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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO DIRETORIA DE ENSINO E CULTURA ESCOLA SUPERIOR DE SOLDADOS “CORONEL PM EDUARDO ASSUMPÇÃO” CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA APOSTILA DE DIREITO PENAL MILITAR Departamento de Ensino e Administração Divisão de Ensino e Administração Seção Técnica e Seção Pedagógica APOSTILA ATUALIZADA EM MAIO DE 2014 1 DIREITO PENAL MILITAR É aplicado no Brasil desde o tempo do Império, quando a família real veio para o Brasil e organizou o primeiro Tribunal que a nação conheceu, o Supremo Conselho Militar e de Justiça, que posteriormente se transformou no Superior Tribunal Militar (STM). É o ramo do Direito relacionado à legislação das Forças Armadas. Tem sua origem no Direito Romano, onde era utilizado para manter a disciplina das tropas da Legião Romana. É conhecido como Direito Castrense, ou seja, palavra de origem latina, que designa o direito aplicado nos acampamentos do Exército Romano. O vigente Código Penal Militar (CPM) data de 1969 e alcança os integrantes das Forças Armadas, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. Aplicação da Lei Penal Militar 1) Reserva Legal: “art 1º - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. 2) Irretroatividade da Lei: a mais benéfica retroage ( excetua-se os efeitos de natureza civil). 3) Lei excepcional ou temporária: aplica-se ao fato praticado durante sua vigência mesmo depois de finda. 4) Tempo: ação/atividade ( ex: atirou, com vontade de matar dia 01; morreu dia 30). 5) Local: ação ou resultado- ( ex: atirou em São Paulo; morreu no Paraná). 6) Aproveitamento de Pena estrangeira: computação, atenuante. Art. 122 CF: trata sobre o STM; Tribunais Militares e Juízes Militares (Conselhos de Justiça). Art. 124 CF: “ à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei”. Art. 125 CF: “ Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 3º A lei estadual poderá criar mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar Estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes. § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao Tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. 2 § 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares. O CPM (Código Penal Militar) é integrante do sistema jurídico nacional – (Sistema harmônico). Parte geral: Crimes militares em tempo de paz; Crimes militares em tempo de guerra. Parte especial: Títulos penais em tempo de paz; Títulos penais em tempo de guerra. Art.9º Crimes militares em tempo de paz (tipicidade indireta) (crimes propriamente militares). Inciso I- ( federal- qualquer agente), estadual: militar da ativa. Inciso II- por militar. Inciso III- inativos ou civis. Art.42 CF- Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES E IMPROPRIAMENTE MILITARES Doutrinariamente, identificam-se dois tipos de crimes militares, a saber: I-Crimes propriamente militares: São aqueles somente definidos no CPM(art.9º,incisoI). São delitos em que ocorrem infrações específicas e funcionais da vida militar, os quais ofendem diretamente a instituição e cujas hipóteses delituosas estão previstas nos títulos I,II,III e IV da parte especial do CPM. São exemplos de crimes propriamente militares: o motim, a revolta, a insubordinação, a deserção, a falta do cumprimento do dever, o abandono de posto e o atentado contra a soberania nacional. II- Crimes impropriamente militares. São crimes igualmente definidos no CPM (art. 9º inciso II) e na lei penal comum e que, por um artifício legal, tornam-se militares por se enquadrarem em uma das várias hipóteses do inciso referido, sendo seu requisito fundamental de aplicabilidade a condição de militar da ativa do agente. 3 Obs: No tocante à Justiça Militar Estadual cumpre destacar que, por força do art.125, parágrafo 4º da CF e art. 81 da Constituição Estadual, compete a ela processar e julgar militares estaduais e não civis. Portanto, o civil não figura como indiciado em Inquérito Policial Militar na esfera estadual. Cumpre ainda ressaltar que nos crimes impropriamente militares, as condições, circunstâncias e locais de ocorrência que os caracterizam estão relacionadas no inciso II do art.9º do CPM. DOS CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ ( art.9º do CPM) As infrações penais militares são definidas pela lei penal no art. 9º, inciso I, II, e III do Código Penal Militar, conforme abaixo: Art.9º- Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I- Os crimes de que trata este código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial: trata dos crimes cuja previsão só ocorre no CPM, como o crime de insubmissão, desacato a superior e dormir em serviço; não encontrados no Código Penal Comum. Cabe ressaltar que a Justiça Militar Estadual somente pode processar e julgar crimes militares cometidos por Policiais Militares. Difere da