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BIOLOGIA E BIODIVERSIDADE Professor Dr. André Cesar Furlaneto Sampaio Professora Me. Lilian Capelari Soares Professor Dr. Rômulo Diego de Lima Behrend GRADUAÇÃO Unicesumar Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Coordenador de Conteúdo Silvio Silvestre Barczsz Design Educacional Camila Zaguini Silva, Fernando Henrique Mendes, Nádila de Almeida Toledo, Rossana Costa Giani Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Editoração André Morais de Freitas Daniel Fuverki Hey Qualidade Textual Hellyery Agda Ana Paula da Silva, Flaviana Bersan Santos, Jaquelina Kutsunugi, Keren Pardini, Maria Fernanda Canova Vasconcelos, Nayara Valenciano, Rhaysa Ricci Correa e Viviane Favaro Notari Ilustração Thayla Daiany Guimarães Cripaldi CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SAMPAIO, André Cesar Furlaneto; SOARES, Lilian Ca- pelari; BEHREND, Rômulo Diego de Lima C397 Biologia e Biodiversidade / André Cesar Furlaneto Sampaio; Lilian Capelari Soares; Rômulo Diego de Lima Behrend. (Reimpressão revista e atualizada) Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. 183 p. “Graduação em Gestão Ambiental - EaD”. 1. Biodiversidade. 2. Biologia. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 578.7 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar – assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa- zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa- tível com os desafios que surgem no mundo contem- porâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó- gica e encontram-se integrados à proposta pedagó- gica, contribuindo no processo educacional, comple- mentando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inse- ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproxi- mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi- bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pes- soal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cres- cimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda- gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi- bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en- quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus- sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino Professor Dr. André Cesar Furlaneto Sampaio Graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (2002), especialização em Gestão e Engenharia Ambiental pelo Instituto de Engenharia do Paraná (2003), mestrado e doutorado em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (2006/2013). Professora Me. Lilian Capelari Soares Graduação em Ciências Biológicas (2006) e Mestrado em Biologia Comparada (2010) pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. Professor Dr. Rômulo Diego de Lima Behrend Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá (2006) e mestrado (2010) em Ciências Ambientais pela mesma instituição. A U TO RE S SEJA BEM-VINDO(A)! Olá, acadêmico(a)! Seja bem-vindo(a) a mais uma disciplina do curso de Gestão Ambien- tal EaD – Unicesumar. É com grande satisfação que apresento a você o livro da disciplina de Biologia e Biodiversidade, assunto de extrema importância para os cidadãos de nos- so planeta e principalmente para os futuros profissionais da gestão ambiental. O livro foi preparado com muita dedicação e carinho, para que você adquira conhecimentos necessários para essa nova etapa de sua vida. Este livro é um instrumento eficaz de in- formação e formação, o qual você levará para sua vida profissional. Este livro foi elaborado por nós, professora Lilian Capelari Soares, que é bióloga e traba- lha na área há cerca de cinco anos, e pelo professor Rômulo D. L. Behrend, que também tem grande experiência na área, visto que trabalha com o assunto desde 2004. O pro- fessor Rômulo possui graduação em Ciências Biológicas (2007), é Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Estadual de Maringá (2010) e Doutorando em Ciências Ambientais pela mesma instituição (2011). Nós temos percebido que precisamos com- preender cada vez mais a morada humana, o espaço da natureza que reservamos, orga- nizamos ecuidamos para habitat. A partir dele nos enraizamos, estabelecemos nossas relações e elaboramos o sentimento tão decisivo para a felicidade humana, que é “sen- tir-se em casa”. Ocorre que este local não é apenas a morada na qual habitamos, a cidade onde vivemos, o país no qual nascemos, mas nossa casa em comum: o planeta Terra. Mas como fazer para que essa única casa que temos para habitar possa incluir a todos, possa se regenerar das chagas que lhe infligimos, possa se manter viva e assegurar sua integridade e beleza? Conforme diz Boof (2007), em seus discursos em defesa do meio ambiente, a ética am- biental não pode ser imposta de cima para baixo. Ela deve nascer da essência do huma- no. Deve poder ser compreendida e praticada por todos, sem a necessidade de media- ções explicativas e complexas que mais confundem do que convencem. Ela supõe uma nova ótica que dê boas razões para a nova ética e seus valores. Infelizmente, nós causamos enorme impacto em nosso meio ambiente. Transformamos, para pior, aproximadamente metade da superfície terrestre, alteramos a composição da atmosfera, levando a severas mudanças climáticas. Introduzimos muitas espécies em regiões nas quais elas não faziam parte, o que pode ocasionar efeitos negativos e se- veros tanto para espécies nativas como para a economia humana. Mesmo os oceanos, aparentemente tão grandes, nos mostram muitos sinais de deterioração devido às ativi- dades humanas, por exemplo, o declínio dos estoques pesqueiros, as perdas de recifes de corais e a formação de zonas mortas, regiões em que os níveis de oxigênio são muito baixos para sustentar a vida marinha. No entanto, as pessoas informadas e praticantes da educação ambiental estão começando a perceber a importância dos ecossistemas, da biodiversidade, e principalmente, que somos parte do meio ambiente, de modo que antecipam as consequências de nossas ações e consertam os problemas que já causa- mos. Assim, neste livro, debateremos sobre o estudo da biologia e biodiversidade, e sua relevância para a população humana. APRESENTAÇÃO BIOLOGIA E BIODIVERSIDADE Este livro está dividido em cinco unidades e é composto por temas relevantes que- envolvem biologia e biodiversidade. Logo na primeira unidade, será debatida a“- Biologia da Conservação”, questões como o que é diversidade biológica; o que é a biologia da conservação; quais são as categorias de conservação de espécie- sexistentes e ainda o uso múltiplo de recursos florestais. Na segunda unidade, será abordada a “Biogeografia e Riqueza de Espécies”, que engloba tópicos como: o que é biogeografia: a biogeografia global e regional; biogeografia de ilhas segundo McArthur e Wilson e gradientes da riqueza de espécies. A terceira unidade, “Princi- pais Tipos de Ecossistemas e Biomas”, demonstrará quais os tipos de ecossiste- mas e biomas existentes em nosso planeta, evidenciando os presentes no Brasil. A quarta unidade compreenderá as “Principais Ameaças à Diversidade Biológica”, debatendo os seguintes conteúdos: ameaças à biodiversidade: destruição, degrada- ção e fragmentação de habitat; a superexploração de espécies e sua relação com o declínio da biodiversidade; poluição, mudanças climáticas e doenças enfraquecem a variabilidade de espécies; fragmentação de habitat e suas consequências. Por fim, a quinta unidade esclarecerá a “Conservação de Populações” por meio de seus tópicos: conservação de populações: o problema de pequenas populações; aborda- gens para conservação; ecologia de paisagem. “Queremos uma justiça social que combine com a justiça ecológica. Uma não existe sem a outra”. Leonardo Boff Boa leitura! APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO 15 Introdução 16 O Que é Biologia da Conservação? 23 Categorias de Conservação de Espécies 27 O Uso Múltiplo de Recursos Florestais 34 Considerações Finais UNIDADE II BIOGEOGRAFIA E RIQUEZA DE ESPÉCIES 41 Introdução 42 O Que é Biogeografia? 