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Orma regulamentadores QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 2 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 Oi, tudo bem? Antes de qualquer coisa, deixe-me apresentar. Meu nome é Alexandre Sabino de Oliveira, sou graduado em Economia com MBA em Segurança do Trabalho e Meio Ambiente, pós-graduado em Tutoria na Educação à Distância e Docência no Ensino Superior e pós-graduando em Gestão Financeira e Controladoria. Além disso, sou Professor, Palestrante e Auditor-Fiscal do Trabalho atuante na área de Segurança e Saúde no Trabalho – SST. E, para difundir o conhecimento em torno da seara prevencionista, desde 2011 tenho publicado videoaulas gratuitas no Youtube para democratizar (e porque não “desmistificar”) o conteúdo das Normas Regulamentadoras – as famosas NR’s! E durante todo esse tempo em que pessoas de todas as regiões do país têm entrado em contato comigo, não foram poucas as que pediram para que eu preparasse um estudo mais direcionado, mais profundo e que contivesse um conteúdo mais detalhado do que aquele apresentado nas videoaulas. Pois bem! Foi justamente para atender a esses pedidos que surgiu a minha antiga série de e-books em .pdf que eu chamei de “Começando com o pé direito”. Eu não pretendia, com eles, esgotar o tema. Longe disso! Meu objetivo era tão somente o de comentar, com base no meu entendimento das NR’s e na prática do dia-a-dia da Fiscalização do Trabalho, cada um dos itens contidos nessas aparentemente complicadas Normas Regulamentadoras. Entretanto, com o fim do antigo Ministério do Trabalho – MTb (vide lei 13.844 de 18 de junho de 2019) e com o discurso de modernização das NR’s, aqui estou eu novamente: dessa vez, para compartilhar algumas reflexões pessoais sobre a Nova NR-1 atualmente em vigor. Publicada em 30 de julho de 2019, a Portaria 915 (que trouxe a alteração da redação da NR-1) também revogou a agora antiga NR-2, que tratava da Inspeção Prévia. Já era!! Se você tiver interesse em saber um pouquinho sobre a NR-2, pode estudá-la através da minha videoaula sobre o assunto: é só clicar AQUI. Agora, vamos ao que interessa! https://www.instagram.com/alexandresabinoaft/ https://www.instagram.com/alexandresabinoaft/ https://www.youtube.com/user/sabinosst/videos https://enit.trabalho.gov.br/portal/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-menu/sst-normatizacao/sst-nr-portugues?view=default http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Lei/L13844.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Lei/L13844.htm https://drive.google.com/file/d/1lt3sEyHxsA52kQ1b0x06c-FYQGGelaqs/view https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-01.pdf http://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-915-de-30-de-julho-de-2019-207941374 https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-02_atualizada2019.pdf https://www.youtube.com/watch?v=nYvVTGqlgHA QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 3 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 Este material está organizado da seguinte maneira: 1.1.1 O objetivo desta Norma é estabelecer as disposições gerais, o campo de aplicação, os termos e as definições comuns às Normas Regulamentadoras - NR relativas à segurança e saúde no trabalho. ➔ Antes de qualquer coisa, é importante salientar que a Norma Regulamentadora nº 1 é aquela NR que vai traçar as diretrizes das demais NR’s, daí seu nome “Disposições Gerais”. Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (...) Com relação à citação literal dos dispositivos normativos e legais que vierem recuados e em itálico, toda vez que eles estiverem em negrito e/ou sublinhados fui eu que quis chamar a atenção, tudo bem? Importante ressaltar que as observações feitas neste material não são, necessariamente, a posição definitiva da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho ou do Ministério da Economia sobre os temas abordados. Para obtê-la, é preciso que você requisite, por escrito, tal posicionamento na unidade mais próxima da Inspeção do Trabalho. Te desejo um ótimo estudo! Att, Prof. Alexandre Sabino - @alexandresabinoaft O texto da NR vem em negrito e formatado de margem à margem. Levemente recuados, com uma fonte menor e precedidos de uma seta, estão os meus comentários sobre o item da Norma. Quando alguma transcrição for necessária (no caso de Lei, Portaria, etc), ela virá ainda mais recuada, em itálico e numa fonte ainda mais reduzida. http://trabalho.gov.br/rede-de-atendimento http://trabalho.gov.br/rede-de-atendimento https://www.instagram.com/alexandresabinoaft/ QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 4 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 INTRODUÇÃO A “Nova NR-1” foi introduzida no nosso ordenamento jurídico através da Portaria 915, de 30 de julho de 2019. Essa Portaria não traz apenas a nova redação da NR-1. Ela nos apresenta, também, a revogação da NR-2 / Inspeção Prévia e do Anexo III da NR- 20 – Diretrizes e requisitos mínimos para utilização da modalidade de ensino à distância e semipresencial para capacitações, além da revogação de diversos outros itens presentes nas demais Normas Regulamentadoras. Todos esses itens revogados, citados no Anexo II da Portaria 915, são apresentados ao final deste material. Importante destacar, também, a menção à Portaria nº 787, de 27 de novembro de 2018, que trata das regras de aplicação, interpretação e de estruturação das NR’s. O art. 7º da Portaria 915 (que trouxe a nova redação da NR-1) tem a seguinte redação: Art. 7º - Determinar, conforme previsto na Portaria SIT nº 787, de 27 de novembro de 2018, que a Norma Regulamentadora nº 01 e seus Anexos serão interpretados conforme o disposto na tabela abaixo: Regulamento Tipificação NR-01 NR Geral Anexo I Tipo 3 Anexo II Tipo 1 O que isso significa? O art. 3º da própria Portaria 787 explica: Art. 3º - As NR são classificadas em normas gerais, especiais e setoriais. §1º Consideram-se gerais as normas que regulamentam aspectos decorrentes da relação jurídica prevista na Lei sem estarem condicionadas a outros requisitos, como atividades, instalações, equipamentos ou setores e atividades econômicos específicos. §2º Consideram-se especiais as normas que regulamentam a execução do trabalho considerando as atividades, instalações ou equipamentos empregados, sem estarem condicionadas a setores ou atividades econômicas específicos. https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-01.pdf http://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-915-de-30-de-julho-de-2019-207941374 http://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-915-de-30-de-julho-de-2019-207941374 https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-02_atualizada2019.pdf https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-20.pdf https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-20.pdf https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=369809 https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=369809 http://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-915-de-30-de-julho-de-2019-207941374 QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 5 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 §3º Consideram-se setoriais as normas que regulamentam a execução do trabalho em setores ou atividades econômicas específicos. Ou seja: a Nova NR-1, como o próprio quadro apresentado nos diz, é uma NR Geral, isto é, é aplicada a qualquer ramo de atividade e em qualquer circunstância (desde queobedecidos os requisitos constantes em seu texto, evidentemente). Já as NR’s 6 (EPI), 8 (Edificações), 10 (Instalações e Serviços em Eletricidade) e a 12 (Máquinas e Equipamentos), por exemplo, seriam NR’s Especiais, uma vez que estabelecem regras de trabalho sem se vincularem a um setor específico. Por sua vez, NR’s como a 18 (Construção Civil), a 22 (Mineração) e a 29 (Trabalho Portuário), por regulamentarem a execução de atividades em setores determinados, são consideradas NR’s Setoriais. Mas o art. 7º da Portaria 915 vai além! Ele estabelece que os Anexos I e II da Nova NR 1 são, respectivamente, do Tipo 3 e 1. E agora? Calma! rs... De novo, a resposta está na Portaria 787, mais precisamente em seus artigos de número 7 e 11: Art. 7º - Os Anexos, além da classificação específica das NR às quais pertencem, podem ser classificados segundo Tipo 1, Tipo 2 e Tipo 3. §1º O Anexo Tipo 1 complementa diretamente a parte geral da NR. §2º O Anexo Tipo 2 dispõe sobre situação específica. §3º O Anexo Tipo 3 não interfere na NR, apenas exemplifica ou define seus termos. Art. 11 - Em caso de conflito aparente entre dispositivos de Anexo de NR e da parte geral desta, sua solução dar-se-á pela aplicação das regras seguintes: I. parte geral de NR se sobrepõe ao Anexo Tipo 1; II. Anexo Tipo 2, considerando o seu campo de aplicação, sobrepõe-se à parte geral de NR. http://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-915-de-30-de-julho-de-2019-207941374 