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Fisiol Rev 96: 1593-1659, 2016
Publicado em 14 de setembro de 2016; doi:10.1152/physrev.00002.2016
DE FITOCANABINÓIDES A RECEPTORES CANABINÓIDES E ENDOCANABINÓIDES: PAPÉIS FISIOLÓGICOS E PATOLÓGICOS PLEIOTRÓPICOS ATRAVÉS DA FARMACOLOGIA COMPLEXA
Alessia Ligresti, Luciano De Petrocellis e Vincenzo Di Marzo
Endocannabinoid Research Group, Institute of Biomolecular Chemistry, National Research Council, Olivetti District, Pozzuoli, Itália
Ligresti A, De Petrocellis L, Di Marzo V. De Fitocanabinóides a Receptores de Canabinóides e Endocanabinóides: Funções Pleiotrópicas Fisiológicas e Patológicas através da Farmacologia Complexa. Fisiol Rev 96: 1593-1659, 2016. Pub- Terminou 14 de setembro de 2016; doi:10.1152/physrev.00002.2016.- parte de ter sido usado e mal usado por pelo menos quatro milênios para, entre outros, recreação e
fins medicinais, a planta cannabis e os seus componentes químicos mais peculiares, os cana- binoides (fitocanabinóides), têm o mérito de ter levado a humanidade a descobrir um dos mais intrigantes e pleiotrópicos sistemas de sinalização endógena, o sistema endocanabinóide (ECS). Este artigo de revisão visa descrever e discutir criticamente, da maneira mais abrangente possível, os aspectos multifacetados de 1) a farmacologia e potencial impacto na fisiologia dos mamíferos de todos os principais fitoanabinóides, e não apenas do mais famoso A9-tetra-hidrocanabinol, e 2) o papel fisiológico homeostático adaptável, ou patológico mal-adaptativo, do ECS nas células, tecidos e órgãos dos mamíferos. Ao fazê-lo, respeitamos a ordem cronológica dos marcos da rota milenar da cannabis medicinal/recreativa para o ECS e mais além, pois agora é claro que alguns dos primeiros passos neste longo caminho, que originalmente eram negligenciados, estão se tornando importantes novamente. O quadro emergente é bastante complexo, mas ainda apoia a crença de que descobertas mais importantes sobre a fisiologia humana, e novas terapias, podem vir no futuro a partir de novos conhecimentos neste campo.
	I. INTRODUÇÃO: CANNABIS E...
	1593
	peror Shen-Nung alegadamente prescreveu cannabis no dia 28 de
	II. CANNABIDIOL
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	século A.C. para muitos males. A descrição escrita mais antiga...
	III. A9-TETRA-HIDROCANABINOL
	1598
	A data da cannabis medicinal remonta a cerca de 2350 a.C.,
	IV. FITOCANABINÓIDES MENOS ESTUDADOS
	1605
	sobre uma pedra dos Textos das Pirâmides do Velho Reino
	V. SATIVEX
	1607
	em Memphis, Egipto. Como droga, tem permanecido em uso activo
	VI. CONCLUSÕES: SÃO...
	1608
	durante os tempos faraónicos e subsequentemente numa sucessão
	VII. O SISTEMA ENDOCANNABINOIDE
	1608
	de papyri médico. Na Assíria (cerca de 800 a.C.) foi
	VIII. PAPEL FISIOLÓGICO DA ÊXTASE
	1613
	chamado gan-zi-gun-nu ("a droga que tira a
	IX. RESUMO: EM QUE FISIOLOGIA...
	1623
	mente") ou azallu (quando usado como terapêutico), sugerindo
	X. PAPEL DOS ECS NO...
	1623
	a dualidade da sua actividade e os seus efeitos bifásicos em muitos
	XI. RESUMO: QUE PATOLOGIA...
	1630
	sintomas. Foi usado para tratar a epilepsia nocturna (918),
	XII. CONCLUSÕES GERAIS
	1630
	de acordo com os conhecimentos actuais sobre o anticon...
	
	
	efeitos vulcânicos dos seus principais componentes, o canabidiol
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Download de journals.physiology.org/journal/physrev na CAPES-UFMG (150.164.037.013) em 28 de fevereiro de 2020.
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I. INTRODUÇÃO: CANNABIS E CANABINÓIDES, DROGAS ANTIGAS ENTRE ANEDOTAS E FACTOS
A planta Cannabis sativa e as suas muitas preparações (por exemplo, marijuana e haxixe) têm sido usadas para mil lennia para recreação e medicina. Na China antiga, a canábis era indicada para numerosas doenças, mas quando era tomada em excesso, era descrita para "tirar a mente". Em-
(CBD) (670) e A9-tetra-hidrocanabinol (A9-THC) (895). Na Índia, na antiga Pérsia e nos anos da sociedade árabe medieval, o uso da canábis prosseguiu como medicinal e rec- racional (560), mas os seus efeitos farmacológicos na hu- mans só foram descritos com mais precisão em meados do século XIX, quando O'Shaughnessy (635) notou a capacidade de sobrevivência da canábis no tétano, na Índia, em 1839, e, portanto, o seu uso como relaxante muscular e antiespasmódico na Grã-Bretanha e na América do Norte- ica.
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FISIOPATOFARMACOLOGIA DOS FITO/ENDOCANABINÓIDES
Estas observações "milenares" anedóticas e médicas levaram a tentativas de isolar os constituintes ativos da cannabis no século XIX, quando o primeiro "canabinóide", chamado cana-nabinol (CBN), foi isolado. Contudo, a estrutura química deste composto não foi elucidada até os anos 30. Na tentativa de entender a base molecular da atividade psicotrópica cana- bis, um análogo CBN, A6a,10a-tetrahy- drocannabinol (A6a,10a-THC), foi sintetizado em uma mistura racêmica e demonstrou possuir atividade farmacológica semelhante à da maconha (489). Assim, foi feita a hipótese de que o(s) composto(s) psicoativo(s) da planta estava(m) quimicamente relacionado(s) ao A6a,10a-THC, que agora é conhecido por ser muito menos potente do que o verdadeiro constituinte psicotrópico da maconha A9-THC. Um derivado da A6a,10a-THC sintética foi administrado a um pequeno número de crianças com epi- lepsia e mostrou resultados positivos (560).
Até à data, foram identificados mais de 100 canabinóides quimicamente e biossinteticamente relacionados no fluxo da canábis - como tal ou após a sobremesa - em quantidades relativas, dependendo da variedade da planta. Eles foram difíceis de purificar até os anos 60, quando muitos canabinóides, incluindo CBD (567) e A9-THC (282), foram isolados, sua síntese química iniciada e seu signo farmacológico e fisiológico investigado (207). Esses com- libras característicos são metabólitos lipofílicos de resorcinol e são des-fitocanabinóides para distingui-los dos - dez endocanabinóides e canabinóides sintéticos estruturalmente diferentes, mas farmacologicamente análogos (678).
Loewe (488) descobriu que os extractos de canábis induzem catalepsia em ratos e que a CBN (agora conhecida por ser um artefacto) re-produz este efeito, embora muito menos potente. Estas descobertas levaram ao desenvolvimento por Pertwee em 1972 de um ensaio in vivo quan- titativo para canabinóides psicotrópicos, conhecido como o "teste do anel", no qual é determinada a actividade cataléptica (676). Mais tarde Martin usou este ensaio juntamente com outros três, medindo hipocinesia induzida por canabinóides em campo aberto, hipotermia retal e antinocicepção avaliada com testes de batida de cauda ou placa quente; juntos, isto é conhecido como o "tétrade do rato" das ações canabimimimimiméticas (535). O A9-THC é o único fitocanabinóide totalmente ativo e muito potente nos quatro testes, devido à sua atividade no receptor canabinóide tipo 1 (CB1) (671).
Estudos sobre A9-THC levaram à descoberta de receptores CB1 em 1988 (204), e de N-arachidonoyl-etanolamina (AEA), ou anandamida (da palavra Sankrit ananda para "felicidade"), o primeiro ligante endógeno para tais receptores (ou "endo- canabinoide") em 1992 (205). Graças às investigações sobre o A9-THC, sabemos agora que 1) o sistema de sinalização fisiológica composto pelos receptores canabinoides CB1 e canabinoides tipo 2 (CB2), endocanabinoides e a maquinaria bioquímica para produzir e degradar estes lípidos, conhecido como "sistema endocanabinoideanoide" (ECS), está envolvido na maioria, se não em todos, os aspectos da fisiologia dos mamíferos e
patologia (209); 2) moléculas baseadas em ECS são potenciais drogas para mais de uma doença, apesar da com- plexidade emergente deste sistema; e 3) enzimas sintéticas e degradantes endocanabinóides também participam da regulação dos níveis de outros sinais endógenos e influenciam a atividade também de receptores não-canabinóides (191). Nunca menos, do ponto de vista do desenvolvimento de novas terapias para a infinidade de condições patológicas em que o ECS estáenvolvido (ver seitas VII-X), outros fito-canabinóides, que não são totalmente capazes de interagir com este sistema, estão surgindo como não sendo menos importantes que A9-THC (ou drogas sintéticas baseadas em ECS), e possivelmente menos problemáticos em termos de segurança/eficácia. Por esta razão, decidimos revisar aqui primeiro o nosso conhecimento atual sobre os fitocanabinóides e os mecanismos fisiológicos que eles regulam, começando pela CDB, o primeiro fitocanabinóide natural cuja estrutura foi elucidada; e depois focar o A9-THC, e sua sub-estratégia fisiológica mais conhecida, a ECS, na segunda parte do artigo.
Enquanto abordamos estes tópicos, tentamos ser o mais com- pre-ticipantes possível e afinar nossas idéias pessoais sobre o que é mais ou menos importante na farmacologia dos fitocanabinóides e na fisiologia do endocannabi-noids. De fato, em apenas 10 anos, nossas opiniões, e as de muitos outros, sobre o que fazer com o conhecimento em rápida evolução neste campo mudaram consideravelmente, assim como as abordagens que visam desenvolver novas terapias a partir dos componentes da Cannabis e do ECS. É provável que voltas semelhantes voltem a ocorrer num futuro próximo, uma vez que a nossa compreensão das implicações destas questões ainda está para ser resolvida. Nunca- theless, o que parece actualmente ser os aspectos mais bem definidos foram destacados aqui e ali no texto, e resumidos nas duas tabelas.