43 Biogeografia Global 50 Biogeografia de Ilhas e Riqueza de Espécies 59 Curvas Espécie-Área 60 Considerações Finais SUMÁRIO UNIDADE III PRINCIPAIS TIPOS DE ECOSSISTEMAS E BIOMAS 65 Introdução 65 Principais Características dos Ecossistemas e Biomas 70 Ecossistemas Marinhos 77 Ecossistemas de Água Doce 82 Ecossistemas Terrestres 96 Caracterização dos Biomas Brasileiros 102 Considerações Finais UNIDADE IV PRINCIPAIS AMEAÇAS À DIVERSIDADE BIOLÓGICA 109 Introdução 109 Ameaças à Biodiversidade: Destruição, Degradação e Fragmentação de Habitat 112 Espécies Invasoras: Grande Ameaça à Biodiversidade 115 A Superexploração de Espécies e Sua Relação Com o Declínio da Biodiversidade 117 Poluição, Mudanças Climáticas e Doenças Enfraquecem a Variabilidade de Espécies 126 Fragmentação De Habitat 137 Considerações Finais SUMÁRIO 11 UNIDADE V CONSERVAÇÃO DE POPULAÇÕES 143 Introdução 143 Conservação de Populações 147 Os Problemas de Pequenas Populações 151 Abordagens Para Conservação: Genética 153 Ecologia da Paisagem – Planejamento da Paisagem Para Conservação 161 Os Modelos Demográficos Podem Guiar Decisões de Manejo 162 Conservação In Situ e Ex Situ Para Salvar Espécies à Beira da Extinção 169 Medidas Legais e Políticas e os Métodos Biológicos de Proteção 170 Considerações Finais 173 CONCLUSÃO 175 FEREFÊNCIA 185 GLOSSÁRIO U N ID A D E I Professora ???????????????????? BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender a importância da biodiversidade para a manutenção dos ecossistemas e para as atividades humanas, sendo capaz de definir espécie e a importância da biologia da conservação. ■ Relacionar as categorias de conservação das espécies e os seus devidos papéis. ■ Discutir quais são as formas de recursos florestais existentes e a importância do manejo florestal. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O que é biologia da conservação? - O que é diversidade biológica? ■ Perda da biodiversidade - A biodiversidade no Brasil ■ Categorias de conservação de espécies - Usos múltiplos de recursos florestais - O que é manejo florestal? INTRODUÇÃO Olá, acadêmico(a)! Nesta primeira etapa de nosso material, iremos debater sobre a importância da biologia da conservação para o nosso ambiente e as questões que envolvem a biodiversidade. Os sistemas naturais são governados pelos modos com que os organismos interagem entre si e com o ambiente físico. Isso não necessariamente significa que exista uma forte conexão entre todos os organis- mos que vivem em determinada área, i.e., duas espécies podem viver na mesma área e exercer pouca influência uma sobre a outra. No entanto, todos os orga- nismos estão conectados às características do ambiente, uma vez que eles não só requerem alimento, espaço e outros recursos, mas também interagem com outras espécies e com o ambiente físico ao buscarem aquilo de que necessitam para viver. Como resultado dessa busca, mesmo as espécies que não interagem diretamente uma com a outra podem estar conectadas ao compartilhar carac- terísticas do ambiente. A interação entre as espécies e seus habitats é estudada pela biologia da con- servação, que é uma área da ciência que tenta buscar meios para que os recursos naturais sejam bem utilizados, promovendo assim a sustentabilidade e a manu- tenção da biodiversidade existente. Espero que goste desta unidade e compreenda a importância da biodiversi- dade para a manutenção dos ecossistemas e para as atividades humanas, sendo capaz de definir espécie e a importância da biologia da coonservação. 15 Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d oCó di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I O QUE É BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO? Com o avanço tecnológico e o crescimento populacional, a pressão pelos recur- sos naturais renováveis e não renováveis tem aumentado consideravelmente para suprir as necessidades humanas. Tal pressão por recursos tem levado o ser humano a deixar a questão ambiental em segundo plano, de forma que o desmatamento, as lavouras, as represas, dentre uma série de outras atividades humanas, têm contribuído com o declínio do número das espécies. Esse declí- nio é principalmente causado pela perda dos seus habitats ou por mudanças em suas propriedades físicas (ver unidade IV para mais detalhes). Desta forma, a biologia da conservação tem como finalidade o estudo científico dos fenôme- nos que afetam a manutenção, a perda e a restauração da biodiversidade. É uma ciênciaque tem por objetivo buscar meios de se utilizar adequadamente os recur- sos do meio ambiente (as espécies, comunidades e ecossistemas), promovendo a sustentabilidade e a manutenção da biodiversidade. Dependemos da diversidade da natureza em vários aspectos, além das espé- cies que domesticamos para ficarem ao nosso lado como companhia, fazemos o seu uso como alimento, combustível, fibras etc. Utilizamos também espécies selvagens para remédios, material de construção, decoração, até mesmo como temperos. Muitas pessoas necessitam dos recursos naturais para sobreviverem eco- nomicamente, e a população em geral utiliza os “serviços ambientais” em vários aspectos, tais como: para a purificação da água, para a geração e manutenção do solo, para a regulação climática, para a polinização e cultivo agrícola entre outras (CAIM; BOWMAN; HACKER, 2011). Dependemos da integridade ambiental em vários momentos de nossas vidas, por exemplo, para o lazer, para relaxar e cuidar da saúde mental em uma aula de yoga e até mesmo para cuidar dos nossos rela- cionamentos emocionais, mas estes ecossistemas, tão úteis as nossas vidas, estão sendo devastados/degradados pela nossa própria espécie, por pensar ou simples- mente ver os recursos naturais como mercadorias à espera da extração humana. De acordo com Boof (2007), a humanidade parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva como uma comunidade de vida única, que providencia as condições essenciais para a evolução da vida. Cada um compartilha 17 O Que é Biologia da Conservação? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . da responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família humana e de todos os seres vivos do mundo, de forma que o espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda vida é fortalecido quando vivemos com reve- rência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida e com humildade o lugar em que o ser humano ocupa na natureza. Segundo Primack e Rodrigues (2001), a Biologia da Conservação se apoia em alguns pressupostos básicos acerca de princípios tipícos e ideológicos que deveriam levar a debates sociais em favor da conservação da diversidade bio- lógica. São eles: (i) toda espécie tem o direito de existir, pois são frutos de uma história evolutiva e são adaptadas; (ii) todas as espécies são interdependentes, pois essas interagem de modo complexo no mundo natural, e a perda de uma espécie, consequentemente, exerce influência sobre as demais; (iii) os humanos vivem dentro das mesmas limitações que as demais espécies, que são restritas a um desenvolvimento em razão da capacidade do meio ambiente, e a espécie humana deveria seguir esta regra para não prejudicar a sua e as outras espé- cies; (iv) a sociedade tem responsabilidade de proteger a Terra, devendo usar os recursos de modo a não esgotá-los para as próximas gerações; (v) o respeito pela diversidade humana é compatível com o respeito pela diversidade bioló- gica, pois, como apreciamos a diversidade cultural humana, deveríamos apreciar a diversidade biológica; (vi) a natureza tem um valor estático e espiritual que transcende o seu valor econômico, e isto deve ser mantido independente de qual- quer coisa; (vii) a diversidade biológica é necessária para determinar a origem da vida, espécies que vão se extinguindo poderiam ser importantes nas pesqui- sas sobre a origem da vida. Como os efeitos das atividades humanas são, atualmente, a principal ameaça da biodiversidade, é necessário que se analise essas atividades, buscando entendê-las. O monitoramento dos fatores bióticos (seres vivos) e abióticos (características do meio ambiente) possibilita fazer previsões sobre como o meio ambiente reage, como é degradado, assim como a traçar planos para minimizar os impactos negativos sobre o meio ambiente. Essa tarefa de compatibilização das atividades humanas com a manutenção dos recursos naturais é bastante complexa e, por isso, a Conservação Biológica incorpora ideias e busca ferramentas em diversas ciências da Biologia. BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I MAS AFINAL, O QUE É DIVERSIDADE BIOLÓGICA? Discutida desde a década de 90 entre biólogos, ambientalistas e cidadãos envolvi- dos com a preservação de um ambiente íntegro, a biodiversidade ou diversidade biológica é a variedade das diversas formas de vida existentes no planeta Terra, dentre elas as variadas espécies da fauna, flora, fungos, macro e micro-orga- nismos, a variabilidade genética existente dentro das populações e espécies, as variadas funções ecológicas desempenhadas por cada organismo, a variedade de comunidade de habitats, comunidades e ecossistemas. De acordo com Wilcox (1984), a diversidade é a variedade de formas de vida, os papéis ecológicos que cada organismo desempenha e a diversidade genética que contém. Assim, a diver- sidade biológica encontra-se presente em todos os lugares. Cerca de 1,75 milhão de espécies já foram identificadas, sendo que mais da metade delas são constituídas por insetos. Há ainda muitos organismos não conhecidos ou espécies não descritas cientificamente, especialmente aquelas pequenas e de difícil visualização, como bactérias, fungos e vírus. A biodiver- sidade pode ser avaliada também no nível genético, que refere-se às diferenças entre as espécies em termos de variabilidade, que determina a individualidade de cada espécie. As diferentes cores das penas, o tamanho maior ou menor dos indivíduos ou a resistência a doenças são exemplos da expressão da diversidade genética. Populações com diversidade genética baixa estão mais sujeitas à extin- ção, pois na presença de, por exemplo, um patógeno, toda população poderia ser extinta. Por outro lado, uma população com alta variabilidade genética ten- deria a sobreviver à entrada do mesmo patógeno. A biodiversidade pode ainda ser avaliada como diversidade de ecossistemas, estando relacionada à variedade de comunidades e processos em um ecossis- tema íntegro, bem como aos diferentes ecossistemas de uma paisagem, desertos, florestas, manguezais, montanhas, lagos, rios ou áreas de uso agrícola. Em cada ecossistema, existem fortes relações entre as diferentes espécies e entre estas e o meio físico. A variedade dessas relações, funções e processos nos ecossistemas também define outro aspecto da biodiversidade. 