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RADHA KRISHNA RA’M SMARANA O PLANETA DOURADO! EDITORA PONGETI – 1969 O HOMEM passeia seu metro e noventa e cinco de ossos e músculos bem dispostos pelo quadrado minúsculo do apartamento moderno. Move-se com o passo elástico e a graça dominadora de um felídeo. Saudável, perfeito, belo exemplar da raça humana... Da raça humana? Não! Não mais da raça humana. Antes, sim, MART serviria como modelo humano dos mais perfeitos. Agora, porém, não seria legítimo apresentá-lo assim. Que raça terráquea poderia exibir cabelos iguais aos dele? Sim... Que raça ostentaria aquela cor candente tão magnética sob qualquer luz, natural ou artificial? E aqueles olhos alongados, de cor e brilho argênteo, que raça da TERRA evidenciaria? MART é agora aquilo que, na era espacial, se chama "mutante". Tornou-se absolutamente visível a alteração de sua constituição hereditária. MART apresenta indiscutíveis sinais de mutação. Sua pele, antes de agradável tom queimado pelo sol, mudou-se em dourado brônzeo. Já não é susceptível a cortes, arranhões, e outras eventuais machucaduras a que está sujeita a pele humana. Tudo nele revela força, demonstra poder! As variações de baixa temperatura da cidade não afetam sua sensibilidade. MART passeia de pés desnudos, usando apenas curto calção de banho. Desloca maciamente o corpo ágil, de um lado para o outro, enquanto espera. Surge, por fim, o GRANDE MENTOR! Mais alto e tão belo quanto MART. Embora distintos na cor dos olhos e cabelos, na grandeza da força, no alcance do poder, possuem um elemento de afinidade perceptível: os movimentos felinos! MART pode vê-lo porque possui visão extra-sensorial. ROMA manifesta-se em outra dimensão. Sente-se, RANA comandou o GRANDE MENTOR, com voz impessoal. E passou os longos dedos pelos próprios cabelos magníficos, cor de prata líquida Vamos conversar. Ainda sou MART por enquanto, ROMA! protestou o rapaz obedecendo. Um nome que será devolvido aos romanos. Vale começar a esquecê-lo desde já. Foi um empréstimo demorado. Seus antigos poderes estão retornando, gradativamente. A isto chamo "o retorno de RANA"! Seu aspecto e condições físicas já presentam todos os sinais da mutação prevista, o que significa a reconquista de sua antiga personalidade. Falta muito pouco agora... RANA é seu nome de origem, de herança cósmica. Esqueça os sentimentalismos. Você não é mais humano! Ultrapassou as condições do humano comum. Obriga-se a reagir de acordo. Tenho direito a usufruir dos "tolos" sentimentalismos humanos, pelo menos pelo tempo que me resta na TERRA. É sua escolha. Se prefere assim... Não perca tempo em usufruí-los. O tempo está diminuindo... O que quer dizer? Que você terá de despedir-se antes do que prevíamos. Em julho, ainda. Em julho? Meus instintos bem diziam... Quase já não resta nada! Você aceitou seu antigo cargo de COMANDO de sua Raça, reorganizando-a no novo Planeta. É preciso começar a agir como seus compromissos exigem. Resistência interna, física ou psíquica não lhe faltarão. Sua "usina de força" mostra-se revisada, recondicionada, qualificada para seus novos empenhos, encargos e necessidades. Recorra à "Central", cada vez que as fraquezas do homem comum insurgirem-se no âmago de sua nova fortaleza. PALAVRAS! Não. Fatos! Evidências... já experimentadas por outros. Sei que não é fácil. Não disse que era. Mas, é coisa realizável para um RANA! Como está sendo processada a técnica de adaptação? desconversou MART. Foi processada no seu corpo astral, como avisei antes. Você absorveu como "vacina" todo material sutil do Planeta Dourado, considerado capaz de manifestar qualquer efeito destrutivo na tessitura de seu corpo físico. Sejam microorganismos unicelulares ou quaisquer outros. Agora, o processo está encerrado. Quer dizer que estou imunizado à hostilidade do meio ambiente? Definitivamente. Sobreviverá, com a aparência que tem agora, a três ou quatro novas gerações de sua Raça, sem uma ruga adicional. O que equivale a quase mil anos terráqueos. Oh! Meu Deus! Por que tudo isso? Bem... seu nome já indica. Sendo RANA (rei ou grande príncipe) de RA'M SMARANA, responsável pela reestrutura de seu Povo, obriga-se a posição de PROTETOR. Os elementos de sua Raça, ora exilados no planeta NYZZA, sofrerão testes concernentes à situação evolucional de cada um. Os que estiverem capacitados para fazer jús aos novos empreendimentos, serão transportados como você, fisicamente, para o novo planeta herdado. Terão de ser submetidos a "tratamentos" preservativos de adaptação. Isso periodicamente. Diferente de seu caso, é claro! Em você, o processo de profilaxia foi diverso... E não teria sido necessário, se soubéssemos que manifestaria qualidades tão oportunas para seus encargos. Seu corpo está relevando o fenômeno da radioatividade. Esse o motivo por que em julho terá de sair da TERRA. Radioativo! Céus! A que devo a punição? Aconselho-o a não torcer os valores. No que lhe diz respeito, não pode ser considerado punição. Conforme mencionei antes, aceitou como função reorganizar, encaminhar, proteger e comandar sua Raça, como já o havia feito, num longínquo passado. Inicialmente, no Planeta Dourado, não obterá meios de defesa orgânica para sua gente. Não contará com o privilégio dos engenhos maravilhosos e sabedoria majestosa, arquivados no éter. RA'M SMARANA constituirá, provisoriamente, um mundo estranho a ser paulatinamente conquistado, sem derrotas. Cabe a você, RANA, usar deliberada e sabiamente, suas inesperadas propriedades radioativas, em doses homeopáticas. Sabe que são dotadas de grande poder bactericida. Não esqueça, todavia, a outra face da radioatividade: a destruição dos tecidos! Evidentemente, um SMARANIANO suportará maior dose de radioatividade, sem prejuízo, que qualquer criatura terráquea. Mesmo assim, você aprenderá a dosar necessariamente as emanações, evitando conscientemente a radiodermite. Como poderei dosar um poder assim? Com a VONTADE, RANA. Há um poder maior que a radioatividade: o controle de uma mente poderosa! Quer dizer, então, que estou tornando-me RADÍFERO? brincou sem sorrir. Mais ou menos isso. Faz parte de sua mutação natural. É preciso que saiba. O PODER ORIGEM é infalível! Meu trabalho de cooperação espontânea teve influência tão somente no que diz respeito às "vacinas" preventivas. O processo radioativo apresentou-se como resultante de uma química inesperada. Infiltramos em seu corpo sutil uma dose infinitesimal de AURUM e CUPRUM, metais existentes na natureza do Planeta Dourado em estado nativo. Como você foi avisado, RA'M SMARANA apresenta os mesmos caracteres geológicos do antigo planeta SMARANA. A estrutura atual da crosta apresenta depósitos de metais e metalóides, além do AURUM e CUPRUM, que parecem compor a natureza arenosa, em grãos e pequeninas palhetas. Daí, embora sob a influência colorida do Sol duplo, o Planeta manter sempre seu aspecto dourado quente. Enfim, o resultado das explorações que levamos a efeito, demonstra que o Cuprum e especialmente o Aurum são os agentes mais comuns na crosta do novo planeta herdado. Nota-se mesmo a influência desses agentes nos vegetais de grande porte e pequenos animais nativos. Descobrimos uma espécie de escaravelho dourado. Tem nas costas o desenho do signo de Câncer. Você apreciará seu "novo lar", RANA! Espere! Será que o planeta Dourado tem propriedades radioativas? Não disse isso. Disse que a dose daqueles metais produziu uma química inesperada no seu corpo físico. É preciso notar que, seu estágio noreino mineral, em seu planeta de origem, se deu exatamente como AURUM CUPROSO, ou seja, ouro misto de cobre. Pode ter uma idéia, agora, do POR QUE do processo radioativo? Claro que posso. Contudo, sobram-me indagações. Estou aqui para ajudá-lo. Responderei ao que for possível. Pergunte. Como pode ter certeza de que sobreviverei por quase mil anos, se os corpos radioativos, segundo o que aprendi, compreendem diversos elementos em via de DESINTEGRAÇÃO? Exatamente porque essa proclamada desintegração é caracterizada por grande desenvolvimento energético. A duração pode ser de um minuto... ou de um milênio. No seu caso, posso assegurar, será de um milênio! Não deve guiar-se demais pelas Leis que regem o globo terráqueo e suas imediações cósmicas. Os mundos são regidos segundo a Natureza de sua criação... e seu destino sideral. Ou mais claramente: a LEI manifesta-se sabiamente, sob múltiplas formas. Algumas, o homem terráqueo começa a sondar. Outras, muitas outras, nem sonha existir! Tem razão... No Planeta Dourado existe apenas um lago de águas profundas, radioativas. Será seu túmulo, num futuro bem remoto, por mais estranho que pareça no momento. E SHÂNY? Como poderá viver ao meu lado, levando-se em consideração as emanações radioativas do meu corpo? Está sendo submetida a um "tratamento" especial, para que possa suportar sua vizinhança sem prejuízos maiores. Quando morrer e renascer, estará liberta desta preocupação. E os outros? Já disse que está em sua vontade medir, controlar e evitar as emanações. Terá apenas que usar o poder da mente. Logo estará habituado a isso. Inicialmente, como será a alimentação para meu Povo? Dois tipos de cogumelos, já analisados. Constituirão iguaria saborosa e de fácil aquisição. O primeiro