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Clínica de Grandes Animais IV Cirurgia Abdominal A ingestão de somente concentrado fermenta o estômago fazendo com que o cavalo produza gás, levando a compressão e consequente cólica. As manobras de descompressão são realizadas para tentar reposicionar os órgãos dentro da cavidade e com isso melhorar o trânsito intestinal. Descompressão: através da sondagem nasogátrica. Pode ser que o animal melhore só com essa manobra porque alivia MUITO. Cuidados com a sonda nasogástrica A sonda tem 2 metros então precisa colocar ela quase inteira para chegar no estômago. Deixa um equipo no catéter e coloca num balde para fazer bolhas mostrando que está saindo gás. Em uma distensão de estômago muito acentuada a sonda não ultrapassa o cárdia e por isso as manobras de descompressão e lavagem não ajudam. Pode usar solução de lidocaína morna. Se a descompressão não adiantar deve ser feita a: Tiflocentese: punção do ceco (lado direito) na região dorsal do flanco com agulha ou catéter 16. Quando retira a agulha fica um “buraquinho” para extravasar o gás que está ali. Nesse caso trocáter não é bom porque muito grosso e fica um buraco grande, além de descomprimir muito rápido não dando tempo para as vísceras se reajustarem. Se na palpação o ceco estiver aumentado e o cavalo estiver “redondinho” pode fazer a tiflocentese direto. Fica mais ou menor 30 minutos extravasando gás. Exame clínico: Ausculta intestinal na abertura da papila íleocecal porque o intestino inflamado, com dor e distendido pode parar! Frequência cardíaca, respiratória (aumentadas se o animal tem dor), TPC, coloração de mucosa, hidratação, aspecto do fluxo gástrico FC: Se estiver < 42bpm tem melhor prognóstico e > 60bpm indica desidratação que pode ser por isquemia. FR: Quando aumentada indica distensão abdominal, acidose e até choque. Temperatura: Se estiver < 36°C o animal está em choque!! De 37,5 a 38,5 está normal e > 39°C demonstra enterite. Coloração de mucosas: pálidas (sangramento, anemia), congesta (toxemia, déficit circulatório), icterícia (babesia ou problema hepático). As mucosas podem estar alteradas por outros motivos (pancadas por exemplo) e levar ao erro. O halo toxêmico acontece por bactérias gram negativas do trato gastrointestinal e fazem isso quando tem desequilíbrio de fermentação. TPC: de 2-4 segundos mostra diminuição de perfusão e >4 segundos mostra diminuição severa da perfusão e choque. (Hidratar!!!) Palpação retal: se encontrar fezes na âmpola retal pode ser bom; se são pequenas e ressecadas ou não tem, mostra que o trânsito está lento e ruim; e se tem muco mostra que tem gás. Cavalo tem 15 litros no estômago então não está preparado para receber grandes quantidades de comida. Em condições de normalidade o intestino delgado é imperceptível à palpação, se for possível palpar ele quer dizer que tem algum problema ali. Também vê aorta (pulso simétrico ou frêmito); Baço (margem afilada, não palpável, plano mediano e ligamento lienorenal livre); Anel inguinal e vagina (diâmetro e estruturas); Útero (responsivo ou torção); Bexiga (se está repleta ou se tem cálculos) Paracentese abdominal: agulha 40x10 porque se perfurar o intestino não vai extravasar conteúdo para a cavidade e se perfurar o baço vai sangrar mas não vai acontecer nada mais grave. Também pode usar cânula mamária para diminuir o risco de perfuração de órgãos, mas com botão anestésico local porque precisa incisionar com bisturi. Em animais obesos a paracentese é difícil por conta da gordura retroperitoneal, às vezes não dá para fazer. Se na paracentese vier sangue/conteúdo intestinal/fezes é caso de eutanásia mas tem que ligar ao exame clínico – se os parâmetros estiverem bons provavelmente perfurou algum órgão. Nesse caso deve ser feita outra punção para ver se está igual e sempre associar aos parâmetros. O normal é um líquido claro meio amarelado e transparente, em pouca quantidade. Começa a pensar em problemas quando o líquido está turvo. Mede o lactato do líquido peritoneal e