Prévia do material em texto
APRESENTAÇÃO A Administração Ambiental é uma área que tem merecido pouca atenção por parte das universidades, das instituições públicas e das empresas privadas. As questões ambientais têm sido tratadas de forma amadorística, eis que administrar não envolve apenas conhecer profundamente um certo tema, como direito, biologia, engenharia e outros. É necessário, antes de tudo, saber que administrar envolve quatro funções básicas: planejar, organizar, dirigir e controlar. O primeiro passo é planejar, para que a execução, constituída pela organização, direção e controle, tenha condições de alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável. Assim, Planos Ambientais são imprescindíveis para reduzir o nível de incerteza que acompanha ações destinadas à proteção ambiental. Eles são o produto final de um processo de planejamento, realizado de forma técnica e participativa, que inicia com o conhecimento das condições atuais, envolve a previsão das alterações ao longo de um determinado tempo e que resulta no estabelecimento de propostas de ação realizáveis, com maiores chances de sucesso. A iniciativa tomada pela Prefeitura Municipal de Cachoeirinha, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SMMA, apoiada pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente - COMDEMA, de elaborar um Plano Ambiental, para qualificar-se ao licenciamento das atividades de impacto local, constitui prova da firme disposição da administração municipal de enfrentar os desafios ambientais atuais e futuros, de forma objetiva. O Plano Ambiental de Cachoeirinha visa, primordialmente, o bem-estar das pessoas que vivem no Município. Estabelece recomendações para que o ar, a água e o solo não fiquem poluídos por resíduos das atividades sociais e econômicas, para que a vegetação e a fauna silvestres sejam protegidas, para que as áreas degradadas sejam recuperadas, para que a paisagem natural recupere a sua beleza, para que o patrimônio arqueológico, histórico e cultural seja preservado. Para que isso seja possível, é necessário que a população desperte o seu sentimento de cidadania e participe do processo, protegendo e melhorando o ambiente deste território, para si, seus semelhantes e descendentes. Na realização do Plano foi adotada a metodologia proposta por Teixeira (1999), envolvendo uma equipe multidisciplinar do Museu de Ciências e Tecnologia - MCT da PUCRS, o corpo técnico e servidores da Prefeitura e a comunidade em geral. Os resultados estão formalizados em quatro volumes: Volume 1 – Estrutura Legal, Administrativa e Serviços Públicos de Proteção Ambiental Volume 2 - Patrimônio Natural, Arqueológico, Histórico e Atividades Sócio-econômicas Volume 3 - Zoneamento e Programas Ambientais Volume 4 - Documentação Cartográfica Cada um dos inúmeros temas abordados constitui um capítulo, desenvolvido por um ou mais especialistas da equipe de planejamento. Todos contaram com a colaboração de especialistas especialmente indicados pela administração municipal. Este Volume 1 apresenta dados e informações sobre as características gerais do Município, seguidos do diagnóstico e o prognóstico da estrutura legal, da administração ambiental, das principais iniciativas para enfrentar o desafio da gestão ambiental, das ações de proteção ambiental desenvolvidas nas áreas da saúde pública, do saneamento e da educação ambiental, bem como das demandas da comunidade. Tratam-se dos primeiros elementos analisados pela equipe de planejamento. Junto com o acervo de dados do Volume 2, contribuíram para a detecção dos problemas atuais e futuros, ensejando a formulação das propostas de solução apresentadas no Volume 3. Engº Mario Buede Teixeira Coordenador EQUIPE EXECUTORA Coordenação - Engº Agrônomo Dr. Mario Buede Teixeira Legislação ambiental - Advogado Me. Orci Paulino Bretanha Teixeira Administração ambiental - Engº Agrônomo Dr. Mario Buede Teixeira Saúde pública - Drª. Lúcia Beatriz Lopes Ferreira Mardini Abastecimento de água e esgotamento sanitário - Engº Dr. Fábio Moreira da Silva Educação ambiental - Bióloga Esp. Kenya Ribeiro de Souza Demandas da comunidade - Geógrafa Me. Irani Schönhofen Garcia Qualidade do ar e emissões atmosféricas - Químico Dr. Marçal José Rodrigues Pires Acadêmica Heldiane Souza dos Santos Geologia, geomorfologia e mineração - Geóloga Fabiana Silveira de Farias Paleontologia - Bióloga Esp. Patrícia Alano Perez Recursos hídricos e clima - Geógrafa Me. Irani Schönhofen Garcia Solos, agropecuária e silvicultura - Engº Agrônomo Dr. Mario Buede Teixeira Vegetação - Bióloga Esp. Gilda Goulart Fauna - Biólogo Esp. Cristiano Minuzzo Marin Arqueologia - Arqueóloga Drª. Gislene Monticelli Patrimônio histórico e cultural - Historiador Esp. Júnior Marques Domiks Uso atual da terra - Geógrafa Me. Irani Schönhofen Garcia Assentamentos habitacionais irregulares - Arquiteta Me. Maria Celina Santos de Oliveira Resíduos sólidos - Engº Esp. Adriano Locatelli da Rosa Efluentes líquidos - Engº Dr. Fábio Moreira da Silva Zoneamento - Engº Agrônomo Dr. Mario Buede Teixeira Geógrafa Me. Irani Schönhofen Garcia Cartografia - Geógrafo Dr. Régis Alexandre Lahm Geógrafo Me. Donarte dos Santos Júnior Impressão de cartas - Publicitário Me. Lucas Sgorla de Almeida SUMÁRIO METODOLOGIA .....................................................................................................................................................1 1. CARACTERÍSTICAS GERAIS ...........................................................................................................................5 2. ESTRUTURA LEGAL .........................................................................................................................................7 2.1. LEGISLAÇÃO FEDERAL............................................................................................................................................. 7 2.1.1. Saneamento básico............................................................................................................................................. 9 2.1.2. Educação Ambiental.......................................................................................................................................... 10 2.2. ESTRUTURA ESTADUAL ......................................................................................................................................... 11 2.2.1. Legislação Estadual .......................................................................................................................................... 11 2.2.2. Ministério Público .............................................................................................................................................. 12 2.3. ESTRUTURA MUNICIPAL......................................................................................................................................... 12 2.3.1. Poder legislativo ................................................................................................................................................ 12 2.3.2. Histórico da Legislação Ambiental..................................................................................................................... 13 2.3.3. Sistema Municipal de Proteção Ambiental ........................................................................................................ 15 2.4. PROBLEMAS............................................................................................................................................................. 16 3. ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL......................................................................................................................17 3.1. ÓRGÃOS PÚBLICOS ................................................................................................................................................17 3.1.1. Órgãos Públicos Federais ................................................................................................................................. 18 3.1.2. Órgãos Públicos Estaduais ............................................................................................................................... 18 3.1.3. Órgãos Públicos Municipais .............................................................................................................................. 21 3.2. OUTRAS INSTITUIÇÕES .......................................................................................................................................... 29 3.2.1. Ministério Público .............................................................................................................................................. 29 3.2.2. Municípios Vizinhos........................................................................................................................................... 30 3.2.3. Comitê de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas .......................................................................................... 30 3.2.4. Universidades.................................................................................................................................................... 30 3.2.5. Organizações Não Governamentais.................................................................................................................. 31 3.3. PROBLEMAS E PROGNÓSTICO.............................................................................................................................. 