses objetivos serão formulados de acordo com o nível de controles existentes e a necessidade de informações para a tomada de decisões. 4 É necessário que sejam feitas visitas à fábrica e entrevistas com o pessoal da produção para conhecer adequadamente o sistema de produção da empresa e seus produtos. Os “pacotes prontos” ou “receitas de bolo” nem sempre são adequados, pois podem não suprir as necessidades e particularidades da empresa. Após conhecer o sistema de produção, deverão ser identificados os centros de custo auxiliares e os produtivos. Essa definição é de suma importância para que haja incorporação adequada de custos aos produtos. Os produtos deverão ser decompostos para a identificação de todos os custos que ocorrem na produção. Normalmente, trata-se de mão de obra, matéria-prima e custos indiretos de produção, e o nível de detalhes de cada um desses custos depende do sistema a ser implantado e dos objetivos propostos. Deverão ser identificados os custos indiretos e diretos, que serão apropriados aos produtos. Deve-se identificar os custos mais importantes, utilizando-se o critério de análise de custo x benefício: os custos mais importantes devem ser mais bem controlados. A definição dos critérios de rateio demanda uma atenção maior, pois, se o custo for alocado indevidamente, pode distorcer, além do resultado de determinado produto, sua precificação. Deve-se ter o máximo de atenção na determinação dos critérios de rateio. Em função dos objetivos e do nível de detalhamento do sistema a ser implantado, deverão ser definidos os controles e as informações necessários, assim como apontamentos da produção em termos de mão de obra consumida, quantidades produzidas, material aplicado etc. O controle de estoque poderá ser manual ou informatizado, exigir controles paralelos, ser valorizado em várias moedas, ser baseado em custo histórico, padrão, ser valorizado pelo custo médio, Primeiro que Entra, Primeiro que Sai (PEPS) ou outro considerado adequado. Os formulários do sistema deverão ser: de fácil preenchimento, preenchidos e aprovados por pessoal adequadamente treinado para tais funções, de fácil controle (inserir numeração), conter somente informações úteis e de fácil entendimento. 5 Deverá ser definido se o sistema será ou não integrado à contabilidade, se a contabilidade utilizará Razão Analítico, se será garantido que todas as informações contábeis do razão estejam correspondidas nos relatórios auxiliares, se será efetuada conciliação das contas entre o razão e os relatórios auxiliares e de que forma. Devemos ainda definir quais relatórios de controle gerencial serão emitidos, qual seu conteúdo, quem serão os usuários, quais os prazos de apresentação e qual o tipo de acompanhamento, além do nível de integração do relatório com as demais informações e relatórios disponibilizados na organização. TEMA 3 – RELATÓRIOS GERENCIAIS Todo o trabalho do analista de custos será em vão se não for acompanhado de um sistema de relatórios, por meio dos quais se objetiva levar a resultados conclusivos e consistentes, para que os gestores da organização tenham base concreta com vistas à tomada de decisão e à gestão dos negócios. Uma das principais preocupações na elaboração dos relatórios decorrentes da análise de custos é torná-los compreensíveis para todos os usuários, e não somente para quem entende de finanças e de contabilidade. As principais características dos relatórios gerenciais são: as informações devem ser contidas num sistema de relatórios periódicos definido; as informações devem ser oportunas, antecipando-se ao momento da tomada de decisão; as informações devem ainda ser econômicas, isto é, não ter um custo de apuração maior que o benefício disponibilizado; as informações devem ter um nível de detalhamento que proporcione a leitura da situação com consistência; de forma resumida, um bom conjunto de relatórios deve ter utilidade, rigor e independência, consistência, clareza, concisão, oportunidade, economia e objetividade. Deve-se sempre proceder enquete junto aos colaboradores usuários dos relatórios com vistas a identificar possíveis falhas de informação, necessidade de novas informações, grau de utilidade dos relatórios etc. 6 Vamos à esquematização do sistema de relatórios gerenciais: 1. Situar adequadamente o subsistema contábil dentro do sistema global de informações. 2. Verificar junto aos responsáveis pelos departamentos quais as informações de que eles necessitam para desempenhar suas atividades. 3. Adaptar o grau de complexidade e a periodicidade do relatório ao ambiente e ao estilo da organização. 4. Sistematizar a coleta, o registro, o tratamento e a apresentação das informações. 5. Apresentar as informações e os dados da maneira mais simples possível, mesmo quando o assunto tratado for complexo. 