II. CANNABIDIOL
A. Farmacologia Molecular
A CDB é o principal componente não psicotrópico da Cannabis sativa e tem atraído interesse pelo seu potencial terapêutico em vários estados da doença investigados em modelos animais (673). É ansiolítica, antidepressiva, antipsicótica, anticonvulsiva, antinausea, antioxidante, antiinflamatória, antiartrítica e antineoplásica. Dentro do sistema nervoso central (SNC), a CDB é protetora em modelos animais de epi- lepsia, ansiedade, psicose e doenças dos gânglios basais, como as doenças de Parkinson e Huntington.
A CDB não elicia o clássico "tetrad" mediado pela CB1 de hipolocomoção, analgesia, catalepsia e hipotermia (490), de acordo com sua baixa afinidade com os receptores CB1: Ki = 1,5 µM em humanos; 4,9 e 4,8 µM em camundongos; 4,3 e
2,3 µM para deslocar [3H]CP-55,940 ligação às membranas cerebrais de ratos; 1,3 e 1,8 µM para deslocar [3H]SR141716A em ensaios de ligação das membranas cerebrais de ratos; e até > 10 µM para
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LIGRESTI ET AL.
deslocar [3H]HU243 ligação às membranas cerebrais dos ratos (ver Ref. 556 para uma meta-análise).
A actvidade funcional da CDB nos receptores CB1, avaliada usando ensaios de ligação [35S]GTPμS, não foi mensurável no rato (854) e muito baixa, se houver, no rato (100, 682). Experimentos com o vaso do rato deferente mostraram que a CDB pró-dutos antagonismo fraco dos agonistas receptores CB1 (IC50 =
3,35 µM) (680). Um estudo recente, ainda a ser confirmado por outras investigações, aponta a CDB como um modulador alérgico negativo da CB1 (454).
A CDB exibe um agonismo inverso fraco no CB2, uma ação que pode ser responsável pelo seu antagonismo de CP55940 no receptor CB2 humano com um Ki = 4,2 ± 2,4 µM nas membranas celulares CB2 CHO humanas e 0,75 ± 0,30 µM no CB2 HEK293 humano (556).
A CDB pode agir como agonista "indireto" CB1/CB2 pela fraca inibição da hidrólise enzimática da AEA [IC50 28 µM em membranas de células de camundongos (73, 478); e 10 -15 µM em mem- branes de cérebro de rato (193, 472)] e o suposto transportador de AEA em roedores (IC50 11-25 µM) (73, 712). A CDB também pode aumentar os níveis dos outros endocanabinóides, 2-arachidonoylg- lycerol (2-AG), como visto no periaqueduto cinza de camundongo (519), ou células cancerígenas colorrectais (24). Assim, alguns efeitos da CDB são bloqueados por agonistas inversos dos receptores CB1 ou CB2 (79, 113, 115, 124, 183, 464, 519, 715), ou são
ausentes em ratos eliminadores de receptores CB1 (922).
A CDB modula a atividade dos receptores órfãos de proteína G acoplada (GPCRs) sugeridos para serem ativados por endocan- nabinoides e lipídios relacionados (ver abaixo). No GPR18, a CDB atua como agonista parcial e antagoniza A9-THC (550); além disso, pode antagonizar o GPR55 (142, 147, 475, 763),
837, 914).
A CDB exibe atividade em ensaios funcionais de diversos chan- nels pertencentes à família de potenciais receptores transitórios (TRP), a saber, TRPV1 (73, 193), TRPV2 (193, 702) e TRPA1 (193, 196, 702) de ratos,
enquanto que antagoniza o rato TRPM8 (193, 196). Tem affin- ity para TRPV1 em ensaios de ligação (EC50 1,0 ± 0,1 µM) (73), e sua atividade direta em TRPV1, TRPV2 e TRPA1 foi confirmada por eletrofisiologia de patch-clamp (377). Através da ativação/desensibilização do TRPV1, modula a ansiedade (111) e a dor (155). A CDB modula [Ca2+]i também via canais tipo T (743) ou tipo L (10, 231), ou usando mitocôndrias como fonte de Ca2+, de forma prevenida por um inibidor de troca Na+/Ca2+, mas não por um inibidor de transição de permeabilidade mitocondrial (762).
A CDB exibe modulação alostérica positiva dos receptores de glicina a1 e a1þ na faixa de micromolares baixos (7). A análise NMR revelou uma interação direta entre CBD e S296 no terceiro domínio transmembrana de glicina purificada a3 Gly
receptor, que medeia a sua supressão da dor crónica (926).
A CDB ativa os receptores PPARμ (633), cujo bloqueio atenua os efeitos inibidores da CDB sobre a gliose reativa e subseqüentes danos neuronais (248), a neurageneração acionada por Aþ (783) e a progressão tumoral (713).
A CDB inibe o transporte de nucleósidos de equilíbrio (timidina e adenosina) (122) e adenosina, mina de dopa- e absorção de glutamato em terminais nervosos striatais de ratos (656). Em modelos animais de inflamação, seus efeitos são frequentemente bloqueados por antagonistas dos receptores de adenosina (122, 126, 482, 515, 519, 534, 559, 640, 725).
A CDB tem leve afinidade com o receptor 5-HT1A (760), e alguns de seus efeitos são pelo menos em parte inibidos por antagonistas do receptor 5-HT1A (112, 244, 297, 529, 572, 667, 807, 907, 938). Existem poucas evidências para sua modulação dos receptores adrenérgicos a1 (679) e dopamina D2 (900) e seu aumento a longo prazo da ligação do receptor GABAA (491) ou modulação alostática dos receptores µ- e 6-opioides (425).
A CDB mobiliza o ácido araquidônico (AA) estimulando a atividade da fos-folipase A2 (103, 722) e inibe o metabo-lismo do AA ao leucotrieno B4 por 5-lipoxigenase (541). Umedece a produção de óxido nítrico (NO) em modelos animais de inflamação aguda e crônica (24, 152, 162, 247, 267),
600, 654, 758), a expressão de citocinas inflamatórias e fatores de transcrição [interleucina (IL)-1þ, IL-2, IL-6, IL-8, fator de necrose tumoral (TNF)-a, interferon (IFN)-μ, CCL3, CCL4, NF-nB]. (39, 419), e a produção de Cies de oxigênio reativo (ROS) (320, 767). No entanto, em muitos tipos de células cancerosas, a CDB é capaz de gerar ROS, induzindo assim citotoxicidade ou apoptose e autofagia (478, 540, 543, 547, 552, 610, 862). A CDB também melhora a função mitocondrial e melhora a biogênese mitocondrial in vivo sob condições patológicas (327).
Finalmente, a CBD aumenta a metilação do DNA do gene da queratina 10, reduzindo assim os níveis de queratina 10 mRNA por um mecanismo dependente da CB1. Neste sistema, a CDB se comporta como um repressor transcripcional que controla a proliferação e diferenciação celular (698).
Em resumo, a CDB exibe atividade moderada em uma ampla gama de alvos moleculares, o que permite seu uso potencial em uma série de condições patológicas. Recentemente, essa natureza multidirecional foi prevista para se adequar aos pré-requisitos etiopatológicos de doenças tão diversas quanto epilepsia e colite ulcerativa, com uma relação benefício/risco favorável (101).
Particularmente com compostos multitarget como a CBD, ao discutir a potencial relevância farmacológica in vivo das atividades observadas in vitro em diferentes alvos com
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diferentes gamas de concentrações, deve-se sempre fazer duas perguntas: 1) Assumindo igual eficácia, qual é a baixa potência de est in vitro num determinado alvo, necessária para que um com- libra selectiva nesse alvo produza um efeito in vivo que se deve exclusivamente à interacção com esse alvo (como demonstrado através da utilização de ferramentas farmacológicas selectivas ou ge- netic)? 2) A baixa potência em um determinado alvo, quando combinada com atividades igualmente não tão potentes em outros alcatrões, permite que um composto multitarget exerça efeitos in vivo que são mediados também por esse alvo (por causa de efeitos sinérgicos entre os alvos)? Para responder à primeira pergunta, é necessário testar vários compostos alvo único e identificar qual é a "potência mínima necessária in vitro" para ver a atividade in vivo que é bloqueada por um antagonista, ou ausente em um nocaute, para esse alvo. O que normalmente se verifica é que esta potência mínima requerida varia, também por ou - ders de magnitude, dependendo do alvo (enzimas vs receptores vs canais) e tipo de ensaio (afinidade vs func- tional) utilizado. Para agonistas de canal TRPV1 ou inibidores de hidrólise/reabsorção de AEA, por exemplo, atividades na faixa de baixos micromolares têm se mostrado suficientes para pro- duce efeitos diretos mediados por TRPV1 ou efeitos indiretos mediados por canabinóides re-ceptores in vivo, enquanto que para agonistas diretos CB1 ou CB2, a afinidade de ligação deve estar na faixa de baixos micromolares. Assim, é possível que, por exemplo, um agonista TRPV1 completo com EC50 de 500 nM em um ensaio de imagem Ca2+ se comporte como um agonista TRPV1 "seletivo" in vivo, mesmo que também exiba um Ki de 500 nM em um ensaio de ligação para CB1. A resposta à segunda pergunta é geralmente positiva se a atividade monitorada in vivo for influenciada por todos os vários alvos do composto em estudo, conforme elegantemente detalhado na referência 657. Portanto, o mínimo necessário de po- tência in vitro em um determinado alvo, necessário para ver a atividade in vivo mediada também por esse alvo, pode diminuir sensivelmente se um composto for capaz de interagir também com outros alvos.
B. Uso terapêutico
1. Psicose
Os sintomas psicóticos podem ser tratados com a CDB. Por exemplo, os sintomas psicóticos podem ser tratados com a CDB,
1) uma paciente feminina com esquizofrenia tratada oralmente com CDB durante 26 dias apresentou uma melhora da sintomatologia não alcançada com haloperidol (946). 2) o tratamento com CDB mostrou uma diminuição significativa da sintomatologia sem efeitos adversos em seis pacientes (945). 3) Um ensaio clínico duplo-cego e randomizado com CDB produziu uma prova clínica significativa, semelhante ao amisulpride antipsicótico, mas com menos efeitos colaterais (472).
Embora o modo de ação da CDB não seja totalmente subestimado, existem pistas de que ela pode 1) reverter o sensorimotor que é deficiente em pacientes com distúrbios psicóticos, como encontrado em ratos de forma mediada pelo TRPV1 (492), e 2) inibir a absorção celular e a hidrólise enzimática da AEA, aumentando assim os níveis deste endocanabinóide potencialmente antipsicótico (ver abaixo) (73, 472).