ele deve estar sempre menor que o lactato do sangue. Também mede proteína através do refratômero. Quando internar o cavalo? Foi diagnosticado com alguma afecção cirúrgica; precisa de acompanhamento e tratamento que não será realizado em casa como a fluidoterapia e a parecentese seriada; seus parâmetros não indicam se é cirúrgico ou clínico e com a internação ajuda caso ele piore e precise de cirurgia. Se o cavalo é inteiro deve-se pensar em hérnia inguinal, uma égua recém parida pode ter torção de cólon e no final da gestação o diagnóstico diferencial é torção uterina. A origem da dor nos órgãos abdominais são pelo espasmo e distensão porque eles só têm receptores pra isso. Se não tratar, a motilidade diminui, aumenta as secreções gástricas e favorece o íleo adinâmico. As dores mais difíceis de controlar são de afecções estranguladas no ID, encarceramento do espaço nefro-esplênico, enterólitos e distensão do cólon descendente. 1. Não administrar analgésicos fortes e de longa ação antes de ter um diagnóstico porque animais com problemas cirúrgicos podem dar a falsa impressão de melhora (sintomas mascarados) 2. Só retirar a sonda nasogástrica se tiver certeza que o estômago está vazio Afecções não estranguladas A princípio não há diminuição do fluxo sanguíneo, não tem isquemia ainda. São lesões obstrutivas (enterólitos, fecaloma) que são provocadas pelo próprio alimento que o animal ingere – fibra. O tratamento é hidratar o animal para umidificar a ingesta que está ressecada e ajudar no trânsito gatrointestinal. Nesse momento ainda não é necessário intervenção cirurgica, o tratamento é inicialmente clínico. O intestino delgado tem função de secretar para ajudar a digestão de determinados alimentos (por exemplo o amido) e o intestino grosso tem função de absorver água, por isso tem diferença na sintomatologia na obstrução de cada um. Intestino delgado → Refluxo de líquido – fluidoterapia Intestino grosso → Não tem refluxo – água na sonda/ fluido. Os dois tem receptores de dor quando distende. Quando ↑ o pH mais distante do estômago fica. Quando passa a sonda, também pode aproveitar e jogar água pra hidratar o animal (se for obstrução do intestino grosso). Se for de intestino delgado tem refluxo de água então não é bom jogar mais água. Compactação: é a afecção não estrangulada mais comum. Pode acontecer quando o cavalo diminui a ingesta de água (não deram água, água não está em condições adequadas – azeda, cheirando diferente –, dor – também diminui ingesta de alimento) ou ingestão de fibra de má qualidade (fibra grosseira). Deve ver se as fezes não estão muito ressecada, nesse caso dá sal na ração porque dá sede ou umidecer o feno para dar pra ele, colocar hidratante na água. Obstrução esofágica: é mais comum por conta de comida e o cavalo regurgita pela narina (engole → “bate” na obstrução → volta). 99% acontece em esôfago cervical e o diagnóstico é por endoscopia – o sifão não compensa porque pode romper ou chegar na base do coração. Retira através de cirurgia (esofagotomia) porque esôfago em grandes não estenosa como em pequenos. Normalmente dá deiscência mas só extravasa saliva e não tem problema. Compactação do estômago: é um dos principais responsáveis pelo peristaltismo. Cavalos com úlceras ou gastrite diminuem a movimentação intestinal causando a compactação do estômago (rara) e do cólon. É um pouco mais difícil de acontecer mas também é pela ingesta. Obstrução de intestino delgado: As causas mais comuns são materiais compactados, espessamento da parede por verminose, compressãoda parede por abscesso, aderências ou obstrução por parascaris (verme). Normalmente as obstruções de intestino delgado (íleo) são pela ingesta pela diminuição do trânsito ou abertura da papíla íleo cecal. O tratamento cirúrgico é pela laparotomia além da hidratação da ingesta durante a cirurgia. Compactação do cólon: É o tipo de compactação mais comum. Pode ser causado pela aplicação de amitraz (carrapaticida proibido para cavalos) que diminui a motilidade intestinal, fibras de baixa