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ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO DE XANGAI Cecília Luczynski Magalhães e Júlia Corvelo Delboni Profª Drª Carolina Rigotti Coutinho 1 Organização para Cooperação de Xangai Este estudo apresenta uma análise da Organização para Cooperação de Xangai (OCX) e sua importância para a integração chinesa, ao passo que trata também da maneira como esta é percebida em sentido global, a partir das acepções das correntes do realismo e do liberalismo. Dessa forma, busca-se compreender a estrutura da organização, seu surgimento e importância no cenário internacional e assuntos englobados por sua agenda. A partir desses aspectos, objetiva-se então alcançar uma maior compreensão de seu impacto e atuação na integração entre os países que compõem o bloco. Assim, criada oficialmente em 15 de julho de 2001, a Organização para Cooperação de Xangai é considerada uma OI relativamente recente, a qual possui os seguintes países-membros: Cazaquistão, República Popular da China, Índia, Quirguistão,Paquistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão. Além destes, têm-se a Mongólia e Irã em negociação para entrada no bloco, sendo admitidos como Estados observadores. Sendo assim.Dessa maneira, a organização soma mais de 1,5 bilhões de pessoas, com PIB que ultrapassa os 12,4 trilhões de dólares e 30,2 milhões de quilômetros quadrados em extensão territorial, tendo se consolidado como detentora de mais de 30% de toda a população do planeta e cerca de 25% do PIB deste, adquirindo crescente importância com o passar do tempo. Nesse sentido, possui-se como objetivos do bloco tratado, a cooperação internacional com especial enfoque em aspectos econômicos e militares de maneira a intensificar a integração euroasiática. Dessa forma, têm-se como metas principais da Organização para Cooperação de Xangai: 1. Combater o terrorismo em âmbitos nacional e internacional; 2. Promover a cooperação militar com ênfase na promoção de segurança internacionais entre os países-membros; 3. Desestimular e contrapor ações separatistas; 4. Estimular e promover a cooperação econômica eurásia entre os países-membros. Nesse caminho, as principais finalidades da Organização de Cooperação de Xangai, conforme descrito no site da OCX, são: Fortalecimento da confiança mútua e das relações de boa-vizinhança entre os estados membros; promovendo sua efetiva cooperação nos negócios políticos, econômicos e de comércio, nas esferas técnico-científica, cultural e educacional, como também em energia, transporte, turismo e nos campos da proteção ambiental; juntamente salvaguardando e introduzindo a paz, a segurança e a estabilidade regionais; esforçando-se para a criação de uma nova ordem política e econômica internacional democrática, justa e razoável. Já em relação à estrutura organizacional da Organização, possui dois órgãos permanentes, sendo eles: Estrutura Antiterrorista Regional(RATS) e o Secretariado. O primeiro tem como papel o treinamento e ações de prevenção ao terrorismo, ao passo que o segundo combina as bases de dados dos países membros e auxilia no fornecimento de inteligência. 2 Histórico da Organização para a Cooperação de Xangai Resultante de uma atividade diplomática chinesa, ocorreu, no dia 26 de abril de 1996, uma reunião na cidade de Xangai - na China -, da qual participaram os seguintes Estados: República Popular da China, Cazaquistão, Rússia, Quirguistão e Tadjiquistão, os quais ficaram conhecidos como “Os cinco de Xangai”. Nesse encontro, possuía-se como objetivo aproximar os estados militarmente, tendo sido assinado um tratado de Aprofundamento e Confiança Militar. Já no ano seguinte, em 1997, ocorreu um segundo encontro entre as cinco nações, no qual foi decidida a adesão em um outro tratado, cuja importância está relacionada à redução dos gastos militares nas fronteiras com os Estados “amigos”. Nos anos seguintes, há a assinatura de protocolos de não-interferência nos assuntos internos internos de outros países-membros sobre nenhuma hipótese, garantindo assim a soberania destes e buscando evitar a intervenção dentro de seus territórios. Nesse contexto, a Organização para a Cooperação de Xangai é oficialmente criada no dia 15 de junho de 2001, ano no qual também se assegurou a entrada do Uzbequistão no bloco. Além disso, desde sua criação tem-se ao menos uma reunião anual entre os Estado que fazem parte da Organização, quando se discute uma variedade de temas. Em seu histórico, por exemplo, já se discutiu desde Economia ao Separatismo e Extremismo, sendo uma das OI’s com agenda mais variada do globo. 