Justiça Militar Federal que processa e julga crimes militares cometidos por quem quer que seja(militares federais,estaduais ou civis).Logo, havendo atentado contra Quartel da Polícia Militar praticado por civil, responderá perante as lesões e danos a bem jurídicos perante a Justiça Criminal Comum. II-Os crimes previstos neste código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: Ex: quando ocorre essa dupla previsão, é necessário verificar se o crime se encaixa em alguma hipótese deste inciso. Havendo o preenchimento de alguma dessas condições abaixo explicadas, o crime passa a ser militar e será julgado pela Justiça Militar. Usaremos o exemplo do crime de lesão corporal que é previsto tanto no Código Penal Comum- art.129, quanto no CPM- art.209. É portanto um crime que se transforma em militar se ocorrer alguma hipótese do art. 9º inciso II, alíneas “a”, “b”, “c”, “d” ou “e” do CPM. a)por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado. Ex: caso um militar da ativa lesione a integridade física de outro militar da ativa, independente do local, não responde na Justiça Comum, mas sim na Militar. (militar contra militar-critério em razão da pessoa). b) por militar em situação de atividade ou assemelhado em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado ou civil. Ex: militar da ativa 4 que pratica lesão corporal no Quartel, Base Comunitária ou qualquer local sob a administração militar e a vítima é militar da reserva, reformado ou civil, responde na Justiça Militar. Se for contra militar da ativa, a hipótese que transforma o crime comum em militar é a alínea “a”. Basta estar em local militar, não precisa estar em serviço o militar da ativa. c) por militar em serviço,ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil. Esta hipótese se refere ao militar em serviço ou de folga, desde que em razão da função (prisão em flagrante estando de folga). Independe do local em que ocorre o delito, pode ser em via pública, basta que o militar esteja em serviço ou de folga, atue em razão da função policial militar que é a preservação da ordem pública. Independe a vítima: militar da reserva, reformado ou civil. Ex: PM em patrulhamento na via pública pratica lesão corporal contra civil. Outro exemplo: PM de folga e em trajes civis, usando arma particular presencia crime de roubo e para efetuar prisão em flagrante pratica lesão corporal contra meliante. Independe do local e independe da vítima ( se for militar da ativa, é também crime militar, porém recai na letra “a” do inciso II do art.9º), basta estar em serviço ou folga atuar em razão da função. d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva ou reformado, ou civil. Obs: aqui o crime se transforma em militar, quando o militar pratica em nosso exemplo lesão corporal contra militar da reserva, reformado ou civil em período de manobras ou exercício. Contra militar da ativa, recai no art.9º. e)por militar em situação de atividade , ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar ou a ordem administrativa militar. Obs: Não precisa estar em serviço para que o crime seja militar, basta ser militar da ativa e atentar contra a administração militar. Ex: Concussão, art.305 CPM-“ Exigir para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena- reclusão, de 2(dois) a 8 (oito) anos.” III- os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra ad instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: Obs: o inciso III do art. 9º do CPM transforma o crime comum em militar quando praticado por civil, militar da reserva ou reformado. Cabe relembrar que a Justiça Militar Estadual não pode julgar crime militar praticado por civil, haja vista a CF restringir sua competência para processar e julgar crimes militares praticados por policiais e bombeiros militares. Assim, se um civil furta objeto em Quartel da PM responde por furto na Justiça Criminal Comum. Se civil furta objeto em Quartel das Forças Armadas, 5 responde por furto na Justiça Militar Federal. Para a Justiça Militar Estadual, este artigo é aplicado ao militar da reserva ou reformado, jamais o civil. Ainda, o crime deve ter por foco atentar contar as Instituições Militares (lesão corporal praticada por Soldado Reformado contra Militar da ativa é crime comum). a) contra o patrimônio sob administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação da atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério Militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao cargo c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito á administração militar, contra militar em função da natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação de ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior. Parágrafo único: os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão de competência da Justiça Comum (Tribunal do Júri). Parágrafo acrescido pela Lei 