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A Natureza Ética Na Prática Educativa Formadora

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A NATUREZA ÉTICA NA PRÁTICA EDUCATIVA FORMADORA 
 
 
GISLAINE SCHINEIDER DE MELO1 
SIDERLY DO CARMO DAHLE DE ALMEIDA2 
 
 
RESUMO 
O presente artigo discorre sobre a questão ética nas competências docentes e suas 
práticas pedagógicas, lugar onde a ética deve trilhar seus passos sendo um 
referencial transformador capaz de estabelecer padrões sociais evolutivos. Além do 
currículo, e do uso de tecnologias educacionais para a execução de um trabalho, há 
um profissional responsável para que esta combinação dê certo enquanto prática 
formadora, e isso precede a prática didática e metodológica, no entanto, os debates 
educacionais giram em torno de como a prática tecnológica impacta no modelo de 
ensino, e é por esta razão que se faz necessário refletir o quanto a ética anda 
relegada a segundo plano, e por que ela é indispensável enquanto prioridade na 
prática educativa formadora? Qual o perfil profissional que as universidades buscam 
formar? E Por que a ética é pouco discutida no âmbito docente educacional? Esta 
revisão bibliográfica se propõe responder tais indagações evidenciando que além do 
conhecimento científico, a postura e a conduta moral e ética docente na prática 
didática são fatores determinantes para qualidade da formação acadêmica e a 
posterior carreira profissional. As transformações envolvendo os atores da 
Educação; as melhores práticas pedagógicas, desafios e sugestões para ações que 
agregam valores ao processo de ensino e aprendizagem reforçam o caráter 
recursivo da pedagogia. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Ética, Educação, Formação Profissional, Pratica Docente, 
Ensino Superior. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A Educação, através do corpo docente, é responsável pela formação 
profissional, social, daqueles cujas funções dependem as demandas de mercado, 
 
1Jornalista graduada pela Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI (2011), com Especialização em 
Gestão da Comunicação Empresarial e Pública pela Universidade Tuiuti do PR (2013), também 
licenciada em Letras, habilitação em Língua Inglesa e Língua Portuguesa pelo Centro Universitário 
de Maringá (2016) onde cursa Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior. 
 
2Siderly do Carmo Dahle de Almeida, Doutora em Educação e Currículo pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo (2012) é Mestre em Educação pela PUCPR (2006). Especialista em Gestão da 
Informação pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná (1999) e em Educação a Distância pela 
Faculdade Educacional da Lapa (2009). É graduada em biblioteconomia pela Universidade Federal 
do Paraná (1988) e em Pedagogia pela Universidade Castelo Branco (2010). 
tornando-se indispensável o posicionamento e o comportamento ético, entendido 
como necessidade prioritária dos povos, essencial para a convivência humana, e 
critério para a garantia da qualidade da formação acadêmica, bem como o 
conhecimento científico. 
O passo inicial para um trabalho educativo formativo de relevância é a 
compreensão de que os valores éticos e morais são princípios ideais de conduta 
social, dignos de discussão e abordagens, sobretudo na Educação, em tempos em 
que se discuti e se exige mais da postura do docente frente ao avanço tecnológico 
no ensino. A ética precisa ser a protagonista, o ponto de partida do trabalho de 
formação docente, deixando como resultado um legado educativo de instrução e 
referência na formação. O currículo e a prática docente estão entrelaçados. Este 
estudo pretende resgatar aspectos que envolvem o trabalho do professor no dia a 
dia da sala de aula em escolas ou universidades. 
Discutir a ética na prática educacional resgatando seu caráter recursivo: 
prática que consiste em avaliar as nossas avaliações, julgar nossos julgamentos, 
criticar as nossas críticas, Edgar Morin, (2007), é o objetivo principal deste trabalho, 
que define o objeto de estudo e termos afins(2), explica o atual contexto social da 
ética(3), aborda a ética na prática docente de forma didática (4), e faz uma 
retrospectiva, através de linha do tempo educacional, quanto aos modelos de ensino 
em épocas distintas, e suas características até a presente data. Aponta também o 
perfil docente em cada um destes modelos de ensino mostrando a evolução 
educacional decorrente das transformações sociais em cada época (5). Em seguida 
apresenta a ética formadora atrelada ao perfil profissional de mercado (6). 
Por fim, relata os desafios (7), sugere possíveis caminhos para uma 
postura ética na prática docente formadora como uma necessidade e uma 
prioridade fechando com as considerações finais (8). A pedagogia moderna, 
complexa e diversa, exige mais rigor ético, identificável neste estudo bibliográfico 
que compila as contribuições de autores, mencionados na referência bibliográfica e 
que já iniciaram as indagações que permeiam a ética no campo educacional; com a 
proposta de ampliação do debate por parte dos interessados, através desta leitura 
acadêmica. 
 
