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A arte é aquilo que nem sempre se expressa da maneira que queríamos que fosse

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NOME DA INSTITUIÇÃO: faculdade Maurício de Nassau 
NOME DO CURSO: Letras 
NOME DA DISCIPLINA: Estética e História da Arte 
NOME DO PROFESSOR EXECUTOR: Daniele Siqueira Veras 
NOME DO TUTOR: Roberta Cavalcanti
NOME DO ALUNO: Francisco das Chagas Oliveira Pessoa 
O professor José, que leciona a matéria de educação artística em uma escola estadual de Pernambuco, deu uma aula sobre cultura e passou um trabalho para seus alunos sobre esse mesmo tema, mas que envolvesse música. De todos que fizeram a atividade, três alunos chamaram a atenção.
Vejamos: a aluna A, que era de família de classe alta e tinha bastante contato com arte erudita, trouxe o seu trabalho sobre ópera, mostrando, inclusive, um vídeo curto da obra O Barbeiro de Sevilla que ela gravou quando passava férias na Europa. Todos ficaram impressionados.
O aluno B, que era de classe média, gostava de tocar maracatu com os amigos aos domingos no centro da cidade do Recife, trouxe o vídeo do seu grupo quando se apresentaram no carnaval e trouxe também algumas fotografias de outro amigo que tocava no maracatu rural de Nazaré da Mata. Muitos alunos gostaram bastante.
Finalmente, o aluno C, que morava em um bairro periférico e violento da capital pernambucana, trouxe, com bastante orgulho, o vídeo de um clipe que seus amigos “MCs” fizeram e o chamaram para participar como figurante. A música se chama Sou favela, da dupla SHEVCHENKO e ELLOCO (https://www.youtube.com/watch?v=u-0oLLKdps8) .
A grande maioria da turma fez cara feia para esse vídeo e essa música, dizendo que não era cultura, porque a música “não tinha letra” e que também foi filmado num lugar em que as pessoas “não tinham cultura”, pois só ouviam esses “bregas ruins”. O aluno rebateu dizendo que era possível sim ter cultura na periferia e que a música que ele trouxe mostrava como era a realidade daquelas pessoas. Houve muita discussão e o professor precisou interferir, pois, começou-se a dizer que a Aluna A possuía mais cultura do que todos os que apresentaram o vídeo e o aluno C não tinha cultura nenhuma.
Sendo assim, como você reagiria e como você mostraria aos alunos o conceito de cultura se fosse você o professor deles? Como você explicaria esses diferentes casos de cultura? Você concordaria que a Aluna A tem mais cultura e que o Aluno C não tem cultura nenhuma? Disserte sobre essa situação.
Ufa! Muita informação, não é? Então, quero deixar claro que para você realizar esta atividade é necessário elaborar uma escrita com trinta(30) linhas, para que em breve o seu tutor possa fazer a correção e lhe dar um retorno.
Aguardo sua resposta, boa sorte.
A arte é aquilo que nem sempre se expressa da maneira que queríamos que fosse.
Antes de partir para a análise crítica do que houve na sala de aula do professor José, é de suma importância conceituar um pouco sobre o que é arte, em quais tipos ela pode ser, como pode ser produzida (com que finalidade), quais influências ela pode ter, e de que maneira a linguagem que a obra artística emite influencia o processo comunicativo criador-observador. A arte é o modo pelo qual o ser humano expressa seus sentimentos, emoções. Ao decorrer da história teve várias influências de acordo com o período a que fez parte. Ao longo da história da humanidade, ela vem trazendo a nós, da época atual, o chamado processo de compreensão autônoma, ou, de (BRASIL escola, 2019) uma autocompreensão humana, pois ela nos emite o contexto interno do criador no período em que criou a obra. 
