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Manual de 2007 João Morais Canedo Olga Guedes Ana Isabel Cordeiro Monteiro Tributária DGCI Manual de Auditoria Tributária _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 2 SUMÁRIO DO PROCESSO DE INSPECÇÃO/AUDITORIA DEFINIR A ESTRATÉGIA DE ABORDAGEM À AUDITORIA DE ACORDO COM A AVALIAÇÃO DO RISCO DE INCUMPRIMENTO FISCAL A A A A ---- AVALIAÇÃO DO RISCO D AVALIAÇÃO DO RISCO D AVALIAÇÃO DO RISCO D AVALIAÇÃO DO RISCO DE INCUMPRIMENTO FISCALE INCUMPRIMENTO FISCALE INCUMPRIMENTO FISCALE INCUMPRIMENTO FISCAL ANALISAR A INFORMAÇÃO FINANCEIRA E FISCAL – IDENTIFICAR OS RISCOS ESPECÍFICOS CONHECER O NEGÓCIO E A PROACTIVIDADE FISCAL – AVALIAR OS RISCOS INERENTES ENTENDER O SISTEMA DE CONTROLO INTERNO: SISTEMA CONTABILÍSTICO, AMBIENTE DE CONTROLO E PROCEDIMENTOS DE CONTROLO – AVALIAR O RISCO DE CONTROLO B B B B ---- PLANO DE ABORDAGEM PLANO DE ABORDAGEM PLANO DE ABORDAGEM PLANO DE ABORDAGEM REALIZAR OS PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA PARA OBTENÇÃO DA PROVA – TESTES SUBSTANTIVOS DE DETALHES DE TRANSACÇÕES E DE SALDOS E DE REVISÃO ANALÍTICA FINAL – EMITIR AS CONCLUSÕES POR ÁREA APURAR AS CORRECÇÕES E FUNDAMENTAR COM OS MEIOS DE PROVA APROPRIADOS E SUFICIENTES, ELABORAR O PROJECTO DE RELATÓRIO, PROCEDER À AUDIÇÃO PRÉVIA DO CONTRIBUINTE EMITIR O RELATÓRIO FINAL PLANEAMENTO EXECUÇÃO RELATO IDENTIFICAR AS ÁREAS CONTABILÍSTICO- FISCAIS E AS MATÉRIAS RELEVANTES PARA A AUDITORIA DEFINIR OS OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DE AUDITORIA POR CADA ÁREA CONTABILÍSTICO FISCAL CONSIDERADA DE RISCO NO PLANO DE ABORDAGEM C C C C ---- PROGRAMAÇÃO DO TRABALHO PROGRAMAÇÃO DO TRABALHO PROGRAMAÇÃO DO TRABALHO PROGRAMAÇÃO DO TRABALHO DEFINIR OS PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA PARA CADA OBJECTIVO ESPECÍFICO DGCI Manual de Auditoria Tributária _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 3 NOTA DE APRESENTAÇÃO O presente Manual teve a sua primeira edição em 1998, na altura designado por Metodologias da Inspecção Tributária, e uma segunda e terceira edições revistas em 2000 e 2006, e resultou da experiência acumulada dos autores no trabalho operacional e de coordenação de acções no âmbito da inspecção tributária e da constatação da necessidade de se melhorar a organização e o planeamento da função auditoria e de estimular uma maior uniformização e sistematização dos procedimentos de trabalho. Este trabalho tem vindo também a beneficiar dos contributos dos formandos que ao longo dos anos tem participado nas nossas acções de formação e também dos colegas inspectores que, no dia a dia, connosco trabalham no terreno, resultando agora desse enriquecimento a 4ª edição, reestruturada e actualizada. Procurou-se, assim, desta forma, que este Manual possa contribuir para melhorar os processos de trabalho, tendo em vista a melhoria da eficiência e da eficácia da operacionalidade da inspecção tributária e ao mesmo tempo refrescar o conhecimento das matérias relacionadas com o direito, a contabilidade, a informática e a auditoria, entre outras, cuja rápida e contínua evolução constitui hoje uma das maiores dificuldades do trabalho diário dos profissionais desta área. Neste sentido, são também desejos dos autores que este Manual possa vir a contribuir num futuro próximo para a definição e aplicação sistematizada de normas internas orientadoras do trabalho de planeamento, de campo e de relato, a exemplo do que acontece com as sociedades de auditoria e os auditores em geral, que permitam melhorar a sua qualidade técnica, garantir a sustentabilidade das opiniões e consequentemente alcançar os objectivos que DGCI tem vindo a fixar e que são, felizmente, cada vez mais ambiciosos. Por fim, queremos agradecer a todos os que nos apoiaram neste trabalho, em particular ao Centro de Formação da DGCI e à sua directora Drª Leonor Duarte, pelo estímulo e pelas condições que nos tem proporcionado para a concretização desta iniciativa, aos ex-Subdirectores-Gerais da DGCI Dr. José Manuel da Silva e Dr. Brito Fonseca que impulsionaram o desenvolvimento e a primeira edição do Manual, ao Subdirector-Geral da DGCI Dr. João Durão pelo reconhecimento que tem prestado ao trabalho desenvolvido, ao Dr. Gonçalves da Silva e Dr. Luís Ramos pelos contributos que nos prestaram em algumas partes específicas da matéria, ao Dr. Álvaro Duarte e aos restantes colegas da equipa de Auditoria Informática pela colaboração na montagem digital dos textos, mapas e figuras e a todos os colegas de trabalho e formandos pelas críticas e sugestões que nos fizeram chegar e, muito especialmente, às nossas famílias pela sua compreensão do esforço que desenvolvemos e das inevitáveis longas horas que retiramos do seu convívio. OS AUTORES DGCI Manual de Auditoria Tributária ÍNDICE _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 4 SUMÁRIO DO PROCESSO DE AUDITORIA TRIBUTÁRIA NOTA DE APRESENTAÇÃO ÍNDICE I PARTE A AUDITORIA NO CONTEXTO DA INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA 1.1 1.2 1.3 A Inspecção Tributária: missão, visão e objectivos O procedimento de inspecção As funções operacionais da inspecção tributária II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA 2.1 Conceito e evolução da auditoria 2.2 Auditoria financeira e auditoria tributária 2.2.1 Os objectivos da auditoria 2.2.2 O âmbito e a profundidade do trabalho na auditoria financeira e na auditoria tributária 2.2.3 As fases do processo de auditoria 2.3 A normalização da auditoria III PARTE PROVA, MATERIALIDADE E RISCO 3.1 Prova 3.1.1 3.1.2 3.1.3 3.1.4 Conceito de prova Características da prova Credibilidade da prova Processo de obtenção da prova 3.2 Materialidade 3.2.1 3.2.2 Conceito de materialidade Julgamento preliminar e limites de materialidade 3.3 Risco de auditoria 3.3.1 3.3.2 3.3.3 3.3.4 3.3.5 3.3.6 Conceito de risco O risco de incumprimento fiscal Riscos específicos Risco inerente Risco de controlo Risco de detecção 3.4 Relação entre prova, materialidade e risco IV PARTE PAPÉIS DE TRABALHO 4.1 4.2 As funções dos papéis de trabalho Organização dos papéis de trabalho V PARTE PLANEAMENTO DA AUDITORIA 5.1 O processo de planeamento 5.1.1 Princípios orientadores 5.1.2 As áreas contabilístico-fiscais 5.2 Avaliação do risco de incumprimento fiscal 5.2.1 5.2.2 5.2.3 Informação financeira e fiscal – identificação de riscos específicos Conhecimento do negócio e da proactividade fiscal - avaliação dos riscos inerentes Controlo interno– avaliação do risco de controlo 5.3 Plano de abordagem e programação do trabalho DGCI Manual de Auditoria Tributária ÍNDICE _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 5 5.3.1 5.3.2 Plano de abordagem à auditoria – identificação das áreas contabilístico-fiscais e matérias relevantes para a auditoria Programação do trabalho VI PARTE AMOSTRAGENS PARA AUDITORIA 6.1 Conceito, características e métodos de amostragem 6.1.1 6.1.2 6.1.3 6.1.4 6.1.5 Amostra: conceito e características Risco de amostragem Métodos de amostragem: estatístico e não estatístico Tabelas estatísticas Técnicas de amostragem para testes de auditoria 6.2 O processo de amostragem 6.2.1 6.2.2 6.2.3 6.2.4 Plano de amostragem Selecção da amostra Execução dos procedimentos de auditoria Avaliação dos resultados 6.3 Técnicas de amostragem 6.3.1 6.3.2 Amostragens para testes de controlo e testes substantivos de detalhes de transacções Amostragens para testes substantivos de detalhes de saldos VII PARTE AUDITORIA À ÁREA DE COMPRAS E EXISTÊNCIAS 7.1 7.2 7.3 7.4 7.5 Aspectos e objectivos gerais da área Enquadramento contabilístico e fiscal Informação financeira e fiscal – identificação de riscos específicos Controlo interno – avaliação do risco de controlo Testes substantivos às contas VIII PARTE AUDITORIA À ÁREA DE CUSTOS DE EXPLORAÇÃO 8.1 8.2 8.3 8.4 8.5 Aspectos e objectivos gerais da área Enquadramento contabilístico e fiscal Informação financeira e fiscal – identificação de riscos específicos Controlo interno – avaliação do risco de controlo Testes substantivos às contas IX PARTE AUDITORIA À ÁREA DE VENDAS E OUTROS PROVEITOS DE EXPLORAÇÃO 9.1 9.2 9.3 9.4 9.5 Aspectos e objectivos