 
2 ÉTICA: IDENTIFICANDO O TERMO 
 
A palavra ética tem sua origem do grego ethos (modo de ser de uma pessoa, 
seu caráter). São valores morais e princípios que norteiam a conduta e o 
comportamento humano na sociedade, para o bem de todos. Espera-se que uma 
postura ética, embora não relacionada à lei, preze pela justiça social e bem estar 
coletivo. A Filosofia entende a ética como ciência que estuda os valores e princípios 
de uma sociedade e de seus grupos a partir de valores culturais e históricos. Cada 
sociedade tem seus próprios códigos, JA Brasil (2016). Ser uma pessoa ética é ser 
uma pessoa que busca viver de acordo com determinada conduta social, no 
contexto da Pedagogia, que é a ciência que investiga a teoria e a prática da 
educação nos seus vínculos com a prática social e global, como definiu Libâneo 
(2008 p.16); ser ético tem a ver com instrução ética, formação e referência. Cortella 
(2014), explica que ter a ética como princípio é a possibilidade de escolher a 
conduta, princípios éticos seriam princípios de conduta. Considerar as motivações 
por trás das ações. Perceber suas próprias intenções (Rheta Devries& Betty 
Zan,1998). 
 
 
3 SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: UMA ÉTICA ENFRAQUECIDA 
 
Na época atual de falta de fundamento ético, Morin (2007), o debate acerca 
do cenário desfavorável à ética, passa pela análise do perfil social contemporâneo; 
uma sociedade impulsionada pelo imediatismo das práticas e das idéias, seguindo a 
tendência da superficialidade e efemeridade do que quer que seja. Na sociedade de 
consumo o que tem valor hoje pode não ter valor algum amanhã. Uma geração de 
raciocínios prontos, graças à incapacidade de leitura dos fatos de forma consciente 
e crítica aos moldes preestabelecidos, em partes, frutos do culto à tecnologia, o 
tecnocentrismo; algo que envolve a absolutização do paradigma tecnológico e o 
perigo de que toda a vida do ser humano seja regida pela racionalidade tecnológica, 
conforme Gildemarks Costa e Silva em Tecnologia, educação e tecnocentrismo: as 
contribuições de Álvaro Vieira Pinto. A sociedade não está preocupada em ser ética, 
ela quer ser tecnológica, e a crítica à tecnologia é justamente porque segundo a 
mentalidade tecnologista, abordada por Gildemarks Costa e Silva, em referência às 
colocações de Klinge, diz que a sociedade atribui valor inadequado à tecnologia. 
 
Essa ênfase demasiada desvirtua uma aproximação equilibrada da 
realidade. A posição tecnocêntrica deixa de lado questões como “O que é” 
para analisar as do tipo “O que fazer” e “Como fazê-lo” (KLINGE, 2000). 
 