31 4. SAÚDE PÚBLICA.............................................................................................................................................33 4.1. DIAGNÓSTICO.......................................................................................................................................................... 33 4.1.1. Rede de Serviços de Saúde.............................................................................................................................. 34 4.1.2. Indicadores epidemiológicos ............................................................................................................................. 37 4.2. PROGNÓSTICO ........................................................................................................................................................ 45 5. ABASTECIMENTO DE ÁGUA E SANEAMENTO URBANO ..........................................................................47 5.1. ABASTECIMENTO DE ÁGUA POTÁVEL.................................................................................................................. 47 5.1.1. Diagnóstico........................................................................................................................................................ 47 5.1.2. Prognóstico ....................................................................................................................................................... 51 5.2. SISTEMA DE ESGOTAMENTO DOMÉSTICO.......................................................................................................... 51 5.2.1. Diagnóstico........................................................................................................................................................ 52 5.2.2. Prognóstico ....................................................................................................................................................... 57 5.3. RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS............................................................................................................................. 58 5.3.1. Legislação ......................................................................................................................................................... 58 5.3.2. Diagnóstico........................................................................................................................................................ 60 5.3.3. Prognóstico ....................................................................................................................................................... 66 6. EDUCAÇÃO AMBIENTAL................................................................................................................................69 6.1. EDUCAÇÃO AMBIENTAL FORMAL.......................................................................................................................... 70 6.1.1. Diagnóstico........................................................................................................................................................ 71 6.2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NÃO-FORMAL................................................................................................................. 76 6.2.1. Diagnóstico........................................................................................................................................................ 77 6.3. LEVANTAMENTOS SÓCIO-AMBIENTAIS E PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE...................................................... 86 6.4. PROGNÓSTICO ........................................................................................................................................................ 88 7. DEMANDAS DA COMUNIDADE......................................................................................................................91 7.1. SECRETARIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE.................................................................................................... 91 7.2. PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO.......................................................................................................................... 92 7.3. PROGRAMA DE DEFESA DO CONSUMIDOR DE CACHOEIRINHA - PROCONC................................................. 95 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................................................97 1 METODOLOGIA METODOLOGIA A proposta de trabalho apresentada pelo Museu de Ciências e Tecnologia - MCT à Prefeitura Municipal de Cachoeirinha para a realização do Plano Ambiental, em junho de 2006, estabelece dois objetivos específicos: � Conhecer a realidade ambiental do Município de Cachoeirinha através de dados secundários fornecidos pela Administração Municipal, por instituições ligadas às questões ambientais, pela literatura e pelas lideranças comunitárias locais; � Estabelecer, com o apoio da comunidade técnica e leiga local, propostas de ações exeqüíveis, que harmonizem o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental, que promovam a melhoria da qualidade de vida da população atual e que estendam esses benefícios para as gerações futuras. Face à aprovação da proposta, em 04 de dezembro de 2006, foi firmado o Contrato de Prestação de Serviços nº 279/06 entre o Município de Cachoeirinha e a PUCRS. Os trabalhos tiveram início efetivo em 11 de dezembro, por ocasião da reunião de partida da coordenação do MCT com o Secretário Municipal do Meio Ambiente e equipe técnica do Município. Para alcançar os objetivos estabelecidos, o MCT adotou a metodologia de planejamento ambiental proposta por Teixeira (1999), empregada na elaboração do Plano Ambiental de São Leopoldo (TEIXEIRA, 2002) e no Plano Ambiental de Gravataí (TEIXEIRA, 2005), com alguns aperfeiçoamentos operacionais (Figura 1). As principais ações desenvolvidas em cada uma das três fases da metodologia são apresentadas a seguir. 1. DIAGNÓSTICO e PROGNÓSTICO a) Coleta e análise de dados secundários (literatura, administração municipal, instituições públicas e privadas); b) Consulta ao Plano Diretor Participativo; c) Conhecimento expedito do território; d) Avaliação multicritério (técnicos municipaise planejadores); e) Discussão interdisciplinar. 2. PROPOSTAS DE SOLUÇÃO a) Análise do Diagnóstico e Prognóstico (identificação de problemas); b) Discussão interdisciplinar; c) Geração de propostas de solução; d) Elaboração de Relatórios Técnicos temáticos; e) Seminário interdisciplinar. 3. ESTRUTURAÇÃO, DISCUSSÃO, APRIMORAMENTO e EDIÇÃO a) Estruturação do Plano Preliminar; b) Compatibilizações temáticas; c) Seminário Técnico de apresentação do Plano Preliminar à equipe técnica do Município; d) Incorporação de aprimoramentos; e) Audiência Pública de apresentação do Plano Preliminar à comunidade do Município; f) Incorporação de aprimoramentos; g) Edição do Plano Ambiental final. 2 1. DIAGNÓSTICO e PROGNÓSTICO ESTRUTURA LEGAL ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL SERVIÇOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DEMANDAS DA COMUNIDADE AMBIENTE NATURAL AMBIENTE CONSTRUÍDO Saúde Saneamento Educação Físico Biótico Cultural Social Econômico 2. PROPOSTAS DE SOLUÇÃO ZONEAMENTO AMBIENTAL PROGRAMAS AMBIENTAIS 3. ESTRUTURAÇÃO, DISCUSSÃO, APRIMORAMENTO e EDIÇÃO PLANO PRELIMINAR SEMINÁRIO TÉCNICO AUDIÊNCIA PÚBLICA PLANO FINAL Figura 1. Inter-relacionamento das etapas de elaboração do Plano Ambiental Para a realização do diagnóstico e prognóstico, os especialistas da equipe de planejamento do MCT formularam pedidos de dados e informações que foram atendidos por técnicos da administração municipal (Tabela 1). Em continuação, foram realizadas reuniões locais com os informantes, complementadas por visitas de reconhecimento a vários pontos do Município. Nessas oportunidades, foram feitos registros fotográficos dos aspectos mais representativos, utilizados na ilustração do Plano. Dados e informações complementares foram pesquisados pela equipe de planejamento em órgãos públicos federais e estaduais, universidades, organizações não governamentais, na literatura e através da Internet. Para complementar o diagnóstico, foram elaboradas quatro cartas temáticas e uma carta de zoneamento, georreferenciadas, na escala 1:20.000, editadas pelo Laboratório de Tratamento de Imagens e Geoprocessamento – LTIG da Faculdade de Geografia da PUCRS. A metodologia adotada está descrita no volume 4 – Documentação Cartográfica. A versão preliminar do Plano Ambiental foi apresentada pela equipe de planejamento do MCT à Prefeitura Municipal em Seminário Técnico, realizado em 29 de maio de 2007. Dele participaram técnicos da SMMA e das Secretarias Municipais envolvidas com as questões ambientais (Anexo 1). O Seminário serviu de ponto de partida para a análise técnica do documento, que resultou na formalização de recomendações para o aprimoramento do Plano. 