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1 Maria Clara Coutinho – Turma IX SISTEMA GENITAL MASCULINO PATOLOGIA DA PRÓSTATA A próstata possui uma cápsula não verdadeira, ou seja, não há tecido conjuntivo envolvendo toda a próstata. Seu peso normal é 20g e quando esse peso for maior do que 30 é provável que esteja ocorrendo uma hiperplasia de próstata. Ela possui uma estrutura chamada de vero montano que a divide anatomicamente. No vero montano estão os colículos seminais, onde desembocam os ductos ejaculatórios. Nesse nível dos colículos a próstata é dividida em distal e proximal. Além disso, ela é composta de duas massas laterais, lobo direito e esquerdo com o sulco mediano entre eles, e composta pelo lobo posterior. A divisão bem delimitada dos lobos laterais, anterior, posterior e médio ocorre no período embrionário e nos adultos esse limite é mais impreciso. Sua consistência é fibroelástica e isso é observado no toque retal. A superfície externa da próstata normal é simétrica. Figura 63 – Lobos prostáticos Macroscopicamente a próstata possui desenho de um cone invertido, no qual a base está “abraçando” o colo da bexiga. Como os lobos possuem limites indefinidos, se não houver a vesícula seminal é difícil identificar parte anterior e posterior na peça. Geralmente a região posterior é mais achatada, enquanto que a posterior é mais abaulada. Porém, é preciso tomar cuidado porque se houver nodulações haverá deformação da morfologia externa da próstata. O lobo médio forma o assoalho da próstata. Figura 64 – Visão lateral da próstata 2 Maria Clara Coutinho – Turma IX A próstata é composta por estroma e glândulas. No estroma há tecido muscular liso, tecido conjuntivo e vasos sanguíneos. Como a próstata possui tecido muscular liso pode haver a formação de um leiomioma prostático. As glândulas prostáticas são divididas em internas e externas. As internas, também chamadas de submucosa e mucosa, são aquelas mais próximas da uretra, desembocando nela com ductos e ácinos mais curtos. Já as glândulas externas, também chamadas de principais, estão mais presentes nos lobos posterior e lateral. Como elas estão mais distantes da uretra, os ductos e ácinos são mais longos. Elas correspondem a 70% das glândulas. Figura 65 – Desenho esquemático da próstata Microscopicamente as glândulas prostáticas normais são irregulares, podendo formar pseudopapilas (o epitélio é tão irregular com dobramentos para dentro da luz simulando uma papila). O epitélio é composto de células colunares (secretoras e mais internas) e de células basais (mais externas e responsáveis pela renovação do epitélio). Envolvendo esses dois epitélios há uma membrana basal. 3 Maria Clara Coutinho – Turma IX As células basais são um marcador de benignidade. Assim, quando avaliamos uma lesão com atipias e as células basais estão presentes dizemos que é uma lesão benigna e pré-cancerosa, mas se elas não são visualizadas dizemos que é um carcinoma prostático. Figura 66 – Microscopia da próstata A suspeita de alguma alteração na próstata é advinda de uma queixa de obstrução urinária que ocorre por conta de compressão na uretra. O exame clínico é o toque retal (TR) para avaliar textura, nodulações e simetria da próstata. O TR é sensível e específico porque consegue acessas os grandes lobos laterais e o posterior que correspondem às glândulas externas e à maioria do parênquima prostático. Além disso, praticamente não há tecido entre a parede do reto e a próstata, há apenas uma fina camada de tecido adiposo permitindo que seja feita uma boa analise da textura. Será visto mais adiante que a grande maioria dos carcinomas prostáticos acomete mais frequentemente as glândulas externas. Assim, o TR serve para exclusão de carcinoma e não para diagnóstico de hiperplasia benigna de próstata. As duas principais alterações na próstata são: hiperplasia nodular e adenocarcinoma prostático. A associação entre os dois processos é frequente. Ambos se associam ao envelhecimento. Os pacientes que possuem diagnóstico