9.299/96. Cabe lembrar que os crimes não previstos na parte especial do CPM, jamais poderão ser julgados pela Justiça Militar, seja seu autor militar, seja contra militar. Ex: porte de arma, prática de racismo, abuso de autoridade, tortura; sempre julgados pela Justiça Comum, ainda que praticados por militar, ou seja que a vítima seja militar, por falta de tipificação no CPM. Ainda, os crimes dolosos contra a vida de civil são da competência do Tribunal do Júri, por expressa disposição constitucional (art.125 §4º da CF “ Compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao Tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças”). CRIMES MILITARES EM TEMPO DE GUERRA Art.10. Consideram-se crimes militares em tempo de guerra: I- os especialmente previstos neste código para o tempo de guerra; II- os crimes militares previstos para o tempo de paz; III- os crimes previstos neste código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o agente: 6 a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado; b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a segurança externa do País ou podem expô-la a perigo; IV- os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos neste código, quando em zona de efetivas operações militares ou em território estrangeiro militarmente ocupado. MILITAR - CONCEITO Art.22- É considerada militar, para efeito da aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às Forças Armadas, para nelas servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar. SUPERIOR - CONCEITO Art.24-O militar que, em virtude de função, exerce autoridade sobre outro de igual posto ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal. TÍTULO IV DO CONCURSO DE AGENTES Coautoria Art.53. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas. Condições ou circunstâncias pessoais §1º. A punibilidade de qualquer dos concorrentes é independente da dos outros, determinando-se segundo a sua própria culpabilidade. Não se comunicam, outrossim as condições ou circunstâncias da caráter pessoal, salvo quando elementares ao crime. Cabeças §4º Na prática de crime de autoria coletiva necessária, reputam-se cabeças os que dirigem, provocam, instigam ou excitam a ação. §5º Quando o crime é cometido por inferiores e um ou mais oficiais, são estes considerados cabeças, assim como os inferiores que exercem função de oficial. Obs: Cabeça: esta nomenclatura existe apenas no CPM. Casos de impunibilidade. 7 Art.54- O ajuste, salvo determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição em contrário, não são puníveis se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. TÍTULO II DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA MILITAR Capítulo I DO MOTIM E DA REVOLTA Visa o legislador proteger a autoridade dos superiores e também a disciplina militar, inibindo reuniões que tenham o cunho de afrontar os regimentos disciplinares, administrativos e operacionais. Motim Art.149-Reunirem-se militares ou assemelhados: I-agindo contra a ordem recebida de superior ou negando-se a cumpri-la; II-recusando obediência a superior, quando estejam agindo sem ordem ou praticando violência; III-assentindo em recusa conjunte de obediência, ou em resistência ou violência, em comum, contra superior; IV-ocupando Quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento militar, ou dependência de qualquer deles,hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios de transporte, para ação militar, ou prática de violência, em desobediência à ordem superior ou em detrimento da ordem ou de disciplina militar. Pena-reclusão de 4 (quatro) a 8(oito) anos, com aumento de um terço para os cabeças. Obs: bastam dois militares para se configurar o crime. Revolta Parágrafo único- Se os agentes estavam armadas: Pena: reclusão de oito a vinte anos, com aumento de um terço para os cabeças. Caracteriza o motim a franca disposição dos militares na recusa em obedecer à ordem legal de superior usando os amotinados, às vezes, de resistência com violência. Vale lembrar que o CPM diz que conceito de superior se traduz da seguinte maneira: “o militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre o outro de igual posto ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar”. Na verdade, a revolta é uma forma qualificada do crime de motim. Assim, o que caracteriza a revolta é motim onde os agentes se encontram armados. 