qualidade, desequilíbrio eletrolítico e areia. O diagnóstico diferencial é obstrução por enterólito ou corpo estranho. O tratamento é a enterotomia - abre o cólon na flexura pélvica (a única que se mantém) e joga água para ir saindo as fezes. Faz 2 planos de sutura: contaminado –serosa e mucosa – e invaginante. Fecalomas: fezes endurecidas. São mais comuns em animais carnívoros. Enterólitos: É um cálculo – concressão sólida a partir de algo que junta magnésio e cálcio – e pode ocorrer no intestino grosso porque no ID o trânsito é mais rápido e não dá tempo de formar. Quando ocorrer no cólon descendente (menor) podem ser localizados pela palpação retal. O acesso cirúrgico com o animal em estação é pelo antímero esquerdo. Obstrução por parasitas: por conta da resistência ao vermífugo que é dado de 3 em 3 meses sem exame de fezes, sem necessidade, sem saber o verme. Agora eles são resistentes (maior problema em animais jovens). Na época da seca o verme fica parado e na época das chuvas se prolifera. Realizar exame de fezes a cada 6 meses e só dar se necessário. Benzimidazóis por 3 dias – já está perdendo o efeito. Ivermectina não tem nenhum estudo que diz ser tóxica mas acreditam que seja e age em algum local que não se percebe (cartilagem poe exemplo). Obstrução por areia e corpo estranho: Corpo estranho é MUITO raro porque cavalo é seletivo. Quando tem compactação, hidrata o animal até a paracentese e os exames físicos estarem normais. Se a alça estiver sofrendo ou isquêmica o lactato vai estar alto (>2) e a proteína também (>2,5g/dL) Desidratação de 5% - dar 5 litros Desidratação de 7% - dar 21 litros Desidratação de 10% - dar 30 litros Afecções estranguladas Quando a obstrução causa isquemia. Levar o animal rapidamente ao centro cirúrgico – sempre tomando cuidado com os parâmetros, tem que estabilizar o animal antes pela anestesia.. Torção de cólon: Segmentos do intestino quando estão cheios ficam propensos a torções. Égua recém parida tem maior facilidade para torcer o cólon por conta do espaço que fica na cavidade abdominal. O cólon e outras partes do intestino podem retornar ao espaço antes ocupado pelo útero. Se o cólon reestabelecer seu tamanho muito rapidamente a chance de torção é maior. Atentar ao desconforto abdominal em éguas no período de 3 semanas após o parto! Torção uterina: Só acontece nos últimos 3 meses de gestação porque só torce quando o útero está mais cheio Hérnia inguinal: Aprisionamento se uma alça do intestino delgado – normalmente jejuno ou íleo – no anel inguinal. É característico em garanhão (não acontece em fêmeas nem em machos castrados). É uma afecção comum mas a taxa de diagnóstico é baixa porque na maioria das vezes não há aumento dos anéis inguinais e sim o aprisionamento do segmento do intestino. Existe um anel no peritônio que permite a comunicação do abdome com a túnica vaginal (escroto). Em humanos a hérnia é pela falha na musculatura inguinal e em cavlos é quando a alça entra nesse “anel de comunicação do escroto” e fica estrangulada. O tratamento é desencarcerar a alça e castrar o animal (mesmo sendo garanhão) mas tira só um testículo. Sutura inguinal: cuidado porque não pode vazar NADA, senão o cavalo morre. 2 planos de sutura sempre tomando cuidado com estenose, faz anastomose e fecha o mesentério. Isso dói muito porque estrangula mas o lactato não está alto porque a alça não tá em contato com o líquido abdominal, ela tá aprisionada. Depois de 12h para de doer porque necrosa. A sutura é feita em 2 planos contínuos sendo o primeiro seromuscular sem pegar a mucosa e o segundo plano é cushing na serosa invaginando o primeiro plano. Também pode suturar a mucosa e depois a camada seromuscular OU ainda suturar em plano único. Aprisionamento do cólon no espaço nefro-esplênico: Ocorre o deslocamento dorsal do cólon e seu aprisionamento no espaço nefroesplênico. O baço se desloca da posição original junto ao gradil costal, devido a distensão gástrica ou esplenomegalia e permite a passagem do cólon entre a parede e o baço. Essa