3 Quadro 1. Técnicos e funcionários municipais fornecedores de dados e informações. Nome Formação Órgão Clécio Martins Chaves Geólogo SMMA Delmira Sandra de Moura Carvalho Advogada SMMA Paulo Ricardo Ferraz Engº Agrônomo SMMA Gláuber Zettler Pinheiro Engº Químico SMMA Nara Elisabete Machado Prates Bióloga SMMA Anelise Lara Bonotto Felix Bióloga SMMA Selma Rubina Thomaz Arquiteta SEPLAN Tarso José da Rocha Arquiteto SEPLAN Kátia Adriana Monteiro Meyer Assistente Social SEPLAN Adriano Pieres Topógrafo SEPLAN Volnei M. Barbosa Topógrafo SEPLAN Alessandra N. Moreira Arquiteta SEHAB Tânia Bretschneider Ramos Bióloga SMS Alessandra Tomaz Pires Nutricionista SMS Maria Lúcia da Luz Veterinária SMS Adelaide Hoffman Professora SMEP Estela Maris de C. Souza Professora SMEP Isabel Cristina Camboim Momback Professora SMEP José Ouriques de Freitas Assessor SMG Marcos Leandro Greff Monteiro Historiador SMC Marcos Golembiewski Advogado PGM Eleci Nunes Iparraguirre Professora SMA Isabel Thiele Bibliotecária Biblioteca Pública Monteiro Lobato Após a incorporação de aperfeiçoamentos ao Plano Ambiental, foi marcada a realização de uma Audiência Pública, em 12 de setembro de 2007, no plenário da Câmara Municipal de Vereadores de Cachoeirinha, destinada a apresentá-lo à comunidade de Gravataí e recolher sugestões e comentários dos interessados. A SMMA realizou a divulgação do evento através de Edital veiculado pela imprensa do Município de Cachoeirinha. O Plano Ambiental foi disponibilizado no site da Prefeitura. Os quatro volumes impressos permaneceram por 30 dias, no período de 13 de agosto a 11 de setembro, nos locais abaixo relacionados. 1. Escola Municipal de Ensino Fundamental Natálio Schlain Rua Araçá, 130 – Vila Anair – Biblioteca 2. Escola Municipal de Ensino Fundamental Ver. Jose Oledir Ramos Rua Capitão Garibaldi Pinto, s/nº - Jardim do Bosque – Biblioteca 3. CESUCA - Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha Rua Silvério Manoel da Silva, 160 - Bairro Colinas – Biblioteca 4. Câmara Municipal de Vereadores de Cachoeirinha Rua Clóvis Pestana, 85 - Centro A Audiência Pública não foi realizada por força de uma decisão liminar em Mandado de Segurança, por solicitação de uma empresa proprietária de terras no Município. Após a defesa em juízo, foi finalmente realizada, em 17 de outubro. O evento foi filmado e contou com a presença de 66 pessoas, listadas no Anexo 2. As manifestações de presentes estão registradas na Ata da Audiência (Anexo 3). A equipe técnica da SMMA realizou a análise dos pronunciamentos e solicitou à equipe de planejamento algumas alterações no Plano. Todas foram integralmente atendidas. A versão final do Plano Ambiental foi entregue pelo coordenador da PUCRS ao Sr. Prefeito em 26 de novembro de 2007, conforme as cláusulas do Contrato e seus dois aditivos. 4 5 Capítulo 1 1. CARACTERÍSTICAS GERAIS CARACTERÍSTICAS GERAIS O Município de Cachoeirinha está localizado na Região Metropolitana de Porto Alegre e é o 2° menor Município do Estado do Rio Grande do Sul, em superfície. Conforme os cálculos do Laboratório de Tratamento de Imagens e Geoprocessamento - LTIG da Faculdade de Geografia da PUCRS, possui uma área de 44,96 km², adotada como base neste Plano. A FAMURS, pelo Censo de 2000, considera que a área é de 43,766 km², enquanto que o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano indica a área de 43,8 km² (PREFEITURA MUNICIPAL DE CACHOEIRINHA, 2006). As coordenadas geográficas são: 29º57’04’’ de latitude Sul e 51º05’38’’ de longitude Oeste. Faz divisa com seis Municípios: ao norte Esteio e Sapucaia, a oeste Canoas, ao sul Alvorada e Porto Alegre e a leste Gravataí (Figura 1.1). BRASIL - RIO GRANDE DO SUL REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE Figura 1.1. Mapa de localização do Município de Cachoeirinha. Seu povoamento foi iniciado com a construção da Estrada Gravataí - Santo Antônio da Patrulha, ao longo da qual as terras foram loteadas e iniciou a construção de casas. Esta vila, que tomou o nome de Cachoeirinha, fazia parte do Município de Gravataí. Em virtude de sua acelerada expansão, emancipou-se em 1965. Na década de 1970, quando foi criada a Região Metropolitana, o Município de Cachoeirinha passou a integrá-la e, ao longo desta década, sua ocupação caracterizou-se, em conjunto com os outros Municípios a leste de Porto Alegre, como cidade-dormitório. Na década de 80, houve uma nova frente de ocupação do solo do Município, na forma de parcelamento do solo para a implantação de grandes loteamentos e conjuntos habitacionais voltados para a população de menor poder aquisitivo. Nesta década, iniciou-se, também, a implantação do Distrito Industrial pela Companhia de Desenvolvimento Industrial e Comercial do Rio Grande do Sul - CEDIC (extinta em 1995), que colaborou para a mudança do perfil de Cachoeirinha. 6 A população, em julho de 2006, estáestimada pelo IBGE (2007) em 121.880 habitantes (Tabela 1.1). A área urbanizada ocupa mais de 50 % do território e está concentrada na porção leste do Município, ao longo da Av. Flores da Cunha, conurbada com a sede do Município de Gravataí. A área não urbanizada, ao norte do Município, encontra-se submetida a forte pressão econômico-social, já abrigando uma grande indústria e pequenos assentamentos habitacionais. Tabela 1.1. Crescimento populacional de Cachoeirinha. Ano 1980 1990 2000 2006 * População 63.196 85.738 107.564 121.880 Crescimento - % 35,67 25,46 13,31 * Estimativa. Fonte: IBGE (2007). O clima é subtropical úmido, com temperaturas médias anuais de 19,7 ºC, com mínima absoluta de 0,7 ºC e máxima absoluta de 40,4 ºC. A precipitação média anual é de 1.538 mm. A topografia é suave, composta de coxilhas com altitude média de 23 metros, variando desde cotas ao redor de 4 metros, na várzea do rio Gravataí, até 64 metros na área urbana central do Município. A maior parte do Município está localizada na bacia hidrográfica do rio Gravataí, ao sul, e a menor parte na bacia do rio dos Sinos, ao norte. A rede hidrográfica é composta pelo rio Gravataí e arroios Brigadeiro, Águas Mortas, Passinhos, Sapucaia e Nazário, todos impactados em menor ou maior grau, pela urbanização. Em termos de vegetação e fauna, os remanescentes melhor preservados encontram-se no Parque Municipal Dr. Tancredo de Almeida Neves, na propriedade “mato do Júlio” e em Áreas de Preservação Permanente, ao longo de trechos da rede hidrográfica, para os quais devem ser adotadas políticas públicas de preservação e conservação prioritárias. Com respeito à economia, o Município se caracteriza por apresentar uma forte estrutura industrial, com mais de mil indústrias. Apesar de dispor de terras agricultáveis, a agricultura é pouco desenvolvida. Destaca-se, no entanto, a existência da Estação Experimental do Instituto Riograndense do Arroz – IRGA, referência nacional em termos de pesquisa do arroz. Por não dispor de recursos minerais de interesse, a mineração é inexistente. O setor comercial possui 3.800 estabelecimentos e conta com dois shopping centers. A rede de saúde conta com um hospital e 18 Unidades Básicas. Na área de serviços, há uma ampla rede de agências bancárias. Em termos de meios de comunicação, o Município possuiu uma rádio AM e os jornais Folha Regional, Diário de Cachoeirinha, Notícia Popular e Jornal da Cidade. A comunidade tem a sua disposição 50 templos de diversas religiões. Cachoeirinha está com 95,8% de sua população alfabetizada. A estrutura escolar é composta por 14 escolas estaduais, 7 escolas municipais para a educação infantil e 19 escolas para o ensino fundamental, educação para jovens e adultos, além de 7 escolas particulares. A malha rodoviária no território é constituída pela estrada federal BR 290 (free-way) e as rodovias estaduais RS 020 (Avenida Flores da Cunha) e RS 118. O Município tem fácil acesso às principais localidades da Região Metropolitana de Porto Alegre, à zona litorânea e ao interior do Estado através das rodovias RS 030, BR 101 e BR 116. Encontra-se em fase de projeto a construção da rodovia RS 010, que ligará Cachoeirinha à BR 386 (Tabaí / Canoas), com traçado norte-sul, na área oeste do Município. 7 Capítulo 2 2. ESTRUTURA LEGAL ESTRUTURA LEGAL Este capítulo apresenta o diagnóstico das estruturas normativas legais e um exame da legislação ambiental mais relevante, de âmbito federal, estadual e municipal, de interesse para o enfrentamento das questões ambientais no Município de Cachoeirinha. Foi elaborado a partir de consulta à literatura citada, juntamente com dados e informações fornecidos pela Assessoria Jurídica da SMMA, durante visita local. As solicitações foram encaminhadas à Procuradoria Geral do Município de Cachoeirinha, que indicou um Procurador para acompanhar o trabalho informativo. Para completar, foi solicitada uma avaliação à Assessora Jurídica, que compartilhou os questionamentos com o Procurador do Município, referente às seguintes questões: importância da estrutura legal, identificação das ocorrências e ações em desacordo com a sua importância (problemas atuais e futuros), proposição de medidas para eliminar os desacordos, requisitos para realizar cada uma das medidas e formas de identificar resultados bons e ruins, em caso das medidas serem executadas. As respostas foram analisadas, estruturadas em um modelo multicritério e integradas ao trabalho. A estrutura legislativa do Município de Cachoeirinha, em face dos apelos ambientais e de seu crescimento sócio-econômico, precisa estar sempre se aperfeiçoando e se qualificando, apesar das leis existentes atenderem às demandas existentes. Dessa maneira, é preciso a efetiva implementação para que o Poder Público municipal possa enfrentar uma nova realidade econômica: a exploração imobiliária e a instalação de empresas no território municipal. Além disso, cabe ao Poder Público recuperar ou fazer recuperar áreas degradadas e a qualidade de vida local, com a expansão de áreas de preservação permanente (ambiente natural e ambiente cultural). A proteção e a preservação são de fundamental importância para a cidadania ambiental e para manter o meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial a uma sadia qualidade de vida, às presentes e futuras gerações, com o respeito à preservação da memória dos fundadores do Município e suas referências históricas. Um fator positivo para a implementação de uma Política Ambiental adequada e que procure harmonizar desenvolvimento, meio ambiente e a questão social - que impõe ao Poder Público a atuação para eliminar a pobreza radical -, é que os habitantes locais estão sendo conscientizados de sua importância para uma efetiva cidadania ambiental e a sua responsabilidade na questão ambiental como fundamental para as presentes e futuras gerações. Os problemas que possam ser classificados como de impacto ambiental negativo devem ser identificados e solucionados pelo Poder Público e pelos administrados. 