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FACULDADE ANHANGUERA DE VALPARAÍSO CURSO DE PEDAGOGIA PP: IDENTIDADE DOCENTE AVALIAÇÃO 4.000 - Prova oficial (Mínimo 1.200 pontos) 10.000 - Atividades diversas Média> 6.000 pontos DOCENTE: ALISSON CHAGAS DISCENTE: ____________________________ EMENTA CURSO Pedagogia DISCIPLINA PP: IDENTIDADE DOCENTE PROFESSOR Alisson M. Chagas COMPETENCIA GERAL Conhecer e aplicar a fundamentação teórica relativa à aprendizagem e à atividade docente UNIDADES DE ENSINO 1º BIMESTRE UNIDADE 01 POR QUE O MUNDO PRECISA DE PROFESSORES? AULA 01 (21-02) Seção 0 Aula inaugural: apresentação do plano de ensino. Metodologia de ensino. Introdução aos estudos da PP: identidade docente AULA 02 (28-02) Seção 1.1 A história da docência no Brasil AULA 03 (07-03) Seção 1.2 Ser professor hoje: enfrentando desafios contemporâneos AULA 04 (14-03) Seção 1.3 A diferença entre educar e instruir UNIDADE 02 QUEM GARANTE O DIREITO DE TODO ALUNO APRENDER? AULA 05 (21-03) Seção 2.1 Os direitos de aprendizagem e o currículo escolar AUL A06 (28-03) Seção 2.2 Condições para aprender AULA 07 (04-04) Seção 2.3 A ação docente na garantia dos direitos de aprendizagem AULA 08 (11-04) PROVA Unidade 01: POR QUE O MUNDO PRECISA DE PROFESSORES? Unidade 02: QUEM GARANTE O DIREITO DE TODO ALUNO APRENDER? 2º BIMESTRE UNIDADE 03 QUEM GARANTE O DEVER DE TODO PROFESSOR ENSINAR? AULA 09 (18-04) Seção 3.1 Os direitos de aprendizagem de todo professor AULA 10 (25-04) Seção 3.2 Condições para o professor continuar aprendendo sobre sua profissão AULA 11 (02-05) x II CHÁ DO CONHECIMENTO PEDAGOGIA UNIDADE 04 NARRATIVA DE PERCURSO AULA 12 (09-05) Seção 3.3 A profissionalidade docente AULA 13 (16-05) Seção 4.1 Contexto histórico da trajetória docente no Brasil AULA 14 (23-05) Seção 4.2 Os desafios da docência no Brasil contemporâneo AULA 15 (30-05) Seção 4.3 Princípios da profissão docente AULA 16 (06-06) PROVA Unidade 01: POR QUE O MUNDO PRECISA DE PROFESSORES? Unidade 02: QUEM GARANTE O DIREITO DE TODO ALUNO APRENDER? Unidade 03: QUEM GARANTE O DEVER DE TODO PROFESSOR ENSINAR? Unidade 04: NARRATIVA DE PERCURSO CURSO Pedagogia DISCIPLINA PP: IDENTIDADE DOCENTE PROFESSOR Alisson M. Chagas COMPETENCIA GERAL Conhecer e aplicar a fundamentação teórica relativa à aprendizagem e à atividade docente AULA 08 (11-04) PROVA 1.000 pontos Unidade 01: por que o mundo precisa de professores? Unidade 02: quem garante o direito de todo aluno AULA 07 (04-04) 3.000 pontos Texto científico O que é um Texto científico: Um texto científico é uma produção textual, uma narrativa escrita que aborda algum conceito ou teoria, com base no conhecimento científico através da linguagem científica AULAS DE 01 a 07 Até 1.750 pontos A participação do discente nas atividades propostas. (AVA) TOTAL 10,0 pontos AULA 16 (06-06) PROVA 3.000 pontos Unidade 01: por que o mundo precisa de professores? Unidade 02: quem garante o direito de todo aluno aprender? Unidade 03: quem garante o dever de todo professor ensinar? Unidade 04: narrativa de percurso AULA 11 (02-05) 500 pontos AULAS DE 09 a 015 Até 1.750 pontos A participação do discente nas atividades propostas. (AVA) TOTAL Até 14.000 pontos OBS: A cada aula que o aluno se ausentar será contabiliz e por disciplina). O mínimo para aprovação é de 75%. Média para aprovação 6.000 pontos (Sendo no mínimo 1.200 pontos nas provas que somam 4.000 pontos). AVALIAÇÃO PP: IDENTIDADE DOCENTE Chagas Conhecer e aplicar a fundamentação teórica relativa à aprendizagem e à atividade docente AVALIAÇÃO CONTINUADA 1º BIMESTRE por que o mundo precisa de professores? quem garante o direito de todo aluno aprender? Texto científico O que é um Texto científico: Um texto científico é uma produção textual, uma narrativa escrita que aborda algum conceito ou teoria, com base no conhecimento científico através da linguagem científica. A participação do discente nas atividades propostas. 2º BIMESTRE por que o mundo precisa de professores? quem garante o direito de todo aluno aprender? quem garante o dever de todo professor ensinar? narrativa de percurso II Chá do Conhecimento - Pedagogia A participação do discente nas atividades propostas. A cada aula que o aluno se ausentar será contabilizada no mínimo 3h de ausência. ( O mínimo para aprovação é de 75%. Média para aprovação 6.000 pontos (Sendo no mínimo 1.200 pontos nas provas que somam 4.000 Conhecer e aplicar a fundamentação teórica relativa à aprendizagem e à atividade docente O que é um Texto científico: Um texto científico é uma produção textual, uma narrativa escrita que aborda algum conceito ou teoria, com base no conhecimento científico através da edagogia ada no mínimo 3h de ausência. (As faltas são em horas, Média para aprovação 6.000 pontos (Sendo no mínimo 1.200 pontos nas provas que somam 4.000 LEITURAS DA DISCIPLINA CURSO Pedagogia DISCIPLINA PP: IDENTIDADE DOCENTE PROFESSOR Alisson M. Chagas COMPETENCIA GERAL Conhecer e aplicar a fundamentação teórica relativa à aprendizagem e à atividade docente UNIDADES DE ENSINO 1º BIMESTRE UNIDADE 01 POR QUE O MUNDO PRECISA DE PROFESSORES? AULA DIA SEÇÃO TÍTULO DO TEXTO PARA LEITURA AULA 01 (21-02) Seção 0 Aula inaugural: apresentação do plano de ensino. Metodologia de ensino. Introdução aos estudos da PP: identidade docente AULA 02 (28-02) Seção 1.1 A história da docência no Brasil A docência no Brasil: história, obstáculos e perspectivas de formação e profissionalização no século XXI AULA 03 (07-03) Seção 1.2 Ser professor hoje: enfrentando desafios contemporâneos O pedagogo no contexto contemporâneo: desafios e responsabilidades AULA 04 (14-03) Seção 1.3 A diferença entre educar e instruir Da Pedagogia tradicional a escola nova Ensinar, formar, educar e instruir: a linguagem da crise escola UNIDADE 02 QUEM GARANTE O DIREITO DE TODO ALUNO APRENDER? AULA 05 (21-03) Seção 2.1 Os direitos de aprendizagem e o currículo escolar Constituição Federal de 1988 (205 ao 214) Lei 9.394/1996. AUL A06 (28-03) Seção 2.2 Condições para aprender Constituição Federal de 1988 (205 ao 214) Lei 9.394/1996. AULA 07 (04-04) Seção 2.3 A ação docente na garantia dos direitos de aprendizagem Constituição Federal de 1988 (205 ao 214) Lei 9.394/1996. AULA 08 (11-04) PROVA Unidade 01: POR QUE O MUNDO PRECISA DE PROFESSORES? Unidade 02: QUEM GARANTE O DIREITO DE TODO ALUNO APRENDER? 2º BIMESTRE UNIDADE 03 QUEM GARANTE O DEVER DE TODO PROFESSOR ENSINAR? AULA 09 (18-04) Seção 3.1 Os direitos de aprendizagem de todo professor Educação e Pedagogia AULA 10 (25-04) Seção 3.2 Condições para o professor continuar aprendendo sobre sua profissão A formação do Educador AULA 11 (02-05) x II CHÁ DO CONHECIMENTO PEDAGOGIA UNIDADE 04 NARRATIVA DE PERCURSO AULA 12 (09-05) Seção 3.3 A profissionalidade docente Os profissionais do magistério e os movimentos associativos na organização do sistema de ensino e na organização escolar AULA 13 (16-05) Seção 4.1 Contexto histórico da trajetória docente no Brasil Os profissionais do magistério e os movimentos associativos na organização do sistema de ensino e na organização escolar AULA 14 (23-05) Seção 4.2 Os desafios da docência no Brasil contemporâneo Para onde vai a educação? AULA 15 (30-05) Seção 4.3 Princípios da profissão docente Os saberes docentes AULA 16 (06-06) PROVA Unidade 01: POR QUE O MUNDO PRECISA DE PROFESSORES? Unidade 02: QUEM GARANTE O DIREITO DE TODO ALUNO APRENDER? Unidade 03: QUEM GARANTE O DEVER DE TODO PROFESSOR ENSINAR? Unidade 04: NARRATIVA DE PERCURSO 1 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5,número 1, edição de Julho de 2016 A DOCÊNCIA NO BRASIL: HISTÓRIA, OBSTÁCULOS E PERSPECTIVAS DE FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO NO SÉCULO XXI Tiago Tavares de Sá 1 Francisco Raimundo Alves Neto 2 RESUMO Este trabalho pretende analisar aspectos relacionados à atual discussão sobre a profissionalização da docência no Brasil (percorrendo brevemente o caminho histórico que institucionalizou a profissão de professor no país) com o objetivo primeiro de entender os fatores responsáveis pelo fato de os professores nunca terem codificado, de maneira formal, um código de regras deontológicas da profissão docente, e a docência, por sua vez, nunca ter atingido plenamente o status de profissão, como ocorreu com outros ofícios, mas ao contrário disso, ter se mantido, historicamente, atrelada a fatores como más condições de trabalho, salários indignos, insatisfação profissional, repressão e opressão estatal e quase nenhum investimento em formação profissional. Para tanto, utilizou-se de pesquisa bibliográfica de autores especialistas e interessados na questão da profissionalização docente, chegando-se à indiscutível conclusão (dentre outras) da necessidade de qualificação, formação e profissionalização docente, apesar dos entreveros que estes profissionais encontram pelo (espinhoso) caminho. Palavras-chave: Profissão docente. História e desvalorização da profissão docente; Precarização das condições do trabalho docente; Formação e profissionalização docente. TEACHING IN BRAZIL: HISTORY, OBSTÁCULS AND TRAINING OUTLOOK AND PROFESSIONAL IN XXI CENTURY ABSTRACT This work intends to analyze aspects related to the current discussion about the professionalization of teaching in Brazil (briefly touring the historical path which institutionalized the teaching profession in the country) with the primary objective to understand the factors responsible for the fact that the teachers have never coded in formal way, an ethical code of rules of the teaching profession, and teaching, in turn, never fully achieved the professional status, as did other crafts, but on the contrary, have remained historically linked to factors such as poor working conditions, unworthy wages, job dissatisfaction, repression and state oppression and almost no investment in vocational training. To this end, we used bibliographical research of expert authors and interested in the issue of teacher professionalization, it came to the undeniable conclusion (among others) the need for qualification, training and professionalization, despite run-ins that these professionals are the (thorny) way. Keywords: Teaching profession; History and devaluation of the teaching profession; Precarious conditions of teaching work; Training and professionalization. 