tipo, mais comum, de cor dourada, nasce em cachos, como o agárico campestre da TERRA. A esse, resolvemos chamar DRÍADES, porque florescem nos bosques, o segundo, semelhante em forma e coloração a Amanita dos Césares, recebeu o nome de NÁIADES. Desenvolve-se nas proximidades de rios e fontes. Conta-se também com o fruto de certa palmeira que recorda o cocus nucifera. Para começar, estarão perfeitamente atendidos no que diz respeito ao assunto alimento. Você contará apenas com o ASTER, folhas e frutos. Trata-se de árvore de grande porte. Atinge quarenta ou quarenta e cinco metros terráqueos. Pode ser comparada ao quercualium (carvalho). Notará nesta árvore propriedades magnéticas. Alimenta-se de aurum cuproso. Observará sempre grandes depósitos desse metal nas proximidades das raízes do ÁSTER. Para você, constituirá alimento de primeira necessidade. Nenhuma variação? Nenhuma... Com exceção, evidentemente, do suco dos frutos da Rosa Dourada dos Campos, a Planta SAGRADA! É rara e surge sempre nas proximidades do ÁSTER. Alimenta-se do mesmo tipo de minério. Não cresce muito. Mantém-se arbusto. Suas flores são de lindo aspecto. Apresentam-se em cachos, exatamente como a conhecida rosa dos campos terráquea. Tem perfume? Doce e forte como o jasmim. Pétalas carnudas, de aparência metálica. Os frutos atingem o tamanho de uma laranja bem desenvolvida. O suco de tais frutos aplaca a sede, ajuda a renovação energética e a celular. Indicado para você, perigoso para seus súditos. Sabe que adquiriu contextura diversa de sua gente. Você mencionou, há dois dias, que poderíamos fazer uso provisório das edificações já existentes no Planeta Dourado. Mantém o que disse? Não haverá perigo para meu Povo? Nenhum. Fizemos inspeção completa. Analisamos, testamos cuidadosamente o interior dos edifícios piramidais com engenho de absoluta precisão. Não há o que temer. Estão em perfeito estado de conservação. Ademais são edificações de grande beleza. Com certeza irá apreciá-los. Quando for oportuno, RAI também ficará encantada com o aspecto geral. Disse-me RAM que são fabricados com gigantescos tijolos de rocha. Sim. Blocos de Euphótide de Smaragdite, outros de Micaxisto de Granada e ainda outros de Syenito Nephelínico. Isto quer dizer que representam um espetáculo em cores. Em conclusão, vejo que o Planeta Dourado possui rochas iguais ou semelhantes às daqui. Semelhantes, RANA. Por esse motivo, aplico os mesmos nomes, visando facilitar o reconhecimento do material. RA'M SMARANA é como seu vizinho, o KRISHNALOKA, um Planeta rico para o conforto dos empreendimentos de uma Raça evoluída. Em julho, quando lá chegar, encontrará uma edificação central, circular, inteiramente nova. Está sendo construída segundo a arquitetura SMARANIANA. Toda em quartzo citrino. Será seu lar constante, por quase um milênio. Vamos batizar o edifício com o nome de "MIRANTE DO COMANDO". E a cúpula? Será em quartzo incolor. Para que possa usufruir das influências vibratórias do Sol Duplo. Está bem assim, ou prefere que haja alguma modificação? Eu não faria melhor. Fico satisfeito em saber que agradará. * * * Duas semanas passaram. MAHT começa a sofrer a pressão hostilizante da ansiedade inevitável. Sente-se como um manômetro humano, tentando medir a pressão dos vapores do seu vulcão interior. Afinal é o "adeus à TERRA"! Um adeus definitivo... RAI! pensa MART com o coração doendo Entre mim e RAI uma quantidade de anos luz que não me atrevo a recordar. Aqui na TERRA, tudo é diferente. Há coragem suficiente para as pequenas distâncias. Estendo o braço e... quase posso tocá-la. Oh! Deus! Não é somente o Anjo Cassiel digno do titulo de "PRÍNCIPE DAS SOLIDÕES". Não passearei por paragens de ermo e silêncio, mas carregarei comigo, onde quer que vá, a solidão do meu amor. Oh! DEVAS! Lavas candentes pressionam minha'Alma! Que farei deste meu coração condenado? Ah! Quem diria que haveria de me tornar tão forte! Infeliz RANA! Desgraçado de ti! Tua sentença tem início agora. Um milênio de saudades e amarguras pela frente. Sem direito a repouso, sem direito a esquecer! Miserável MESTIÇO! Se em teu estágio animal nem mesmo mereceste ser o Pássaro de Fogo, puro exemplar de tua bela Raça! Lembra-te bem, agora que podes lamentar ainda. Foste a curiosa resultante de um cruzamento entre exemplares puros: um RADTL NEGRO e outro PLATINADO. (Espécie de pantera). Não herdaste nem o pelo negro metálico de um, nem o platinado do outro. Nem mesmo os olhos verdes de ambos! Surgiste RADIL DOURADO-ACOBREADO, de olhos argênteos. Solitário até mesmo em tua espécie mestiça Como em tudo mais... Agora, cala-te desditoso! Chega de prantear tua sentença. Acaso tens direito a isso? Com certeza não tens. És o favorito dos DEVAS! Ah! Muita razão teve TAGORE quando escreveu: "SE MEU CORAÇÃO HÁ DE ROMPER-SE, QUE SE ROMPA. O MUNDO MARCHARÁ IGUAL. E EU NÃO VIVEREI MENOS". Penosos eram os pensamentos de MART, quando recebeu a visita de RAM. Levantou a olhar com dificuldade. O Colosso de tez escura fitou-o afável. MART deslizou as faróis argênteos de seus olhos ansiosos pela figura soberba da MAHADEVA. Sua personalidade extraterrena envolvia MART num abraço excepcional. Ainda bem que veio! murmurou Temi que me deixasse só por mais tempo. Quase sufoco! ROMA tem vindo regularmente. É mais útil no momento. Você precisa absorver rapidamente uma tonelada de conhecimentos indispensáveis sabre o novo planeta. ROMA é um DEVA-COMANDO. Habituado a ordenar. Estou farto dele! MART! censurou o Colosso. Já sei... Reconheço que sou um animal ingrato e rebelde. Espera demais de um homem, RAM! Você é mais que um homem, agora. É RANA, COMANDO do novo paraíso dos Smaranianos. Diga-me, serão sempreassim tão cruas, tão brutais, as experiências da minha Alma exilada? "Cruas" e "brutais" são palavras impostas pela sensibilidade exacerbada. Antes, foi submetido a experiências mais cruéis, sem protesto. Naquele tempo, podia analisar, medir alturas e profundidades com a clareza que convém a um poderoso Líder de povos. Hoje, sofre demais a interferência dos sentimentos e anseios humanos. Tudo se agrava, quando o homem desconhece a fonte de seus poderes, ou os ignora. Quando ele pensa estar só e caminha com as forças vacilantes de sua inconsciência. Mas, você! Sabe que o manancial do poder está ao seu alcance. Basta que deseje. Basta que se mantenha inegoista e não cometa enganos passíveis de punição. Não me interessam poderes. Nisso está assentada sua glória. Acaso condena os sentimentos e anseios humanos, RAM? Sabe que não. Considero muito doce, maravilhoso mesmo, ser humano. Então? Por isso tenho estado ao seu lado. Como é, comandará homens e conquistará devas. Não exagere. Isso... faz você. Não. Eu comando Devas e... tenho conquistado homens para encaminhá-los aos esplendores de heranças insuspeitadas. Homens como você, ou quase... E ainda outros, inconscientes e humanamente ansiosos pela DIVINDADE. Qual! Sinto-me uma toupeira. Nada de ansiedades alcandoradas. Nada de altruísmos. Nada... Pare com isso. A voz profunda do MAHADEVA fez-se ouvir como carícia. No entanto, era uma ordem! MART silenciou. Somente RAM seria capaz de interessá-lo ante as novas perspectivas do Planeta Dourado. Bastaria surgir diante de seus olhos apaixonados sob a doce aparência de RAI... Se ELA encontrasse beleza no Planeta, MART enxergaria o novo mundo pelos olhos verdes da mulher amada. Tenho certeza de que RAI vai gostar do novo SMARANA confirmou o Colosso, tendo apreendido os pensamentos de seu protegido. Captou bem depressa... Está em condições de evitar isso, se assim desejar. Reconquistou poderes que facultarão muita coisa. Barreiras mentais de grande alcance, de grande efeito, por exemplo. Para o seu poder seriam nulas. Nem eu desejaria ocultar coisa alguma de você. Conhece-me mais profundamente do que eu mesmo. Sabe o que quero, sofro, desejo, penso. O que adoro! Que sobraria para esconder? Minhas inferioridades? Também as conhece todas. Julga-me tão tolo ainda? Insensato, às vezes. Nem toda sua sabedoria inopinável poderá mudar esse estado de coisas. O homem que AMA não sonha com liderança de povos nem com a conquista dos espaços intercósmicos. Pense bem, RAM! Sou um homem. As profundezas e poderes de minha antiga personalidade não afetou nem um pouco o homem simples que sou. E creio que continuarei sendo. AMO! Se é verdade que recuperei forças, todas elas pertencem por direito a este AMOR. Já que a ele cabe a responsabilidade dos meus vôos e das minhas vertigens... Esteja certo, RAM, este sentimento imperioso constitui o verdadeiro poder de minha Alma. Ainda assim, há facetas que contrariam o bom senso. Quais? Mostre-me! Quero advogar minha causa. Não compreende, MART, que é indispensável transpor os limites de nossas conveniências, quando se deseja oferendar estrêlas ao AMOR? Não vê que é preciso ignorar as exigências e sujeições demasiado humanas, para que o sentimento não acabe padecendo de inércia? Para que circule em espiral, rumo às alturas apoteóticas? Ou tão imaturo é este seu amor que se compraz em auto condenar-se à insignificância dos interiores estreitos, à baixa concentração de forças e ideais? Sabe que não é assim protestou subjugado . Sabe que a verdade é aquela que acabei de declarar. Não há o menor perigo de inércia