https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=369809 QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 6 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 Voltando para o caso específico da Nova NR-1, temos que o seu Anexo I – Termos e Definições, sendo do Tipo 3, apenas define algumas expressões que a própria Norma utiliza, não sendo uma REGRA de SST propriamente dita. Situação diversa é a que ocorre com o seu Anexo II - Diretrizes e requisitos mínimos para utilização da modalidade de ensino a distância e semipresencial. Sendo do Tipo 1, ele complementa diretamente a parte geral da NR, sendo tão obrigatório quanto os itens presentes no texto geral da Norma. Caso você queira se debruçar sobre as regras de aplicação e interpretação das Normas Regulamentadoras, a SIT – Subsecretaria de Inspeção do Trabalho preparou o Guia de elaboração e revisão de Normas Regulamentadoras em Segurança e Saúde no Trabalho, um material de excelente qualidade que você pode baixar gratuitamente clicando AQUI. Dito isso, vamos finalmente ao que realmente interessa: a Nova NR-1! https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_Publicacao_e_Manual/CGNOR---GUIA-DE--ELABORAO-E-REVISO-DE-NORMAS-V.5.pdf QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 7 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 NR 1 - DISPOSIÇÕES GERAIS (com base na redação da Portaria nº 915, de 30/07/2019) Sumário 1.1 Objetivo 1.2 Campo de aplicação 1.3 Competências e estrutura 1.4 Direitos e deveres 1.5 Da prestação de informação digital e digitalização de documentos 1.6 Capacitação e treinamento em Segurança e Saúde no Trabalho 1.7 Tratamento diferenciado ao Microempreendedor Individual - MEI, à Microempresa - ME e à Empresa de Pequeno Porte - EPP 1.8 Disposições finais Anexo I - Termos e definições Anexo II - Diretrizes e requisitos mínimos para utilização da modalidade de ensino a distância e semipresencial. 1.1 Objetivo 1.1.1 O objetivo desta Norma é estabelecer as disposições gerais, o campo de aplicação, os termos e as definições comuns às Normas Regulamentadoras - NR relativas à segurança e saúde no trabalho. ➔ Antes de qualquer coisa, é importante salientar que a Norma Regulamentadora nº 1 é aquela NR que vai traçar as diretrizes das demais NR’s, daí seu nome “Disposições Gerais”. http://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-915-de-30-de-julho-de-2019-207941374 https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-01.pdf QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 8 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 Ela surge com o objetivo de esclarecer à sociedade qual é o fio condutor de todo o arcabouço normativo relacionado à área de SST e os termos mais frequentemente utilizados nas Normas. É como se ela desse um spoiler! rs... 1.1.2 Para fins de aplicação das Normas Regulamentadoras - NR, consideram-se os termos e definições constantes no Anexo I. ➔ O Anexo I da nova NR-1 se chama “Termos e Definições”. Como o próprio nome diz, ele vem explicar os conceitos dos termos e das expressões encontrados nas Normas Regulamentadoras como um todo, tais como a diferença entre empregado e trabalhador, definir perigo ou fator de risco, entre outros. 1.2 Campo de aplicação 1.2.1 As NR obrigam, nos termos da lei, empregadores e empregados, urbanos e rurais. ➔ “nos termos da lei”. A partir de agora, nós vamos encontrar essa expressão diversas vezes no conteúdo das NR’s. O que ele diz pra gente? Significa dizer, salvo melhor juízo, que não adianta vir com divagações, pensamentos filosóficos ou doutrinários acerca do conteúdo das Normas. Precisamos nos ater ao texto! Se isso é bom ou ruim, só o tempo dirá... (até porque, para adentrarmos nesse assunto, teríamos que partir para uma análise hermenêutica dos dispositivos normativos e não é esse o objetivo deste material). O item 1.2.1 deixa claro que não importa se você está em ambiente urbano ou rural, se você é o empregador ou o empregado: TODOS estão obrigados a cumprir as Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde no Trabalho “nos termos da lei”. Não se esqueça disso, ok? https://www.dicionarioinformal.com.br/spoiler/ QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 9 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 1.2.1.1 As NR são de observância obrigatória pelas organizações e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo, Judiciário e Ministério Público, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. ➔ Este item é praticamente a cópia do 1º item da antiga NR-1. A nova redação da NR-1 continua deixando bastante claro: “que possuam empregados regidos pela CLT”. Segundo a redação do item 1.2.1.1, APENAS os trabalhadores com a Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS assinada são alcançados pelos dispositivos normativos existentes nas NR’s. Sendo assim, profissionais autônomos, sócios de empresas, funcionários públicos estatutários e prestadores de serviço eventuais, apenas para darmos alguns exemplos, não obrigatoriamente precisariam estar submetidos às proteções existentes nas Normas Regulamentadoras. Contudo, vem ganhando força uma linha de raciocínio que diz que, embora o item 1.2.2.1 da nova NR-1 restrinja a obrigatoriedade da implementação das NR’s apenas aos trabalhadores celetistas (aqueles que têm vínculo empregatício regido pela CLT), elas devem ser aplicadas indistintamente a todos os trabalhadores por força de alguns artigos da Constituição Federal de 1988, entre eles: Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (...) Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condiçãosocial: XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso. Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 10 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 Como se não bastassem os artigos presentes na CF/88, temos também o Código Civil, que deixa claro: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido. Resumidamente falando, enquanto a Constituição esclarece que segurança e saúde são direitos de todos e que todos são iguais perante a lei sem qualquer tipo de distinção, o Código Civil alerta que aquele que causar dano tem o dever de repará-lo – e se esse dano for causado à saúde ou à integridade física, o ofendido tem o direito de ter todo o seu tratamento custeado pelo ofensor até a sua completa recuperação. E aí? As NR’s estão verdadeiramente restritas apenas aos celetistas? Ao leitor fica reservado o direito por qual das duas correntes ideológicas optar. Mas lembre-se: “nos termos da lei”. Qual lei? A Constituição? O Código Civil? A CLT? As NR’s? Pois é. Quanto mais a gente mexe, pior fica! É briga de cachorro grande. hehehe Mas você pode estar se perguntando: “- Sabino, você disse que a redação desse item é praticamente a mesma da antiga NR-1. O que mudou?” Vamos lá! A antiga NR-1 trazia a seguinte redação em seu item 1.1: 1.1. As Normas Regulamentadoras - NR, relativas à segurança e medicina do trabalho, são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art186 QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 11 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 Só pra chamar a sua atenção, eu vou reescrever o item 1.2.1.1 da nova NR-1 destacando alguns trechos: 1.2.1.1. As NR [tiraram a parte que dizia ‘relativas à segurança e medicina do trabalho’] são de observância obrigatória pelas organizações [substituíram ‘empresas privadas e públicas’ por ‘organizações’] e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo, Judiciário e Ministério Público [citar o MP foi novidade!], que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Alguns comentários são importantes aqui. A substituição de “empresas privadas e públicas” por “organizações” dá mais amplitude ao conceito. Uma empresa, para existir, precisar ter contrato social, registro na Junta Comercial, CNPJ e etc. Uma organização, por sua vez, é formada simplesmente pela soma de pessoas, recursos financeiros, instalações, equipamentos e outros. Um exemplo simples: uma organização religiosa precisa cumprir as NR’s? Pelo texto da antiga NR-1, que se referia a empresas privadas e públicas, poderiam surgir vários tipos de questionamentos... Mas pelo novo texto, que se refere a “organizações” ao invés de “empresas”, fica claro que ela também está obrigada a implementar as exigências das Normas Regulamentadoras (desde que possua empregados regidos pela CLT, evidentemente). Entendido? O Código Civil traz a diferenciação entre as pessoas jurídicas de direito privado em seu art. 44, entre elas as empresas privadas e as organizações religiosas. Se você quiser se aprofundar no tema, eu encontrei uma postagem interessante na internet que traça comentários sobre ele. É só clicar AQUI. Outro ponto que merece destaque é a inclusão do Ministério Público. Uma vez que o MP é um órgão independente e possui autonomia funcional, ele não integra nem o Poder Executivo, nem o Legislativo e nem o Judiciário. Dessa forma, ponto positivo para a Nova NR-1 ao estabelecer que também o MP deve implementar as NR’s caso possua celetistas em seus estabelecimentos. “- Sabino, e porque o item 1.2.1.1 não cita o Poder Executivo?” E quem disse que não? “Órgãos públicos da administração direta e indireta”. Leia-se “Poder Executivo”, aquele responsável por administrar os interesses públicos e fiscalizar o http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm https://www.direitocom.com/codigo-civil-comentado/artigo-44-16 QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 12 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 cumprimento das leis. As atribuições, prerrogativas e deveres do executivo brasileiro são apresentadas no Título IV, Capítulo II da Constituição Federal de 1988. Agora, voltando às nossas reflexões sobre a Nova NR-1... 