19 O Que é Biologia da Conservação? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro de 19 98 . Como as atividades humanas representam sempre impactos positivos ou negativos sobre o meio ambiente e os seres vivos, a diversidade cultural também precisa ser considerada, pois as diversas culturas humanas interagem de forma diferente com o ambiente. O nomadismo, a agricultura de subsistência, a caça- -coleta e a monocultura intensiva têm impactos diferentes sobre a biodiversidade. Crenças religiosas e estruturas sociais também têm influência importante sobre como os recursos naturais são utilizados. Para avaliar o grau de biodiversidade de um ecossistema, deve-se conside- rar sua riqueza (número de espécies presentes) e a abundância relativa de cada espécie. Para duas áreas que apresentam o mesmo número de espécies, a biodi- versidade será maior na área onde a quantidade de indivíduos de cada espécie for mais balanceada em relação ao total, ou seja, onde não houver grande dominân- cia de uma espécie sobre as outras. Por exemplo, uma ilha onde há 20 indivíduos de uma espécie de arara e 20 indivíduos de uma espécie de papagaio possui uma diversidade maior do que outra ilha onde há 10 indivíduos da espécie de arara e 30 indivíduos da espécie de papagaio. Conforme discorre Odum e Barret (2008), é extremamente importante man- ter a redundância em um ecossistema, isto é, ter mais que uma espécie ou grupo de espécies para executar as diversas funções existentes na teia alimentar. A perda de espécies-chave ocasiona mudanças importantes na estrutura das comunida- des e no funcionamento do ecossistema. De acordo com estudos debatidos por Caim, Bowman e Hacker (2011), a atividade humana afeta negativamente as dis- tribuições e as abundâncias de organismos. No século XIX, Wallace (Alfred Russel Wallace, o pai da biogeografia) previu a atual crise na biodiversidade e nos advertiu de que a humanidade corria o risco de obscurecer o registro de seu passado evolutivo pelo advento das extinções. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, a caça desenfreada e des- controlada ao pombo-passageiro (Ectopistes migratorius) levou a sua extinção, o último pombo morreu em um zoológico no ano de 1914. Os efeitos ecológi- cos de sua extinção nas florestas coincide com a perda do castanheiro americano (Castanea dentata), do qual viviam em constante mutualismo. BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Figura 1: Pombo passageiro (Ectopistes migratorius) Fonte: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Ectopistes_migratorius> PERDA DA BIODIVERSIDADE O declínio das populações de pandas, tigres, elefantes e baleias chamou a aten- ção da sociedade para o risco de extinção das espécies, que tem ocorrido em uma taxa de 50 a 100 vezes maior do que a taxa natural. A grande ameaça à bio- diversidade mundial é o uso que a humanidade vem fazendo do meio ambiente, causando a fragmentação e degradação de habitats, além da perda de ecossiste- mas naturais. Cerca de 45% das áreas originais de florestas tropicais do Planetajá foram destruídas, a maior parte no último século. Mais de 10 barreiras de corais – um dos mais ricos ecossistemas do Planeta – já foram destruídas, e 1/3 do que resta vai desaparecer num período de 10 a 20 anos. Os manguezais, que são berçários de inúmeras espécies, foram reduzi- dos a 50% de sua área original. A fragmentação e destruição dos ecossistemas, com substituição de ambien- tes naturais por áreas urbanas, agrícolas ou industriais, causam a morte de um grande número de indivíduos, restando somente populações pequenas e isoladasnas “ilhas” remanescentes. As consequências são um alto grau de endo- cruzamento,a perda da variabilidade genética e a invasão de espécies exóticas. A invasão de espécies exóticas causa alterações nas relações tróficas e aumento da competição entre as espécies (por alimento ou espaço), o que leva à maior vulnerabilidade das espécies nativas. Mudanças atmosféricas globais aumentam ainda mais a degradação do meio ambiente. A destruição da camada protetora 21 O Que é Biologia da Conservação? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . de ozônio aumenta a incidência de radiação ultravioleta (UV) na superfície da Terra e o aquecimento resultante modifica as condições ambientais. Ecossistemas desequilibrados são incapazes de realizar seus processos normais, como a cicla- gem de nutrientes e a autodepuração, o que compromete sua produtividade e afeta a sobrevivência das espécies em todos os níveis da cadeia trófica. Por causa desta complexidade dos problemas ambientais, a conservação da biodiversidade exige a união de estratégias políticas, jurídicas, econômicas, educativas e ambientais. As desigualdades sociais e tecnológicas entre os países “desenvolvidos” e os países “em desenvolvimento” impedem que se melhore a qualidade de vida dos cidadãos, resultando em explosão populacional e aumento da pobreza, principalmente nos países em desenvolvimento. Esse quadro só pode ser revertido se forem adotados modos de produção sustentáveis que permitam a utilização racional dos recursos naturais (uso adequa- dode terras, das fontes de energia e dos recursos minerais), com a criação de leis que disciplinem e limitem a utilização de ecossistemas, com o desenvolvimento de técnicas de restauração e reabilitação de áreas degradadas ou contaminadas, com tecnologias limpas de produção de bens e serviços, com a reciclagem de materiais, e com a conscientização da população quanto à importância da con- servação do ambiente que ela ocupa, para garantir sua própria qualidade de vida. A BIODIVERSIDADE NO BRASIL Os países tropicais são os que possuem a maior biodiversidade. A vida parece ter surgido nos trópicos, onde o maior tempo de evolução junto a uma maior dis- ponibilidade de energia e água podem ter permitido que um maior número de organismos e de interações tenham se desenvolvido. Acredita-se que os trópicos também serviram de refúgio para várias espécies durante os períodos de glaciação. O Brasil é um dos países que abrigam maior biodiversidade no Planeta, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Estima-se que o Brasil possua de 15 a 20% de toda a biodiversidade mundial. As estimativas não param por aí, no Brasil, encontramos 45 mil espécies de plantas superiores (22% do total mundial), BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I 524 mamíferos (131 espécies endêmicas), 517 anfíbios (294 endêmicas), 1.677 espécies de aves (191 endêmicas) e 468 répteis (172 endêmicas). As estimativas seguem com cerca de 3.000 espécies de peixes de água doce e cerca de 1,5 milhão de insetos, mas este valor pode superar a marca dos 10 milhões. É possível, então, que grande parte da biodiversidade brasileira seja desco- nhecida da ciência. E somente com investimento e pesquisa poderemos descobrir mais sobre essa incrível biodiversidade. Não é à toa que regiões da Mata Atlântica, Floresta Amazônica e Cerrado são classificados como “Hot Spots” mundiais. Biodiversidade O link a seguir traz inúmeras informações sobre o tema biodiversidade. Dentre estas informações, estão: estudos de caso, projetos de pesquisa, legislações relacionadas à área e muitas notícias e novidades. <http://www.biodiversidade.rs.gov.br/portal/index.php>. Curiosidade: As abelhas são polinizadores responsáveis por boa parte da produção agrí- cola mundial. Para quem não se lembra o que significa a polinização, ela é a transferência de grãos de pólen (gameta masculino) das anteras (órgãos masculinos) de uma flor, para o óvulo (gameta feminino) presente no estig- ma (parte do aparelho reprodutor feminino) da mesma flor(autopoliniza- ção) ou de uma outra flor da mesma espécie (polinização cruzada). Para que ocorra a formação das sementes e frutos, é preciso que os grãos de pólen fecundem os óvulos. Há estudos que mostram que as abelhas são responsáveis por quase 10% dessa produção. Dessa forma, elas são de extrema importância para a popu- lação humana, pois a sua ausência acarretaria a queda da produção de inú- meros alimentos, tais como: amendoim, batata, berinjela, cana-de-açúcar, feijão, laranja, limão, repolho, tomate e muitos outros. Certamente a dimi- nuição na produção levaria ao aumento do preço dos alimentos, impactan- do diretamente a economia de todos países. Disponível em: <http://www.biotrix.com.br/conexoes.html>. Acesso em: 28 mai. 2014. 