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R e v i s t a Conselho Federal de Medicina Veterinária CFMVissN 1517-6959 Ano 17/2011 – n°52 – R$ 7,00 jaN/fev/maR/abR um novo cAmpo de AtuAção pRofissionAl Transgenia em animais Revista Cfmv. – v.17, n.52 (2011) brasília: Conselho federal de medicina veterinária, 2011 Quadrimestral issN 1517 – 6959 1. medicina veterinária – brasil – Periódicos. i. Conselho federal de medicina veterinária. aGRis L70 CDU619(81)(05) a revista CFmV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária e destina-se à divulgação de trabalhos técnico- científicos (revisões, artigos de educação continuada, artigos originais) e matérias de interesse da medicina veterinária e da Zootecnia. a distribuição é gratuita aos inscritos no sistema Cfmv/CRmvs e aos órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos devem ser enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterinária no seguinte endereço: sia – trecho 6 – Lote 130 e 140 brasília – Df – CeP: 71205-060 fone: (61) 2106-0400 – fax: (61) 2106-0444 Site: www.cfmv.gov.br – E-mail: cfmv@cfmv.gov.br a revista CFmV é indexada na base de dados aGRObase CFMV CF M V 4 Editorial 5 Entrevista | Andréa Cristina Basso sumário 14 Biotecnologia Animal 17 Comportamento Animal 26 Suplemento Científico 58 Avicultura Industrial 66 Obesidade Canina 72 Vigilância Sanitária 76 Publicações 78 Agenda 80 Opinião | Lívio Cézar menezes fontes – Necessidade de uma Visão Profissional - Empresarial e chegou o tão esperado ano novo! Como es- tamos entregando o primeiro número da Revista Cfmv em 2011, as esperanças estão renovadas e as perspectivas, bem positivas. início de ano é época de se preparar para enfrentar o que vem pela fren- te, é época de muito trabalho e também de muita dedicação. O início de um novo ano estimula a todos – até aos mais descrentes – a encontrar coragem para superar os desafios, transformando-os em oportuni- dades de crescimento e realizações. Recomendamos aos nossos colegas médicos veterinários e Zootecnistas que aproveitem este início de ano, e todos os dias que estão por vir, para buscar a melhoria e o aperfeiçoamento profissional e pessoal. Nossa existência, com certeza, deve ser mar- cada pelos valores que somos capazes de agregar às pessoas que estão a nossa volta. Nesta edição da Revista Cfmv tivemos a satis- fação de entrevistar a Dra. andréa Cristina basso, médica veterinária atuante em biotecnologia da Reprodução, e tratamos, em nossa reportagem de capa, da transgenia animal. Daí vem a ideia de pen- sar o que nos prepara o futuro. Como vai ficar tudo? O certo é que os avanços da ciência importam em que devemos estar preparados para atuar com eficiência e dentro do que a sociedade espera de nós. atualmente, não conseguimos mais viver exclu- sivamente o momento presente. Não paramos de tentar adivinhar o porvir e, nesta nave, devemos estar atentos e esperançosos de que a ciência nos levará ao bom caminho e, se quisermos, poderemos contribuir. conselHo fedeRAl de medicinA veteRinÁRiA SIA – Trecho 6 – Lote 130 e 140 Brasília – DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br cfmv@cfmv.gov.br tiragem: 85.000 exemplares diRetoRiA eXecutivA PrESIDENTE benedito fortes de arruda CrMV-GO Nº 0272 VICE-PrESIDENTE eduardo Luiz silva Costa CrMV-SE Nº 0037 SECrETárIO-GErAL joaquim Lair CrMV-GO Nº 0242 TESOurEIrO amilson Pereira said CrMV-ES Nº 0093 conselHeiRos efetivos adeilton Ricardo da silva CrMV-rO Nº 0002/Z Oriana bezerra Lima CrMV-PI Nº 0431 Célio macedo da fonseca CrMV-rr Nº 0004 josé saraiva Neves CrMV-PB Nº 0237 Geovane Pacífico vieira CrMV-AL Nº 0250 antônio felipe Paulino figueiredo Wouk CrMV-Pr Nº 0850 conselHeiRos suplentes josiane veloso da silva CrMV-MA Nº 0030/Z Luiz Carlos januário da silva CrMV-AC Nº 0001/Z Nivaldo de azevêdo Costa CrMV-PE Nº 1051 Raimundo Nonato C. Camargo júnior CrMV-PA Nº 1504 Ricardo de magalhães Luz CrMV-DF Nº 0166/Z conselHo editoRiAl PrESIDENTE eduardo Luiz silva Costa CrMV-SE Nº 0037 joaquim Lair CrMV-GO Nº 0242 amilson Pereira said CrMV-ES Nº 0093 editoR Ricardo junqueira Del Carlo CrMV-MG Nº 1759 JoRnAlistA ResponsÁvel flávia tonin MTB Nº 039263/SP colAboRAção flávia Lobo MTB Nº 4.821/DF pRoJeto e diAgRAmAção Duo Design Comunicação impRessão Gráfica Editora Pallotti e D i t O R i a L e X P e D i e N t e O futuro que nos espera Os aRtiGOs assiNaDOs sÃO De iNteiRa ResPONsabiLiDaDe DOs aUtORes, NÃO RePReseNtaNDO, NeCessaRiameNte, a OPiNiÃO DO Cfmv. Médica Veterinária graduada pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP. Obteve os títulos de Mestre e Doutora em Reprodução Animal pela Universidade de São Paulo – USP. É uma das maiores especialistas em melhoramento genético bovino do País e é uma das fundadoras da In Vitro Brasil, laboratório que se tornou referência em biotecnologia re- produtiva no Brasil. Atua principalmente na produção “in vitro” de embriões bovinos no cultivo “in vitro” de tecido ovariano e na criopreservação de embriões bovinos produzidos “in vitro”. 1. Você pode definir o que se entende por Bio- tecnologia da reprodução e qual sua importân- cia para o melhoramento genético bovino? as biotecnologias aplicadas à reprodução animal compreendem um grupo de tecnologias desenvolvidas a partir de estudos científicos dire- cionados ao melhor entendimento e desenvolvi- mento da biologia reprodutiva dos animais domés- ticos e silvestres. envolve desde estudos relacionados à pesquisa básica até a aplicada. a primeira parte desvendando a fisiologia da reprodução e seu funcionamento e a segunda, utilizando-se de ferramentas que promo- vem, direta ou indiretamente, a melhoria da reprodu- ção animal. Depois da inseminação artificial e da transferên- cia de embriões produzidos in vivo, nas duas últimas décadas, a fertilização In Vitro (fiv) foi introduzida como a terceira grande biotecnologia da reprodução animal no brasil. Outras biotecnologias da reprodução vêm complementando a fiv, como é o caso do uso de sêmen sexado, da criopreservação de embriões produzidos in vitro, do transporte de embriões du- rante o cultivo in vitro e da clonagem e produção de animais transgênicos. e N t R e v i s ta anDrÉa CrisTina BassO Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 5 2. Faça um paralelo entre o tipo de produtor que esta tecnologia atende no Brasil e em outros países que possuem pecuária de alto nível de produção. O brasil tem sido bastante requisitado em termos de exportação de genética por meio de embriões congelados, principalmente de raças leiteiras. Países da américa do sul e Central, como Colômbia, venezuela, Panamá e méxico, têm enviado delegações ao brasil em busca de novos negócios, para compra tanto de genética como de tecnologia de produção de embriões. África do sul, China, austrália, israel, espanha e estados Unidos também fazem parte do grupo de países que têm investido em melhoramento genéti- co por meio da fiv. O perfil do criador brasileiro tem mudado nos últimos quatro anos. Hoje, o interesse pelos servi- ços de fiv tem sido direcionado ao melhoramento genético rápido, feito pela negociação de embriões, criopreservados ou não, oriundos de rebanhos gene- ticamente superiores. Há, por exemplo, alguns projetos realizados e outros em andamento no brasil em que grandes indústrias de beneficiamento de leite formam seus próprios rebanhos de matrizes de alta produção 100% a partir de embriões produzidos in vitro, com sêmen sexado de fêmea. O objetivo é fortalecer o abastecimento de leite para a indústria e fazer com que oprodutor tenha menos animais, porém com maior produtividade. Os criadores de rebanhos de elite para produção de carne continuam produzindo matrizes e repro- dutores de alto padrão. também têm melhorado rebanhos localizados em propriedades distantes dos grandes centros, aonde, até pouco tempo, as biotec- nologias da reprodução não chegavam. atualmente, é possível maximizar a produção de embriões em um mesmo período de tempo, possibi- litando produzir mais embriões por dia de trabalho. a biotecnologia tornou-se mais acessível ao criador. 