A CDB também é protetora contra os efeitos psicóticos agudos do A9-THC ou da cetamina em voluntários saudáveis (423), talvez a primeira indicação de sua potencial atividade antipsicótica. A CDB oral antes da A9-THC (600 mg, administrada
3,5 h antes de 1,5 mg A9-THC iv) inibiu tanto a paranóia como o comprometimento da memória episódica (243). Era hipotético que a CDB, em combinação com um receptor de CB1, poderia ter como alvo os componentes metabólicos, inflamatórios e relacionados ao estresse do fenótipo da esquizofrenia (731). De fato, a CDB pode atenuar as respostas imunológicas associadas a distúrbios psicóticos (182), pois inibe tanto a pró-dução de citocinas pró-inflamatórias quanto a microglia acti- vação (534).
2. Epilepsia
A CDB atenua convulsões induzidas em animais (347, 670). Produz efeitos antiepileptiformes e anticonvulsivos em modelos in vitro e in vivo (406, 407). A regulação da homeostase de Ca2+ pela CDB através de vários mecanismos pode contribuir para estas ações, particularmente para as sei- zuras parciais ou generalizadas. No entanto, o(s) mecanismo(s) molecular(is) exato(s) deve(m) ser re-elucidado(s). A CDB pode inibir a propagação de convulsões no SNC por uma ação sobre GABA, mas é ineficaz contra convulsões induzidas por estricnina (157). Ativação/desen- zitização de TRPV1 e TRPV2, que são expressas em extensão variável no hipocampo e são sugeridas para participar da epilepsia, podem estar envolvidas na redução da CBD da hiperatividade neuronal na epilepsia (377).
Entre as crianças com epilepsia resistente ao tratamento, aquelas com epilepsia precoce e grave, como Dravet's syn- drome e Lennox-Gastaut's syndrome, têm os maiores problemas de desenvolvimento neurológico e, devido à alta taxa de convulsões, necessitam de terapias mais eficazes (636). Testes pré-clínicos em murino recentemente desenvolvido mod- els da síndrome de Dravet sugerem a eficácia da CDB neste contexto (206). Estudos preliminares de acesso aberto expandido em várias formas de epilepsia pediátrica não tratável (www. gwpharm.com/GWPandGovNewSouthWales271015.aspx) mostram resultados promissores. Os ensaios controlados por placebo são ongo- ing, um dos quais acaba de ser relatado num comunicado de imprensa e confirma a eficácia do canabidiol na síndrome de Dravet (www.gwpharm.com/GW%20Pharmaceuticals%20Anno- unces%20Positive%20Phase%203%20Pivotal%20Study-
%20Resultados%20para%20Epidiolex%20cannabidiol.aspx).
3. Ansiedade
As propriedades ansiolíticas da CDB em diferentes modelos animais (11, 587) são, pelo menos em parte, mediadas por receptores de 5-HT1A pós-sinápticos (112, 938). Assim, a CDB atenua as respostas autonômicas agudas associadas ao estresse em ratos, facilitando a neurotransmissão mediada por receptores 5-HT1A (266, 724). Também reduz os efeitos ansiogênicos do estresse e facilita a extinção das memórias de medo em ratos, neste caso através da ativação indireta dos receptores CB1 (79).
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Em humanos saudáveis, a CDB reverte os efeitos ansiogênicos do A9-THC e reduz a ansiedade numa tarefa simulada de fala pública (65). Além disso, aumenta a consolidação da extinção explícita do medo (180).
4. Dormir
A CDB modula o ciclo sono-vigília (para uma revisão, ver Ref. 614). No entanto, existem evidências contraditórias sobre o efeito deste canabinóide sobre o sono, incluindo ambas as melhorias
(118) e diminuição após a administração sistêmica (584). A administração sistêmica a ratos machos durante o período de luz aumenta a porcentagem total de sono (133), enquanto que o manejo de alerta é observado após a injeção no hipotálamo lateral ou no núcleo do ráquis dorsal (612, 613).
5. Neuroproteção e doenças neurodegenerativas
A CDB é um potente antioxidante e, portanto, pode ser um neuroprotetante para o tratamento de doenças neurológicas, como a doença de Alzheimer (AD), a doença de Parkinson (DP) e a doença de Huntington (HD), nas quais as ROS desempenham um papel (262). Ela mostra eficácia contra o dano cerebral produzido por diferentes tipos de insultos e, em um modelo de isquemia neonatal, seus efeitos neuroprotetores são devidos à ativação de múltiplos receptores (126). Durante condições inflamatórias, a CDB altera a expressão de ~1.200 genes, muitos dos quais controlados por fatores nucleares envolvidos na regulação das respostas ao estresse e inflamação (411). Os efeitos antiinflamatórios da CDB também foram relacionados ao controle da mi-gração de células microgliais (898), à produção subseqüente de mediadores pró-inflamatórios e ao controle inibitório do sinal de NF-nB e do NO sintase induzível (246). Outros mecanismos incluem 1) ativação do receptor 5-HT1A no AVC (335);2) inibição da captação de adenosina (122); e 3) inibição do dano neuronal induzido pelo peptídeo þ-amilóide (Aþ), um efeito mediado pela via de sinalização Wnt-þ-catenin, desempenhando um papel na ativação do GSK-3þ induzido pela amilóide e na hiperfosforilação do tau na AD (247).
A CDB é eficaz em um modelo experimental de parkinson (ratos com 6-hidroxidopamina) agindo através de mecanismos anti-oxidantes independentemente dos receptores de canabinóides (283), e atenua a distonia relacionada à DP, mas não o tremor (159), de acordo com uma correlação positiva entre a relação N-acetilaspartate-total de creatina e os níveis de CDB medidos no pálido de putamen/globus de usuários rec- racionais de maconha (342).
Em ratos lesionados com ácido 3-nitropropiônico, um inibidor de toxinas do ciclo do ácido cítrico mitocondrial, resultando em uma deterioração locomotora em progressão, semelhante à dos níveis de HD pa-, a CDB reduz a atrofia striatal do rato (767), de forma independente da ativação dos receptores canabinoides, TRPV1 e adenosina A2A. Em ratos lesionados com malonato, ao invés disso, a CDB sozinha não oferece proteção (766). Clin-
Estudosicais mostraram que a CDB, com uma dose média diária de ~700 mg/dia durante 6 semanas, não é eficaz em pacientes com DH (158).
6. Ischemia
A CDB reverte o dano cerebral causado pela isquemia cerebral em camundongos e gerbos (565). O efeito protetor da CDB não produz tolerância e é canabinoide receptor-inde- pendente, de longa duração, e observado tanto quando administrada antes como depois da isquemia (333). Em leitões recém-nascidos com pós-hipóxia-isquêmica causada pela oclusão temporária de ambas as artérias carótidas, a CDB neutraliza o comprometimento hemo-dinâmico cerebral e melhora a atividade metabólica cerebral, enquanto reduz o edema cerebral e as convulsões associadas a essa condição, e produz efeitos benéficos cardíacos, hemodinâmicos e ventilatórios (13).
Em condições de isquemia cerebral, a CDB produz efeitos anti-inflamatórios, como inibição de células monócitos/macrófagos que expressam células de alta mobilidade1 (HMGB1, uma proteína que liga o DNA que é translocada do núcleo para o citoplasma celular induzindo a ativação de microglia no cérebro após a isquemia), e redução do número de células Iba1- positivas no estriato (333). Os efeitos benéficos da CDB contra a excitotoxicidade, estresse oxidativo e inflamação são parcialmente mediados pelos receptores CB2 e 5-HT1A (667).
A CDB produz efeitos antinecróticos em corações isquêmicos (815) e reduz o tamanho do enfarte em modelos de isquemia-reperfusão em ratos (233) e coelhos (255). Diminui a inflamação miocárdica atenuando a peroxidação lipídica e reduzindo os níveis de glutationa e diminuindo o iNOS expres- sion no miocárdio (327). A CDB atenua a ex-pressão iNOS também em um modelo de lesão de isquemia-reperfusão hepática (600) e em corações diabéticos e em cardiomiócitos humanos, e reduz a alta geração de ROS induzida pelo glicose-induzido (709). A CDB mostra efeitos benéficos em modelos de roedores de infarto do miocárdio e complicações diabéticas (365). Finalmente, uma dose sinusal aguda de CDB (50 mg/kg iv) causa efeitos antiarrítmicos contra arritmias ventriculares induzidas por isquemia (896), aparentemente através de receptores de adenosina A1 (300).
7. Dor, inflamação, auto-imunidade e doenças da retina
A CDB é eficaz na dor neuropática e inflamatória em roedores (162), através de ações em alvos envolvidos no controle da nocicepção, incluindo a inibição da hidrólise enzimática da AEA e a ativação indireta de reeptores de canabinóides; ativação/desensibilização dos canais TRPV1 e TRPA1 (162); ativação do receptor 5-HT1A; e em hibição dos transportadores de nucleósidos de equilíbrio, o que causa elevação da sinalização da adenosina, analgesia e em hibição da inflamação. Todos estes alvos estão implicados, por exemplo, na ativação da CDB do antinócito descendente...
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(519). A ativação dos receptores de glicina está subjacente a parte dos efeitos da CDB em modelos de dor aguda e crônica (925, 926).
As propriedades anti-inflamatórias e citocinas modulatórias da CDB (336, 419, 551) são tais que a sua administração resulta na atenuação de várias condições auto-imunes em modelos animais, incluindo a en-cefalomielite auto-imune experimental (447), artrite reumatóide (524), colite
(89), diabetes (912), e psoríase (916). De fato, a CDB tem sido sugerida como um tratamento promissor também para a miocardite auto-imune e possivelmente outras disor- dades auto-imunes, e pode ser útil para o transplante de órgãos (466). Muito recentemente, os resultados positivos de um estudo de fase II que avaliou a segurança e eficácia da CDB na prevenção da doença aguda do enxerto-versus-hospedeiro foram relatados (931).
A CDB pode ser benéfica para a desordem neurodegenerativa da retina, como a retinopatia diabética e o glaucoma. A CDB pro- vides neuroproteção, preservação da barreira hemato-encefálica e ações anti-inflamatórias no modelo de estreptozotocina do tipo 1 diabetes (237). O efeito protetor contra danos na retina induzidos por diabéticos pode ser devido à inibição da absorção de adenosina (482).
8. Emesis
A CDB é eficaz em modelos animais de náuseas e vômitos antecipados ou condicionados. Estes efeitos antinausea/anti- eméticos são mediados pela ativação de receptores somatoden- dritic 5-HT1A no núcleo do ráfago dorsal (662, 732).