clínico e radiológico de hiperplasia com uma obstrução muito acentuada fazem a ressecção 4 Maria Clara Coutinho – Turma IX transuretral e os fragmentos são enviados para a anatomia patológica. Em algumas situações é feito o diagnóstico de carcinoma oculto, já que o paciente não possui sintomatologia de carcinoma. HIPERPLASIA NODULAR DA PRÓSTATA ADENOCARCINOMA PROSTÁTICO Aumento do tamanho. Proliferação ordenada com formação de nódulos. A proliferação ocorre nas glândulas internas, em torno da uretra podendo causar obstrução precoce. A consistência pode estar aumentada, mas ainda se mantém fibroelástica. Pode ou não ter aumento significativo do volume. Proliferação desordenada. A proliferação ocorre mais na região posterior e lateral, nas glândulas externas e a obstrução é mais tardia. Crescimento infiltrativo. A consistência é pétria/endurecida. A próstata também é dividida em zonas e a localização das lesões está associada à essa divisão. A zona de transição é a região que envolve a uretra proximal, enquanto que a zona central é a região que acompanha os ductos ejaculatórios. Nessas duas zonas é onde ocorre a hiperplasia, porque nelas estão as glândulas internas. Já a zona periférica onde predomina as glândulas externas e ocorrem os adenocarcinomas. É a região que envolve a uretra distal e corresponde à região posterior da próstata. Figura 67 – Desenho esquemático demonstrando as zonas Abaixo é um esquema que mostra o que ocorre na hiperplasia e no carcinoma. No caso da hiperplasia há proliferação de estroma e glândula na região central mais próxima da uretra, comprimindo-a. Já no adenocarcinoma, o acometimento é mais frequente no lobo posterior. 5 Maria Clara Coutinho – Turma IX Figura 68 – Esquema de corte transversal da próstata HIPERPLASIA NODULAR DA PRÓSTATA É o crescimento tumoral não neoplásico causado por hiperplasia dos componentes glandulares e estromais, formando nódulos. O crescimento é ordenado. Sinônimos: hiperplasia prostática benigna, hiperplasia glandular/mioglandular e adenoma da próstata. Sua incidência é influenciada pela idade e com a raça (amarelos < brancos < negros). Além disso, quanto maior a idade maior a chance de provocar sintomas sendo que a grande maioria dos pacientes apresentam manifestações clínicas entra a 7ª e a 8ª décadas de vida (60-79 anos). Em condições normais o hipotálamo produz o hormônio liberador do LH que estimulará a hipófise a liberar LH. O LH, nos testículos, atua na célula de Leydig produzindo a testosterona (também é produzida pelas suprarrenais). Nas células do estroma da próstata há receptor para testosterona fazendo com que ela entre na célula e, por ação da enzima 5-α-redutase, seja convertida em diidrotestosterona (DHT). A DHT é importante na estimulação da proliferação celular. Assim, podemos dizer que a testosterona, a DHT e a 5-α-redutase estão envolvidos na renovação prostática. *Além de ser convertida em DHT, a testosterona tem ação de libido e potência sexual que diminuem com o envelhecimento. **Existem dois tipos de 5-α-redutase, podendo haver a conversão em DHT em outros locais do corpo. O tipo 1 está presente na pele e no fígado tipo 2 está presente nas células do estroma e nas glândulas prostáticas. A etiopatogênese ainda é controversa, mas há 2 hipóteses. A primeira delas é chamada de hipótese de fatores locais de crescimento. Primeiro há proliferação apenas de estroma por estímulo local e o nódulo formado é periuretral. A partir da proliferação 6 Maria Clara Coutinho – Turma IX do estroma, ocorre a indução de proliferação de glândulas o que é chamado de novo despertar das propriedades embrionárias. Assim, começa a ter proliferação tanto de estroma quanto de glândula com formação de nódulosestromato-glandulares. Há proliferação ordenada de componentes estromal e glandular, porém pode haver nódulos com mais estroma ou com mais glândulas. Isso nos ajuda na macroscopia porque se a textura for mais esponjosa, haverá mais nódulos glandulares enquanto que uma textura mais densa indica mais