1.2.1.2 Nos termos previstos em lei, aplica-se o disposto nas NR a outras relações jurídicas. ➔ “nos termos previstos lei”, “nos termos da lei”, “na forma da lei” ... Tudo a mesma coisa! Como o item 1.2.1.1 estabelece que as NR’s têm o seu cumprimento obrigatório apenas quando os empregados estiverem sob o regime celetista, o item 1.2.1.2 vem dizer que elas também são obrigatórias em outras relações jurídicas dependendo do dispositivo legal ou normativo em questão. Por exemplo, uma prefeitura onde todos os funcionários sejam estatutários que assina um Termo de Ajustamento de Conduta junto ao Ministério Público se obrigando a aplicar as NR’s a todos os seus funcionários, indistintamente. Nesse caso, mesmo não sendo celetistas, esses trabalhadores também seriam alcançados pelas Normas Regulamentadoras. Beleza? Outro detalhe: “lei”, aqui, é entendida em seu sentido amplo. Quaisquer Leis, Normas, Portarias, Decretos, Convenções e Resoluções entram nesse conceito – respeitando, evidentemente, a hierarquia entre elas. Constituição > Lei > Portaria, etc... 1.2.2 A observância das NR não desobriga as organizações do cumprimento de outras disposições que, com relação à matéria, sejam incluídas em códigos de obras ou regulamentos sanitários dos Estados ou Municípios, bem como daquelas oriundas de convenções e acordos coletivos de trabalho. ➔ Suponhamos que a NR-18, que trata da Segurança e Saúde do Trabalho na Indústria da Construção Civil, seja omissa com relação a um item que esteja presente no Código de Obras de determinado município. O empreiteiro, sob o argumento de que cumpre a NR-18, não pode deixar de cumprir, também, aquela exigência do Código de Obras (desde que esteja construindo dentro dos limites daquele município, evidentemente). Esse mesmo raciocínio é aplicado a obrigações contidas em cláusulas de Convenções ou Acordos Coletivos de Trabalho – CCTs ou ACTs que estejam ausentes nas NR’s. As CCTs http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htmTalles Caio Realce QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 13 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 são um conjunto de regras firmado entre os sindicatos representativos dos trabalhadores e das empresas e, por isso, fazem lei entre as partes. Logo, são igualmente obrigatórios! Há uma expressão muita usada no meio jurídico para representar essa ideia: “pacta sunt survanda”, que significa algo em torno de “o contrato faz lei entre as partes”. É aquele velho ditado que nos diz que “o combinado não sai caro”. É bem por aí ... Lembre-se que o conteúdo presente nas NR’s é o conteúdo mínimo necessário para a manutenção da segurança e saúde dos trabalhadores. Dessa forma, não há problema algum que outros dispositivos de cumprimento obrigatório acrescentem elementos protetivos em seus textos. Concorda? 1.3 Competências e estrutura 1.3.1 A Secretaria de Trabalho - STRAB, por meio da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho - SIT, é o órgão de âmbito nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho para: ➔ Primeiramente, é importante salientar que em muitos lugares nós ainda encontraremos referências à SIT com o nome de “Secretaria de Inspeção do Trabalho”, sendo que a nomenclatura correta (pelo menos à época em que este material foi redigido) é “Subsecretaria” mesmo, tal qual está expresso no texto do item 1.3.1. Com a extinção do antigo Ministério do Trabalho – MTb através da Medida Provisória nº 870, de 1º de janeiro de 2019 (MP que acabou se transformando na lei 13.844 de 18 de junho de 2019), houve a necessidade de uma reorganização interna de departamentos, secretarias e etc. Sendo assim, a antiga “Secretaria de Inspeção do Trabalho” acabou se transformando na “Subsecretaria de Inspeção do Trabalho”. Para você ter uma ideia do organograma, vou mostrar como era e como ficou. Antes da incorporação do MTb ao Ministério da Economia: ➔ Ministério do Trabalho Secretaria de Inspeção do Trabalho https://sit.trabalho.gov.br/portal/index.php/secretaria-de-inspecao-do-trabalho http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Mpv/mpv870.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Mpv/mpv870.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Lei/L13844.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Lei/L13844.htm QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 14 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 Depois da incorporação do MTb ao Ministério da Economia: ➔ Ministério da Economia Secretaria Especial de Previdência e Trabalho Secretaria de Trabalho Subsecretaria de Inspeção do Trabalho Se você quiser um detalhamento do antigo organograma do MTb, basta clicar AQUI. Com relação à estrutura regimental do Ministério da Economia, ela é dada pelo Decreto nº. 9.745, de 8 de abril de 2019. Em seus artigos 78 e 79 ele traz, respectivamente, as competências da Secretaria do Trabalho – STRAB e da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho – SIT. Você vai perceber que enquanto a STRAB possui competências de natureza mais amplas, como coordenação, gerenciamento, formulação de diretrizes e supervisão, as atividades da SIT são mais voltadas à Fiscalização do Trabalho em si, como normas de atuação e cooperação entre as fiscalizações federais. Voltando ao item 1.3.1, ele vem para responder algumas perguntas, tais como: Qual o papel da SIT e da Fiscalização do Trabalho? O que a SIT pode e não pode fazer? Pois bem, vamos às respostas: a) formular e propor as diretrizes, as normas de atuação e supervisionar as atividades da área de segurança e saúde do trabalhador; ➔ Cabe à STRAB traçar as linhas centrais da atividade da Fiscalização do Trabalho na área de SST. A Auditoria-Fiscal do Trabalho vai priorizar as empresas que mais afastaram trabalhadores por motivos de acidentes e adoecimentos ou aquelas onde ocorreram mais acidentes fatais? Os Auditores-Fiscais do Trabalho – AFTs irão fiscalizar essas empresas específicas ou irão atuar em todas as empresas que desempenham a mesma atividade econômica dessas empresas? Ao chegarem no local, os AFTs priorizarão as irregularidades que motivaram os acidentes e o adoecimento ou verificarão a correta implementação de todos os dispositivos normativos da área de SST. Essas e outras linhas de atuação são definidas pela STRAB. http://www.consultaesic.cgu.gov.br/busca/dados/Lists/Pedido/Attachments/527023/RESPOSTA_PEDIDO_Organogramas%20Ministrio%20do%20Trabalho%20e%20Emprego.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9745.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9745.htm http://trabalho.gov.br/ https://sit.trabalho.gov.br/portal/index.php/secretaria-de-inspecao-do-trabalho QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 15 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 b) promover a Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho - CANPAT; ➔ A CANPAT é um conjunto de ações que visam à promoção de uma cultura de segurança e saúde no trabalho, de cunho essencialmente prevencionista. O objetivo principal é implementar uma cultura de prevenção de acidentes e acidentes do trabalho em nosso País, despertando a consciência da população para os danos que tais eventos causam em nossa sociedade. Uma vez que a STRAB é o órgão de âmbito nacional competente para coordenar, orientar, controlar e supervisionar as atividades relacionadas com a segurança e saúde do trabalho, ela também fica imbuída de promover a Campanha. “Sabino, mas aqui na minha cidade quem promoveu a CANPAT foram os próprios AFTs!” Lembre-se que a SIT, fazendo uma analogia, é a ferramenta através da qual a STRAB cumpre as suas atividades relacionadas à Inspeção do Trabalho. Dessa forma, por mais que você tenha visto os Auditores-Fiscais do Trabalho divulgando a campanha, a promoção em âmbito nacional é papel da Secretaria de Trabalho. c) coordenar e fiscalizar o Programa de Alimentação do Trabalhador – PAT; ➔ O Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT é um programa governamental de adesão voluntária, que busca estimular o empregador a fornecer alimentação nutricionalmente adequada aos trabalhadores, por meio da concessão de incentivos fiscais, tendo como prioridade