gerais da área Enquadramento contabilístico e fiscal Informação financeira e fiscal – identificação de riscos específicos Controlo interno – avaliação do risco de controlo Testes substantivos às contas X PARTE AUDITORIA À ÁREA DE INVESTIMENTOS FINANCEIROS 10.1 10.2 10.3 10.4 10.5 Aspectos e objectivos gerais da área Enquadramento contabilístico e fiscal Informação financeira e fiscal – identificação de riscos específicos Controlo interno – avaliação do risco de controlo Testes substantivos às contas XI PARTE AUDITORIA À ÁREA DE IMOBILIZAÇÕES TÉCNICAS DGCI Manual de Auditoria Tributária ÍNDICE _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 6 11.1 11.2 11.3 11.4 11.5 Aspectos e objectivos gerais da área Enquadramento contabilístico e fiscal Informação financeira e fiscal – identificação de riscos específicos Controlo interno – avaliação do risco de controlo Testes substantivos às contas XII PARTE AUDITORIA À ÁREA DE CAPITAIS 12.1 12.2 12.3 12.4 12.5 Aspectos e objectivos gerais da área Enquadramento contabilístico e fiscal Informação financeira e fiscal – identificação de riscos específicos Controlo interno – avaliação do risco de controlo Testes substantivos às contas XIII PARTE O RELATO DA INSPECÇÃO/AUDITORIA 13.1 O relatório de inspecção/auditoria 13.2 A prova das correcções constantes do relatório 13.2.1 13.2.2 Princípios gerais da fundamentação Situações de excepção em casos de indícios de fraude APÊNDICE I – Plano de Auditoria APÊNDICE II – Relatório de Inspecção/Auditoria ABREVIATURAS USADAS BIBLIOGRAFIA DGCI Manual de Auditoria Tributária I PARTE A AUDITORIA NO CONTEXTO DA INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 7 Missão Visão Objectivos gerais Princípio da iniciativa I PARTE A AUDITORIA NO CONTEXTO DA INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA 1.1 A INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA: MISSÃO, VISÃO E OBJECTIVOS A Inspecção Tributária tem por missão promover o cumprimento das obrigações fiscais, através de medidas de acompanhamento dos factos tributários e da prevenção e controlo da fraude e evasão fiscais, procurando prestar um serviço eficiente no domínio da prevenção, análise e correcção de modo a contribuir para a justiça e equidade fiscala. A Inspecção Tributária tem por visão procurar que a sua actuação seja uma força de mudança da imagem da Administração Fiscal e da importância dos impostos para a vida em sociedade, contribuindo para maximizar o cumprimento voluntário das obrigações fiscaisb. As medidas de acompanhamento e prevenção comportam deste modo a perspectivação de acções dissuasoras do incumprimento das obrigações fiscais, através do desenvolvimento de modelos de análise e acompanhamento permanente especialmente de contribuintes relevantes do ponto de vista do seu nível de actividade económica procurando com a sua acção e, sobretudo, visibilidade, incentivar a generalidade dos contribuintes a um incremento do cumprimento voluntário das suas obrigações fiscais. No âmbito correctivo, visa-se a comprovação substantiva do cumprimento das obrigações fiscais, actuando de modo a desincentivar a evasão fiscal e repressivamente quando perante situações de fraude fiscal, promovendo os ajustamentos a que houver lugar, apurando o imposto em falta e agindo punitiva e criminalmente sempre que tal se justifique. A Inspecção Tributária tem, deste modo, como objectivos gerais de intervenção garantir o desenvolvimento eficaz de acções direccionadas de acordo com os dois vectores básicos de actuação referidos, sendo sua obrigação adaptar-se continuamente à envolvente ambiental que decorre da constante mutatividade e elevado dinamismo que caracterizam as actividades económicas e empresariais na actualidade. A actuação da Inspecção Tributária assenta no princípio da iniciativa, exercendo as suas funções de acordo com objectivos e estratégias definidos pela própria Administração Tributária e pelo Governo que permitam fazer cumprir com êxito a sua missão. a PNA IT 2006 b PNA IT 2006 DGCI Manual de Auditoria Tributária I PARTE A AUDITORIA NO CONTEXTO DA INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 8 Inspecção a pedido Âmbito de actuação da Inspecção Tributária Incompatibilidades específicas e deveres de sigilo e A Inspecção Tributária pode ainda, em casos especiais, actuar por iniciativa do contribuinteou de terceiro que demonstre interesse legítimo, em situações decorrentes, nomeadamente, da necessidade de viabilização de negócios jurídicos relevantes do ponto de vista da reestruturação empresarial e da dinamização da vida económica. 1.2 O PROCEDIMENTO DE INSPECÇÃO O procedimento de inspecção tributária visa a observação das realidades tributárias, a verificação do cumprimento das obrigações tributárias e a prevenção das infracções tributárias, compreendendo as seguintes actuações da administração tributáriai: � A confirmação dos elementos declarados � A indagação de factos não declarados � A inventariação e avaliação de bens � A prestação de informações oficiais, em matéria de facto, nos processos de reclamação e impugnação judicial � O esclarecimento e a orientação dos sujeitos passivos e demais obrigados tributários sobre o cumprimento dos seus deveres perante a administração tributária � A realização de estudos individuais, sectoriais ou territoriais sobre o comportamento dos sujeitos passivos e a evolução dos sectores económicos � A realização de perícias ou exames técnicos � A informação sobre os pressupostos de facto dos benefícios fiscais � A promoção, nos termos da lei, do sancionamento das infracções tributárias � A cooperação nos termos das convenções internacionais ou regulamentos comunitários � Quaisquer outras acções de averiguação ou investigação de que a administração tributária esteja legalmente incumbida O Inspector durante uma inspecção, que, no âmbito deste manual, passaremos a designar por inspecção/auditoria ou auditoria tributária, está sujeito a incompatibilidades específicas, ao dever de sigilo e a outros deveres DGCI Manual de Auditoria Tributária I PARTE A AUDITORIA NO CONTEXTO DA INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 9 outros Responsabilidade e competência profissional Obtenção de prova de cumprimento fiscal Direitos, prerrogativas e faculdades Multidisciplinarida de do trabalho inspectivo Equipas de trabalho acessórios como sejam o da prudência, cortesia, serenidade e discriçãoii. O Inspector deve também mostrar sempre uma atitude de responsabilidade, competência e cepticismo profissional na abordagem que efectuar a todos os aspectos do trabalho, o que implica uma conduta pessoal idónea, de conhecimento das normas legais e técnicas aplicáveis a cada situação de uma inspecção, procedendo a uma avaliação objectiva da situação fiscal dos contribuintes, em vez de recair em presunções de honestidade ou desonestidade. Esta atitude permitir-lhe-á minimizar a probabilidade de cometer erros, pois obriga ao desenvolvimento do trabalho de modo competente na perspectiva da obtenção de provas do cumprimento ou não cumprimento fiscal dos contribuintes, única forma de obter conclusões válidas e juridicamente seguras. Os direitos, as prerrogativas e as faculdades dos Inspectores Tributários estão regulados na lei e a acção inspectiva decorre estritamente dentro do quadro legal estabelecido, de acordo com os princípios e as normas de funcionamento de um Estado de Direito Democráticoiii. A intervenção da Inspecção Tributária, deve sempre observar os princípios do procedimento consagrados nos artigos 5º a 9º do Regime Complementar do Procedimento de Inspecção Tributária, princípios estes que são a consubstanciação dos princípios gerais a que deve obedecer a actividade da Administração Tributária, consagrados na Constituição da República Portuguesa e na Lei Geral Tributária. 