estroma. As imagens abaixo são a microscopia da hiperplasia nodular. Na primeira há proliferação de estruturas glandulares formando nódulos e entre elas está o estroma. Note que essa proliferação é mais nodular. Já na segunda imagem, há nódulos mais estromatosos na direita e nódulos mais glandulares na esquerda. Figura 69 – Microscopia hiperplasia A segunda hipótese está relacionada a fatores hormonais. O nível de testosterona é importante para converter DHT, responsável pela proliferação celular. Assim, era de se esperar que pacientes mais velhos possuíssem mais DHT só que isso não ocorre porque há redução de testosterona com a idade. Por isso que se fala que a patogênese é controversa. Então como seria a patogênese nesse caso? Com a senilidade ocorre diminuição de testosterona e nos pacientes que tem a hiperplasia, ao dosar a DHT, observa-se que os níveis são normais e esses níveis são essenciais para manter a proliferação celular e levar à hiperplasia benigna da próstata. A 7 Maria Clara Coutinho – Turma IX DHT é tão importante na patogênese que um medicamento utilizado para diminuir o volume da próstata é o inibidor da conversão testosterona em DHT. Esse paciente irá possui o hiperestrogenismo relativo, ou seja, continuará com o nível basal de estrógeno com diminuição da testosterona. É relativo porque o estrógeno está aumentado apenas porque o nível de testosterona abaixou. Além disso, parece que o estrógeno aumenta a expressão do receptor de DHT nas células que irão proliferar. Então, mesmo que haja diminuição de DHT pela diminuição da testosterona com o envelhecimento haverá uma maior proliferação por conta do hiperestrogenismo. A participação da DHT na patogênese foi demonstrada em estudos com indivíduos castrados antes da puberdade mostram que eles não possuem hiperplasia benigna de próstata. Essas pessoas não têm testículos e, portanto, não tem células de Leydig. Como não há testosterona, não haverá a conversão em DHT e nem proliferação celular. Macroscopia: varia conforme o lobo acometido. Se for o lobo médio, haverá saliência no assoalho da bexiga formando uma valva no óstio de saída de urina da bexiga. O tamanho* da próstata é bem variável. À superfície de corte haverá nódulos de vários diâmetros e de texturas diferentes. Os nódulos menos consistentes e mais esponjosos são predominantemente formados por glândulas, enquanto que os mais duros e fasciculados têm predomínio de componente estromal. Se houver o comprometimento dos lobos laterais, a uretra ficará comprimida, tortuosa** e em fenda. *O valor do peso da próstata é medido pelo US. O ultrassonografista faz a medida em 3 dimensões e um programa estimar qual é o peso da próstata. O peso normal é 20g e se tiver mais de 30g sempre há algum processo patológico. **Isso porque apesar de ser uma proliferação definida, ela é irregular e pode ter mais ou menos proliferação em cada local. Quando houver o acometimento dos lobos laterais, haverá compressão significativa da uretra e a urina não consegue passar. Assim, haverá um represamento de urina na bexiga. A bexiga vai tentar eliminar a urina e sua camada muscular irá contrair o máximo que puder, porém não será suficiente. Nessa tentativa de contrair haverá hipertrofia da camada muscular da bexiga que, internamente, estará com aspecto trabecular com reentrâncias podendo ter a formação de pseudodivertículos. 8 Maria Clara Coutinho – Turma IX Nas áreas mais rebaixadas onde estão os divertículos pode haver acúmulo de urina e o paciente fica mais susceptível à ITU. Além disso, a tortuosidade da uretra gera estiramento em algumas porções que pode causar erosão da mucosa uretral e essas erosões facilitam a adesão de microorganismos levando à maior chance de ITU. Acima da bexiga estão os ureteres. Se há represamento de urina na bexiga haverá refluxo vesicoureteral (RVU) e ele permanecer e nada for feito, o organismo irá acumular urina. Se o RVU for intenso a ponto de chegar à pelve renal, o paciente terá pielonefrite. Sempre que tiver esse refluxo