3. a que se deve creditar o crescimento do número de empresas que fornecem esse tipo de serviço no Brasil? No início da aplicação comercial da fiv (2002) eram duas ou três empresas prestando esse serviço. O custo de produção era alto, assim como o retorno financeiro. Havia poucos profissionais especializados no assunto, os estudos eram escassos e localizados e a fiv era direcionada a rebanhos de elite. Comercial- mente, os resultados eram instáveis e havia pouca flexibilidade na técnica. Os estudos científicos em torno das biotecno- logias da reprodução foram ganhando adeptos e a tecnologia se aperfeiçoou. as empresas, aos poucos, conquistaram a confiança do criador, e novos técni- cos foram treinados para realizar as diferentes etapas do processo. Novas empresas surgiram sempre alavancadas pelas pesquisas desenvolvidas para o setor e, para- e N t R e v i s ta “No Brasil, grandes indústrias de beneficiamento de leite formam seus próprios rebanhos de matrizes de alta produção 100% a partir de embriões produzidos “in vitro”, com sêmen sexado de fêmea.” Bezerras Girolando, resultado do processo de produção em larga escala, produzidas por fertilização in vitro, após implantação em receptoras da raça Nelore iN vi tR O b Ra si L Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 20116 lelamente, os profissionais que saíam das universi- dades com a base teórica da técnica iniciaram sua atuação no mercado. entre 2004 e 2007, o brasil tinha cerca de 50 em- presas atuantes, porém o retorno era menor, apesar da maior estabilidade de resultados. a fiv passou a ser aplicada na reposição dos rebanhos de elite. Desde essa época, o perfil das empresas conti- nuou mudando. Hoje o retorno é marginal, mas é possível lançar mão de diferentes recursos que a fiv oferece para dar garantias de resultados. 4. Qual é a realidade da FiV no Brasil? a fiv é uma ferramenta consolidada no País e utilizada por inúmeras empresas comerciais, univer- sidades e centros de pesquisa. Desde 2008, nossa empresa tem realizado gran- des projetos de produção de matrizes leiteiras em di- ferentes estados do território nacional e no exterior. em 2009, essa escala atingiu a produção de animais destinados ao abate. em termos numéricos, a iets estimou que, em 2007, o brasil teria produzido 200 mil embriões. vamos aguardar os números de 2010, que, posso afirmar, vão surpreender, pois somente nossa empresa fechou o ano com 140 mil embriões produzidos. 5. O que podemos esperar da produ- ção e da oferta de embriões produzidos in vitro no Brasil? todos os dias mais pecuaristas têm acesso à tecnologia de produção in vitro de embriões, pois, com o aperfeiçoamen- to dos meios de cultivo e com a capacita- ção de mais médicos veterinários e equi- pes de campo, a técnica se massificou, os resultados ficaram mais consistentes e os custos diminuíram. O brasil vê ampliada a possibilidade de exportar sua genética zebuína para o mun- do. Porém, torna-se urgente a discussão e implantação de um protocolo sanitário voltado à exportação de embriões fiv de bovinos. 6. Qual é a realidade do congelamento e do co- mércio de embriões congelados no Brasil? Quais são os números do setor? O brasil é o líder mundial em produção in vitro de embriões, no entanto, apenas 3,7% deles eram crio- preservados em 2007 (iets). esse baixo número de embriões congelados foi influenciado pelos resultados de campo, em que os embriões fiv apresentavam menor tolerância ao congelamento, principalmente os de gado zebu, quando comparados com os embriões de vacas europeias. Durante anos, as estratégias de criopreservação estudadas pelos pesquisadores foram baseadas nos crioprotetores e nas velocidades de congelação e descongelação dos embriões, sendo os métodos mais utilizados a congelação lenta e a vitrificação. Na rotina dos laboratórios de fiv é muito comum ter sobra de embriões, seja por falta de receptoras “A criopreservação dos embriões excedentes nos permite montar um banco de embriões congelados, a serem utilizados quando há sobra de receptoras, otimizando o trabalho e diminuindo sensivelmente os custos do processo.“ Andréa no laboratório de clonagem próxima do equipamento de micro-mani- pulação de células e embriões iN vi tR O b Ra si L Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 7 aptas no dia da transferência, seja por produção aci- ma da média. em contrapartida, há ocasiões em que sobram receptoras sincronizadas sem receber em- brião. O fato é que, até há pouco tempo, os embriões não transferidos eram descartados, um desperdício de genética e dinheiro. a criopreservação dos embriões excedentes nos permite montar um banco de embriões congelados, a serem utilizados quando há sobra de receptoras, otimizando o trabalho e diminuindo sensivelmente os custos do processo. 7. Qual sua opinião sobre a clonagem animal? atualmente, o que se tem praticado com essa tecnologia em termos de animais de produção? a clonagem de bovinos, assim como as demais bio- tecnologias da reprodução, teve início em âmbito de pesquisa e, diante da expectativa dos técnicos e cria- dores, foi introduzida como prática comercial no brasil. a preservação genética pelo simples armaze- namento de uma linhagem celular de determinado animal tem funcionado como um seguro de vida em muitos casos. Por um custo muito baixo, é possível manter um estoque de células congeladas para uma futura clonagem que se faça necessária. Quando iniciamos a produção comercial de clo- nes de bovinos em 2005, havia uma série de dificul- dades relacionadas à produção propriamente dita. Os partos necessitavam de assistência e, na sua maio- ria, eram feitos por meio de cesariana. Os produtos apresentavam dificuldades de sobrevivência e a taxa de perda neonatal era em torno de 70%. Depois de inúmeras modificações de protocolos e adequações, conseguimos evoluir quanto aos resulta- dos de produção. atualmente, 50% dos partos realiza- dos em nossa sede são por via natural, sem assistência. Dos outros 50%, uma parte é natural assistido e somen- te 20% ainda necessitam de cesariana. O aproveitamen- to das receptoras passou de 10 % para 90% e a taxa de morte neonatal caiu para cerca de 20%. O crescimento vertical da clo- nagem no último ano se deu prin- cipalmente pela possibilidade de se fazer o registro de animais clona- dos, oficializado pelo maPa e pelas associações de criadores em 2009. Para este ano, já estamos ca- minhando para um novo passo na técnica, a clonagem de equinos. 8. em entrevista recente para a revista exame você mencio- nou que as empresas do setor são carentes de mão de obra qualificada. Onde está a origem do problema? Você tem treina- do profissionais? a técnica de produção in vitro de embriões consiste de três etapas distintas: a coleta dos oócitos, a “ Mesmo tendo especialização na área, esses profissionais necessitam passar por um treinamento para se adequar à rotina de produção comercial, que é bastante diferente da rotina que aprendemos na universidade.” Clones do Touro Bandido, popular em rodeios, nasceram em 2006 e foram produzidos por transferência nuclear de células somáticas(fibroblastos) iN vitRO bRasiL Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 20118 produção in vitro e a transferência dos embriões. Para cada uma delas é necessário uma equipe com qualifi- cações diferentes. a oferta de mão de obra é abundante, quase todos os dias recebo currículos de profissionais médicos veterinários e biólogos, a maioria recém- formados, porém 90% deles nunca participaram de nenhum estágio ou treinamento na área. entre os outros profissionais recém-formados que seguem para a pós-graduação em Reprodução animal, somente uma pequena parte deles sai do mestrado ou Doutorado em busca de trabalho em empresas de fiv. a maioria segue carreira acadêmica ou de pesquisa. mesmo tendo especialização na área, esses pro- fissionais necessitam passar por um treinamento para se adequar à rotina de produção comercial, que é bastante diferente da rotina que aprende- mos na universidade. É evidente que o embasa- mento teórico aprofundado e a experiência de rotina laboratorial de especialistas acelera esse processo de treinamento. todos os profissionais que são contratados pela nossa empresa passam, pelo menos, por quatro meses de treinamento. Primeiramente, o técnico tem que conhecer a rotina comercial de produção de em- briões, as dificuldades e as exigências do trabalho, para, depois, começar a fiv propriamente. 9. sabemos que o Brasil detém tecnologia e excelentes programas de pós-graduação na área de biotecnologia da reprodução. Qual a sua opi- nião sobre a interação universidade e empresa? a interação entre a universidade e o setor pri- vado é importante e, muitas vezes, imprescindível. De um lado, a universidade colabora com oferta de mão de obra, projetos de pesquisa direcionados ao aperfeiçoamento da técnica e possibilidade de desenvolvimento de projetos subsidiados. De outro lado, a empresa absorve a mão de obra, fornece uma tecnologia padronizada e com resultados conheci- dos para execução de experimentos e tem agilidade em disponibilizar recursos para a pesquisa. Nossa empresa pratica a interação com universi- dades brasileiras e do exterior e está sempre buscan- do parcerias para inovações tecnológicas. estamos participando, atualmente, de três projetos de pes- quisa de Doutorado em três universidades no brasil e outro no Canadá. esperamos novidades para 2011. atualmente, a empresa disponibiliza estágios curriculares direcionados à contratação. boa parte dos que fizeram estágio conosco não foram mais em- bora e hoje são grandes profissionais. 