esplenomegalia também pode ser causada por babesia ou erliquia. O tratamento é tentar diminuir o baço fazendo ele contrair: 1 âmpola de epinefrina ou adrenalina no soro IV. Para evitar que aconteça de novo faz acesso pelo flanco e sutura o baço no ligamento para diminuir o espaço e a alça não entrar mais, mesmo que a porcentagem de recidiva seja baixa. Intussuscepção: Comum em potros (intestino delgado) mas também acontece em adultos (mais comum íleo cecal – íleo entra dentro do ceco) – pode torcer só uma parte mas geralmente em potros no pós parto é o íleo todo. Deve ser feita retirada do íleo e posterior anastomose do jejujo no ceco. Cólica trombo embólica: Um trombo se aloja na artéria. É causado pela migração de larvas de Strongylus vulgaris – quando o ovo eclode as larvas sobem para a artéria mesentérica cranial e chegam na aorta se alojando ali. Como a artéria mesentérica pega 80% do intestino, isso causa uma necrose muito grande. Fica uma “pelota” na artéria e chamam de aneurisma mas não é, na verdade é pseudoaneurisma. Depois de crescer na artéria (L1, L2 e L3 – na L3 junta plaquetas e atrapalha a passagem do sangue) e isso deixa a parede da artéria enfraquecida e sua pressão aumenta fazendo com que dilate e um dia ela rompe. Ela volta para o intestino quando vira larva. Se tem suspeita faz tratamento intensivo para verminose. Urgências ortopédicas A urgência ortopédica é uma afecção que produz uma claudicação severa de maneira aguda – lesões ortopédicas, lesões perfurantes, ruptura traumáticas, luxações, ferida em cápsula articular (p.e.). Os objetivos do pronto atendimento nas urgências ortopédicas de equinos é não piorar a lesão; previnir danos neurais e vasculares; proteger a pele de contaminação em fraturas expostas e fornecer conforto ao animal com estabilização. Geralmente são causadas por traumas diretos e o animal apresenta incapacidade de sustentação do membro por dor e/ou incapacidade mecânica. Pode ter lesões de pele, músculos, tendões, ligamentos e plexo neurovascular associadas ao trauma. Exame físico geral Parâmetros gerais: Se o animal tem hemorragia precisa repor o que perdeu; se está desidratado fazer fluidoterapia (estresse e dor faz o cavalo suar); se tem dor fazer analgesia (AIES ou opióides); Sepse Exame específico: inspeção, palpação, radiografia, citologia do líquido sinovial, swab de ferida, biópsia muscular, ultrassom. O animal pode apresentar impotência funcional, apoio em pinça ou membro edemaciado. Auscultação da articulação: alguém aduz e abduz, flexiona e estende e com o esteto pode ouvir crepitação. Se estirem lesões deve ser feito curativo com bandagem estéril e anti séptico Imobilização com gesso, tala, muletas (bandagem de robert jones + velcro) O espaço e o movimento do animal deve ser limitado Não é indicado a sedação porque ele pode cair (a sedação causa déficit de propriocepção) ou vai dar a falsa sensação de alívio de dor e pode apoiar o membro machudado. Com apenas analgesia ele não apóia porque está imobilizado. Transporte seguro: no caminhão, se for afecção de membro torácico a cabeça deve ficar para trás e se for no membro pélvico a cabeça deve ficar para frente, por conta do apoio. Se der para colocar feno ou almofada lateralmente para apoiar é melhor ainda mas no transporte ele precisa estar imobilizado porque ele vai apoiar! Sempre proteger a pele (feltro, algodão, atadura) a contaminação pode levar a tenosinovite séptica, osteomielite e etc. Terapia sistêmica em fratura exposta: antibiótico de amplo espectro. Fratura fechada: não é necessário mas na dúvida faz. Não fazer corticóide. Dependendo da afecção é realizado bloqueio anestésico local mas isso também força o apoio do membro. Imobilização Quando ocorre a fratura ou ruptura de tendão precisa pensar nas forças de mecanismos de fratura (Cisalhamento, compressão, distração, torção) que agem ali, para neutraliza-las e fornecer ao animal a imobilização adequada. Se nãoo neutralizar essas forças não adianta, a tala precisa ser efetiva para o