permanente e ele não tiver por onde sair durante muito, a pessoa acumulando urina e ela ficar voltando e voltando pode ficar acumulada no sistema pielocalicial e dilatar esse sistema. Essa dilatação é chamada de hidronefrose. Nessa situação o sistema pielocalicial irá empurrar o parênquima renal porque não terá para onde expandir. Assim, haverá atrofia do parênquima renal e o paciente evoluirá com insuficiência renal crônica (IRC). Dessa forma, quando se observa que o paciente possui obstrução de urina é precisa tratar com medicamentos ou cirurgias para evitar que esse represamento seja crônico e tão intenso ao ponto de gerar uma insuficiência renal crônica. Figura 70 – Evolução da hiperplasia em lobo lateral Quando houver acometimento do lobo médio, ele irá emperrar o orifício uretral interno da bexiga simulando uma valva, impedindo a saída de urina de dentro da bexiga. Dessa forma, poderá ter a bexiga de esforço com hipertrofia da camada muscular da bexiga formando as trabéculas e esse paciente pode ter ITU de repetição. Além disso, o impedimento da saída de urina pode levar à estase urinária predispondo à formação de cálculos. 9 Maria Clara Coutinho – Turma IX Figura 71 – Evolução da hiperplasia em lobo médio A imagem abaixo é a macroscopia de uma bexiga de esforço. A camada muscular está hipertrofiada dando esse aspecto trabeculado. As regiões mais rebaixadas são os pseudodivertículos, onde há acúmulo de urina gerando predisposição para ITU. Figura 72 – Macroscopia da bexiga de esforço Antigamente, o conjunto de sinais e sintomas de hiperplasia nodular da próstata era chamado de prostatatismo. Hoje em dia são chamados de alterações do trato urinário baixo, pois eles podem ser gerados por alterações em outras estruturas e não apenas as da próstata. Os sinais e sintomas que o paciente apresenta são: aumento da frequência para urinar, noctúria, urgência miccional, jato urinário fraco, hesitação, intermitência, gotejamento urinário, esvaziamento incompleto e micção em 2 tempos. Esses sinais e sintomas estão relacionados com a obstrução urinária. Para diagnóstico é necessário realizar exame de imagem para verificar aumento de peso e de volume da próstata. Primeiro o paciente deve beber bastante água para ficar com a bexiga cheia e será possível ver com bastante clareza o tamanho e a extensão da bexiga e, caso tenha hiperplasia, será possível visualizar a próstata empurrando o orifício de saída da urina. Em seguida, pede o paciente para ir ao banheiro e esvaziar a bexiga o máximo que puder. Assim, faz novamente o US para avaliar o volume 10 Maria Clara Coutinho – Turma IX residual. Se esse volume for acima do esperado, dizemos que o paciente possui comprometimento funcional por conta de hiperplasia. Assim, o objetivo do tratamento é eliminar o prejuízo funcional que a hiperplasia traz, além de tentar diminuir o volume da próstata. O tratamento clínico com medicamentos é feito naqueles pacientes que apresentam sinais menos intensos de obstrução. Os medicamentos utilizados são: inibidores de 5-α-redutase (finasterida) e α-1-bloqueadores (doxazosina). A finasterida diminui o volume prostático, enquanto que a doxazosina diminui a contratilidade da musculatura lisa da uretra prostática permitindo a passagem da urina. Geralmente se faz uma terapia combinada dessas duas medicações. Doses mais altas de finasterida são utilizadas em pacientes que estão com sintomatologia mais aguda. Em casos mais gravesem que a medicação não faz mais efeito, opta-se pelo tratamento cirúrgico. Ele consiste na ressecção transuretral (RTU). Via uretra prostática faz a raspagem do excesso de próstata que está comprimindo a uretra, permitindo a passagem da urina. Esse procedimento é eficaz e promove a desobstrução na grande maioria dos casos. Sempre que esse procedimento for realizado é obrigatório enviar para o anatomopatológico porque pode detectar o adenocarcinoma silencioso. Como complicação, o paciente pode ter ejaculação retrógrada e uma alternativa de tratamento é a uretrotomia