para o meu amor. Mas, talvez tenha razão quando diz que o exponho à insipidez mesquinha dos ambientes limitados. NÃO! Quero para meu AMOR as grandes e mais belas dimensões. Para que possa florescer inexorável, excedendo a grandiosidade de tudo que conheço! * * * ROMA, o Grande Mentor, retorna para instruir. A expressão marcante de seu formoso rosto, permanece fria, impessoal. Veste traje inteiriço até os pés, maleável, ajustado às suas formas perfeitas. Tem-se a impressão de tecido metálico, de cor semelhante aos seus fartos cabelos. Talvez uma roupagem espacial. Como se sente, RANA? Pessimamente. Não me refiro aos seus sentimentos pessoais. Pergunto pelo equilíbrio físico. Tudo seguindo como você deseja. OU como deveria desejar. Tem continuado a exploração e análise do Planeta Dourado? Dentro das minhas possibilidades. Encontramos carbonato verde de cuprum, cristalizável. Algo semelhante ao Malaquito. Além de sulfoarsenieto de prata. Minério vermelho, em filões argentíferos, de brilho metalóide. Elementos de grande utilidade futura. Conheço-os bem. Os Pássaros de Fogo não sofreram alterações com a mudança de mundo. Exploram o Planeta como velhos entendidos. Creio que gostará de ver os GARUDAS travestidos de exploradores planetários. Há certa dose de humor no fato. Sem dúvida. E o que encontraram mais? Variedades de meteorito, ferro niquelado, alguns silicatos, como a bronzita e feldspatos. Nada inaproveitável. Ah! Observamos um tipo Coleóptero, de lindas asas azul-elétrico, dotado de fosforescência ao entardecer. Lembra ligeiramente o pirilampo, mas aparece em grupos coordenados, desenvolvendo curioso bailado. Gosto disso. Levaremos da TERRA a Phénix Dactylífera (tamareira). RAM considera a espécie mais energética e facilmente adaptável ao solo dourado. Naturalmente multiplicará suas qualidades sob a ação do solo aurífero. Hum! Descobriu o local onde deveria encontrar aurum eletrum em estado natural? Exatamente como você supôs. Perto de regatos e fontes. O aurum argental ou eletrum qualifica o terreno para a edificação do TEMPLO, como você deseja, RANA. Testamos o aurum devidamente: contém mais de 20% de prata, em estado natural. ÓTIMO! Descobrimos interessantes cavernas, inteiramente formadas por elemento mineral parecido com o onyx ambreado da Argélia e o onyx vermelho de Marrocos. Enfim, seu novo planeta. representa muito mais do que se esperava. Verdadeiro tesouro em minério! RAI gostaria de la? Qual a sua opinião? O parecer de RAI seria caprichoso. Não deve pesar demais no que diz respeito aos seus compromissos assumidos. "ROMA locuta, causa finita" murmurou MART com enfado. SHÂNY estará em RA'M SMARANA quinze dias depois de sua chegada continuou o Mentor, ignorando a irreverência Aconselho-o a preparar-se para recebê-la como convém. Qualquer desentendimento inicial, trará conseqüências penosas no futuro. "ROMA locuta est" insistiu MART, teimosamente. Na verdade, meu rapaz, quando ROMA fala geralmente tem razão. Nunca se entrega à sujeição de seus anseios. Impugna até mesmo seus mais altos desejos. Por isso mesmo pode ver claro. ROMA é um iceberg! Um Deva, acima dos sentimentos e sensações humanas. Um Deva, MART, é aquele que aprendeu a COMANDAR e DIRIGIR as emoções, sentimentos e sensações humanas. Pode capturá-las e mantê-las subordinadas à sua vontade, ou liberá-las para melhor senti-las. Você pode investigar um Deva, sem a severidade vexatória do homem comum, ignorante. Está qualificado para examinar com equidade, imparcialidade e verdadeiro empenho de ver certo. Venceu, ROMA! Não precisa ir adiante. Detesto reprimendas... que não venham de RAM. Confesso que desta vez não consegui sustar o curso de minhas reações. Sua perfeição sobre- humana tem a faculdade de me enfurecer, de tumultuar meus intentos mais disciplinados. Sintomuito! Estar sob seus cuidados deve constituir privilégio imerecido para mim... Julgo-o invariavelmente. Reprovo-me a seguir. É uma constante infalível! Pode estar certo, porém, de que é outra minha preferência. Mesmo assim, esteja certo de que cumprirei minha parte neste pequeno trabalho. Com a frieza com que o faz... acredito. Não vamos retornar ao ponto de partida, RANA. Desgosta-me desencadear tempestades inúteis. Ouça-me! Não pode aceitar que estou tentando cooperar, facilitando, dissolvendo obstáculos em sua nova vida? Claro que posso! Faria qualquer coisa, tenho certeza. Muito mais até. Seria capaz de construir todas as edificações necessárias ao conforto de meu Povo, desde que isso não contrariasse meus limites cármicos. Facilitaria tudo para que houvessem bilhões de anos luz entre mim e RAI! Insolência inócua, RANA. Julgamento injurioso, infantil e prejudicial para você. Sei que minhas atitudes superam a razão comum. Mas você devia saber. Pensei que sabia! Quando um Homem AMA realmente, nem milhões ou bilhões de anos luz seriam capazes de separá-lo da criatura amada. Nem infinitos nem dimensões. Eu não seria um Deva-Comando, mas um desgraçado, se assim não fosse. Entendeu, meu rapaz? Espero que tenha aprendido sua lição. Se merece o carinho, a atenção de RAI, é inteiramente digno de minha amizade. Precisa acreditar nisso. Se houveram desajustes em nossos entendimentos num remoto passado, isso ficou para trás. Hoje, RAI removeu os motivos, estabeleceu um ELO sólido e inevitável. Medite sobre isso, RANA. Não sou o iceberg que supõe. RANN, o Sacerdote- Reinante do Planeta RADDHAY, que é tão seu conhecido, tem experiência do que acabo de dizer. Boa noite... meu irmão de sentimento. Vai... tão depressa? balbuciou MART abatido. Só me verá no mês de julho, e em corpo físico. Até lá conto que esteja persuadido da exata natureza de meus atos. Quando conseguir forças para submeter os desfalecimentos do coração, procure RAI. Conciliará as conspirações do ego imprevisível. No dia, hora e local combinados, minha NAVE estará à sua espera. Não esqueça! A parte essencial é preservar o ânimo. Não consinta que a resistência seja corrompida. Asseguro que verá RAI sempre que for possível levá-la ao Planeta Dourado. É uma PROMESSA! Fique descansado. Não sei se haverá mérito para tanto. Haverá, RANA. Fique tranqüilo. Vá dormir... * * * RAI acercou-se de MART com cuidado. Seus longos cabelos cor de prata tocaram de leve o rosto do rapaz, quando ELA curvou-se para ver se ele dormia. Está meditando convenceu-a RAM, que acompanhava-a . Vamos trazê-lo para nosso plano. Será mais adequado. O Colosso moreno pressionou ligeiramente as têmporas de MART, com suas mãos grandes, de dedos fortes e alongados. Logo, fez-se estranho vapor que se adensando, revelou a forma astral de MART. Graças aos Céus que vocês vieram! disse ele com ansiedade febril nos olhos argênteos. Acercou-se de RAM e beijou- lhe a mão com grande devoção. Depois, caiu aos pés de RAI, de joelhos. Não falou nem se moveu por muito tempo. MART... disse a mulher com grande doçura na voz Viemos para dar-lhe satisfação. Dói-me vê-lo assim... RAI tem razão, MART. Viemos para contentá-lo... Aflige-nos sua atitude. MART ergueu o corpo devagar... Não era preciso investigar para saber que seu coração estava repleto de amargura. Quase não há nada a dizer, Querida. Meu comportamento, nos últimos dias, tem sido insolente... intolerável mesmo. É razoável, MART consolou RAI, afagando-lhe os fartos cabelos O destino tem sido inexorável... É natural que você se torne inconsiderado nestes últimos dias. O destino é sempre implacável para o homem que ainda está sujeito ao SAMSARA (cicio de mortes e renascimentos) neste mundo. Nada disso me autoriza ao comportamento impertinente que tenho tido com ROMA. Ele tem sido incansável. Faz tudo o que está ao seu alcance para "amaciar" meu novo exílio. Até mesmo aturando minhas irreflexões e rabugices. ROMA é um DEVA. Está capacitado para compreender. Tem sido complacente demais. RAI... Oh! meu amor! Diga-me que não esquecerá de mim. Prometa-me! Diga-me que lembrará todos os dias. Ah! Céus! Perdido do homem que sonha ser amado. Sei muito bem o que valho. Conheço exatamente a expansão que meu sentimento conquistou... Os incêndios invencíveis que consubstanciam o meu AMOR... Paralelos a perigosos declives: o anseio de ser correspondido. Vestígios da fraqueza humana... Endoideço quando penso, RAM! RAI tem sido adorada com a devoção de amores sobre- humanos. Enquanto eu... sou apenas um homem. Débil exemplar, por sinal. Esse amor sobre-humano a que se referiu, MART declarou RAM, com sua mansa voz, profunda e forte , não é privilégio de DEVAS. Está ao alcance do Homem... Feliz daquele que ama sem condições! Quem falou em condições? Posso ser suficientemente débil para sonhar com um pouco de retribuição. Mas, isso não quer dizer, absolutamente, que... se não houver tal retribuição, haverá modificação no meu modo de amar. Nem no valor do meu AMOR, nem em sua intensidade! Você considera-se apenas um Homem, MART... interferiu RAI, confortadora Pois bem! Aí está uma das prerrogativas do Homem: amar, sonhando ser amado! Não há nada errado nisso. Minha doce, minha terna RAI! sorriu o rapaz, triste e enternecido Invejo ROMA. Tenho de confessar. Ele não teme as distâncias como eu... como um homem comum. Tem a serenidade daquele que não aconchega dúvidas no coração, ou não espera dádivas do AMOR. Vamos