1.3 AS FUNÇÕES OPERACIONAIS DA INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA A grande diversidade e complexidade das matérias que devem constituir as competências de actuação da inspecção tributária - contabilidade, auditoria, informática, impostos e processo tributário, contra-ordenacional e criminal, entre outras – obrigam a um trabalho multidisciplinar que exige níveis de especialização elevados (Ver Figura 1-1). Assim a estrutura operativa da inspecção tributária assenta, na generalidade, em equipas de trabalho especializadas, em primeira linha, por funções e, numa segunda linha, por sectores de actividade económica ou por matérias fiscais específicas. As equipas de trabalho dividem-se em funções especializadas, tais como de análise declarativa, de investigação da fraude, de prospecção, de auditoria etc. Complementarmente, existindo equipas de apoio técnico especializado, como por exemplo, auditoria informática, assessoria jurídica, preços de transferência, etc., as quais actuam operacionalmente em apoio às matérias DGCI Manual de Auditoria Tributária I PARTE A AUDITORIA NO CONTEXTO DA INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 10 Coordenação das equipas Modelo operacional da sua especialidade nas inspecções em que tal se mostre necessário. As equipas são chefiadas por um coordenador de equipa, o qual tem a incumbência de garantir o cumprimento dos objectivos fixados à equipa, gerindo os recursos humanos à sua disposição da forma mais adequada face a esses mesmos objectivos, decidindo sobre a extensão dos procedimentos operativos necessários e supervisionando a qualidade do trabalho técnico tendo como referência os planos e programas de trabalho. O modelo operacional da inspecção tributária implementado com vista à prossecução dos objectivos definidos, divide-se nas seguintes funções principais, com características operacionais distintas: � Análise declarativa � Investigação da fraude � Prospecção � Auditoria Análise declarativa Consiste basicamente na análise formal e de coerência dos elementos constantes das declarações fiscais. Esta função tem características predominantemente internas, sendo o tipo de análise de carácter sumário, permitindo a efectivação de correcções a que haja lugar derivadas de situações evidenciadas nas próprias declarações (IRC, IVA, etc.) e seus anexos ou na sequência de pedidos de esclarecimento aos sujeitos passivos. A duração deste tipo de acções é geralmente reduzida, já que se for necessário aprofundar a análise de uma determinada situação tributária, então se-lo-à junto dos elementos de escrita do contribuinte, reclassificando-se consequentemente a acção como externa. Ao possibilitar uma maior abrangência inspectiva, dado que permite um número elevado de verificações com recursos humanos, técnicos e financeiros reduzidos, a análise declarativa constitui uma função que permite obter bons resultados em termos de abrangência de contribuintes, tanto na perspectiva de prevenção como de identificação de situações irregulares. Investigação da fraude Esta função tem como objectivo principal apurar a situação tributária dos contribuintes quando existam indícios de fraude por inexistência de actos declarativos, documentos ou outros elementos de suporte dos actos presumivelmente praticados ou em que a contabilidade não existe, está oculta ou viciada, centrando-se em particular na averiguação de denúncias ou DGCI Manual de Auditoria TributáriaI PARTE A AUDITORIA NO CONTEXTO DA INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 11 participações e na obtenção de provas acusativas de evasão ou fraude fiscais relativamente às situações descritas. Neste tipo de actuação existe a necessidade do recurso a elementos indiciários da actividade tributariamente sujeita, os quais apenas podem ser recolhidos através de minuciosas investigações aos sujeitos passivos, nomeadamente na observação dos seus comportamentos, na indagação de factos relacionados com as suas actividades e na confirmação de transacções com outros agentes económicos. É uma função que exige também conhecimentos comuns à função auditoria, mas que não os utiliza de forma sistemática como ferramenta principal, dado ser suposto trabalhar na perspectiva de provar a existência de transacções não registadas e portanto não verificáveis contabilísticamente, necessitando em geral de conhecimentos aprofundados de matérias relacionadas com o processo tributário e com o processo contra-ordenacional e penal. Prospecção A prospecção tem em vista a identificação de indivíduos ou agentes económicos que exercendo actividade susceptível de obtenção de rendimentos não entregam declarações e não pagam consequentemente os impostos a que estão obrigados. Esta função desenvolve-se de uma forma dirigida a situações previamente conhecidas através de informações obtidas pelos sistemas de apoio interno, nomeadamente recorrendo ao cruzamento de informação através das bases de dados informatizadas ou a fontes externas. Auditoria A auditoria tributária tem como objectivo a análise de contabilidades organizadas, através da verificação substantiva dos elementos de suporte (livros, registos e documentos), com recurso a técnicas próprias, tendo em vista a validação dos actos declarativos e a sua correspondência às transacções efectivamente praticadas e à situação económica e patrimonial dos contribuintes. A função auditoria pressupõe a existência de contabilidades verificáveis, portanto devidamente organizadas e com a presunção de terem sido elaboradas sem intenção fraudulenta. É neste domínio que se centra uma parte substancial da actividade inspectiva, em especial no que se refere ao controlo tributário da actividade das empresas. O desenvolvimento de uma auditoria tributária exige a existência de organização e procedimentos padrão, imprescindíveis para uma eficaz actuação, a qual pode efectuar-se através de acções de âmbito parcial ou de âmbito geral, incidindo sobre um (univalente) ou mais impostos (polivalente): DGCI Manual de Auditoria Tributária I PARTE A AUDITORIA NO CONTEXTO DA INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 12 a) Âmbito Específico ou Parcial Este tipo de auditoria exige a identificação precisa das áreas de risco de incumprimento fiscal, podendo incidir num ou mais impostos, consistindo o trabalho externo em verificações de tipo cirúrgico, quer em termos documentais quer em termos de registos contabilísticos. Estas acções decorrem, em geral, da necessidade da verificação na contabilidade do sujeito passivo de situações de potencial incumprimento fiscal emergentes do acompanhamento tributário ou da análise das declarações fiscais, consistindo o trabalho de auditoria na verificação detalhada dessas situações devendo implicar, para além da aplicação dos procedimentos de auditoria adequados aos factos declarativos previamente identificados, a verificação por rotina de determinados aspectos contabilístico- fiscais a que os sujeitos passivos estão legalmente obrigados. Deve, não obstante, ter-se sempre em consideração que, por exigência do princípio da proporcionalidade, a verificação externa de um facto tributário relacionado com um determinado imposto, inviabiliza a posterior verificação de outros factos relacionados com o mesmo imposto e o mesmo período. b) Âmbito Geral Correspondem a auditorias tributárias de âmbito polivalente, vulgarmente designadas por exames à escrita, com incidência em todos os impostos, tendo como objectivo o apuramento da situação tributária global dos contribuintes. Este tipo de auditorias desenvolve-se de acordo com um modelo próprio de planeamento, execução e relato, modelo que constitui o principal objecto deste Manual de Auditoria Tributária. DGCI Manual de Auditoria Tributária I PARTE A AUDITORIA NO CONTEXTO DA INSPECÇÃO TRIBUTÁRIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 13 Direito Administrativo Direito Penal- Fiscal Informática Análise de Risco Contabilidade Auditoria Direito Fiscal i RCPIT – artº 2º, nºs 1 e 2, com a redacção da Lei nº 50/2005, de 30 de Agosto ii RCPIT – artºs 20º a 22º iii direito: conjunto de leis ou preceitos que regulam as relações sociais; prerrogativa; poder legítimo; privilégio. prerrogativa: privilégio; apanágio; poder; regalia que uma pessoa ou uma corporação usufrui em relação às outras. faculdade: capacidade de realizar uma acção física ou intelectual; direito; permissão. DGCI Manual de Auditoria Tributária