10. em 1999, o número de médicas Veteriná- rias correspondia a 25% do total de profissionais no Brasil, atualmente, esse número corresponde a quase 45% dos atuantes. a que atribui esse crescimento? Para você foi difícil ser uma mulher atuante na medicina Veterinária? algum conse- lho à futuras colegas? Não só a presença da mulher na medicina veteri- nária cresceu como os recursos tecnológicos ficaram mais acessíveis, o que facilitou – e não somente para as mulheres – o trabalho “pesado” do campo. Outros setores surgiram e atraíram em especial as mulheres, como é o caso das biotecnologias da reprodução. Desde o início do curso de medicina veterinária ficou claro qual seria o foco da minha profissão. De- pois da graduação, tive a oportunidade de me dedi- car mais à biotecnologias da reprodução e, durante seis anos, apliquei-me no mestrado e no Doutorado. essa experiência me forneceu a base para o trabalho que desenvolvo. No entanto, ao chegar ao mercado de trabalho, ainda tive muito em que me aperfeiçoar, sobretudo na execução da técnica de fiv em si, na padronização de protocolos comerciais, na criação de técnicas novas e por aí vai. Considero que, como em qualquer outra profis- são, atuar em medicina veterinária requer habilida- de, dedicação, empenho e paixão. Por isso se tiver que passar uma mensagem para as colegas médicas veterinárias, será esta: tudo o que se dispuser a fazer, faça com capricho e emprenho e, sobretudo, tenha prazer no que faz. somente assim terá realização pro- fissional e pessoal. “Se tiver que passar uma mensagem para as colegas Médicas Veterinárias, será esta: tudo o que se dispuser a fazer, faça com capricho e emprenho e, sobretudo, tenha prazer no que faz.” Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 9 D e s ta Q U e s No ano em que a medicina veterinária comemora 250 anos de ensino no mundo, as principais orga- nizações que representam a profissão em diversos países, entre elas o Conselho federal de medicina veterinária (Cfmv), se reuniram para iniciar as come- morações do “vet 2011: ano mundial da medicina veterinária”. O slogan do evento evidencia a impor- tância da medicina veterinária para a saúde, alimen- tação e sustentabilidade do planeta. a data relembra a primeira escola de medicina veterinária funda- da, em Lyon, na frança, em 1761. Na reunião de abertura, fez-se um balanço dos eventos que serão realizados. No total, se- rão 154, distribuídos em 55 países. Desses, 58 eventos receberam a chancela de acreditação da associação organizadora do vet 2011. todos os eventos enviados pelo Cfmv foram acreditados, correspondendo a 10% das atividades que re- ceberam o selo mundial. a chancela demonstra a afinidade da entidade brasileira às propostas discutidas entre os dirigentes da medicina veteri- nária de diferentes países. além das organizações profissionais, o evento tem outros membros institucionais de peso, como a Organização das Nações Unidas para a educa- ção, a Ciência e a Cultura (Unesco), Organização mundial de saúde (Oms), Organização das Nações Unidas para agricultura e alimentação (faO), en- tre outras. acompanhe as atividades do vet 2011 no Portal do Cfmv (www.cfmv.gov.br). avaliação, mas uma consultoria cujos resultados poderão ser acatados pela instituição para a me- lhoria. mais informações sobre a parceria podem ser obtidas em comissoes@cfmv.gov.br COMISSãO DE ENSINO DA MEDICINA VETErINárIA DO CFMV ASSESSOrArá COOrDENADOrES INTErESSADOS NO APrIMOrAMENTO DE CurSOS 2011 é INSTITuíDO COMO O ANO MuNDIAL DA MEDICINA VETErINárIA atenta à atualização e à qualidade do ensino su- perior e disposta a atuar em parceria com os cursos de medicina veterinária que apresentarem interesse, a Comissão Nacional de ensino da medicina veterinária (CNemv) do Cfmv se dispõe a assessorar os coorde- nadores de curso, para analisarem e discutirem, em conjunto, o programa pedagógico praticado pela ins- tituição, buscando melhorias para os próximos anos. voluntariamente as escolas poderão solicitar adesão ao programa. Previamente elas preencherão um cadastro e enviarão o programa pedagógico. em seguida, dois integrantes da Comissão visitarão a instituição para que seja feito um diagnóstico em con- junto com a equipe local definida pela escola. “serão avaliações pontuais, pois cada curso tem as suas par- ticularidades”, comentou Rafael Gianella mondadori, Presidente da CNemv. Os membros da Comissão esclarecem que não haverá custo para a instituição e garante-se o sigilo das informações tratadas. O processo não é uma Instalações adequadas são imprescindíveis para bons cursos aRQUivO Cfmv aR Q U iv O C fm v Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201110 PrOGrAMA DE PArCELAMENTO DE DéBITOS é rEINSTITuíDO NO SISTEMA CFMV/CrMVS O Conselho federal de medicina veterinária (Cfmv) reinstituiu o programa de parcelamento de débitos fiscais no âmbito do sistema Cfmv/CRmvs a partir da Resolução Cfmv nº. 975, de 14 de dezembro de 2010, publicada no Diário Oficial da União em 23 de dezembro do mesmo ano. O programa é destinado à regularização de dé- bitos de anuidades, multas, taxas, emolumentos e demais créditos das pessoas físicas e jurídicas com vencimentosaté 31/12/2008, inscritos ou não em dívida ativa, ajuizados ou a ajuizar, com exigibilidade suspensa ou não. O parcelamento do débito deverá ser solicitado pelo interessado até o último dia útil do mês de junho de 2011. Não poderão aderir ao programa reinstituído por essa resolução os interessados que tiverem sido excluídos do programa instituído pela Resolução Cfmv nº. 924, de 2009. a Resolução Cfmv nº. 975 pode ser lida na íntegra no Portal Cfmv, em Legislações/Resoluções Cfmv. rio de Janeiro – O Cfmv também decidiu prorrogar o prazo de pagamento das anuidades referentes ao exercício de 2011 para as empresas e os profissionais residentes nos municípios da re- gião serrana do Rio de janeiro atingidos pelos de- sastres naturais do início do ano. a prorrogação é válida apenas àqueles que estão sediados em are- al, bom jardim, Nova friburgo, Petrópolis, são josé do vale do Rio Preto, sumidouro e teresópolis. POrTAL CFMV AGOrA é www.cfmv.gov.br O Conselho federal de medicina veterinária (Cfmv) tem novo domínio para acesso ao seu portal na internet e também para envio de mensagens eletrônicas. após vários anos com o domínio “org.br”, o Cfmv passa a ser “gov.br”. ao buscar o portal de notícias, acesse www.cfmv.gov.br e todos os e-mails devem ser enviados para a extensão @cfmv.gov.br. Como exemplo: cfmv@cfmv.gov.br. serviços – Por meio do Portal Cfmv o usuário tem, em um único lugar, informações de interesse para os profissionais registrados no sistema. além do acesso aos contatos de todos os Conselhos (federal e Regionais), existem informações sobre a legislação, comissões assessoras, Programas de Residência re- conhecidos pelo Cfmv, Comissões de Ética no Uso de animais (CeUas) registradas no Conselho, listagem médicos veterinários e Zootecnistas. Cadastrem-se em www.cfmv.gov.br e recebam semanalmente, em seu endereço eletrônico, notícias do CFMV. com as entidades habilitadas pelo Cfmv para a concessão de título de especialista, notícias ins- titucionais, edições anteriores da Revista Cfmv, notícias diárias de interesse para a medicina vete- rinária e Zootecnia, entre outras informações. vi- site www.cfmv.gov.br e cadastra-se para receber o boletim eletrônico. www.cfmv.gov.br sHUtteRstOCk sHUtteRstOCk Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 11 D e s ta Q U e s TrAMITAçãO DE ArTIGOS CIENTíFICOS PArA A rEVISTA CFMV TErá MAIOr AGILIDADE muito se discute sobre o aquecimento global e suas causas, porém, para uma linha de especialistas em meteorologia, o planeta vive uma fase de resfriamento. a informação é baseada nos dados históricos e técnicos de ciclos que se repetem a cada 30 anos. Desde 1999, os estudos mostram que a terra entrou em uma fase de invernos mais rigorosos, maior número de tempesta- des, períodos secos mais agressivos e menores índices pluviométricos. a tendência é de agravamento até 2030. Os dados científicos foram apresentados pelo especialista em meteorologia Luiz Carlos baldicero molion (foto), no dia 9 de fevereiro, na abertura da ses- são Plenária Ordinária do Cfmv, realizada de 9 a 11 de fevereiro de 2011, em maceió, aL. CFMV DISCuTE AquECIMENTO GLOBAL EM SESSãO PLENárIA E AVALIA VErSãO CIENTíFICA OPOSTA AO AquECIMENTO Contrário à ideia de aquecimento, molion informa que a temperatura atual é inferior à