9. Formação óssea e cura de fraturas
A CDB exerce efeitos benéficos na formação óssea e na cicatrização da fratura (443) e reduz a reabsorção óssea in vivo em camundongos. O antagonismo do GPR55, que suprime a formação de osteoclastos, mas estimula a função osteoclasta, parece anular os efeitos negativos da CDB sobre a função osteoclasta (914). A migração e diferenciação das células-tronco mesenquimais (CEM) são conhecidas por desempenhar um papel central na formação óssea e na cicatrização de fraturas, e a CDB promove a migração das CEM para locais de regeneração do tecido calcificante através da ativação de receptores de CB2, e para induzir a diferenciação osteoblástica através da inibição da RGD55 (780). A CDB também controla a reabsorção óssea durante a progressão da periodontite experimental em ratos (617).
10. Câncer
A CDB exerce efeitos antiproliferativos/proapoptóticos (IC50 na faixa de 5-25 µM) em várias linhas de células tumorais, incluindo mama humana, carcinoma da próstata e colorretal, adenocarcinoma gástrico, glioma de rato e células da tireóide transformadas (478). Nas células do carcinoma da próstata humana, apoptose de CDB nos ductos e expressão de PUMA e CHOP, dois
marcadores de vias apoptóticas intrínsecas (194). A produção de ROS é pelo menos em parte responsável pela atividade antitumoral do fitocanabinóide, tanto in vitro (194, 478, 539, 547) quanto in vivo (800).
A capacidade da CDB de inibir a viabilidade celular cancerígena e a pró-vida pode ser revertida in vitro na presença de bloqueadores de CB2, TRPV1, TRPM8, cyclooxygenase-2 (COX- 2), ou PPARμ (revisto na Ref. 548), e in vivo na presença de um antagonista PPARμ (713). Além disso, a CDB é capaz de inibir a invasão e metástase de células cancerosas (478, 548, 715). Essas ações, em células cancerosas humanas altamente agressivas, são em parte mediadas pela inibição do fator de crescimento epidérmico (EGF), NF-nB, ERK/AKT e metástase matricial - vias de sinalização das aloproteases 2 e 9 (238). A CDB também reduz a angiogênese através de ações sobre as células tumorais e endoteliais (809) (FIGURA 1).
III. A9-TETRA-HIDROCANABINOL
A. Farmacologia
A9-THC é uma alta afinidade (valores de Ki na faixa nanomolar baixa), agonista parcial (eficiências inferiores às de alguns agonistas sintéticos) nos receptores CB1 e CB2, os dois receptores acoplados à proteína G identificados para este composto em muitos vertebrados superiores e organismos mamíferos (544, 609). CB1 e CB2 são conhecidoscomo os "receptores canabinoides - tors" embora, entre os muitos fitocanabinoides, eles sejam ativados apenas por A9-THC e, em menor grau, por CBN. A importância fisiológica e patológica multifacetada dos receptores CB1 e CB2, e da via de sinalização com eles associada, será discutida em seções subseqüentes deste artigo. Antes da caracterização molecular desses receptores, o A9-THC mostrou inibir o acúmulo de AMPc em células neuronais de forma específica, indicando um local de ação específico (369, 562). Utilizando um potente canabinóide análogo sintético, este local de ligação foi identificado no cérebro em 1988 (204), e dois anos depois demonstrou ser idêntico a um GPCR previamente clonado órfão, mais tarde denominado CB1 (544). O CB2 foi clonado por homol- ogy com CB1, e demonstrou ser abundante no sistema imunológico (609). Sabemos agora que níveis baixos de CB2 estão presentes no cérebro, muito da mesma forma que a menor expressão de CB1 é encontrada na maioria dos tecidos periféricos.
Dos dois enantiómeros, apenas o natural (-)-trans-A9- THC se liga aos receptores canabinoides clonados com valores de nano- molar Ki. Ele produz a maioria de seus efeitos centrais em animais saudáveis ativando os receptores CB1, incluindo o "tetrad" dos efeitos canabimimiméticos mencionados acima (671). Quando um antagonista do receptor CB1 e ratos CB1 nulos foram desenvolvidos, foi demonstrado que estes efeitos estão ausentes quando o CB1 é farmacológico ou geneticamente inativado (535, 943). A9-THC e outros agonistas receptores de CB1 atuam no cérebro através de receptores neuronais pré-sinápticos de CB1 para
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LIGRESTI ET AL.
 (
eCBs
Δ9-THC
eCBsΔ9-THC
AEA
CDB
CB1
AC
CB2
TRPV1
Outros alvos (também intracelulares)
Gi/o
Gi/o
AMP
(
Intrinsic
 [Ca2+
]
i
pathway)
ROS
cAMP
( COX-2; PPAR
 pAKT; NOX4...)
Ca2+
ERK
PKA
Ceramide
ER
stress
Apoptose
Caminho Mitocondrial
P27/p21
p38MAPK
Ciclins
PI3K
Akt
Núcleo
mTOR
ROS
Apoptose
Ciclo Celular
Fragmentação da
cell
 condensaçãoCorpos
 ópticos
Autofagia
Proliferação
Caspases
Angiogénese
)CBD (CBG)
	
	
	Migração
	
	
	
FIGURA 1. Representação esquemática das principais vias de sinalização através das quais os (endo)canabinóides impactam a proliferação, apoptose, migração e angiogênese no câncer. Setas azuis indicam caminhos iniciados por mecanismos canabinoides/vanilóides mediados por receptores, e setas vermelhas indicam mecanismos não canabinoides/vanilóides mediados por receptores. As linhas contínuas indicam estimulação, e as linhas pontilhadas indicam inibição. AC, adenilil ciclase; CBD, canabidiol; CBG, canabigerol; eCBs, endocannabinoides; ER, retículo endoplasmático; A9-THC, A9-tetrahidrocanabinol; PKA, proteína quinase A; AKT, proteína quinase B; PI3K, fosfatidilinositol 3-cinase; ERK, cinase extracelular regulada; MAPK, proteína quinase ativada por mitógeno; mTOR, mamífero alvo de rapamicina; ROS, espécies reativas de oxigênio; p27/p21, proteínas inibidoras da quinase dependente da ciclina.
inibir a libertação contínua de neurotransmissores, um efeito partilhado pelos endocanabinóides libertados de forma endógena (838). De fato, quando o A9-THC é administrado agudamente in vivo, ele exibe tanto ações "excitatórias" quanto "inibitórias" nos bioensaios comportamentais. Essas ações duplas são devidas a muitos fatores. 1) Por ser um agonista parcial, o A9-THC ou ativa diretamente os receptores CB1 ou atenua o "tom" dos agonistas endocanabinóides completos e, portanto, tanto imita como bloqueia as ações neuromodulatórias mediadas por endocan- nabinóides. 2) Mais uma vez, por causa de sua eficácia relativamente baixa, a densidade e a eficiência do acoplamento da proteína G dos receptores CB1 em diferentes ar- fáceis influenciam a potência do A9-THC. No rato, a densidade de CB1 é muito maior no cerebelo, substantia nigra pars re- ticulata, globus pallidus, caudato-putamen lateral e hip- pocampus do que na amígdala, tálamo, hipotálamo e tronco cerebral, porém o acoplamento da CB1 às proteínas G é marcadamente mais eficiente no hipotálamo do que no córtex, cerebel- lum ou hippocampus (144). 3) Os receptores CB1 são expressos tanto nos terminais glutamatérico-gicos inibitórios GABAérgicos como excitatórios no cérebro, e embora o primeiro seja mais abundante que o segundo, o "glutamatérico-CB1" parece ser ativado por concentrações mais baixas de A9-THC do que o "GABAérgico-CB1". Assim, o A9-THC pode reprimir os glúteos...
A libertação de mate em concentrações inferiores às necessárias para inibir a libertação de GABA, conduzindo frequentemente a respostas em forma de sino "inibi-tório" (578). Finalmente, os meca-nismos multisinápticos podem ser responsáveis pelos efeitos "excitatórios" mediados pela CB1 de A9-THC, como a ativação das vias antinoci- ceptivas descendentes (517).
Apesar da sua afinidade nanomolar para receptores canabinoides, outros alvos têm sido ocasionalmente sugeridos para participar nos efeitos farmacológicos do A9-THC. Existe contro- versy em relação à sua afinidade e eficácia para o GPCR órfão, GPR55, para o qual foram relatados valores de EC50 de 8 nM em um ensaio de ligação [35S]GTPμS (763) e 5 µM para aumentos em [Ca2+]i tanto em células de camundongos quanto em células humanas de GPR55-expressão HEK293, bem como em gânglios radiculares dorsais de camundongos (460). Ao invés disso, com o uso de ensaios de internalização e þ-arrestin, nenhum sinal de ativação A9-THC do GPR55 foi detectado (420). A9-THC ativa o GPR18 na migração
(550) e þ-arrestin (723), e aumenta tanto [Ca2+]i como MAPK nas células HEK, expressando estaticamente este re-ceptor (156). Muito mais trabalho é necessário para apoiar a alegação de que GPR55 e GPR18 são verdadeiros receptores canabinoides - tors.
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A9-THC inibe diretamente as correntes através de receptores hu- man 5-HT3A recombinantes independentemente dos receptores canabinoides - tors (IC50 = 38 nM), agindo alostericamente em um local modulatório destes receptores (33). O efeito é independente da concentração agonista de 5-HT3A, sugerindo uma inibição não competitiva, e varia com a densidade do receptor na superfície da membrana celular (927). Assim, o A9-THC diminui a neurotransmissão de 5-HT e a liberação de glutamato nos nu- cleus accumbens, induzindo uma imobilização semelhante à catalepsia (772). A inibição dos receptores de 5-HT3 pode contribuir para as ações farmacológicas na nocicepção, emese e outros distúrbios neurológicos do fitocanabinóide. As evidências apontam também para a modulação dos comportamentos A9-THC tipicamente mediados pela ativação do receptor 5-HT2A (178, 305). Tanto os receptores CB1 e 5-HT2A in vitro quanto in vivo parecem formar heterômeros funcionalmente ativos em regiões específicas do cérebro, que parecem ser necessários para alguns efeitos cognitivos e ansiolíticos do A9-THC, mas não para antinocicepção e hipoaspiração (884).
A9-THC potencializa diretamente os receptores de glicina através de um mecanismo alostérico e dependente da concentração, com valores de EC50 de 86 ± 9 nM para receptores a1 homoméricos humanos, 73 ± 8 nM para subunidades a1þ1 heteroméricas em oócitos Xenopus laevis oocytes expressando receptores humanos de glicina, e 115
± 13 para neurónios isolados da área tegmental ventral do rato (337). Os grupos hidroxila de A9-THC e S296 nos receptores de glicina são críticos para esta interação. Alguns efeitos analgésicos de A9- THC estavam ausentes em ratos sem receptores de glicina a3, mas não naqueles sem receptores de canabinóides (928).