23 Categorias de Conservação de Espécies Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . CATEGORIAS DE CONSERVAÇÃO DE ESPÉCIES De acordo com estudos realizados por Nascimento e Magalhães (1998), até o ano de 1968, o Brasil possuía uma lista oficial de espécies da flora ameaçadas de extinção produzida pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. Mas, entre as décadas de 70 e 80, universidades, ONGs, instituições públicas e privadas, se preocuparam com a degradação do meio ambiente e perceberam que os órgãos públicos não estavam desenvolvendo o trabalho de acordo com a necessidade do ambiente, e passaram a buscar alternativas que demonstrassem a importância da definição de critérios e definições de categorias de conser- vação das espécies. Na década de 90, o Brasil passou a utilizar as Diretrizes da Comissão de Sobrevivência de Espécies, criadas em 1994, nas quais as espécies em via de extinção eram classificadas em 11 diferentes categorias de conservação. Todavia, tal diretriz não é devidamente seguida, uma vez que autores utilizam categorias com iguais definições, porém com nomenclaturas diferentes. Assim, com o intuito de informar as categorias de classificação de espécies existentes e sua evolução, segue a lista de categorias adotadas por diferentes autores:De acordo com Carauta et al. (1981): De acordo com Carauta et al. (1981): ■ Ameaçada: qualquer espécie em perigo de extinção devido a um dese- quilíbrio ecológico. ■ Vulnerável: são vulneráveis as espécies cuja propagação seja natural- mente difícil e cujo mecanismo de germinação seja desconhecido, assim como aquelas cuja propagação e desenvolvimento sejam lentos e também as que possuam baixo rendimento de biomassa, mas que são exploradas pelo homem, em paralelo com espécies mais produtivas, as quais tomam aos poucos o seu lugar. ■ Rara: apresentam poucos indivíduos, tanto em vasta área quanto em pequena área, ou mostram-se endêmicos. ■ Indeterminada: espécie conhecida da qual, por encontrar-se em uma das categorias anteriormente citadas, não se obtêm informações em quanti- dade satisfatória para se afirmar em qual categoria deve ser classificada. BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I ■ Pouco Conhecida: espécie que não se pode afirmar com certeza. Ela não pertence às categorias aqui referidas, por falta de informação. ■ Fora de Perigo: espécie que tinha sido inicialmente classificada na catego- ria ameaçada, rara ou vulnerável, mas que no momento atual é considerada fora de perigo. ■ Singular: apesar de, sob o ponto de vista biológico, todo organismo ser singular, nesta categoria incluem-se as espécies que excitam a imagina- ção por sua beleza, exotismo ou aspecto fora do comum. ■ Desprezadas: são espécies que por apresentarem caracteres não atrativos ou mesmo inconvenientes ao homem, como muitos espinhos, são logo eliminadas quando seu habitat é invadido. Incluem-se aqui, também, as espécies que, por não apresentarem usos imediatos para o homem, são consideradas inúteis e eliminadas indiscriminadamente. De acordo com Mello Filho et al. (1992): ■ Extinta (Ex): espécies seguramente não identificadas na natureza durante os últimos 5 anos (critério usado pela Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora – CITES, em português, “Convenção Sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora”). ■ Em Perigo (E): taxa em perigo de extinção e cuja sobrevivência é imprová- vel se os fatores causais continuarem operando. Incluem-se espécies cujos números foram reduzidos a um nível crítico ou cujos habitats foram tão dras- ticamente reduzidos que eles estão sujeitos a um perigo imediato de extinção. ■ Vulnerável (V): taxa com probabilidade de passarem para categoria “Em perigo” em um futuro próximo, se os fatores causais continuarem ope- rando. Incluem-se as espécies cujas populações encontram-se em declínio em consequência de exploração excessiva, de destruição dos habitats ou outra alteração ambiental; espécies com populações que tenham sido seriamente reduzidas e cuja sobrevivência definitiva ainda não tenha sido assegurada; e espécies com populações ainda abundantes, mas sob ame- aça de fatores adversos graves em sua área de ocorrência. 25 Categorias de Conservação de Espécies Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . ■ Rara (R): espécies com pequenas populações mundiais que ainda não estão “Em perigo” ou “Vulneráveis”, mas encontram-se em condições de enfrentar eventual extinção. Estas espécies são geralmente localizadas em áreas geográficas ou habitats restritos ou encontram-se em ocorrências escassas sobre uma área mais extensa. ■ Indeterminada (I): espécies sabidamente “Em perigo”, “Vulneráveis” ou “Raras”, mas sobre as quais não existe informação suficiente para estabe- lecer qual a categoria mais apropriada. ■ Fora de Perigo (O): espécies anteriormente incluídas em uma das cate- gorias acima, mas que são agora consideradas relativamente garantidas, em razão de terem sido tomadas providências efetivas de conservação. ■ Insuficientemente Conhecida (K): espécie de que se suspeita, mas não se sabe com certeza se pertence a alguma das categorias acima, devido à falta de informação. ■ Candidata (C): espécie cuja categoria está sendo avaliada e que se sus- peita, mas não se tem certeza, pertencer a alguma das categorias acima. Na prática, as categorias “Em perigo” e “Vulnerável” podem incluir, tempora- riamente, espécies cujas populações começam a se recuperar, como resultado de providências tomadas, mas cuja recuperação é insuficiente para justificar sua transferência para outra categoria. De acordo com IUCN – International Union for Conservation of Nature (1994): ■ Extinto (EX): diz respeito a quando não permanece dúvida de que o último indivíduo de uma espécie está morto. ■ Extinto em Estado Silvestre (EW): uma categoria está extinta em estado silvestre quando sobrevive em cultivo, em cativeiro ou como popula- ção natural completamente fora de sua área de distribuição natural. Esta categoria presume a extinção em estado silvestre quando encontram-se exauridos seus habitats conhecidos e/ou esperados, nos momentos apro- priados. Os levantamentos devem ser realizados em períodos de tempos apropriados ao ciclo vital das formas de vida desse taxon. ■ Em Perigo Crítico (CR): ocorre quando determinada espécie enfrenta um risco extremamente alto de extinção em estado silvestre num futuro imediato. BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I ■ Em Perigo (EN): uma espécie está em perigo quando não pertenceà clas- sificação de “Em Perigo Crítico”, encontra-se enfrentando um alto risco de extinção em estado silvestre num futuro próximo. ■ Vulnerável (VU): diz respeito a uma espécie que não está “Em Perigo Crítico” ou “Em Perigo”, enfrenta um alto risco de extinção em estado silvestre a médio prazo. ■ Menor Risco (LR): é atribuída a categoria de menor risco a uma espé- cie quando esta, depois de ter sido estudada, não se adequa a nenhuma das categorias, “Em Perigo Crítico”, “Em Perigo” ou “Vulnerável”, e não se possuem dados suficientes a seu respeito. A categoria de menor risco pode ser dividida em três subcategorias: 1. Dependente de Conservação (dc): categoria em que as espécies são o centro de um programa contínuo de conservação, de especificidade taxo- nômica ou de especificidade de habitat. Ao término desse programa, após um período de cinco anos, espera-se que a espécie se qualifique para alguma categoria de ameaça citada abaixo. 2. Quase Ameaçado (ca): agrupa espécies que não podem ser classifica- das como dependentes de conservação, mas que se aproximam de serem classificadas como vulneráveis. 