1 Pós-graduando em Docência e Gestão do Ensino Superior. 2 Doutor em Educação pela UFMG e Professor Adjunto da UFAC. 2 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5, número 1, edição de Julho de 2016 1. Introdução Os primeiros registros conhecidos da profissão de professor evidenciam a observação e o empirismo como pré-requisito para o seu exercício. Em outras palavras, tornava-se professor aquele que observava muito atentamente outros mestres exercendo sua função e ensinava-se da mesma maneira que se havia aprendido. Desse modo, a constituição do ato de ensinar ocorre de modo nada diferente de como se instituíram outras profissões de caráter informal. Nestas condições, a profissão docente, segundo Tardif (2002), “se desenvolveu sem ser objeto de maiores preocupações e sob o paradigma de que ensinar seria uma tarefa relativamente simples”. A regra predominante era o famoso “fazer fazendo”. O tempo passou, as sociedades avançaram, a educação evoluiu, os modos como os alunos aprendiam se ampliaram e o que se entendia por professor, isto é, a definição básica do que se entendia por esta profissão, também sofreu alterações significativas. Por exemplo, hoje, ao se perguntar a qualquer especialista em Educação ou mesmo a professores da rede de ensino pública ou privada no Brasil sobre o que se espera de um docente, é unânime a resposta de que o docente atual, que educa para vida no século XXI deve ter, no mínimo, uma formação científica, técnica, política, ética e, a partir daí, desenvolver competências e habilidades, isto é, um profissional que busca sua profissionalidade/profissionalismo, nas palavras de Imbernón (2011). Mas é justamente aqui onde mora um dos principais problemas dessa questão: demanda-se do professor atual que este solucione em sua sala de aula diversos problemas da contemporaneidade e, no entanto, não lhes são oferecidas as ferramentas, os recursos e nem a formação mínima necessários para tal exercício. A verdade é que as condições de trabalho pelo Brasil afora são insalubres e a profissão docente está cada vez mais desvalorizada em nosso país, desencorajando, inclusive, qualquer estudante universitário de desejá-la para si. É com este olhar que Imbernón (2011), por exemplo, nos alerta de que “não podemos esquecer as condições em que ainda se move a profissão de ensinar, que não favorecem essa profissionalidade desenvolvida que precisa de um coletivo “mais equilibrado” profissionalmente”, nem tampouco os “processos de instabilidade, a falta de gratificações morais e o isolamento que repercute na prática profissional e no profissionalismo coletivo: o ambiente de trabalho do professor, [...] seu incentivo profissional, a busca de indicadores de desempenho, [...] a 3 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5, número 1, edição de Julho de 2016 solidão educativa, sua formação inicial muito padronizada, o baixo autoconceito profissional [...] e a possível desvalorização da ação pedagógica por parte das famílias (e da sociedade, portanto) e do próprio grupo profissional”. Assim, a partir da década de 80, com a crise educacional norte-americana, os estudos e as discussões no campo da Educação começaram a se concentrar em temas como formação e profissionalização de professores, e essas análises passaram então a apontar para uma redefinição do papel docente e da prática pedagógica, chamando a atenção para uma necessária reorientação no posicionamento do professor na busca pela afirmação de sua identidade. A compreensão do termo “identidade”, no que se refere à autoafirmação do professor enquanto sujeito (alguém que tem autonomia para pensar e agir) levada a cabo neste artigo está pautada na definição de Pimenta (1996), que a entende como um processo de construção do sujeito historicamente situado, que se estrutura a partir das significações. Trata-se de um processo evolutivo de interpretação de si mesmo como pessoa dentro de um determinado contexto que se constrói a partir de uma realidade que evolui e se desenvolve no âmbito pessoal e coletivo. Desse modo, o que este breve artigo se propõe a realizar (num tempo em que as reivindicações dessa classe ainda são respondidas com bombas de efeito moral, com cães policiais treinados e com balas de borracha no Paraná, e num espaço (Brasil) onde mais da metade dos estados não paga o piso salarial aos seus professores, para ficar em dois exemplos) é uma análise do estado a que profissão-professor chegou, depois de ter passado por diversos momentos e oscilações no curso da história da educação brasileira, tendo sofrido inúmeras influências políticas, econômicas e filosóficas (sobretudo dos modelos profissionais americanos e europeus) até chegar à situação de clara necessidade de formação e profissionalização atual. O que se quer, na verdade, com esta sintética análise é, sobretudo, compreender, com alguma clareza, o que se intenciona dizer com “formação e profissionalização docente” e que relações podem ser estabelecidas com as reais condições de trabalho atualmente oferecidas aos profissionaisda educação em geral e aos docentes das IES em específico, isto é, quais as reais chances de formação e profissionalização desses trabalhadores (de acordo com a discussão atual), num cenário em que a Educação nunca foi de tirar o sono dos governantes, a saber, o cenário brasileiro. Assim, este artigo problematizará a questão da formação e da profissionalização da profissão professor, buscando demonstrar o caminho histórico 4 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5, número 1, edição de Julho de 2016 percorrido pelo professorado e destacar algumas conquistas (e outras tantas derrotas) na luta pela institucionalização da docência no Brasil, além de apontar, ao final do texto, perspectivas de formação e profissionalização para profissional da educação no século XXI. 2. A profissão docente no Brasil: breve histórico Os estudos dão conta de que a profissão docente é bastante antiga, e data do início da organização dos homens em sociedade, de quando estes começaram a sentir a necessidade de organizar, resguardar, preservar e transmitir (sobretudo transmitir) o conhecimento que produziam às gerações vindouras, como forma de sua afirmação e permanência social. Gadotti (2006) lembra que, assim que perceberam as virtudes do ato de ensinar, isto é, ao perceber a possibilidade de conhecer e aprender por meio do ensino, os homens iniciaram um processo de reflexão (ainda que sem intenção) que os ajudou a sistematizar e difundir os conhecimentos produzidos e acumulados. Nas palavras do autor: A prática da educação é muito anterior ao pensamento pedagógico. O pensamento pedagógico surge com a reflexão sobre a prática da educação, como necessidade de sistematizá-la e organizá-la em função de determinados fins e objetivos. (GADOTTI, 2006, p. 21). Tardif (2002) lembra que, durante muito tempo, a profissão de professor foi vista como algo meramente vocacional, um ofício com um viés sacerdotal leigo ou mesmo um dom, razão por que era entendida como uma tarefa relativamente simples, sem a necessidade de maiores aprimoramentos no que diz respeito à formação e ao adequado exercício profissional. Aliás, nem mesmo status de profissão o magistério tinha. Essa é uma questão que até hoje se debate: afinal, a docência é ou não é uma profissão? Deixemos essa discussão para um pouco depois, mas não nos esqueçamos do que gera todo esse debate: o fato de que qualquer sujeito (como mínimos conhecimentos) se acha competente para lecionar. Por exemplo, um músico, um advogado, um médico, um vendedor de celular, qualquer pessoa pode (desde que domine razoavelmente o que se ensina) exercer o ato de ensinar, ainda que não saiba nada de estratégias de ensino, de diversidades metodológicas, de sistemas de avaliação, 5 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5, número 1, edição de Julho de 2016 etc. Na antiguidade, a propósito, até filhos de prisioneiros se lançavam ao exercício de ensinar os filhos de seus senhores. Até hoje há no Brasil professores sem qualquer preparo, sem instruções adequadas e sem formação superior