falar de outra coisa, MART. Está devidamente preparado para o dia da viagem? Fisicamente, sim, minha Querida. Sabe que sempre fui forte e anormalmente saudável. Agora, sou prodígio de energia constante e qualidades multiplicadas. Cada dia descubro que posso fazer mais coisas. Posso utilizar forças que o homem comum nem chegou a conhecer ainda. Consideram-me ingrato pela indiferença com que tenho recebido tais "heranças" cósmicas. Está se tornando muito amargo, MART. Evite isso. Sou eu quem pede! Acabará construindo para mim um complexo de culpa que resultará mal às minhas tarefas espirituais. Perdoe-me, AMOR! Não é este meu intento. Deixo, apenas, meu coração aberto ao seu olhar. Nada poderá desviar esta simplória condição humana do meu peito: o temor da separação! Tenho vivido na TERRA séculos demais. Tenho morrido e renascido terráqueo por muitas, muitas vezes. É razoável que me comporte como um terráqueo, agora. Não apenas razoável... É justo. Se não fosse este seu comportamento, talvez eu mesma duvidasse da intensidade de seus sentimentos. Também tenho vivido muitos séculos no regaço maternal da TERRA. Transformei-me por adoção... Hoje sou bem um exemplar terráqueo, como você se sente. Quer dizer que me perdoa a fraqueza? É evidente. Não se preocupe demais com os Devas, MART. Pelo menos, no que diz respeito a minha pessoa. Os Devas não precisam de mim... E eu detesto ser inútil. Compreendo. Olhe! É a última vez que posso contemplá-la aqui na TERRA. Não quero transformar isso num pesadelo. Deixe-me observá-la apenas um pouco mais... em silêncio. Depois... por favor vá embora. As despedidas são sempre sombrias. A minha especialmente. Contém sombras demais. Não desejo prolongar essa angústia asfixiante! Mal chegamos, MART falou RAM Quer mesmo que eu leve RAI assim tão depressa? Quero. Prefiro assim. Não sei até onde meu egoísmo sentimental poderá submeter-me. Quero que RAI vá embora enquanto estou razoavelmente controlado. Está bem. Mas, consideroseu autocontrole excelente, face aos últimos acontecimentos gerais. Contudo... insisto. Meu "conhece-te a ti mesmo" é extremamente falho ainda. Exagera... Pode ser, mas não confio. RAM! Pelos Céus! Não está querendo compreender. Em sua longa jornada experimental por mundos e encarnações diferentes, deve ter conhecido uma situação semelhante. Não é verdade?... A Hierarquia espiritual que atingiu demonstra que é um homem larga e duramente provado. Com certeza, algum dia, em algum lugar do Universo, amou sem ser correspondido. Tem que saber como estou me sentindo neste instante. Sim... confirmou o Colosso, pensativo, em sua voz mansa e profunda Certa vez... em Nirodha. Alguém que se chamava RYE... Faz muito, muito, muito tempo! E como estão as coisas agora? Importa tanto assim saber? Mais do que supõe. Pois bem. Agora, para RYE sou o Amor Supremo. E ela para você? Quero-lhe muito bem. Muito mesmo. RYE foi um estágio expiatório. Ou ainda, uma grande experiência da Alma. Algo muito belo, MART. Mas, a Substância do SER criado está sempre em movimento. Transpõe isso que se chama vida e morte. Ultrapassa duras experiências, tremendas expiações! Transforma sentimentos, sensações, sonhos e desejos. Só o Amor verdadeiro pode se manter inalterado, constante, depois de submetido às tensões de incorretas polarizações, às distorções de correntes sobrecarregadas, aos circuitos e às projeções de grandes distâncias. Agora, se me permite, despeço-me. * * * Alguns minutos mais e as sombras fugiriam. O sol demonstraria mais uma vez o mesmo espetáculo real de sempre, numa beleza sempre nova. Enquanto isso o homem solitário caminhava descalço pela praia deserta. Apesar do frio, tinha o tórax desnudo. Um tórax esplêndido, demonstrando saúde, beleza e poder. Sutil sibilar, emitido em variações desconhecidas, fez-se ouvir bem perto. Rápido em seus movimentos felídeos, o homem cavou com as próprias mãos um buraco na areia. Despiu as calças, mantendo apenas o pequeno calção interno. Juntou calçado e roupas, enterrando-as. Quando levantou a cabeça, viu a grande NAVE que pairava silenciosa a 6 ou 7 metros do solo. Não havia luzes. Apenas tênue fosforescência revelando um campo magnético. MART observou a estranha escada de pequenos discos imantados uns aos outros, descendo para ele. Subiu com a agilidade de gato em telhados familiares. A escada de discos superpostos desapareceu com a mesma rapidez no interior da Nave. Na calçada da praia, uma mulher observava quieta. Viu quando a mirante triangular, situado na parte superior da Nave circular, inflamou-se de luzes coloridas que se sucediam. Nem chegou a piscar e já não via coisa alguma. A Nave havia sumido, levando em seu interior o belo homem que ela havia seguido pela praia. Puxou com violência os cabelos avermelhados. Cabelos que enfeitavam seu rosto cansado, embora ainda jovem. Com certeza estou tendo alucinações pensou a mulher aturdida Com o tempo, pessoas como eu começam a apodrecer em vida. Até a mente começa a falhar. Ora! cogitou com severidade Todo infeliz fabrica belezas inexistentes para tornar respirável seus dias vazios. Aquele homem, com certeza nunca existiu. A Nave... muito menos probabilidade de ser verdadeira. Isso prova apenas que estou envelhecendo e... bebendo demais! Assentou-se na calçada fria. Esperou a chegada do Sol que logo veio, retumbante de luz, falando de VIDA! Olhou-o por um instante. Depois, cobriu o rosto com as mãos trêmulas. O corpo inteiro tremeu, sacudido. Soluços de desconforto. O funeral de ilusões, há muito tempo mortas! * * * Dentro da Nave, ROMA estreitou MART num abraço fraterno. Venha, RANA disse suavemente Em poucos minutos entraremos no subespaço, onde viajaremos durante 264 horas terráqueas. Qual a força propulsora desta Nave? indagou com ar ausente o novo passageiro. Roma viu o brilho argental dos olhos daquele que, por fim, havia perdido o nome de MART para sempre. Ninguém mais estaria com permissão para chamá-lo assim. Doravante, ele seria apenas RANA! Pelos olhos de ROMA cintilou uma faísca de ternura. Venha, meu irmão. Vou mostrar-lhe. Parece-me bem grande esta Nave comentou RANA inexpressivo. É uma das menores de ROMAHARSAN. Comporta apenas 150 tripulantes e 300 passageiros. As maiores suportam o dobro de tudo isso. Formidável! RANA caminhou pelos corredores espaçosos e confortáveis. Dependências metálicas, singularmente lançadas. Atravessou pequenas "ruas" circulares, estranhas, mas agradáveis, cuja iluminação parecia natural. Quando alcançou o centro da Nave, ROMA parou para que e1e observasse melhor. Lá havia vasto cilindro central, transparente, através do qual RANA contou 75 homens assentados e imóveis, embora de olhos abertos. Assentos anatômicos, estreitos, dispostos em círculo, ligados uns aos outros. Eram os tripulantes Romaharsanianos, de olhar fixo num imenso CONE de LUZ que descia do teto até o chão da Nave. A extraordinária Luz oferecia modificações deslumbrantes, em cores e movimentos. Os homens mantinham-se de mãos dadas. A direita descansando na esquerda do vizinho. Uma espécie de cadeia de força! Que fazem eles, ROMA? Aí tem sua resposta à pergunta inicial. Entramos há dez minutos no subespaço. Eles são os "Instrumentos" canalizadores e controladores da força que move e dirige a astronave no subespaço. Parecem tranqüilos. Surpreende-se? Eles estão concentrados numa freqüência altamente dinâmica, em perfeito equilíbrio. São disciplinados para isso. Quanto tempo suportarão essa concentração? Vinte e quatro horas terrestres. No planeta KRISHNALOKA, é por esse método de força mental aliada à energia cósmica, que se movimentam as espaçonaves. Mas, se suportam apenas 24 horas terrestres... Trabalham por turno, RANA. São substituídos pelos outros 75. E assim por diante. Não ocorre jamais uma eventualidade que incapacite um deles por longo período? E sendo diminuído o número de elementos atuantes, como se arranjariam? É natural que ocorram coisas assim. Muito raro, porém. Os tripulantes são treinados, observados, examinados, disciplinados, testados, para cada viagem. Muito raro sair algo errado. Mas, tratando-se da eventualidade? insistiu RANA. O mirante triangular que se encontra no cimo da Nave não é apenas canal daquela Energia que notou. É também repositório de equipamentos técnicos indispensáveis. Lá está assentada uma máquina pequena, mas proporcional, que utiliza em seus numerosos transformadores, a Energia Cósmica. Entretanto, o uso dessa máquina só pode ser feito no espaço normal. No caso de uma eventualidade, teríamos que retornar rapidamente a ele. Evidente que passaríamos a nos deslocar muito mais vagarosamente. Seguiríamos, também, uma trajetória espacial muito mais extensa. Compreendo. Impressiona-me a estabilidade que se desfruta no interior da Nave. Sinto-me como em terra firme. Posso olhar por uma vigia? Pode... mas não verá nada. O subespaço é escuro. "Atalho negro", então? É uma região extraordinária sorriu ROMA divertido Vai apreciar quando chegar sua vez de estudá-la, futuramente. Acredito. Sinto-o semelhante ao subconsciente do Homem. Umbral de atraentes mistérios. O Homem foi criado para penetrar os grandes mistérios. Foi, originalmente, equipado para os profundos mergulhos e infinitos vôos. Pode transformar-se num "conversor" como num "inversor". Está qualificado para amplificar ou reduzir as diferenças de seu próprio potencial. É uma questãode tempo. Até lá... arrasta-se inconsciente de seus poderes. Mísero verme satisfeito consigo mesmo. Nem quero pensar nisso. O estágio da "lama" e muito demorado. Depende... São fases de grande efeito futuro. Nada mais do que o Homem exposto à sua própria força. Aprendizado de sucesso esse. Infalível, RANA! Um DEVA está agradavelmente instalado para falar da posição do Homem, sem se deixar impressionar pelos insucessos de seus esforços primários. Um DEVA, meu amigo, passou antes pelo estágio "lama" de que falou. Sofreu distorções, conheceu as baixas freqüências de micro mundos. Esteve exposto aos efeitos de suas próprias projeções. Abusou de seus limites. Viu-se isolado e submetido a resultantes de seus pobres ensaios obscuros. Tem razão. Não há fuga possível. O Homem foi criado com o destino de AUTO-ENCONTRAR-SE conscientemente. Nada que diga ou faça pode mudar isso. Está livre para escolher as trilhas, atrasar a "caminhada", criar miragens, desenvolver obstáculos, mas não conseguirá mudar o final. Bem... quando poderei ver RAI novamente? Ai está... começou ROMA com ar malicioso Qualquer assunto que seja tratado por você, acabará em RAI. Refira-se a semeadura ou colheita, empreendimentos técnicos ou... empacotamento de frutas! Tudo leva a pensar em RAI... Ainda bem! ELA não esquecerá de recordar-lhe o Objetivo Único ou conquista da Consciência Cósmica. Como vê, qualquer discrepância da rota fatal acaba sempre por trazer o suposto evadido de volta à Grande Finalidade. Você verá RAI em breve, meu amigo. Não antes de encontrar SHÂNY, naturalmente. Não é preciso apagar o colorido das minhas primeiras perspectivas. SHÂNY é a mais colorida das perspectivas em RA'M SMARANA. Questão de opiniões. Não posso nem devo persuadi-lo ao contrário. É um problema exclusivamente seu. Ninguém poderá ajudá-lo suficientemente. Ademais, não há pressa. Seu talento de Líder é o que conta agora, nesta etapa. Por falar em SHÂNY... Como se sente em relação a ROMAR? Pode responder uma pergunta assim? Sem dificuldade. Sinto-me apoiado, seguro, capaz. Com ela sou mais forte, mais sensível aos problemas humanos. Possa amar o AMOR com mais intensidade. Com ela, meu amigo, SOU ALGO COMPLETO e verdadeiramente útil. É o máximo que posso esclarecer à respeito. Para o resto, não encontro possibilidade de definição satisfatória em qualquer idioma expresso através de escrita ou fala. Está bem assim suspirou RANA, com ar de desânimo . Por mais que me esforce, sinto-me bem ao contrário. Desagrada-me a presença de SHÂNY. Estranho... É assim que me sinto agora. Provavelmente, depois destes mil anos punitivos, pensarei e sentirei de outro modo. Precisara de tanto tempo? Acho bem provável. Quando fiz meus estágios nos reinos vegetal e animal, fui um Monótipo. Talvez explique minha reação diversa. Na verdade, é um tipo tentador como fonte de estudos. Vou mostrar-lhe seus aposentos. Venha... RANA logo encontrou-se num compartimento razoavelmente amplo, agradável aos sentidos físicos e sutis. Tudo combinava com seus olhos. Tudo argental! RAI disse-me, certa ocasião, que um dia mandaria fabricar, especialmente para ela, uma cama assim! comentou surpreendido Exatamente assim. Em que outro lugar existem essas camas? Em ROMAHARSAN? Não. É modelo muito antigo. Nossas primeiras espaçonaves já possuíam "camas" assim. Antes, muito remotamente, RAI viajou em algumas Naves de ROMAHARSAN. Experimentando este modelo ficou entusiasmada. Disse que em nenhuma outra ocasião imaginaríamos algo mais confortante. Bem... foi conservado o modelo até hoje, embora, todas as outras coisas tenham sido alteradas. Gosta? Percebo!... Sim, gosto muito. Devem ser mesmo confortáveis. Nem um pouco mais do que é estritamente necessário. Observe o colchão fixo. Parece espuma de prata disse RANA experimentando-o. Tem alguma semelhança com os leitos vegetais de KUNTI e do KRISHNALOKA. O colchão é fabricado com um componente mineral muito energético, que se mantém vivo. Toda essa borda alta que representa a cabeceira e declina até os pés, é composta de metal altamente sensível. Escolhido especialmente para transmitir bem- estar. Observe a cabeceira. Ora! Está escrito RANA, em sânscrito! Isso mesmo. A "cama" foi condicionada para você. Não poderá ser ocupada por outro. Não daria o mesmo resultado. Mas... Não vou usá-la por muito tempo! Ficará inutilizada, depois? Não. Muda-se, apenas, o condicionamento, após severo expurgo geral. Enquanto você estiver usando-a, pensará, sentirá emoções, desejará... Serão pensamentos, desejos, sensações pessoais, convenientes a você. A transmissão deles para outro elemento não seria positivo. Estou em tão péssimo conceito? Não compreendeu. Nem mesmo os pensamentos de um Andrógino Angélico seriam positivos, no caso. Cada um deve repousar sem influências exteriores, para que mantenha equilíbrio relativo à sua própria evolução. Compreendi, agora. Perdoe-me a ignorância. Ao alcance de suas mãos, encontrará dois pequenos botões triangulares. Quando estiver deitado encontrará mais facilmente. Um verde e outro vermelho. Servem para ouvir melodias espaciais. Seu próprio padrão vibratório atrairá somente melodias que gostará de ouvir. O vermelho liga, e enquanto permanecer ligado conservará brilho fosforescente. O verde desliga e, quando o faz, fica fosforescente apenas um momento. ROMA! É o melhor de tudo nessa fabulosa Espaçonave! elogiou o rapaz satisfeito. Alegra-me que fique contente entre nós. Veja agora isto aqui continuou apertando outro botão triangular vermelho, bem longe da cama. Uma porta corrediça apareceu e logo sumiu embutida. É um aposento de banho a vapor. Não usamos água enquanto viajamos. É desnecessária. Nos botões azul, dourado e rosa a temperatura do vapor poderá ser controlada para mais ou menos. Conseguirá ler muito facilmente o que está escrito neles. É sânscrito. Meu caro! Deve ser sânscrito puríssimo. Ninguém conhece isso na Terra. O que se conhece por lá é de pureza discutível. Você entenderá, RANA. ÉE sua língua-mãe. Está presente desde sua origem. Viva no subconsciente. Se desejar entender, basta um pequeno esforço mental. Muito bem, mas... insistiu o rapaz, olhando ao redor com sorriso travesso . Se precisar escrever? Não vejo cadeiras, mesa, lápis, papel! Isto também será resolvido a contento respondeu ROMA tranquilamente, apertando outro botão triangular na outra parede. Uma outra porta corrediça surgiu e desapareceu, deixando ver uma cavidade circular espaçosa. Dentro dela, um assento anatômico. O que vem a ser esta coisa? Pode-se dar-lhe o nome de cadeira, se convier. Nela você pode sentar-se comodamente, descansar a cabeça na cavidade correspondente. Todo corpo estará repousado. A seguir, liga o botão vermelho à sua direita. Feito isto, escreverá, MENTALMENTE, o que desejar. Santo Deus! E se errar? Há solução para tudo. Se errar, volte atrás, usando sempre a mente. Apague o que não está conforme ou não é desejado. Apague mentalmente, como se estivesse usando borracha. Depois, retorne ao ponto onde parou. Quando houver terminado, use o botão verde, bem à sua esquerda, para desligar a máquina. E o que foi escrito? Onde fica? Logo que for desligada, a máquina expelirá pequenas folhas de delicado metal, onde poderá ler o que desejou escrever, ou melhor, o que escreveu com o auxilio da mente. Notará que os caracteres correspondem à sua caligrafia pessoal. Ah! O que se perde lá na TERRA! gracejou RANA. Ao lado da "cama", notará um Visiofone. Esta peça nada tem de novidade, suponho, para os terráqueos. Transmite a voz, forma e cor fielmente. Recebe de igual modo, a grandes distâncias. Sabe, meu amigo, fiquei cansado. Foi coisa demais para o pobre RANA. Vou experimentar a cama agora mesmo. De acordo. Não esqueça de compor um diário. Não era isso o que pensava, quando procurou mesa, lápis e pape!? Claro! Ajuda a alinhar os pensamentos. Estou encantado com seu "VELEIRO", Comandante! Gostaria que RAI pudesse vê-lo. ELA verá... Descanse, agora. Chame-me, se precisar. Estarei no Mirante. Use o Visiofone. Aperte o botão em forma de R maiúsculo. Obrigado por tudo. Espere um pouco! Como vou apagar a luz? Muito simples. Deite-se e espere. Só isso? Só... Cinco minutos depois, notara que a luminosidade irá cedendo, até tornar-se tênue. Quando levantar-se, tudo voltará a ficar claro, como agora. Comporto-me como criança espantada, não? Bem... Não sei se devo dizer "boa noite" ou "bom dia". Que sugere? Não fará diferença aqui no subespaço. Descanse, RANA. Avise quando sentir fome ou precisar de mim. Não se preocupe. Aqueles botões lá adiante, já entendi, são componentes vitamínicos para minha alimentação. Sim. Encontrará ao lado das cápsulas o suco do Áster num recipiente cristalino. Use-o quando sentir sede. No caso de cansar de seus aposentos, procure orientar-se pelas numerosas divisões de "SHRI LAKSHMI". Há muito o que ver. "SHRI LAKSHMI"? Foi o que disse? Exatamente. É o registro referência desta NAVE nos Departamentos e Espaço-Portos de ROMAHARSAN. Puxa! Estou EM-CAN-TA-DO com seu “VELEIRO", Comandante! Já disse isso. Deixe-me reiterar! * * * O dia no Planeta Dourado chegou exatamente ao meio. SARSTI, o Sol Duplo, derrama