3. Preocupação Menor (pm): categoria que não qualifica a espécie como dependente de conservação ou quase ameaçada. ■ Dados Insuficientes (DD): utiliza-se quando as informações a respeito de uma determinada espécie são inadequadas para se fazer uma avalia- ção, direta ou indireta, de seu risco de extinção com base na distribuição ou na condição da população. Uma espécie nesta categoria pode ser bem estudada e sua biologia estar bem conhecida, porém se carece de dados apropriados sobre a sua quantidade ou distribuição. Essa categoria indica que se requer um maior volume de informações, e se reconhece a possi- bilidade de investigações futuras. ■ Não Avaliado (NE): categoria que se considera quando a espécie não foi avaliada em relação a nenhum dos critérios relacionados anteriormente. ©shutterstock 27 O Uso Múltiplo de Recursos Florestais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . De acordo com o que foi exposto por vários autores, as várias designações e atribuições de catego- rias apresentadas contribuem para a ausência da padronização das listas. Tais divergências podem limitar as ações neces- sárias à preservação de uma determinada espécie. Algumas informações conflitantes podem tornar as listas de conserva- ção de espécies uma ferramenta duvidosa, suscitando, assim, a necessidade de comparação de várias listas antes de se tomar qualquer medida relacionada ao meio ambiente. Diante do que foi exposto, nos deparamos com duas questões: como podemos alocar os recursos limitados dispo- níveis para a conservação das espécies? Protegemos as espécies mais ameaçadas ou focamos naquelas que têm um papel eco- lógico substancial? O USO MÚLTIPLO DE RECURSOS FLORESTAIS O conceito de uso múltiplo de recursos florestais é anterior ao ano de 1990. Esse termo foi criado pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos, na década de 50, quando se adotou o manejo integrado dos principais recursos naturais renová- veis, em substituição à prática de manejo baseada em recursos isolados. O uso múltiplo em regime de rendimento sustentável é definido como o manejo de recursos naturais renováveis, de modo que sejam utilizados numa combinação que melhor atinja as necessidades da unidade. A Fundação Brasileira para Conservação da Natureza enfatiza que o uso múl- tiplo expressa o manejo dos recursos naturais para que produzam água, madeira, vida silvestre, forragem e recreação ao ar livre, de modo que as necessidades eco- nômicas, sociais e culturais da população sejam satisfeitas, com desgaste mínimo aceitável dos recursos básicos do solo e dos demais fatores ambientais. BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Conforme explica Lobo e Bispo (2012), o uso múltiplo não é um conjunto de quaisquer usos, pois ele requer antes de tudo uma administração consciente e coordenada dos diferentes recursos, sem menosprezar a produtividade da terra. A ocorrência casual de mais de um único uso não é uso múltiplo. Ao contrário de uma prática passiva, a integração deliberada e cuidadosamente planejada dos distintos usos, sem conflitos, complementa-se ao máximo. A fragmentação é um dos principais processos que afetam a paisagem a nível mundial, manifestando-se nas regiões em que houve alterações no uso do solo. A substituição das florestas por culturas agrícolas, por exemplo, modificou a pai- sagem, anteriormente contínua, por fragmentos de habitat, alterando, também, a composição de espécies e seus processos ecológicos básicos (SEPÚLVEDA et al., 1997). De acordo com Rosot (2007), o abandono dos fragmentos florestais nas pro- priedades rurais é entendido aqui como a falta de manejo de qualquer natureza, e contribui para seu empobrecimento e degradação. Entre essas ações, encontram-se: a. a utilização da floresta como local de pastoreio para os rebanhos, o que destrói a regeneração natural; b. a vigilância inexistente ou ineficaz contra a caça e o roubo de madeira, sementes e outros produtos da floresta por terceiros; c. a falta de medidas adequadas de proteção contra incêndios provocados por atividades humanas; d. a diminuição da cobertura florestal pela ampliação lenta e progressiva de áreas utilizadas para a agricultura e/ou pecuária. Por outro lado, em áreas já abandonadas pela agricultura ou em áreas de pousio, inicia-se o processo da sucessão secundária que, mesmo atingindo a cobertura arbórea, sofre processo de estagnação. Isso se deve a muitos fatores tais como a intensidade e frequência de luz incidente, a distância de árvores porta-semen- tes, a competição intra e interespecífica e predadores de sementes e mudas. Observa-se que mesmo vários anos após o estabelecimento de uma floresta secundária, a presença de espécies pioneiras, que deveria ser rara, é frequente, formando grandes agrupamentos, correspondentes a áreas de extensas clarei- ras criadas por atividade antrópica. Nessas situações, somente uma intervenção 29 O Uso Múltiplo de Recursos Florestais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . humana pode desencadear a retomada do processo sucessório. Rosot (2007) afirma ainda que, sem um manejo adequado, as florestas natu- rais subtropicais submetidas à intensa pressão pela expansão das atividades agropecuárias, ao fogo resultante da atividade antrópica, à extração de madeira e à conversão para outros usos levariam cerca de 150 anos ou mais para retor- nar a sua condição original. Um exemplo de fragmentação de habitats ocorre na Floresta de Araucária (Floresta Ombrófila Mista - FOM), uma das mais expressivas fontes de recursos madeireiros até meados do século passado na economia dos estados do Sul do Brasil. Essa floresta ocupava uma área original de 2 milhões de hectares (REITZ; KLEIN, 1966), dos quais restam hoje apenas 40 mil (GUERRA et al., 2000). Em um levantamento posterior, Carauta et al. ( 2001) indicaram a existência de quase 3 milhões de hectares remanescentes da FOM, sendo cerca de 1,6 milhões de hectares em estágio médio ou avançado de sucessão; destes, porém, apenas 275 mil são representados por fragmentos superiores a 5 hectares em tamanho. A discrepância entre números nos levantamentos efetuados é resultado de diferen- tes métodos e definições utilizados nas classificações e não altera o fato de que a maioria dos remanescentes encontra-se, hoje, empobrecida pelaextração pre- datória e seletiva dos últimos 60 anos. Desde a publicação da Resolução CONAMA nº 278 de 2001, que determina ao IBAMA a suspensão de autorizações para corte ou exploração de espécies ameaçadas de extinção, ficou vedado todo e qualquer aproveitamento comercial de Araucaria angustifolia, Ocotea porosa, Ocotea pretiosa e Ocotea catharinen- sis, todas presentes na FOM, com a suspensão dos planos de manejo florestal em execução. Desde o ano de 2004, a produção da Floresta com Araucária se restringe à exploração de bracatingais, fornecimento de lenha, e a produtos não madeireiros, tais como: erva-mate, plantas medicinais e ornamentais, frutas sil- vestres e pinho (SANTOS; MULLER, 2006). Outro exemplo do uso irracional dos recursos naturais remanescentes é a crise pela qual passa a região cacaueira. A degradação verificada no agrossistema Camacã (BA) levou a sociedade a exigir dos órgãos competentes uma posição quanto às ações predatórias, riscos envolvidos, coibição dos excessos, normas de utilização e alternativas para a crise. Hoje, mais de dez instituições atuam na BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I região cacaueira com maior ou menor intensidade, e várias ações e programas estão em andamento. Contudo, essas ações, normalmente, são segmentadas sem preocupação multidisciplinar e/ou interinstitucional, o que tem gerado ações descoordenadas e pouco efetivas para solução dos problemas. O período em que a grande maioria das áreas com cacau fica abandonada e a lentidão com que as políticas públicas de recuperação da lavoura cacaueira se processam fazem com que legalmente parte delas corram o risco de estarem imobilizadas. Uma outra preocupação que exige resposta imediata é o destino a ser dado às àreas que não serão contempladas nos programas de recuperação da lavoura cacaueira. O modelo de administração, empregando-se os conceitos de uso múltiplo em regime de rendimento sustentável, pode no futuro ser uma alternativa viável, pois possibilita a diversificação baseada na sustentabilidade. Entretanto, algu- mas dificuldades terão que ser superadas, tais como: ■ tradição regional em monocultivos; ■ alta de tradição no manejo e comercialização de produtos florestais; ■ ausência de políticas públicas adequadas para a cadeia produtiva do cacau; ■ falta de políticas públicas e determinação para implantar diversificação, ■ conservação produtiva e uso múltiplo da propriedade agrícola; ■ material botânico de propagação em quantidade e qualidade insuficientes; ■ baixo nível cultural dos trabalhadores rurais (LOBO; BISPO, 2012). Para McEvoy (2004), é enfático afirmar que, se pretendemos manter as florestas na paisagem, é necessário manejá-las como tal, pois florestas sem manejo estão destinadas a desaparecer, sendo gradualmente convertidas para outros usos. A manutenção dos ambientes florestais está indissoluvelmente ligada à melhoria das condições da floresta, buscando um equilíbrio de longo prazo com relação às características físicas e antrópicas da região onde está localizada. A conservação da floresta e seu uso sustentável, portanto, não prescindem de ações de manejo. 