II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 14 Objectivos de formação As origens da auditoria II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA No final da exposição da matéria, o formando deverá estar em condições de: i. Entender o conceito de auditoria ii. Identificar os objectivos gerais da auditoria e as semelhanças e diferenças entre a auditoria tributária e a auditoria financeira iii. Reconhecer as fases do processo de auditoria e o método de abordagem da auditoria tributária aos sistemas contabilístico e fiscal das empresas iv. Conhecer o sistema de normalização em que assenta a função auditoria 2.1 CONCEITO E EVOLUÇÃO DA AUDITORIA Assiste-se hoje ao que podemos chamar de sucesso das auditorias. Aquilo que tradicionalmente se relacionava apenas com as contas, ganhou amplitude nos últimos anos, espalhou-se por outras áreas e hoje existem auditorias de índole tão diversa, que vão desde a gestão à informática e do ambiente à qualidade. A função de auditoria tem as suas referências mais antigas na Civilização Suméria e no antigo Egipto, onde já era prática normal o controlo dos depósitos de mercadorias por escribas devidamente organizados. Também na época do Império Romano, funcionários de controlo eram enviados pelos imperadores para examinar as contas das regiões, utilizando para o efeito procedimentos empíricos a que mais tarde se veio a chamar de auditoria. O primeiro uso de termo auditoria parece remontara Inglaterra no Século XIII, quando Eduardo I enviava auditors para examinar as contas dos proprietários com finalidades de lançamento de tributos. Mais tarde, quando em 1494 foram criadas as partidas dobradas pelo italiano Luca Pacioli, tornou-se uma necessidade avaliar as contas de forma mais precisa o que veio trazer um novo impulso na função de auditoria, mas foi sobretudo na sequência da revolução industrial inglesa dos séculos XVIII e XIX, após a publicação do Companies Act, em 1844, que exigia uma verificação das contas das sociedades anónimas, que se pode verdadeiramente dizer que se iniciou a função auditoria com os contornos que hoje conhecemos. DGCI Manual de Auditoria Tributária II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 15 American Institute of Certified Public Accountants (AICPA) 8ª Directiva da CEE Conceito de auditoria Com o cada vez maior distanciamento dos detentores do capital da actividade das empresas e do desenvolvimento da contabilidade, foi-se criando a necessidade da função do auditor no sentido de credibilizar a apresentação das contas das empresas e dar segurança aos respectivos accionistas. Os Estados Unidos da América foram o principal motor do desenvolvimento da profissão, tendo sido o American Institute of Certified Public Accountants (AICPA)iv uma referência no domínio da normalização dos princípios e dos procedimentos de auditoria a nível internacional. Também na Europa, a 8ª Directiva da CEE, de 10 de Abril de 1984, sobre a aprovação das pessoas encarregadas da fiscalização legal dos documentos contabilísticos, tinha em vista coordenar as garantias que, para protecção dos interesses dos sócios e de terceiros são exigidas nos Estados Membros às sociedades, na acepção do Segundo parágrafo do artº 58º do Tratado CEE, no que respeita à constituição das sociedades anónimas, bem como à conservação e às modificações do seu capital, a fim de tornar equivalentes essas garantias em toda a comunidade. O conceito de auditoria em termos gerais consistirá numa investigação independente sobre uma actividade em particular. Limitando o âmbito às demonstrações financeiras, pode-se definir comov: “Processo sistemático de obtenção e avaliação objectivas da prova relacionada com as asserções acerca dos factos e acontecimentos económicas, certificando o grau de correspondência entre essas asserções e os critérios estabelecidos, e de comunicação dos resultados aos utentes interessados”. De acordo com esta definição, podem deste modo destacar-se os seguintes aspectos fundamentais do conceito: � Processo sistemático: a auditoria consiste num processo estruturado que segue uma sequência lógica � Objectividade: é a qualidade como a informação é obtida e também a qualidade da pessoa que executa a auditoria. Essencialmente significa imparcialidade e independência � Obtenção e avaliação da prova: relaciona-se com o exame do suporte das asserções � Asserções sobre factos e acontecimentos económicos: descrição geral do objecto do que é auditado. Uma asserção é essencialmente uma proposição que pode ser provada ou não provada � Grau de correspondência com critérios estabelecidos: significa que uma auditoria estabelece a conformidade das asserções com critérios específicos DGCI Manual de Auditoria Tributária II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 16 � Comunicação de resultados: significa que para serem úteis os resultados de uma auditoria necessitam ser comunicados às partes interessadas Os diversos organismos nacionais e internacionais que regulam a actividade da contabilidade e auditoria, apresentam diversas definições de auditoria. Não existindo uma definição padronizada para o conceito de auditoria, pode- se dizer, em termos gerais, que a auditoria contabilística ou financeira consiste em efectuar exame às demonstrações financeiras de uma entidade por forma a expressar uma opinião profissional e independente sobre a propriedade das mesmas e assegurar que elas representam adequadamente a posição patrimonial e financeira, o resultado das suas operações e as origens e aplicações dos recursos correspondentes aos períodos em exame. Este conceito tem vindo nos últimos anos a evoluir, referindo a legislação portuguesa sobre a matériavi que a certificação legal de contas (auditoria), exprime a opinião do revisor oficial de contas (auditor) de que as demonstrações financeiras apresentam ou não, de forma verdadeira e apropriada, a posição financeira da empresa ou de outra entidade, bem como os resultados das suas operações, relativamente à data e ao período a que as mesmas se referem. As expressões “revisão oficial de contas” e “revisor oficial de contas”, podem- se considerar equivalentes a auditoria e a auditor, respectivamente, pois em Portugal, ao contrário da generalidade dos países, tem-se vindo a preferir o termo revisão ao termo auditoria. 2.2 AUDITORIA FINANCEIRA E AUDITORIA TRIBUTÁRIA 2.2.1 OS OBJECTIVOS DA AUDITORIA Os objectivos da auditoria tributária consistem em confirmar se as declarações fiscais, que se presumem verdadeiras (princípio da verdade declarativa), reflectem adequadamente o cumprimento das normas contabilísticas e fiscais e se, por consequência, o resultado fiscal apurado corresponde à situação tributária real do contribuinte e os impostos devidos foram efectivamente entregues. O apuramento do resultado fiscal pode ser afectado pelas seguintes situações principais: i. Erros materiais na contabilidade que afectam o resultado contabilístico e por consequência o resultado fiscal (inexactidão na expressão financeira dos registos, duplicação de registos, etc.) ii. Erros nas declarações fiscais (no apuramento fiscal extra- contabilístico) DGCI Manual de Auditoria Tributária II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 17 Asserções dos órgãos de gestão Implicações fiscais das asserções iii. Transacções registadas na contabilidade mas omitidas nas declarações fiscais iv. Transacções omitidas na contabilidade que afectam o resultado contabilístico e por consequência o fiscal Na auditoria financeira os objectivos estão directamente relacionados com as asserções dos órgãos de gestão, para as quais o auditor deve juntar a prova suficiente para as validar ou certificar. As asserções subjacentes às demonstrações financeiras são as informações transmitidas pelos órgãos de gestão, de maneira explícita ou não, incorporadas nas demonstraçõesfinanceiras e que se presumem verdadeiras, constituindo objectivo da auditoria a sua confirmação. As asserções subjacentes às demonstrações financeiras estão directamente relacionados com os princípios contabilísticos geralmente aceites, e são as seguintesvii: i. Existência - um activo ou um passivo