A reflexão está na natureza do conhecimento tecnológico, na compreensão 
do lugar que ela deve ocupar na sociedade, especialmente dentro do próprio campo 
pedagógico, Gildemarks Costa e Silva. É fatoque a tecnologia faz parte da cultura e 
da maneira de viver do ser humano, porém, segundo Klinge 2002, não é a única 
dimensão dele nem a mais fundamental. A ideologização da tecnologia faz com que 
ela pareça ser detentora da solução de todos os problemas sociais, o que não é, daí 
a distorção e o que Vieira Pinto chama de “embasbacamento”, é uma característica 
do pensamento acrítico presente nas sociedades contemporâneas. 
O perigo de uma base social pautada no tecnocentrismo é porque ela 
desconsidera o ser humano como agente central de todo esse processo evolutivo, a 
valorização está na máquina e na técnica, são ignorados os interesses de certos 
grupos sociais que controlam a tecnologia. Não se faz referência a transformações 
sociais e políticas, nessa forma de ideologização haverá apenas transformações 
técnicas, ressalta Vieira Pinto, 2005. 
Uma sociedade vazia, carente de princípios, de valores descompassados que 
desafiam a ética, mas, é na superação desta realidade que ela precisa triunfar e ser 
capaz de estabelecer seus padrões de evolução moral na transformação do 
pensamento e na conduta humana, apesar da triste constatação de que “o como 
fazer” (metodologia), e o que fazer (conteúdo) apequenaram a importância da 
referência e dos valores éticos que estão no humano, sobretudo na prática 
educativa. Para um país que anseia pelo desenvolvimento, comprometer as bases 
sociais na ausência de princípios norteadores do progresso representa o fracasso de 
algumas gerações, o que levaria anos até que a cultura da ética pudesse ressurgir 
do imaginário à realidade educativa. 
 