Outro assunto que merece um foco explícito é a respeito dos tipos de cultura, tais quais a erudita, a popular e a de massa. Quanto à cultura de massa ela visa obter a venda de algum produto no mercado global – mercado de consumo (exemplos: propagandas de TV sobre alguma marca de refrigerante); quanto à cultura popular, ela tem, principalmente, o lado espontâneo do ser humano, de uma sociedade, em outras palavras, esse tipo de cultura leva em si traços cotidianos da sociedade onde nós vivemos (Exemplo: festa popular, mitos, lendas etc.). Partindo para o último tipo de cultura, a erudita, esta está mais voltada para a formação intelectual de algum indivíduo sobre um tema em específico, em outro significado, trata-se de um conhecimento, por exemplo, de variados tipos de arte (música, pintura, dramaturgia etc.) – analogicamente é associada a uma cultura/sociedade/pessoa mais elevada, socialmente falando (o que não é verdade, pois um indivíduo comum pode saber identificar significados de temas distintos e formar sua opinião. Além disso, um indivíduo não pode afirmar que alguém tem mais cultura que outro porque as pessoas não são iguais. E, por não serem iguais, as produções artísticas com certeza serão diversificadas, pois cada um tem seu estilo próprio para construí-las).
Tendo o conceito “arte” em consideração, pode-se identificar 3 tipos, cada uma com uma finalidade diferente, quais sejam: a função pragmática da arte – que produz uma obra artística a algum objetivo, geralmente, uma crítica social. Outra função é a naturalista, que visa representar fielmente o que o escultor/criador vê/observa (como exemplo simples, pode ser uma quadro artístico representado pela obra abaixo:
Fonte: https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/pid-3315549-dt-message-rid-25975048_1/xid-25975048_ - uma obra do artista Almeida Junior
Partindo para a última função artística, existe a função formalista, ou seja, o que mais importa é a organização dos elementos que a compõem, ou seja, o criador não tem uma preocupação estética em reproduzi-la, nem mesmo a faz objetivando uma crítica social. Um exemplo abaixo:
 Fonte: http://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2013/11/artecultura.jpg
Uma posição que também merece destaque é a respeito da linguagem na arte. Destarte, como a linguística, o criador da obra (vide EMISSOR) produz sua obra artística com o intuito de transpassar uma ideia/opinião/posicionamento ao observador da obra (vide RECEPTOR). Para que esse conjunto funcione de modo eficaz, é necessário ocorrer outros elementos da comunicação, como propôs o estudo de Jakobson, na linguística, que são: o contexto, a mensagem, o código e o canal. Havendo esse conjunto conciso, o interlocutor poderá apreciar com maior satisfação a obra que admira. Caso haja um ruído nessa comunicação criador-observador, à exceção, ou houve uma falta de repertório do que observa a obra ou houve uma falta de contextualização da peça artística. 
QUANTO AO CASO DO PROFESSOR JOSÉ
Àquele caso, onde um aluno A, B e C tiveram posicionamentos críticos diferentes um do outro, cabe avaliar que: 
No caso do aluno A: produziu um trabalho típico de uma cultura erudita
No caso do aluno B: produziu um trabalho típico de uma cultura popular. Explico: há dois fatos que caracterizam esse tipo de cultura – a festa do carnaval – uma festa popular e as fotos – tipo de arte com traços cotidianos. 
No caso do aluno C: produziu um trabalho também com um traço popular, visto que o é um estilo musical típico de quem mora em regiões um pouco distante do centro urbano (mas que não deixa de ser um tipo de arte por ser uma obra pouco conhecida na cultura erudita, artisticamente falando).
Analisando ao posicionamento sobre se a cultura da aluna A era mais valorizada e bela que as demais, as quais foram nomeadas de “bregas” interviria afirmando que a arte, na verdade, se adéqua ao contexto social, histórico e ideológico da época referida (uma prova cabal é as vanguardas da América Latina). Além do citado, eu demonstraria que o projeto artístico do aluno C não deixa de ser um estilo musical, pois a música é uma forma de expressão artística que tem como características combinações com ritmo e com harmonia; contém velocidade musical – sucessão de frases (versos) melódicos e harmoniosos; sem contar que a música pode ser feita de três modos diferentes, e não precisamente, precisa ser uma melodia com aliteração, paradoxo ou até rimas – situação típica de uma música em forma de poema –. Ela pode ser composicional, interpretativae improvisada. E, é neste, IMPROVISADA, que, pois na maior parte das vezes, esse estilo musical improvisa temas sociais. 