apoio. PVC, madeira, scoth cast, material metálico, gesso sintético (precisa ser leve, ideal não precisar de anestesia geral, de fácil aquisição, resistente, moldável e de secagem rápida). Nível 1: distal ao boleto até o casco – tala dorsal (MT) e tala plantar (MP) Nível 2: distal do carpo até o casco – robert jones com tala lateral extendida (MT e MP) Nível 3: distal do olécrano até o casco – robert jones com tala caudal e lateral (MT) e robert jones com tala palmar e lateral. Nível 4: não imobiliza, pode colocar uma tala na lateral para ele ficar com o membro esticado. Imobilizar articulações proximais e distais à fratura para impedir movimentação. A imobilização não pode causar incômodo no animal, deve propiciar o máximo de conforto e possibilidade de descanso. Técnica: Limpeza do membro → colocar uma camada de algodão com reforço nos locais de saliências ósseas → atadura de crepe de 10 a 12cm com tensão homogênea → colocar a tala → esparadrapo em escama de peixe. Falange distal à metacarpo distal Metacarpo distal à radio distal Rádio Proximal ao cotovelo Neutralizar força de extensão Difícil imobilização Aplicar do casco até a articulação úmero-radio-ulnar. Tala rigída com Robert Jones em várias camadas (escama de peixe). Tala lateral e caudal Bandagem Robert Jones em várias camadas + tala até acima do peito fixada lateralmente Tala caudal com penso leve fixado ao carpo Membros posteriores Falange distal à metatarso distal Metatarso distal a proximal Tíbia e tarso Tala caudal para obter alinhamento Madeira ou PVC; Material de vidro sobre a tala. Tala caudal e lateral do calcâneo até o chão. Difícil devido a articulação társica Minimizar a instabilidade da porção distal Tala em sentido proximal (previne abdução) Tala lateral (evita rotação) Deformidades flexurais Acontece no tendão flexor digital superficial (2ª falange) e tendão digital profundo (3ª falange). A mudança no posicionamento da articulação se dá pela deformidade no tendão e pode ser por contratura (encurtamento do tendão sem mudança na composição) ou relaxamento. Podem acontecer no desenvolvimento ou são adquiridas em animais mais velhos. Possíveis causas de contratura Congênita: genética, tem relação com a posição intra uterina do potro (mal posição, útero pequeno demais); um animal que cresceu muito rápido por desbalanceamento de minerais – o osso cresce e o tendão não então muda o ângulo da articulação Adquirida: alimentação com muita proteína Normalmente é bilateral mas é difícil acometer superficial + profundo. Tendão flexor digital superficial: Se insere na porção proximal da segunda falange (falange média). Quando há uma contratura porque o osso cresceu demais, o tendão contrai e traciona a segunda falange. O boleto se projeta pra frente e o animal fica “emboletado” Tendão flexor digital profundo: Se insere na falange distal então somente o casco fica alterado. Inicialmente apoia o casco em pinça e com o tempo fica em posição de cubo (encastelado) porque gasta a ponta do casco. Quando acontece nos dois tendões normalmente é devido à ingestão de proteína pela mãe e no momento do nascimento já dá para ver a contratura. Tentar tratamento clínico e bandagens. Diagnóstico Palpação – eleva o membro, flexiona e estende e na extensão o tendão fica rigído; raio x – avalia se tem alteração articular; ultrassom – o tendão não tem alteração de conformação Tratamento de contratura congênita Massagem; flexão passiva; bandagens compressivas com tala (cuidado para não ferir o boleto) para melhorar a elasticidade e o animal começa a se adaptar ao tamanho do osso. Oxitetraciclina diluído no soro po no máximo por 3 dias – ela quela o cálcio e relaxa o tendão. Associada com massagem, flexão passiva... Se não melhorar em 3 dias não adianta continuar fazendo e não funciona em animais com mais de 2 anos. Enrofloxacina - atenção em animais jovens pois é altamente destruitiva e irritativa para cartilagem articular de crescimento. Tratamento de contratura adquirida Corrigir a causa de base; Tenotomia do tendão superficial ou