ensinando nas escolas. O resultado direto disso, numa forma simples de dizer, é que “se ensina o que não se sabe”; e o indireto, é que situações como essa contribuem para a falta de identidade profissional do professor. Esses poucos fatores são suficientes para explicar o porquê da polêmica em questão, isto é, ela tem razão de ser. Mas, definitivamente, deixemos essa discussão para um próximo artigo e continuemos o breve passeio a que nos propusemos pela história da profissão docente. Segundo Brandão (2003), na antiguidade, os primeiros professores de que se têm conhecimento dominavam a retórica e possuíam conhecimentos relativos às artes, à música e à política. Esses mestres eram responsáveis pela instrução inicial dos filhos de seus senhores por meio do ensino da leitura, da escrita e da lógica-matemática. Ali surgiam as primeiras “lojas de ensinar”. Nas palavras de Brandão (2003, p.40), eis como se referiam aos professores: “Ali um humilde mestre-escola, „reduzido pela miséria de ensinar‟ leciona as primeiras letras e contas”. Se analisarmos com cuidado, o conteúdo entre aspas nos diz muito sobre os primeiros mestres. Como se vê, a profissão docente sempre esteve permeada de certo estigma valorativo, sobretudo no início da institucionalização do magistério. Durante a Idade Média, o ensino foi totalmente regido pela igreja, sendo ministrado pelos padres e clérigos das paróquias, que também não tinham formação adequada para tal exercício, razão por que muitas vezes tinham que aprender a ler para exercer o ofício de professor. Com o advento das Reformas Religiosas ocorridas no século XVI, os ventos começaram a soprar noutras direções. Com a formação das chamadas “corporações de ofício” e das primeiras universidades, surgem então os aprendizes, que passam a receber dos mestres os ensinamentos das artes e ofícios que eram mantidos dentro dessas corporações. A este respeito, Romanowski lembra que: As universidades formadas pelos mestres livres e clérigos vagantes nasceram sob a proteção da Igreja. Eram organizadas em torno de três campos de ensino: artes liberais, medicina e jurisprudência. Ali mestres e estudantes reuniam-se com a finalidade de aprender. (2007, p.29). A ideia da criação de escolas destinadas à formação e preparo específico de professores, voltada para a formação de docentes efetivamente laicos (posteriormente aos jesuítas) está intimamente ligada à “[...] institucionalização da instrução pública no 6 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5, número 1, edição de Julho de 2016 mundo moderno, ou seja, à implantação e difusão das ideias liberais de secularização e extensão do ensino primário a todas as camadas da população” (TANURI, 2000, p. 62). Isso tudo foi fortalecido no século XVII, pelo movimento da Revolução Francesa, que reiterou a concepção de institucionalização de uma educação como função do estado, materializando a implementação de uma escola pública voltada para a formação de professores desvinculados da igreja. A respeito desse período em que a Educação sofreu essa bipolaridade de domínio, ou seja, ora era regida pela igreja ora pelo Estado, Nóvoa (1995) entende que isso tudo se refletiu de forma negativa no processo de institucionalização da profissão docente, que neste caso contribuiu para que não se criasse um conjunto de normas próprias de uma profissão, a exemplo de como ocorreu em outras áreas. O autor diz que: Contrariamente a outros grupos profissionais, os docentes não codificaram jamais, de maneira formal, um conjunto de regras deontológicas. Isso se explica por duas razões: primo, o comportamento ético lhes foi ditado do exterior, em princípio pela igreja, depois pelo estado; secundo, estas duas instituições exerceram uma após a outra, o papel de mediadores da profissão docente, tanto em suas relações internas quanto nas externas. (NÓVOA, 1995, p. 120). No Brasil, após um longo período de domínio do ensino por parte dos jesuítas (mais de duzentos anos), a transferência para o estado da responsabilidade de ensinar trouxe consigo várias questões importantes. Com a função de instruir e catequizar o povo em diversos continentes, os jesuítas produziram vasto material no que se refere à organização de métodos de ensino e à instrução tanto de alunos quanto de seus próprios padres e professores. Vale lembrar que, no Brasil, a luta pela institucionalização do magistério é marcada pela contribuição massiva e constante de professoras. As mulheres brasileiras tiveram papel fundamental na construção do ofício de ensinar. Após a transferência de responsabilidade do ensino para o estado, conforme dito anteriormente, embora tenha havido tímidos avanços em relação à profissionalização da docência, ainda se estaria muito distante de uma genuína discussão oupreocupação a respeito da necessidade de formação e profissionalização de professores, como hoje ainda estamos tão distantes disso na prática, isto é, da formação profissional dos professores em geral. Durante muito tempo, o quadro da Educação no Brasil esteve fortemente marcado por tímidos avanços e contínuos retrocessos, permanecendo praticamente inalterado. Foi somente a partir do advento da Revolução Industrial que o papel da 7 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5, número 1, edição de Julho de 2016 escola passou a ser ampliado, recebendo maior destaque principalmente em função de seu caráter de regulação social. Isso se deu, sobretudo, no que diz respeito à instrução básica, na formação do operariado das fábricas, setor que era de fundamental importância para o processo de urbanização das cidades. A partir daí é que a educação passou a ter papel de maior importância, visto que agora se tornara uma reivindicação de toda a população, além de atender aos interesses das políticas desenvolvimentistas do período. Esse fato, então, aumentou consideravelmente a necessidade de um maior número de professores para atender a uma demanda crescente, o que, por sua vez, alterou o trato com a questão educacional e, conseguintemente, com a profissão docente. Após as intensas transformações ocorridas nas sociedades (o desenvolvimento industrial, as inovações tecnológicas e mais à frente o aprofundamento da crise na educação norte-americana), lançou-se novo olhar sobre as questões educacionais no Brasil e no mundo, inclusive sobre as concepções que se tinha acerca do ensino e do papel determinante da educação no processo de desenvolvimento das sociedades. Desse modo, começou-se a buscar saídas de melhoria para o processo de formação dos professores que se tornavam, então, peças fundamentais para o desenvolvimento social ou para qualquer projeto social a ser implantado ou levado a cabo em qualquer sociedade. Mas isso ainda não foi suficiente para que se alcançasse a efetiva valorização e profissionalização do profissional da Educação. As mudanças vieram, mas foram tímidas, muito tímidas. Ainda hoje, 2015, século XXI, o que se vê, num tempo em que deveria se educar na vida e para a vida, como afirma Imbernón (2011), é que o professor não dispõe de tempo para estudar (a maioria dos municípios e estados não cumpre o tempo mínimo que deveria ser destinado ao planejamento, avaliação e à formação profissional, a saber, 33% da carga-horária), os salários são o fator número um de insatisfação entre os professores; a classe é suficientemente desorganizada, desarticulada, e até as famílias e a sociedade, de modo geral, abandonaram este profissional solitário, embora, paradoxalmente, esta ainda seja, no imaginário coletivo, a profissão redentora da humanidade, a única capaz de provocar profundas e verdadeiras transformações sociais. Esteves (1999, p.104), por exemplo, chega a observar que “o julgamento dos professores tem vindo a generalizar-se [...] A falta de apoio e de reconhecimento social do seu trabalho é cada vez mais evidente”. 8 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5, número 1, edição de Julho de 2016 Portanto, não obstante as significativas transformações no que tange à necessidade de formação dos docentes, no que diz respeito às concepções sobre a docência e apesar das constantes oscilações no curso da história do magistério (algumas visivelmente positivas, ao passo que outras nem tanto), nota-se, com certa clareza, que o docente atual ainda enfrenta muitos (senão quase todos e os mesmos) problemas com os quais o ofício de ensinar nasceu; mas não podemos deixar de dizer, em meio a este cenário desestimulante, por vezes estarrecedor, que ser professor é encantar e reencantar pessoas, é despertar inteligências, é provocar sinapses, é modificar pensamentos e estruturas sociais; é viver o presente construindo efetivamente o amanhã, isto é, ser professor é ser um profissional que participa e contribui diretamente com a evolução e com o desenvolvimento das sociedades. Eis aqui, certamente, o maior sentido e orgulho de ser professor. Vale lembrar o que nos diz Freire (1996) ao expressar que o ensinar não se limita apenas em transferir conhecimentos, senão também no desenvolvimento da consciência de um ser humano inacabado em que o ensinar se torna um compreender a educação como uma forma de intervir na realidade da pessoa e do mundo. 