3 A importância da Organização para Cooperação de Xangai Conforme a concepção de Peter Drucker, a Organização para Cooperação de Xangai se consolida como um importante impacto à estratégia chinesa de maior inserção no cenário internacional. Isso se dá tendo em vista que essa OI é o primeiro tratado de cooperação de iniciativa chinesa e que tem em seu território Pequim como detentor de um papel essencial em tal associação. Além disso, consolida-se como um passo de grande relevância na integração eurásia, uma vez que, torna-se uma iniciativa que abrange não só aspectos econômicos e militares, mas também tecnológicos, sociais e de desenvolvimento, embora com menor ênfase. A criação da OCX também deve ser analisada sob a ótica de balança de poder, visto que, apesar de ter surgido com o objetivo de prover mais segurança para Estados não-ocidentais, é interpretado por estudiosos como uma reação à Organização do Tratado do Atlântico Norte, sendo um fortalecimento das relações sino-russas e à hegemonia norte-americana. Tal aspecto se deve pelo estreitamento de relações sino-russas, as quais vinham sendo fortalecidas economicamente e, a partir influência da Organização de Cooperação de Xangai, também militarmente. Consequentemente, têm-se a OI desempenha um papel importante nas discussões acerca dos interesses das três potências globais do período atual. Ademais, é necessário ressaltar a importância da Organização para Cooperação de Xangai no que tange a chegada de variadas discussões dentro das organizações internacionais. Desse modo, em seus dezoito anos de existência a OCX se consolidou como detentora de um dos - não o maior - blocos com agenda mais abrangente e diversificada na história mundial. Essa situação se deve ao fato de suas discussões já terem abrangido a Crise Financeira e o Desemprego, a Guerra ao Terror, o Separatismo, o Extremismo, a Cooperação Militar e a Economia, sendo boladas diversas estratégias para estas. Tendo em vista tais aspectos, levantamentos acerca de tal Acordo revelam resultados notáveis na cooperação entre os países-membros da Cooperação de Xangai. Sendo estes: no fortalecimento de intercâmbios comerciais, nos aumento de investimento e resultados positivos de projetos de desenvolvimento e nos avanços na interligação dos países-membros por meios de transporte. Assim, percebe-se que o crescimento do fluxo comercial entre a China e os países da OCX cresceram mais de 20% em 2017 e 2018 quando comparado aperíodos anteriores e que se obtêm mais êxito em projetos relacionados à energia e aos oleodutos quando se trata de iniciativas interligadas entre os Estados participantes do tratado em questão, ressaltando a importância deste para os territórios euroasiáticos. A Organização para Cooperação de Xangai cria também a cooperação com o Banco de Dados pela busca do controle dos canais de deslocação dos cidadãos que se dirigem às zonas de conflito armado, bem como o combate ao terrorismo. Assim, foi afirmado pelo diretor adjunto do comitê executivo da Estrutura Regional Antiterrorista da OCX, Akhtamon Pirov, que “as informações do Banco de Dados para combate ao terrorismo permitirá reforçar a luta contra a propaganda terrorista dirigida aos potenciais participantes de grupos terroristas”. Nesse sentido, o tratado possui relevância em temas concernentes à segurança internacional entre os países que o integram. 