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Curso de Farmácia Disciplina: Bioquímica Farmacêutica e Molecular Professora: Gabrielle Racoski Custódio Receptores acoplados à proteína G Receptores acoplados à proteína G (GPCRs) são uma grande família de receptores de membrana plasmática que compartilham uma estrutura e um método de sinalização comuns. São proteínas integrais de membrana caracterizadas por 7 hélices no domínio transmembrana. Há vários tipos de proteínas G (p. ex., Gs, Gi e Gq), mas todas são compostas de três subunidades de proteínas. A subunidade α liga trifosfato de guanosina (GTP), e as subunidades β e γ ancoram a proteína G na membrana celular. Uma classe particularmente interessante de GPCRs é o dos receptores odoríferos (perfume). Existem cerca de 800 deles nos seres humanos e cada um se liga a uma "molécula de odor" própria - como uma determinada substância química no perfume, ou um certo composto liberado por peixe podre - e faz com que um sinal seja enviado para o cérebro, fazendo-nos sentir um cheiro! Curso de Farmácia Disciplina: Bioquímica Farmacêutica e Molecular Professora: Gabrielle Racoski Custódio Funcionamento: Quando seu ligante não está presente, um receptor acoplado à proteína G permanece na membrana plasmática em um estado inativo. A ligação a um agonista, muda a figura: o GPCR é ativado e faz com que a proteína G mude de GDP para GTP. A proteína G agora ativa separa-se em duas partes (uma chamada subunidade α, a outro composto por duas subunidades β e γ), que são liberadas do GPCR. As subunidades podem interagir com outras proteínas, acionando uma via de sinalização que leva a uma resposta. Eventualmente, a subunidade α hidrolizará GTP de volta a GDP, nesse momento a proteína G se torna inativa, assim, remonta-se como uma unidade de três peças associada com o GPCR. A sinalização celular usando os receptores acoplados à proteína G é um ciclo, que pode se repetir várias vezes em resposta ao ligante. Algumas vezes, os efetores ativados produzem segundos mensageiros que ativam outros efetores adicionais na célula, causando um efeito cascata. Curso de Farmácia Disciplina: Bioquímica Farmacêutica e Molecular Professora: Gabrielle Racoski Custódio O sistema receptor b-adrenérgico atua por meio do segundo mensageiro cAMP A adrenalina dispara o alarme quando alguma ameaça exige que o organismo mobilize sua maquinaria de geração de energia; ela sinaliza a necessidade de “lutar ou fugir”. A ação da adrenalina é iniciada quando o hormônio liga-se ao seu receptor proteico na membrana plasmática de uma célula sensível à adrenalina. Os receptores b-adrenérgicos do músculo, do fígado e do tecido adiposo. Esses receptores controlam alterações no metabolismo energético, incluindo o aumento na degradação de glicogênio e gordura. A ligação da adrenalina ao sítio no receptor mergulhado na membrana plasmática (etapa 1) promove uma alteração conformacional no domínio intracelular do receptor que afeta sua interação com uma proteína G associada, promovendo a dissociação do GDP e a ligação do GTP (etapa 2). Em todos os GPCR, a proteína G é heterotrimérica, composta por três subunidades diferentes: α, β e γ. Tais proteínas G são, portanto, conhecidas como proteínas G triméricas. Neste caso, é a subunidade α que se liga ao GDP ou GTP e transmite o sinal do receptor ativado para a proteína efetora. Como esta proteína G ativa o seu efetor, ela é chamada de proteína G estimulatória, ou Gs. A Gs funciona como um “comutador” biológico: quando o sítio de ligação a nucleotídeos na Gs (na subunidade α) é ocupado por GTP, a Gs é ativada e pode ativar sua proteína efetora (neste caso, a adenilil-ciclase); com GDP ligado ao sítio, a Gs é inativada. Curso de Farmácia Disciplina: Bioquímica Farmacêutica e Molecular Professora: Gabrielle Racoski Custódio Na forma ativa, as subunidades β e γ da Gs dissociam-se, sob a forma de um dímero βγ, da subunidade a, e