31 O Uso Múltiplo de Recursos Florestais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . É inegável que propor um modelo de manejo, hoje, é um desafio, pela mul- tiplicidade e fragilidade dos ecossistemas envolvidos, pelos inúmeros fatores e variáveis a considerar quando do planejamento de operações e pela falta de parâ- metros técnicos suficiente e adequadamente validados por experiências anteriores. O QUE É MANEJO FLORESTAL? Várias definições são encontradas para o manejo florestal ao longo da histó- ria da ciência florestal. Um dos conceitos mais clássicos discutido em 1958 pela Sociedade Norte-Americana de Engenheiros Florestais define manejo florestal como “a aplicação de métodos comerciais e princípios técnicos florestais na ope- ração de uma propriedade florestal”. Logo após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), agregou-se o termo sustentável à palavra manejo, incorporando-se o conceito a muitos instrumentos legais publicados desde então no Brasil. O Decreto 1.282 de 1995, por exemplo, regulamenta a exploração das florestas da Bacia Amazônica e o manejo florestal sustentável, a administração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos e sociais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema. Assim, manejo florestal, em seu sentido mais amplo, pode ser definido como o conjunto de medidas tomadas em relação à floresta, principalmente de caráter sivicultural, visando otimizar a produção de determinados bens e/ou serviços de forma sustentável ao longo do tempo. Durante todo o século XX, o manejo de recursos naturais esteve focado em manter os recursos econômicos, como a madeira, gado, soja, milho. Este foco permaneceu até meados dos anos 80. Por fim, as agências dos recursos naturais incluíram áreas de uso múltiplo, reconhecendo que as pessoas necessitam destes ambientes e possuem diferentes interesses. Assim, houve a compartimentalização BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I de espaços pelo tipo de uso e extração da madeira, zona de recreação e refúgio silvestre. Portanto, o manejo de ecossistemas surgiu para gerenciar essas áreas e proteger espécies da fauna e principalmente da flora, e focalizar não apenas a sustentabilidade de um recurso de interesse, mas a sustentabilidade de todo o sistema. O manejo de ecossistema é motivado por metas, é executado por políti- cas, protocolos e práticas, tornando-se adaptável ao monitoramento e pesquisa. Os humanos são partes integrais dos ecossistemas e suas ações alteram os ecossistemas naturais, e com isso, a economia é afetada pela falta dos recursos naturais. Deste modo, as pessoas responsáveis por gerirem o ecossistema não devem apenas administrar os recursos naturais, a biodiversidade do local, mas também fazer planos que protejam, de forma conjunta, o ecossistema envol- vido e a economia. Assim, o manejo de ecossistema incorpora fatores sociais e econômicos como partes fundamentais para tomada de decisões, juntamente com questões de legislação e integridade ecológica. As pessoas necessitam dos ambientes naturais em vários aspectos, e o manejo de ecossistemas incorpora a educação do público sobre suas dependências e o meio ambiente como um todo como parte de sua missão 33 PÁSSAROS E BOMBAS PODEM COEXISTIR? Será possível que usar terras para testes de bombardeios é o segredo para o sucesso da conservação? Embora seja estranho, décadas de bombardeios em uma base militar na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, têm protegido milhares de hectares de savanas com pinhei- ros-de-folha-longa, contribuindo com a conservação da espécie pica-pau-de-topete- -vermelho. Essa floresta tem sido utilizada há 90 anos para treinamentos militares, e tem sido degra- dada por veículo off-road, equipamentos terrestres e incendiada por explosivos. Essas atividades acontecem em meio a um ecossistema que ironicamente sobrevive devido à presença militar. Isso ocorre pelo fato das savanas com pinheiros-de-folha-longa depen- derem do fogo para sobreviver. Com o aumento populacional, houve a necessidade de grandes espaços, como os espa- ços florestais, para construção de habitação, espaço agrícola e manejo florestal, assim, a àrea que continha savana foi reduzida em apenas 3% de sua cobertura original. Com o declínio desse ambiente, diversas espécies de plantas, insetos e invertebradosque dependiam do ecossistema também sofreram declínios substanciais. Uma dessas es- pécies é o pica-pau-de-topete-vermelho, pequeno pássaro insetívoro, especificamente adaptado a grandes extensões abertas de savana. Essa espécie de pássaro necessita de árvores maduras de pinheiros-de-folhas-longas para o seu ninho. O fogo natural periódico ajuda a manter a savana de pinheiros-de-folhas-longas, uma vez que sem o fogo, essa comunidade logo sofre sucessão. À medida que outras árvo- res se desenvolvem no local da savana, os pica-paus-de-topete-vermelho abandonam o seus ninhos devido ao decréscimo de alimento. A história do pica-pau-de-topete-vermelho e da savana de pinheiros-de-folhas-longas reflete aquela de milhares de outras espécies em perigo mundo afora, do qual passaram de componente vital de um grande ecossistema por um declínio gradual pela perda de habitat, até atingirem números populacionais criticamente baixos. Quando organismos dependem de um determinado habitat que é perdido devido aos efeitos das atividades humanas, eles tendem a diminuir a sua população e, em alguns casos, desaparecem. O que as pessoas podem fazer para salvar essas espécies da extinção? Temos a responsabilidade de proteger a biodiversidade existente e restaurar parte do que tem sido perdida? Em caso positivo, como nós podemos alocar nossos recursos li- mitados para sermos mais eficientes em nossos esforços de conservação? Fonte: Caim, Bowman e Hacker (2011, p. 476) BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I CONSIDERAÇÕES FINAIS A biologia da conservação é uma área de pesquisa preocupada com o valor da biodiversidade e com o crescente aumento da sua perda. Com base nisso, inú- meros pesquisadores viram a necessidade da aplicação dos princípios da ecologia para a preservação das espécies e do ecossistema. Infelizmente a biodiversidade está declinando globalmente e a biota terrestre está se tornando cada vez mais homogeneizada, e com isso, a Terra está perdendo espécies em uma taxa acelerada, em grande parte devido à pegada ecológica da humanidade sobre o planeta. As principais ameaças à biodiversidade são a perda e a degradação de habitats, a introdução de espécies invasoras e a sobre-exploração das espécies existentes. Outros fatores que influenciam a viabilidade das populações e contribuem para a perda da diversidade são a poluição do ar e da água, as mudanças climáticas globais e as doenças. Diante dessas ameaças, o interesse principal é evitar o declínio da popula- ção de qualquer espécie, pois à medida que as espécies perdem indivíduos, elas tornam-se cada vez mais vulneráveis aos problemas de pequenas populações e podem chegar rapidamente à extinção. Dessa forma, priorizar as espécies é o caminho a ser seguido, pois essa atitude ajudará a maximizar a biodiversidade e, consequentemente, a proteger a espécie humana de futuros desequilíbrios ambientais que possam afetar a rotina da humanidade. 35 1. Quais são as principais ameaças à biodiversidade? Descreva alguns exemplos nos quais as múltiplas ameaças têm contribuído para o declínio das espécies. 2. Identifique cinco espécies em perigo que vivem em sua região, incluindo uma planta, um mamífero, um pássaro, um peixe e um invertebrado. Algumas dessas espécies são endêmicas de sua região? Para cada espécie que você identificou, tente encontrar se costumava ser rara antes da colonização humana da região. Quais ameaças essas espécies sofrem atualmente? O que tem sido feito para protegê-las? Com base nos conhecimentos que você adquiriu, que tópicos você pensa que deveriam ser pesquisados para ajudar na recuperação das espécies? (para auxílio acesse o site: <http://www.natureserve.org>. 