Existem fortes evidências de uma fraca interacção de A9-THC com TRPV2, como sugerido pela medição da elevação de Ca2+ intracelular em células HEK293 transfectadas com TRPV2 cDNA recombi- nante (EC50 43 µM para TRPV2 humano; EC50 16 µM e 0,65 ± 0,05 µM para TRPV2 de rato) (193, 623).
Como o TRPV2, assim como outros TRPs, é dessensibilizado por suas listasanteriores [com IC50 0,8 ± 0,1 µM para dessensibilização do A9-THC ao efeito da lisofosfatidilcolina no rato TRPV2 (193)], estes achados podem explicar algumas das propriedades anti-inflamatórias e analgésicas do canabinóide. Além disso, o TRPA1 é ativado por A9-THC (EC50 12 ± 2 µM), um efeito responsável pela vasodilatação das artérias mesentéricas de ratos independente do CB1/CB2 (409). Dados sobre o TRPA1 recombinante de ratos confirmaram que A9-THC activa o canal [com EC50 32,3 µM (702) ou 0,23 µM (196), dependendo do ensaio funcional utilizado]. De notar também que o endocanabinóide AEA estimula o TRPA1 (EC50 4,9 µM) (192). Finalmente, A9- THC antagoniza o efeito estimulante do mentol e icilina, dois agonistas da TRPM8, na elevação intracelular Ca2+ em células HEK293 transfectadas com TRPM8 recombinante de rato [IC50 0,15 ± 0,02 µM contra mentol e 0,16 ± 0,01 µM contra icilina (196)]. Em geral, o A9-THC parece ser menos eficaz que a CDB e outros fitocanabinóides na modulação de canais TRP termo-sensíveis.
A9-THC inibe todos os três subtipos humanos de canais CaV3 recombi- nantes (IC50 CaV3.1, 1,6 µM; IC50 CaV3.2,
1,3 µM; IC50 CaV3,3, 4,3 µM) e as correntes nativas do tipo T do rato em neurónios sensoriais do trigémeo agudamente isolados (743) e células do neuroblastoma NG-108-15 (129). Os canais do tipo T estão envolvidos em uma grande variedade de processos fisiológicos -icais (revisados na Ref. 668), que A9-THC também afeta, incluindo nocicepção, sono, epilepsia e modulação da excitabilidade neuronal. A9-THC também inibe (IC50 2,4 µM) os canais Kv1.2 através de um mecanismo de CB1- e pertussis toxina- insensível (689). Outro efeito observado com potencial relevância para a analgesia é sua modulação dos canais de sódio por volta da idade (859). Finalmente, também tem havido relatos de que o A9-THC inibe algumas enzimas em concentrações de micro molares: 15-lipoxigenase (IC50 2,42 µM) (840); Na+-K+-ATPase; monoamina oxidase (IC50 24,7 µM) (265); citocromo P-450 enzimas CYP1A1, CYP1A2, CYP2B6, e CYP2C9 (825); e Mg2+-ATPase (677).
Em resumo, muitos alvos parecem ser modulados in vitro por A9-THC a concentrações micromolares. No entanto, considerando que apenas baixas doses deste composto são toleradas per se, tanto em ambientes pré-clínicos como clínicos, permanece pouco provável que outros alvos além de CB1 e CB2 participem da farmacologia in vivo do A9-THC.
B. Uso Terapêutico e Efeitos Colaterais
Um análogo sintético de A9-THC, nabilone (Cesamet; Valeant Pharmaceuticals North America), foi aprovado em 1981 para a supressão das náuseas e vômitos produzidos pela quimioterapia (674). O sintético A9-THC, dronabinol (Ma- rinol; Solvay Pharmaceuticals), foi posteriormente licenciado em 1985 como antiemético e em 1992 como estimulante do apetite (674). A capacidade do A9-THC de estimular o receptor CB1 é paradoxalmente a principal razão e o inconveniente contra o seu uso terapêutico. Na verdade, como discutido abaixo, os efeitos psicotrópicos e o risco potencial de efeitos secundários cardíacos, tolerância e dependência, limitam a aplicação do A9-THC na terapia.
1. Doenças do metabolismo de energia
Como será discutido em detalhes na seção seguinte, o ECS tem sido implicado na regulação fisiológica da apelação, após observações iniciais sobre a capacidade dos agonistas re-ceptores CB1, incluindo A9-THC, de induzir hiperfagia (917). É amplamente aceito que a administração de A9-THC aumenta o valor de incentivo dos alimentos e a motivação para ingerir alimentos palatáveis, enquanto os antagonistas/agonistas inversos dos receptores CB1 produzem efeitos opostos (220).
A9-THC aumenta a atividade hedônica induzida pela sucção e a liberação de pamina no núcleo acumbens (185), enquanto o antagonismo CB1 reduz o aumento da liberação de dopamina
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(569). No entanto, embora o A9-THC agudo produza efeitos hi-perfágicos em ratos (393) e ratos (34), ad- ministração crônica do composto não resulta em aumento de peso corporal. Isto pode ser devido a 1) a capacidade do A9-THC de dessensibilizar os receptores CB1, de induzir respostas aversivas ou de agir como agonista parcial/antagonista in vivo (212); 2) a diferente contribuição do CB1 em terminais glutamatérgicos ou GABAergic para produzir efeitos hiperfágicos ou hipofágicos, respectivamente, como demonstrado através do uso de ratos nocauteadores condicionais CB1 sem CB1 em neurônios pop- ulation (55); e 3) a recente descoberta de que a ativação do receptor CB2 reduz, ao invés disso, o peso corporal e a massa gorda em ratos obesos (881).
Os efeitos periféricos também foram descritos. O A9-THC crônico pode induzir uma diminuição diferencial do tecido adiposo subcutâneo em relação ao tecido adiposo intra-abdominal. Foi delineado um conjunto de meca-nismos moleculares envolvidos no acúmulo de gordura nos adipócitos influenciados pelo A9-THC (208), incluindo adipogênese e diminuição da lipólise (852). Recentemente, foi demonstrado que o A9-THC crônico previne o ganho de peso corporal induzido por uma dieta rica em gordura através de efeitos sobre a microbiota intestinal (150).
2. Cachexia e anorexia
Algumas das sintomatologias geralmente relacionadas com um balanço energético negativo frequentemente observado no cancro ou na SIDA (isto é, falta de apetite e ingestão de alimentos e aumento da energia ex-pendência) podem também estar associadas a outras condições patológicas como o envelhecimento, anorexia nervosa ou várias formas de demência, incluindo a AD (644). Como mencionado acima, há evidências clínicas documentando a eficácia do terapeu- tic sintético A9-THC em algumas destas dietas con- dicionais (54, 688). Em particular, alguns estudos relataram a eficácia do A9-THC em estimular o apetite e o ganho de peso em pacientes com câncer e AIDS (435), ou em pacientes com DA com anorexia (889).
3. Dor e inflamação
A9-THC reduz fortemente a nocicepção em modelos animais de dor aguda, visceral, inflamatória e crônica (367). Seis testes que incluíram 325 pacientes examinaram dor crônica, e seis testes que incluíram 396 pacientes investigaram dor neuropática. Marijuana ou canabinóides produziram resultados positivos em vários desses estudos (349). Assim, o A9-THC exerce efeitos antinociceptivos em testes pré-clínicos de nocicepção aguda (87) e de dor crônica tanto de origem neuro-patológica (197) quanto inflamatória (163). A atividade antinoci- ceptiva do A9-THC na dor aguda é mediada apenas pelo receptor CB1 e pelo CB1 e CB2 na dor crônica (163). O A9-THC é muito eficaz na redução da dor muscular quando administrado localmente, onde apenas os receptores CB2 ap- perados são visados, evitando assim o conhecido efeito colateral central indesejável (29).
De acordo com o importante papel do ECS na regulação da função imunológica e da inflamação (revisado
abaixo e no Ref. 104), A9-THC modula a citocina (por exemplo, TNF-a, IL-1þ, IL-6, IL-12, e IL-10) e a quimiocina pro-dução, a expressão de moléculas de adesão, e a mi-gração, proliferação e apoptose de células inflamatórias (439, 899).
4. CNS
Dificuldades cognitivas, aparentemente associadas a alterações na transmissão sináptica e expressão funcional das subunidades receptoras de glutamato, podem ser observadas com doses elevadas de A9-THC (251, 324, 577). O A9-THC causa regulação, internalização e endocitose dos receptores de glutamato ou aumenta a liberação sináptica e astrocítica do tamato de glutamato, elevando assim os níveis de glutamato extracelular (251, 324). Curiosamente, a expressão reduzida dos transportadores de glutamato em animais expostos ao A9-THC é atenuada pelos inibidores de COX-2 (138).
A) NEUROPROTEÇÃO. A9-THC protege o cérebro de insultos neuronais agudos vari- ous e melhora os sinais de degeneração neurológica em modelos animais de esclerose múltipla (EM), DP, HD, esclerose lateral amiotrófica (ALS) e AD (258). Possíveis mecanismos subjacentes a esses efeitos protetores envolvem a ativação de receptores canabinoides,enquanto que os outros são independentes dos receptores. Em alguns casos, a proteção é devida a um efeito direto sobre as células neuronais, enquanto em outros resulta de efeitos sobre elementos não neuronais dentro do cérebro. Os mecanismos incluem modulação das transmissões glúteo-matérgicas excitatórias e plasticidade sináptica (288, 358, 772, 788); modulação das respostas imunológicas e liberação de mediadores inflamatórios (104); modulação dos receptores de excitabilidade, N-metil-D-aspartato (NMDA), gap junc- tions e [Ca2+]i (321, 919); e propriedades antioxidantes (323). O A9-THC protege os neurônios primários de cultura contra a toxicidade mediada por kainato de forma dependente de CB1 (2) e exerce efeitos neuroprotetores em um modelo de excitotoxicidade in vivo induzida por ouabain (870). Entretanto, foi sugerido que os efeitos neuroprotetores contra a isquemia de A9-THC são mediados quase exclusivamente por seus efeitos hipotérmicos mediados por CB1-medi-ated (334).