3 Perspectivas de formação e profissionalização docente no século XXI: caminhos e apontamentos Para serem profissionais de forma integral, os professores teriam de construir e atualizar as competências necessárias para o exercício pessoal e coletivo da autonomia e da responsabilidade. A profissionalização do oficio do professor exigiria uma transformação do funcionamento dos estabelecimentos escolares e uma evolução paralela dos outros ofícios relacionados ao ensino (PERRENOUD, 2001, p.12). O século XXI se inicia como um enorme desafio para todos os que viveram as últimas décadas dos cem anos anteriores. As mudanças se deram em todos os campos possíveis da humanidade. As sociedades se modificaram substancialmente, a visão globalizada de mundo trouxe demandas irreversíveis e a Educação, que se fez no curso da história e em meio a todo esse processo de mudanças, não saiu imune do século XX para o XXI. Assim, observou-se ser mais do que necessária uma mudança de paradigmas educacionais; uma mudança que pode ser entendida como radical, se compreendermos que a instituição educativa precisa superar de vez os “enfoques tecnológicos, funcionalistas e burocratizantes, aproximando-se, ao contrário, de seu caráter mais relacional, mais dialógico, mais cultural e comunitário, em cujo âmbito 9 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5, número 1, edição de Julho de 2016 adquire importância a relação que se estabelece entre todas as pessoas que trabalham dentro e fora da instituição”, como afirma Imbernón (2011). Olhando por este prisma, não há como falar em mudança de paradigmas da instituição formadora (desde as escolas de ensino básico até as universidades) sem repensar o lugar de um dos seus principais profissionais, o docente. Noutras palavras, assim como as instituições de ensino carecem de apropriação às enormes mudanças por que passaram as últimas décadas do século passado e às novidades trazidas por este século, o professor, assim como todos os profissionais envolvidos no processo educacional, também precisa se renovar para, enfim, reencontrar-se neste cenário de transformações e mudanças, tornando-se, instituições formadoras e docente, elementos realmente diferentes de tudo o que foram até agora. O que se quer dizer com isto é que, mediante um cenário de mudanças irreversíveis, em que claramente o conhecimento se ampliou, em que se conhece muito mais dos seres humanos do que antes, num tempo em que a educação se tornou mais complexa, o professor precisa assumir o papel de profissional que tem a função de E- DU-CAR, superando modelos antigos em que era visto (e essa concepção é que direcionava sua prática pedagógica) apenas como mero transmissor de conhecimentos, modelo esse que se tornou obsoleto para uma educação com as demandas da atual: participativa, democrática, plural, solidária, integradora. Perrenoud (2001), por exemplo, entende que “o ser professor, no contexto atual, exige certa ousadia aliada a diferentes saberes. Na era do conhecimento e numa época de mudanças, a questão da formação de professores vem assumindo posição de urgência nos espaços escolares”. Historicamente, como se viu, a docência sempre esteve ligada a certo estigma valorativo. A classe de professores sempre caminhou à margem das demais profissões no que diz respeito a criar normas próprias da docência, como fizeram outras profissões. Pode-se dizer que há pelo menos duas palavras(conceitos) que explicam o fato de o profissional da docência nunca ter conseguido reunir características profissionais ao seu ofício e a docência nunca ter atingido o status de profissão. A primeira delas é justamente o termo “profissão”. Do latim professio, o vocábulo “profissão” estabelece relações de sentido com as palavras “declaração”, “emprego”, “exercício”, “profissão” e “ocupação”. Seu “[...] conceito não é neutro nem científico”, segundo Veiga (2005, p. 23), visto que a ele se juntam diferentes outros aspectos, permeados por relações de poder que o determinam em um dado contexto, e vem evoluindo através de 10 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5, número 1, edição de Julho de 2016 transformações ocorrida no âmbito social e econômico ao longo de seu percurso histórico. O conceito de profissão pode ainda ser definido, de acordo com (VEIGA, 2005, p. 40), como algo que “[...] é utilizado para identificar um grupo altamente formado, competente, especializado e dedicado, que corresponde efetiva e eficientemente à confiança pública”. O conceito de profissão (com referência aos professores) resulta da ação dos sujeitos e das mobilizações e lutas em torno de sua construção. Dentre algumas de suas características, destacam-se a autonomia e a colegialidade como elementos centrais para o reconhecimento profissional de derminada ocupação. Outro conceito que toma parte do processo de profissionalização da docência e igualmente importante para tentar esclarecer a formação deficitária da profissão docente (ou a falta dela) ao longo dos anos é o “profissionalismo”, que é definido como nada mais nada menos que as características e capacidades específicas da profissão, que segundo (VEIGA, 2005, p. 27), em uma nova perspectiva “deverá estar fundamentado em um direcionamento ético, especialmente no que se refere [...] à prestação de serviços de qualidade”, estando pautado em princípios educacionais democráticos e no respeito aos valores dos profissionais. Esse novo conceito de profissionalismo deve se opor (ainda que haja necessidade de acompanhamento das ações educativas, resguardada a autonomia que é própria à profissão) à ideia de profissionalismo em uma perspectiva puramente técnica, instrumental e burocratizada, que se desenvolve externamente à prática, nos moldes neoliberais, centrado exclusivamente em competências. Vale dizer, ainda, que as dificuldades oriundas da formação precária, acrescidas por outras decorrentes do processo de massificação do ensino e degradação do trabalho docente, bem como a ausência de políticas públicas voltadas à resolução das problemáticas educacionais, resultaram em um quadro de descaracterização e desvalorização profissional da docência no Brasil. Isso tudo provocou, e ainda provoca até hoje, grandes insatisfações dos professores com relação às condições estruturais de seu trabalho, impulsionando os movimentos articulados em torno da reivindicação pela valorização da função e pela formação de um profissional da educação de forma contextualizada e em sintonia com as demandas do contexto social mais amplo. Essas exigências pela criação de políticas que contemplem a necessidade de melhores condições ao exercício docente e valorização profissional apontam, desde a década de 11 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5, número 1, edição de Julho de 2016 80, para as discussões acerca da profissionalização. Ou seja, um processo pelo qual o profissional é reconhecido pelas características específicas do trabalho que realiza, agregando os saberes e competências necessárias ao desempenho de suas atividades e ao reconhecimento de um estatuto próprio na organização social do trabalho. Ao atingir o profissionalismo mediante a profissionalização, o que se espera é que o professor que educa no século XXI, que educa na e para a vida, apresente algumas características inerentes e imanentes ao seu ofício. A este respeito, Masetto aponta para alguns elementos da formação docente, tais como: [...] inquietação, curiosidade e pesquisa. O conhecimento não está acabado; exploração de “seu” saber provindo da experiência através da pesquisa e reflexão sobre a mesma; domínio de área específica e percepção do lugar desse conhecimento específico num ambiente mais geral; superação da fragmentação do conhecimento em direção ao holismo, ao inter- relacionamento dos saberes, a interdisciplinaridade; identificação, exploração e respeito aos novos espaços de conhecimento (telemática); domínio, valorização e uso dos novos recursos de acesso ao conhecimento (informática); abertura para uma formação continuada. (1994, p. 96) Nesta mesma direção, Imbernón vai além ao afirmar que: A especificidade dos contextos em que se educa adquire cada vez mais importância: a capacidade de se adequar a eles metodologicamente, visão de um ensino não tão técnico, como transmissão de um conhecimento acabado e formal, e sim como um conhecimento em construção e não imutável, que analisa a educação como um compromisso político prenhe de valores éticos e morais (e, portanto, com a dificuldade de desenvolver uma formação a partir de um processo clínico) e o desenvolvimento da pessoa e a colaboração entre iguais como um fator importante no conhecimento profissional; tudo isso nos leva a valorizar a grande importância que têm para a docência a aprendizagem da relação, a convivência, a cultura do contexto e o desenvolvimento da capacidade de interação de cada pessoa com o resto do grupo, com seus iguais e com a comunidade que envolve a educação. (2011, p. 14) Nesse contexto, a formação docente vai além da mera transmissão de conhecimentos técnicos ou da atualização científica, pedagógica e didática. A formação docente, sob este prisma, se transforma na possibilidade de criar espaços de