4 Os temas debatidos pela Organização para Cooperação de Xangai Tendo em vista a diversidade dos assuntos debatidos pela Organização para a Cooperação de Xangai, têm-se como temáticas mais gerais a sua agenda: cooperação econômica e militar na eurásia, terrorismo, crises financeiras, desemprego nas sub-regiões da Ásia, guerra ao terror, separatismo e extremismo. Mais especificamente, serão destacados alguns dos encontros realizados pela OCX que ganharam destaque na discussões internacionais. Nesse caminho, um importante momento de discussão da OI foi durante a 15° cúpula da OCX, em junho de 2015,quando foram debatidos aspectos relativos à economia e posicionamento chinês. Em tal situação, quando se fortalecia a “One Belt, One Road - Nova Rota da Seda” proposta pelo país sede da OCX, os Estados-membros do Acordo concordaram em alinhar-se com a iniciativa proposta pela China, tendo o projeto se resumido na integração econômica euro-asiática e objetivando o desenvolvimento das nações envolvidas, principalmente asiáticas. Esse encontro também foi o início do processo de adesão da Índia e do Paquistão como membros efetivos, bem como a adesão dos seguintes parceiros de diálogo: Armênia, Azerbaijão, Camboja e Nepal. Neste ano, entrou em pauta, além disso, o tema da segurança no Afeganistão, em função da intensificação das atividades terroristas no Oriente Médio. Dessa maneira, os líderes da cúpula da OCX chegaram em um consenso em temáticas como o combate ao terrorismo, manutenção da estabilidade e segurança no Afeganistão, tendo a OCX apoiado as propostas do governo de Cabul quanto à normalização dos conflitos nacionais. Ademais, em 2018, em Dushanbe, os Estados-membros discutiram a reação da Organização em relação à política de sanções de outros países, visto a medida tomada por Washington em introduzir de sanções secundárias contra a China pela compra de caças Su-35 e de sistemas S-400 da Rússia. 5 A Organização para Cooperação de Xangai como instrumento da influência sino-russa na Ásia Central O reconhecido modo diplomático chinês de soft power, ou seja, o uso da capacidade de persuasão e não coerção, tem colocado os chineses na posição de liderança regional asiática. A partir da busca por um cenário de livre-comércio, inspirado em autores como Adam Smith, do incentivo estrangeiro em iniciativas como a “One Belt, One Road (OBOR) - Nova Rota da Seda” e do fomento econômico dos países vizinhos, a China tem afirmativamente ganhado espaço e reconhecimento de governança no plano internacional na última década e busca a reconfiguração da predominância do domínio estadunidense na Ásia, tornando-a líder efetiva da região. Mendes exemplifica o uso chinês do soft power através da Organização para Cooperação de Xangai (OCX) como forma de instrumento de influência sinocêntrica na Ásia Central: Por exemplo, na Cimeira OCX de 2006, a China atribuiu à Ásia Central uma linha de crédito no valor de 900 milhões de dólares, nomeadamente para exportações chinesas. Os empréstimos chineses têm sido, igualmente, aplicados em projetos conjuntos dentro do quadro da OCX, direcionados para alargar as ligações rodoviárias e ferroviárias entre a China e o Quirguistão, o Tajiquistão e o Uzbequistão, apesar de serem aparentemente considerados do interesse de toda a Organização. (MENDES, 2008, p. 212) A Rússia, por outro lado, busca sua independência econômica e objetiva inverter o curso de declínio no país que instaurou-se pela desagregação da União Soviética. Assim, a Rússia procura afirmar-se com um papel crescentemente relevante no plano econômico internacional. Portanto, em sua participação na OCX, a Rússia busca “projetar sua presença na área asiática e diluir receios face à ascensão da China e Índia” (MENDES, 2008, p. 214). Como tentativa de inversão da superioridade chinesa na Organização, a Rússia busca a relação de conexão entre Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) e a Organização para Cooperação de Xangai. A OTSC é formada pela Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão, Federação Russa, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão, com o objetivo de uma