Buscar

RESENHA CRITICA A ELITE DO ATRASO - VITORIA VIANA MESQUITA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

2
Nome: Vitoria Viana Mesquita
Curso: Direito Data: 17/12/2019 Disciplina: Linguagem e Argumentação Jurídica
RESENHA CRÍTICA
SOUZA, Jessé. A Elite do Atraso. Da escravidão à lava jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017.
1 JESSÉ SOUZA 
Jessé José Freire de Souza é um renomado sociólogo, professor universitário e pesquisador brasileiro. Possui graduação em Direito pela Universidade de Brasília (1981), mestrado em Sociologia pela Universidade de Brasília (1986), doutorado em Sociologia pela Karl Ruprecht Universität Heidelberg, Alemanha (1991) e livre docência em sociologia pela Universität Flensburg, Alemanha (2006). Realizou estágios pós-doutorais na New School for Social research de Nova Iorque, EUA (1994-1995) e, como Professor visitante, na Universität Bremen, Alemanha (1999-2000). Atualmente, é professor titular de Sociologia na Universidade de Juiz de Fora. 
2 RESUMO DA OBRA
A obra de Jessé Souza é organizada em um prefácio e quatro capítulos. No prefácio, que tem caráter introdutório, o autor expõe que seu objetivo inicial é explicar a conjuntura recente do cenário político brasileiro de forma bem informada. Para atingir esse objetivo, o autor propositalmente constrói os textos do livro como ‘‘ensaios’’ respondendo criticamente o livro de Sérgio Buarque de Holanda ‘‘Raízes do Brasil.’’ 
Segundo o autor, esse livro foi amplamente difundido na esfera intelectual da esquerda e a direita brasileira devido à sua articulação eloquente sobre várias questões sociológicas fundamentais. Não obstante, apesar do seu nítido entendimento dos mecanismos que engendram problemas sociais, a obra também oferece uma legitimação perfeita da dominação social sob o pretexto de estar fazendo uma crítica. 
No primeiro capítulo ‘‘O racismo de nossos intelectuais: o brasileiro como vira-lata’’, o autor afirma que o espírito escravocrata é uma herança arraigada nas elites da sociedade cujo vestígio marcante é a desigualdade presente na estrutura social. Ainda nesse âmbito, Souza argumenta que as distorções midiáticas fabricadas pela elite camuflam a verdadeira origem da corrupção na sociedade, falsamente atribuída ao ‘‘patrimonialismo’’, fruto da colonização portuguesa. 
O autor também discorre sobre os tipos de racismo, fenotípico (cor da pele) e culturalista (análise comparativa do estoque cultural dos povos) existentes dentro da sociedade, sugerindo que eles auxiliam na perpetuação da crença de inferioridade intelectual e cultural dos povos da América Latina. Souza também opina que esse tipo de mentalidade contribui na relutância das elites em aceitar medidas governamentais com o objetivo de melhorar as condições de vida das camadas necessitadas da sociedade.
No início do capítulo ‘‘A Escravidão é o Nosso Berço’’, Souza explica que a verdadeira proposta do livro é ‘‘dotar a esquerda [...] de uma visão que expresse os interesses das massas carentes [...]’’ (p. 39). Na perspectiva dele, todos os golpes de Estado sofridos pela esquerda são resultantes da predominância de uma interpretação conservadora e totalizante cujo efeito primário é desmoralizar e fragilizar a esquerda. 
Nesse ponto, o autor se propõe a examinar a teoria das obras de Gilberto Freyre, dando ênfase ao aspecto sadomasoquista na interpretação do período colonial (patrimonialismo). Para ele, essa relutância em reconhecer a dor contrapõe a tese de hibridismo racial defendido por Freyre cujo argumento central sugere a possibilidade de uma democracia racial. Souza acredita que uma democracia racial é inviável, dada a discrepante desigualdade da sociedade. 
No terceiro capítulo ‘‘as classes sociais do Brasil moderno’’ Jessé Souza discorre sobre as transformações sociais do Brasil a partir do século XIX, observando que a abolição formal da escravidão pode ser considerada a principal. Na opinião do autor, essa mudança permitiu que um mercado de trabalho formal e competitivo fosse instaurado, todavia, também deu continuidade a práticas abusivas sob outras roupagens.
Ainda nesse âmbito, o autor ressalta que o deslocamento do eixo do desenvolvimento econômico contribuiu para a concretização dessa mudança, tendo em vista que a cidade de São Paulo passou a substituir o Nordeste brasileiro e sua monocultura decadente como polo do desenvolvimento nacional. 
Souza também analisa a pirâmide social e aborda as diferentes tendências comportamentais das classes sociais no Brasil. Por exemplo, na opinião dele, existem apenas quatro categorias de classes sociais econômicas no Brasil: a primeira é a classe abastada, endinheirada, a ‘‘elite do atraso’’. Em segundo, vem a classe média e as suas diversas frações. Em terceiro, é a classe trabalhadora, conhecida como os ‘‘batalhadores’’. Por fim, existe a classe marginalizada, desmoralizada, denominada de ‘‘ralé de novos escravos.’’