8 Deve-se ressaltar que o legislador prevê aumento de pena para os cabeças do motim ou da revolta, aumentando-a em um terço para os líderes dos delitos. Obs: o crime de motim e de revolta exige-se mais de dois agentes para a caracterização do delito, que é cometido por grupos. Diz também o artigo da figura do assemelhado, entendido como tal servidor, efetivo ou não, da organização militar, em virtude de lei ou regulamento. Organização de grupo para a prática de violência Art.150 – Organização de grupo para a prática de violência Reunirem-se dois o mais militares ou assemelhados com armamento ou material bélico, de propriedade militar, praticando violência à pessoa ou à coisa pública ou particular em lugar sujeito ou não à administração militar. Pena: reclusão de quatro a oito anos. Omissão de Lealdade Militar Art.151- Omissão de lealdade Militar. Deixar o militar ou assemelhado de levar ao conhecimento do superior o motim ou revolta de cuja preparação teve notícia, ou, estando presente ao ato criminoso, não usar de todos os meios ao seu alcance para impedi-lo. Pena: reclusão de três a cinco anos. Verifica-se, no tipo penal em estudo, que duas são as formas de cometimentos de omissão de lealdade militar: 1)deixar de levar ao conhecimento do superior; e 2)estando presente ao ato criminoso, não tentar impedi-lo. Deve-se salientar que o agente deste delito não se confunde com o crime de motim, mas sim aquele que apesar de não participar do delito de motim, omite-se em impedir sua consumação. Conspiração Art.152- Concertarem-se militares ou assemelhados para a prática do crime previsto no artigo 149: Pena- reclusão, de três a cinco anos. Isenção da pena Parágrafo único: é isento de pena aquele que, antes da execução do crime e quando era ainda possível evitar-lhe as consequências, denuncia o ajuste de que participou. Violência contra superior Art.157- Praticar violência contra superior: Pena-detenção, de três meses a dois anos. 9 Formas qualificadas §1º Se o superior é comandante da unidade a que pertence o agente, ou oficial general; Pena: reclusão, de três a nove anos. §2º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um terço. §3º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da violência, a do crime contra a pessoa. §4º Se da violência resulta morte: Pena- reclusão, de doze a trinta anos. §5º A pena é aumentada da sexta parte, se o crime ocorre em serviço. Violência contra militar de serviço Art.158: Praticar violência contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou plantão: Pena: reclusão de três a oito anos. Formas qualificadas §1º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um terço. §2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da violência, a do crime contra a pessoa. §3º Se da violência resulta morte: Pena- reclusão, de doze a trinta anos. Desrespeito a superior Art.160- Desrespeitar superior diante de outro militar: Pena- detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Desrespeito a comandante, oficial general ou oficial de serviço. Parágrafo único: Se o fato é praticado contra o comandante da unidade a que pertence o agente, oficial-general, oficial de dia, de serviço ou de quarto, a pena é aumentada da metade. CAPÍTULO V DA INSUBORDINAÇÃO Recusa de Obediência Art.163- Recusar obedecer à ordem do superior sobre assunto ou matéria de serviço, ou relativamente a dever imposto em lei, regulamento ou instrução: Pena: detenção de um a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave. O crime caracteriza-se pela fala de subordinação, ou seja, não querer voluntariamente cumprir ordem legal determinada por superior. 10 A ordem deve ser legal, não importando se verbal ou escrita. Deve a mesma ter sido dada por superior. Para caracterização do delito em estudo é necessário que a ordem do superior verse sobre assunto ou matéria de serviço, Encontramos, então, consequentemente, o seu respaldo no dever que a própria lei regulamenta, ou na instrução imposta ao subordinado. Oposição à Ordem de Sentinela e Reunião Ilícita Art.164- Opor-se à ordem da sentinela: Pena: detenção, de seis meses a um ano, se o fato não constitui faro mais grave. Publicação ou Crítica Indevida Art.166- Publicar o militar ou assemelhado, sem licença, ato ou documento oficial, ou criticar publicamente ato de seu superior ou assunto atinente à disciplina militar, ou qualquer resolução do governo. Pena: detenção de dois meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. O tipo penal abrange tanto a publicação, sem licença, de documento oficial, como a crítica de ato superior à disciplina militar e a resolução do governo. TÍTULO III DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO MILITAR E O DEVER MILITAR DESERÇÃO Art. 187- “ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias”. Pena: detenção, de seis meses a dois anos, se oficial, a pena é agravada. Inicialmente, antes de se tratar da deserção, necessário verificar o pressuposto do crime em questão, que é a ausência ilegal. Esta figura não configura norma penal militar, mas sim o caminho natural ao cometimento do delito capitulado no art. 187 do CPM, crime de deserção. Assim, a conduta do militar que, após término regular de seu afastamento como folga de serviço, conclusão de afastamento de ordem médica, término de licença sem vencimentos ou dispensa, não se apresenta à sua unidade de origem, dá condições