 
4 A ÉTICA NA PRÁTICA DOCENTE DE FORMA DIDÁTICA 
 
A didática é uma disciplina que estuda os objetivos, os conteúdos, as formas 
e os processos de ensino, tendo em vista as finalidades educacionais conforme 
Ionah B.B. Mateus,(2014). As reflexões sobre ética recaem, portanto, na didática da 
prática docente e partem da compreensão de que toda conduta nessa prática é uma 
decisão e uma questão de escolha, e como essa escolha é orientada. Clovis de 
Barros Filho, em Ética e Vergonha na Cara, explica que os critérios de atribuição de 
sentido e valor às coisas continuam sendo construídos através dos modos 
específicos de se fazer algo e das relações sociais conseqüentes. O ambiente 
educativo é um contexto favorável ao despertar da ética através da pratica docente, 
porém não apenas apoiado em metodologias e em conteúdo, algumas 
características na postura docente no processo de ensino são determinantes, entre 
elas está a responsabilidade. Há uma estreita conexão entre ética e 
responsabilidade, há uma dependência entre uma e outra, conforme expresso nas 
palavras de Paulo Freire quando menciona em seu livro Pedagogia da Autonomia, 
que sem responsabilidade não se pode falar em ética, e acrescenta “É no domínio 
da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção que se instaura a 
necessidade da ética e se impõe a responsabilidade”. 
O educador, independente do público que atende; adultos, jovens ou 
crianças, precisa saber ir além de seus condicionamentos de forma intensa, crítica, 
sem comprometer a ética da prática pedagógica, ainda que ele, enquanto 
observador, tenha um ponto de vista divergente em relação a um determinado 
assunto. Para Paulo Freire “O erro na verdade não é ter um certo ponto de vista, 
mas, absolutizá-lo, e desconhecer que, mesmo do acerto do seu ponto de vista, é 
possível que a razão ética nem sempre esteja com ele”. 
Além do objeto de ensino, a maneira como o professor ensina, as escolhas na 
conduta, não em referência ao moralismo, podem contribuir ou servir de mau 
exemplo, influenciando positiva ou negativamente o processo formativo do aluno. A 
virtude não deve figurar como uma opção à prática docente, e sim como cultura a 
ser mantida e fortalecida justamente por sua capacidade de impulsionar e inspirar 
aquilo que gera no discente o desejo da busca pelo saber, nesta jornada agregando 
valor humano ao conhecimento. Estímulos negativos ferem a ética da prática 
docente, pois a esta convém adequação aos bons costumes, as boas escolhas para 
reforçar a didática da possibilidade, da viabilidade, da capacitação que estão 
apoiadas em atitudes de superação e virtude, nunca de desapreço. Outras condutas 
antipedagógicas são citadas no livro Ética na Escola, por Marcello Ricardo Almeida; 
coercitividade, autoritarismo, repressão, humilhação, constrangimento, atos 
vexatórios, abuso de poder, exasperação, grito, fúria, perseguição, censura, 
hostilidade, insulto, sarcasmo, comparações, ofensas, opressão, 
sobrecarga,desrespeito, e aqueles que ao invés de promoverem, dificultam a 
aprendizagem. A relativização da conduta moral e o procedimento ético conforme a 
conveniência, na prática pedagógica, também desestabiliza o ambiente favorável ao 
desenvolvimento da cultura da eticidade no processo educativo. O aluno perde o 
referencial no padrão de conduta, de referência na concepção de valores 
norteadores das melhores práticas no processo de ensino e aprendizagem, o que 
compromete a qualidade da formação, entendendo que a consolidação de um 
trabalho, está no compromisso, e envolve a prioridade da postura e atitudes éticas, 
assim como a manutenção de posicionamentos que reforcem tais valores. Com os 
anos de prática docente alguns professores acabam por esquecer que são 
referências no processo de ensino, tocam o trabalho de forma automática, e nem 
sempre a vigilância ética na fala, na postura, na atitude, nas concepções, fazem 
parte de sua rotina, de onde surgem algumas dúvidas: a conduta e as atitudes do 
professor se adéquam à prática docente? O ensino é entendido como uma 
mercadoria? O que ele fala está em conformidade com o que pensa e com as ideias 
que compartilha e ou promove entre os discentes? Será que a formação docente 
agrega valor à carreira do aluno? O processo de formação continuada o faz 
repensar suas competências? Existe outras razões, além da financeira que o faça 
seguir servindo como referencial na formação do outro? Quem é o outro na prática 
docente formadora? A ética implica numa preocupação quanto ao bem–estar do 
outro. É a arte de conviver bem para além dos prazeres individuais como escreveu 
Clóvis de Barros Filho. 
Para compreender o papel do educador face às crescentes transformações 
no ensino e que asseguram a necessidade de postura cada vez mais comprometida 
com a ética em ambientes de convivência e colaboração, é importante acompanhar 
as mudanças ocorridas ao longo dos tempos no perfil social e educacional brasileiro 
de alunos, professores, escolas e respectivas abordagens pedagógicas que 
culminam na necessidade da ética formadora. 
 