participação, reflexão e formação, promovendo uma educação capaz de fazer com que as pessoas aprendam e sejam capazes de se adaptarem à convivência com a incerteza, levando em conta toda a vastidão e complexidade presentes no mundo atual. Assim, há que se pensar com certa urgência a respeito de uma necessária redefinição da docência como profissão. Portanto, mediante os aspectos discutidos até aqui acerca da formação e profissionalização da docência, não restam dúvidas de que este século espera um 12 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5, número 1, edição de Julho de 2016 professor diferente, uma urgente redefinição da profissão docente, um profissional da educação que assuma novas competências no quadro de conhecimentos pedagógicos, mas não podemos perder de vista as palavras de Labaree, com as quais finalizamos esta terceira parte do artigo: Há uma série de razões para crer que o caminho para a profissionalização dos docentes encontra-se cheio de crateras e areias movediças: os problemas próprios que surgem ao tentar promover os critérios profissionais dentro de uma profissão tão massificada, a possibilidade de desvalorização das habilidades como consequência do aumento dos requisitos educativos, a herança niveladora dos sindicatos dos professores, a posição histórica da docência como forma de trabalho própria de mulheres, a resistência que oferecem os pais, os cidadãos e os políticos à reivindicação do controle profissional das escolas, o fato de a docência ter demorado a se incorporar a um campo infestado de trabalhos profissionalizados, a prévia profissionalização dos administradores das escolas e o excessivo poder da burocracia administrativa, a prolongada tradição de realizar reformas educacionais por meios burocráticos [...] e a diversidade de entornos em que se dá a formação dos professores. (1999, p. 20) 4. Considerações finais A análise do percurso histórico que institucionalizou a profissão docente no Brasil deixou evidente que a profissionalização da docência está intimamente relacionadaà sua própria formação, tanto inicial quanto continuada, formação que vai se fazendo no próprio fazer pedagógico. As discussões atuais acerca da profissionalização docente nos leva a crer que o caminho para a profissionalidade docente está pautado em um tripé: formação, participação e experiência. Este texto se propôs a percorrer o caminho histórico da educação brasileira avaliando as costuras feitas pelo principal agente das instituições formadoras neste país: o professor. É claro que em momento algum se pretendeu esgotar este assunto, tão vasto e permeado de vertentes pouco exploradas. Ao fim desta síntese, ficou muito claro que, num mundo globalizado, desenvolvido e complexo e numa sociedade multifacetada como a brasileira, apesar dos tímidos avanços históricos no que concerne à formação e profissionalização da docência, não há mais espaço para um professor meramente transmissor de conhecimentos cristalizados; concluiu-se que a geração atual espera por um docente capaz de transformar informações em conhecimento, um profissional que troca saberes, que se forma durante o próprio exercício da docência, do fazer pedagógico; um profissional da educação que se informa, que gere o seu próprio fazer pedagógico, alguém proativo, capaz de criar, relacionar, argumentar; um ser participativo no espaço 13 Revista Tropos, ISSN: 2358-212X, volume 5, número 1, edição de Julho de 2016 escolar; concluiu-se, finalmente, que o profissional da educação que se propuser a educar na vida e para a vida neste século, deverá se profissionalizar, formar-se e transformar-se num sujeito capaz de efetivamente E-DU-CAR. 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Vol. 9, N.17: p. 68-82, Outubro/2013 68 O PEDAGOGO NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO: DESAFIOS E RESPONSABILIDADES The Educator in Contemporary Context: Challenges and Responsibilities Eliane de Lourdes FELDEN1 Geruza LIMA2 Graciele Denise KRAMER3 Laís Francine WEYH4 RESUMO O presente artigo resulta de uma pesquisa bibliográfica desenvolvida no Curso de Pedagogia, na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões-URI, com o objetivo de compreender a pedagogia como um campo de conhecimento que estuda a sistemática da teoria e das práticas educativas e analisar a relevância do trabalho do pedagogo e suas atribuições nos contextos escolares e não-escolares. Os aportes que sustentam o trabalho são políticas públicas e referenciais teóricos, entre os quais se destaca: Brasil (1988, 2006), Carneiro (2010), Fonseca (1999), Freire (1993,1996), Libâneo (2001, 2006, 2008, 2011), Saviani (2008), Silva (2007), Franco, Libâneo e Pimenta (2007) entre outros. Nessa perspectiva, a pedagogia, que tem a educação como objeto de estudo, alerta para a necessidade de que a universidade forme pedagogos (as) qualificados (as) para atuar no espaço escolar e também para desenvolver ação educativa e pedagógica em instituições não-escolares, seja em lugares formais ou não. Ressalta, ainda, a necessidade de a universidade incentivar a pesquisa e a extensão nos processos de formação do pedagogo tendo em vista os novos campos de atuação para esse profissional. A pesquisa permitiu perceber que as transformações no mundo contemporâneo induzem a buscar novas formas de organização do trabalho do pedagogo, legitimado pela ampla procura por profissionais da educação. Sem dúvida, pedagogos e professores são agentes imprescindíveis para o desenvolvimento humano e social das comunidades, de norte a sul em nosso país. Portanto, é fundamental ter clareza do papel social e político do pedagogo que se compromete com a formação, com a socialização, e, principalmente, com a emancipação dos sujeitos. Palavras-Chave: Educação. Pedagogia. Espaço escolar. Espaço não-escolar. Formação. ABSTRACT The present article is the result of a bibliographical research developed at Universidade Regional 1 Doutoranda em Educação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Professora da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões- URI, Campus de Santo Ângelo. E-mail: elianefelden@gmail.com 2 Acadêmica do Curso de Pedagogia na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus de Santo Ângelo. E-mail: geruza.lima@live.com 3 Acadêmica do Curso de Pedagogia na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus de Santo Ângelo. E-mail: graciele.kramer@yahoo.com.br 4 Técnica em Informática e Acadêmica do Curso de Pedagogia na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus de Santo Ângelo. E-mail: laisinha_weyh@hotmail.com Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Vivências. Vol. 9, N.17: p. 68-82, Outubro/2013 69 Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Pedagogy course, and it aims to understand pedagogy as a field of knowledge, which studies theory systematics and teaching practices, as well as analyses the relevance of the work of the teacher and their rights regarding educational and non- educational contexts. The contributions that support this work are public policies and theoreticalreferences, amongst which are: Brasil (1988, 2006), Carneiro (2010), Fonseca (1999), Freire (1993, 1996), Libâneo (2001, 2006, 2008, 2011), Saviani (2008), Silva (2007), Franco, Libâneo e Pimenta (2007) and others. In this perspective, pedagogy, which has education as its main object of study, warns the University for the need of training educators so that they can operate in school and also develop educative and pedagogical actions in non-educational institutions, either formal or not. It is also highlighted that the university should encourage research and extension in the processes of training, looking at new action fields for these professionals. The research allowed the realization that the changes in contemporary world induce one to seek new ways of work organization for the pedagogues, legitimated by the wide search for education professionals. No doubt, pedagogues and teachers are crucial agents for human and social development in communities in all parts of our country. Thus, it is essential to be familiar with the social and political role of the pedagogue, who commits with training, socialization and, mainly, with emancipation of individuals. Keywords: Education. Pedagogy. School environment. Non-educational environment. Training. INTRODUÇÃO A presença do pedagogo escolar torna-se, pois, uma exigência dos sistemas de ensino e da realidade escolar, tendo em vista melhorar a qualidade da oferta de ensino para a população. (LIBÂNEO, 2006). O contexto educacional, no Brasil, vem sendo foco de inúmeras pesquisas e produções literárias, tendo em vista a relevância da educação como processo de humanização, socialização e formação do homem. É importante salientar que a educação é um direito constitucional de cunho social. A Constituição Federal, em seu artigo 205, referencia a educação como direito de todos e esclarece que é dever do Estado e da família valorizar e acompanhar esse processo, que deverá ser promovido e incentivado com a colaboração da sociedade, objetivando o desenvolvimento integral da pessoa, além de seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. O texto