B) ESCLEROSE MÚLTIPLA. Os pacientes com EM são conhecidos por auto-medi- cate com cannabis para aliviar os sintomas da EM, tais como a mus- cle spasticidade. Os medicamentos à base de cannabis foram aprovados para o tratamento da dor e espasticidade da EM (revisto na Ref. 693). Assim, em um modelo de rato de encefalomielite auto-imune experimental crónica recorrente (EAE), que modela a espasticidade da EM, a administração de taxas de amelio- A9-THC, enquanto o antagonismo CB1 exacerba, a espasticidade e os tremores (31). Além disso, em ratos com EAE, a A9-THC re-dutos inflamação do SNC, melhora o resultado neurológico e prolonga a sobrevida (498). Embora um ensaio clínico de 3 anos, fase III não tenha detectado um efeito benéfico do A9-THC oral na EM progressiva, pessoas com menos incapacidade mostraram uma progressão lenta em relação ao placebo (695). O tratamento de 15 semanas de tratamento de pacientes com EM com dose tolerada de
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A9-THC melhorou a incontinência urinária, mas não mod- se a espasticidade, medida usando a escala Ashworth, embora o seguimento de 12 meses deste estudo tenha evidenciado um efeito anti-espasasticidade significativo (273, 936, 937). Os ensaios clínicos subsequentes não conseguiram demonstrar qualquer efeito no progresso da doença - após tratamento a longo prazo com A9-THC (935).
C) A DOENÇA DE HUNTINGTON. O A9-THC (ou seu nabilone analógico sintético) não mostrou eficácia ou mesmo aumento dos movimentos coreográficos em HD (606). A falta de eficácia apesar das claras ações inibitórias locomotoras do composto pode ser devida ao fato da expressão do CB1 ser significativamente reduzida no tecido HD humano post mortem (293), e em um modelo de comprometimento da DH (458) quimicamente induzido, tanto os níveis de CB1 quanto a sinalização foram observados nos gânglios basais como uma das primeiras alterações da doença.
D) SÍNDROME DE GILLES DE LA TOURETTE. A9-THC foi sugerido para ser eficaz no tratamento de tiques e problemas comportamentais na síndrome de Gilles de la Tourette (para uma revisão, ver Ref. 604). Entretanto, apenas dois estudos controlados investigaram sua eficácia no tratamento desta síndrome (605, 607) e relataram eficácia contra tiques, mas nenhuma melhora no desempenho neuropsicológico.
E) DOENÇA DE ALZHEIMER. Vários estudos produziram novas especulações sobre o possível papel do ECS nos processos neurodegeneradores associados à inflamação (899), incluindo o AD (72) (ver abaixo), caracterizado pela formação de placas neuriticas ricas em Aþ peptídeo. Em um modelo animal de AD, o tratamento com A9-THC (3 mg/kg) uma vez ao dia durante 4 semanas reduziu o número de placas þ-amilóides e neurônios degenerados, embora esse efeito exigisse a presença de um inibidor de COX-2 (138). O A9-THC preserva a memória em camundongos quando administrado cronicamente durante o estágio sintomático precoce em um modelo de camundongo transgênico da DA, e a coadministração com CDB reduziu o comprometimento do aprendizado e os níveis de peptídeo Aþ-42 solúvel, a forma mais neurotóxica de Aþ (23).
Os únicos estudos clínicos disponíveis com A9-THC na AD abordaram a sua possível utilização para controlar alguns dos sintomas e não o progresso desta doença. Tratamento com
2,5 mg dronabinol diariamente por 2 semanas melhorou significativamente a pontuação total do Inventário Neuropsiquiátrico para agitação e comportamentos motores e noturnos aberrantes (901), e seis outros pequenos estudos mostraram benefícios significativos do sine-tético A9-THC sobre agitação e agressão na DA (484).
F) EPILEPSY. Vários grupos investigaram os potenciais efeitos anti-epi-lepticos do A9-THC (revisto nas Refs. 200, 497). Como - sempre, embora originalmente acredita-se ser um anticonvulsivo, o A9-THC tem uma variedade de efeitos dependendo da dose, modelo experimental e espécies animais utilizadas (497). A administração única de A9-THC resulta em um hiperexcit hiperexcit no SNC em camundongos, com excitação neuronal melhorada.
capacidade e aumento da sensibilidade às convulsões (422). Assim, as evidências atuais argumentam contra o uso de A9-THC como anticonvulsivo por causa de suas curvas dose-resposta em forma de sino e muitas vezes imprevisíveis em modelos animais de convulsões e epilepsia.
G) ESQUIZOFRENIA. Parece que a transmissão hipoglutamatérgica e hipodopaminérgica no córtex pré-frontal está envolvida nos sintomas negativos, enquanto que a hiperactividade da neurotransmissão de dopamina nas pró-jecções mesencefálicas para o núcleo acusa nos sintomas positivos da esquizofrenia. Assim, o uso de altas quantidades de mari juana e A9-THC pode produzir sintomas psicóticos em indivíduos saudáveis, incluindo ansiedade, alucinações e déficits cognitivos, que se assemelham à esquizofrenia (174), e exacerbar transitoriamente os déficits psicóticos e cognitivos em pacientes esquizofrênicos (173). O A9-THC pode causar sintomas psicóticos transintencionais agudos tanto em indivíduos saudáveis quanto em pacientes esquizofrênicos (593), que podem estar relacionados à liberação de dopamina no estriato, como mostrado em humanos (68, 94) e no núcleo accumbens e córtex pré-frontal em modelos imal (847). No entanto, pacientes esquizofrênicos frequentemente se auto-medicam com maconha. É provável que a ativação sistêmica de receptores CB1 de diferentes populações neuronais no cérebro por A9-THC exógeno produza efeitos que podem ser globalmente diferentes daqueles causados pela ativação "endógena" local e mais específica de tais receptores pela AEA, que em vez disso foi sugerida para ser protetora contra a psy- chosis (veja abaixo). O rimonabant agonista inverso CB1 (20 mg/dia durante 16 semanas) não melhorou o func- tamento cognitivo global em pacientes magros (85), mas atenuou vários sintomas em sujeitos esquizofrénicos obesos (427). Estes re-sults juntamente com a melhora dos sintomas observados em um pequeno grupo de pacientes que, em vez disso, receberam dronabi- nol (781), confirmam que o papel dos receptores A9-THC e CB1 na psicose é bastante complexo.
H) A ANSIEDADE E O MEDO. As propriedades ansiolíticas do sinto-tético A9-THC analógico nabilone foram demonstradas pela primeira vez em um ensaio clínico em 1981 (250). Após a descoberta dos re-ceptores do CB1, foi sugerido que os mecanismos mediadores dos efeitos ansiolíticos do A9-THC envolvem receptores CB1 e não CB1 [por exemplo, receptores 5-HT1A (98)]. Através de um mecanismo mediado pelo CB1, baixas doses de A9-THC aumentaram o tempo gasto em braços abertos, um índice de efeitos semelhantes aos ansiolíticos, em ratos, e, concomitantemente, diminuíram as quantidades de c-Fos no córtex pré-frontal e amígdala e os aumentos de CREB fosforilado no córtex pré-frontal e no bolbo de quadril (755). A resposta é específica para cada espécie porque, em camundongos, o A9-THC produz, em vez disso, uma redução dose-dependente do tempo gasto no braço aberto (664). Essas diferenças podemser devidas à diferente resposta dos neurônios GABAergicos e glutamátricos à ativação do CB1 em ratos e camundongos, assim como à diferente expressão/distribuição dos receptores CB1 (319). Assim, em ratos, uma dose baixa de A9-THC injetada no córtex pré-frontal provoca efeitos ansiolíticos,
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enquanto que na amígdala basolateral produz uma resposta anx- iogénica (752). Doses altas geralmente induzem respostas anx- iogênicas em roedores (490, 755). A expo- certeza de A9-THC em ratos adolescentes induz um fenótipo tipo depressivo na idade adulta (720, 756). Em humanos, a variabilidade inter individual nas respostas à canábis pode despencar num amplo espectro de factores, como as concentrações relativas de A9-THC e outros fitocanabinóides (846).
Os receptores CB1 medeiam a extinção de memórias aversivas, como mostra a descoberta de que sua deficiência genética ou farmacológica em ratos leva a uma extinção prejudicada em um teste de condicionamento do medo (533). Mesmo antes destes dados serem publicados, e novamente depois, descobriu-se que o A9-THC facilita a extinção do medo (21, 310). A administração do A9-THC durante a aprendizagem da extinção facilita a ex-tinção ao evitar a recuperação do medo extinto em ratos. O composto interrompe a reconsolidação de uma memória contextual de medo de forma dependente da ativação do CB1 localizado em sub-regiões pré-frontais do córtex pré-frontal medial e da recuperação/reativação da memória (823). Em hu- mans, o dronabinol oral impede a recuperação do medo (706).
Em resumo, A9-THC promete o tratamento de algumas condições relacionadas com a ansiedade, em particular distúrbios de stress pós-traumático e fobias, para as quais estão em curso ensaios clínicos em Israel (808).
I) SLEEP. A insónia é o distúrbio do sono mais comum, e a sua causa é muitas vezes desconhecida, embora muitas vezes possa ser uma consequência de uma doença crónica associada ao stress, dor ou depressão. Evidências experimentais mostram que a tra- tração administrativa do A9-THC promove o sono tanto em humanos quanto em animais. A ativação do CB1 leva à indução do sono de uma forma bloqueada por um antagonista seletivo do CB1 (para uma revisão, ver Ref. 611), o que, por si só, aumenta a excitação (774). Entretanto, um estudo duplo-cego e controlado por placebo em oito voluntários mostrou que não houve efeitos sobre o sono nocturno de 15 mg A9-THC, que só produziu seda-tion (625).
J) EMESIS. As náuseas e vómitos podem apresentar-se como sintomas de diferentes doenças ou como consequências secundárias da quimioterapia ou radioterapia do cancro. Para esta última indicação, o A9-THC é um agente terapêutico eficaz (317, 662). O A9-THC inibe os receptores 5-HT3, cuja activação parece desempenhar um papel dominante na emese aguda (930). Os receptores CB1 e 5-HT3 colocam-se em neurônios GABAergicos com efeitos opostos na liberação de GABA (586). Curiosamente, o A9-THC em combinação com um agonista da TRPV1 elimina completamente a emese induzida por cisplatina de forma aditiva (179). A superioridade da eficácia anti-emética dos canabinóides (nabilone, A9-THC ou levonantradol), em comparação com as drogas con- venosas e placebo, foi demonstrada através de uma meta-análise (508).
5. 
Perturbações gastrointestinais
A Cannabis tem um uso milenar na diarreia. A9-THC causa diminuição da função motora gástrica em parte devido à ativação dos receptores CB1 na medula dorsal e nos nervos vagais (450). No modelo de ácido 2,4,6-trinitrobenzeno sulfônico de colite aguda em ratos, o A9-THC reduz tanto os marcadores de em inflamação quanto a motilidade do cólon (387). Um interessante relato de re-centavos mostrou que o tratamento crônico de rhesus ma- caques com A9-THC induz a expressão de microRNA antiinflamatório intestinal durante a síndrome de imunodeficiência aguda do símio (135).