6. Consultar especialistas no caso de necessidade de conhecimentos técnicos que fogem ao campo de conhecimento do contador. 7. Evitar linguagem e termos técnicos contábeis, pois nem todo mundo na organização está familiarizado com eles. 8. Conhecer as limitações do sistema de informações contábeis, considerando o fato de que nem todos os fatores e eventos importantes para a organização são mensuráveis em moeda. TEMA 4 – CUSTEIO POR ABSORÇÃO Método de custeio mais utilizado nas indústrias, aceito pela legislação tributária e fiscal. É compatível e consistente com o modelo de apuração de resultados definido pela legislação e apuração tributária, constituindo-se como um método de custeio que utiliza somente os custos da área industrial para formar os custos unitários dos produtos. Esse método se caracteriza por: utilizar os custos diretos industriais; utilizar os custos indiretos industriais, por meio de apropriação ou rateio; não utilizar gastos administrativos, comerciais ou financeiros, sejam diretos ou indiretos; dever lançar obrigatoriamente na Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) a soma dos custos dos produtos e serviços vendidos no período; 7 dever manter na conta de estoques no balanço patrimonial, no fim do período de apuração do resultado, a soma dos custos dos produtos e serviços não vendidos (produtos acabados ou em elaboração). TEMA 5 – APURAÇÃO DOS CUSTOS DIRETOS DOS PRODUTOS É a primeira e mais importante etapa da apuração dos custos por meio do método de controle e cálculo de custo por absorção, e também dos demais métodos, como, por exemplo, teoria das restrições, custeio baseado em atividades (ABC) e custeio integral. O custo direto no método de absorção deve ser separado em matéria- prima, materiais auxiliares e mão de obra direta. Convém ter disponível o cálculo de custo da mão de obra unitário, para direcionar mais adequadamente esse tipo de gasto no processo produtivo. O passo seguinte é o cálculo de absorção dos custos indiretos por unidade, distribuído de forma a considerar a quantidade produzida/vendida. O custo unitário do produto deve ser aposto à DRE, de forma a evidenciar o custo inerente à quantidade vendida. FINALIZANDO Nesta aula, vislumbramos tratar de todo o processo de gestão de custos, a fim de contribuir para o processo de tomada de decisão, indicando a importância estratégica e competitiva que um sistema de gestão de custos baseado em controles, qualidade, agilidade, informações consistentes e voltado para a melhor utilização dos recursos disponíveis (para fins de aplicação na produção ou comercialização de bens ou serviços) tem na gestão e na sustentabilidade dos negócios. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica OLIVEIRA, E. C. et al. Utilização da gestão de custos para tomada de decisão: um estudo em hotéis de Porto de Galinhas no município de Ipojuca-PE. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CONTABILIDADE. Disponível em: <https://docplayer.com.br/5154719-Utilizacao-da-gestao-de-custos-para-tomada- 8 de-decisao-um-estudo-em-hoteis-de-porto-de-galinhas-no-municipio-de-ipojuca- pe.html>. Acesso em: 13 ago. 2020. Artigo que contempla o processo de gestão em hotéis e o processo de tomada de decisão com base em gestão e racionalização de custos. Texto de abordagem prática PADOVEZE, C. L.; DIAS, E. A. Os diferentes métodos de custeio e sua implicação na apuração de custo do produto: um estudo de caso em empresa de graxas e óleos industriais. Gestão e Sociedade, Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-22, 2007. Disponível em: <https://www.gestaoesociedade.org/gestaoesociedade/article/view/564>. Acesso em: 28 maio 2018. Esse texto trata do reflexo e da utilização de métodos de apuração de custos na apuração de custos dos produtos. Saiba mais Filmes A VERDADE dos bastidores. Direção: Davis Guggenheim. EUA: 2006. 100 min. Filme sobre processo de gestão e controladoria. O HOMEM que mudou o jogo. Direção: Bennett Miller. EUA: 2011. 133 min. Temática de gestão de negócios e motivação ao controle e às mudanças com vistas ao sucesso organizacional. Artigo HATAKEYAMA, K.; PURCIDÔNIO, P. M. Gestão de custos um fator de sobrevivência para as empresas. In: SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 25., 2006, Bauru. Anais... Bauru: SIMPEP, 2006. p. 1-6. Disponível em: <http://www.simpep.feb.unesp.br/anais/anais_13/artigos/305.pdf>. Acesso em: 28 maio 2018. Artigo que indica a gestão estratégica de custos como fator importante na sustentabilidade dos negócios. 9 REFERÊNCIAS MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. PADOVEZE, C. L. Curso básico gerencial de custos. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cengage Learning, 2011. SCHIER, C. U. da C. Gestão de Custos. 2. ed. rev., ampl. e atual. Curitiba: IBPEX, 2011a. _____. Gestão prática de custos. 1. ed. 4. reimp. Curitiba: Juruá, 2011b.