2.1. LEGISLAÇÃO FEDERAL A União Federal, para a fixação da Política Nacional do Meio Ambiente tem como principal instituto o Poder-Dever fixado especialmente no art. 225, caput. 1 Esse mandamento se refere também aos outros entes da Federação. Coerentemente com esse dispositivo legal, a Política Nacional do Meio Ambiente, dever de toda a Administração Pública brasileira, deve estar harmonizada com o princípio da legalidade. Por isso, a Constituição Federal de 1988 1 “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações. Capítulo 2 8 estabeleceu a chamada competência comum. Por ela, as entidades federativas, com autonomia financeira e administrativa, são competentes para a proteção e a preservação da qualidade ambiental, bem como estabelecerem uma Política Ambiental de âmbito municipal. Como embrião de uma Política local, o Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, ao dispor sobre a organização da Administração Federal, em seu art. 5º, inciso I, autorizou ao Poder Público nas três esferas governamentais a criação de autarquias para a execução de serviços públicos da Administração Direta.2 Os serviços próprios da Administração Direta são os do art. 23 da Constituição Federal, dentre outros dispositivos legais. Competência comum para proteger e preservar: Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: I – zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público;3 ....... III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artísticoe cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;4 IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;5 VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; ..... Em seu art. 24, a Constituição Brasileira trata da competência concorrente. Por este dispositivo legal o Município não tem competência para dispor sobre os recursos ambientais. Isto não impede, porém que por força do art. 23 do mesmo diploma legal, o Poder Público municipal legisle para a proteção desses bens, devendo o administrado cumprir a legislação mais rigorosa, pois a proposta do legislador é a de proteger o meio ambiente. Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: ..... VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente, e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; ..... Para a proteção, preservação e recuperação do meio ambiente ecologicamente equilibrado o Poder-Dever é dos três entes da Federação. O requisito básico para a atuação do Município é a edição de legislação própria e de natureza administrativa. Ao Poder Público Municipal, atendido o princípio da legalidade, cabe a aplicação de sanções administrativas. Quanto ao interesse local tem-se: Art. 30 - Compete aos Municípios: I – legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; ... Quando for matéria de interesse municipal ou predominantemente local, cabe ao Município, por exclusão dos demais entes da Federação, regulamentar e dispor sobre a matéria, podendo, inclusive suplementar a legislação federal ou estadual, prevalecendo a 2 Art. 5º. Para os fins desta lei, considera-se: I – autarquia – o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da administração pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada. 3 Os bens ambientes são bens públicos, integrantes do patrimônio público ambiental sob a guarda da Administração Pública. 4 Esta competência dos entes da federação é para a proteção do meio ambiente cultural que também se encontra protegido pelo Decreto-lei nº 25, de 30-11.1937, que organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. 5 O Município de Cachoeirinha tem em seu território, entre outros bens, o Prédio do Irga e o Armazém dos Wilkers. ESTRUTURA LEGAL 9 legislação mais rigorosa, pois o fundamento é o cuidado com o meio ambiente. O limite para o legislador municipal é o interesse público; in casu, local, regional ou nacional ou o mais relevante caso se apresente conflito de interesses. A Lei Federal nº 6.938 de 1981 que instituiu no Brasil a Política Nacional do Meio Ambiente, estabelecendo o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, o qual é constituído por órgãos e entidades da União, Estados do Distrito Federal e dos Municípios e pelas Fundações, instituídas pelo Poder Público responsáveis pela gestão ambiental. Sendo assim, através de um sistema descentralizado, objetiva-se articular e interagir as diversas esferas do governo à promoção de uma gestão ambiental compartilhada. A Lei no 9.605, de 12.02.98 - Lei dos Crimes Ambientais, dispôs sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas6 e atividades7 lesivas ou potencialmente lesivas ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. No art. 3º desta Lei tem-se: Art. 3º - As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. Em uma leitura conjunta do art. 3º supra citado e do art. 225, caput, da Constituição Federal temos que o exercício do Poder de Polícia, em matéria ambiental, também cabe a autoridade ambiental local que, no caso de Cachoeirinha é o Secretário de Meio Ambiente e seus agentes administrativos, bem como poderia ser de uma Autarquia municipal especialmente criada, vinculada ao Secretário Municipal de Meio Ambiente. A Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001 – denominada de Estatuto da Cidade regulamenta os art. 182 e 183 da Constituição Federal tem como destinatário também os Municípios. Estabelece as diretrizes gerais da política urbana. Por ela são regulamentas atribuições ao Poder Público municipal, tais como a proteção, a preservação e a recuperação do meio ambiente. A adequação da legislação local ao Estatuto das Cidades, com uma correta aplicação deste, serão instrumentos fundamentais para recuperar a qualidade de vida local e ao mesmo tempo permitir que a indústria da construção civil invista no Município. 2.1.1. Saneamento básico O Saneamento básico, para o Município de Cachoeirinha, é um de seus principais problemas ambientais e de saúde pública. A Lei Federal nº 11.445, de 5.1.2007, veio para regulamentar e dirimir dúvidas sobre a competência dos Municípios que integram Regiões Metropolitanas ou que se localizem na mesma bacia hidrográfica. A lei considera como saneamento básico: a) o abastecimento de água potável, desde a sua captação e tratamento até as ligações prediais; b) a coleta, transporte, tratamento e disposição final dos esgotos sanitários; c) a limpeza urbana de manejo dos resíduos sólidos, com tratamento e destino final do lixo; e d) a drenagem e manejo das águas pluviais urbanas.8 Em regra geral, a competência para o saneamento básico é municipal. Como o Município está situado em uma Região Metropolitana e é cortado por uma Avenida que liga Porto Alegre ao interior do Estado, os planos de saneamento de Cachoeirinha deverão estar 6 A expressão se refere a pessoas naturais. 7 A expressão se refere a pessoas jurídicas de direito público e de direito privado. 8 MEIRELLES, Hely Lopes. DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO. 33ª Edição atualizada por EURICO DE ANDRADE AZEVEDO, DÉLCIO BALESTERO ALEIXO e JOSÉ EMMMANUEL BURLE FILHO. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 411. Capítulo 2 10 interligados com os Municípios que integram o Comitê da bacia do Gravataí. Neste sentido é a lição esclarecedora na obra de Hely Lopes Meirelles em sua 33ª Edição. 9 Cabe ressaltar que a co-responsabilidade dos entes públicos, observados os princípios da legalidade e do interesse público mais relevante, não impede a atuação do Município para a defesa ambiental no que não conflite com a legislação federal ou estadual em questões de competência. A Lei nº 6.938/81, em seu art. 9º, definiu os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, além de outras diretrizes. Estabeleceu a Polícia Administrativa ambiental. Definiu como instrumentos de Política Ambiental padrões de qualidade ambiental: o zoneamento ambiental; a avaliação de impacto ambiental; o licenciamento e a revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras; os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público. Peloart. 