Em um ensaio clínico, 10 dos 11 pacientes com doença de Crohn ativa que fumaram maconha apresentaram redução da inflamação sem efeitos colaterais (615). A melhora da dor e dos sintomas diarréicos na doença inflamatória intestinal também foi relatada, embora o uso de maconha em pacientes com doença de Crohn esteja associado com maior risco de cirurgia (824).
6. Perturbações cardiovasculares
As preocupações relacionadas com a potencial toxicidade das preparações de Cannabis concentraram-se principalmente no risco dos seus efeitos neuropsiquiátricos, tendo sido dada pouca atenção às complicações cardiovasculares. De fato, em uma variedade de estados patológicos (desde endotóxicos, hemorrágicos e choque cardiogênico, cirrose hepática avançada e cardiomiopatia cirrótica) a ativação dos receptores cardiovasculares CB1 contribui para a hipotensão e a função cardiovascular comprovada (644). Além disso, nos diomyocytes do carro, a sinalização acionada por CB1 pode conduzir à toxicidade cardio-cardio- promovendo a espécie reativa do oxigênio/nitrogênio - MAPK ativação-celular da via da morte (599). No entanto, os efeitos importantes do A9-THC sobre a pressão arterial e freqüência cardíaca (408) também podem ser explorados terapeuticamente. A injecção intravenosa deste composto causa uma esponja bradicárdica inicial e hipotensão prolongada (452, 893), estando estes efeitos ausentes em ratos sem CB1 (392, 463). Para explorar os complexos mecanismos moleculares subjacentes dos seus efeitos hipo tensivos, os canabinóides têm sido frequentemente investigados pelos seus efeitos vasorelaxantes na artéria mesentérica do rato. Os efeitos vasodilatadores do A9-THC são complexos e em volume muitos mecanismos celulares e moleculares, incluindo as vias independentes do CB1 e CB2, como a ativação dos canais TRPA1 (409), PPARμ (634), e canais K+, bem como a inibição dos canais Ca2+ (632). O uso potencial de A9-THC para tratar a hipertensão arterial tem sido sugerido (876), mas o desenvolvimento de tolerância rápida aos efeitos hipotensivos e bradicárdicos (4), e seus efeitos neurocomportamentais, continuam sendo problemas a serem resolvidos.
O pré-tratamento com um antagonista CB2 elimina o efeito cardio-protector do A9-THC em corações isolados de ratos pré-tratados com LPS (451). Também a ação benéfica do A9-THC em cardiomiócitos neonatais isolados hipóxicos, que é mediático.
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A produção NÃO, é sensível ao CB2, mas não ao CB1, antagonismo (791). O pré-tratamento com A9-THC, adminis- tered antes do enfarte do miocárdio em camundongos in vivo, é dioprotetor do carro e inibe o seguimento do enfarte por fosforilação ERK1/2 (894).
O A9-THC administrado oralmente modula as funções imunes e inibe a progressão da placa aterosclerótica com um mecanismo dependente do receptor CB2 no modelo apoE-/- rato de aterosclerose, através de efeitos modulatórios nas células linfóides e mielóides (819). A9-THC inibe (IC50 =
2,42 µM) 15-lipoxigenase, uma enzima responsável pela formação de lipoproteína de baixa densidade oxidada, uma lipoproteína causal da aterosclerose (840).
7. Asma
A maconha fumada contendo 3-7 mg/kg de A9-THC resulta em uma resposta broncodilatadora aguda e potencial benefício terapêutico na função das vias aéreas (849). O A9-THC puro produz broncodilatação em pacientes asmáticos (329) e pode ter valor terapêutico na asma também em virtude de seus efeitos anti-inflamatórios-matéria (933). De fato, na doença alérgica das vias aéreas induzida em ratos por ovalbumina aerossolizada, o pré-tratamento com A9-THC inibe a expressão das citocinas de células T provocadas pela ovalbumina nos pulmões e a resposta inflamatória associada (389). Na inflamação broncopulmonar induzida por LPS em camundongos, o intranasal A9-THC diminui os níveis da citocina pró-inflamatória TNF-a de uma forma parcialmente mediada pela CB2 (63). Recentemente, os efeitos do A9-THC e de um potente agonista CB1/CB2 sintético sobre a broncoconstrição in vitro na traquéia de cobaia e sobre a inflamação dasvias aéreas foram investigados em cobaias anestesiadas após exposição ao TNF-a. In vitro, as duas com- libras inibiram o TNF - uma contração nervosa melhorada - de forma antagonizada por ambos os antagonistas CB1 e CB2 an- tagonistas. In vivo, apenas o A9-THC inibiu a broncoconstrição induzida pela vagina, o recrutamento de neutrófilos para as vias aéreas e a resposta à tosse induzida pelo ácido cítrico, enquanto ambos os compostos inibiram a liberação de TNF, e, portanto, a contração e a estricção de broncocontrusão, novamente por meio da ativação dos receptores de CB1 e CB2 (520).
8. Glaucoma
O glaucoma é caracterizado por um aumento da pressão intra-ocular, uma causa de perda de visão e cegueira. Um achado serendipi- tous, ou seja, a diminuição da pressão intra-ocular em fumantes saudáveis de maconha (340), foi subseqüentemente con- firmado em um estudo placebo-controlado, duplo-cego (339). A9-THC diminui a pressão intra-ocular quer seja administrada por via oral, tópica ou intravenosa, tanto em animais como em humanos (394). Assim, os endocanabinóides desempenham um papel importante na regulação da pressão intra-ocular, estão presentes nos tecidos oculares incluindo a retina (71, 826), e
seus níveis diminuem significativamente em pacientes com glaucoma (137).
9. Câncer
Numerosos estudos pré-clínicos sugerem que o A9-THC pode inibir directamente o crescimento do cancro (269). Os mecanismos são complexos e envolvem indução de apoptose, antiproliferatividade, antimetastática e ações antiangiogênicas (665) (FIGURA 1).
O tratamento com A9-THC inibe o crescimento de vários tipos de células tumorais in vitro ou xenoenxertos de células tumorais in vivo, incluindo o carcinoma pulmonar (692), glioma (280) e lym- phoma (553). O efeito pró-apoptótico do A9-THC nas células tumorais é complexo e envolve maior síntese da ceramida esfingolipídica pró-apoptótica (280), em células de glioma; ce- upregulação ramide-dependente da proteína de estresse p8 re-sultando na upregulação do retículo endoplasmático (ER) genes relacionados ao estresse ATF-4, CHOP e TRB3 (121); p38 MAPK sinalização, em células de leucemia humana (343); caminho da proteína quinase/ERK ki- nase, abaixo-regulado Raf-1/mitogênio ativado, levando à translocação de BAD para mitochon- dria, em células T de leucemia (400); inibição de RAS-MAPK/ERK e PI3K-AKT, em cascatas de sinalização de sobrevivência, acompanhada de ativação do BAD pró-apoptótico, em células cancerosas colorrectais (306); e ativação rápida de ERK e c-Jun NH2 quinase terminal, em células humanas de astrocitoma U373MG (915). Além disso, o A9-THC promove a apoptose autofagiada, induzindo o acúmulo de ceramidas e o fator de iniciação da tradução eucariótica 2a fosforilação, ativando assim uma resposta de estresse das ER que promove a autofagia através da inibição dos tribbles homolog 3-dependente do alvo Akt/mamífero do eixo complexo mTORC1 nas células do glioma humano (768) e no carcinoma hepatocelular (875). O aperfeiçoamento da autofagia pela administração combinada de A9-THC e temozolomida exerce uma forte ação antitumoral no xenoenxerto de glioma (857).
Também as ações antiproliferativas do A9-THC parecem ocorrer através de vários mecanismos em diferentes células tumorais, ou seja ativando receptores CB2 com subsequente parada do ciclo celular em G2-M via downregulation do Cdc2 (108), ou mod- ulation of JunD, um membro da família do fator de transcrição AP-1, resultando na inibição da progressão do ciclo celular, em células humanas de câncer de mama (107); upregulating PPARμ-de- pendent path in hepatocellular carcinoma cells (874); promoting the expression of the intercellular adhesion mol- ecule 1, with subsequent enhancement of cancer cell adhe- sion to lymphokine-activated killer cells and lysis, in lung cancer (332). Sugeriu-se que os receptores CB2 formam heterômeros com GPR55 promotores de tumor nas células cancerígenas, o que pode influenciar a ação do A9-THC contra o crescimento tumoral. Os heterómeros mostraram uma conversa cruzada e um antagonismo cruzado ao nível do cAMP e da via p-ERK-1/2. O A9-THC mostrou antagonismo GPR55, tanto no nível do receptor único como dentro do hetero CB2-GPR55.
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mer (592). A variabilidade dos efeitos antitumor do A9- THC pode estar relacionada também com a expressão diferencial dos alvos receptores (554).
Além de seus efeitos proapoptóticos e antiproliferativos, o A9-THC também inibe a expressão de diadores proangiogênicos me- ou seus receptores (por exemplo, fator de crescimento endotelial vascular), reduzindo assim a migração celular endotelial in vitro e in vivo (80). Aumento da expressão do inibidor tecidual das metaloproteinases de matriz-1 (714) e desregulação ex-pressão da metaloproteinase-2 em gliomas em camundongos.
(83) também mediar os efeitos anti-invasivos do A9-THC.
IV. FITOCANABINÓIDES MENOS ESTUDADOS
Dos outros mais de 100 fitocanabinóides presentes em quantidades variáveis e composição percentual nas diversas variedades da planta de canábis, pouco mais de um punhado foi investigado até agora, longe do ponto de vista farmacológico, e estes são canabicromeno (CBC), canabigerol (CBG), canabidivarina (CBDV), A9-tetrahidrocanabivarina (THCV), ácido A9-tetrahidrocanabinólico (THCA), e ácido cana-nabidicólico (CBDA). No entanto, estes compouds, cujo abun- dança em flores de cannabis depende da variedade da planta, também podem ser responsáveis pelas acções terapêuticas anedóticas dos seus preparados.
O hemograma pode causar hipotermia, sedação e hipoactividade em ratos (860). Ele exerce ações anti-inflamatórias e analge- sic modestas (181, 860), bem como atividade antibacteriana (19). É um fraco inibidor da recaptação de AEA (193, 478) e um inibidor muito fraco da hidrólise de 2-AG (193), enquanto que é o mais potente canabinoide agonista TRPA1 em um ensaio funcional [Ca2+]i (EC50 = 90 nM) (193, 196).