 
5 LINHA DO TEMPO: ALUNO X PROFESSOR X ESCOLAS 
 
A princípio o ensino era oligárquico, a igreja tinha o monopólio da 
Educação, Gadotti (2006), porém, pioneiros reivindicavam uma educação 
fundamental, universal e laica, Ionah B.B. Mateus (2014). A burguesia estava em 
ascensão, em busca de uma sociedade democrática. A escola era tradicional, o 
que importava era a quantidade de conteúdos, as tarefas eram padronizadas, o 
foco educativo estava no professor que era o único detentor do conhecimento, 
transmissor e mantenedor de domínio dos alunos em sala de aula, castigava e 
era rígido em sua prática pedagógica disciplinadora; impunha as verdades sem 
oportunizar ao aluno o exercício do pensar. O método escolhido para fixação da 
aprendizagem era a memorização, repetição e imitação, conforme escreveu a 
professora Ionah B.B. Mateus (2014). As avaliações eram punitivas e 
classificatórias. A evasão escolar e a exclusão dos desajustados ao processo 
educativo promoveram a críticae o repensar da postura docente que não 
conseguia universalizar o ensino. 
A segunda escola, a Escola Nova (1930), tinha a proposta de mudar e 
romper com os hábitos anteriores. O foco era o aluno. Os interesses pessoais de 
quem aprende passa a fazer parte dos conteúdos, escreveu Ionah B.B. Mateus. 
O professor respeitava o aluno em suas diferenças, dificuldades e necessidades, 
a escola acolhedora, era um espaço liberal, de descobertas, autodeterminação, 
auto-desenvolvimento e auto-avaliação. A competência do professor era auxiliar, 
organizar e coordenar o desenvolvimento espontâneo. Perfil positivo, 
compreensivo e acolhedor, mas, não funcionou. A prática pedagógica 
comprometeu o rigor disciplinar e a despreocupação com a transmissão dos 
conhecimentos gerou uma crise didática. 
A escola tecnicista surgiu, como uma nova teoria educacional capaz de 
solucionar a crise da concepção pedagógica anterior e também por influência de 
ideias positivistas (século XX); quantificação e explicações baseadas em fatos 
comprovados.O foco estava na técnica; ação,planejamento,nos conteúdos 
científicos, e no processo de ensino padronizado e mecânico. Os alunos 
precisavam ser preparados para o trabalho, que é técnico, o professor era um 
especialista, aquele que treinava os alunos para as necessidades de produção do 
mercado de trabalho. Perfil racionalista, operacional, rigoroso, objetivo, porque a 
eficiência e produtividade era o que importava. A escola tecnicista burocratizou o 
ensino com seus formulários controladores. Fragmentou e separou áreas do 
conhecimento. Como o ensino não era um produto de fábrica, logo se constatou 
que a ação educadora havia se perdido, pois a aprendizagem não acontecia de 
forma plena, interdisciplinar. Era o fim do período de manuais técnicos, do culto 
às teorias e negação do erro, que faz parte do processo de aprendizagem. 
Na escola de abordagem progressista, cujo precursor é Paulo Freire, o 
sujeito é o próprio autor da sua história. O desenvolvimento se dá por meio do 
compartilhamento de ideias, responsabilidades e decisões, Mateus (2014). O 