média dos últimos 10 anos. ele esclarece que as alterações são influenciadas por ciclos e fenô- menose também pelas mudanças nos oceanos. ele enfatiza que a concentração de pessoas em grandes centros pode alterar o microclima local, mas não influencia diretamente em todo o clima do planeta. O alerta é dado para os pró- ximos anos. “O sol produzirá menos energia e os oceanos estão se esfriando”, comenta o pesqui- sador. ele acredita que a situação está próxima do que houve durante a fase fria da terra, de 1947 a 1976. Caso o ciclo se repita, molion teme pelos animais, em especial os que são criados a pasto, pois podem vir a perder peso e não resistir, como já ocorreu em períodos frios anteriores. molion é graduado em física pela UsP e estudou meteoro- logia nos estados Unidos e no Reino Unido. ele é pesquisador sênior apostado do inpe/mCt e, atu- almente, professor associado da Universidade federal de alagoas (Ufal), entre outras atuações. Com objetivo de agilizar a tramitação de ar- tigos científicos enviados para a Revista Cfmv, o Conselho federal de medicina veterinária mudou algumas regras de envio e passa a aceitar a remes- sa de artigos científicos por e-mail. Os trabalhos para serem submetidos à publicação poderão ser encaminhados para artigos@cfmv.gov.br a tramitação entre consultores e autores tam- bém será toda digitalizada, evitando atrasos e per- das. apesar das mudanças no envio, as normas de conteúdo, formatação e avaliação por consultores ad hoc continuam as mesmas (veja página 56). a Revista Cfmv, com periodicidade quadri- mestral, segue para todos os profissionais inscritos no sistema Cfmv/CRmvs. ela é indexada à agroba- se, além de ser considerada um dos principais veí- culos de comunicação com médicos veterinários e Zootecnistas no brasil. aRQUivO Cfmv DUO DesiGN Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201112 receba via Twitter notícias do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e informações de importância para a Medicina Veterinária e Zootecnia. Também é realizada a transmissão em tempo real de eventos organizados por ess14e Conselho. Para seguir o CFMV procure, no Twitter, por CFMV_oficial. Siga-nos! muito aguardada por todos, o Conselho federal de medicina veterinária (Cfmv) promoveu, no final de 2010, uma discussão sobre a Leishmaniose visceral, com apresentação de diferentes pontos de vista sobre a doença e suas implicações. O fórum foi realizado nos dias 22 e 23 de novembro, em brasília, Df, e acompa- nhado pelos Presidentes do sistema Cfmv/CRmvs. também houve transmissão pela internet, com parti- cipação de profissionais de todo o brasil. Para o Presidente do Cfmv, benedito fortes de arruda, foram dois dias em que a medicina veterinária brasileira mostrou a sua força, a sua potencialidade, a sua jovialidade, o seu conhecimento, a sua profundi- dade e a sua responsabilidade. “Nós saberemos cami- nhar ouvindo todos os lados e todas as posições”, afir- mou ao final do evento. ele enfatizou a importância da participação das organizações convidadas, que con- tribuíram para os esclarecimentos e apresentação de dados atualizados. No final do ano, o Cfmv publicou seu posicionamento sobre a doença (veja página 71). O representante da Organização Pan-americana da saúde Panaftosa (Oms/Opas), fernando Leanes, comentou que o evento se equipara às discussões que estão sendo realizadas em outros países. “É muito CFMV DISCuTIu A LEIShMANIOSE VISCErAL E PuBLICOu SEu POSICIONAMENTO bom que seja o Conselho federal de medicina veterinária que esteja liderando esta discussão. Por sua atuação com os Regionais, ele tem grande potencial para apoiar o trabalho que o estado precisa cumprir”. Leanes enfatizou a necessidade de consenso entre as diferentes opiniões para que exista o avanço no combate à doença. Para o Presidente da associação Nacional de Clínicos de Pequenos animais (anclivepa brasil), Paulo Carvalho de Castilho, o evento foi válido por ter apresentado os dois lados de ação contra a Leishmaniose visceral e também os avanços científicos. Principais debates – sobre a vacinação, o chefe da Divisão de Produtos veterinários do De- partamento de fiscalização de insumos Pecuários, Ricardo Pamplona, do ministério de agricultura Pecuária e abastecimento (mapa), afirmou que a análise dos estudos da fase iii executados por seus respectivos laboratórios e cujos relatórios foram enviados ao mapa para avaliaçãoainda está em andamento e não há um parecer conclusivo. apresentações debateram os prós e contras dos tratamentos em cães infectados. sobre etiopa- tias, resposta imune, diagnóstico e interpretação de diagnóstico, o médico veterinário fabiano borges figueiredo, do instituto de Pesquisa Clínica evandro Chagas (ipec/fiocruz) explicou como é feito tanto o diagnóstico clínico e epidemiológico, como tam- bém a evidência do parasito, técnica molecular e provas imunológicas. em sua opinião, é de extrema importância que haja a notificação de casos mesmo em áreas não endêmicas, pois, assim, pode-se iden- tificar e investir em ações de controle da doença no início de sua ocorrência. muitos palestrantes enfatizaram a importân- cia de se investir em várias medidas de controle de forma integrada, para que se consiga comba- ter a doença. entre elas, a mais citada foi o comba- te ao vetor. Fórum reuniu Presidentes do Sistema CFMV/CRMVs aRQUivO Cfmv Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 13 Transgenia em animais: nOVO CamPO De aTuaçãO PrOFissiOnal em 1798, malthus publicou sua teoria sobre crescimento populacional e produção de alimentos, em que previa uma catástrofe mundial provocada pela fome, já que, segundo ele, a população cres- ceria mais que a produção de alimentos. essa ideia assombrou a humanidade até que, em meados do século passado, a difusão de sementes melhoradas e técnicas agrícolas modernas aumentaram signifi- cativamente a produção de alimentos, fazendo com que regiões de baixo potencial agrícola se tornassem celeiros, como foi o caso do cerrado brasileiro. tal fato foi denominado “revolução verde”, que rendeu ao agrônomo Norman borloug o prêmio Nobel da Paz de 1970. isso mostra a capacidade de transformação do homem, que pode tanto provocar desastres como evitá-los, com o uso da ciência e tecnologia. Recentemente, assistimos a uma enorme polê- mica provocada pela utilização de sementes trans- gênicas, acusadas de provocar doenças e prejudicar a biodiversidade. atualmente, quase não ouvimos mais manifestações sobre o tema, e a produção de vegetais transgênicos, em 2009, chegou aos 134 mi- lhões de hectares plantados, dos quais 16% no brasil. a transgenia vem colaborando com a produção agrí- cola mundial, sendo uma realidade comercial e social irreversível, apesar da resistência de alguns setores mais conservadores. Na década de 1980, foram demonstradas as primeiras tentativas de geração de animais transgê- nicos, incluindo camundongos, ovelhas, coelhos e porcos, com potencial de expressão proteica exóge- na. Desde então, a produção de diversas proteínas recombinantes de interesse farmacêutico tem sido desenvolvida em animais transgênicos gerados por ferramentas da biologia molecular em conjunto com biotécnicas reprodutivas avançadas (figura 1). a uti- lização de animais transgênicos como biorreatores representa uma alternativa promissora para a indús- tria farmacéutica. a maioria das pesquisas concentra-se na produ- ção de medicamentos, aos quais se agrega um alto valor. alguns exemplos de produtos secretados no leite de animais transgênicos são: fatores de coa- gulação viii e iX, produzidos por ovelhas, cabras e porcas, empregados no tratamento de distúrbios da coagulação sanguínea; proteína da teia de ara- nha, produzida por cabras e empregada como cola orgânica; a-1 antitripsina, produzida por ovelhas e utilizada no tratamento de fibrose cística e enfise- ma pulmonar. b i O t e C N O L O G i a a N i m a L sHUtteRstOCk Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201114 No brasil temos relato da produção de alguns ani- mais transgênicos. “vitor” foi um camundongo pro- duzido pelo Laboratório de animais transgênicos do Centro de modelos experimentais em medicina e biologia (Cedeme), da Universidade federal de são Paulo (Unifesp), como modelo para estudo de doenças cardíacas. ”Camila” e “tinho” são cabri- tos produzidos pelo Laboratório de fisiologia e Controle da Reprodução (LfCR), da Universidade estadual do Ceará (Uece), chefiado pelo médico veterinário Dr. vicente josé figueirêdo de freitas. esses caprinos têm a capacidade de eliminar no leite o fator de estimulação de Colônias de Gra- nulócitos humano (hG-Csf), que pode auxiliar no tratamento de aiDs e do câncer. a possibilidade de animais