3. Qual a diferença de uma espécie determinada como “Em Perigo” pelo autor Mello Filho (1992) e uma espécie “Em Perigo” debatida pelo IUCN (1994)? MATERIAL COMPLEMENTAR “Quando o homem compreende sua realidade, pode levantar hipóteses so- bre o desafi o dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e seu trabalho pode criar um mundo próprio, seu eu e suas circunstâncias”. Paulo Freire Gestão e Educação Ambiental – Água, Biodiversidade e Cultura José Eduardo dos Santos, Carla Galbiati (orgs.). Editora: Rima Editora Sinopse: A abordagem conceitual para o desenvolvimento da pesquisa que integra os aspectos ecológicos aos socioeconômico e culturais no tratamento da problemática ambiental. Os trabalhos demonstram que as atividades humanas que operam na paisagem, ao modifi carem os padrões e processos ecológicos e sociais, tanto deliberada quanto inadvertidamente, alteram a estrutura e o funcionamento dos diferentes sistemas ambientais relacionados aos biomas da Amazônia, Cerrado e Pantanal que compõem o espaço geográfi co do estado de Mato Grosso, em que o desenvolvimento socioeconômico há muito tempo tem desenhado novas unidades da paisagem. A compreensão desses padrões e processos no contexto regional é de importância fundamental para o planejamento ambiental, seja na perspectiva da produção ou para a conservação da biodiversidade. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Educação Ambiental Empresarial no Brasil Alexandre de Gusmão Pedrini Editora: Rima Editora Sinopse: Organizado por Alexandre de Gusmão Pedrini, esta obra foi idealizada e planejada com o objetivo de mostrar o que se tem disponível no seio da Educação Ambiental Empresarial no Brasil (EAEB). Muito tem sido feito no campo da EAEB, mas não se sabe quem a tem feito, como tem feito e o que é feito. Uma vez que o contexto empresarial é o principal contribuinte para o caos socioambiental, é fundamental e premente mapear o que vem sendo realizado com a denominação de EAEB e investigar sua efi cácia e impacto. Esta coletânea tenciona ser a primeira contribuição disponibilizada no Brasil, e provavelmente no exterior também, com o fi m primordial de apresentar livremente e de modo emblemático o que os principais atores da EAEB têm realizado. Deseja ainda estimular o embate construtivo na seara dos educadores ambientais, empresários e população interessada em geral e receber novas contribuições, quem sabe, para outras coletâneas, mostrando outras experiências e estimulando novas pesquisas no campo. U N ID A D E II Professora Me. Lilian Capelari Soares Professor Dr. Rômulo Diego de Lima Behrend BIOGEOGRAFIA E RIQUEZA DE ESPÉCIES Objetivos de Aprendizagem ■ Comprender qual o real significado da biogeografia e qual a sua importância em relação à distribuição e preservação das espécies terrestres. ■ Entender o conceito de biogeografia de ilhas, proposto por MacArthur e Wilson. ■ Identificar quais os gradientes que envolvem a riqueza de espécies e compreender a sua importância ecológica para cada comunidade. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O que é biogeografia? - Biogeografia global - Biogeografia regional ■ Biogeografia de ilhas e riqueza de espécies - Fatores espaciais que influenciam a riqueza das espécies - Processos locais e regionais que interagem na diversidade das espécies ■ Gradientes da riqueza de espécies - As causas dos gradientes latitudinais na biodiversidade - A importância do entendimento dos gradientes latitudinais na biodiversidade INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta etapa, serão estudadas as questões ecológicas através do foco geográfico, fazendo uma contextualização com essa importante área do ensino, por meio do surgimento de alguns recursos, como a fotografia, que nos proporciona, de modo fiel, olharmos para grandes áreas ou locais que nunca visi- tamos. A tecnologia dos satélites, cuja capacidade de registrar imagens atravésdo espaço é imensa, também colabora com as pesquisas científicas, principalmente quando se trata de estudos que envolvem grandes escalas como a Biogegrafia. Ao olhar para uma comunidade marítima, fica óbvio que a localização das espécies na margem da praia é controlada por importantes fatores físicos, tais como altura da maré e ação das ondas, e também por interações biológicas. As estrelas-do-mar alimentam-se de mexilhões sésseis na zona entremarés baixa, limitando-os assim a zonas entremarés altas. Nessas zonas, as fendas entre os mexilhões proporcio- nam habitat para muitas espécies que, em outras condições, não sobreviveriam. Condições locais como essas são importantes reguladores da distribuição das espécies. Contudo, por mais importante que essas condições nos pareçam, pre- cisamos estar sempre cientes da influência de processos que operam em escalas geográficas maiores. Os processos oceanográficos como as correntes ou ressurgência regulam a distribuição de espécies das costas rochosas. Em escala global, os padrões de cir- culação oceânica controlam a direção das correntes e podem isolar as espécies ao longo de períodos ecológicos e evolutivos. Assim, se faz necessário compre- ender esses processos por envolverem questões de imigração e principalmente extinção de algumas espécies da fauna e flora. Esta unidade será dividida em quatro etapas, tratando cada uma delas de assuntos que envolvem a distribuição de espécies, mas você também encontrará tópicos específicos como deriva genética e curvas entre área e espécie, que auxilia- rão no entendimento do conteúdo estudado; e também a divulgação sobre a obra e vida de dois grandes nomes da evolução, Charles Darwin e Alfred Russel Wallace. 41 Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . ©shutterstock BIOGEOGRAFIA E RIQUEZA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II O QUE É BIOGEOGRAFIA? De acordo com Caim, Bowman e Hacker (2011), um dos padrões mais óbvios na Terra é a variação que vemos na composição e na diversidade de espécies entre localizações geográficas. O estudo dessa variação é conhecido como biogeografia. Biogeografia é a área da ciência biológica que estuda a distribuição dos seres vivos no espaço através do tempo, assim, esse campo da ecologia estuda a dis- tribuição da vida com base em sua dinâmica na escala espacial e temporal no planeta Terra. É um parâmetro útil para entendermos qual a forma e como os organismos estão distribuídos no planeta e por que os organismos estão em determinado local. De acordo com Brown (1984), uma das funções da ecologia e da biogeogra- fia é estudar como as condições ambientais e os processos bióticos determinam a abundância e a distribuição das espécies e como os padrões espaciais e temporais em comunidades são resultados de complexos relacionamentos ecológicos entre as espécies, estando limitados pelas características ambientais de cada ecossis- tema e pela sua composição, as quais estabelecem mecanismos de consistentes variações espaço-temporais no uso do espaço limitado. ©shutterstock 43 Biogeografia Global Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Um importante padrão biogeográfico na Terra, conforme demonstram as comunidades florestais, está relacionado à riqueza de espécies, que varia com a latitude. Por exemplo, em latitudes menores, tropicais, a riqueza de espécies é maior que em latitudes maiores, temperadas e polares. A riqueza de espécies também varia de um continente para o outro, mesmo onde a latitude ou a longi- tude são similares ou próximas. O mesmo tipo de comunidade ou bioma também pode variar na riqueza de espécies dependendo da localização na Terra. Desta forma, esses padrões têm se repetido em muitas regiões do mundo e em mui- tos tipos de comunidades. Mas por que alguns locais apresentam mais espécies do que outros? Por que alguns locais comportam grande quantidade de espé- cies não encontrada em nenhum outro local da Terra? BIOGEOGRAFIA GLOBAL Os padrões de diversidade global e a composição de espécies são controlados pela área, isolamento geográfico, história evolutiva e clima (CAIM; BOWMAN; HACKER, 2011). Alfred Russel Wallace, o pai da biogeografia, por meio de suas pesquisas, publicou um trabalho contendo dois volumes, no qual aborda a divisão de espécies de acordo com as regiões geográficas e revela dois importantes padrões: ■ a massa de terra do planeta pode ser dividida em seis regiões biogeográ- ficas, que diferem em composição e riqueza de espécies; ■ há um gradiente de diversidade de espécies de acordo com a latitude; a diversidade é maior nos trópicos e diminui rumo aos polos. BIOGEOGRAFIA E RIQUEZA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II Wallace comprova em suas publicações que esses padrões são inter-relacionados, pelo gradiente latitudinal ser sobreposto às regiões biogeográficas. As seis regi- ões biogeográficas citadas por ele são: Neártica (América do Norte), Neotropical (Américas Central e do Sul), Paleártica (Europa e partes da Ásia e África), Etiópica (maior parte da África), Oriental (Índia, China e sudeste da Ásia) e Australásica (Austrália, Indo-Pacífico e Nova Zelândia) (Figura 2). Figura 2: Regiões biogeográficas segundo Alfred Russel Wallace Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Biogeografia_evolutiva#mediaviewer/Ficheiro:ZOOREGIAO.jpg> As regiões biogeográficas descritas por Wallace em 1876 correspondem às seis maiores placas tectônicas da Terra. Caim, Bowman e Hacker (2011) mencionam que as placas tectônicas, trechos da crosta terrestre, se movimentam ou ficam à deriva de um lado para o outro da superfície da Terra devido à ação de cor- rentes geradas no fundo de seu manto de rocha fundida (Figura 3). Em áreas conhecidas como cadeias meso-oceânicas, essa rocha fundida flui para fora das fendas entre as placas e esfria, criando uma nova crosta e forçando as placas a se espalharem. Em algumas áreas, onde há o encontro entre duas placas, conheci- das como zonas de subducção, uma placa é forçada para baixo da outra. Essas áreas estão sujeitas a fortes abalos sísmicos, atividades vulcânicas e formação de cadeias de montanhas. Em áreas onde as placas se encontram, elas deslizam late- ralmente entre si, formando uma falha. 