professor incentiva, instiga o aluno a construir seu desenvolvimento intelectual e 
processos mentais a partir do cotidiano. A prática docente desta proposta didática 
é dialética, com pesquisa, o que leva o professor a desempenhar um papel mais 
estratégico no processo de ensino democrático; a transformação social (mente e 
comportamento) é o objetivo dessa abordagem. Ele é o fomentador, orientador e 
mediador na construção do conhecimento através de conteúdos de aspecto 
políticos e sociais. A participação do aluno faz parte da avaliação. O saber não é 
um produto acabado, o conhecimento não é estático, não basta o domínio da 
técnica, o professor não é mais o dono da verdade, e o aluno não mais um mero 
receptor, transformou-se em protagonista de sua história. 
Na abordagem histórico-crítica, a educação é concebida em sua realidade 
histórica e social, os conteúdos são problematizados. O professor contextualiza-
os evidenciando suas dimensões: científica, histórica, econômica e política. Ele 
incentiva o aluno a produzir reflexões, dúvidas, comparações e divergências em 
seu processo de assimilação (Mateus, 2014). Todo o processo de comparação e 
assimilação envolve o exercício da divergência, da contrariedade, da síntese; e a 
criticidade é requisito em todas as análises, independentes de suas dimensões. A 
crítica quanto mais bem elaborada vai exigir uma postura de respeito e 
consideração, porque não se trata de um veredicto, na Educação é um ponto de 
partida, e o docente precisa estar alinhado a esta conduta ética. 
Seguindo a linha do tempo, na atual sociedade da informação, devido ao 
intenso fluxo de produção do conhecimento, cabe ao docente a gestão deste 
conhecimento, que é a capacidade de acompanhar a informação e até 
administrá-la no que se refere a seleção de conteúdos relevantes, os quais ele 
pretende contextualizar à realidade, e que estão ajustadas aos saberes científicos 
da proposta curricular de ensino. Professores que sejam preparados para 
trabalhar com a geração Y, capazes de aprender e se atualizarem as constantes 
mudanças tecnológicas e sociais; tendo a competência para considerar em sua 
prática docente as características de grupos sociais distintos, independentes de 
raça, gênero e classe, e não apenas considerar, mas, promover e ou moderar 
situações de pessoas outrora negligenciadas em seus direitos, o que legitimava 
ocasiões de comprometimento ético; contextos eticamente ignorados no processo 
educativo de grupos minoritários, a diversidade, e que agora busca seu devido 
espaço, um pertencimento social de fato. Educador e educando estão inseridos 
num contexto mais diverso e mais dinâmico do processo de ensino e 
aprendizagem. Contextos mais complexos exigem posturas ainda mais éticas. Ao 
docente vale o esforço para ser referência, numa combinação de dinamismo, 
flexibilidade e curiosidade, atuando como mediador e pesquisador. Na sociedade 
da informação as ações chegam mais longe, e agora estão mais evidentes 
através de rede (internet). 
 