transgênicos ex- pressarem proteínas em determinados orgãos, utilizando-se promotores tecido-específicos, torna-os viáveis como biorreatores de prote- ínas de importância biomédica. animais de produção podem servir como “biofábricas” em larga escala de proteínas expressas na urina ou no leite. modelos atuais de animais transgênicos são capazes de secretar/eliminar em seus fluidos (leite, urina, sangue, plasma seminal) substâncias com atividades farmacológicas, tornando-os “biofábricas” de substâncias ativas. O isolamen- to de proteínas expressas nos fluidos corporais apresenta vantagens sobre os tecidos, pois estes são constantemente produzidos e aquelas são facilmente recuperadas. Diversos estudos têm demonstrado que o tecido mamário pode ser o sítio de produção de uma unidade de proteína recombinante de interesse famacêutico. a produção de proteína no leite é um dos melhores modelos de biorreator animal, pela praticidade em se obterem grandes volumes para pe so (g ) diAs A pARtiR dA AlimentAção iniciAl salmão aquadvantage salmão standard Figura 1. Esquema de produção de proteínas recombinantes em glândula mamária utilizando tecnologia de microinjeção em embriões de bovinos. Fonte: adptado de Collares et.al., 2007 Figura 2. Curva de crescimento do salmão AquAdvantage em comparação à do salmão Standard. Fonte: Aquabounty Technologies Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 15 COLLaRes, t.; seiXas, f.k.; CamPOs, v.f. et al. animais trans- gênicos biorreatores. rev Bras reprod anim, belo Horizonte, v.31, n.4, p.462-478, out./dez. 2007. DOHmeN, P. ; COsta, f. D. a. ; veiGa, s.a. ; POHL-De-sOUZa, f; viLaNi, R. G. D’O. C. ; YOsHi, s. ; COsta, m. b. ; kONeRtZ, W. Results of a Decellularized Porcine Heart valve implanted into the juvenile sheep model. The heart surgery forum, v. 8, n. 2, p. e 100-e 104, 2005. meiReLLes , f.v. et al. Perspectivas para as técnicas de fiv, clonagem e transgenia, 3º. SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE REPRODUÇÃO ANIMAL APLICADA) -2008. Disponível em: http://www.geraembryo.com.br/br/trabalhos_evento. php?cod_trabalho=16 PeReiRa, L. v. animais transgênicos - a nova fronteira do saber. Ciência e Cultura, são Paulo, p. 40 - 42, 01 jul. 2008. PesQUeRO, j.b. animais trasngênicos. Biotecnologia, Ciência & Desenvolvimento , n. 27, jul./ago. 2002, p. 52-56. Disponível em: http://www.biotecnologia.com.br/edicoes/ ed27.php RUmPf, R. Produção de animais transgênicos: metodolo- gias e aplicações. brasília: embrapa, Recursos Genéticos e biotecnologia, 2005. 2 extração de produto biológico e pelo domínio da tecnologia de produção de leite. a transgenia poderá atuar também na produ- ção de órgãos de animais para serem utilizados em transplantes nos seres humanos (xenotransplan- tes). existem trabalhos que relatam a introdução de gene humano em células de suínos. Consequente- mente, os órgãos desses animais passaram a incitar menor reação imunológica quando transplantados em símios não humanos. O desenvolvimento de animais transgênicos compatíveis imunologica- mente com o homem trará uma nova perspectiva para os transplantes entre espécies diferentes (xe- notransplante), permitindo a recuperação da saú- de de muitos seres humanos e dando à produção animal uma nova finalidade. também estão sendo apresentadas pesquisas para aumento de produtividade. Nesse sentido, pode ser citado o salmão denominado “aquad- vantage”,que pode atingir o tamanho de mercado duas vezes mais rápido que o salmão tradicional (figura 2). esses animais são estéreis, o que elimina a ameaça de cruzamentos entre si ou com popula- ções nativas. a transgenia pode contribuir com a produção animal, gerando animais com maior capacidade de conversão alimentar, velocidade de crescimento, resistência a doenças infecciosas e parasitárias. De outra forma, também pode auxiliar a adaptação de animais a ambientes inóspitos, como os que podem surgir com o aquecimento global, ou melhorar a to- lerância ao cativeiro, o que pode levar à preservação de algumas espécies que correm risco de extinção pela destruição dos ambientes naturais. a transgenia já é um campo de atuação para os médicos veterinários e, à medida que as técnicas forem sendo aprimoradas e seus custos diminuídos, muitos mais poderão estar envolvidos quer seja na produção animal ou, na preservação das espécies quer seja, na erradicação de doenças ou na produ- ção de animais de laboratório para uso em pesquisa (figura 3). enfatize-se que os investimentos no setor biotecnológico crescem a cada ano e que vaca, por- cos, cabras, ovelhas, camundongos, coelhos e gali- nhas transgênicos estão, cada vez mais, sendo utili- zados em ensaios biotecnológicos e que precisamos ocupar nossos espaços como médicos veterinários. Dados do autor Felipe Pohl de Souza médico veterinário, CRmv-PR 2934. mestrado em Ciências veterinárias – UfPR. endereço para correspondência: atílio Gasparini, 46 – bairro jardim social – Curitiba/PR – CeP 82520-440. E-mail: buiatra@bol.com.br Referências bibliográficas GRUPOs De PesQUisa DaUNiveRsiDaDe De sÃO PaULO (UsP) COORDeNaDOs PeLOs PROfessORes LYGia Da veiGa PeReiRa (iNstitUtO De biOCiêNCias) e jOsÉ aNtôNiO visiNtiN (faCULDaDe De meDiCiNa veteRiNÁRia e ZOOteCNia) Figura 3. Filhotes de camundongos quiméricos gerados pela agregação de células-tronco embrionárias geneticamente modificadas com embriões. A foto ilustra diferentes graus de integração das células modificadas, oriundas de camundongos da pelagem agouti b i O t e C N O L O G i a a N i m a L Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201116 INTrODuçãO a agressividade canina é o problema de com- portamento que mais leva cães, do mundo inteiro, aos serviços de etologia clínica (Overall e Love, 2001; bamberger e Houpt, 2006; fatjó et al., 2007). É também um problema de saúde pública, visto que o número de pessoas atacadas por cães é muito grande. Nós estados Unidos da américa, por exem- plo, o número de pessoas atacadas é de cerca de 2% da população (Overall e Love, 2001). No brasil, a agressividade canina é o segundo problema de comportamento mais frequentemente relatado nas clínicas e é a principal causa comportamental de abandono ou eutanásia (soares et al., 2010). Por conta disso, há uma preocupação em se prevenir o problema dos ataques de cães a seres humanos. No estado do Rio de janeiro, em abril de 1999, redigiu- se uma lei (Rio de janeiro, 1999), que ganhou nova redação em setembro de 2005 (Rio de janeiro, 2005), para controlar populações de cães de certas raças supostamente agressivas, caracterizados como cães ferozes. essa lei impõe a castração de cães da raça Pit bull e proíbe sua criação. também obriga que cães das raças Pit bull, Rottweiler, fila e Doberman transitem apenas em logradouros públi- cos de pouco movimento e usando guia, enforca- dor e focinheira. O governo do estado de são Paulo, em 2003, também promulgou a Lei n. 11.531 (são Paulo, 2003), que obriga o uso de guia e coleira em cães das raças Pit bull, Rottweiler e mastim Napo- litano, para condução desses cães em locais públi- cos. vários projetos de lei vêm tramitando, inclusive DesaFiOs na assOCiaçãO ePiDemiOlógiCa enTre raça e agressiViDaDe Canina C O m P O R ta m e N t O a N i m a L sHUtteRstOCk Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 17 em escala federal, mantendo a perspectiva de levar à extinção algumas raças no País. tais dispositivos legais foram propostos, supostamente, para aten- der a uma necessidade expressa pela população desses estados. Contudo, uma pergunta é relevan- te: segregar uma ou outra raça resolve a questão da agressão canina como problema de saúde pública? Não há um consenso na literatura sobre a associação da raça canina com seu en- volvimento em ataques (Guy et al., 2001a; Guy et al., 2001b; bamberger e Houpt, 2006; takeuchi e mori, 2006; fatjó et al., 2007; Rosado et al., 2007; Duffy et al., 2008; mcGreevy e masters, 2008; O’sullivan et al., 2008a; shuler et al., 2008;), sendo necessários mais estudos para que se chegue a tal associação. Um estudo espanhol (fatjó et al., 2007) cita o Pastor Catalão e o Cocker spaniel inglês como mais agressivos, já um estudo canadense (Guy et al., 2001a) cita o Retriever do Labrador e o springer spaniel. esse conceito de mais agressivos, nesses dois estudos, é consequente do número de animais envolvidos nos ataques, não há uma análise qualitativa dos ataques. mesmo que a agressividade não apresente relação di- reta com a raça, o poder de contundência dos ataques deve ser considerado. Raças maiores e mais fortes pro- vocam lesões mais graves nas pessoas atacadas e, por isso, estão envolvidas em mais casos fatais (Overall e Love, 2001), ganhando, consequentemente, mais