existe numa determinada data ii. Direitos e obrigações – um activo ou um passivo respeita à entidade numa determinada data iii. Ocorrência – uma transacção ou um acontecimento realizou-se com a entidade e teve lugar no período iv. Valorização – um activo ou um passivo é registado e mantido por uma quantia apropriada v. Integralidade – não há activos, passivos, transações ou acontecimentos por registar, ou elementos por divulgar vi. Mensuração – uma transacção ou acontecimento é registado pela devida quantia e o rédito ou gasto imputado ao período devido vii. Apresentação e divulgação – um elemento é divulgado, classificado e descrito de acordo com a estrutura conceptual de relato financeiro aplicável Veja-se que todas as asserções têm implicações de natureza fiscal, tendo consequentemente a auditoria tributária também como objectivos a confirmação ou não dessas mesmas asserções: i. Existência: a simulação da existência de um activo numa determinada data, por exemplo um bem imobilizado, sobre o qual são permitidas DGCI Manual de Auditoria Tributária II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 18 Afirmação fiscal amortizações ou usufruam de um benefício fiscal, pode originar deduções fiscais ilegítimas; ii. Direitos e obrigações: a existência de um activo que formalmente pertence à empresa inspeccionada mas que está ao serviço de outra empresa, como seja o caso, por exemplo, de um empréstimo bancário que, estando contabilizado no passivo de uma empresa, com os consequentes custos relativos aos juros, foi obtido para financiar a actividade particular de um sócio; iii. Ocorrência: a contabilização de facturas fictícias que não correspondem a efectivas transacções iv. Integralidade: omissão de vendas ou de prestações de serviços com o intuito de diminuir a tributação v. Valorização: valorização de existências por valores diferentes para empolar o custo dos consumos ou vendas vi. Mensuração: transacções contabilizadas por valores errados ou respeitantes a outro exercício com intuito de diminuir a tributação vii. Apresentação e divulgação: preenchimento das declarações fiscais de acordo com as disposições legais aplicáveis. Em termos práticos, se, por exemplo, o balanço de uma empresa apresentar um valor de mercadorias de € 500.000, tal significa que órgão de gestão afirma que as mercadorias existiam efectivamente à data do balanço (asserção da existência), as mercadorias pertenciam à empresa nessa data (asserção de direitos e obrigações), as mercadorias estavam apropriadamente valorizadas (asserção da valorização), não existiam mercadorias por contabilizar (asserção da integralidade) e as mercadorias estão apresentadas, classificadas e descritas de acordo com os princípios contabilísticos geralmente aceites. O objectivo do trabalho do auditor é dar a sua opinião sobre se as demonstrações financeiras representam de forma verdadeira e apropriada a situação financeira e patrimonial da empresa, objectivo este que apenas será alcançado depois de confirmados, através da obtenção de prova apropriada e suficiente, cada um dos objectivos parciais relativamente a cada uma das áreas e que são as asserções do órgão de gestão. Numa perspectiva fiscal, pode-se dizer que, considerando o princípio da verdade declarativa enunciado anteriormente, o objectivo do inspector/auditor será confirmar este princípio ou afirmação fiscal, comprovando igualmente para cada uma das áreas e através de prova apropriada e suficiente, se aquelas declarações reflectem o cumprimento adequado das normas contabilísticas e fiscais e se apresentam o resultado fiscal e/ou o imposto liquidado ou entregue correspondente ao efectivamente devido. DGCI Manual de Auditoria Tributária II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 19 2.2.2 O ÂMBITO E A PROFUNDIDADE DO TRABALHO NA AUDITORIA FINANCEIRA E NA AUDITORIA TRIBUTÁRIA A auditoria tributária ou fiscal, que de algum modo se pode dizer constitui um ramo especializado da auditoria contabilística ou financeira, tem vindo a ganhar autonomia como uma disciplina com objectivos e características específicas, mas mantendo-se fundada nos princípios e métodos de auditoria geralmente aceites, sendo hoje cada vez mais vulgar as empresas recorrerem a auditores externos para verificação do seu cumprimento fiscal, não sendo por isso apenas uma função exclusiva das administrações tributárias. Comparativamente com a auditoria contabilística ou financeira, a auditoria tributária pode, assim, considerar-se mais limitada no seu âmbito, pois a comprovação da imagem fiel centra-se nos resultados (a inclusão de todos os proveitos e a efectividade de todos os custos), sendo a fidelidade do património e da situação financeira complementar, a menos que tenha transcendência tributária, e mais profunda na sua análise, não sendo suficientes as análises financeiro-contabilísticas, pois os factos económicos registados têm que ser submetidos a qualificações jurídico-tributárias, para determinar e quantificar factos tributários, sujeitos a imposto, bases tributáveis e tipo de imposto, função que requer o conhecimento profundo de todos os impostos que integram o sistema fiscal viii. Considerando os princípios como as verdades fundamentais e os métodos como marcos conceptuais dentro dos quais se desenvolve o trabalho de preparação, execução e apresentação, pode afirmar-se que a auditoria financeira e a auditoria tributária são, de um modo geral, semelhantes recorrendo aos mesmos princípios e métodos de trabalho. Os objectivos da auditoria financeira e da auditoria tributária são, contudo, diferentes mas apenas nas consequências, já que no primeiro caso se visa essencialmente emitir uma opinião e recomendações, enquanto que no segundo se podem produzir rectificações aos resultados fiscais declarados com um efeito monetário efectivo. 2.2.3 AS FASES DO PROCESSO DE AUDITORIA TRIBUTÁRIA O processo de auditoria tributária desenvolve-se em três fases principais, cada uma das quais constituída por diversas etapas: � 1ª fase - planeamento � 2ª fase – execução � 3ª fase – relato DGCI Manual de Auditoria Tributária II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página20 O processo de desenvolvimento de todas as fases do processo da auditoria tributária deve assentar em princípios geralmente aceites da auditoria contabilística ou financeira, sendo fundamental, nomeadamente, que: i. o trabalho seja devidamente planeado e acompanhado ii. seja suficientemente compreendido o negócio, a organização e gestão da empresa (sistemas de contabilidade, informática e controlo interno) e a sua situação fiscal por forma a determinar os procedimentos adequados iii. os procedimentos aplicados permitam obter durante a auditoria uma razoável base para aferir do grau de cumprimento fiscal da empresa iv. o trabalho efectuado e as conclusões obtidas sejam apropriadamente registados Cada uma das fases referidas do processo de auditoria, deve considerar no seu desenvolvimento as seguintes etapas: 1ª fase - Planeamento A primeira fase da auditoria é constituída por três etapas: i. avaliação do risco de incumprimento fiscal ii. definição da estratégia - plano de abordagem à auditoria iii. programação do trabalho A avaliação do risco de incumprimento fiscal da empresa, consiste em recolher e avaliar toda a informação que permite determinar as probabilidade do não cumprimento das normas fiscais, sendo composta por três pontos de avaliação: a) Análise da informação financeira e fiscal disponível/revisão analítica global – identificação de riscos específicos b) Conhecimento do negócio e da proactividade fiscal - avaliação dos riscos inerentes c) Controlo interno - organização contabilística, ambiente de controlo e procedimentos de controlo – avaliação do risco de controlo Depois de cumprida a primeira fase e obtidas as respectivas conclusões, o inspector/auditor está em condições de definir o plano (estratégia) de DGCI Manual de Auditoria Tributária II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 21 AICPA/ASB abordagem à auditoria, o qual consiste em determinar, face à avaliação do risco de incumprimento fiscal anteriormente efectuado, quais: a) as matérias relevantes para a auditoria b) as áreas contabilístico-fiscais a auditar Considerando as matérias relevantes para a auditoria, identificadas as áreas contabilístico-fiscais correspondentes e fixados os objectivos específicos da auditoria para cada área, desenham-se os procedimentos a utilizar para o efeito, resultando daqui os programas de trabalho por cada uma das áreas, tarefa que conclui a fase do planeamento da auditoria. 