 
6 FORMAÇÃO PROFISSIONAL: A ÉTICA E O MERCADO DE TRABALHO 
GLOBALIZADO 
 
A formação profissional precede os bancos universitários do ensino 
superior. Ramos (2014), lembra que há outras formas de sistematização de 
saberes que se operam fora dos processos educativos formais. É uma construção 
do conhecimento ao longo dos tempos e que implica não somente nos saberes 
científicos do currículo, mas, na aquisição de valores pessoais, competências e 
habilidades que acabam por definir um perfil. A JA Brasil, em pesquisas recentes, 
listou as características comportamentais mais desejadas pelo mercado de 
trabalho; proatividade, iniciativa, criatividade, inovação, relacionamento 
interpessoal, comunicação, colaboração, análise crítica, poder de negociação, 
liderança, flexibilidade, curiosidade intelectual, auto-motivação e bom humor. As 
empresas buscam identificar entre os candidatos, quais respondem aos requisitos 
que se ajustam num determinado conjunto de características por eles procurado. 
As características pessoais de potenciais colaboradores são atentamente 
observadas e analisadas como poderiam se desenvolver e ser aperfeiçoadas num 
contexto de trabalho coletivo. Além da apresentação de documentos, diplomas e 
certificados, entrevistas com especialistas, estudo de caso, testes vocacionais, e 
exames psicotécnicos conseguem identificar o tipo de profissional e seu 
respectivo comportamento. Ramos (2014), conclui que a realização de avaliação 
diagnóstica para identificação dos conhecimentos, experiências e saberes 
resultantes da trajetória profissional e de vida permite também a identificação de 
insuficiências formativas. O que ele aprendeu? Quando aprendeu? Como 
aprendeu? Com quem aprendeu? Qual o objetivo daquele aprendizado? Ser 
assertivo no resultado pode influenciar numa contratação e até na consolidação 
de uma carreira de sucesso. Se ele é ou não um profissional que tem 
comportamento e postura adequados à profissão, também vai ficar evidente, é a 
ética profissional. Cada grupo tem a sua. Na graduação, em tempos de formação, 
era aquela adequação na postura pela qual o professor insistia, a criteriosidade, 
criticidade, reflexão, e análise no desenvolvimento de trabalhos. 
 Em sociedade a conduta social é formada por diferentes concepções, já as 
empresas possuem seus próprios princípios e valores, e a ética tem a ver com o 
conjunto de normas morais que ajudam a nortear o bom comportamento do 
profissional e sua convivência com as outras pessoas do grupo, porém, empresas 
não atuam de forma isoladas,acabam por se enquadrar numa postura que 
atende regras globais, que é comum às demais empresas, a chamada ética de 
mercado. Embora haja interesses conflitantes entre o compromisso ético e a 
pressão por resultados, que nem sempre são alcançados de forma ética por 
empresas no mercado globalizado, há um código de conduta para os negócios, e 
a postura do profissional na empresa afeta diretamente a vida dos demais 
colaboradores, da imagem da marca no mercado e da sociedade enquanto 
consumidora. É por esta razão que grandes corporações buscam talentos 
alinhados. O desenvolvimento da consciência coletiva, não apenas em questões 
que envolvam sustentabilidade, ou para fins de marketing, são impostos como 
responsabilidade de todos, quando a empresa atua deforma ética no modelo de 
gestão democrática, participativa e consultiva. 
 No projeto extensivo à estudantes do Ensino Médio, em escolas públicas, a 
Juniors Achievements Brasil, reportou no manual para os estudantes, algumas 
dicas para se trabalhar com ética corporativa: que o profissional seja prudente, 
evitando precipitações ou tome decisões impensadas, atos que possam 
influenciar a vida de terceiros, seja honesto, evite o que não possa ser assumido 
em público, evite julgamentos baseados em suposições, não se preocupe apenas 
com o status e benefícios da carreira, seja humilde, tolerante, flexível. Dê o 
crédito a quem é devido, valorize a pontualidade que gera confiança, corrija 
subordinados de forma particular, evite críticas pelas costas, respeite privacidade, 
acostume-se a agradecer e a cumprir promessas ditas, ofereça apoio aos 
colegas, e assuma suas decisões, sempre. Os valores interessados ao mundo 
corporativo são desenvolvidos e ou adquiridos, mas nem sempre em livros 
didáticos, todavia o docente tem na prática pedagógica, durante o percurso 
formativo, a oportunidade de ajudar o aluno a fomentá-los e a orientar as tarefas 
de ensino para objetivos educativos de formação de personalidade, ajudar os 
alunos a escolher um caminho na vida, a terem atitudes e convicções que 
norteiem suas opções diante dos problemas e situações da vida real, definiu 
Libâneo, 2008 p.71. As condutas também podem ser problematizadas no intuito 
de se discutir se determinado princípio se sobrepõe a outro, e por quê? 
 