aliança político-militar e manutenção da paz no quadro da Organização. Entretanto, em vista da clara liderança russa da OTSC, a China tem travado a assinatura legal de integração entre as organizações. Portanto, as políticas externas russa e chinesa são formadas por fatores favoráveis internos que condicionam a afirmação das duas lideranças no plano regional asiático. Apesar da relação instável entre os dois países por uma grande rivalidade em períodos de espaço de tempo variantes entre maior e menor cooperação, iniciativas como a trilionária “One Belt, One Road”, apoiada pela OCX, são hoje incentivadas por interesses nacionais comuns dos Estados, como a união anti-hegemônica estadunidense e o aumento de suas influências na Ásia. Um exemplo disso, é a tentativa de ambos de controle da Ásia Central, através do fomento do desenvolvimento econômico de Estados que não são necessariamente enquadrados em uma estrutura política democrática. 6 A formação e criação da OCX com base em perspectivas realistas e liberais Segundo correntes do pensamento realista - principalmente do realismo político - , tem-se como conceitos chave do sistema internacional o poder e o conflito. Nesse sentido, todas as ações dos Estados teriam como prioridade a maximização de seu poder e a sobrevivência deste. Esse então seria o cerne do conflito, ora se não existe um órgão superior aos Estados que regule suas relações e estes buscam prioritariamente seus próprios interesses, a existência de conflitos entre as nações seria uma situação inevitável. Já se tratando do pensamento liberal, as relações entre os Estados envolvem a cooperação entre as nações e a paz como caminho para maximizar a eficiência destes e promover seu desenvolvimento, ao passo que possibilitaria a expansão do livre comércio. Tendo em vista as duas correntes de pensamento anteriores, existem diversas percepções acerca da criação da Organização para Cooperação emXangai. Uma destas, relacionada ao pensamento realista de Morgenthau, defende que tal Acordo surgiu como busca de maximização do poder e da influência sino-russa como contraposição à Organização do Tratado do Atlântico Norte e, que a cooperação militar e econômica propostas pela OCX seriam objetivos traçado no intuito de futuramente sobrepor os interesses das duas potências no globo e subjugar a influência norte-americana. Simultaneamente, entretanto, essa acepção também sofreria influência do viés liberal, uma vez que, trabalha com a coalizão de força entre duas nações para um objetivo comum. Mas, além disso, tomando como destaque a percepção do liberalismo acerca da Organização em questão, é argumentado - por estudiosos como Stephen Blank - que a cooperação proposta pela China e referendada pelo Estado Russo são caminhos para reformas na Ásia Central e para o desenvolvimento não só econômico e militar da eurásia, mas posteriormente de avanços nos âmbitos tecnológicos, sociais e desenvolvimentistas, sendo esse primeiro momento uma abertura da economias entre os países-membros para uma posterior integração entre estes. REFERÊNCIAS DUPLO EXPRESSO. O significado da Organização de Cooperação de Xangai no mundo atual. 2019. Disponível em <https://duploexpresso.com/?p=102631>. Acesso em 28 de junho de 2019. GRUPO DE PESQUISA E ESTUDOS EM ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS. Organização de Cooperação de Xangai. 2014. <http://geounesp.blogspot.com/2014/12/organizacao-de-cooperacao-de-xangai.html>. Acesso em 28 de junho de 2019. MENDES, Carmen Amado; FREIRE, Maria Raquel. A organização de cooperação de Xangai como instrumento geopolítico sino-russo na Ásia Central. Geopolítica: revista do Centro Português de Geopolítica, v. 2, p. 207-235, 2008. RIBEIRO, Erik. A Expansão da Organização para a Cooperação de Xangai (OCX): Uma Coalizão Anti-Hegemônica?. 1° Seminário de Política Internacional - UFRGS. 2015 SHANGHAI COOPERATION ORGANISATION. Site Oficial da Organização de Cooperação de Xangai. 2001. <http://eng.sectsco.org/>. Acesso em 28 de junho de 2019. http://eng.sectsco.org/