interna da uretra prostática em próstatas de até 30g. Figura 73 – Fragmentos prostáticos da RTU LESÕES NEOPLÁSICAS Serão detalhadas apenas as lesões malignas já que as benignas (fibroma, hemangioma e leiomioma) são raras. As malignas são dividas em primárias e secundárias. Dentre as lesões primárias, o tipo histológico mais comum é o adenocarcinoma correspondendo a 98% de todos os casos. Esse grupo surge das 11 Maria Clara Coutinho – Turma IX glândulas externas na zona periférica do lobo posterior da próstata. O aparecimento do adenocarcinoma é entre 50 e 80 anos, sendo que quanto maior a associação com a história familiar mais precoce será esse aparecimento. A média de idade é de 70 anos e a medida que o paciente vai envelhecendo, maior a chance de desenvolver. Além das lesões primárias, existem as secundárias que são metástases de outros tumores primários. Os principais tumores que metastatizam para a próstata são o de reto e de bexiga pela proximidade. Pode ainda haver leucemias e linfomas que metastatizam. A apresentação clínica geralmente é mais tardia visto que a obstrução é mais tardia. Para descrever os carcinomas são usados termos de acordo com o comportamento biológico do câncer. Carcinoma clínico: é aquele que dá manifestações locais. Carcinoma latente: é o comportamento da grande maioria dos cânceres de próstata. É dormente ou indolente porque não há sintomatologia e o diagnóstico é apenas histológico. Não evolui necessariamente para câncer clínico ou, mais provavelmente, evolui de forma muito lenta. Carcinoma oculto: é aquele cuja sintomatologia ocorre devido à metástase e não ao câncer primário. Assim como no colo uterino, também podemos ter lesões precursoras (não há associação com HPV). É chamada de neoplasia intra-epitelial prostática (NIP) e começa no epitélio de revestimento das glândulas da próstata. Ainda é uma lesão benigna. As células que revestem as glândulas começam a ficar atípicas com núcleos volumosos e nucléolos evidentes. Porém, o marcador de benignidade é a presença das células basais*. *Em um material de biopsia com atipias e muitas mitoses, mas que não se consegue ver com muita clareza se há células basais ou não é necessário realizar a imunohistoquímica com um marcador específico para célula basal e confirmar se elas estão presentes ou não. Figura 74 – Neoplasia intra-epitelial prostática 12 Maria Clara Coutinho – Turma IX Como é a carcinogênese do câncer de próstata? Primeiro o paciente passa pela etapa 1 em que as glândulas passam a ser atípicas e as células basais ainda estão preservadas. A etapa 2 é a evolução da lesão precursora em câncer histológico e, nesse caso, ainda não há alterações clínicas e nem no exame de imagem. E na terceira etapa, o paciente pode evoluir de duas formas: câncer latente ou câncer clínico. O câncer latente possui evolução muito lenta e ocorre em pacientes mais idosos (80 anos), sendo raro óbito por esse tipo. Já o câncer clínico possui um crescimento bem mais rápido e o paciente apresenta uma sintomatologia relacionada ao câncer. O que determina se o paciente evoluirá com câncer latente ou clínico são os fatores de risco: fatores genéticos, idade, raça, hormônios, fatores ambientais e alimentação. Figura 75 – Carcinogênese do Ca de próstata Como já foi dito, o risco de câncer aumenta com a idade. Em pacientes com mais de 40 anos, a taxa de incidência é de 25 a 30% enquanto que em pacientes com mais de 80 anos, essa taxa é de 70%. Já quando analisamos a raça, o câncer clínico é mais frequente em negros e é menos frequente em asiáticos. Os fatores genéticos possuem pouca relação com a etiologia dos cânceres prostáticos, pois apenas um percentual baixo que se relaciona à genética. Quando há relação com a genética são tumores precoces que acometem pacientes com menos de 55 13 Maria Clara Coutinho – Turma IX anos de idade. Considera-se apenas pai e irmão. É chamado de tumor familial quando são 2 casos e tumor hereditário quando são 3 ou mais casos. Geralmente esses tumores são clínicos. As