a Gsα, com o GTP ligado, move-se, no plano da membrana, do receptor a uma molécula de adenilil-ciclase próxima (etapa 3). A Gsα é mantida na membrana pela ligação covalente a um grupo palmitoil. A adenilil-ciclase é uma proteína integral da membrana plasmática, com o sítio ativo na face citoplasmática. A associação de Gsα ativa com a adenilil-ciclase estimula a ciclase a catalisar a síntese de cAMP a partir de ATP (etapa 4), elevando a [cAMP] citosólica. A interação entre Gsα e adenilil-ciclase é possível apenas quando Gsα está ligada a GTP. A adrenalina exerce seus efeitos pelo aumento na [cAMP] que resulta da ativação da adenilil- ciclase. O AMP cíclico, por sua vez, ativa alostericamente a proteína-cinase dependente de cAMP, também chamada de proteína-cinase A ou PKA (etapa 5), a qual catalisa a fosforilação de resíduos de Ser ou Thr em proteínas-alvo, incluindo a cinase da glicogênio--fosforilase β. Essa enzima está ativa quando fosforilada e pode iniciar o processo de mobilização do glicogênio a partir dos seus estoques no músculo e no fígado, na expectativa da necessidade de energia, como é sinalizado pela adrenalina. Como em muitas rotas de sinalização, a transdução de sinal pela adenilil-ciclase envolve várias etapas que amplificam o sinal hormonal original. Primeiro, a ligação de uma molécula de hormônio a uma molécula de receptor ativa cataliticamente muitas moléculas Gs que se associam com o receptor ativado uma após a outra. Depois, pela ativação de uma molécula de adenilil-ciclase, cada molécula de Gsα estimula a síntese catalítica de muitas moléculas de cAMP. O segundo mensageiro cAMP, então, ativa a PKA, e cada molécula da enzima catalisa a fosforilação de muitas moléculas da proteína-alvo – a cinase da fosforilase β. Essa cinase ativa a glicogênio-fosforilase β, o que leva à rápida mobilização de glicose a partir de glicogênio. O efeito líquido da cascata é a amplificação do sinal hormonal em várias ordens de magnitude, o que justifica a necessidade de concentrações muito baixas de adrenalina (ou qualquer outro hormônio) para a atividade hormonal. A adrenalina é somente um de muitos hormônios, fatores de crescimento e outras moléculas reguladoras que atuam por alteração na [cAMP] intracelular e, desta maneira, na atividade da PKA. Por exemplo, o glucagon se liga ao seu receptor na membrana plasmática dos adipócitos, ativando (via uma proteína Gs) a adenilil-ciclase. A PKA, estimulada pelo resultante aumento na [cAMP], fosforila e ativa duas proteínas essenciais para a mobilização dos ácidos graxos dos depósitos de gordura. Curso de Farmácia Disciplina: Bioquímica Farmacêutica e Molecular Professora: Gabrielle Racoski Custódio Canais iônicos dependentes de ligantes Canais iônicos dependentes de ligantes são canais iônicos que podem abrir em resposta à ligação de um ligante. Para formar um canal, este tipo de receptor de membrana celular tem uma região intramembranal com um canal hidrofílico (atraído pela água) no meio dele. O canal permite que íons atravessem a membrana sem precisar tocar o núcleo hidrofóbico da camada fosfolipídica. Quando um ligante se liga à região extracelular do canal, a estrutura da proteína se modifica de uma forma tal que íons de um tipo específico, tais como Ca2+ ou Cl-, podem passar. Em alguns casos, o inverso é verdade: o canal é normalmente aberto, e a ligação com o ligante faz com que ele feche. Alterações nos níveis de íons dentro da célula podem mudar a atividade de outras moléculas, como enzimas de ligação iônica e canais sensíveis à voltagem, para produzir uma resposta. Neurônios, ou células nervosas, possuemcanais dependentes de ligantes que são ligados por neurotransmissores. O receptor nicotínico de acetilcolina controla a passagem do sinal de um neurônio eletricamente excitado em alguns tipos de sinapses e em junções neuromusculares (entre um neurônio motor e uma fibra muscular), desencadeando a contração