6º da Resolução CONAMA nº 237 “Compete ao órgão municipal, ouvidos os órgãos competentes da União, dos Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por instrumento legal ou convênio”. Compete ao Município de Cachoeirinha, através do exercício do seu Poder de Polícia e outros instrumentos jurídicos importados do Direito Administrativo, tais como autorizações e licenciamentos, adotar as medidas necessárias à adequação da proteção e preservação ambiental com o desenvolvimento econômico, visando ao bem-estar social e a manutenção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, tendo como parâmetro que ambiente ecologicamente equilibrado é aquele que possibilita uma vida saudável. O Poder Público municipal tem o dever de elaborar e executar a sua própria Política Ambiental, implementar a legislação ambiental, regulamentando, no que couber, a Lei Orgânica Municipal e manter a fiscalização permanente dos recursos ambientais e culturais, além de divulgar suas ações e promover ações pedagógicas junto. Não podem ser esquecidos os problemas ambientais já consolidados, apresentadas no capítulo 7 – Demandas da comunidade e nos diagnósticos dos temas, pois cabe ao Poder Público local exigir a recuperação de áreas degradadas ou recuperá-las. Deverá atuar para gerar impactos ambientais positivos, estabelecendo assim uma poupança de recursos para as gerações do futuro. 2.1.2. Educação Ambiental A Constituição Federal, em seu art. 225, prevê o direito a educação como direito fundamental por ser essencial ao meio ambiente ecologicamente equilibrado: ”§ 1° Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: ... VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;... ” 9 Assim considerado o saneamento básico, a competência para a sua execução seria, naturalmente, do Município. Ocorre que nas Regiões Metropolitanas isto não seria possível, dada a interligação das redes de água e esgoto de várias cidades. Semelhante dificuldade ocorre com os Municípios situados na mesma bacia hidrográfica. Ainda mais quando a própria lei determina que a utilização de recursos hídricos na prestação de serviços públicos de saneamento básico, inclusive para disposição ou diluição de esgotos e outros resíduos líquidos, está sujeita a outorga de direito de uso, os termos da Lei 9.433, de 8.1.97, de seus regulamentos e das legislações estaduais. Por isso mesmo a lei determina que ‘os planos de saneamento básico deverão ser compatíveis com os planos das bacias hidrográficas em que estiverem inseridos’ (art. 19, § 3º). MEIRELLES, Hely Lopes. DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO. 33ª Edição atualizada por EURICO DE ANDRADE AZEVEDO, DÉLCIO BALESTERO ALEIXO e JOSÉ EMMANUEL BURLE FILHO. São Paulo: Malheiros, 2007, p.411 ESTRUTURA LEGAL 11 A Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999 regulamentou o dispositivo constitucional e dispôs sobre a educação ambiental. Instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental. A lei foi regulamentada pelo Decreto nº 4.281, de 25 de junho de 2002. A Constituição do Estado do Rio Grande do Sul determina, nos artigos 196 e 217,: “no respeito aos direitos humanos ao meio ambiente”, “o Estado elaborará política para o ensino fundamental e médio de orientação e formação profissional, visando a : ... III - auxiliar na preservação do meio ambiente”. A Lei Estadual nº 11.730, de 2002, dispõe sobre a Educação Ambiental, criando o Programa Estadual de Educação Ambiental. O Município de Cachoeirinha tem a Lei nº 2.333/2004, que institui o Programa de Educação Ambiental. Cabe salientar que a preocupação com a educação ambiental vem sendo contemplada no Município pela Lei Municipal Nº 1.050 de 1º de junho de 1989, sendo que dispõe sobre a obrigatoriedade de ensino nas escolas Municipais de conhecimentos sobre a defesa de ecologia e do Meio Ambiente. A Lei Orgânica Municipal, de 03 de abril de 1990, ressaltou, no artigo 189, que cabe ao Poder Público, inciso X: promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e através de ampla divulgação, constatando, inclusive, como matéria obrigatória nos concursos para cargos públicos municipais. Convém ressaltar as previsões contidas na Lei 1339/93 sobre a Política Ambiental do Município no que tange à educação sendo artigos 4º, inciso III, 6º, inciso XII, contida nos objetivos, artigo 4º. Há no Município um Centro Municipal de Educação Ambiental, criado por Decreto Municipal nº 1.583/92 e pela Lei Municipal nº 1.288, de 1993, o qual desenvolve atividades voltadas ao compromisso com a educação ambiental. Logo, a educação ambiental, obrigatória por ser direito de todos e dever do Estado, é o instrumento apto para a conscientização da população. Pode ser efetivada através de palestras, seminários, divulgação de material impresso obtido por meio de compromissos de ajustamento tomados pela Secretaria Municipal de Meios Ambiente e concurso de redação na rede pública local. Com o uso da educação ambiental o Poder Público atuará no estabelecimento de uma identidade no Município, com o resgate ou o estabelecimento do comprometimento dos moradores com a cidade. 2.2. ESTRUTURA ESTADUAL 2.2.1. Legislação Estadual A Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, aprovada em 03.10.89 estabelece explicitamente a Política Ambiental Estadual, nos seguintes artigos: “Art. 40 - No prazo de cento e oitenta dias da promulgação da Constituição, serão editados: I - Código Estadual do Meio Ambiente; II - Código Estadual de Uso e Manejo do Solo Agrícola; III - Código Estadual Florestal. Parágrafo Único - Os códigos a que se refere este artigo unificarão as normas estaduais sobre as respectivas matérias, dispondo, inclusive, sobre caça, pesca, fauna e flora, proteção da natureza, dos cursos d’água e dos recursos naturais, e sobre controle da poluição, definindo também infrações, penalidades e demais procedimentos peculiares.” “Art. 250 - O meio ambiente é bem de uso comum do povo, e a manutenção de seu equilíbrio é essencial à sadia qualidade de vida. Capítulo 2 12 § 1° - A tutela do meio ambiente é exercida por todos os órgãos do Estado. § 2o - O causador de poluição ou dano ambiental será responsabilizado e deverá assumir ou ressarcir ao Estado, se for o caso, todos os custos financeiros, imediatos ou futuros, decorrentes do saneamento do dano. Art. 251 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo, preservá-lo e restaurá-lo para as presentes e futuras gerações, cabendo a todos exigir do Poder Público a adoção de medidas nesse sentido. .....” Como se vê, o Município brasileiro tem o dever de cuidar do meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem como recuperar as áreas degradadas ou impor ao degradador a restauração do ambiente. 2.2.2. Ministério Público As demandas da comunidade (vide capítulo 7) demonstram que a população local está suficientemente madura e conscientizada da necessidade de zelar pelo meio ambiente ecologicamente equilibrado. A sociedade civil possui condições para ser parceira do Poder Público no cuidado com a qualidade ambiental no Município, com isso cumprindo com o dever de zelar pela qualidade de vida, em um ambiente saudável. A atuação do Poder Público municipal, ao atender às demandas da comunidade e exercer a fiscalização e autuação dos infratores, certamente evitou que ações judiciais fossem propostas. Foram ajuizadas pelo Ministério Público três ações civis públicas, sendo que duas tratam de resíduos sólidos e uma de meio ambiente cultural.A ação da fiscalização da SMMA, em 2006, expediu 203 notificações, segundo se observa na Tabela 7.1. O problema mais grave é a poda de árvores. Em segundo lugar, está a queima de lixo, talvez por fatores culturais e por insuficiência de meios para o recolhimento dos resíduos. A seguir, a poluição sonora, também de competência do Poder Público local para regulamentar, fiscalizar e reprimir. Os dados revelam uma atuação administrativa operosa – não obstante a carência de meios - e o comprometimento das pessoas que vivem no Município, pois considerando outros Municípios, o número de ações propostas é ínfimo. A partir da oficina realizada com a comunidade local, se verifica que a população está de acordo com a imposição de restrições legais às atividades empresariais que possam comprometer o equilíbrio ambiental e a qualidade de vida. É um fato de extrema relevância para a implementação da legislação ambiental. A defesa ambiental não se faz somente com a repressão, mas também através de sua efetividade social. As pessoas precisam estar conscientizadas do dever de todos para a proteção, preservação e recuperação da qualidade ambiental. 2.3. ESTRUTURA MUNICIPAL 2.3.1. Poder legislativo Conforme dispõe o art. 23, incisos III, IV, V, VI, VII, IX e XI, da Constituição Federal de 1988, o Município de Cachoeirinha é competente para legislar sobre a proteção ambiental. Esta atribuição da legislação trata do exercício do Poder de Polícia ambiental. Se refere a regulamentação, licenciamento e a fiscalização de atividades poluidoras ou potencialmente poluidoras, instauração de processos administrativos e a aplicação de sanções administrativas ESTRUTURA LEGAL 13 previstas em lei municipal. Legisla, ainda, sobre matéria ambiental de interesse local, por exemplo, meio ambiente urbano e poluição sonora (CF art. 30, incisos I, II, VIII, IX) e patrimônio cultural, com a implementação e fiscalização do cumprimento da legislação que trata dos bens culturais pela Secretaria Municipal de Cultura. 