Outra questão a ser abordada, é o contexto histórico-cultural. Desde a época da pré-história a arte sofre influência, inclusive, do povo da época vigente. Quanto ao fator ‘cultura’ explicaria um conceito antropológico sobre cultura, claro, envolvendo a arte, simultaneamente: que é necessário haver uma tolerância (relativização cultural) – heterogeneidade/homogeneidade – haja visto que a sociedade brasileira é formada por um conjunto de povos (africanos, negros, índios, brancos, mestiços). Esse conjunto, ademais, tende a encontrar uma cultura própria de cada um, demonstrando na prática o conceito “diversidade cultural”. E, é por meio da diversidade, que decerto haverá variados estilos musicais. 
No referido ponto de concordar com a atitude ocorrida na sala de aula, discordo totalmente do posicionamento preconceituoso, principalmente demonstrada pelo modo de se expressar sobre o tema, sem ter um respaldo científico – a posição referida é mais um conhecimento de senso comum que um científico – o senso comum tem como difusão um conhecimento subjetivo, baseado nos valores individuais do homem, que é explicado, por conseguinte, como um tipo de conhecimento baseado em um juízo de valor. 
Tendo em vista o supracitado, eu iria propor uma pesquisa dos seguintes termos ou sobre os seguintes temas: 
a) tipos de estilo musical;
 b) a cultura e a diversidade cultural inserido dentro da arte;
 c) características do estilo musical;
 Logo após essa pesquisa, explicaria como aqueles(as) aluno(as) tiveram um posicionamento antiartístico e antissocial, não que não seja culpa dos mesmos, mas que não houve uma visão artística da obra criada por parte deles. Isso pode até ser uma metodologia de currículo de arte, inclusive. 
Tratando-se dos temas expostos na introdução, que são: “sobre o que é arte, em quais tipos ela pode ser, como pode ser produzida (com que finalidade), quais influências ela pode ter, e de que maneira a linguagem que a obra artística emite influencia o processo comunicativo criador-observador”, irei analisar analogicamente como uma atividade proposta ao problema-situação de uma maneira mais geral e conclusiva: 
A arte, como modo de expressar, por meio de uma obra artística (vide manifestação artística) as emoções, sentimentos, é uma atividade do ser humano que visa estimular o intelecto de quem aprecia a obra a fim de conseguir entender o seu significado – relação significante/significado. Nisto, entende-se que o comentário falado pelos alunos sobre aquele trabalho deu a compreender que eles não entenderam o real significado dessa música: talvez parar refletir sobre a vivência de quem mora na região, talvez uma crítica-social, talvez uma alusão à ostentação. Enfim, o verdadeiro significado da peça artística não foi compreendido intrinsicamente; 
À respeito de quais tipos a arte pode ser determinada, os alunos mostraram que não sabiam as suas classificações – cultural, popular e de massa – e nem mesmo sabiam em quais contextos as mesmas haveriam de existir e de serem produzidas; 
No tópico quais influências a arte pode levar consigo, também demonstraram uma certa incompreensão que ela pode ter um contexto histórico/social/individual/cultural amalgamado no estilo musical;
Por fim, a linguagem usada na produção da letra da música decerto teve influência do modo de falar do personagem, o que caracteriza a chamada variação linguística – conceito de linguística – tratando-se de uma variante da língua falada utilizada em camadas socais mais voltadas ao popular, mais voltadas a um aspecto fonético-social regional. 
Tendo como referido os conceitos acima – do item um até o item quatro – eu analisaria os conceitos supracitados, iria contextualizá-los na realidade escolar a qual estou inserido e explanaria esse conteúdo para melhor impulsionar os alunos a verificarem essas concepções e poder formular, ao menos, uma crítica construtiva à música, ao menos, ou até ir mais além: convencê-los do contrário (tentativa de convencimento – persuasão de que o trabalho referido também pode ser arte)

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