constitucional traça a amplitude do ato de educar que se traduz em investimento no desenvolvimento pessoal e profissional, colaborando para que os sujeitos envolvidos no processo educacional se constituam cidadãos críticos, politizados e comprometidos com o desenvolvimento social da sociedade. Há um entendimento de que é pela educação que o homem se desenvolve, daí a sua relevância como um processo permanente na vida dos sujeitos. Nesse campo, a pedagogia tem sido amplamente analisada como tema relevante nos processos de formação de professores, pois tem a educação como objeto de estudo e pode ser assim definida: [...] a pedagogia como campo de conhecimento que investiga a natureza e as finalidades da educação numa determinada sociedade, bem como os meios apropriados de formação humana dos indivíduos. Mais especificamente, concebemos a Pedagogia como ciência da prática que explica objetivos e formas de intervenção metodológica e organizativa nos âmbitos da atividade educativa implicados na transição/assimilação ativa de saberes e Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Vivências. Vol. 9, N.17: p. 68-82, Outubro/2013 70 modos de ação. (LIBÂNEO, 2001, p.129). Nas palavras do autor, é possível perceber que a educação articula constantemente a teoria com a prática, ou seja, entre o individuo e sua interação com o meio. A ideia é de que, entre a teoria e a prática, se estabelece um processo de educação por meio do qual se desenvolvem ações concretas e efetivas. São ações educativas que têm o objetivo de inserir os sujeitos no contexto culturalmente organizado. Desse modo, essa é a tarefa da educação que precisa ser realizada e assumida pelos profissionais do campo da Pedagogia. Nesse sentido, a universidade necessita instigar seus acadêmicos, em especial estudantes do Curso de Pedagogia5, enquanto docentes em formação, a compreender que é necessário conhecer teorias e práticas que pautam atualmente o trabalho do pedagogo, refletindo sobre o seu papel como professor da Educação Básica, mas, sobretudo, sobre seu compromisso social com um fazer pedagógico que ultrapassa os contextos escolares. 1. PEDAGOGIA COMO TEORIA E PRÁTICA DA EDUCAÇÃO Efetivamente a educação aparece como uma realidade irredutível nas sociedades humanas. Sua origem confunde-se com as origens do próprio homem. (SAVIANI, 2008). A especificidade do campo teórico-prático da pedagogia tem sido foco de estudos de pesquisadores sensibilizados pelo campo da educação. Legitima-se esse processo tendo em vista as contribuições das ciências da educação na formação dos professores que assumem um papel essencial no processo de formação cultural e científica das novas gerações. A Pedagogia traduz-se num procedimento que envolve a formação escolarizada e também como um campo do conhecimento que examina a problemática educativa na sua historicidade e totalidade. O didata alemão Schimied-Kowarzik (1983) denomina a Pedagogia de ciência da e para a educação, logo, é a teoria e a prática da educação. Acredita o escritor que a Pedagogia tem um caráter explicativo e normativo da realidade educativa, pois examina teoricamente o fenômeno educativo, define orientações para a prática a partir da própria ação educativa e sugere princípios e normas articulados aos fins e meios da educação. Contemplar a história da Pedagogia desde a Grécia antiga remete a analisar a concepção de Pedagogia com dupla referência, como assevera Saviani (2007) desenvolvendo, uma reflexão estreita com a filosofia, apoiada na ética que guia o ato educativo e também estudando a experiência e a prática, reforçando a metodologia que sustenta os procedimentos nas práticas escolares. Da mesma forma, é importante referenciar que Franco (2008), ao esclarecer o percurso histórico da Pedagogia teoriza que ela é tratada como arte, metodologia, ciência da arte educativa e recentemente com expressiva ênfase na atuação docente. Diante desse contexto, é indiscutível que há uma clara indefinição do papel atribuído à Pedagogia como fenômeno educativo em razão de sua complexidade. Esse é um pressuposto que merece atenção e exame, pois, tradicionalmente, a Pedagogia é concebida como um campo de conhecimento que tem a educação como foco de estudo e análise. Nessa lógica, Libâneo (2001, p. 160) esclarece: 5 Art. 4º - O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. (BRASIL, DCN, 2006, p.2). Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Vivências. Vol. 9, N.17: p. 68-82, Outubro/2013 71 Pedagogia, mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnicoprofissionais, investiga a realidade educacional em transformação, para explicitar objetivos e processos de intervenção metodológica e organizativa referentes à transmissão/assimilação de saberes e modos de ação. Ela visa o entendimento, global e intencionalmente dirigido, dos problemas educativos e, para isso, recorre aos aportes teóricos providos pelas demais ciências da educação. Uma análise relevante do autor remete a pensar no valor de conhecimentos, teorias e instrumentos de outras ciências para fortalecer a cientificidade da Pedagogia, que objetiva compreender as questões do campo da educação. Na verdade, há um convite para que a Pedagogia e seus educadores compreendam-na como campo do conhecimento que reflete e teoriza a respeito dos fenômenos educativos, mas, além disso, planejae define ações que produzam novas circunstâncias para exercer o ato pedagógico, com a finalidade de emancipação da sociedade como um todo. A pedagogia, como campo de estudo, também tem sido assim indicada: O significado de pedagogia é mais bem compreendido no contexto do conceito de práxis, no qual Freire tensiona dialeticamente a ação e a reflexão. A pedagogia que se situa no âmbito desta tensão, em que a prática e a teoria estão em permanente diálogo. Nesse sentido, pedagogia refere-se a práticas educativas concretas realizada por educadores e educadoras, profissionais ou não. Vem a ser o próprio ato de conhecer, no qual o educador e a educadora têm um papel testemunhal no sentido de refazer diante dos educandos e com eles o seu próprio processo de aprender e conhecer. (STRECK, 2008, P.312). O pesquisador, parafraseando Freire, explicita que a pedagogia refere-se a um diálogo contínuo da teoria com a prática educativa, em que um conjunto de conhecimentos estão sempre articulados. Esse pressuposto precisa fazer parte do processo de formação profissional, compreendendo a centralidade da teoria e da prática como fundamentação antropológica na formação dos profissionais da educação. Sem dúvida, é uma comprovação que demanda a Pedagogia lutar pela construção de um arcabouço teórico e prático, no intuito de fazer rupturas nesse campo de saber e consolidar a Pedagogia como teoria e prática da educação. Justifica-se esse olhar para a Pedagogia, pois o exercício profissional do pedagogo tem sido ampliado significativamente nas últimas décadas. Para tanto, é urgente construir uma sólida fundamentação teórica, com precisas concepções conceituais, considerando os vários âmbitos que compõem a atuação científica e profissional desse campo educacional. A preocupação é com o avanço do processo de formação desses profissionais da educação e, consequentemente, a garantia de qualidade dessa formação, possibilitando que as práticas educativas realizadas por educadores e educadoras, correspondam aos anseios e expectativas da sociedade. Nessa direção, com foco na pedagogia que corresponde à teoria e à prática educativa efetivamente realizadas pelos professores e pedagogos em diferentes contextos, recai a discussão deste trabalho, nas etapas a seguir. 2. O TRABALHO DO PEDAGOGO NA ESCOLA Quem, então, pode ser chamado de pedagogo? O pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modos de ação, tendo em vista o objetivo de formação humana previamente definidos em sua contextualização histórica. (LIBÂNEO, 2001, p.161). Na obra de Saviani (2008), há um entendimento de que a educação, desde a Paideia grega, Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Vivências. Vol. 9, N.17: p. 68-82, Outubro/2013 72 passando por Roma e pela Idade Média, chegou aos tempos modernos associada ao termo pedagogia. Em relação à docência, o autor considera que existe o pensamento de que é da articulação teoria e prática que virá a formação pedagógico-didática e alerta que a instituição formadora necessita garantir, deliberada e sistematicamente, por intermédio da arquitetura curricular, a formação dos professores, pautada nesse princípio. Para tanto, na contemporaneidade, um dos fundamentos da formação de professores e pedagogos é a articulação teoria e prática, possibilitada quando é dada ênfase em ambas as dimensões, com o objetivo de compreender o ser e estar na profissão docente. Nas obras de Pimenta (2002, p. 24), há um indicativo de que os conhecimentos que constituem os professores advêm da prática, mas igualmente da teoria da educação responsável por nutrir e iluminar as ações. Desse modo, argumenta que “a teoria tem importância fundamental na formação dos docentes, pois dota os sujeitos de variados pontos de vista para uma ação contextualizada, oferecendo perspectivas de análise para que os professores compreendam