 
7 DESAFIOS DA ÉTICA NA PRÁTICA DOCENTE FORMADORA 
 
Inicia-se com uma crítica à categoria: professores não param para discutir 
a ética em suas práticas formadoras. A professora Andreia Costa, não se lembra 
de ter tido alguma formação ou atividade sobre ética na prática docente. Os 
encontros pedagógicos geralmente não atingem os reais propósitos, explicou. 
Outros definiram como exaustivos e abrangentes, porém, distanciados do tema. 
Não se discute a postura moral na prática docente como requisito de formação. É 
como se essa área não precisasse de atualização, ficando na abstração. 
A utopia de que um diploma, uma habilitação em uma universidade de 
renome, possa ser a garantia de sujeito bem formado, com valores morais e 
princípios éticos, por ter frequentado uma instituição comprometida com valores 
afins. Não apenas. O que determina o comportamento ético de um profissional é 
a postura! 
Passa pela transformação da mente. É preciso que haja evolução na 
concepção do processo de ensino e aprendizagem e os atores envolvidos nessa 
dinâmica educativa para mudar velhos hábitos pedagógicos, migrados da escola 
tradicional e que insistem em acompanhar a nova formação. Tem gente dando a 
mesma aula há 20 anos. Tem gente que diz que não precisa de planejamento, e 
tem gente que diz que está tudo na cabeça. Por sorte, tem gente que é docente, 
e que percebe a evolução do conhecimento, e com ela evolui e entende que isso 
é ser ético profissionalmente, não privar o aluno do conhecimento editando o que 
lhe convém, conforme conveniência. 
Passa pelo comprometimento com a responsabilidade da prática 
formadora. O ensino não é mercadoria que se oferta como se fosse um produto. 
O ensino é um instrumento para transformação social, pensar assim é ser ético 
no conceito. O docente entende que para ensinar é preciso antes aprender, e que 
o processo ensino-aprendizagem é contínuo, progressivo, infinito. Ele se mantém 
estudando para se manter ensinando. O docente valoriza o estudo e a busca da 
formação continuada, embora as vezes sem condições. Também há quem exerça 
a prática docente sem a busca pelo saber, ou, até sem saber o que busca, 
porém, enquanto a prática de lecionar for entendida como um “bico”, dificilmente 
haverá prática ética, pois como mencionado, é impossível ser ético e 
irresponsável ao mesmo tempo. É fundamental que os que lecionam sejam bem 
formados, não se pode dar o que não se tem. O próprio sistema por vezes 
favorece a atuação de professores despreparados quando oportuniza que 
lecionem sem a exigência da formação adequada, aceita formação mínima, ou 
incompleta. É fato que o trabalho deveria começar na base, já com crianças; A 
Ética na Educação Infantil de Rheta De Vries& Betty Zan, discorre sobre o 
desenvolvimento social e moral da criança na escola, é importante não pular as 
fases. Outra exigência é a auto-avaliação: ir além do conteúdo científico em sua 
prática didática. Valores cidadãos como igualdade, parceria, colaboração, 
voluntariedade, respeito, compromisso coletivo, agregam valor à prática 
pedagógica. Ao perfil profissional ético não cabe o individualismo, a intolerância, 
o racismo, a presunção, a soberba, a imprudência, a desvalorização, a alienação 
e exclusão. Como esses valores, são contextualizados ou descontextualizados na 
didática docente? Será que o professor não está apenas preocupado com o 
cronograma a cumprir e a publicação de notas? O bom exemplo vem da 
Finlândia, país que investe no ensino, prioriza a Educação desde a infância e 
valoriza a prática docente. 
Outro desafio é a compreensão do atual momento profissional e 
tecnológico do país, que é grande, tem demandas apuradas e fluxos crescentes 
no mercado globalizado. A oportunidade existe, mas quem está preparado? A 
formação superior atende a necessidade da formação durante o percurso 
formativo no que se refere à adequação da postura para o mercado, além de 
conteúdos científicos? 
Reconhecer que o universo educativo é sem fronteiras (EADs), formado por 
parcerias, um mundo de idéias múltiplas, convergentes e divergentes ao mesmo 
tempo, um processo mutante onde ninguém trabalha sozinho; a relevância do 
trabalho docente é singular, mas não o crédito. 
Por fim, requer superação de concepções preconceituosas, a tolerância ao 
novo, ao diferente. Se o docente não souber ou não conseguir estabelecer uma 
convivência de diálogo e compreensão com o aluno que tem opções, idéias e 
posicionamentos diferentes dos seus, ele certamente não estará apto ao ensino 
comprometido com o respeito mútuo, o que é intrínseco à ética. Numa sociedade 
moderna, diversa e dinâmica certamente a postura ética na prática educativa 
exige que preconceitos inexistam. 
 
 
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 O reforço sobre a importância de ter a ética no centro do debate da 
prática educacional docente está em todas as partes do trabalho. O fato de 
professores não discutirem a postura ética em suas práticas pedagógicas; porque 
a preocupação leva o rumo dos encontros pedagógicos a discutir métodos, 
conteúdos e tecnologia, contribui para a necessidade de um despertar quanto à 
diferença que a prática ética tem no desempenho do trabalho docente no 
processo de ensino e aprendizagem. O percurso formativo é a oportunidade que 
o docente tem para auxiliar o aluno a formar sua conduta profissional derivadadas práticas didáticas que reforcem valores morais e éticos, o que não deve ser 
confundido com moralidade. O atual contexto da Educação apresenta novos 
atores, novas concepções, abordagens, porque ocorreu uma evolução no 
processo de ensino, aumentaram-se as exigências na prática docente, porém os 
valores e responsabilidades não mudaram. Há de ser compreendido que apesar 
do tecnocentrismo social e dos desafios da carreira no magistério, pública ou 
privada, a prática docente ainda é determinante na formação profissional, e lá na 
ponta, apesar de não ter a responsabilidade sozinha; a universidade vai 
responder pelo sujeito que formou e quem ela está entregando à sociedade e ao 
mercado de trabalho. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ALMEIDA, Marcello Ricardo. Ética na Escola. Literatura em SC, Florianópolis:2009. 
 
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