sua luz verde suave sabre RA'M SMARANA, propiciando a primavera, numa dádiva de tons e brilhos misteriantes. Sete metros acima do solo, a NAVE imobilizou-se. A escada foi descida. Ouvia-se murmúrio ele vozes. ROMA procurou RANA em seus aposentos. Venha disse simplesmente Pequena multidão aguarda lá fora seu COMANDO. Tem certeza de que chegamos? inquiriu o rapaz, endurecendo os traços fisionômicos. Certamente. Dei uma olhada ligeira. Quase mil elementos de sua Raça estão no Pátio Circular do MIRANTE DO COMANDO. Rostos ansiosos, RANA. Exagera... falou ríspido Estão curiosos, apenas. É natural. Engana-se. Não se trata de curiosidade. Precisam de você para sentir a segurança de que carecem. Dependem de você para serem SMARANIANOS novamente. Ficarão decepcionados, no final. Não poderei evitar isso. Sabe que não será assim, RANA. Descobrirá no coração reservas inesperadas para o trabalho que aceitou. Trabalho que lhe cabe por direito de origem. Lembre-se disso. Vá! Estão aguardando. Talvez você prefira descer em roupas espaciais... Não! Bastam-me estes 27 centímetros de tecido metálico. Sou KANA, não é? Pois bem, isso deve bastar. Não haveriam de esperar que chegasse com manto carmesim e coroa espetada no crânio, não é? Não, por certo não esperam isso. Sabem que seu antigo LÍDER possui mais dignidade do que é exigível para tal liderança. O belo homem de cabelos cor de chama viva passou por ROMA rapidamente. Atravessou os corredores e mais dependências da NAVE, até encontrar a abertura de saída. Seus maxilares estavam contraídos, seu olhar frio, quando divisou a multidão embaixo. ROMA esperava, em silêncio, logo atrás dele. SHÂNY está lá entre eles comentou com mau humor Haviam-me prometido que ela só seria trazida para cá quinze dias depois de mim. Por que a modificação? Ordens superiores. Não tenho parte nisso. Decisão de RAM? Ordens de mais ACIMA, suponho. Foi você quem trouxe SHÂNY? Não. Foi ÁSTYA, o escolhido para essa missão. Ela veio em outra Nave, com muitos outros. Não deve preocupar-se com a presença dela. Não lhe causará maiores estorvos. A idéia é ajudá- lo. Péssima idéia, por sinal. Em que SHÂNY poderá prestar ajuda? Desça, RANA. Não deve fazê-los esperar mais. Tenha calma! Não sinto a menor urgência em deixar está NAVE... Vamos trocar de lugar por algum tempo? Desça e cuide do Planeta Dourado e seus novos herdeiros. Ficarei com "SHRI LAKSHMI", espaço a fora. Não seria troca impossível. Apenas, não saberia lidar com seu povo tão bem quanto você. Da mesma forma, você não saberia o que fazer com "SHRI LAKSHMI"... ainda. Obrigado por lembrar-me disso. Ganha sempre, Comandante. Vou descer. Vem comigo? Não sou mais necessário. SKRON está capacitado para atendê- lo, doravante. É ótimo elemento de sua Raça. Seu súdito em épocas remotas. Alguém muito fiel. Adora-o! Tenho certeza de que vai sentir-se "EM CASA”. Está certo. Cuide de "SHRI LAKSHMI" por nós dois. Não duvide. RANA desceu a escada de discos superpostos vagarosamente. Mal pisou em terra dourada, a NAVE desapareceu. I'M LONELY... murmurou sombriamente. Havia desolação no seu olhar. Sou SKRON, meu COMANDO! apresentou-se o gigante de ar tranqüilo, cabelos vermelhos e olhos azuis. Cruzou os braços sobre o peito maciço, com as mãos fechadas. Velho sinal de submissão e respeito, adotado há bilhões de anos atrás pelo Povo de SMARANA. Minha hierarquia permitiu que fosse escolhido para imediato na execução de suas ordens, Senhor. Se for de seu agrado, naturalmente. É do meu agrado, SKRON respondeu o LÍDER amigável Lembro-me de você. Gosto de vê-lo por perto. Lembra-se de mim? De mim, Senhor? surpreendeu-se o homem, com grande emoção Honra-me, Senhor! Minha inferioridade proíbe-me recordar distintamente o que ficou sepultado no tempo. Sinto somente que meu Senhor representa para mim a maior Hierarquia de nossa Raça. O resto são sombras e muitas dúvidas sobre a autenticidade delas. Basta que eu lembre, SKRON. É suficiente. Um brado de alegria ecoou pela multidão atenta. RANA! RANA! RANA! gritavam impetuosos. Cruzaram os braços ao peito, em sinal de submissão e respeito. Venturosos somos nós que temos a ti como LÍDER! Falavam num sânscrito puríssimo, que a TERRA desconhecia. RANA entendeu cada palavra. Bem havia dito ROMA! Era sua língua-mãe que novamente florescia pelos esconderijos insuspeitados de seu Espírito imortal. SHÂNY! chamou, em tom impessoal Venha comigo. Vamos ocupar oficialmente o MIRANTE DO COMANDO. Pare de ficar espreitando, como animal desconfiado. Não vou mordê-la. Fico-lhe muito grata respondeu irônica RAM pediu-me para não aborrecê-lo. Conselho profundamente sábio. Sinto não ter conseguido inventar, em tempo, uma engenhoca que me permitisse ficar invisível a maior parte das horas concluiu ela baixinho, mantendo ar de absoluta candidez. Não exigiria tanto. Evite apenas mostrar-se espertinha demais. Ou compacta demais, também. Falavam baixo, conservando ar de perfeita compreensão. Ninguém suspeitaria do que realmente falavam. Até mesmo SKRON, que estava inteirado do desagrado de RANA com relação à moça, mostrou-se satisfeito com o desfecho que o caso parecia haver tomado. Afinal, haviam-lhe informado que se tratava de situação algo melindrosa. É só avisar tornou SHÂNY entre dentes quando ameaçar exceder-me. Sugiro um sinalizador nos seus aposentos. Vermelho! Encontrarei uma forma de eclipsar-me. Verde! Avançarei até o portal, para cumprimentá-lo, formalmente, e procurar saber se posso ser útil. Seu senso de humor fatiga-me. Semelhante demais ao meu. O que representa uma honra, Senhor! Posso divisar, agora, toda extensão de nosso tédio comum. Talvez queira retornar para NYZZA... Por uns tempos. Oh! Nem pense nisso! Aqui tenho muito mais oportunidade de ver RAM. Lamento desencantá-lo, assim, logo de chegada. Esperava isso... Não se pode ter tudo. Ótimo, então. Estamos entendidos, suponho. Tanto quanto é possível, numa situação destas. O MIRANTE DO COMANDO estava construído em quartzo citrino, num amplo terraço circular que parecia apoiado em grande elevação de terreno. Edificação circular, espaçosa, elegante, absurdamente simples, estética. Algo exatamente na proporção e gosto de RANA. Elevador rápido, macio, silencioso, confortável, cilíndrico, transparente. Sete andares compondo o MIRANTE. Os aposentos pessoais do LÍDER ficavam no sétimo, os de SHÂNY no sexto, o Salão de Audiências no térreo. Os outros andares teriam destino que RANA determinasse no futuro. No seu aposento de trabalho, o LÍDER emudeceu e estacou. Via- se um topázio gigante, lapidado em forma de diamante, fixado ao chão. Cintilava discretamente sob a cúpula cristalina do MIRANTE, espelhando tons suaves, aconchegantes. Era a "mesa" de trabalho. Por trás dela, outro topázio semelhante, embora bem menor, constituía sua cadeira particular. Cavada anatomicamente, mostrava-se confortável e de grande mobilidade, apesar de equilibrada apenas no afinamento de suas facetas. RANA passeou os olhos, apressadamente, pelas paredes. Haviam fileiras de cavidades quadrangulares, onde se encontravam ajustados numerosos discos metálicos. Pequena biblioteca de fitas magnéticas, remanescentes da Inteligência Smaraniana. Tudo o que havia sobrado. Bastava manejar com os botões laterais, para que o COMANDO mergulhasse, audivelmente, nas profundezas da Sabedoria de seu POVO. Ele, porém, não mostrou-se interessado demais. Aproximou-se da "mesa", mansamente, com saudades no olhar. Ali estava a estátua de RAI! A forma de RAI tão perfeita como se fosse viva. RANA tocou o sari que esvoaçava de leve ao sabor do vento. Perfumava a sândalo. Afagou o rosto frio, inerte. Um gemido escapou de seu peito. Não perca o ânimo aconselhou SHÂNY despreocupada Sofrer com isso é infantil. Não esperava que ela fosse de carne e osso, não é? ROMA quis dar-lhe satisfação. Lembrou-se de que RANN, o Sacerdote-Reinante do planeta RADDHAY havia prometido a estátua a você, em certa ocasião. Pensou que estava na hora de efetuar a "cobrança". Foi o próprio RANN quem a trouxe. No seu aposento de repouso encontrará a caixa de KÊIR (espécie de cristal do planeta RADDHAY) que contém os outros saris. RANN explicou que troca diariamente as vestes da Estátua. Permite a ilusão da vida. Tontice! Um homem maravilhoso como aquele... Belíssimo! Aparentemente sábio, sereno, equilibrado... Fiquei impressionada com a importância que dava a Estátua. Você precisava ver. Nem mesmo entendi por que consentiu presentear-lhe. Olhava-a todo o tempo em que conversamos, com amor tal! Suspirou e saiu quase correndo, quando deixou-a ficar aí onde está agora. Seus estonteantes olhos cor de esmeralda cintilavam num adeus silencioso, magoado... Lamentável! Acabou o discurso? perguntou RANA asperamente. Julguei agradá-lo, contando tudo como se passou! Da próxima vez, por favor, não tente agradar-me. Jamais encontrará a fórmula certa. Sua tagarelice consome minha tolerância. Coisa muito limitada, pelo que vejo. Singularmente limitada, no que diz respeito a você, confesso. Vou precisar de toda minha reserva... para os outros. Suplico que mantenha sua antipatia na graduação atual. Não sei como reagiria se regulasse para mais. Quem diria! Um homem tão formoso! Emproada! Como era de supor, falta-lhe sabedoria. Agora... livre-me de sua presença... sua