Como resultado da sua posição debilitada na sociedade, a classe miserável ‘‘ralé’’ é condicionada a permanecer numa posição de servil na sociedade, sujeitada a realizar atividades domésticas sujas e pesadas por uma remuneração risível para que a classe média ‘‘economize’’ tempo para cumprir tarefas mais produtivas e lucrativas. Desse modo, Souza argumenta que a persistência da miséria é conveniente aos interesses da elite. 
Ainda nesse quadro, o autor aborda as teorias sociais de modernização. No viés dele, tais teorias servem apenas como eufemismo para mascarar a realidade de exploração continuada e negar formas de dominação social de países subdesenvolvidos na esfera econômica mundial. Por exemplo, países exportadores de matéria-prima passaram a ser denominados de ‘‘países em desenvolvimento’’ como forma de assinalar um estado de transição, todavia, é interessante notar que esse suposto estado de estado de transição não se completa de fato, evidenciado no caso do Brasil. 
Jessé Souza também disserta a respeito do papel da elite detentora do capital econômico no condicionamento da opinião pública, e consequentemente, no mundo social. Tal condicionamento ocorre pelo controle dos meios de produção, como jornais, editores, e a imprensa generalizada. A classe média, em contrapartida, sempre foi uma espécie de tropa de choque da elite econômica, atendendo aos interesses da mesma. Em si, o domínio da elite sob a classe média é ‘‘simbólico’’ e pressupõe convencimento. 
Na perspectiva do autor, uma esfera pública de conteúdo não estatal nasce apenas da mudança da função da imprensa, de uma atividade informativa e manipulativa a favor da concepção de um ‘‘fórum’’ afastado do Estado. Nesse ponto, Souza expõe que embora a privatização do Estado seja um empecilho no patrimonialismo da sociedade brasileira, ela irá tornar invisível o palpável problema da privatização do espaço público. 
No último capítulo do livro, denominado ‘‘A corrupção real e a corrupção dos tolos’’, Jessé Souza examina os argumentos contidos nos discursos de figuras públicas notórias na esfera administrativa e jurídica, como por exemplo, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o Ministro do STF Luís Roberto Barroso. Ele busca provar através dessa análise argumentativa que o pacto antipopular formado contra a esquerda é um ataque frontal ao princípio constitucional da igualdade, e consequentemente, a soberania popular. 
Logo no início, por exemplo, ele explica que a classe média é repleta de ideias similares, o que dificulta consideravelmente a construção de uma alternativa que seja crítica da sociedade. Foi por conta disso, Souza explica, que a Rede Globo foi capaz de compelir a massa conservadora a ocupar as ruas em protestos entre 2013 e 2016. Acresce também que nota-se uma ênfase da noção do patrimonialismo no processo de manipulação política desses setores, dado que a corrupção é associada com frequência à política e não ao mercado.
Em suma, Souza acredita que os chamados ‘‘camisas-amarelas’’ protestantes defendem apenas os próprios interesses econômicos travestidos de princípios morais para dirigir seu ódio contra qualquer liderança popular. Não obstante, é interessante denotar que tal classe é tão explorada pela elite quantoàs demais. Quanto à operação Lava Jato, o autor acredita que desde o começo, essa foi apenas uma manobra de caça aos petistas e seus líderes com o intuito de assegurar a discrepância social em relação aos pobres e miseráveis para que os mesmos não tivessem a oportunidade de mobilidade social, e dessa forma, não se tornassem uma ameaça aos seus interesses, como Lula. 
O autor argumenta também que o maior risco representado pelos pobres foi a partir do momento que eles começaram a entrar em universidades públicas, anteriormente consideradas redutos de privilégios das elites, sobretudo durante a gestão do PT, no qual houve um crescente aumento do número de matriculados. Por fim, Souza discute a crescente onda de violência resultante do pacto da mídia e os interesses das elites, associando o crescimento político da família Bolsonaro no âmbito político com a materialização destes interesses. Como solução para tais problemas, Souza sugere uma autocrítica, conclamando a união da população enganada, que de certa forma, é a maior vítima. 
1 CRÍTICA DA RESENHISTA 
A Elite do Atraso é uma obra inquietante, provavelmente devido ao seu alarmante entendimento sobre a realidade social dos fatos no Brasil. Concebido com o intuito de ‘‘dotar a esquerda de visão’’, Jessé Souza sucede em reconstruir o pano de fundo histórico do país, explicando didaticamente os fatores que levaram à construção da atual estrutura social e desmitificando no processo vários conceitos sociólogos enraizados em relação ao funcionamento da sociedade brasileira. Sobretudo noções como patrimonialismo e o populismo. 
O texto do autor é cínico e direto, sem arcaísmos típicos de livros sociológicos, provavelmente no intuito de ser uma leitura acessível a todos os tipos de públicos. Quanto à organização, o livro é dividido em um prefácio e quatro capítulos, cujo conteúdo é repleto de ensaios que respondem criticamente o livro ‘‘Raízes do Brasil’ de Sérgio Buarque de Holanda. 
Apesar da densidade de conteúdo, o livro consegue ser uma leitura instigante pela coerência na exposição dos fatos. No decorrer da obra, Jessé Souza propõe reflexões muito válidas em relação a vários assuntos de relevância social no Brasil, contudo, também demonstra evidente pessoalidade de posicionamento. Como uma crítica social, é um livro que merece atenção e discussão.