repercussão na mídia. Por que é tão difícil chegar a uma conclusão a res- peito da associação entre agressividade e raça? O ob- jetivo do presente artigo é analisar, à luz da literatura, alguns desafios encontrados em tal análise. A OrIGEM DAS rAçAS CANINAS ao longo da história, os cães vêm sendo subme- tidos tanto aos efeitos da seleção natural, que possi- bilitaram a sua adaptação ao meio ambiente em que vivem, como aos efeitos da seleção artificial, provo- cada pelos seres humanos, de diversos modos, ob- jetivando uma ampla variedade de aplicações para esses cães (Denis, 2007). No início da domesticação, os seres humanos conservaram aqueles animais menos agressivos e menos arredios, provavelmente selecionando aqueles com características morfo- lógicas que diferiam dos exemplares selvagens, fato que pode ter possibilitado a grande variedade morfológica encontrada nos cães domésticos hoje em dia (Denis, 2007). a origem do cão doméstico tem o lobo como ancestral mais provável (vilá et al., 1997). exemplares dessa espécie foram, ao longo do tempo, sendo selecionados para diversas aptidões, sendo, hoje, um animal com potencial maior de cog- nição social que os lobos selvagens, destacando-se até de grandes primatas em certas tarefas que dependem da leitura de sinais corporais humanos (Hare et al., 2002). as primeiras associações entre homens e ca- nídeos foram encontradas na China e remon- tam há 150.000 anos. Há cerca de 10.000 anos, ao deixar de ser nômade e caçador para ser produtor e criador do seu C O m P O R ta m e N t O a N i m a L Cães de raças consideradas agressivas sofrem restrições em algumas cidades sHUtteRstOCk sHUtteRstOCk Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201118 alimento, o homem precisou domesticar o canídeo ancestral do cão para auxiliá-lo na caça e, posterior- mente, no cuidado do gado. a fixação dos padrões raciais só apareceu a partir do século Xvi para os cães de caça e prosseguiu ao longo dos séculos posteriores. a cinofilia progrediu até que, no século XiX (Londres, 1861 e Paris, 1863), registraram-se as primeiras exposi- ções caninas (Grandjean, 2001). Raça é entendida como subespécie animal re- sultante do cruzamento de indivíduos selecionados pelo homem para manutenção ou aprimoramento de determinados caracteres (ferreira, 1975). as ra- ças, como são conhecidas hoje, são fruto de seleção natural, seleção artificial e docruzamento entre animais de padrões diferentes. O reconhecimento das raças depende da organização das pessoas que criam os cães em associações ou clubes, nos quais seus integrantes estabelecem padrões morfológicos e comportamentais. essas associações ou clubes de cinofilia têm, hoje, uma entidade internacional de reconhecimento e classificação das raças, chamada federação Cinófila internacional (fCi). Portanto, do Husky siberiano ao Cão Pelado mexicano, do Pequi- nês ao Dogue alemão, todas as cerca de 400 raças homologadas pela fCi, a despeito de sua diversidade morfológica, pertencem à espécie Canis familiaris. entre animais da mesma raça podem existir linha- gens diferentes, que são desenvolvidas pelos cria- dores a partir da seleção das matrizes e padreadores para personalizar sua criação (Grandjean, 2001). rELAçãO DA rAçA COM O COMPOrTAMENTO DO CãO todos os criadores de cães trabalham com a seleção dos animais a partir de características mor- fológicas, como: porte, pelagem, inserção de orelhas e cauda e aprumos. alguns excluem de seus plantéis animais com temperamento inapropriado. então, se faz a pergunta: é possível que uma característica comportamental, como a agressividade, seja trans- mitida para a geração seguinte? em 1965, os pesquisadores john scott e john fuller, publicaram um livro em que relatam os re- sultados de suas experiências com hereditariedade de características comportamentais em cães (scott e fuller, 1965). Os experimentos foram realizados com cães de cinco raças: Cocker spaniel americano, basenji africano, fox terrier pelo de arame, Pastor de shetland e beagle. entre os experimentos realizados, esses pesquisadores relatam diferenças raciais signi- ficativas no comportamento agressivo de filhotes de 13 a 15 semanas, sendo os filhotes da raça fox terrier os mais agressivos e os Cocker spaniel americano os menos. Porém, esse estudo considerou compor- tamentos agressivos durante interações lúdicas com os filhotes, o que pode não estar diretamente associado ao comportamento agressivo desses cães quando adultos, porque esses comportamentos se alteram com a idade e com as experiências vividas. O que tem relação com a socialização do cão. Da mesma forma que características morfoló- gicas podem ser herdadas de gerações passadas, características neurofisiológicas também podem. Portanto, a predisposição genética para diversos problemas comportamentais pode justificar uma possível associação entre agressividade e raça do cão. tal relação pode ser justificada com diferenças nos níveis de neurotransmissores ou na eficiência de seus receptores no sistema Nervoso Central (sNC), favorecendo, ou não, o surgimento de problemas como agressividade ou ansiedade (takeuchi e Houpt, 2003). alguns artigos associam alterações es- truturais nos cérebros de cães agressivos e não agres- sivos. Por exemplo, há um aumento do número de re- ceptores para andrógenos na amígdala baso-lateral em machos agressivos comparados a não agressivos Primeiras associações entre homens e canídeos remontam há 150.000 anos sH U tt eR st O C k Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 19 (jacobs et al., 2006). também há aumento no número de receptores serotoninérgicos por todo encéfalo (badino et al., 2004; jacob s et al., 2007) e uma diminui- ção no número de receptores adrenérgicos no córtex frontal, hipocampo e tálamo (badino et al., 2004) dos cães agressivos comparados aos não agressivos. Há alterações metabólicas associadas à agressivi- dade. Cães agressivos da raça Pastor alemão tiveram menores concentrações de bilirrubina e colesterol total comparados a cães não agressivos da mesma raça, idade, porte e sexo. a composição sérica dos ácidos graxos também diferiu. O grupo agressivo apresentou menores concentrações de Ácido Do- cosahexaenóico (DHa) e uma razão maior de Ácidos graxos Omega6/Omega3 (Re et al., 2008). Porém esses resultados merecem uma avaliação no eixo causa-efeito, pois tais alterações podem ter relação com o estresse, o que ficou evidente em uma pes- quisa (verrier et al., 1987) na qual os cães induzidos a ataques de fúria tiveram alterações cardíacas, prova- velmente mediadas por catecolaminas. Há um setor identificado no genoma canino que interfere na captação da dopamina no cérebro, o que pode estar relacionado com a agressividade de cer- tas raças (ito et al., 2004). mesmo com todas essas possibilidades, em um estudo realizado com cães das raças Pastor alemão e Rottweiler, os auto- res identificaram uma correlação genética em al- guns traços de personalidade, como os comporta- mentos do eixo timidez-ousadia, mas não naqueles relacionados à agressividade (saetre et al., 2006). Há outro estudo que comprovou que o efeito do ambiente da ninhada tem maior influência no com- portamento que a genética materna (strandberg et al., 2005). ainda outro, em que foi relatada uma associação maior entre fatores ambientais, sociais e de manejo no desenvolvimento de agressões por dominância, comparados a fatores intrínsecos aos cães, como: raça, porte e cor de pelagem (Pérez- Guisado e muñoz-serrano, 2009). Os aspectos relatados nos parágrafos anterio- res poderiam alicerçar os argumentos favoráveis à associação entre raça e agressividade, porém ainda não é possível responder à pergunta se há uma associação direta entre agressividade e raça. até porque, dentro de uma mesma raça, há linhagens diferentes que dependem das características “da moda”, fato que pode ser regionalizado. a formação dessas linhagens depende também da seleção dos machos padreadores ou raçadores, que acontece sempre que um macho se destaca nas exposições e passa a ser muito procurado para transmitir as suas características morfológicas (Grandjean, 2001), o que pode causar um viés dentro dessa raça em relação a características morfológicas ou compor- tamentais originadas desse indivíduo. O quE é AGrESSIVIDADE? Definir agressividade canina é um outro desafio, pois os mesmos compor- tamentos podem ser interpretados como agressivos ou não. Por exemplo, um cão que morde a perna do proprietário para chamá-lo para brincar está se compor- tando de maneira agressiva sem, contudo ameaçar a integridade física dessa pessoa. Por outro lado, um cão que rosne para o pro- prietário que mexe em seu comedouro pode representar ameaça de ataque contra