gata obstinada! Dê-me as coordenadas e desaparecerei. Seu Povo, lá embaixo, aguarda as novas diretrizes do COMANDO. Não é problema seu. Oh! Céus! Dizer que fui enganado! Prometeram-me alguns magros meses de solidão neste manso paraíso... Agora, isso! Está bem "Frigid". Diga-me o que devo dizer a eles e vou embora. Onde aprendeu Inglês? RAM ensinou-me. O que quer saber mais? Por que ele esqueceu de ensinar-lhe atitudes convenientes? Não quero ver-me obrigado a lixar-lhe a língua. Você! Seria adorável, se não fosse esse humor detestável. Que pena! Pare de resmungar e desapareça... Ainda está aí? Estou... Espero suas ordens. Eles estão esperando, lembra- se? Faça-os dispersar. As ordens chegarão amanhã. Tenho um milênio pela frente. Não há pressa. * * * Dez dias de entrosamento com o Planeta Dourado. Dez dias que haviam aproximado RANA de sua gente. Onde ele passava era observado, reverenciado, amado! RANA quase não dorme. Duas horas de repouso por "entardecer". Em RA'M SMARANA, como no seu vizinho KRISHNALOKA, não há noite. E só aurora e entardecer. Uma estação semelhante à Primavera para a semeadura, enquanto SARSTI mostra sua face verde. Outra, comparável ao Verão, para a colheita, quando a estrela dupla apresenta sua face rosicler. RANA é um dínamo. Trabalha constantemente. Sua mente poderosa revolve os Arquivos do Tempo. Busca, recolhe, cataloga, transforma expressões de preceitos, exposições remotas da Inteligência de um Povo. Cabe a ele equipar sua gente para nova vida. Tem de construir instrumentos de que necessitam para alcançar situação de maior conforto. O LÍDER precisa prover o Povo. Precisa defendê-lo. Por isso, esquadrinha, investiga as possibilidade imediatas, para pôr-se em ação. Senhor! soa a voz de SKRON, tirando-o do profundo mergulho mental Pedem-lhe audiências, hoje. Quantos? Dois, por enquanto. Sinto incomodá-lo. Está tudo bem, SKRON. Desça para o Salão. Estarei lá num instante. Perfeitamente, Senhor . SKRON bateu no peito com os braços em cruz. Voltando-se, entrou no elevador, ligando-o para o andar térreo. Duas pessoas aguardavam, quietas. Logo, RANA ocupou o assento central. Que venha o primeiro disse ele. Venha... falou SKRON para o homem que aguardava . Fale confiante. Ele é nosso amparo, nossa esperança. Através dele reconquistaremos o que é verdadeiramente BOM para nós. Fale! Senhor! articulou, batendo no peito com os braços em cruz Vim pedir ajuda. Fale, meu irmão... Há dois dias vem se manifestando um processo exantemático no meu corpo. Isto é, aqui no peito. Inicialmente, julguei tratar- se de reação natural. Afinal, estamos em contato com microorganismos diferentes daqueles do planeta que deixamos. Seria natural. Mas, o processo agravou-se. Tenho 9 filhos... Temo contaminá-los. Observe o senhor mesmo. RANA fixou o busto sólido do Smaraniano. Erupção estranha modificava a cútis sadia. Desenhava arabescos em tons sombrios. Sente dor? Não muita. Pior é a sensação desagradável do contato intruso, que me debilita e incapacita para a realização do meu trabalho. Qual a sua função? Eu, minha mulher e meu filho mais velho somos geólogos. Veja! Minha temperatura modifica-se em curtos períodos. Ora, mostra-se demasiadamente alta. Agora, por exemplo, desceu demais! Não se preocupe. Qual sua identificação? IKEN, Geólogo, Classe Veterana. Aproxime-se mais IKEN. Não se preocupe. Feche os olhos até que eu mande abri-los novamente. Fique calmo. Não pense em nada. Repouse a mente. SKRON, de longe, viu o corpo do LÍDER inflamar-se levemente. Como uma lâmpada que se acende aos poucos. Os olhos argênteos emitiram pequenos jatos de luz fosforescente. Um momento, e logo o corpo de RANA voltou ao normal. SKRON notou que o COMANDO estava cansado pelo esforço despendido paracontrolar mentalmente a radioatividade. Aproximou-se em silêncio e observou o busto de IKEN. A erupção havia sumido. Nenhum traço dela restava. Fez bem em vir logo, IKEN falou RANA . Foi fácil combater o micróbio. Sentiu alguma coisa? Apenas agradável calor, Senhor. Ótimo. Volte para sua família. Não há mais perigo. Se houver reincidência, o que duvido, procure-me imediatamente. Sem deixar passar nem mesmo um dia. Assim farei, Senhor. Vá, agora, IKEN aconselhou SKRON . O homem fez seu cumprimento, retirando-se a seguir com olhar profundo, onde havia mais que gratidão. Chame o segundo, SKRON disse Rana com ar cansado. Poderíamos transferi-la para outro dia, Senhor. Está exausto! É questão de momentos, amigo. Chame a mulher. RANA tinha a cabeça pendida, quando a jovem aproximou-se, tímida. Pensava em RAI... A moça esqueceu de cumprimentá-lo. Olhava-o embevecida! Muda e perdida em enlevos. O LÍDER ergueu sua formosa cabeça acobreada: era chama viva! Fitou-a vagamente. Por fim, surpreendeu-se com a expressão estática que havia no rosto da jovem. Em que posso servi-la, menina? O que deseja? Eu... eu... gaguejou perturbada Quero... apenas vê-lo! confessou num murmúrio desesperado. Minha filha! censurou SKRON, paternal Nosso LÍDER está cansado. Não se comporte como criança tola. Fale com clareza. Falei... É razoável que fique perturbada diante de nosso COMANDO, mas... acalme-se e diga o que quer? Deixe-a, SKRON! deliberou RANA Está assustada. Aproxime-se menina. Como é seu nome? Sente-se aqui ao meu lado. Chamo-me RIMY, Senhor. Nada tenho a pedir. Tracei... um plano pouco decente para vir aqui. Inventei um mal-estar, problema inexistente. Um motivo para ser recebida. Forjei a sensação de asfixia que vi uma mulher sofrer. Tinha de vê-lo, Senhor! Poderá compreender e perdoar? Claro que posso, RIMY. Continue... Bem... Pareceu-me um plano bem elaborado. Mas, quando vi o que aconteceu há pouco com IKEN... O que aconteceu de tão especial, RIMY? encorajou RANA suavemente. Meu Senhor curou-o instantaneamente! Faltou-me coragem para prosseguir simulando. Por que era tão importante ver-me, RIMY? Não teria paz se não o fizesse. Preciso vê-lo para dormir. Foi assim desde o primeiro dia em que meu Senhor pisou o solo de RA'M SMARANA. Vi-o descendo da NAVE ROMAHARSANIANA. Algo explodiu dentro do meu peito! Centelhas estranhas, agitação anormal, calor impetuoso, tristeza sem explicação, ansiedade mortal! Coisas confusas, meu Senhor. Só uma está bem claro. Preciso vê-lo para repousar o coração. Tem de ser todos os dias. Tem que permitir. Sei que não é pedido assim tão razoável, mas... deve atender-me. Compreendo perfeitamente A voz de RANA mostrava-se cansada. Grande tristeza nublava o brilho de seus olhos. Fitou a mocinha e, num salto, cobriu-lhe os olhos com uma das mãos, enquanto com a outra tocou de leve os cabelos vermelhos da jovem, bem na altura do pescoço. Sua mão forte incandesceu ligeiramente. O animal que subia encrespou-se e morreu. Quase não era possível notá-lo nos cabelos de RIMY. Tinha o corpo acobreado, comprido, dotado de inúmeras pernas. Está tudo bem, agora informou o COMANDO, algo pálido Era um myriápode. Animal semelhante a skolopendra terrestre. Muito venenoso. Mas, tudo passou. Está morto, agora. Com um soluço, RIMY aninhou-se nos braços de RANA. Acalme-se, menina! pediu, confuso, confortando-a . Foi, talvez, pequena punição porque veio aqui com propósito de mentir. É boa menina, sinto-o. Não quero que minta novamente. Não chore, vamos! Volte para casa. Estou perdoada? perguntou na defensiva, saindo de má vontade dos braços do LÍDER. RANA viu uns olhos azuis fitando-o avidamente. Mas, não! Não eram totalmente azuis. Tinham algo de verde. Eram muito doces e belos, Lembravam os olhos de RAI. Não sou nenhuma divindade, RIMY. O perdão é coisa discutível. Vá para junto de sua família. Vai permitir que o veja todos os dias? Sem dúvida. SKRON! Leve-a daqui. É uma menina... que logo amadurecerá, fatalmente. Por que fala assim, meu Senhor? Por que RIMY descobriu o amor dentro do peito... Só por isso. A jovem afastou-se a contra-gosto. Seu coração, porém, estava satisfeito. Havia experimentado os braços do LÍDER. Conhecia o calor de sua ternura. O que quer aqui, SHÂNY? indagou RANA, observando a moça que surgia de trás das colunas. Pergunta ou repreensão? Estou cansado. Diga o que quer e vá embora. Será indispensável tanta secura? Infringi algum regulamento? Ou não devia ter assistido a tocante cena que se desenrolou neste nobre salão? Não lhe conferi direitos especiais sobre minhas ações. Anote isso para não esquecer disse o rapaz, reprimindo a cólera Desista desse controle disfarçado, SHÂNY. Sabe que não é inteligente oferecer resistência tão constante? Poderia ser mais accessível. Facilitaria as coisas para nós dois. Não tenho interesse em facilitar nada. E não se trata de resistência, mas necessidade que sinto de solidão para "sentir", "pensar" e trabalhar convenientemente. Entendeu? Solidão que diz respeito apenas a mim. Ainda há pouco, notei que transbordava de ternura por aquela jovem insurgiu-se. Prometia vê-la todos os dias. Não pode negar que experimentou por ela calor especial. Não vou negar coisa alguma. Ora, não me amole! Não lhe devo satisfações. Apesar disso, presumo que posso exigir meu legítimo direito de ficar mais tempo ao seu lado. Legítimo, por quê? Os direitos no Planeta Dourado são estabelecidos por mim. Resultam daquilo que considero correto ou não. Acontece que sua proximidade não me convém