o atendimento aos trabalhadores de baixa renda. Cabe à STRAB coordenar e fiscalizar o programa. Uma dica: falou em “fiscalizar”, falou na Auditoria-Fiscal do Trabalho. Portanto, não estranhe se você souber que um AFT chegou num estabelecimento para fiscalizar a correta implantação das Normas relativas ao PAT, tudo bem? Ele está cumprindo o papel dele. No site do PAT há uma cartilha com perguntas e respostas que é bem legal. Se tiver interesse, basta clicar AQUI para fazer o download. http://trabalho.gov.br/pat http://trabalho.gov.br/pat/pat-responde-orientacoes/item/download/9803_9806f1864db39ce9a890dbd43187bef9 QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 16 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 d) promover a fiscalização do cumprimento dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho - SST em todo o território nacional; ➔ Uma vez que é papel da STRAB traçar as linhas centrais de atuação da Fiscalização na área de SST, é ela quem vai pôr em execução essas diretrizes, através da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho, a SIT. e) Participar da implementação da Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho - PNSST; ➔ A Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho - PNSST tem como objetivos a promoçãoda saúde e a melhoria da qualidade de vida do trabalhador e a prevenção de acidentes e de danos à saúde relacionados ao trabalho. Os responsáveis pela implementação e execução da PNSST eram os Ministérios do Trabalho, da Saúde e da Previdência Social. Com a reformulação ministerial ocorrida através da Lei nº 13.844 / 2019, essa responsabilidade ficou compartilhada entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Economia (nesse caso, através da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho). f) conhecer, em última instância, dos recursos voluntários ou de ofício, das decisões proferidas pelo órgão regional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho. ➔ Sempre quando lermos nas NR’s algo como “órgão regional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho” temos que pensar nas Superintendências Regionais do Trabalho – SRTs, as antigas DRTs (Delegacias Regionais do Trabalho). São elas as unidades estaduais da Fiscalização do Trabalho e, portanto, os órgãos competentes em matéria de SST. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/D7602.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Lei/L13844.htm QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 17 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 1.3.2 Compete à SIT e aos órgãos regionais subordinados à SIT em matéria de segurança e saúde no trabalho, nos limites de sua competência, executar: ➔ Órgãos regionais subordinados à SIT = Superintendências Regionais do Trabalho. Em algumas cidades existem as Gerências e as Agências Regionais do Trabalho, que são vinculados à Superintendência de seu estado. Toda a rede da Fiscalização do Trabalho em seu estado você encontra AQUI (mas não se assuste com uma ou outra nomenclatura que por ventura esteja desatualizada. Acontece nas melhores famílias! 😊 ) a) a fiscalização dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho; ➔ Conforme mencionado anteriormente, a SIT é a ferramenta através da qual a STRAB cumpre com suas competências quando o assunto se relaciona à Fiscalização do Trabalho. Consequentemente, é papel da SIT, através da Auditoria-Fiscal do Trabalho, a fiscalização das Normas Regulamentadoras e demais dispositivos legais e normativos relacionados à área de SST. Uma pergunta que sempre é feita: a fiscalização do cumprimento dos dispositivos normativos relacionados à área de SST só pode ser executada pela Fiscalização do Trabalho? Ou os Centros de Referências Especializados em Saúde dos Trabalhadores – CERESTs, que são vinculados ao SUS, também podem fazer essa inspeção? Vamos ver o que nos diz a Constituição de 88: TÍTULO III DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO CAPÍTULO II DA UNIÃO Art. 21. Compete à União: XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho; Pela redação da CF/88 somos levados a entender que sim, que essa fiscalização é privativa da União. http://trabalho.gov.br/rede-de-atendimento/rede-de-atendimento-do-trabalho http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/116cerest.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/116cerest.html http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 18 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 Por isso que, particularmente, eu considero inconstitucional qualquer fiscalização de SST promovida por órgão estadual ou municipal não vinculado à Subsecretaria de Inspeção do Trabalho, uma vez que as competências elencadas pelo artigo 21 da CF são de natureza exclusivas da União (ou seja, não podem ser delegadas) – dando total liberdade para discordarem de mim, até porque a função de declarar a inconstitucionalidade de um ato não é minha, mas do Supremo Tribunal Federal – STF. Quem defende a possibilidade de um órgão estadual ou municipal, principalmente os vinculados ao SUS, realizar atos de inspeção do trabalho relacionados à área de SST se baseia na redação do art. 200 da Constituição e no artigo 6º da Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990: CF/88, art. 200 - Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Lei 8.080, art. 6º - Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS): I - a execução de ações: c) de saúde do trabalhador V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho; § 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo: VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas; Perceba uma coisa: colaborar com a proteção do ambiente de trabalho e participar de uma fiscalização é uma coisa; inspecionar sozinho, dando prazos, exigindo a apresentação de documentos, autuando quando necessário e embargando obra ou interditando máquinas e equipamentos no caso de grave e iminente risco à segurança e à integridade física do trabalhador é outra completamente diferente! E veja só que interessante: o Tribunal Superior do Trabalho – TST concorda comigo! http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 19 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 Eis a ementa do processo TST-RR-10420-06.2015.5.15.0096: A) RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ. AÇÃO ANULATÓRIA DE AUTO DE INFRAÇÃO. COMPETÊNCIA DO CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR (CEREST) PARA AUTUAÇÃO E APLICAÇÃO DE PENALIDADE. A Constituição Federal, em seu art. 21, XXIV, disciplina que compete à União “organizar, manter e executar a inspeção do trabalho”, e o art. 14, XIX, “c”, da Lei n° 9.649/1998 determina que compete ao Ministério do Trabalho e Emprego a fiscalização do trabalho, bem como a aplicação das sanções previstas em normas legais ou coletivas. Nesse sentido, os arts. 626 a 634 da CLT disciplinam o procedimento de fiscalização do trabalho, bem como a autuação e imposição de multas. Dessa forma, nos moldes dos preceitos acima mencionados, a fiscalização e a eventual autuação da empresa, e, por conseguinte, a aplicação de multa em razão do descumprimento de normas de segurança e medicina do trabalho, são de competência exclusiva dos auditores fiscais do trabalho. Não obstante seja garantia constitucional inserta no art. 7º, XXII, da CF, a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança, além de a Constituição Federal assegurar um meio ambiente de trabalho saudável, é certo que as disposições constitucionais e legais mencionadas pelo Município de Jundiaí não conferem competência ao Centro de Referência em Saúde do Trabalhador – CEREST, órgão municipal vinculado à Secretaria de Saúde, para fiscalizar as empresas, lavrar auto de infração, assim como aplicar a multa cabível quando constatado que não foram observadas as normas relativas à segurança, saúde e medicina do trabalho. Nesse contexto, revela-se acertada a decisão do Regional que declarou a nulidade do auto de infração, tendo em vista a incompetência do seu emissor, e, por conseguinte, concluiu que a multa dele derivada perdeu o seu valor impositivo. b) as atividades relacionadascom a CANPAT e o PAT. ➔ A execução das atividades da CAPAT e do PAT a nível regional é de competência da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho que pode, evidentemente, convidar outros órgãos para participarem das ações que estiverem programadas. 