essa pessoa. a agressividade é definida como a conduta do agressivo, como a disposi- ção para o desencadeamento de condu- tas hostis e destrutivas (ferreira, 1975). a palavra agressão traz como significado à mente humana: maldade, sordidez ou vingança, mas não é o que acontece com C O m P O R ta m e N t O a N i m a L sHUtteRstOCk Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201120 os cães. as agressões fazem parte do repertório comportamental dessa espécie (fogle, 1992). No caso do cão, os comportamentos agressivos são subdivididos em três etapas: ameaça, ataque e apaziguamento (beaver, 2001). a ameaça é carac- terizada por posturas intimidadoras, rosnados, latidos, exibição de dentes, piloereção cervical ou manutenção de contato visual, podendo se compor de um ou vários desses sinais. O ataque é a agressão propriamente dita, caracterizada pela mordida ou sua tentativa. a fase de apaziguamen- to é caracterizada por um comportamento relati- vamente não agressivo, mas que reforça a postura agressiva do cão pós-ataque. O cão pode lamber a região mordida, montar no agredido ou apenas por sua pata sobre ele (Overall, 1997). a agressividade pode ser manifestada em vá- rios contextos e é essa contextualização que vai direcionar uma possível abordagem terapêutica para cada caso. as vítimas, nesses contextos, po- dem ser de qualquer espécie, sendo a agressão di-recionada a humanos o foco do presente artigo. Os contextos podem ser divididos didaticamente em ativos ou passivos. Nos casos da agressividade ati- va, os cães atacam sem que tenha havido qualquer ameaça direta à sua integridade física. Portanto, se podem caracterizar como ativos os episódios de agressão ocorridos nos seguintes contextos: Predação – o cão ataca com todo um gestual de caça. É comum acontecer contra pessoas correndo (frequentemente crianças), rodas e pneus (carros, motos, bicicletas, patins ou skates). também com animais de outras espécies (fogle, 1992; Overall, 1997; beaver, 2001). Proteção Territorial – os ataques são direcio- nados a indivíduos que invadam seu espaço terri- torial. esse território pode se estender para além dos limites estabelecidos pelos seres humanos, como muros ou cercas. Neste contexto, o cão pode, também, reagir agressivamente durante passeios com algum membro humano de seu grupo social, quando indivíduos (humanos ou caninos) se apro- ximam, invadindo um perímetro territorial que ele reconhece como seu (fogle, 1992; Overall, 1997; Landsberg, 2004). Proteção maternal – os ataques são efetuados por fêmeas comumente em período de amamenta- ção. Pode ocorrer também com algumas cadelas em pseudociese. esta categoria de agressividade assume características semelhantes às de proteção territorial, porém dentro do contexto da fêmea protegendo sua prole (fogle, 1992; Overall, 1997; beaver, 2001). Disputa Hierárquica – uma das principais ca- racterísticas deste tipo de agressão é o fato de, na maioria das vezes, ser direcionada a algum membro da família (Cameron, 1997; Palácio et al., 2005). É o tipo de agressão mais difícil de ser contextualizado, pois, normalmente, envolve situações em que não se encontram justificativas, tendo como base valo- res humanos, como o cão atacar a pessoa porque foi acordado ou acariciado enquanto estava deitado. a agressividade caracterizada como passiva en- volve situações em que o cão simplesmente reage a estímulos que ameacem sua integridade física. são essas situações: Por medo – um cão acuado se defende dessa ameaça de forma agressiva. este tipo de agressão foi o mais observado em um estudo belga com cães militares, mesmo com a rejeição de cães medrosos no momento da seleção para o trabalho designado (Haverbeke et al., 2009), o que pode estar relaciona- do com a técnica de adestramento usada com tal grupo de cães. É um tipo de agressão normalmente perigoso, pois o cão não reprime o ataque, visto que se sente ameaçado (fogle, 1992; Overall, 1997; bea- ver, 2001). É como se dissesse: “é ele ou eu”. Por Dor – o cão ataca aquele que está causando- lhe dor, ou que já lhe tenha causado dor (fogle, 1992; Overall, 1997; beaver, 2001). Portanto é um contexto comum nas clínicas veterinárias ou com cães que estejam sofrendo ou que já tenham sofrido processos dolorosos (artrites, miosites, otites ou traumas de maneira geral). todas as situações listadas envolvem contextos comuns de respostas agressivas, porém ainda ocor- rem agressões que não se enquadram nesses contex- A interação cão e ser humano manifesta-se de várias formas aRQUivO Cfmv Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 21 tos mais comuns e são chamadas de idiopáticas. exis- tem também aquelas com causas clínicas (disfunções hormonais, raiva ou neuropatias) e ainda há casos com ambivalências, que mesclam classificações. a agres- são, normalmente caracterizada como hierárquica ou por dominância, traz, em inúmeros casos, linguagem corporal incompatível com o conflito hierárquico, com o contexto do líder se impondo ao seu subordinado. tal linguagem corporal, com misto de ofensiva e de- fensiva (ativa e passiva), caracteriza uma situação que mescla a dominância e o medo, motivando a agressão (Luescher e Reisner, 2008). essa contextualização também cria um viés em relação à associação com a raça, já que algumas delas têm maior potencial para agredir em certos contex- tos do que em outros. Por exemplo, a agressão dire- cionada a seres humanos muitas vezes é desejada pelos proprietários, como no caso dos cães de guar- da. Porém, ainda assim é necessário que se preveja e trabalhe tal agressividade, a fim de evitar acidentes que ocorrem pela falta de discernimento dos cães para o certo e o errado. A IMPOrTâNCIA DA SOCIALIZAçãO DO CãO socialização é o processo de integração de indivíduos em um grupo (ferreira, 1975). No pro- cesso de domesticação, o cão é inserido no convívio humano, por isso, é extremamente necessário que seja socializado, para que possa interagir com seres humanos de uma forma coerente e socialmente aceita. ao ser socializado, o cão passa a ter uma rela- ção mais harmônica com sua família humana (sek- sel, 1997). Considerando que a maioria dos ataques acontece em contextos familiares e comumente são direcionados a pessoas conhecidas da família, como vizinhos, parentes e amigos (Overall e Love, 2001), a socialização torna-se uma necessidade mais significativa. Por meio do processo de sociali- zação, o cão passa a reconhecer pessoas ou ativida- des como parte da sua vida e não como ameaça. as- sim, o cão não ataca uma criança conhecida quando ela invade o seu território por não identificá-la nem como ameaça nem como presa. O grande desafio nesse caso é avaliar o quanto um cão é socializado ou não. existem testes destina- dos a avaliar o temperamento dos cães (svartberg e forkman, 2002; svartberg, 2006; Duffy et al., 2008), mas seriam eficazes em predizer as atitudes dos cães em todos os contextos possíveis de agressão? mes- mo sabendo que a abordagem para a socialização pode diferir de uma raça para outra (scott e fuller, 1965), a socialização é um processo individual e a sua deficiência é uma grande geradora de problemas de comportamento em cães (seksel, 1997). Como ge- neralizar essa capacidade de socialização a uma raça ou outra, se depende de quem está socializando e de como está fazendo? talvez a melhor solução seja incentivar a so- cialização primária (seksel, 1997; serra, 2005). a fase da vida que vai de oito a dezesseis semanas é considerada um ponto crítico no desenvolvimento emocional dos cães (scott e fuller, 1965). Nessa fase, o cão aprende com muito mais facilidade e de uma forma mais intensa e duradoura o que é seguro ou não para ele. Cães que até as 16 semanas não têm contato com pessoas passam a se comportar como selvagens, temendo qualquer pessoa que se apro- xime, o que o torna incapaz de aprender comandos simples de adestramento (scott e fuller, 1965). Por outro lado, cães criados em famílias têm maior ren- dimento em testes cognitivos (scott e fuller, 1965) e menos reações agressivas quando comparados aos que ficam instalados permanentemente em canis (Lefebvre et al., 2007). O processo de socialização primária caracteriza- se pela apresentação positiva ao filhote (8-16 sema- nas) de todos os fatores controláveis que farão parte da sua vida. esses fatores controlados são: pessoas de diferentes idades e diferentes etnias, brinquedos e objetos (seksel, 1997; serra, 2005). OrIGEM DOS DADOS EPIDEMIOLóGICOS a origem dos dados epidemiológicos é um outro grande desafio para busca da associação entre agres- sividade e raça. Nove estudos retrospectivos, publi- cados entre 1997 e 2008, se baseiam em informações dos serviços públicos de saúde dos países