2.3.2. Histórico da Legislação Ambiental O Município de Cachoeirinha, signatário da Legislação do Município de Gravataí, conforme o Decreto-lei nº 01, de 15 de maio de 1966, adotava no Município a Legislação vigorante no Município de Gravatai, antes de completar dois anos de sua emancipação legislava favorável a instalação da área industrial, exemplificado através dos Decretos-leis: 02, de 26 de abril de 1968, 03, de 08 de maio de 1968, 04, de 16 de maio de 1968, os quais autorizavam a doação de uma fração de terras para fins industriais. Em 1969, tratava de Plano do Parque Industrial (Lei Municipal nº 02, de 28 de fevereiro de 1969). Também marcado pelo aspecto cultural em 25 de agosto de 1970, através da Lei Municipal Nº 62, criou e denominou a Biblioteca Municipal. A ampliação da zona urbana do Município constituiu-se em fato continuado, pois em 1969, Lei Municipal nº 40, de 23 de dezembro desse ano, delimitava a zona urbana do Município, seguindo sempre em ampliação. Em 1971, há uma proibição de instalação para fábricas de explosivos, Lei Municipal nº 119 de 10 de novembro. Poderia ser considerado o marco da ação municipal no controle dos impactos ambientais de interesse local. O suporte jurídico ambiental do Município é constituído por Leis esparsas com focos individuais, especiais, permitindo ter uma coletânea de Leis, atendendo diversos fins, conforme exemplificado no Quadro 2.1. Quadro 2.1. Leis ambientais esparsas do Município de Cachoeirinha. Lei Assunto Data 551 Conselho Municipal de proteção ao ambiente natural 05 de setembro de 1979 562 Curtumes e indústrias poluentes a utilizarem processo de decantação coletiva 08 de outubro de 1979 615 Proíbe a fabricação de detergentes 08 de outubro de 1980 645 Cria a Diretoria de reflorestamento e meio ambiente 16 de janeiro de 1981 683 Concede título de cidadania a José Lutzemberger 23 de novembro de 1981 692 Declara área ecológica e preservação mista o meio ambiente 06 de janeiro de 1982 705 Cria a semana do meio ambiente em Cachoeirinha 1º de junho de 1982 711 Institui norma de prevenção para uso de pesticida 13 de setembro de 1982 745 Anúncios publicitários nos táxis do Município 29 de novembro de 1982 811 Cria e denomina Parque Municipal – Parque Tancredo Neves 09 de agosto de 1985 1.046 Dispõe sobre o uso de fumo 11 de maio de 1989 1.050 Dispõe sobre a obrigatoriedade de ensino nas escolas municipais de conhecimentos sobre a defesa de ecologia e do Meio Ambiente 01 de junho de 1989 1.051 Dispõe sobre cadastro de estabelecimento comerciais, estabelece normas para comercialização do produto denominado “cola de sapateiro” 01 de junho de 1989 1.155 Institui tarifa de serviço de lixo industrial 21 de dezembro de 1990 1.172 Código de Posturas do Município 10 de junho de 1991 1.218 Dispõe sobre a prevenção e controle do meio ambiente no Município de Cachoeirinha 19 de março de 1992 Fonte: FMMA (Assessoria Jurídica). Capítulo 2 14 A Lei Orgânica Municipal, de 03 de abril de 1990, possui previsão legal sobre o Meio Ambiente, denominado Capítulo II, do Meio Ambiente, do artigo 187 ao 209, começa transcrevendo o artigo Constitucional, 225 da CF/88. Dentre esses artigos, convém destacar o artigo 195, o qual dispõe que a derrubada, o corte ou poda de árvore existente no Município ficam sujeitas à autorização prévia do órgão competente de conformidade com o procedimento estabelecido em Lei posterior. Porém, apesar da parte inicial do artigo estar sendo aplicado, a Lei posterior ainda não foi elaborada. Sobre as árvores, existem as consideradas Patrimônio Público de Cachoeirinha, além das áreas verdes, previsão contida no artigo 18 das disposições transitórias da Lei Orgânica Municipal, com o teor: sendo vedado seu corte ou aplicação de produtos tóxicos, as seguintes árvores centenárias: plátano e paineira. Esse dispositivo legal foi regulamentado pela Lei nº 1694 de 1998. Em 29 de setembro de 1993, através da Lei Municipal nº 1339, foi disposta a Política Ambiental do Município de Cachoeirinha, prevendo a elaboração, implementação e acompanhamento, instituindo princípios, objetivos e normas básicas para proteção do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida e sua população. É composta por 67 artigos, tendo os seguintes títulos: Título I – Da política ambiental de Cachoeirinha, Título II – Do meio ambiente; - Título III – Das atividades de apoio técnico e científico; Título IV – Do Conselho de política ambiental do Município de Cachoeirinha, Título V – Das infrações e respectivas sanções; Título VI – Disposições complementares e finais. No artigo 43, o qual prevê o valor da multa, inciso I, foi alterado pela Lei Municipal Nº 1.552 de 1996. No artigo 64, prevê que a Procuradoria Geral do Município manterá sub-procuradorias especializadas em tutela ambiental, defesa de interesses difusos e do patrimônio histórico, cultural, paisagístico, arquitetônico e urbanístico, como forma de apoio técnico-jurídico à implantação dos objetivos desta lei e demais normas ambientais vigentes. A Lei de Política Ambiental do Município de Cachoeirinha, ainda não foi regulamentada. No Poder Legislativo local foram aprovadas leis e tramitam projetos que revelam a preocupação do legislador municipal com a qualidade ambiental. A Lei nº 2.220, de 11 de dezembro de 2003, dispõe sobre a criação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente – COMDEMA; a lei nº 2.241, de 10 de fevereiro dispõe sobre a criação do FUMDEMA - Fundo Municipal de Defesa do Meio Ambiente da Secretaria Municipal do Meio Ambiente; a Lei nº 2.333, de 06 de dezembro de 2004 institui o Programa Municipal de Educação Ambiental – em cumprimento ao mandamento constitucional do art. 205, caput, da Constituição Federal de 1988;10 a Lei nº 2.491, de29 de dezembro de 2005 dispõe sobre o estudo de impacto ambiental e o licenciamento ambiental no Município de Cachoeirinha e cria a Taxa de Licenciamento Ambiental. Tramitam projetos de leis que tratam do controle das populações de animais e sobre a prevenção e controle de zoonoses no Município de Cachoeirinha. Preocupado com a implementação da legislação local, o Executivo instituiu, pelo Decreto nº 4.037, de 7 de junho de 2006, o Grupo de Trabalho para o estudo, para criação e implementação de legislação para regulamentação das compras e utilização de madeira no âmbito da Administração Municipal. No art. 2º do Decreto demonstra o zelo com que trata o ambiente e a participação comunitária na defesa de interesses da humanidade.11 Este Decreto atende às demandas da comunidade, a efetivação da legislação e a própria necessidade de uma educação ambiental transformadora. 10 “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” 11 Os produtos madeireiros a serem adquiridos pela Administração Municipal obedecerão ao disposto no Termo de Compromisso celebrado em 07 de junho de 2006, entre o Município de Cachoeirinha a Associação Civil Greenpeace e a Associação de Preservação da Natureza do Vale do Gravataí, pelo qual tais produtos devem ter origem apenas em planos de manejo florestal sustentável aprovado pelo órgão ambiental competente. ESTRUTURA LEGAL 15 A Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Câmara, integrante do legislativo municipal, tem competência para propor a elaboração de legislação que trate do meio ambiente urbano, desde que observe as questões cuja competência para o encaminhamento da proposta legislativa cabe ao Chefe do Executivo Municipal, como por exemplo, a criação de uma autarquia para a fiscalização dos serviços públicos municipais relacionados diretamente ou indiretamente com a questão ambiental no Município. Deverá ser assessorada por especialistas em meio ambiente. A Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Câmara tem atribuição para o exame de propostas legislativas para proteger, preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado ou recuperação da qualidade ambiental, como é o caso de projetos de arborização urbana ou fiscalizar a execução de políticas ambientais no Município ou cuidar da tramitação, discussão e propostas de legislações de competência do Poder Legislativo. Deve, também, opinar em matéria de natureza ambiental. 2.3.3. Sistema Municipal de Proteção Ambiental O Sistema Municipal de Proteção Ambiental tem como atribuições o planejamento, a implementação, a execução e controle da Política Ambiental no âmbito local, bem como o monitoramento e a fiscalização do meio ambiente, visando preservar o seu equilíbrio e os atributos essenciais à sadia qualidade de vida e promover o desenvolvimento sustentável, em conformidade com as previsões legais. O Município tem a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, como órgão central de proteção ambiental no Município, tem Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente - COMDEMA atuante e possui o Fundo Municipal de Defesa do Meio Ambiente - FUMDEMA, como órgão de captação de gerenciamento dos recursos financeiros alocados para o ambiente. a) Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente - COMDEMA O COMDEMA foi criado pela Lei nº 2.220, de 11 de dezembro de 2003. A composição atual é de 19 membros, com mandatos de dois anos, conforme o art. 4º. Possui competências, desde propor, formular e acompanhar as políticas municipais do meio ambiente até homologar termos de ajustamento de conduta que versem sobre fatos ambientais de interesse local, conforme os 17 incisos do artigo 3º da Lei que o criou. O Conselho, em matéria ambiental, tem competência para regulamentar a matéria ambiental, através de Resoluções, no interesse local. É atuante, pois se reúne religiosamente na última segunda-feira de cada mês e também extraordinariamente, sempre que necessário. O COMDEMA rege-se pela legislação municipal e pelo seu Regimento Interno (Decreto nº 3737 de 14 de dezembro de 2004). Há uma proposta legislativa para as alterações no Conselho, especialmente quanto à sua composição, visto que o SIGA/SEMA define o Conselho como paritário e, com isso, é preciso adequar-se, além do caráter consultivo que deve ser retirado da Lei, em vigor. Atualmente, o Conselho decidiu favorável para o emprego de verbas do Fundo Municipal de Defesa do Meio Ambiente, no Projeto de geógrafo da UFRGS, que realiza pesquisa sobre o arroio Passinhos, e Agenda 21 local, apresentada pelo Setor de Projetos da SMMA. Também, atua como última instância julgadora dos processos administrativos relativos a matéria de sua competência. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente compõe a Secretaria Executiva. O COMDEMA ainda não expediu Resoluções, mas sua atuação, pelo resultado apontado pela ação administrativa do Município, está adequada à demanda. A ausência de Resoluções não implica em imobilidade. Capítulo 2 16 b) Secretaria Municipal do Meio Ambiente - SMMA Em 1981, através da Lei nº 645, foi criada a Diretoria de Reflorestamento e Meio Ambiente, como órgão de apoio e integração com a Secretaria dos Serviços Urbanos do Município. Em 1988, através da Lei nº 983, foi transformada a Secretaria Municipal de Saúde e Bem-estar Social em Secretaria Municipal da Saúde, Assistência Social e Meio Ambiente e dá outras providências. Em 1999, através da Lei nº 1.771, foi feita a alteração da estrutura administrativa do Poder Executivo Municipal de Cachoeirinha, contendo no artigo 13 as atribuições da Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente. Em dezembro de 2002, através da Lei nº 2.126, foram feitas alterações à Lei Municipal nº 1.771/99, e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, no artigo 13-A recebe atribuições próprias, se desvinculando da Saúde. Em 16 de maio de 2003, através da Lei nº 2.154, a SMMA recebeu uma nova estruturação, porque essa Lei revogou a anterior que lotava os servidores da SMMA na Secretaria Municipal da Saúde, adequando-se a uma realidade administrativa própria. A SMMA tem pautado as suas ações dentro de suas atribuições, pois é o órgão central do Sistema Municipal de Proteção Ambiental. A Secretaria possui uma Assessoria Jurídica, que começou suas atividades em março de 2006, e é muito importante para a regulamentação, fiscalização e aplicação da legislação ambiental-administrativa, bem como orientação jurídica a todas as atividades do órgão. c) Fundo Municipal de Defesa do Meio Ambiente -– FUMDEMA O FUMDEMA foi criado pela Lei nº 2241, de 10 de fevereiro de 2004, como unidade orçamentária, vinculado à SMMA, de natureza contábil, sem personalidade jurídica, indispensável ao desenvolvimento das ações de defesa e desenvolvimento do meio ambiente do Município de Cachoeirinha, tendo vigência indeterminada. 2.4. PROBLEMAS O principal problema é a ausência de sistematização da legislação ambiental municipal em vigor. Na medida em que a legislação se apresenta difusa, dificulta o conhecimento pelos administrados, pelos aplicadores da lei e pelos próprios agentes públicos. 17 Capítulo 3 3. ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL Este capítulo apresenta dados e informações sobre as formas de atuação dos principais órgãos públicos incumbidos de executar as políticas ambientais no Município de Cachoeirinha, pertencentes às três esferas de governo, de interesse para o Plano Ambiental. Descreve, também, as características básicas de algumas organizações ligadas à problemática ambiental que interagem coma Administração Municipal e que poderão ser parceiras na fase de execução do Plano Ambiental. Os dados e informações referentes aos órgãos municipais foram obtidos pela equipe de planejamento junto à Secretaria Municipal do Meio Ambiente - SMMA e Secretarias Municipais, a partir de respostas a solicitações formuladas e entrevistas com informantes. A pedido da equipe de planejamento, a SMMA indicou um técnico, com destacada experiência, para apresentar a sua avaliação pessoal sobre a situação atual e futura da administração ambiental local. A ele foi encaminhado um questionário contendo perguntas sobre a importância da administração ambiental, os problemas atuais e previsões, as medidas para eliminar os problemas, os requisitos para realizar as medidas e as formas de identificar resultados bons e ruins, em caso de execução das medidas. As respostas foram analisadas, estruturadas em um modelo multicritério, discutidas com o avaliador e integradas a este Plano. Todos os demais elementos foram obtidos no decorrer do processo de planejamento em contatos diretos com outras instituições e consultas aos seus bancos de dados, disponíveis na Internet. Após a realização do Seminário Técnico e da Audiência Pública, foram incorporados outros esclarecimentos julgados relevantes. 3.1. ÓRGÃOS PÚBLICOS Apesar do conjunto legal e normativo disponível para a proteção do ambiente natural e construído ser vasto, "o aparelhamento do executivo, para garantir o seu cumprimento, tem se mostrado falho e descontínuo, tanto em nível federal como estadual e municipal" (MMA, 1995, p. 104). Segundo VIANA (1996), o êxito de uma política depende fundamentalmente do bom entrosamento entre os formuladores e os executores, bem como do conhecimento destes sobre as atividades pertinentes a cada fase e sobre o projeto. A disposição dos executores depende de três aspectos: • Compreensão da política; • Resposta (aceitação, neutralidade ou rejeição); • Intensidade da resposta. A seguir, são apresentadas informações básicas, procedimentos e formas de atuação referentes aos órgãos e instituições federais, estaduais e municipais, legalmente responsáveis pela execução das políticas ambientais, que atuam no Município. Este conjunto de dados é importante para que se possa planejar o aprimoramento da atual estrutura técnico- administrativa do Município, objetivando eficiência nas ações, economia de esforços e a manutenção de um canal permanente de consultas e troca de informações com os demais órgãos executivos. Capítulo 3 18 3.1.1. Órgãos Públicos Federais Apesar do Governo Federal, através do Ministério do Meio Ambiente, possuir inúmeros Programas específicos de meio ambiente sendo executados em todo o País, o Município de Cachoeirinha está sendo beneficiado apenas pelo Projeto Sala Verde. Através dele, a SMMA se habilitou, em 2006, e foi classificada para receber o material que o Projeto contempla. Como foi baseado na Educação Ambiental, realizada pelo Centro Educacional Francisco Medeiros, também foi indicado para colocar nesse espaço o kit de publicações e os acessos virtuais concedidos pelo Projeto. O projeto Agenda 21 local está sendo implantado, com o foco na Educação formal e não-formal. O órgão federal ambiental com maior atuação local é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. O órgão “...tem por missão institucional executar as políticas nacionais de meio ambiente nas atribuições federais permanentes, por meio da gestão ambiental compartilhada, visando à preservação da qualidade ambiental para as presentes e futuras gerações” (www.ibama.gov.br). A gestão compartilhada supletivamente ocorre nas ações transitórias advindas da omissão, desvio ou falta de condições para agir, dos órgãos ambientais estaduais e municipais. O Instituto possui um Escritório no Estado, localizado em Porto Alegre, e 18 Postos de Controle e Fiscalização distribuídos no Estado. A política atual do órgão é de descentralizar a atuação, repassando atribuições aos órgãos estaduais e municipais. As principais ações no Município são supletivas e desenvolvidas pela Divisão de Fiscalização – DIFIS. Esta Divisão atua de forma corretiva, através de operações de rotina e atendimento a denúncias formais da população ou demandas da SMMA, muitas vezes junto com o Batalhão de Polícia Ambiental - PATRAM. Considerando a pequena equipe técnica volante disponível, só os casos graves são atendidos prontamente. Os demais são agrupados e incluídos em uma programação para atendimento futuro, eis que a Divisão tem pleno conhecimento dos principais problemas e locais onde ocorrem. Muitas denúncias são repassadas à SMMA, que tem mais presteza no atendimento. A maior parte das ocorrências registradas para o Município é referente à captura, cativeiro e tráfico de animais silvestres, especialmente passeriformes. Segundo informações da Divisão de Fiscalização, em 2006, o número de autuações em Cachoeirinha foi de 10 Autos de Infração, sendo oito referentes à fauna e duas ocorrências de pesca, totalizando multas no valor de R$ 162.000,00. 