1.3.3 Cabe à autoridade regional competente em matéria de trabalho impor as penalidades cabíveis por descumprimento dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho. https://sinait.org.br/docs/rr-10420-06_2015_5_15_0096_incompetencia_do_cerest.pdf QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 20 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 ➔ Cabe às unidades regionais da Fiscalização do Trabalho, através da Auditoria-Fiscal do Trabalho, a imposição das penalidades quando do descumprimento dos dispositivos normativos presentes nas NR’s. Por ‘imposição de penalidades” entenda-se a lavratura de Autos de Infração. Embora a NR 1 se refira à lavratura do Auto de Infração como sendo uma “penalidade” no sentido de medida punitiva, sempre recomendo que o Auto de Infração seja visualizado como uma ferramenta pedagógica, uma oportunidade de a empresa corrigir o que vem fazendo de errado e dar um salto adiante em segurança, saúde e qualidade do meio ambiente de trabalho. Muitas pessoas chegam a pensar que embargos e interdições são penalidades impostas às empresas. Não são! Os embargos e as interdições são medidas de urgência, não medidas punitivas. Essas ferramentas são medidas de cautela adotadas pela Auditoria-Fiscal do Trabalho quando da constatação de grave e iminente risco à saúde, à segurança e à integridade física dos trabalhadores (tema trazido pela NR 3 – Embargo ou Interdição). É muito importante que todos esses conceitos sejam entendidos de forma clara, combinado? 1.4 Direitos e deveres 1.4.1 Cabe ao empregador: ➔ O item 1.4.1 da Nova NR-1 tem praticamente a mesma redação do item 1.7 da antiga NR-1. Alguns termos foram atualizados mas, em essência, as obrigações do empregador permanecem as mesmas da antiga redação da Norma. Esse item foi claramente inspirado pelo art. 157 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT: Art. 157 - Cabe às empresas: I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-03_atualizada_2011.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm Talles Caio Realce QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 21 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente; IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente. Vamos lá: a) cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho; ➔ Repare que enquanto o texto da CLT diz “cumprir e fazer cumprir as normas”, o da NR diz “cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares”, o que dá um alcance muito maior, uma vez que aborda não apenas as Normas Regulamentadoras, mas todo e qualquer dispositivo legal acerca da área de Segurança e Saúde no Trabalho (como, por exemplo, as Resoluções da Diretoria Colegiada – RDC’s da ANVISA). Outro detalhe: “cumprir e fazer cumprir”. Não basta cumprir, é preciso que as empresas exijam o cumprimento. E aqui temos defendido a tese de que “exigir o cumprimento” e “ser chato” são coisas bastante distintas. Frases do tipo “Fulano... quantas vezes eu já te pedi isso!” enquadra-se no que chamamos “ser chato”. “Fulano, essa não é a primeira vez que vemos você cometendo essa irregularidade, já conversamos diversas vezes sobre isso e nós não podemos estimular esse tipo de comportamento”: isso se enquadra no “exigir o cumprimento” quando seguido de uma medida administrativa. Não há qualquer dispositivo legal que estabeleça uma escalada hierárquica de medidas, mas a Justiça do Trabalho tem entendido que advertir antes de suspender e suspender antes de demitir é uma boa prática quando o empregado é reincidente na prática de atos faltosos. DE PLÁCIDO E SILVA1 ensina que a advertência corresponde à formalização do aviso, da repreensão, enquanto a suspensão “é a medida de ordem disciplinar imposta ao empregado como sanção à infração regulamentar ou pelo não cumprimento de dever que lhe é imposto. A suspensão importa em perda do salário e de quaisquer outros benefícios durante o período da suspensão”. Vários modelos de advertência escrita e de aviso de suspensão podem ser encontrados através dos mecanismos de busca pela internet. A decisão sobre qual prática adotar cabe a você. E aí? 3 advertências para 1 suspensão e 3 suspensões para a demissão? Seria interessante consultar a assessoria jurídica da empresa, tudo bem? 1 SILVA, Oscar Joseph de Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15. ed. Curitiba: Forense, 1999. 873 p. QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 22 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 b) informar aos trabalhadores: ➔ A NR-1 determina uma série de informações que o empregador deve disponibilizar aos trabalhadores: I. os riscos ocupacionais existentes nos locais de trabalho; II. as medidas de controle adotadas pela empresa para reduzir ou eliminar tais riscos; ➔ O trabalho será realizado em altura? Existe o risco de queda? O trabalho será realizado em câmaras refrigeradas? Ou com exposição a altas temperaturas? Há umidade excessiva? Há chances de insolação? Existe a possibilidade de exposição a agentes biológicos, como fungos, vírus ou bactérias que causem mal à saúde? Quais as medidas oferecidas pela empresa para que todos esses riscos sejam reduzidos ou eliminados? Tudo isso deve ser informado de maneira inequívoca aos trabalhadores, ou seja, eles precisam entender o que estão lendo! Tudo bem? III. os resultados dos exames médicos e de exames complementares de diagnóstico aos quais os próprios trabalhadores forem submetidos; ➔ É dever do empregador informar a cada um de seus trabalhadores o resultado dos exames médicos aos quais forem submetidos, seja por ocasião do exame médico admissional, periódico, retorno ao trabalho, mudança de função ou por ocasião da demissão. IV. os resultados das avaliações ambientais realizadas nos locais de trabalho. QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 23 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 ➔ Tal qual acontece com o resultado da avaliação da saúde dos empregados, o mesmo ocorre com a avaliação da saúde do local de trabalho. Sendo assim, uma vez que é dever do empregador informar aos trabalhadores o resultado dos exames médicos aos quais eles foram submetidos, o empregador também deve informar o resultado das avaliações ambientais, sejam elas feitas de forma quantitativa ou qualitativa. Em outras palavras, os trabalhadores têm o direito de conhecer aquilo a que estão expostos no ambiente de trabalho. c) elaborar ordens de serviço sobre segurança e saúde no trabalho, dando ciência aos trabalhadores; ➔ Elaborar Ordens de Serviço (as famosas OS’s) é uma das tantas obrigações do empregador com relação ao cumprimento da NR-1. Lembre-se que a OS se destina ao empregado! Portanto, precisa estar numa linguagem que ele entenda. Falar de “vinhodo” para trabalhadores de uma plantação de cana de açúcar pode não significar absolutamente nada. Masfalar da “calda”... Aí é outro papo! Outra observação importante: muitíssimo importante deixar claro que o intuito da OS não é ensinar o trabalhador a fazer aquilo que ele já faz a vida toda, mas que seu objetivo é mostrar como fazer com segurança, naquele estabelecimento específico, aquilo que ele já faz tão bem a vida toda. Entendeu a diferença? Quer um roteiro de como elaborar uma OS? Vá ao item 1.4.4 d) permitir que representantes dos trabalhadores acompanhem a fiscalização dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho; ➔ É dever do empregador permitir, por exemplo, que um representante sindical acompanhe um Auditor-Fiscal do Trabalho numa inspeção cujo objetivo seja a correta implementação dos dispositivos normativos presentes nas NR’s. QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 24 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 e) determinar procedimentos que devem ser adotados em caso de acidente ou doença relacionada ao trabalho, incluindo a análise de suas causas; ➔ Ligar para o 190? Para o 192? Qual a diferença entre eles? Ligar para o dono da empresa? Qual o número? Passar um rádio para o encarregado do setor? Qual o ramal? Adotar alguma medida imediata? Qual? Os trabalhadores foram treinados para tal? Eles têm liberdade para implementá-la? Levar para algum hospital? Qual? E o endereço? Levar de táxi? De carro? No carro de quem? Sair correndo pelos corredores gritando socorro? Todo esse passo-a-passo deve estar muito bem descrito, assim como a análise das causas que fizeram com que o acidente acontecesse, para que ele não volte a acontecer. f) disponibilizar à Inspeção do Trabalho todas as informações relativas à segurança e saúde no trabalho. ➔ O art. 630 da CLT diz praticamente a mesma coisa, embora ele seja bem mais abrangente: Art. 630. Nenhum Auditor Fiscal do Trabalho poderá exercer as atribuições do seu cargo sem exibir a carteira de identidade fiscal, fornecida pela autoridade competente. § 3º Os Auditores Fiscais do Trabalho terão livre acesso a todas dependências dos estabelecimentos sujeitos à legislação trabalhista, hipótese em que as empresas, por meio de seus dirigentes ou prepostos, ficarão obrigadas a prestar-lhes os esclarecimentos necessários ao desempenho de suas atribuições legais e a exibirem, quando exigidos, quaisquer documentos que digam respeito ao fiel cumprimento das normas de proteção ao trabalho. A Nova NR-1 achou por bem especificar essa obrigação nas questões relativas à área de SST. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 25 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 g) implementar medidas de prevenção, ouvidos os trabalhadores, de acordo com a seguinte ordem de prioridade: I. eliminação dos fatores de risco; II. minimização e controle dos fatores de risco, com a adoção de medidas de proteção coletiva; III. minimização e controle dos fatores de risco, com a adoção de medidas administrativas ou de organização do trabalho; e IV. adoção de medidas de proteção individual. ➔ O item 1.4.1 ‘g’ da Nova NR-1 enfatiza que é obrigação do empregador implementar as medidas de prevenção que sejam necessárias no estabelecimento e traz uma hierarquia entre elas: eliminar os fatores de risco, minimizar e controlar os fatores de risco com medidas de proteção coletivas, minimizar e controlar os fatores de risco através de medidas administrativas ou organizacionais e, por fim, adotar medidas de proteção individuais. Vamos a cada uma delas: 1. Eliminar os fatores de risco. Por exemplo, a substituição de uma máquina ruidosa por uma silenciosa ou a substituição de um produto químico cancerígeno por outro que não cause danos à saúde. Com a adoção dessas medidas, os fatores de risco (máquina ruidosa e produto químico cancerígeno) seriam eliminados. 2. Minimizar e controlar os fatores de risco através de medidas de proteção coletivas. Continuando com o mesmo exemplo, vamos imaginar que seja impossível a substituição da máquina ruidosa e dos produtos químicos utilizados no processo produtivo. Sendo assim, a direção da empresa deverá optar por minimizar o efeito da presença desses riscos no ambiente de trabalho. Ela poderá enclausurar a máquina, reduzindo assim a exposição dos trabalhadores ao ruído elevado, e poderá reduzir a concentração de seus compostos químicos, reduzindo o risco à saúde. 3. Minimizar e controlar os fatores de risco através de medidas administrativas ou organizacionais. Caso a impossibilidade persista, medidas gerenciais deverão ser adotadas, como a automatização de parte do processo ou o rodízio de trabalhadores, no intuito de reduzir o tempo de exposição de tal forma que os indicadores utilizados QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 26 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 comprovem que o risco tenha sido minimizado até os níveis aceitáveis por nossa legislação. 4. Medidas de proteção individual. A adoção dos equipamentos de proteção individual é o último item da lista. Portanto, cuidado quando, na elaboração de Um Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, a sua sugestão no quadro de metas e prioridades for a utilização dos EPIs. Essa “prioridade” vai contra a redação da Nova NR- 1, além de colocar funcionários e empregadores numa situação de vulnerabilidade. 1.4.2 Cabe ao trabalhador: ➔ Enquanto o item 1.4.1 da Nova NR-1 traz as obrigações do empregador com relação às NR’s, coube ao item 1.4.2 as obrigações do trabalhador (e repare que a redação usa trabalhador e não empregado como a redação do item 1.8 da antiga NR-1. Veremos no Anexo I da Norma que enquanto trabalhador é toda pessoa física inserida em uma relação de trabalho sem vínculo de emprego, empregado é a pessoa física que presta serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. Portanto, podemos chegar à conclusão de que todo empregado é trabalhador, mas nem todo trabalhador é empregado. Logo, não importa se presta serviço eventual ou permanente, se recebe por tarefa ou salário mensal, se é ou não dependente do empregador: se está trabalhando, precisará cumprir com o item 1.4.2). E do mesmo modo em que o art. 157 da CLT traz as obrigações das empresas, o art. 158 traz as obrigações dos trabalhadores (alertando para a distinção entre empregados e trabalhadores, sobre a qual acabamos de comentar): Art. 158 - Cabe aos empregados: I - observar as normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive as instruções de que trata o item II do artigo anterior; [“instruir os empregados, através de ordens de serviço (...)”] (destaque nosso) Il - colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste Capítulo. Parágrafo único - Constitui ato faltoso do empregado a recusa injustificada: a) à observância das instruções expedidas pelo empregador na forma do item II do artigo anterior; Talles Caio Realce QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 27 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 b) ao uso dos equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa. Vamos aos deveres sob a responsabilidade dos trabalhadores: a) cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho, inclusive as ordens de serviço expedidas pelo empregador; ➔ Percebemos claramente que o objetivo da Nova NR-1 nessa alínea é “destrinchar” o inciso I do art. 158 da CLT quando ele falasobre o cumprimento das Ordens de Serviço. Sugestão: no contrato de trabalho, seja ele permanente ou temporário, na parte dedicada aos deveres do contratado, colocar algo parecido como “cumprir as Ordens de Serviço emitidas pela empresa”. b) submeter-se aos exames médicos previstos nas NR; ➔ Um empregado não tem a alternativa de recusar-se a submeter-se a avaliações médicas sem justificativa. Caso você tenha interesse em se aprofundar no tema, sugiro minhas videoaulas no YouTube sobre a NR-7, que trata do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO (lembrando que esse material faz referência à redação da NR-7 de quando o presente e-book foi elaborado). Os vídeos você encontra clicando AQUI. c) colaborar com a organização na aplicação das NR; ➔ É dever de todo trabalhador fazer parte do processo de implementação das NR’s em seu ambiente de trabalho. Apontar irregularidades, alertar colegas e lideranças e propor melhorias são condutas que integram esse processo de adequação. Destacamos, ainda, que o “desleixo” é um dos fatores que permitem com que a empresa demita o empregado por justa causa. O art. 482, ‘c’ da CLT fala em desídia: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-07.pdf https://www.youtube.com/user/sabinosst/search?query=pcmso QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 28 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 Art. 482 – Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador: c) desídia no desempenho das respectivas funções. d) usar o equipamento de proteção individual fornecido pelo empregador. ➔ Usar o Equipamento de Proteção Individual – EPI é uma obrigação de todos os trabalhadores. Atente-se para o fato de que a CLT possibilita a demissão por justa causa quando o empregado se recusa a utilizar o EPI sem justificativa – é o que o referido dispositivo legal nomeia de mau procedimento ou incontinência de conduta na alínea ‘b’ do art. 482, o que pode ser entendido como um comportamento indesejado: Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador: b) incontinência de conduta ou mau procedimento; Sugestão: no contrato de trabalho, seja ele permanente ou temporário, na parte dedicada aos deveres do contratado, colocar algo do tipo “utilizar os Equipamentos de Proteção Individuais – EPIs fornecidos pela empresa” ou, melhor ainda, “Cumprir com as Ordens de Serviço fornecidas pela empresa” e, nas OS’s, incluir a obrigatoriedade da utilização do EPI. 1.4.2.1 Constitui ato faltoso a recusa injustificada do empregado ao cumprimento do disposto nas alíneas do subitem anterior. ➔ Caso o empregado se recuse, sem justificativa válida, a cumprir as alíneas do item 1.4.2 (ou seja, caso ele se negue a cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho, inclusive as ordens de serviço; a submeter-se aos exames médicos; a colaborar com a organização na aplicação das NR; e a usar o equipamento de proteção individual fornecido pelo empregador), fica caracterizado ato faltoso por parte do funcionário, dando ao empregador a possibilidade de tomar as medidas administrativas que entender suficientes e necessárias. Lembre-se que é no art. 482 da CLT que estão elencadas as condutas que permitem a demissão por justa causa, das quais destacamos: QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 29 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 b) incontinência de conduta ou mau procedimento; e) desídia no desempenho das respectivas funções; h) ato de indisciplina ou de insubordinação; 1.4.3 O trabalhador poderá interromper suas atividades quando constatar uma situação de trabalho onde, a seu ver, envolva um risco grave e iminente para a sua vida e saúde, informando imediatamente ao seu superior hierárquico. ➔ O item 1.4.3 da Nova NR-1 regulamenta o Direito de Recusa, que é a possibilidade de o trabalhador se recusar (daí o nome) a exercer uma atividade na qual ele entenda existir grave e iminente risco à sua integridade física ou à sua saúde. Um detalhe importante: o risco deve ser GRAVE e IMINENTE, ou seja, a situação verificada pelo trabalhador deve apresentar elevada possibilidade de ocasionar danos graves à sua saúde ou à sua integridade física e o acidente deve estar na iminência de acontecer. As duas situações devem estar presentes simultaneamente. E mais: o trabalhador não pode simplesmente cruzar os braços e dizer “ali eu não vou” ou “isso eu não faço”. O item 1.4.3 exige que ele avise imediatamente ao seu superior hierárquico informando, evidentemente, os motivos que o fizeram se recusar a realizar a atividade. 