os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si próprios como profissionais”. A valorização da teoria acadêmica na formação dos profissionais da educação é referida pela autora como importante pressuposto, desde que haja uma constante vinculação entre a teoria e a prática. Há um indicativo de que as experiências concretas do campo da educação precisam ser iluminadas e nutridas pela teoria examinada no espaço acadêmico. Nesse sentido, as bases epistemológicas precisam estar articuladas aos conhecimentos construídos na prática pedagógica e é esse processo que dará sentido e significado à formação dos pedagogos. A prática, a ação ou essa interação humana “deixa então de ser uma simples categoria que exprime as possibilidades do sujeito humano de intervir no mundo, e torna-se a categoria central através da qual o sujeito realiza sua verdadeira humanidade”. (TARDIF; LESSARD, 2007, p.29). Nas palavras dos autores, é possível analisar que constituir o profissional da educação pressupõe, fundamentalmente, envolvimento com uma práxis midiatizada pela teoria que deve estar associada ao trabalho escolar e docente, bem como às demandas das instituições não-escolares. O desafio colocado para a universidade, ao formar pedagogos e docentes, é compreender que toda profissão exige que os acadêmicos estejam em relação com seu objeto de trabalho e que esse processo é imprescindível para se compreender a atividade em tese. Nessa perspectiva, o movimento de pesquisa é identificado como um processo que permite articular teoria e prática na formação de professores, e chega a ser apontada, pelas próprias Diretrizes e inúmeros teóricos, como um decurso que favorece ler e desvelar a dialética do movimento da realidade educacional. A pesquisa oportuniza a apreensão da realidade, construindo uma visão de totalidade do campo educacional. Nesse sentido, a escola e outros importantes espaços, em que práticas educativas são desenvolvidas, são compreendidos como lócus de formação, dando vozes àqueles que fazem a educação no cotidiano, sejam em espaços escolares ou não-escolares. Aprofundar essa questão é um imperativo que se coloca à universidade, compreendendo sua missão formadora. Para tanto, é fundamental examinar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/96, apresenta incumbências e responsabilidades estabelecidas aos professores, definidas no artigo 13: Os docentes incumbir-se-ão de: participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III – zelar pela aprendizagem dos alunos; IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. (CARNEIRO, Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Vivências. Vol. 9, N.17: p. 68-82, Outubro/2013 73 2010, p.157). Contempla-se que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) coloca aos professores atribuições funcionais de cunho pedagógico que ultrapassam a sala de aula. Exemplo disso é esse profissional ser convocado a participar da gestão das instituições, contribuindo para elaboração, implementação, coordenação, acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico. Enfim, são responsabilidades que exigem uma formação específica para educar, orientar e estimular a aprendizagem, provocando no aluno o desejo de interagir com o conhecimento. Nesse aporte legal, o professor é convidado a assumir a postura de mediador nos processos que formam a essência da cidadania no aluno, estabelecendo caminhos para a transposição de inúmeros desafios colocadosaos estabelecimentos de ensino. Assim como a LDB, outro documento legal analisado foi as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Nesse documento, foi possível observar a exigência em relação à formação do Pedagogo: I - atuar com ética e compromisso com vistas à construção de uma sociedade justa, equânime, igualitária; II - compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a contribuir, para o seu desenvolvimento nas dimensões, entre outras, física, psicológica, intelectual, social; III - fortalecer o desenvolvimento e as aprendizagens de crianças do Ensino Fundamental, assim como daqueles que não tiveram oportunidade de escolarização na idade própria; IV - trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo. (BRASIL, DCN, 2006, p.2). Essas são algumas das responsabilidades a serem assumidas pelo pedagogo diante de outras tantas especificadas nas Diretrizes Nacionais. Desse modo, é preciso compreender que ser pedagogo é ser um profissional comprometido com a formação do sujeito que frequenta o espaço escolar e também os contextos não-escolares. É necessário recordar que o campo da Pedagogia foi intensamente pesquisado por Freire (1996), educador e pesquisador brasileiro que estudou e aprofundou, em várias obras, a questão da formação dos professores e dos saberes fundamentais que precisa construir para qualificar, a cada dia, sua prática educativa. Em suas obras, a pedagogia é concebida como práticas concretas desenvolvidas por educadores que têm um importante papel no sentido de refazer e ressignificar, diante dos educandos e junto com eles, o seu próprio processo de aprender e conhecer. Esse movimento é necessário, segundo o autor, tendo em vista que é preciso haver um compromisso com a formação profissional para que seja possível construir conhecimentos teóricos articulados à prática educativa. Aprofundar as concepções freireanas remete a compreender que ser um profissional da educação é ser pesquisador e entender que essa atividade requer estudo e reflexão, para que seja possível construir um conjunto de conhecimentos capazes de fortalecer e qualificar a prática educativa desenvolvida em diferentes espaços educativos. Esse é, portanto, um chamamento aos pedagogos e demais profissionais envolvidos com o ato de educar e humanizar o sujeito. Em uma de suas obras, Freire enfatiza que “o processo de ensinar, que implica o de educar e vice-versa, envolve a paixão de conhecer que nos insere na busca prazerosa, ainda que nada fácil” (1993, p.11). Nessa declaração, o autor revela o quanto o pedagogo, enquanto professor, necessita ser um profissional que, de forma contínua e permanente, investe na sua formação, construindo referenciais importantes para qualificar sua prática exercendo com plenitude sua função social no espaço escolar. Historicamente, à escola é atribuída a tarefa de estabelecer um processo educativo que concretamente colabore com a formação humana. Nessa perspectiva, compreende-se que a ação Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Vivências. Vol. 9, N.17: p. 68-82, Outubro/2013 74 educativa é guiada por objetivos e ainda por condições metodológicas e organizativas de acordo com os interesses de seus protagonistas. Cumpre destacar então que “a prática educativa envolve a presença de sujeitos que ensinam e aprendem ao mesmo tempo, de conteúdos (objetos de conhecimento a ser apreendidos), de objetivos, de métodos, de técnicas coerentes com os objetivos desejados” (LIBÂNEO, OLIVEIRA; TOSCHI, 2011, p. 168). Assim, de forma sistemática, professores e alunos encontram- se imbricados num decurso carregado de finalidades e intencionalidades, envolvidos por vários campos de conhecimento e, ao mesmo tempo, metodologias, circunstância essa caracterizada como pedagógica. Em sua obra, Pedagogia e pedagogos, para quê?, o pesquisador Libâneo enfatiza: O que define algo - um conceito, uma ação, uma prática como pedagógico é, portanto, a direção de sentido, o rumo que se dá às práticas educativas. É, pois, o caráter pedagógico que faz distinguir os processos educativos que se manifestam em situações sociais concretas, uma vez que é a análise pedagógica que explica a orientação do sentido (direção) da atividade educativa. Por isso se diz que a toda educação corresponde uma pedagogia (2001, p.135). As palavras do autor propõem refletir sobre as condições, as circunstâncias, os modos efetivos de viabilizar a ação educativa, para que tais requisitos estejam envolvidos em um caráter pedagógico. Para tanto, o trabalho do professor precisa ser consciente e intencional, considerando as leis, os princípios, as finalidades, os conteúdos e as metodologias que precisam apoiar as diretrizes e as bases do ato educativo-pedagógico. Ao explicitar o trabalho da escola e suas responsabilidades, a LDB, em seu artigo 12, assegura: Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I – elaborar e executar sua proposta pedagógica; II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III – assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas aula estabelecidas; IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V – prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; 13VII – informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; VIII – notificar ao Conselho Tutelar do município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei. (CARNEIRO, 2010, p. 146). Examinar esse artigo da Lei remete a compreender que são muitas as responsabilidades que a escola assume diante da sociedade e, nesse espaço, o pedagogo é chamado a colaborar, em especial, com a realização do Projeto Político Pedagógico da instituição. Entende-se que “o projeto político-pedagógico é proposto com o objetivo de descentralizar e democratizar