Somente quando administrado em altas doses (~100 mg/kg) o hemograma produz efeitos farmacológicos significativos "tetrad" in vivo, de forma insensível ao antagonismo CB1, catingindo um mecanismo de ação do receptor não-CB1, de acordo com sua baixíssima afinidade com o receptor CB1 [Ki
> 10.000 nM (87); Ki 714 nM (742)]. CBC dose-depend-
O LPS diminui a inflamação induzida pelo LPS no ensaio do edema da pata com um mecanismo de ação receptor não-canabinóide (198). Ele inibe a produção de óxido nítrico, IL-10 e níveis de IFN-μ em macrófagos ativados por LPS (740), reduz a hipermotilidade intestinal induzida pela inflamação in vivo em camundongos (384) e produz atividade semelhante à antidepressiva em roedores (236). O hemograma é analgésico pela estimulação da via descendente de anti-nocicepção no cinzento ventrolateral periaquedular, através da ativação do TRPA1, inibição da inativação do endocannabi-noid, e subseqüente elevação dos níveis locais de endo-canabinóides, e potencialização da sinalização de adenosina (519). O hemograma influencia positivamente a viabilidade da população de células-tronco positivas do Nestin na diferenciação das células progenitoras neurais adultas através da upregulação da fosforilação ERK, um efeito mediado pela adenosina A1
receptor e levando à inibição do diferencial astroglial, sugerindo uma possível ação proneurogênica/antineuroinflama-matória através da supressão de astro-cítes reativos (790).
A CBG foi detectada pela primeira vez em preparações de canábis e sintetizou-as em 1964 (282), e posteriormente foi descoberto que não tinha efeitos psicofarmacológicos in vivo do tipo A9-THC (566). Em sua forma ácida é o precursor biossintético das formas ácidas de A9-THC, CBD e CBC na planta da maconha. O CBG é um potente antagonista da TRPM8 (193, 196), e tem ac- tem tanto TRPV1 como, particularmente, TRPA1, enquanto mostra baixa afinidade pelos receptores canabinoides (CB1, Ki 897 nM; CB2, Ki 372 nM; Ref. 742). Na faixa de micromolares baixos, atua como inibidor de recaptação da AEA (193, 478). Por fim, o CBG é umagonista de 2adrenoceptor e um receptor de 5-HT1A onist (125). A atividade anterior leva à analgesia (290), enquanto sua ação como antagonista do 5-HT1A explica seu bloqueio dos efeitos antieméticos e antináusea da CDB (733).
Estudos sobre os seus efeitos em modelos de HD mostraram que o CBG é neuroprotector em ratos intoxicados com 3-nitropropionato através da contra-acção de marcadores pró-inflamatórios induzidos e melhoria das defesas antioxidantes. Em animais tratados com CBG, foi observado um aumento na expressão gênica do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), do fator de crescimento I (IGF-I), e PPARμ, e uma pequena redução na agregação de caça mutante, abrindo assim a possibilidade de ser usado para o tratamento da DH (863).
O CBG diminui as contrações induzidas pela acetilcolina na bexiga, sendo este efeito não afetado pelos antagonistas dos receptores CB1 ou CB2 (648), enquanto que contraria a doença inflamatória intestinal experimental, reduzindo a produção de NO de macrófagos através da ativação do CB2 (90).
A CBG, como a CBD, inibe a proliferação e diferenciação de queratinócitos humanos através de mecanismos genéticos de epinefrina não dependentes de CB1 e CB2 (698, 916), e estes efeitos podem sugerir o seu uso contra a psoríase e a acne. O CBG também mostra atividade antitumoral in vitro (478). Inibe o crescimento de carci- noma da próstata in vitro e in vivo, com antagonismo de TRPM8 e ativação de vias apoptóticas intrínsecas como possíveis mecanismos (194). Inibe o crescimento do xenoenxerto, bem como a carcinogênese do cólon induzida quimicamente, e a proliferação de células cancerosas colorrectais in vitro, um efeito compartilhado por outros antagonistas do TRPM8. O CBG deve ser considerado na prevenção e cura do câncer colorretal (91).
A9-Tetrahydrocannbivarin (A9-THCV) é o análogo de cauda propil da A9-THC e o fitocanabinóide mais estudado após seu homólogo e CDB. Em baixas doses (< 3 mg/kg) antagoniza os efeitos do A9-THC, mas age como um CB1 atrás - nist em doses mais altas (10 mg/kg) em camundongos (673, 681). Ele ex
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pressiona o perfil farmacológico de um antagg onista neutro CB1 in vitro (673, 681, 855) enquanto antagoniza o agonista CB1 - induzido [35S]GTPμS ligando-se ao cérebro inteiro do rato, cerebelar e membranas corticais piriformes sem atividade - na ausência de agonista (199, 855). O A9-THCV antago- niza a capacidade do A9-THC e de outros agonistas de inibir as contrações evocadas eletricamente no vaso do camundongo (855). Entretanto, é também um potente agonista, embora parcial, nos receptores CB2 in vitro quando a resposta medida é a inhi- bition de estimulação induzida por forskolin de cAMP ou a estimulação de [35S]GTPμS ligação a membranas obtidas de células transfectadas com CB2 humano ou baço de camundongo (86). Esta é uma característica muito atraente porque, como descrito acima e nas seções seguintes, uma ativação combinada de receptores CB2 e bloqueio de receptores CB1 pode amenizar vários distúrbios. O A9-THCV suprime o edema induzido por carragena e a hiperalgesia induzida por formalina em ratos, sendo ambos os efeitos atenuados por um antagonista seletivo do CB2 (86). O A9-THCV também estimula o recrutamento de células-tronco mesenquimais quiescentes presentes na medula óssea, resultando no aumento da formação de colônias fibro-blásticas de forma bloqueada por um antagonista específico de CB2, exercendo assim efeitos potencialmente benéficos na formação óssea e na cicatrização de fraturas (784).
A9-THCV atua como agonista no TRPA1 (EC50 = 1,5 µM), o que explica seu efeito pronociceptivo na primeira fase do teste de formalina e dessensibiliza este canal para a estimulação subseqüente pelo aliisotiocianato (IC50 = 3,1 µM). Como - sempre, o composto também estimula o TRPV1 humano (EC50 =
1,5 µM) e rato TRPV2 (EC50 = 4,1 µM) e é um antag- onist no rato TRPM8 (IC50 = 0,9 µM) (193).
Como esperado de um antagonista do CB1, o A9-THCV atenua a hipotermia e a antinocicepção induzidas pelo A9-THC (673) e reverte alguns dos efeitos cognitivos e fisiológicos do A9-THC, como o atraso na recordação verbal e o aumento da frequência cardíaca, em voluntários humanos (242). Nove em cada 10 par- ticipantes também relataram que, no tratamento A9-THCV (comparado com placebo), o A9-THC foi subjectivamente sentido como mais fraco ou menos intenso. No entanto, o A9-THCV também significou um aumento significativo das intrusões de memória induzidas pelo A9-THC (242).
A9-THCV suprime a palatabilidade da sacarina e o apelo ao sabor doce (736) e, em doses tão baixas quanto 3 mg/kg, compartilha a capacidade dos antagonistas sintéticos do CB1 de reduzir a ingestão de alimentos e o ganho de peso corporal em ratos (726), com uso po- tencial no tratamento da obesidade (673). Entretanto, a administração crônica de A9-THCV em modelos animais de obesidade não modifica a ingestão de alimentos, mas produz um aumento precoce e transitório no gasto de energia, reduz a intolerância à cola em camundongos ob/ob e melhora a resistência à insulina em camundongos com obesidade induzida por dieta rica em gordura, sem afetar consistentemente os lipídios plasmáticos. O A9-THCV também restaura a sinalização de insulina em hepatócitos insulino-resistentes e mio.
tubos (908). Todos estes efeitos foram sugeridos devido a mecanismos não mediados pelo CB1. Além disso, como a CDB, o A9-THCV é muito eficaz na inibição do acúmulo de lipídios no fígado - a mulação in vitro e in vivo dos modelos de esteatose - parece ser feita estimulando a lipólise em hepatócitos por mecanismos não mediados por CB1 e não mediados por CB2, além de reduzir o acúmulo de lipídios - o acúmulo de adipócitos brancos (797). Estes resultados podem ter relevância no futuro desenvolvimento clínico do A9-THCV para o tratamento da hepatatose e da diabetes tipo 2 (556).
Em voluntários humanos, o A9-THCV aumenta a resposta neural a estímulos compensadores no cérebro médio, córtex cingulado anterior, caudato e putamen, mas também a estímulos aversivos na amígdala, ínsula, córtex orbitofrontal médio, caudato e putamen (858). Em um desenho randomizado duplo-cego, a dose oral de 10 mg de A9-THCV diminui a conectividade tional em estado de repouso e aumenta a conectividade na rede de controle cognitivo e na rede de fluxo visual dorsal. Isto sugere eficácia terapêutica na obesidade, onde a conectividade funcional é alterada, mas também indica menor risco de efeitos colaterais de-pressivos em comparação com agonistas invertidos CB1 (764).
A9-THCV aumenta a neurotransmissão inibitória (199) ao aumentar, de forma sensível ao antagonista GABAA, as correntes pós-sinápticas inibitórias nas sinapses celulares interneuron-Purkinje, e diminui a queima do espigão celular de Purkinje no cerebelo do rato in vitro (500). Estes efeitos podem ser úteis em ataxias espinocerebelares, um grupo farmacologicamente não tratável de distúrbios de hiperexcitabilidade, embora estudos pré-clínicos in vivo em animais nesta área terapêutica específica ainda não tenham sido realizados (347). Os efeitos inibitórios do composto também podem ser úteis na epilepsia e, de fato, o A9-THCV produz propriedades antiepileptiformes e anticonvulsivantes (346). Administrado diariamente por 14 dias a ratos com 6-hidroxidodopamina, alivia as tomas simpáticas associadas à DP, bloqueando os receptores CB1 em baixas doses, e induz a neuroproteção (284). A9-THCV im- prova a inibição motora produzida pela mina de 6-hidroxidopa- como já observado com o rimon-abant agonista inverso CB1 (304). Por outro lado, o A9-THCV, via ativação do receptor CB2 tor, proporciona neuroproteção no modelo de camundongo LPS da DP, onde a morte das células dopaminérgicas é causada predominantemente por eventos inflamatórios. Finalmente, os efeitos antipsicóticos do A9-THCV contra alguns dos sintomas negativos, cognitivos e positivos em um modelo animal de esquizofrenia (onde antagonistas do