2ª fase - Execução A segunda fase corresponde ao trabalho de aplicação dos procedimentos e testes substantivos de detalhes de transacções e de saldos definidos nos programas de trabalho e de revisão analítica final, executados com vista a atingir os objectivos específicos traçados na fase do planeamento. 3ª fase - Relato Finalmente, a terceira fase refere-se à obtenção das conclusões gerais sobre o grau de cumprimento fiscal do contribuinte, verificando cuidadosamente se as provas obtidas são competentes e suficientes, de modo a garantir, nomeadamente, uma adequada fundamentação das correcções que porventura hajam que realizar e concluir o relatório. 2.3 A NORMALIZAÇÃO DA AUDITORIA A normalização cria as condições necessárias para que os inspectores/auditores focalizem a sua atenção apenas no trabalho de aplicação das ferramentas de trabalho disponíveis e não se desviem do essencial do que se lhes pede - resultados - em tarefas de concepção do que já há muito se encontra concebido e testado. Para a auditoria tributária é fundamental a existência de métodos que garantam a efectivação de todas as verificações consideradas imprescindíveis e de um modo tecnicamente adequado às circunstâncias, pelo que se torna importante o desenvolvimento de formas normalizadas de trabalho, tanto no campo dos procedimentos como da organização e do planeamento da auditoria A normalização do trabalho da auditoria tributária permite: DGCI Manual de Auditoria Tributária II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 22 IFAC OROC Normas Técnicas de Revisão/ Auditoria Directrizes de Revisão/ Auditoria i. melhorar os níveis de eficiência, evitando que para cada nova inspecção se reinicie todo o processo de desenvolvimento de métodos de trabalho, propiciadores de desvios à capacidade crítica necessária à análise dos factos emergentes da situação tributária dos contribuintes; ii. o acesso de todos os inspectores, independentemente das suas qualificações, aos procedimentos mínimos, garantindo assim que o trabalho final se aproxime de padrões de qualidade adequados; iii. inspecções/auditorias uniformizadas relativamente a todos os contribuintes que se encontrem em idênticas circunstâncias; iv. constituir uma base escrita de trabalho de actualização permanente, possibilitando o contributo de todos os agentes envolvidos em termos de integração nos mesmos de novas formas de organização ou de procedimentos de inspecção em função do conhecimento e evolução das matérias relacionadas com a auditoria, contabilidade e fiscalidade. Nos Estados Unidos da América as normas de auditoria são emitidas pela AICPA, o maior organismo nacional de auditoria com cerca de 350000 membros, sendo os princípios de auditoria geralmente aceites (Generally Accepted Auditing Standards - GAAS), emitidos pela primeira vez em 1947, constituídos por dez normas divididas em três categorias: � Normas gerais (três) � Normas de trabalho de campo (três) � Normas de relato (quatro) O Auditing Standard Board (ASB), órgão pertencente ao AICPA, é a entidade que emite as GAAS e as suas interpretações, designadas por Statement on Auditing Standards (SAS). Estas normas constituem os padrões mínimos de trabalho para os auditores, não sendo por isso consideradas como padrões máximos ou ideais de trabalho. A nível internacional existe, entre outros, um organismo denominado International Federation of Accountants (IFAC) que emite as normas de auditoria, designadas por International Auditing Standards (ISA) e que constituem a base essencial das normas em uso em Portugal. Em Portugal, o organismo reconhecido para regular o exercício da revisão/auditoria é a Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC) que é membro da IFAC e que tem como atribuição, entre outras, exercer jurisdição sobre tudo o que respeite à actividade de revisão legal de contas, auditoria às contas e serviços relacionados, de empresas ou de outras entidades, de acordo com as normas técnicas por si aprovadas ou reconhecidasix. DGCI Manual de Auditoria Tributária II PARTE A FUNÇÃOAUDITORIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 23 A OROC foi constituída em 1974 (então com a denominação de Câmara dos Revisores Oficiais de Contas), tendo emitido as primeiras Normas Técnicas de Revisão Legal de Contas (NTRLC) em 1983. Em 1994 a OROC emitiu novas normas de auditoria, denominadas Normas Técnicas de Revisão/Auditoria (NTRA). Estas normas compreendem as Normas Gerais, Normas de Trabalho de Campo e Normas de Relato e constituem os princípios básicos e os procedimentos essenciais a cumprir no desenvolvimento dos trabalhos de auditoria. As NTRA são suplementadas e desenvolvidas por Directrizes de Revisão/Auditoria (DRA) e supletivamente são aplicáveis as normas e recomendações de auditoria emitidas pela IFAC. Os esclarecimentos relativamente à aplicação das DRAs que sejam susceptíveis de aplicação generalizada são efectuados através de Interpretações Técnicas (IT). Na ausência de normas específicas para o desenvolvimento do trabalho de auditoria tributária, entende-se ser de seguir no presente trabalho, para algumas das partes do processo de auditoria, com as devidas adaptações, as normas de auditoria geralmente aceites e seus desenvolvimentos, e que não existindo outras, se podem considerar de aplicação universal. As referências específicas às NTRA, DRA e IT emitidas pela OROC que constituem na generalidade transposições das normas internacionais (ISAs) da IFAC e que são idênticas a outras normas utilizadas internacionalmente e também referidas no presente trabalho, como as SASs emitidas pela AICPA, o órgão regulador da actividade de auditoria nos EUA, justifica-se por estarem em língua portuguesa e serem o padrão dos trabalhos de revisão/auditoria em Portugal. Nestes termos, as normas que constituem referência ao longo do presente trabalho são as seguintes: � NTRA – Normas Técnicas de Revisão/Auditoria � DRA 230 – Papéis de Trabalho � DRA 300 – Planeamento � DRA 310 – Conhecimento do Negócio � DRA 320 – Materialidade Revisão/Auditoria � DRA 400 – Avaliação do Risco � DRA 410 – Controlo Interno � DRA 510 – Prova de Revisão/Auditoria CONSOLIDAÇÃO DA MATÉRIA – Exercícios com resposta de escolha múltipla: 1. O principal objectivo de uma auditoria financeira é: (a) assegurar que a empresa não cometeu qualquer tipo de fraude (b) assegurar que o balanço e as demonstrações financeiras estão DGCI Manual de Auditoria Tributária II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 24 preparadas de acordo com os requisitos contabilísticos mais relevantes (c) confirmar que os controlos dentro da empresa existem e são efectivamente aplicados (d) assegurar que as demonstrações financeiras espelham de forma verdadeira e apropriada a situação empresa 2. Uma auditoria fornece um número considerável de benefícios para uma empresa porque: (a) assegura aos destinatários das demonstrações financeiras que todas as fraudes foram detectadas (b) confirma a precisão dos relatórios da administração (c) garante que a informação financeira é verdadeira e apropriada (d) empresta credibilidade às demonstrações financeiras 3. Qual das seguintes afirmações se relaciona com a função de auditoria no relatório de contas: a) análise dos acontecimentos e transacções b) distribuição do relatório de auditoria aos accionistas no relatório de contas c) obtenção e avaliação da prova relativamente às demonstrações financeiras d) preparação das demonstrações financeiras em conformidade com o quadro formal das mesmas 4. Para a obtenção da prova para a asserção da existência, qual dos seguintes procedimentos deve o auditor utilizar: (a) comparar uma amostra de guias de remessa