45 Biogeografia Global Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Figura 3: Placas tectônicas Fonte: < http://cetecgeo.files.wordpress.com/2011/05/tectonica_global.jpg > Devido à movimentação das placas tectônicas, as posições das placas e o con- tinente disposto sobre elas sofrem constantes mudanças ao longo do período geológico (Figura 4). Cerca de 150 milhões de anos atrás, a Terra era um grande continente denominado Pangeia. Esse continente começou a se separar no perí- odo Cretáceo, havendo a formação de dois continentes, Norte (Laurásia) e Sul BIOGEOGRAFIA E RIQUEZA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II (Gondwana). Esses continentes também sofreram processos geológicos no iní- cio do período terciário e separaram-se em: Gondwana, nos atuais continentes América do Sul, África, Índia, Antártica e Austrália, e Laurásia, em América do Norte, Europa e Ásia (CAIM; BOWMAN; HACKER, 2011). Com toda essa separação da Pangeiaem vários continentes, as espécies que ali habitavam também foram separadas em seis grupos biogeograficamente dis- tintos pelo isolamento de diferentes continentes, gerando desta forma espécies da fauna e da flora muito distintas umas das outras. Por exemplo, como descreve Flessa (1975), as oriundas do Gondwana foram isoladas por algum tempo e têm formas de vida distintas das demais. Em outros casos, espécies distintas umas das outras foram unidas. As espécies existentes na região Neotropical são dife- rentes das espécies da região Neártica, apesar da proximidade dos continentes. Como a América do Norte foi originada pelo continente Laurásia e a América do Sul pela Gondawa, ambas não tiveram contato cerca de 6 milhões de anos atrás. Já o Neártico e o Paleártico, ambos descenderam da Laurásia, têm simi- laridades na biota atual Groelândia e no Estrito de Bering, onde uma ponte de terra permitiu trocas de espécies durante 100 milhões de anos. A separação evolutiva das espécies, devido a barreiras como deriva continen- tal, é conhecida como vicariância. Um exemplo de vicariância são as aves ratitas, as quais têm o mesmo ancestral comum, originado no Gondwana. Quando esse continente fragmentou-se, as Emas (América do Sul), os avestruzes (África), os casuares e emus (Austrália) e as moas (Nova Zelândia) foram isolados uns dos outros e, assim, cada espécie em seu novo continente desenvolveu característi- cas singulares ao seu isolamento, mas ainda conservam características comuns, tais como a habilidade de voar e o tamanho. É necessário considerar que o regionalismo biogeográfico também está pre- sente nos oceanos, que perfazem 75% da superfície terrestre, eles também derivam dos movimentos das placas tectônicas, no sentido de que são criados, reunidos ou destruídos. Quanto à troca de biota no oceano, existem certos impedimen- tos, tais como: correntes, diferenças termais e diferenças na profundidade. Dessa forma, as espécies são isoladas, permitindo mudanças evolutivas e criando regi- ões biogeográficas únicas. 47 Biogeografia Global Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Figura 4: Períodos geológicos Fonte: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=581> BIOGEOGRAFIA E RIQUEZA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II ÉON ERA PERÍODO ÉPOCA FA N ER O ZÓ IC O CE N O ZÓ IC A Quarternário Holoceno Pleistoceno Te rc iá rio Neógena Plioceno Mioceno Oligoceno Paleógeno Eoceno Paleoceno M ES O ZÓ IC A Cretácio Jurássico Triássico PA LE O ZÓ IC A Permiano Carbonífero Devoniano Siluriano Ordoviciano cambriano PROTEROZÓICO ARQUEANO 0,01 1,8 5,3 24 33 54 65 142 206 248 290 354 417 443 495 545 2.500 4.500 (Ma) Fonte: <http://www.ufrgs.br/paleodigital/Tempo_geologico1.html> BIOGEOGRAFIA REGIONAL A diversidade regional das espécies é controlada por área e distância, devido ao balanço entre as taxas de migração e extinção. A riqueza de espécies aumenta com o aumento da área amostrada e tem sido documentada em uma variedade de escalas espaciais, de pequenas lagoas até continentes inteiros. Estudos de relações espécie-área têm sido realizados em escalas espaciais regionais, onde 49 Biogeografia Global Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . tendem a ser bons preditores das diferenças na diversidade de espécies (CAIM; BOWMAN; HACKER, 2011). O pesquisador H. C. Watson fez em 1859 um importante gráfico demons- trando a quantidade de éspecie por área para plantas na Grã-Bretanha e concluiu que, a cada aumento de área obtido em seus experimentos, a riqueza de espé- cies aumenta significativamente (ver mais a respeito no final da unidade em Curvas espécie-área). Em seus estudos, a maioria das relações espécie-área foi documentada para ilhas, nesse caso, ilhas incluem todos os tipos de áreas isola- das circundadas por habitats distintos, conhecidos como habitats matriz. Assim, podem-se incluir ilhas circundadas por oceano, lagos circundados por terra, ilhas de montanhas circundadas por vales e fragmentos de habitat como os des- truídos por desmatamento. Devido ao isolamento natural das ilhas, a diversidade de espécies mostra uma forte relação negativa com a distância da fonte principal de espécies, por exem- plo. Lomolino e Brow (1984) observaram que a riqueza de espécies de mamíferos em topos de montanhas no sudoeste americano diminui em função da distância das principais fontes de espécies (fontes populacionais), neste caso, duas gran- des cadeias de montanhas. Isso demonstra que as ilhas mais distantes das fontes populacionais, tais como áreas continentais ou habitats não fragmentados, apre- sentam menos espécies do que ilhas próximas a essas fontes. © sh ut te rs to ck BIOGEOGRAFIA E RIQUEZA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II BIOGEOGRAFIA DE ILHAS E RIQUEZA DE ESPÉCIES As ilhas, porções de terra menos extensas que os continentes e rodeadas por água por todos os lados, servem de palco para o espetáculo de especiações advindas da deriva genética. Em uma ilha, pode ser encontrado um complexo de ecossis- temas de pequena extensão espacial com número de códigos genéticos restrito, pois as trocas genéticas e ocorrência de colonização são potencialmente reduzi- das. Esse isolamento favorece o processo de especiação. Conforme debatido por Dambros (2010), a biogeografia de ilhas constitui- -se em um ramo da ciência biogeográfica repleto de fortes emoções. Muitas das formas de vida mais espalhafatosas do mundo ocorrem em ilhas. Encontram-se nelas gigantes, anões, exímios artistas da mutação e não conformistas de todo tipo. Essas criaturas improváveis habitam as zonas mais isoladas e remotas do planeta e conferem uma definição biológica viva à palavra exótico (QUAMMEN, 2008). Na década de 60, o ecólogo canadense Robert Helmer MacArthur e o biólogo norte-americano Edward Osborne Wilson propuseram a Teoria da Biogeografia de Ilhas ou Teoria do Equilíbrio Biogeográfico Insular. Essa teoria baseava-se em alguns pressupostos: 1. As comunidades insulares são muito mais pobres em espécies do que as comunidades continentais equivalentes. 2. A riqueza de espécies aumenta com o tamanho da ilha. 3. A riqueza de espécies diminui com o aumento do isolamento da ilha, ou seja, a distância do continente. 51 Biogeografia de Ilhas e Riqueza de Espécies Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . A riqueza de espécies aumenta com o tamanho da ilha, ou seja, quanto maior a ilha, maior é o número de espécies (Figura 5). Note que as ilhas Hespanhola e Cuba apresentam as maiores áreas e o maior número de espécies. Nesse sentido, MacArthur e Wilson (2001, p.8) enfatizam que “existe, no interior de uma dada região de clima relativamente uniforme, uma relação ordenada entre o tama- nho de uma área de amostra e o número de espécies encontradas naquela área”. Redonda Saba Monte Serrat Puerto Rico Jamaica Hispanola Cuba Nú me ro s d e E sp éc ies Área em Quilômetros Quadrados 1 1 10 100 1000 10.000 100.000 10 100 Figura 5: Relação entre número de espécies de anfíbios e répteis