3.1.2. Órgãos Públicos Estaduais O governo Estadual atua no Município através dos órgãos caracterizados a seguir. a) Secretaria Estadual do Meio Ambiente - SEMA A SEMA é responsável pela administração de dois programas de interesse para Cachoeirinha: o Sistema Integrado de Gestão Ambiental - SIGA-RS e o Programa para o Desenvolvimento Racional, Recuperação e Gerenciamento Ambiental da Bacia Hidrográfica do Guaíba - PRÓ-GUAÍBA. O SIGA-RS visa descentralizar as atividades de planejamento e gestão ambiental desenvolvidas pelo Estado, mobilizando e capacitando os Municípios a gerir as questões ambientais locais, especialmente o licenciamento. Para isso, possui uma Central de Atendimento aos Municípios que buscam adesão ao Sistema. São prestadas orientações ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL 19 administrativas e jurídicas sobre a elaboração do processo para a habilitação à gestão ambiental e à emissão de licenças ambientais para as atividades de impacto local. Depois do atendimento de todos os requisitos para a habilitação, o processo é encaminhado pela SEMA ao Conselho Estadual do Meio Ambiente - CONSEMA para homologação do Município, por meio de Resolução. Aos Municípios habilitados é oferecido um programa de treinamento com técnicos da SEMA. O PRÓ-GUAÍBA foi criado em 1989 pelo Governo do Estado. O objetivo principal é o de melhorar as condições ambientais da bacia hidrográfica do Guaíba, criando condições necessárias para o desenvolvimento racional dos recursos naturais, nas áreas urbanas e rurais. O programa envolve mais de 250 Municípios, dentre os quais se encontra o Município de Cachoeirinha. A coordenação está a cargo da SEMA e a execução é realizada por diversos órgãos públicos estaduais e municipais. O Programa é composto por 14 projetos, sendo alguns de larga abrangência. Dentre as ações executadas no Módulo I 1995 – 2005 do Pró-Guaíba, desenvolvidas em Cachoeirinha, destaca-se a construção de uma Estação de Tratamento de Esgoto no sistema Cachoeirinha / Gravataí. O Governo do Estado, através da CORSAN / Pró- Guaíba, realizou 24 mil ligações prediais às redes de esgoto de Cachoeirinha e Gravataí, o que beneficiou diretamente a população local, melhorou a qualidade da água do rio Gravataí e garantiu mais saúde pública, e indiretamente todo o abastecimento público de água de grande parte da região metropolitana (PRÓ-GUAÍBA, 2007). A SEMA também desenvolve ações no Município através dos seguintes órgãos, caracterizados na seqüência: - Fundação Estadual de Proteção Ambiental – FEPAM; - Departamento de Florestas e Áreas Protegidas – DEFAP; - Departamento de Recursos Hídricos – DRH � Fundação Estadual de Proteção Ambiental - FEPAM A FEPAM é o órgão ambiental do Estado encarregado da gestão e execuçãoda política de proteção ambiental no Rio Grande do Sul. Possui uma equipe técnica formada por especialistas multidisciplinares, treinados na área ambiental, apoiados por laboratórios, onde são realizadas análises físicas, químicas e biológicas, de suporte a seus trabalhos. As principais atividades da FEPAM no Município estão voltadas para o licenciamento de atividades potencialmente poluidoras e para a fiscalização do cumprimento das leis ambientais. É de sua competência, ainda, o licenciamento, a fiscalização e a manutenção de cadastro atualizado do transporte rodoviário, ferroviário e hidroviário de produtos perigosos e do comércio varejista de combustíveis (postos de gasolina). O licenciamento é o procedimento administrativo, realizado pelo órgão ambiental competente, que pode ser federal, estadual ou municipal, para licenciar a instalação, ampliação, modificação e operação de atividades e empreendimentos que utilizam recursos naturais, ou que sejam potencialmente poluidores ou que possam causar degradação ambiental. Em 1997, a resolução nº. 237 do CONAMA definiu as competências da União, Estados e Municípios e determinou que o licenciamento deve ser sempre feito em um único nível de competência. Com respeito à fiscalização, a FEPAM realiza vistorias de rotina, blitz em conjunto com a Brigada Militar e o Ministério Público Estadual e atende a reclamações e representações da população. Durante essas ações, possui competência legal para autuar, apreender e interditar atividades em desacordo com a legislação, mesmo que praticadas por órgãos públicos. Capítulo 3 20 A FEPAM tem, ainda, a atribuição de atender emergências com danos ambientais em todo o Estado do Rio Grande do Sul, mantendo para isto o Serviço de Emergência Ambiental. Esta atividade prioritária envolve principalmente vazamentos de produtos químicos, mortandade de peixes, descarte clandestino de resíduos, acidentes rodoviários, ferroviários e hidroviários no transporte de produtos perigosos (explosivos, inflamáveis, tóxicos, radioativos etc.). Não há registro de acidentes de transporte de cargas perigosas ocorridos no Município de Cachoeirinha nos últimos cinco anos (www.fepam.rs.gov.br). � Departamento de Florestas e Áreas Protegidas - DEFAP O DEFAP está encarregado do exercício das atribuições de órgão florestal estadual, através do Decreto nº. 34.255/92. Desta forma, é o responsável direto pela fiscalização do cumprimento da Lei nº. 9.519/92, que constitui o Código Florestal do Estado do Rio Grande do Sul. São também, suas atribuições: • Licenciamento do "corte e destruição parcial ou total" de florestas nativas e demais formas de vegetação natural de seu interior, de acordo com o artigo 6o da Lei No 4.771/65 - Código Florestal Federal. • Fiscalização, autuação e julgamento de ações administrativas junto com o Batalhão de Polícia Ambiental; • Cadastro de produtores, consumidores e comerciantes de matéria-prima, produtos e subprodutos florestais; • Administração de unidades de conservação em vários Municípios do Estado. Por falta de pessoal, a agência de Porto Alegre do DEFAP não tem realizado ações de fiscalização no Município de Cachoeirinha. Com base em informação verbal do Engº Agrônomo Marcos Almeida Braga (30.07.2007), chefe da Divisão de Licenciamento Florestal, não há registro de autos de infração do órgão em Cachoeirinha durante o ano de 2006 e 1º semestre de 2007. Os processos em andamento não foram disponibilizados pelo Departamento. Apesar disso, a SMMA informou que a empresa Gianco Empreendimentos Imobiliários Ltda. foi fiscalizada pelo DEFAP em 2006, conforme o Inquérito Civil 26/06 MR Nº 029. � Departamento de Recursos Hídricos - DRH É o órgão da administração direta, responsável pela integração do Sistema Estadual de Recursos Hídricos, que concede a outorga do uso da água e subsidia tecnicamente o CRH, notadamente no que tange à coordenação, ao acompanhamento da execução e à elaboração do anteprojeto de Lei do Plano Estadual de Recursos Hídricos. b) Batalhão de Polícia Ambiental Com base no Decreto nº. 34.974/93, que regulamenta o Código Florestal Estadual, a Brigada Militar tem competência para o exercício do poder de polícia florestal no Estado do Rio Grande do Sul. O Decreto-Lei nº. 38.107/98, que define a missão do Batalhão de Polícia Ambiental, assim dispõe em seu art. 45: “Ao Batalhão de Polícia Ambiental compete cumprir e fazer cumprir a legislação ambiental, representar a Brigada Militar nas atividades atinentes à área e promover o intercâmbio com outros órgãos governamentais, por intermédio da proposição de convênios.” Com base em informações do Capitão Rodrigo Gonçalves dos Santos, Comandante da 2ª Companhia Ambiental (24.maio.2007), o Município de Cachoeirinha, por ter uma área rural ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL 21 praticamente inexistente, não contribui significativamente na estatística quantitativa de ocorrências ambientais. No entanto, foi palco de um dos maiores incêndios envolvendo produtos químicos da área metropolitana de Porto Alegre (incêndio da empresa MBN), atingindo diretamente o arroio Passinhos, suspendendo a captação de água na cidade por um longo período. A ocorrência mais incidente no Município envolve comércio e manutenção em cativeiro de animais nativos, notadamente passeriformes, eis que a maior associação Riograndense de passeriformes tem sua sede no Município de Cachoeirinha (Tabela 3.3). As ocorrências envolvendo produtos perigosos foram todas flagradas quando do desenvolvimento de operações de fiscalização de trânsito em conjunto com a prefeitura municipal. Os desmatamentos identificados foram todos decorrentes de implantação de loteamentos com fins residenciais. Tabela 3.3. Ocorrências atendidas pela 2ª Companhia de Polícia Ambiental em Cachoeirinha. Crime Ambiental Quantidade Pássaros em cativeiro 13 Transporte de produtos perigosos 6 Atividade potencialmente poluidora sem licença 4 Corte de vegetação nativa 3 Perfuração de poços sem licença ambiental 2 Acidente envolvendo produtos perigosos 1 Descarte de resíduos sólidos sem licença ambiental (lixões) 1 TOTAL 30 Fonte: 2ª Companhia de Polícia Ambiental (2007). 3.1.3. Órgãos Públicos Municipais O Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA é o modelo de gestão ambiental adotado no Brasil pela Lei nº 6.938/81 e tem como desafio formar uma rede de organizações em âmbitos federal, estadual e municipal que, juntas, possam alcançar as grandes metas nacionais na área ambiental. Muitas vezes, os órgãos do sistema Municipal de Meio Ambiente só existem no papel. Um diagnóstico informal do CONAMA revelou que os principais problemas que estes vivenciam são: falta de estrutura de apoio das prefeituras; deficiente envolvimento e capacitação dos quadros técnicos e dos conselheiros de meio ambiente, além de falta de comunicação com a sociedade (IBAMA, 2006). Em Cachoeirinha, segundo a SMMA, o Sistema Municipal de Proteção Ambiental - SISMUPRA foi instituído pela Lei nº 2.126/ 2002 (Altera dispositivos da Lei Nº 1771/99, que estabelece a Estrutura Administrativa do Poder Executivo Municipal de Cachoeirinha e dá outras providências). As ações relacionadas ao meio ambiente são desenvolvidas de forma isolada, na sua maior parte, por Secretarias Municipais e órgãos, cujas atribuições básicas, de interesse para o Plano Ambiental, são apresentadas a seguir. a) Secretaria Municipal do Meio Ambiente – SMMA É o órgão ambiental municipal, encarregado da fiscalização e proteção ambiental do Município de Cachoeirinha, caracterizado no capítulo 1. Capítulo 3 22 b) Secretaria Municipal de Planejamento - SEPLAN Compete desenvolver o Plano de Desenvolvimento Integrado e o Plano Diretor, desenvolver projetos e programas voltados para a obtenção e alocação de recursos governamentais,