muscular. A acetilcolina liberada pelo neurônio pré-sináptico ou pelo neurônio motor se difunde por alguns micrômetros até a membrana plasmática do neurônio pós-sináptico ou do miócito, onde se liga ao receptor de acetilcolina. Isso força uma mudança conformacional no receptor, causando a abertura de seu canal iônico. O movimento resultante de cátions para dentro da célula despolariza a membrana plasmática. Em uma fibra muscular, isso inicia a contração. O receptor de acetilcolina permite a pronta passagem de íons Na+, Ca2+ e K+, porém outros cátions e todos os ânions são incapazes de passar. Curso de Farmácia Disciplina: Bioquímica Farmacêutica e Molecular Professora: Gabrielle Racoski Custódio Inicialmente, a membrana plasmática do neurônio pré-sináptico está polarizada (interior negativo) pela ação da Na1K1-ATPase eletrogênica, que bombeia 3 Na1 para fora da célula para cada 2 K1 bombeados para dentro. 1. A estimulação deste neurônio (não mostrada) causa o avanço de um potencial de ação ao longo do axônio (setas azuis), que se distancia do corpo celular. A abertura de um canal de Na+ controlado por voltagem permite a entrada de Na+, e a despolarização local resultante causa a abertura dos canais de Na+ adjacentes, e assim por diante. A direcionalidade do movimento do potencial de ação é garantida pelo breve período refratário subsequente à abertura de cada canal de Na+ controlado por voltagem. 2. Uma fração de segundo após a passagem do potencial de ação por um ponto do axônio, canais de K+ controlados por voltagem se abrem, permitindo a saída de K+, o que causa a despolarização da membrana (setas vermelhas), preparando-a para o próximo potencial de ação. (Para maior clareza, os canais de Na+ e os canais de K+ estão ilustrados em lados opostos do axônio; ambos os tipos de canais estão distribuídos de maneira uniforme na membrana do axônio.) 3. Quando a onda de despolarização atinge a extremidade do axônio, canais de Ca2+ controlados por voltagem se abrem, permitindo a entrada de Ca2+. 4. O resultante aumento na [Ca2+] interna desencadeia a liberação, por exocitose, do neurotransmissor acetilcolina para dentro da fenda sináptica. 5. A acetilcolina liga-se a um receptor no neurônio (ou miócito) pós- sináptico, levando à abertura de seu canal iônico controlado por ligante. 6. Na+ e Ca2+ extracelular entram por meio deste canal, despolarizando a célula pós-sináptica. O sinal elétrico, deste modo, foi transferido para o corpo celular do neurônio (ou miócito) pós-sináptico e irá deslocar-se ao longo do axônio até um terceiro neurônio (ou miócito) por meio desta mesma sequência de eventos. Curso de Farmácia Disciplina: Bioquímica Farmacêutica e Molecular Professora: Gabrielle Racoski Custódio Esta ilustração de um corte transversal pelo centro das hélices mostra cinco cadeias laterais de Leu (em amarelo), uma de cada hélice, projetando-se para dentro do canal e constringindo-o a um diâmetro pequeno demais para permitir a passagem de Na+, Ca2+ e K+. Quando ambos os sítios de ligação a acetilcolina (um em cada subunidade α) estão ocupados, ocorre uma mudança conformacional. À medida que as hélices se torcem levemente, os cinco resíduos de Leu são afastados do canal e são substituídos por resíduos polares menores (em azul). Este mecanismo de controle abre o canal, permitindo a passagem de Na+, Ca2+ e K+. Receptores ligados a enzimas Receptores ligados a enzimas são receptores de membrana plasmática com domínios intracelulares que estão associados com uma enzima. Em alguns casos, o domínio intracelular do receptor na verdade é uma enzima que cataliza a reação. Regulam primariamente funções celulares a longo prazo, iniciando cascatas de sinalização intracelular que culminam na ativação ou na inibição da expressão gênica. Essas alterações na expressão gênica dirigem vias muito fundamentais de resposta celular integrada, como divisão celular, morte celular programada ou