1.4.3.1 Comprovada pelo empregador a situação de grave e iminente risco, não poderá ser exigida a volta dos trabalhadores à atividade enquanto não sejam tomadas as medidas corretivas. ➔ O trabalhador só será obrigado a retomar a atividade a qual ele se viu obrigado a interromper caso as medidas corretivas tenham sido adotadas de forma que os riscos evidenciados tenham sido eliminados, neutralizados ou reduzidos a ponto de acabarem a gravidade e a iminência do acidente. 1.4.4 Todo trabalhador, ao ser admitido ou quando mudar de função que implique em alteração de risco, deve receber informações sobre: QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 30 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 ➔ “que implique em alteração de risco” Não é toda e qualquer mudança de função que torna obrigatória a implementação do item 1.4.4, mas somente aquelas em que os riscos aos quais o trabalhador estiver sujeito forem diferentes. Por exemplo: Adriano era auxiliar administrativo e foi promovido a contador júnior. Os riscos, nesse exemplo, são os mesmos. Dessa forma, não é necessária a implementação das obrigações contidas no item 1.4.4. Entretanto, se Adriano era vigia e foi classificado como betoneiro, como os riscos aos quais as duas funções estão expostas são diferentes, o item 1.4.4 precisará, necessariamente, ser implementado pela empresa. Atenção: a regra da alteração de risco é válida somente para a mudança de função, tudo bem? O item 1.4.4 sempre será obrigatório quando da admissão do trabalhador. a) os riscos ocupacionais que existam ou possam originar-se nos locais de trabalho; b) os meios para prevenir e controlar tais riscos; c) as medidas adotadas pela organização; d) os procedimentos a serem adotados em situação de emergência; e e) os procedimentos a serem adotados em conformidade com os subitens 1.4.3 e 1.4.3.1. ➔ Muitos alunos e profissionais da área de SST, Recursos Humanos, Departamento Pessoal, advogados da área trabalhista e afins entram em contato comigo perguntando sobre um modelo para a Ordem de Serviço. O item 1.4.4 não traz esse modelo, mas apresenta um ótimo roteiro! Perceba que as alíneas do item 1.4.4 envolvem desde os riscos que possam surgir no ambiente de trabalho passando pelos meios de prevenção e controle, as medidas adotadas pela empresa, os procedimentos a serem adotados em casos de emergência e finalmente chegam à forma de se exercer o direito de recusa. É ou não é um excelente roteiro para a construção de uma OS? QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 31 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 1.4.4.1 As informações podem ser transmitidas: a) durante os treinamentos; b) por meio de diálogos de segurança, documento físico ou eletrônico.➔ O item 1.4.4.1 traz as formas através das quais as exigências do item 1.4.4 devem ser transmitidas aos trabalhadores. Note que ela dá quatro alternativas: através de treinamentos específicos, de diálogos de segurança, de documentos físicos ou eletrônicos. Embora a Nova NR-1 estabeleça a possibilidade de se implementar o item 1.4.4 através de diálogos de segurança (é muito comum a existência de DDS’s e de DSS’s nas empresas, que são os diálogos diários ou semanais de segurança, respectivamente), sempre recomendo que todas as práticas organizacionais envolvendo a área de SST sejam documentadas, tanto para um controle da própria empresa quanto para uma eventual comprovação futura, caso seja necessária. 1.5 Da prestação de informação digital e digitalização de documentos ➔ A Nova NR-1 trouxe a possibilidade da disponibilização de informações por meio digital. Agora, tanto a digitalização de documentos (como arquivos escaneados em formato .pdf) quanto a manutenção de informações por meio de arquivos digitais (como fotos ou vídeos) podem ser adotadas pela empresa – desde que seguidos os parâmetros estabelecidos pelo item 1.5 e seguintes. Lembre-se que a NR-1 traz as disposições gerais de todas as NR’s. Logo, esse formato de guarda de arquivo é válido para todas as NR’s em vigor, tudo bem? (exceto, evidentemente, para aqueles que estabelecerem expressamente o contrário) 1.5.1 As organizações devem prestar informações de segurança e saúde no trabalho em formato digital, conforme modelo aprovado pela STRAB, ouvida a SIT. QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 32 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 ➔ O item 1.5.1 fala de um modelo aprovado pela Secretaria de Trabalho – STRAB que seria obrigatoriamente utilizado pelas organizações para prestarem informações relacionadas à SST em formato digital (“as organizações devem”). Contudo, sem a existência desse modelo, a implementação do item 1.5.1 fica impossibilitada. Pela redação deste subitem, toda prestação de informações da área de SST deverá ser feita, a partir do momento em que esse modelo for concebido, em formato digital. Vamos aguardar a sua confecção para nos debruçarmos mais profundamente sobre o tema. 1.5.1.1 Os modelos aprovados pela STRAB devem considerar os princípios de simplificação e desburocratização. ➔ Mais uma referência ao tal “modelo” aprovado pela Secretaria de Trabalho. Pelo menos até a conclusão desse e-book, esse modelo de prestação de informações da área de SST em formato digital ainda não havia sido disponibilizado. De qualquer forma, o item 1.5.1.1 dá a entender que ele será bastante simplificado, já que cita a simplificação e a desburocratização como princípios norteadores para sua aprovação. 1.5.2 Os documentos previstos nas NR podem ser emitidos e armazenados em meio digital com certificado digital emitido no âmbito da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil), normatizada por lei específica. ➔ Todo e qualquer documento previsto em NR passa a ter a permissão da Nova NR-1 de ser emitido em meio digital (ASO, PPRA, PCMSO, PCA, AET, Laudo de Insalubridade, de Periculosidade, e por aí vai...) – desde que possua certificado digital ICP-Brasil. Repare que aqui no item 1.5.2 a NR-1 não se refere à guarda digital de um documento físico (que seria a manutenção, num arquivo em .pdf, da versão física escaneada, preenchida, assinada e datada à mão pelos envolvidos). A norma se refere à emissão digital (“podem ser emitidos e armazenados em meio digital”). O certificado digital, por fugir ao escopo do nosso material, pode ser estudado através do site oficial do próprio ICP-Brasil. Clique AQUI. https://www.iti.gov.br/icp-brasil QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 33 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 1.5.3 Os documentos físicos, assinados manualmente, inclusive os anteriores à vigência desta NR, podem ser arquivados em meio digital, pelo período correspondente exigido pela legislação própria, mediante processo de digitalização conforme disposto em Lei. ➔ Agora sim! Aqui a NR-1 se refere ao arquivamento da versão física em formato digital. Vamos supor uma construtora que, por segurança, opte por arquivar em sua sede todos os seus documentos originais (PCMAT, PCMSO, ASOs...) mas que, em cada um dos seus canteiros de obra, mantenha uma versão em .pdf à disposição da Fiscalização do Trabalho de cada um desses documentos. O item 1.5.3 vem permitir que ela adote tal conduta. Importante!! Os documentos devem ser armazenados de tal forma que a Inspeção do Trabalho tenha pleno e imediato acesso a eles, tudo bem? Por exemplo, vamos pensar num ASO, o Atestado de Saúde Ocupacional. O que diz a redação da NR-7 atualmente em vigor? 