alterações genômicas mais frequentemente associadas são amplificação de oncogenes (principalmente MYC) e deleção de genes supressores (RB e TP53). Já nos fatores hormonais, sabe-se que os andrógenos (testerona) são importante para o crescimento e o desenvolvimento da próstata normal a renovação do epitélio prostático, da hiperplasia nodular da próstata e do adenocarcinoma prostático. No entanto existe um paradoxo: testosterona diminui com a senilidade, enquanto que a incidência aumenta. O que se sabe é que o gatilho se iniciaria quando os níveis de testosterona ainda estão elevados. Além disso, outra explicação seria que o paciente teria alterações genômicas de amplificação gênica de receptores de andrógenos nas células prostáticas. O diagnóstico é dado na anamnese, exame físico, exames laboratoriais, ultrassom e biopsia sextante. Na anamnese o paciente pode queixar sintomas urinários como dificuldade para iniciar ou terminar o jato, disúria, aumento da frequência para urinar e hematúria. Porém, é sempre bom lembrar que a grande maioria é assintomática por conta da localização inicial da lesão (lobos posteriores e glândulas externas). O exame físico é feito com o toque retal e nele é palpado um nódulo endurecido. A principal alteração laboratorial é a elevação do PSA. Ele é importante para detecção precoce, estadiamento, avaliação prognostica e monitoramento de resposta terapêutica. O PSA pode ser o primeiro parâmetro para avaliar o paciente, já que ele pode não ter queixa ou ainda não fez o toque retal. O US serve para localização da lesão e para detecção de lesões não palpáveis. Já a biopsia sextante consiste em 6 amostras de diferentes regiões bilateralmente – ápice, base e terço médio; na zona periférica. Caso a alteração ao toque seja somente de textura faz a biopsia sextante sem pensar em local específico. Se for identificado a presença de nódulo: biopsia sextante + amostra do nódulo. A biopsia sextante é feita por via retal, tendo o mesmo acesso que o toque retal (lobo posterior). O antígeno prostático específico (PSA) é uma glicoproteína transmembrana de células epiteliais prostáticas presente no soro de indivíduos normais. Seus valores aumentam com a idade. Além disso, ele pode se elevar em lesões benignas: HNP, 14 Maria Clara Coutinho – Turma IX prostatites, infarto e manipulações (biopsia e RTU). Os valores de referência para PSA total variam de acordo com a técnica utilizada pelo laboratório. São eles: 0-4 ng/mL → normal 4-10 ng/mL → alterações benignas, sendo a maioria HNP. Raramente esses valores se associam a neoplasia maligna e à normalidade. 10-12 ng/mL → a maioria é neoplasia, mas também pode ser HNP. >12 ng/mL → neoplasia maligna. Em alguns momentos pode haver sobreposição entre lesões benignas e malignas. Por isso é importante utilizar outros testes como densidade de PSA, velocidade de PSA, PSA ajustado à idade e relação PSA livre/PSA total (é a mais usada). Quando essa relação for <0,15-0,20 favorece adenocarcinoma. A imagem a seguir é um fragmento de biopsia sextante. Ela é feita com uma agulha fina, por isso apresenta esse aspecto filiforme. É possível observar a presença de muitas glândulas epouco estroma, suspeitando-se de malignidade. O aumento da celularidade dá um aspecto mais hipercromático à amostra. Figura 76 – Fragmento de biopsia sextante Macroscopia: em fase inicial pode haver nódulo endurecido (ele é mais frequente na HNP). Com a evolução do tumor, por de infiltração, a próstata será globalmente endurecida e à superfície de corte o tecido é homogêneo esbranquiçado ou branco-amarelado. A lesão não tem limite indefinido, é infiltrativa e mais densa. Microscopia: proliferação de glândulas pequenas, anguladas, justapostas que infiltram o estroma. As células basais desaparecem, indicando a malignidade. O arranjo 15 Maria Clara Coutinho – Turma IX cribiforme (uma glândula dentro da outra) é frequente. Núcleo volumoso e com nucléolo evidente. Figura 77 – Microscopia carcinoma prostático Figura 78 – Screening para o