para se iniciar a contagem do período de consumação em estudo, que se concretizará com o transcurso de oito dias fora da unidade. Enquanto perdurar somente a ausência ilegal, o PM estará sujeito a enquadramento disciplinar (RDPM-Lei Complementar nº 893/01) ou, mais precisamente, enquadrado no nº 2 do parágrafo 1º do art. 12 do citado regulamento. A conduta do ausente ofende basicamente a dignidade militar ou profissional, não se constituindo assim em crime propriamente dito. 11 Devemos esclarecer que a falta ao serviço, desde que não cientificada, também caracteriza marco inicial da contagem do prazo para a caracterização do crime de deserção. Começa a contagem do prazo a 00h00(zero hora) do dia imediatamente posterior ao que o PM deixou de apresentar-se ou tenha falta ao serviço. Entende-se que, no caso de falta ao serviço, em especial, até o horário previsto para término do mesmo, o PM estará apenas atrasado para cumpri-lo. No espaço de tempo entre o horário previsto para o término e à 00h00(zero hora) subsequente, estará o PM respondendo pela falta ao serviço. Por fim, após à 00h00 (zero hora) do primeiro dia seguinte ao términoprevisto do serviço, estará o PM em ausência ilegal. O tempo compreendido entre a formalização e a consumação da deserção é de 08(oito) dias, calculados como no caso de ausência ilegal. O início da ausência ilegal inclui-se ao início da contagem do prazo para a consumação do crime de deserção. O dispositivo refere-se a ficar fora da unidade em que serve por mais de 08 (oito) dias, sem a devida autorização legal. Segundo o art. 188 do CPM, incorre também nas penas do crime de deserção aquele que: I)não se apresenta no lugar designado, dentro de 08(oito) dias, findo o prazo de trânsito ou férias; II) deixa de apresentar à autoridade competente dentro do prazo de 08(oito) dias, contados daquele em que termina ou é cassada a licença ou agregação ou em que é declarado estado de sítio ou de guerra; III) tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro de 08(oito) dias; e IV) consegue exclusão do serviço ativo ou situação de inatividade, criando ou simulando incapacidade. Resumo para consumação de deserção no caso de falta ao serviço: 1)Se chegar até o horário previsto para o término do serviço, será enquadrado por chegar atrasado para o serviço. 2)Se chegar após primeira 00h00(zero hora) seguinte ao término e antes da primeira hora (00h00): será enquadrado por falta ao serviço. 3)Se chegar após primeira 00h00(zero hora) seguinte ao término do serviço e antes de completar 08(oito) dias: será enquadrado por ausência ilegal. 4)Se chegar após 08(oito) dias da primeira 00h00(zero hora) seguinte ao término do serviço responderá pelo crime de deserção. 12 Abandono de Posto Art. 195- Abandono de Posto. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de serviço que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo: Pena: detenção de 03(três) meses a 01(um) ano. Nota-se pelo enunciado do artigo que o abandono se dá quando da inexistência de uma ordem superior ou um prévio aviso para que tal ocorra. Deve o PM estar devidamente escalado em um posto fixo de serviço ou ainda em qualquer lugar de serviço previamente determinado. Caracteriza também o abandono de posto a situação em que o PM deixa o serviço que lhe cumpria antes de termina-lo, conforme preestabelecido. A escala prévia mencionada pode ser tanto verbal como escrita. É delito instantâneo, consuma-se com o abandono do local que deveria guarnecer. Posto é um lugar fixo, enquanto que lugar de serviço é local mais amplo (subsetor, setor, área). O abandono de posto visa proteger o dever militar, não havendo necessidade de dano para configurar o delito. Já o abandono do serviço ocorre com a retirada antes do término (Policial Militar que abandona o subsetor e dirige-se ao Quartel). Embriaguez em Serviço Art. 202- Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para prestá-lo. Pena: detenção de 06(seis) meses a 02(dois) anos. Note-se que, responde pelo crime tanto o PM que estando em serviço se embriaga, como aquele que se apresenta para o serviço embriagado. Dormir em Serviço Art.203- Dormir o miliar, quando em serviço, como Oficial de quarto ou de ronda, ou em situação equivalente, ou, não sendo Oficial em serviço de sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme, de ronda ou em qualquer serviço de natureza semelhante. Pena: detenção, de 03(três) meses a 01(um) ano. A situação do crime é específica: oficial, de serviço ou situação equivalente. Quando o militar não for oficial; quando estiver em serviço de sentinela, vigia, plantão, ronda ou serviços semelhantes. TÍTULO VII DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR Capítulo I 13 DO DESACATO E DA DESOBEDIÊNCIA Desacato a Superior Art.298- Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, ou procurando deprimir- lhe a autoridade; Pena: reclusão, até 04(quatro) anos, se o fato não constitui crime mais grave. Agravação da Pena Parágrafo único: A pena é agravada, se o superior é Oficial General ou Comandante da unidade a que pertence o agente. Obs: o superior deve estar na função ou a ofensa ser em razão dela. Desacato a Militar Art.299- Desacatar militar no exercício de função de natureza militar ou em razão dela. Pena: detenção, de 06(seis) meses a 02(dois) anos, se o fato não constitui outro crime. Obs: Na Polícia Militar, se o fato é praticado por civil, este responderá pelo desacato do Código Penal Comum. Desacato a assemelhado ou funcionário Art.300- Desacatar assemelhado ou funcionário civil no exercício de função ou em razão dela, em lugar sujeito à administração militar. Pena: detenção, de 06(seis) meses a 02(dois) anos, se o fato não constitui outro crime. Ingresso Clandestino Art. 302- Penetrar em fortaleza, quartel, estabelecimento militar, navio, aeronave, hangar ou em outro local sujeito à administração militar, por onde seja defeso ou não haja passagem regular, ou iludindo a vigilância da sentinela ou de vigia. Pena: detenção, de 06(seis) meses a 02(dois) anos, se o fato não constitui crime mais grave. CAPÍTULO VI DOS CRIMES CONTRA O DEVER FUNCIONAL Violação do dever funcional com o fim de lucro Art.320- Violar, em qualquer negócio de que tenha sido incumbido pela administração militar, seu dever funcional para obter especulativamente vantagem pessoal, para si ou para outrem: Pena: reclusão, de 02(dois) a 08(oito) anos. Violação de sigilo funcional Art. 326- Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo ou função e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação, em prejuízo da administração militar. Pena: detenção, de 06(seis) meses a 02(dois) anos se o fato não constitui crime mais grave. Patrocínio indébito 14 Art. 334- Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração militar, valendo-se da qualidade de funcionário ou de militar. Pena: detenção, de até 03(três) meses. CAPÍTULO VII DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR Usurpação de função Art. 335- Usurpar o exercício de função em repartição ou estabelecimento militar. Pena: detenção, de 03(três) meses a 02(dois) anos. Tráfico de Influência Art.336- Obter para si ou para outrem vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em militar ou assemelhado ou funcionário de repartição militar, no exercício de função. Pena: reclusão, até 05(cinco) anos. Aumento da pena Parágrafo único: A pena é agravada, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao militar ou assemelhado, ou ao funcionário. TÍTULO VIII DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA MILITAR Desacato Art.341- Desacatar autoridade judiciária militar no exercício da função ou em razão dela. Pena: reclusão, até 04(quatro) anos. Coação Art. 342- Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona, ou é chamada a intervir em inquérito policial, processo administrativo ou judicial militar. Pena: reclusão, até 04(quatro) anos, além da pena correspondente à violência. Auto - acusação falsa Art.345- Acusar-se, perante a autoridade, de crime sujeito à jurisdição militar, inexistente ou praticado por outrem. Pena: detenção, de 03(três) meses a 01(um) ano. Corrupção ativa de testemunha, perito ou intérprete 15 Art.347- Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, tradução ou interpretação, em inquérito policial, processo administrativo ou judicial, militar, ainda que a oferta não seja aceita. Pena: reclusão, de 02(dois) a 08(oito) anos. Desobediência à decisão judicial Art.349- Deixar, sem justa causa, de cumprir decisão da Justiça Militar, ou retardar ou fraudar o seu cumprimento.Pena: detenção, de 03(três) meses a 01(um) ano. Favorecimento pessoal Art. 350- Auxiliar a subtrair-se à ação da autoridade autor de crime militar, a que é cominada pena de morte ou reclusão. Pena: detenção, até 06(seis) meses. Favorecimento real Art. 351- Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito de crime. Pena: detenção, de 03(três) meses a 01(um) ano. Inutilização, sonegação ou descaminho de material probante Art.352- Inutilizar, total ou parcialmente, sonegar ou dar descaminho a autos, documento ou objeto de valor probante, que tem sob guarda ou recebe para exame. Pena: detenção, de 06(seis) meses a 03(três) anos, se o fato não constitui crime mais grave. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ASSIS, Jorge César. Comentários ao Código Penal Militar. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2001 BRASIL, Decreto-Lei nº 1.001. de 21 de outubro de 1969, Institui o Código Penal Militar; COIMBRA, Cícero Robson. STREINFINGER, Marcelo. Apontamentos de Direito Penal Militar, volume 1. São Paulo: Saraiva, 2005. COIMBRA, Cícero Robson. STREINFINGER, Marcelo. Apontamentos de Direito Penal Militar, volume 2. São Paulo: Saraiva, 2007.