explicou com acento neutro. O que há com você, homem? Não sou tão repulsiva, assim, afinal! Não disse que era. Na verdade, SHÂNY, é adorável Sua voz denunciava amargura, desencanto. Ninguém é tão bela, exteriormente. Exceto, talvez, RYE! Levando-se em conta o exotismo de sua pele. Luminosa exposição! Não vi onde quer chegar. Acabará vendo, qualquer dia destes. Haverá tempo para isso. Olhe bem para ele, SKRON! disse SHÂNY, movendo-se com graciosa desenvoltura. Maravilha supostamente humana! Fenômeno reversível. Por mais que se tente arrancá-lo de sua saudade, regressa sempre ao estado inicial. Contudo, deve ser constituído de prismas diversos. Hei de encontrar o caminho para ele, SKRON! Prometo que não desistirei facilmente. Isso não levará a nenhuma conclusão agradável argumentou o gigante de olhos azuis, tentando contornar o mal-estar ambiente. Não interfira neste assunto. SKRON! Esta pequena tem má índole. Gosta de irritar, desde que seja notada. Não há conciliação passível entre nós. Breve estaremos habituados a isso. Todo começo é maçante. Ouviu, SKRON? Ele não está sujeito às leis naturais. É um MONSTRO! Nada lhe causa efeito. Outros tiveram a mesma opinião, querida. Não é novidade. Agora, chega de discurso, sua mestiça empanturrada de vaidade. Reserve sua astúcia e arrogância para outro que não lhe conheça o íntimo. Preste bem atenção! Não quero mulheres nos meus calcanhares. Isto também se aplica a você. Estamos combinados? Venceu, mas não vou permitir que aquela moça volte ao Mirante! São coisas que cabem a mim decidir corrigiu impaciente Agora, saia! Acabou a "gasolina", como costumava dizer RAI... Ora! Estamos apenas no primeiro "round", meu "amor"! pronunciou SHÂNY, retirando-se, com fingida jovialidade. * * * Arrastados estavam passando os dias, segundo o conceito do LÍDER. SHÂNY tornara-sedemasiado ciumenta. Complicava as coisas mais singelas. RANA preferia que fosse diferente. Não pretendia molestar nem ser molestado. A cessação de palavras nos lábios da moça não significava trégua nem calmaria. Estava mudando... para pior... Obstinava-se em criar obstáculos para RIMY. Esta, por sua vez, mostrava-se disposta ao duelo. Protestava com vigor, exigia atenções de seu LÍDER. RANA acabou constrangido. Essa classe de problemas contrariava toda esperança de tranqüilidade. Revoltava- se contra as circunstâncias que o haviam colocado como centro de ridículas disputas. Não fora arrancado de seu mundo para esse tipo de entretenimento! Aceitara pagar alto preço por altos objetivos. Nada que incluísse aquilo! Cabia-lhe a instrução espiritual e encaminhamento de um Povo. Estava em suas mãos proceder o desenvolvimento de princípios indispensáveis à natureza do novo sistema de vida física e mental que estava destinado ao Povo Smaraniano. Era urgente ensinar que a inteligência do Homem não está destinada a colocá-lo na posição de deuses. Iminente recordar a quase extinção da Raça... pela vaidade! Imprescindível lembrar que construiriam novamente máquinas, fabulosos engenhos. Mas, não seriam simplesmente novas oportunidades de experimentar o sabor da posse de uma inteligência privilegiada. Seriam ensejos que deveriam levar o Smaraniano à conclusão de que o Homem está destinado à heranças insuspeitadas. Para que possam deduzir que a inteligência do Homem está consagrada ao Serviço das ALTITUDES CÓSMICAS. Isto sim, era o que cabia a RANA demonstrar. Especialmente, que os mais grandiosos engenhos concebidos pela mente do Homem, não constituíam um FIM, mas um MEIO de melhor atingir ao FIM inevitável. Destas coisas falava RANA ao seu Povo, bem ao pé do MIRANTE, quando percebeu a presença de RAM, ROMA e RAI, em corpos astrais. Tão contente ficou que, instantâneo, largou o próprio corpo físico ali mesmo, onde estava assentado, na curiosa rocha dourada. SKRON viu-o escorregar para o chão, como estátua sem alma. Não se preocupou. Sabia que seu COMANDO não havia morrido, não estava passando mal, nem mesma havia desmaiado. Possuía avanço evolutivo suficiente para ver e ouvir além dos ouvidos e olhos físicos. Por isso mesmo fora escolhido para auxiliar de RANA. Tranquilamente fez dispersar o POVO. RIMY, porém, que nada via ou ouvia adiante da matéria densa do plano físico, desesperou-se. Jogou-se ao solo, abraçando o corpo bem amado. Estava literalmente transtornada. SHÂNY interferiu violenta. Deixe-o em paz, RIMY! Não pode tocá-lo, enquanto não está consciente. Deixe-se de encenações. Não sou sensível a elas. Saia daqui! O que ama tem direitos que o amor concede refutou a outra, argumentando por entre soluços. Pois bem, discuta seus direitos com o Amor. Comigo não adianta! Encontrará constantes objeções. Sou contra as prerrogativas em excesso que lhe são concedidas. Sabe muito bem disso. Vamos! Estou esperando. Saia daí! insistiu SHÂNY, com sinais evidentes de có1era mal contida. Não sendo atendida, pressionou o ombro da jovem, maguando-o com as afiadas unhas. SHÂNY está certa, RIMY aparteou SKRON, impessoal Ninguém deve tocar o corpo do COMANDO, nem ficar tão perto, enquanto estiver desacordado. RANA está bem, asseguro-lhe. Eu ficarei ao lado do corpo, enquanto meu Senhor estiver fora. Vamos, menina, seja disciplinada! Vejo que tomou o lado dela. A beleza de SHÂNY impede o raciocínio correto dos homens. Pois bem... vou ficar! Experimente tirar-me daqui! Enquanto a desagradável cena desenrolava-se diante do corpo inerte, outra ocorria mais adiante. Nada desagradável... para o COMANDO, pelo menos. RANA beijava as mãos de RAI com verdadeiro arrebatamento íntimo. Mal cumprimentou ROMA. Fitou RAM e falou sem ressentimentos: Não vou agradecer por haverem trazido RAI. Sei que pensaram apenas no meu trabalho, na minha missão, não em mim. Isso não é acusação, mas... pura constatação. Tenho certeza de que agem segundo seus elevados conceitos de certo e errado. Notaram que minhas forças psíquicas estavam refluindo rapidamente. Sabiam ser inútil qualquer outra maneira de contornar o fato. Está bem... quero somente permissão para vaguear um pouco por aí... com ela. Não perca tempo aconselhou ROMA. Tem meia hora. Despeço-me por antecipação. Meu corpo físico encontra-se em minha Nave, lá adiante, no KRISHNALOKA. Não pretendo privá-lo de seu tempo integral... RAM levará RAI de volta. Não irão precisar de mim. Até breve, então. Venha RAI disse o rapaz satisfeito, procurando a mão da mulher. Prendeu-a docemente na sua mão grande e forte Daremos uma "olhada" no MIRANTE DO COMANDO. Depois, mostrar-lhe-ei flores exóticas, cascatas, riachos, lagos, cogumelos e todas as coisas belas de RA'M SMARANA, que não consegui apreciar devidamente... sem os seus OLHOS por perto. Vejo que ainda não está conciliado com o Planeta Dourado. E muito cedo ainda. Antes, cabe-me reorganizar o Povo. Buscar nos esconsos da Raça o "lugar oculto". Explorar profundezas humanas... Investigar conflitos entre o coração e a mente. Quando tudo estiver mais ou menos encaminhado, então, conceder-me-ei oportunidade para estreitar ligações exigíveis entre mim e RA'M SMARANA. Talvez tenha razão... Tenho... acredite, querida. Essa brisa perfumada, sopra contínua, RANA? Custa-me ouvi-la chamar-me RANA. MART é um nome de grande efeito para meu coração. Recorda-me outros contatos com você... Outros tempos mais doces. Um passado melhor... RAM disse-me que, doravante, seria negativo chamá-lo MART. Caso encerrado. Não me cabe discuti-lo. É... Não respondeu minha pergunta. Ah! Sim... falou com extrema doçura Você perguntava acerca da brisa. Essa aragem gostosa que sopra como enredos de Primavera na TERRA. É a primeira vez que estou a senti-la. É provável que ela seja contínua. Não sei. Vou observar... RAI! Sim. Se me convertesse em vapor e pudesse segui-la sempre, o que diria? Diria que o vapor dissipa-se, consome-se depressa. Eu também... longe de você. Não tem direito a reconcentrar-se assim, RANA. Está destinado aos grandes vôos do Espírito. Não deve, nem há como evadir-se, meu amigo. Posso tornar sem efeito tudo o que foi começado, não posso? Claro que pode. Mas, não o fará! Tem razão disse, olhando-a nos olhos Não o farei... por você. Todavia, isso não abranda o fato de que fui despojado de tudo. Até do direito de morrer, como os outros. Não será assim para sempre. Não murmurou, amargo Não será para sempre. Por mil anos... apenas. É um grande conforto! Com certeza não podia ser diferente, quando se é o EIXO principal de engrenagem altamente valiosa. Hum... Fui exercitado sem saber. Submetido a duros treinos, durante trinta e cinco anos desta vida. Induzido, sutilmente, a reassumir os caracteres de EIXO que sustém e movimenta numerosas peças na direção esperada. O mal, RAI, e que posso decepciona-LOS. Posso revelar-me vulnerável ainda. Susceptível a movimentos regressivos. Refere-se a fraqueza ou insubordinação? Não sei, em sã consciência. Pode ser uma coisa, outra, ou ambas. Está se tornando amargo, meu amigo! repreendeu RAI fracamente. Não se impressione assegurou o rapaz, afagando de leve os cabelos cor de prata da mulher. É uma questão de ângulos. Faceta extensível do meu tremendo caleidoscópio interior. No momento que estou ao seu lado, nada é fixo. Desejos, sonhos, emoções fraquezas, altruísmo, ideais... Nada existe em definitivo em mim, além do meu amor. Essa