câncer de próstata A cirurgia nesses casos é a prostatectomia radical que é a ressecção da próstata, das vesículas seminais e dos linfonodos pélvicos. Pacientes que possuem apenas hiperplasia, mas a próstata é muito grande, indica-se prostatectomia parcial em que se faz ressecção apenas da próstata. Esse tipo de cirurgia pode levar à disfunção erétil e à incontinência urinária. Em tumores restritos à próstata, pode ser curativa. Os fatores prognósticos são: volume do tumor, tumor bilateral e o grau histológico. O grau histológico é de acordo com os critérios de Gleason no qual são dadas notas de 1 a 5 de acordo com o grau de diferenciação, sendo 1 bem diferenciado e 5 indiferenciado. A diferenciação glandular é avaliada pela forma dos arranjos e o tumor 5 forma células isoladas. 16 Maria Clara Coutinho – Turma IX São feitas 2 notas por amostragem, sendo que a primeira nota é em relação ao padrão mais predominante e a segunda nota é sobre o padrão secundário. As duas notas são somadas ao final e deve colocar entre parênteses a soma separada. Por exemplo, 80% de uma amostra é nota 3 e dos 20% restantes, 15% é nota 2. Assim, a nota do tumor é Gleason 5 (3+2). Abaixo é um desenho esquemático de como estariam as glândulas ao longo da diferenciação. O tumor mais bem diferenciado (1) só possui células neoplásicas formando glândulas coesas (próximas umas às outras). A medida que vai diferenciando vai formando o arranjo cribiforme e as glândulas ficam mais descoesas. No 3 já começa a ter algumas células isoladas. Já no 5 há o predomínio de células isoladas e a formação de glândulas já não é mais tão evidente. *Segundo a Camila, na prova não precisa saber como é cada um dos tumores. É preciso saber apenas que 1 é mais bem diferenciado e o 5 é indiferenciado. Precisa saber que um tumor 4+3 é pior do que um tumor 3+4. Figura 79 - Desenho esquemático das glândulas ao longo da diferenciação No dia a dia eles são bastante parecidos, por isso pode-se afirmar que o 1 é virtual e essa nota não é dada. O patologista da nota 2 direto. 17 Maria Clara Coutinho – Turma IX MICROSCOPIA DE ACORDO COM A DIFERENCIAÇÃO GLANDULAR (Critérios de Gleason) Nota 1 ou 2: Glândulas bem formadas, sem arranjo cribiforme e coesas. Nota 3: as glândulas ficam mais espaçadas e com aspecto cribiforme. Nota 4: já começa a ter poucas glândulas abertas e há mais células formando arranjos sólidos e algumas células estão isoladas. Nota 5: presença de células isoladas. Olhando apenas essa imagem não é possível afirmar que é material de próstata. Nesse caso é obrigatório fazer a imunohistoquímica para PSA. Outra característica avaliada nos tumores de próstata é a invasão perineural, ou seja, ao redor de gânglios/nervos. A estrutura histológica de nervos é: células alongadas formando feixes e ao redor desse nervo há estruturas glandulares indicando presença de células neoplásicas perineurais. Nesse caso o prognóstico é pior. Figura 80 – Invasão perineural 18 Maria Clara Coutinho – Turma IX O estadiamento é baseado no tamanho do tumor, se está restrito à próstata e se é uni ou bilateral. T1 é aquele tumor localizado que ainda não identificado pelo toque retal, sendo clinicamente inaparente. T2 ainda é localizado, mas consegue ser identificado pelo toque como um nódulo endurecido e pelo US. T3 é aquele que se estende para fora da glândula ou invade a glândula seminal. Figura 81 – Estadiamento A disseminação mais frequente é por extensão local com acometimento de órgãos vizinhos (uretra, bexiga, vesículas seminais e reto). A segunda mais frequente é a metástase linfática, por isso que as cadeias pélvicas são retiradas na prostatectomia radical. A sequência de acometimento das cadeias linfáticas é: obturadores, hipogástricos, pré-sacrais, para-aórticos. A metástase hematogênica é comum em pulmões, fígado, suprarrenal, pleura e rim. A metástase a distância que está extremamente relacionada com adenocarcinoma de próstata é a metástase óssea, sendo frequente em 70 por cento dos casos de adenocarcinoma