diferenciação celular. Receptores tirosina quinases (RTKs) – incluem receptores de fator de crescimento epidérmico (EGF), fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), insulina e muitos outros fatores de crescimento polipeptídicos. Receptores serina/treonina quinase – incluem receptores de fator de crescimento transformador-β (TGF- β) e proteínas morfogenéticas de osso (BMP). São fatores de crescimento com importantes papéis sinalizadores em desenvolvimento de tecidos em estágios fetais e neonatais e na manutenção do fenótipo de tecido diferenciado em adultos. Curso de Farmácia Disciplina: Bioquímica Farmacêutica e Molecular Professora: Gabrielle Racoski Custódio Receptores tirosina quinases (RTKs) são uma classe de receptores ligados a enzima encontrados em humanos e em muitas outras espécies. Uma quinase é apenas um nome para uma enzima que transfere grupos fosfato para uma proteína ou outro alvo, e um receptor tirosina quinase transfere grupos fosfato especificamente para o aminoácido tirosina. Como a sinalização por RTK funciona? Um exemplo típico, moléculas sinalizadoras primeiro se ligam a domínios extracelulares de dois receptores tirosina quinase próximos. Os dois receptores vizinhos então se juntam, ou dimerizam. Os receptores então anexam fosfatos à tirosinas nos domínios intracelulares um do outro. A tirosina fosforilada pode transmitir o sinal para outras moléculas na célula. Curso de Farmácia Disciplina: Bioquímica Farmacêutica e Molecular Professora: Gabrielle Racoski Custódio Diagrama de receptores tirosina quinase, mostrando a ligação com o ligante e a autofosforilação do receptor. Quando duas moléculas sinalizadoras se ligam a dois receptores próximos, os receptores dimerizam-se (formam pares). Os receptores pareados fosforilam os resíduos de tirosina um do outro no domínio intracelular (a porção da proteína localizada no interior da célula). Os receptores fosforilados podem interagir com outras proteínas no interior da célula para desencadear vias de sinalização que provoquem respostas. Em muitos casos, os receptores fosforilados servem como uma plataforma de encaixe para outras proteínas que contém tipos especiais de domínios de ligação. Uma variedade de proteínas contém estes domínios, e quando uma destas proteínas se liga, ela pode iniciar uma cascata de sinalização que leva a uma resposta celular. Receptores tirosina quinases são cruciais para muitos processos de sinalização em humanos. Por exemplo, eles se ligam a fatores de crescimento, moléculas de sinalização que promovem divisão celular e sobrevivência. Fatores de crescimento incluem fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), que participa da cicatrização de feridas, e fator de crescimento de nervos (NGF), que deve ser fornecido continuamente para certos tipos de neurônios para mantê-los vivos. Por causa de sua função na sinalização de fator de crescimento, os receptores tirosina quinase são essenciais para o corpo, mas sua atividade deve ser mentida em balanço: receptores de fator de crescimento superativos estão associados com alguns tipos de cânceres. Mutações de certor genes RTK pode resultar em expressão de receptores que assumem conformações ativadas em ausência de estímulo por fatores de crescimento. Genes RTKmutados podem atuar como oncogenes ou genes que contribuem para iniciação ou progressão do câncer. REFERÊNCIAS BERG, J. M.; TYMOCZKO, J. L.; STRYER, L. Bioquímica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. CLARK, M.A., HARVEY, R.A.; CHAMPE, P.C. Farmacologia ilustrada. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. DELVIN, T. M. Manual de bioquímica com correlações clínicas. 6 ed. São Paulo: Editora Blucher, 2007. LEHNINGER, A. L.; NELSON, D.; COX, M. Princípios de bioquímica. 4 ed. São Paulo: Sarvier, 2004. PLATAFORMA KHAN ACADEMY. Biologia – Sinalização celular. Disponível em:< https://pt.khanacademy.org/science/biology/cell-signaling>.