onde as pesquisas foram feitas. Desses, quatro citam as raças que foram envolvidas nos ataques (keuster et al.,2006; Rosado et al., 2007; O’sullivan et al., 2008a; shuler et al., 2008) e outros cinco com o mesmo tipo de fonte de dados não citam (tan et al., 2004; fortes et al., 2007; O’sullivan et al., 2008b; vucinic et al., 2008; Georges e adesiyun, 2009). a única raça coincidente comoa mais agressiva, ou seja, a mais frequentemente envolvida em ataques foi o Pastor alemão, que está citado em es- tudos belga (keuster et al., 2006) e espanhol (Rosado et al., 2007). Neste último, os autores usam dados epide- miológicos para comparar a casuística de ataques de cães em cinco anos anteriores à promulgação de uma C O m P O R ta m e N t O a N i m a L Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201122 lei contra cães ferozes com cinco anos sob a vigência dessa lei e constatam que não houve diminuição nessa casuística, nem alterações quantitativas das raças mais envolvidas nos ataques. O estudo norte- americano não cita diretamente nenhuma raça, mas grupos raciais da fCi, e descreve os tipos terrier e cães de trabalho como os mais envolvidos em ataques contra seres humanos (shuler et al., 2008). O Colie é citado como a raça mais agressiva no estudo irlandês (O’sullivan et al., 2008a), no qual os pesquisadores fizeram contatos telefônicos com 134 vítimas de agressão canina para caracterizar as vítimas e os agressores. as amostras desses nove estudos são compostas por dados extraídos das notificações do serviço público de saúde, ou seja, pelos registros dos atendimentos das pessoas agredidas por cães. mas, todas as pessoas que são mordidas procuram o serviço público de saúde? Há autores que afirmam que pessoas familiares ao cão dificilmente notificam oficialmente tais ata- ques (Guy et al., 2001b; Palestrini et al., 2005; voith, 2009). Outra questão importante para divulgação de dados científicos é a confiabilidade desses da- dos. Não há como confirmar se todos os casos que chegaram ao sistema de saúde foram registrados, se os que foram registrados o foram de maneira correta e os agredidos podem não saber identificar corretamente a raça do cão agressor. talvez, em virtude disso, há artigos (tan et al., 2004; fortes et al., 2007; O’sullivan et al., 2008b; vucinic et al., 2008; Georges e adesiyun, 2009) que não tecem conclusões a esse respeito. Outros três estudos (bamberger e Houpt, 2006; fatjó et al.¸2007; Yalcn e batmaz, 2007) usam in- formação de serviços especializados em etologia clínica, ou seja, relatam a casuística das clínicas especializadas no tratamento de distúrbios de com- portamento. O estudo turco (Yalcn e batmaz, 2007) não cita quais raças são as mais agressivas. O estudo norteamericano (bamberger e Houpt, 2006) conclui que cães sem raça definida são os mais frequentes com queixas de agressividade, seguidos por cães das raças: Pastor alemão, springer spaniel e Retrie- ver do Labrador. O terceiro estudo, que é espanhol (fatjó et al.¸2007), cita cães da raça Cocker spaniel inglês e Pastor Catalão como as mais frequentes com queixas de agressividade. também há estudos feitos a partir de dados coletados em clínicas veterinárias (bradshaw e Goodwin, 1998; Guy et al., 2001a; Guy et al., 2001b; takeuchi e mori, 2006; O’sullivan et al., 2008b). Desses, merece destaque o estudo japo- nês (takeuchi e mori, 2006), no qual é feita uma pesquisa de opinião diretamente com médicos veterinários, ou seja, os autores perguntam a esses profissionais quais raças consideram mais agressivas, sendo a miniatura Pinscher a mais f requente - mente relacionada com agressividade. já pesquisa inglesa (bra- dshaw e Goodwin, 1998), não cita qualquer raça como mais agressiva, ainda que usando o mesmo tipo de abor- dagem do estudo japonês ( takeu- chi e mori, 2006). Há dois estudos canadenses. e em um deles (Guy et al., 2001a) os auto- res coletam dados com proprietários de cães nas clinicas e, no outro (Guy et al., 2001b), assim co m o n o e s t u d o irlandês (O’sullivan Guilherme Marques Soares médico veterinário, CRmv-Rj 5092; msc; Dou- torando do Programa de Pós-Graduação em medicina veterinária – Clínica e Reprodução animal – faculdade de veterinária – Universida- de federal fluminense. endereço para correspondência: Prof. Her- nani melo, 101– Gravato – Niterói/Rj – CeP 24210-150 . E-mail: gsoaresvet@oi.com.br rita Leal Paixão médica veterinária, CRmv-Rj 3937; msc; Dsc; Professora associada do Departamento fisiolo- gia e farmacologia – instituto biomédico – Uni- versidade federal fluminense. E-mail: rpaixao@vm.uff.br Dados dos autores sHUtteRstOCk Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 23 baDiNO, P.; ODORe, R.; OseLLa, m.C.; beR- GamasCO, L.; fRaNCONe, P.; GiRaRDi, C.; Re, G. modifications of serotonergic and adrenergic receptor concentrations in the brain of aggressive Canis familiaris, Com- parative Biochemistry and Physiology Part a, v.139, p.343-350, 2004. bambeRGeR, m.; HOUPt, k.a. signalment factors, comorbidity, and trends in behavior diagnoses in dogs: 1,644 cases (1991-2001), Journal of the american Veterinary medical association, v.229, n.10, p.1591- 1601, 2006. beaveR, b.v. Comportamento Canino: um guia para veterinários. são Paulo: Roca, 2001. 431p. bRaDsHaW, j.W.s.; GOODWiN, D. Deter- mination of behavioural traits of pure bred dogs using factor analysis and cluster analy- sis; a comparison of studies in the Usa and Uk, research in Veterinary science, v.66, n.1, p.73-76, 1998. CameRON, D.b. 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Referências bibliográficas et al., 2008b), foram feitas entrevistas telefônicas com proprietários de cães que tinham histórico de agressividade. a pesquisa irlandesa (O’sullivan et al., 2008b) não traz conclusões sobre raças e as duas canadenses (Guy et al., 2001a; Guy et al., 2001b) citam os cães sem raça definida e os da raça Retriever do Labrador como os mais agressivos. Duas outras pesquisas buscam dados dire- tamente na população de proprietários de cães e se baseiam em respostas de questionários (mcGreevy e masters, 2008; Duffy et al., 2008). No estudo norte-americano (Duffy et al., 2008), os questionários foram enviados para proprietários de cães de 30 raças, tendo como base o cadastro de uma entidade cinófila. esse estudo concluiu que cães das raças: Dachshund, Chiuaua e jack Russel terrier obtiveram as maiores pontuações para agressividade. já a pesquisa australiana (mcGreevy e masters, 2008) se baseou em questio- nários encartados em uma revista sobre cães. Os autores concluíram que os cães sem raça definida obtiveram os maiores escores para agressividade. CONSIDErAçÕES FINAIS Há muitos desafios para que se confirme a asso- ciação entre raças caninas e manifestação de agres- sividade dos cães, sendo ainda necessários muitos estudos. Pode-se concluir que novos estudos de- vem se embasar em abordagens individualizadas, considerando não só a raça, mas também aspectos psicológicos dos proprietários, prevalência das ra- ças na população canina da região pesquisada, qua- lidade do processo de socialização, tipo de manejo a que esses cães são submetidos ao longo da vida, predominância de determinada linhagem entre o total de animais de uma raça na região pesquisada e ainda o tamanho e a força dos cães que atacam. este último aspecto parece óbvio, mas não é o que a mídia mostra quando exibe certas raças como ferozes. a diversidade de tamanho e força dentro da espécie canina também ressalta a necessidade de mais estudos qualitativos dos ataques caninos, para que se possa saber se as raças tidas como ferozes o são porque atacam com maior frequência ou com maior intensidade. C O m P O R ta m e N t O a N i m a L Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201124 jaCObs, C.; vaN DeN bROeCk, W.; simOeNs, P. increased Number of Neurons express- ing androgen Receptor in the basolateral amygdala of Pathologically aggressive Dogs, Journal of Veterinary medicine se- ries a, v.53, n.7, p.334-339, 2006. jaCObs, C.; vaN DeN bROeCk, W.; simOeNs, P. Neurons expressing serotonin-1b recep- tor in the basolateral nuclear group of the amygdala in normally behaving and aggressive dogs, Brain research, v.1136, p.102 – 109, 2007. keUsteR, t.; LamOUReUX, j.; kaHN, a. epi- demiology of dog bites: a belgian experi- ence of canine behaviour and public health concerns, Veterinary Journal, v.172, n.3, p.482-487, 2006. LefebvRe, D.; DieDeRiCH, C.; DeLCOURt, m.; GiffROY, j.m. the quality of the rela- tion between handler and military dogs influences efficiency and welfare of dogs, applied animal Behaviour science, v.104, p.49–60, 2007. LUesCHeR, a.U.; ReisNeR, i .R. 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