prostático. Principalmente ossos pélvicos, vértebras e costelas. Sempre prestar atenção em pacientes com adenocarcinoma de próstata com dor nas costas 19 Maria Clara Coutinho – Turma IX porque a chance de ser uma metástase é extremamente alta. A imagem abaixo é uma coluna com as vértebras contendo múltiplos pontos bracacentos indicando a metástase. Figura 82 – Fragmento de coluna vertebral NEOPLASIAS DO PÊNIS CONDILOMA ACUMINADO: é uma lesão papilomatosa benigna causada pelo HPV, principalmente os tipos 6 e 11. A localização preferencial dessa lesão é no sulco balonoprepucial e na face interna prepúcio. Macroscopicamente será vista uma lesão séssil que se apresenta sob a forma de projeções papilíferas conhecida popularmente como crista de galo. Na microscopia haverá hiperplasia do epitélio de revestimento que irá dobrar sobre si mesmo, presença de atipias coilocitóticas*, células binucleadas e ceratose**. *Halo claro perinuclear com núcleo de morfologia irregular ou encarquilhado, indicando que há infecção pelo vírus HPV. **Presença de células isoladas corneificadas, ou seja, ceratinizadas em locais que não deveria ter a ceratinização. É também chamada de disceratose 20 Maria Clara Coutinho – Turma IX Figura 83 – Macroscopia e Microscopia condiloma acuminado PAPULOSE BOWENOIDE: é uma lesão que compromete o penis ou a região períneo de jovens de 20 a 30 anos de idade. Possui etiologia variada: vírus HPV, fatores imunitários e irritantes químicos. À macroscopia são múltiplas lesões de aspecto heterogêneo, ou seja, podem ser pápulas, placas ou vegetações. Na microscopia, a metade inferior¹ se assemelha ao carcinoma in situ (doença de Bowen) e a metade superior² se assemelha ao condinoma acuminado. Seu comportamento clínico é essencialmente benigno. ¹atipias, mitoses, hipercromasia e nucleomegalia. ²coilocitose, disceratose, células binucleadas etc. Figura 84 – Microscopia papulose bowenoide DOENÇA DE BOWEN: é o CCE in situ localizado em qualquer local da mucosa ou da pele do pênis que ocorre preferencialmente em idosos. Se não tratado, cerca de 10 a 20% evolui para carcinoma invasor. Na macroscopia há lesões isoladas de textura diferente do restante do pênis por conta de espessamento e de coloração branco- acinzentada às vezes com ulceração superficial. 21 Maria Clara Coutinho – Turma IX CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS: é o carcinoma invasor. Os fatores etiológicos são infecção por HPV de alto grau, promiscuidade, má higiene local e ação do esmegma em indivíduos não circuncidados. Em pessoas que não fizeram cirurgia de fimose e no excesso de glande haverá acúmulo de esmegma sem exposição e limpeza adequada do mesmo. O esmegma em contato com a pele causa alterações relacionadas com proliferação e diferenciação celular. É mais frequente entre 60-69 anos, sendo praticamente inexistentequando há circuncisão precoce. O CCE origina-se preferencialmente na glande. Seu crescimento é lento, sendo um tumor com bom comportamento biológico e com taxa de proliferação mais baixa. Porém, o paciente demora a procurar atendimento por vergonha ou por achar que vai melhorar e quando resolvem procurar ajuda a lesão já é grande e com alta destruição local. Essa destruição peniana pode ser uma ulceração profunda, levando a infecção e obstrução urinária. As metástases são preferencialmente por via linfática (inguinais e ilíacos). As hematogênicas são tardias. Além disso, elas são mais frequentes quando o tumor é do tipo ulcerado. Macroscopicamente, o CCE pode ter crescimento vegetante ou ulcerado. A forma ulcerada é a mais infiltrativa com pior prognóstico pela maior chance de metástases. Já a forma vegetante possui o melhor prognóstico e tende a ser mais bem diferenciado. Figura 85 – Macroscopia CCE 22 Maria Clara Coutinho – Turma IX Microscopicamente haverá proliferação de células escamosas atípicas com hipercromasia, nucleomegalia, mitoses típicas e atípicas. A presença de pérolas córneas indica preservação da diferenciação. Figura 86 – Microscopia CCE.