a tomada de decisões pedagógicas, jurídicas e organizacionais na escola, buscando a participação dos agentes escolares.” (LIBÂNEO, OLIVEIRA; TOSCHI, 2011, p. 168). Portanto, um dos compromissos do pedagogo, na escola, é participar da construção da proposta político-pedagógica, documento que apresenta toda a organização do trabalho pedagógico da instituição e que precisa ser construído considerando os interesses e perspectivas de todos os envolvidos, ou seja: direção, professores, funcionários, alunos, pais. É importante considerar que “a participação é o principal meio de se assegurar a gestão democrática da escola” (LIBÂNEO, 2008, Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Vivências. Vol. 9, N.17: p. 68-82, Outubro/2013 75 p.102). A lei também faz menção ao plano de trabalho de cada docente e aos meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento. É preciso reconhecer que o pedagogo, na escola, é chamado a planejar sua ação considerando as propostas e objetivos traçados, direcionando seu trabalho de forma a garantir um processo educacional com qualidade. A articulação, de forma contínua com as famílias e a comunidade, fazendo integração da sociedade com a escola, também está referida na lei e, para tanto, o pedagogo precisa assumir esse compromisso junto com a equipe gestora da escola e seus colegas professores. Nas pesquisas realizadas para elaborar este trabalho, foi possível constatar que a escola tem uma estruturaespecífica para garantir seu funcionamento e, nesse espaço, os principais setores são: direção, setor pedagógico, conselho escolar, corpo docente, corpo discente, setor técnico- administrativo e associação de alunos, pais e mestres. (LIBÂNEO, 2008). Nessa organização, são vários os setores e funções que formam a estrutura básica da escola e, portanto, precisam ser assumidos, com responsabilidade e seriedade por todos, para que seja possível garantir e desenvolver uma educação de qualidade. Ao analisar, nessa estrutura, o papel do pedagogo, é preciso canalizar esse olhar em três dimensões. A primeira, na direção, tendo em vista que o pedagogo, ao assumir essa função em um estabelecimento de ensino, precisa saber que todo [...] diretor coordena, organiza e gerencia todas as atividades da escola, auxiliado pelos demais componentes do corpo de especialistas e de técnicos administrativos, atendendo às leis, regulamentos e determinações de órgãos superiores do sistema de ensino e às decisões no âmbito da escola assumidas pela equipe escolar e pela comunidade. (LIBÂNEO, 2008, p.128). O pedagogo, como diretor, assume a tarefa de ser gestor, aquele que coordena e acompanha todas as atividades da escola, assessorado por alguns profissionais como vice-diretores e pela equipe pedagógica da escola. Uma segunda perspectiva é o pedagogo como integrante do setor pedagógico da escola, ou seja, o pedagogo assumindo a função de supervisor ou coordenador pedagógico. Nessas circunstâncias, suas incumbências são as seguintes: Supervisiona, acompanha, assessora, apoia, avalia as atividades pedagógico-curriculares. Sua atribuição prioritária é prestar assistência pedagógico-didática aos professores em suas respectivas disciplina, no que diz respeito ao trabalho interativo com os alunos. (LIBÂNEO, 2008, 129-130). Na condição de supervisor, o pedagogo precisa assumir, com afinco, o acompanhamento do trabalho dos professores, prestando assessoria e orientação em termos de planejamento, metodologia e avaliação. É, na verdade, um compromisso com a formação continuada dos professores. O setor pedagógico também inclui a função de orientação educacional. No cotidiano da escola, o orientador educacional cuida do atendimento e do acompanhamento escolar dos alunos e também do relacionamento escola-pais-comunidade. (LIBÂNEO, 2008). Portanto, na função de orientador educacional, o pedagogo essencialmente acompanha e apoia os alunos, considerando seus problemas pessoais e dificuldades de aprendizagem e, ainda, desenvolve projetos que integram escola - família e comunidade. Uma terceira função que pode o pedagogo assumir na escola é a de ser professor em sala de aula, ou seja, fazer parte do corpo docente6 da escola. Como docente, o professor tem um papel 6 O corpo docente é constituído pelo conjunto dos professores em exercício na escola, cuja função básica consiste em realizar o objetivo prioritário da escola, o processo de ensino-aprendizagem. Os professores de todas as disciplinas formam, junto com a direção, e os especialistas, a equipe escolar. (LIBÂNEO, 2008, p. 131). Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Vivências. Vol. 9, N.17: p. 68-82, Outubro/2013 76 fundamental com o processo de ensino e aprendizagem, que o envolve em permanente ação pedagógica junto com os educandos. Além disso, cabe a todos os professores participar ativamente da construção do projeto político- pedagógico da escola, colaborar na realização das diversas atividades que a instituição realiza, envolver-se e contribuir com as iniciativas do conselho escolar e demais associações de alunos e pais que integram a organização da escola. Igualmente, é imprescindível que o professor participe do planejamento e desenvolvimento de atividades de caráter cívico, cultural e recreativo que envolva a comunidade escolar como um todo. De fato, o pedagogo é um profissional que contribui, de maneira significativa, com o campo educacional no espaço escolar. Na contemporaneidade, ele precisa investir na sua formação, buscando, a cada dia, novos referenciais para qualificar sua ação e atuar de forma dinâmica, consciente e responsável. 3. O PEDAGOGO NO ESPAÇO NÃO-ESCOLAR [...] o discurso da Pedagogia está em alta nos meios políticos, empresariais, profissionais, comunicacionais e em movimentos da sociedade civil. Observa-se expressiva movimentação na sociedade, mostrando uma ampliação do campo do educativo com a consequente repercussão na busca de novas formas de ação pedagógica. (FRANCO; LIBÂNEO; PIMENTA, 2007, p.73). A pedagogia, como campo de estudo, integra a estrutura de cursos universitários espalhados pelo país, oferecidos em instituições de ensino superior e universidades, tendo como missão a formação profissional de pedagogos e professores, considerando as exigências do mundo contemporâneo. Nos estudos de Libâneo (2001), há uma declaração de que o curso de Pedagogia se destina a formar o pedagogo-especialista, ou seja, um profissional qualificado para trabalhar em inúmeros campos educativos, com a finalidade de atender às exigências socioeducativas resultantes de novas realidades, entre elas as novas tecnologias, os atores sociais, a diversificação do lazer, a complexidade dos meios de comunicação. O pedagogo, na atualidade, é chamado a trabalhar em diversos campos da sociedade, definidos como espaços escolares e não-escolares. Nesse contexto, contempla-se que, para além dos espaços escolares como escolas de educação infantil e escolas que oferecem educação básica, o pedagogo igualmente está sendo convidado a atuar em outras instituições sociais como empresas, sindicatos e hospitais, ou seja, estabelecimentos em que práticas educativas também podem ser desenvolvidas. Nesse aspecto, enfatiza o autor: Proponho que os profissionais da educação formados pelo curso de Pedagogia venham a atuar em vários campos sociais da educação, decorrentes de novas necessidades e demandas sociais a serem regulados profissionalmente. Tais campos são: as escolas e os sistemas escolares; os movimentos sociais; as diversas mídias, incluindo o campo editorial; a áreas da saúde; as empresas; os sindicatos e outros que se fizerem necessários. (LIBÂNEO, 2001, p. 14). Desse modo, essa é uma realidade que desponta no campo profissional da educação, oferecendo novas oportunidades de atuação para o pedagogo, em espaços educacionais não- formais7, ultrapassando as fronteiras da escola, porém também marcadas por um viés educativo e intencional. Nesse meio, há a possibilidade de o pedagogo atuar na coordenação, no planejamento, 7 [...] vem se acentuando o poder pedagógico de vários agentes educativos formais e não-formais. Ocorrem ações pedagógicas não apenas na família, na escola, mas também nos meios de comunicação, nos movimentos sociais e outros grupos humanos organizados, em instituições não escolares. (LIBÂNEO, 2001, p.19). Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Vivências. Vol. 9, N.17: p. 68-82, Outubro/2013 77 na supervisão e/ou execução de atividades de natureza pedagógico-educacional. Nas empresas, em especial, o pedagogo poderá implantar e coordenar projetos no campo de desenvolvimento de recursos humanos, particularmente em trabalhos de formação de pessoal, sendo inclusive responsável pela qualificação dos serviços oferecidos nesse espaço. Há uma compreensão de que, quando são realizados investimentos na formação do pessoal que integra a empresa, por exemplo, esse movimento intenta fortalecer a capacidade produtiva da própria instituição. No contexto brasileiro, essa abertura nas empresas tem-se dado, em especial, pela necessidade de preparar, de forma contínua e permanente, toda a equipe de profissionais. Nessa lógica, o pedagogo empresarial tem o papel de colaborar,