profundo para liberar a estrutura e o indivíduo vai apoiar mas precisa de sustentação com bandagem. Com o tempo o tendão vai se afastar, cicatriza distante e forma fibrose – isso é bom! Tenotomia no tendão flexor digital profundo (casco em pinça/cubo): o ponto mais fácil de incisão é na face palmar da quartela → incisão de pele e subcutâneo → não divulsiona → abaixo do subcutâneo aparece a bainha do tendão flexor digital profundo → abre a bainha (vai sair líquido sinovial) → pinça hemostática por trás do tendão → traciona ele → secciona → sutura a bainha com fio absorvível (pode formar fístula pelo líquido) → sutura pele. O acesso na quartela é para abrir a bainha do tendão e não correr o risco de cortar os dois tendões, a cirurgia é mais fácil, rápida e o resultado estético é bom. Pós operatório: bandagem compressiva, limita movimentação, aines. Desmotomia do tendão flexor digital superficial (emboletado): o tendão tá inserido na brida cárpica inferior/ligamento frenador/ligamento acessório (mesma coisa) quase na inserção do boleto e isso mantém o tendão seguro. A desmotomia da brida relaxa o tendão. Incisão na lateral do membro no terço médio (tenotomia do superficial também). A tenotomia tem resultado mais rápido e mais efetivo. Se tem nos dois tendões faz a tenotomia em um e após a cicatrização faz em outro. Deformidades angulares As deformidades angulares também são doenças ortopédicas do desenvolvimento e alteram o ângulo do membro - lateralizam. Acontecem devido a alterações dos ossos cubóides (encontrados principalmente no carpo) enquanto as cartilagens estão abertas. Se o animal nasce torto ele anda e apóia do mesmo jeito. Ele coloca mais carga na parte que está torta e isso causa maior compressão e consequente diminuição da vascularização dali – essa região para de crescer ou diminui o crescimento. A região que não tem compressão vai favorecer os condrócitos e o crescimento. Essa sobrecarga vai levar a conformação valgus (desvio medial) ou varus (desvio lateral). Pode cair na prova O indivíduo pode ter deformidade angular congênita por mal posicionamento intra uterino e nutrição errada da mãe. Pode nascer com isso ou ter a piora do quadro com alguns dias. É mais comum que seja bilateral mas pode acontecer unilateral. Também pode acontecer de ter um lado valgus e um lado varus. Diagnóstico Inspeção, raio x - os ossos estão bemformados, articulação normal e tem falha no crescimento. A projeção é cranio caudal e com uma linha traçada no eixo dos ossos, até 10° o tratamento deve ser clínico. Diferencial: Pode ser que tenha má formação de ossos cubóides, flacidez articular ou ligamento frouxo. Tratamento Pode ser tratado com massagem, bandagens, tala e casqueamento se o grau for leve. Caso não tenha melhora ou graus muito avançados o tratamento deve ser cirúrgico. Levantamento de periósteo: Pode ser realizado a campo! O periósteo reveste o osso e tem a linha de crescimento, a técnica de elevação de periósteo consiste em incisão de pele e subcutâneo → chegar no periósteo e fazer uma incisão em T invertido → começa a “divulsionar” o periósteo → eleva ele. Soltando o periósteo de cima da linha de crescimento diminui a pressão que tem ali e favorece a circulação, estimula a linha de crescimento. Apenas do lado que tinha compressão! Só funciona enquanto a cartilagem de crescimento estiver ativa. Grampo cirúrgico: Apenas na lateral do lado que continua crescendo! Não é usado mais porque precisa abrir o animal pra retirar depois, não compensa. Colocação de parafuso e fio de cerclagem: Coloca um parafuso proximal a epífise e um distal a linha de crescimento + fio de cerclagem (faz um 8). Apenas no lado que continua crescendo! Quando começar a organizar com o outro lado precisa retirar mas em relação ao grampo é só fazer uma incisão de pele e tirar o parafuso. Parafuso: Colocação de um parafuso cruzando a linha de crescimento. Apenas no lado que continua crescendo! Esse parafuso vai fazer lesão no disco de crescimento + produz um pouco de compressão e quando alinhar