7.4.4.1 A primeira via do ASO ficará arquivada no local de trabalho do trabalhador, inclusive frente de trabalho ou canteiro de obras, à disposição da fiscalização do trabalho. “à disposição da fiscalização do trabalho”. Não há qualquer problema, a partir de agora, em manter o ASO admissional e os ASO’s periódicos dos trabalhadores arquivados em .pdf – mas eles precisam estar disponíveis para a Fiscalização do Trabalho. Se eles ficam arquivados apenas no computador do engenheiro da obra, que viajou, que não atende o celular, que não tem hora para aparecer, que saiu e que deixou a sala fechada, que saiu e deslogou seu pc da rede, que naquela semana está acompanhando as obras que ficam em outro estado e etc., eles não estão disponíveis. Assim não pode! E mais: não basta criar uma pasta e jogar todos os arquivos dentro dela de forma aleatória. Imagine uma pasta com 890 arquivos armazenados de forma aleatória e o AFT pede o ASO admissional do carpinteiro Eriberto Torres de Assis, admitido em 04/07/2016. Como achar esse arquivo específico? Abrindo um por um? É preciso que haja uma ordenação no arquivamento desses documentos. https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-07.pdf QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 34 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 1.5.3.1 O processo de digitalização deve ser realizado de forma a manter a integridade, a autenticidade e, se necessário, a confidencialidade do documento digital, com o emprego de certificado digital emitido no âmbito da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil). ➔ Assim como os documentos emitidos digitalmente, os documentos físicos que passam por processo de digitalização também precisam ser armazenados com o emprego de certificado digital. Para entender melhor o assunto (que eu também desconhecia até a elaboração desse e- book), procurei no Google e encontrei um artigo muito interessante sobre o tema. É só clicar AQUI. 1.5.3.2 Os empregadores que optarem pela guarda de documentos prevista no caput devem manter os originais conforme previsão em lei. ➔ “- Sabino, estou com o PCMAT digitalizado na rede de computadores da obra. Qualquer computador tem acesso. No processo de digitalização empreguei as regras da ICP-Brasil. Posso jogar esse calhamaço de papel fora para liberar espaço na sede da construtora?” Não, não pode. ☹ Conforme determinação do item 1.5.3.2, todos os originais devem ser mantidos pelos prazos determinados por lei. Nesse caso, cada dispositivo legal ou normativo vai lidar com prazos variados. Por exemplo, podemos citar os documentos relativos à eleição da CIPA, que devem ser armazenados por um período mínimo de 5 anos de acordo com a redação da NR-5 em vigor quando da elaboração deste e-book: 5.40 O processo eleitoral observará as seguintescondições: j) guarda, pelo empregador, de todos os documentos relativos à eleição, por um período mínimo de cinco anos. Então mesmo que a documentação referente à eleição da CIPA esteja armazenada em formato digital, no nosso exemplo, no canteiro de obras, a documentação original deve ser mantida na sede por, pelo menos, 5 anos. https://www.eboxdigital.com.br/blog/digitalizacao-de-documentos-com-certificacao-digital/ QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 35 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 1.5.4 O empregador deve garantir a preservação de todos os documentos nato digitais ou digitalizados por meio de procedimentos e tecnologias que permitam verificar, a qualquer tempo, sua validade jurídica em todo território nacional, garantindo permanentemente sua autenticidade, integridade, disponibilidade, rastreabilidade, irretratabilidade, privacidade e interoperabilidade. ➔ Se você já efetuou o pagamento de algum boleto online, você deve ter reparado que, ao final do comprovante, vem um código de autenticação. Nos Autos de Infração lavrados pelos Auditores-Fiscais do Trabalho acontece a mesma coisa: ao final, vem uma mensagem do tipo “Cód. Autenticação: NXC447OP372DYDE838 52YT7C28E95035-W” que pode ser verificada a qualquer tempo. Esse código impede que o documento original, seja ele nato digital (emitido originalmente em formato digital) ou digitalizado (emitido originalmente em meio físico), seja adulterado. 1.5.5 O empregador deve garantir à Inspeção do Trabalho amplo e irrestrito acesso a todos os documentos digitalizados ou nato digitais. ➔ É o que comentamos no item 1.5.3, sobre a disponibilização dos documentos para a Inspeção do Trabalho, sejam eles originalmente digitais (emitidos de acordo com as diretrizes da ICP-Brasil), sejam eles emitidos em meio físico e escaneados posteriormente. 1.5.5.1 Para os documentos que devem estar à disposição dos trabalhadores ou dos seus representantes, a organização deverá prover meios de acesso destes às informações de modo a atender os objetivos da norma específica. ➔ Podemos citar, como exemplo, o item 2.1.7 do Anexo II - Exposição ocupacional ao benzeno em postos revendedores de combustíveis da redação vigente da NR-9 de quando esse e-book foi elaborado: 2. Responsabilidades 2.1 Cabe ao empregador: 2.1.7 Manter as Fichas com Dados de Segurança de Produto Químico dos combustíveis à disposição dos trabalhadores, em local de fácil acesso para consulta. https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09.pdf QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 36 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 Nesse caso, as organizações que atuam com revenda de combustíveis precisam desenvolver meios de consulta por parte dos trabalhadores caso elas optem pela manutenção das fichas de segurança dos produtos químicos em meio digital. Não há um formato padronizado ou um modelo para fazê-lo. Cada organização tem liberdade de adotar a forma que achar mais conveniente – desde que não crie obstáculos ao acesso. 1.6 Capacitação e treinamento em Segurança e Saúde no Trabalho 1.6.1 O empregador deve promover capacitação e treinamento dos trabalhadores em conformidade com o disposto nas NR. ➔ Primeiramente, precisamos entender que capacitação e treinamento são coisas diferentes – senão bastaria um dos dois, concorda? Ou ‘Capacitação em SST’ ou ‘Treinamento em SST’. Se aparece como “Capacitação e Treinamento em SST” é porque são coisas diferentes... Buscando nos dicionários, verificamos que enquanto a capacitação é o ato de tornar alguém capaz de fazer alguma coisa, de desenvolver alguma habilidade, o treinamento é o ato de aprimorar uma habilidade que esse alguém já possui. Sendo assim, podemos concluir que o ideal é que todas as vezes que as NR’s se referissem à capacitação elas estivessem se referindo àquele conjunto de práticas que vão tornar as pessoas capazes de realizar uma atividade de determinada maneira, desenvolvendo nelas algum tipo de habilidade, enquanto treinamento seria toda ação promovida para que habilidades já adquiridas fossem aprimoradas. Ficou claro? 1.6.1.1 Ao término dos treinamentos inicial, periódico ou eventual, previstos nas NR, deve ser emitido certificado contendo o nome e assinatura do trabalhador, conteúdo programático, carga horária, data, local de realização do treinamento, QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 37 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 nome e qualificação dos instrutores e assinatura do responsável técnico do treinamento. ➔ É muito comum, durante as ações fiscais, encontrarmos certificados contendo apenas o nome do trabalhador submetido a determinado curso, a data e o nome de quem ministrou o treinamento. O item 1.6.1.1 vem trazer o conteúdo mínimo que deve conter nos certificados emitidos – lembrando que, caso alguma NR traga um rol de detalhamento mais amplo, é esse detalhamento mais amplo que deverá ser seguido, tudo bem? Importante destacar que quem assina o certificado não são os instrutores, mas o trabalhador que foi submetido ao curso e o responsável técnico pelo mesmo (aquela pessoa que organizou o treinamento, normalmente um profissional da área de Segurança e Saúde do Trabalho). Os instrutores devem ser apenas citados no certificado, juntamente com suas qualificações (entendidas aqui como um currículo resumido). 1.6.1.2 A capacitação deve incluir: a) treinamento inicial; b) treinamento periódico; e c) treinamento eventual. ➔ A NR-1 amplia a definição de capacitação que mencionei no item 1.6.1, incluindo nela não apenas o treinamento inicial, mas também os treinamentos periódicos e eventuais. Ou seja, no entendimento da NR-1, todos os treinamentos estão contidos na capacitação, mas ela não se resume a eles, já que nela também podemos incluir as palestras, os seminários, as SIPATs, os workshops, os estágios, os exercícios simulados (vide item 1.6.1.3 logo abaixo), enfim, toda aquela orientação que permita que o trabalhador desenvolva alguma habilidade – tal qual mencionado no item 1.6.1. 1.6.1.2.1 O treinamento inicial deve ocorrer antes de o trabalhador iniciar suas funções ou de acordo com o prazo especificado em NR. QUASE TUDO O QUE EU ENTENDI SOBRE A NOVA NR-1 PROF. ALEXANDRE SABINO 38 sabino.sst@gmail.com - Material gratuito e de livre compartilhamento - @alexandresabinoaft - v. 06/04/2020 ➔ Algumas NR’s dão prazos específicos para os treinamentos iniciais, como, por exemplo, a NR-17 / Ergonomia em seu Anexo I (segundo a redação da Portaria SIT nº 08, de 30 de março de 2007). No item 6.2.1, ela determina que “cada trabalhador deve receber treinamento com duração mínima de duas horas, até o trigésimo dia da data da sua admissão, com reciclagem anual e com duração mínima de duas horas, ministrados durante sua jornada de trabalho”. Nesse caso, os operadores de caixa em supermercados têm até 30 dias, contados a partir de sua admissão, para receberem os treinamentos iniciais que abordem a relação do trabalho com a promoção da saúde. Somente nos casos em que as NR’s não mencionarem prazos específicos é que os trabalhadores devem ser submetidos a treinamentos iniciais ANTES do início de suas atividades. 1.6.1.2.2 O treinamento periódico deve ocorrer de acordo com periodicidade estabelecida nas NR ou, quando não estabelecido, em prazo determinado pelo empregador. ➔ Voltando ao item 6.2.1 da NR-17 (com a redação da Portaria SIT nº 08, de 30 de março de 2007), lemos que a reciclagem deve ser realizada anualmente: “Cada trabalhador