com as facturas respectivas (b) recalcular o total das depreciações do imobilizado (c) confirmar uma amostra de registos de créditos através de comunicação directa com o cliente (d) comparar uma amostra de facturas de venda com as respectivas ordens de venda 5. Questionar o pessoal do armazém relativamente à possibilidade de existência de bens obsoletos ou de rotação lenta contribui na obtenção da prova de auditoria para a asserção de: (a) Valorização (b) Existência (c) Direitos e obrigações (d) Integralidade 6. Um inspector definiu procedimentos para verificar se os juros contabilizados como custos de uma empresa dizem respeito a empréstimos titulados pelo próprio. A asserção a que se reporta esta verificação é: (a) Direitos e obrigações DGCI Manual de Auditoria Tributária II PARTE A FUNÇÃO AUDITORIA _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 25 (b) Integralidade (c) Existência (d) Ocorrência 6. O inspector/auditor deve assumir uma atitude de cepticismo profissional. Essa atitude obriga a: (a) utilização de um raciocínio lógico (b) manutenção de dúvida permanente sobre as demonstrações financeiras da empresa (c) avaliação objectiva sem recurso a presunções de honestidade ou desonestidade (d) necessidade de obtenção de fundamentação suficiente para satisfação das suas convicções iv Criado em 1957, como sucessor do American Institute of Accountants, cuja fundação remonta a 1887 e a primeira intervenção conhecida no domínio da normalização do trabalho de auditoria data de 1917 v Segundo o Auditing Concepts Committee “Report of the Committee on Basic Audit Concepts”, publicado no “The Accounting Review” – 1972 vi Decreto-Lei nº 487/99, de 16 de Novembro, artº 44º vii DRA 580 - Declaração do Órgão de Gestão e DRA 510 – Prova de Revisão Auditoria viii José Manuel da Silva, Revista Fiscália – 1995 ix Nos termos do Decreto-Lei 487/99, de 16 de Novembro, que aprova o Estatuto da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas DGCI Manual de Auditoria Tributária III PARTE PROVA, MATERIALIDADE E RISCO _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 26 Objectivos de formação Normas Técnicas de Revisão/Auditoria Competência e suficiência da prova III PARTE PROVA, MATERIALIDADE E RISCO No final da exposição da matéria, o formando deverá estar em condições de: i. Conhecer as características da prova e as principais técnicas utilizadas em auditoria para a sua obtenção ii. Entender o conceito de materialidade e as limitações da sua aplicação na auditoria tributária iii. Identificar os factores determinantes para a avaliação do risco de incumprimento fiscal e a sua relação com a materialidade e a prova 3.1 PROVA 3.1.1 CONCEITO DE PROVA A prova em auditoria é constituída pelo conjuntoda informação proporcionada pelos registos, documentos e corroborações que possibilita ao auditor chegar às conclusões sobre as quais se há-de basear a sua opinião. As Normas Técnicas de Revisão/Auditoria referem no seu parágrafo 19 relativo à parte das Normas de Trabalho de Campo que “o revisor/auditor deve obter prova de revisão/auditoria apropriada e suficiente, através de inspecções, observações, indagações, confirmações, cálculos e procedimentos analíticos, cuja realização e conclusões devem ser adequadamente documentados por forma a suportar a opinião”. A Directriz de Revisão/Auditoria 510 da OROC define orientação sobre a quantidade e qualidade da prova a ser obtida no exame de demonstrações financeiras e sobre os procedimentos a seguir para a obter. Na auditoria tributária pode-se definir prova como o conjunto da informação que permite concluir sobre a verdade material dos valores pagos ou registados nas declarações fiscais e fundamentar as correcções que devam ser efectuadas ao voluntariamente declarado pelo contribuinte. 3.1.2 CARACTERÍSTICAS DA PROVA A prova que suporta a opinião do auditor sobre as demonstrações financeiras ou sobre as declarações fiscais deve ser competente e suficiente. Tal significa que a prova deve exprimir simultâneamente duas DGCI Manual de Auditoria Tributária III PARTE PROVA, MATERIALIDADE E RISCO _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 27 características essenciais: i. qualidade de trabalho, de acordo com as normas técnicas em vigor e que seja relevante para uma asserção específica e respectiva credibilidade ii. quantidade de trabalho, isto é, a documentação obtida permita formar a prova sem deixar dúvidas. 3.1.3 CREDIBILIDADE DA PROVA A credibilidade da prova depende da respectiva fonte e da natureza da sua obtenção. No primeiro caso deve ser sempre presente que a informação externa é mais credível que a interna e que, no segundo caso, a informação escrita é sempre mais credível que a oral. A relevância da informação gerada internamente na empresa depende da credibilidade dos sistemas de controlo interno implementados, pelo que deve ser sempre encarada com essa reserva. Também, por outro lado, haverá que considerar que a informação escrita obtida externamente será mais credível se tiver sido obtida directamente pelo Inspector/Auditor em vez de o ser através da empresa inspeccionada, prerrogativa ao seu alcance nos termos do RCPIT. 3.1.4 PROCESSO DE OBTENÇÃO DA PROVA A prova obtém-se através de procedimentos de auditoria que se definem como instruções detalhadas para a obtenção dessa mesma prova. Os procedimentos de auditoria definem-se como o conjunto de técnicas utilizadas pelos auditores para executar o seu trabalho com vista a atingir os objectivos gerais da função. A prova deve ser obtida pelo auditor/revisor para cada uma das asserçõesc dos órgãos de gestão relativamente a cada uma das áreas das demonstrações financeiras. A escolha dos procedimentos e da suficiência da prova são da inteira responsabilidade do auditor, dependendo do controlo interno, do nível de materialidade definido, experiência anterior do auditor e da credibilidade da informação disponível. TIPOS DE PROCEDIMENTOS PARA OBTENÇÃO DA PROVA Os principais tipos de procedimentos de auditoria para a obtenção da prova são os seguintes: Inspecção - consiste na verificação de documentos, a qual pode ser efectuada: DGCI Manual de Auditoria Tributária III PARTE PROVA, MATERIALIDADE E RISCO _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 28 � partindo de um registo contabilístico para o documento – chamado teste à realidade dos registos � partindo de um documento para o registo contabilístico – chamado teste à exaustividade dos registos Exame físico - consiste na identificação física, em termos quantitativos ou qualitativos, de um registo ou “item” contabilístico Análise - análise sistemática ou comparativa entre informação relacionada, visando determinar coerências entre registos ou outros dados conhecidos. Varrimento (scanning) - exame visual de registos contabilísticos ou de documentos pesquisando anomalias ou inconsistências. Recálculo - consiste na repetição de cálculos efectuados pelo contribuinte, os quais podem ser efectuados manual ou informaticamente. Indagação - consiste em efectuar perguntas ao contribuinte com o objectivo de esclarecimento de assuntos relacionados com a sua actividade em termos contabilísticos, informáticos, comerciais, etc., com eventuais implicações na execução da auditoria ou no apuramento do seu resultado fiscal. Pode ser formulado e/ou respondido oralmente ou por escrito. Observação - visualização da actividade do contribuinte, em termos de movimentação de pessoas, bens, arquivos, armazéns, etc. Confirmação - obtenção de informação no exterior do contribuinte, também designado por cruzamento de informação, em regra por escrito: a) Este tipo de procedimento pode ser desenvolvido a partir de informação contida nas bases de dados da administração tributária, devendo constituir rotinas no âmbito das diversas tarefas de inspecção, por exemplo relativamente a clientes e fornecedores, por forma a determinar a realidade e exaustividade dos registos das operações efectuadas. b) Por princípio, a selecção dos clientes/fornecedores a cruzar deve ser efectuada de forma racional, tendo em conta a verificação de situações que suscitem dúvidas ao Inspector, nomeadamente: � cliente/fornecedor inserido em áreas de negócio de risco fiscal conhecido � identidade do cliente/fornecedor (natureza jurídica, comportamento fiscal eventualmente conhecido) � valor e frequência das regularizações efectuadas com determinados clientes/fornecedores (devoluções, descontos extra- factura, etc.) � natureza pouco usual de determinadas operações DGCI Manual de Auditoria Tributária III PARTE PROVA, MATERIALIDADE E RISCO _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 29 � relações especiais conhecidas com o sujeito passivo inspeccionado c) No essencial, este cruzamento deve reportar à análise de contas- correntes, devendo contudo em circunstâncias de presunção de comportamentos fraudulentos, ser possível aos próprios inspectores que efectuam a inspecção analisar em detalhe na contabilidade do cliente/fornecedor as operações suspeitas, incluindo notas de encomenda, guias de recepção, guias de remessa, facturas, recibos ou outros documentos julgados úteis. d) Também a verificação em cadeia pode ser considerado um procedimento de confirmação, consistindo em analisar umaoperação comercial seguindo-a a jusante e a montante, permitindo verificar se o fornecimento de determinados bens ou serviços, cujo custo e o respectivo IVA são dedutíveis, correspondem a transacções reais e se o IVA liquidado correspondente foi entregue nos cofres do Estado. Especificamente no que se refere ao IVA, basta que na cadeia um dos agentes não pague o imposto devido para que a perda para o Estado seja definitiva, dado que o imposto entregue nas fases subsequentes é calculado por diferença, no pressuposto que o imposto subtractivo já se encontra cobrado. TIPOS DE TESTES Os testes sendo também procedimentos de auditoria relacionam-se mais específicamente com objectivos que se visam atingir. A execução de um trabalho de inspecção obriga à utilização de técnicas de verificação adequadas e consistentes. A implementação de técnicas padrão específicas para cada área de inspecção ou matéria contabilístico-fiscal, permite garantir a correcta análise de cada ponto considerado, independentemente da perspectiva do Técnico encarregue do trabalho. Obviamente que, também neste domínio, caberá ao Inspector/Auditor saber utilizar as técnicas por forma a atingir os resultados esperados, significando isto que a sua utilização só será eficaz se a flexibilidade inerente às mesmas fôr adequadamente adaptada à realidade observada. O registo dessas técnicas em programas de trabalho permite a observação de modo continuado da sua eficácia, possibilitando assim a sua rectificação ou evolução para formas mais aperfeiçoadas de actuação. Essencialmente utilizam-se dois tipos de testes: testes de controlo que respeitam à obtenção da evidência de que os procedimentos de controlo interno são efectivos e consistem em geral em obter conclusões do tipo sim/não, certo/errado, determinando taxas de ocorrência, tendo por isso apenas o objectivo de testar atributos e não valores. DGCI Manual de Auditoria Tributária III PARTE PROVA, MATERIALIDADE E RISCO _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 30 Normas Técnicas de Revisão/Auditoria testes substantivos que respeitam à confirmação do adequado processamento contabilístico, expressão financeira e suporte documental das operações, comprovando o correcto tratamento fiscal. Os testes substantivos dividem-se ainda em duas categorias: � analíticos - correspondem ao estudo e comparação entre os registos contabilísticos e a informação relacionada, procurando determinar a coerência entre os valores registados e declarados e identificar variações anómalas nas contas; � de conteúdo - correspondem à verificação do processamento de operações consideradas individualmente através da análise dos documentos e respectivos registos contabilísticos. Os testes de conteúdo correspondem à análise dos movimentos e saldos das contas e de outros registos contabilísticos com a finalidade de se obter a evidência da sua credibilidade. Por exemplo, se a aplicação de um procedimento de inspecção a um documento visar assegurar a sua validade e do respectivo registo poderemos designar este procedimento como um teste substantivo. Se a inspecção a um documento visar assegurar que é aplicada uma medida de controlo interno, então estaremos perante um teste de controlo. Isto significa que ao olhar para um documento se está a aplicar um procedimento de inspecção, variando o tipo de teste relacionado com o procedimento conforme os objectivos que se pretendam alcançar. A selecção dos testes aplicáveis a uma determinada situação deve ser, em qualquer circunstância, adequada aos objectivos definidos e à avaliação efectuada do risco, estando porém os resultados obtidos condicionados pela credibilidade dos elementos de trabalho utilizados, devendo ter-se sempre em consideração os princípios básicos já enunciados sobre a origem e natureza da informação Em termos fiscais, a credibilidade das transacções decorre da possibilidade da sua comprovação através da existência de documentos externos, sendo que os testes substantivos devem ser sempre realizados tendo em consideração este princípio. A inexistência de documentos externos afecta, em princípio, o valor probatório da escrita, pelo que as conclusões obtidas nestas circunstâncias para além de não servirem de prova, resultam em perda substancial de tempo. A definição dos testes, natureza e extensão, decorre dos níveis de materialidade e de risco assumidos que serão abordados nos pontos a seguir. Existe também a chamada amostragem para a descoberta (ou exploratória) que visa encontrar pelo menos uma irregularidade, usada especialmente para detecção e investigação da fraude. DGCI Manual de Auditoria Tributária III PARTE PROVA, MATERIALIDADE E RISCO _________________________________________________________________________________________________________________________ Página 31 Directir de Revisão/Auditoria 320 Limites de materialidade 3.2 MATERIALIDADE 3.2.1 CONCEITO DE MATERIALIDADE A materialidade traduz-se na magnitude de uma omissão ou erro na informação contabilística que à luz das circunstâncias envolventes, torne provável que o julgamento de uma pessoa equilibrada e confiante possa ser alterado ou influenciado pela omissão ou erro. As Normas Técnicas de Revisão/Auditoria referem no seu parágrafo 14 relativo à parte das Normas de Trabalho de Campo que “na determinação do risco de revisão/auditoria, o revisor/auditor deve usar o seu julgamento tendo em conta a materialidade e o relacionamento desta com aquele risco. Considera-se que uma informação é materialmente relevante se a sua omissão ou distorção puder influenciar as decisões dos utilizadores das demonstrações financeiras” Também, o parágrafo 15 refere que “o revisor/auditor deve planear o trabalho de campo e estabelecer a natureza, extensão, profundidade e oportunidade dos procedimentos a adoptar, com vista a atingir o nível de segurança que deve proporcionar e tendo em conta a sua determinação do risco da revisão/auditoria e a sua definição dos limites de materialidade”. A Directriz de Revisão/Auditoria 320d da OROC estabelece normas e proporciona orientação sobre o conceito de materialidade e o seu relacionamento com o risco de revisão/auditoria. A definição do que é material é assunto do julgamento profissional do auditor. Este julgamento envolve a definição de valor (quantidade) e natureza (qualidade) dos erros, o qual deverá considerar a globalidade das demonstrações financeiras ou dos valores fiscalmente declarados. 3.2.2 JULGAMENTO PRELIMINAR E LIMITES DE MATERIALIDADE Os limites de materialidade são o ponto a partir do qual um item de informação se torna material para o juízo ou decisões de uma pessoa razoável, podendo existir diferentes níveis de materialidade, de acordo com as rubricas das demonstrações financeiras ou das declarações fiscais. O nível de materialidade deve ser definido pelo inspector, tendo em consideração essencialmente os objectivos da auditoria, devendo contudo o planeamento e execução da auditoria ter sempre como horizonte a possibilidade de detecção de todas as anomalias