com o outro lado precisa tirar também. Ligamento anular palmar Fica na região palmar do boleto e é um ligamento que sustentação aos tendões na região palmar do membro. Nos casos de tendinite os tendões aumentam de tamanho (ficam edemaciados) e o ligamento anular palmar permanece do mesmo tamanho. Dessa forma acaba comprimindo o tendão. Quando uma estrutura comprime o tendão, precisa fazer cirurgia. Desmotomia do ligamento anular: Dá para fazer em pé com o animal sedado. Na face palmar do membro proximal ao boleto dá para sentir as fibras do tendão e as do ligamento anular que correm ao contrário → tricotomia, antissepsia, bloqueio anestésico local → incisão de pele e subcutâneo → expõe o tecido do ligamento anular → coloca uma tesoura romba entre o tendão e o ligamento anular para divulsionar → desce a tesoura até o final do boleto → tira a tesoura e abre ela → entra com ela aberta pra cortar o ligamento anular. Dá para utilizar o tenótomo que é uma faquinha com a ponta romba que só corta de um lado. Neurectomia É a retirada de um segmento de nervo. A neurectomia mais comum em equinos é a do nervo digital palmar ou plantar. É uma solução paliativa porque quando retira o nervo diminui a dor em casos de dor crônica (dessensibiliza). Em ndivíduos que apresentam afecção distal ao nervo é feita a neurectomia para diminuir a sensibilidade; Quanto mais proximal mais motor o nervo é – se fizer neurectomia da porção proximal tira a dor mas pode causar dificuldade de movimentação/deambulação. Após a perda da sensibilidade esse casco precisa de atenção redobrada (ferradura apertada, pisa num prego) porque qualquer coisa o cavalo só vai demonstrar muito depois. Só é feita em casos de doença distal ao nervo – síndrome do navicular; qualquer afecção que cause dor crônica. O animal deve continuar realizar suas atividades atléticas normalmente. Antes de fazer a cirurgia faz a simulação utilizando bloqueio anestésico local no nervo e observa se a claudicação melhora durante o exame ortopédico. A neurectomia química é feita com neurolítico mas nem sempre é efetivo – precisa repetir as aplicações muitas vezes e o neurolítico leva a uma inflamação da região, podendo causar neuroma ou ele pode perder o efeito. O plexo é composto por veia (+dorsal), artéria e nervo (+palmar). O ligamento Ergot lembra muito um nervo e normalmente está mais superficial que qualquer estrutura do plexo - então precisa ter cuidado na hora de seccionar. Neurectomia: incisão no sulco que forma quando o animal está em posição de apoio entre o tendão e a primeira falange → incisão de pele e subcutâneo → divulsão perpendicular com uma tesoura romba → entra perpendicular a incisão → entra com a tesoura fechada e abre lá dentro → evitar divulsionar para cima, para baixo e para os lados → localiza a veia, artéria e palmar as estruturas está o nervo. Para confirmar que é o nervo deve ser feito 2 testes Quando localizar o nervo abre a tesoura e estica ele, quando solta ele continua na mesma posição! O nervo não é elástico – a artéria tem musculatura e volta para a posição normal, a veia dá para ver que é mais escura Fecha a tesoura e estica o nervo. Com a ponta da unha ‘coça’ o nervo porque da para sentir as fibras do nervo – se fizer isso no ligamento ergot não sente nada porque é liso. Após isso traciona o nervo para cima e utiliza a técnica de guilhotina que é cortar de uma vez só! Primeiro corta a porção distal → pinça o coto (pode pinça porque ele vai sair) e traciona para proximal → corta de uma vez → sutura pele. Tira o máximo que conseguir (5-6cm tá bom) porque o nervo regenera e quanto maior o coto que retirar mais difícil de chegar na porção distal Pós operatório com antiinflamatório, analgésico, pode voltar a caminhar sem forçar muito. A técnica de guilhotina é feita porque se ficar manipulando o nervo estimula muito o coto e pode formar um neuroma que é uma das complicações da cirurgia – o animal continua sentindo dor. Evita serrar o nervo, cortar de uma vez só. Faz medial e lateral nos dois lados.