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Protocolo: 597091 Data: 24/09/2019 Título: Nota Técnica 03-19 - Esporotricose Animal Página(s): 57 a 59 SUBSECRETARIA DE VIGILÂNCIA, FISCALIZAÇÃO SANITÁRIA E CONTROLE DE ZOONOSES Nota Técnica S/SUBVISA N.º 03/2019 PROTOCOLO DE TRATAMENTO DA ESPOROTRICOSE ANIMAL S/SUBVISA Patrícia Nuñez Bastos de Souza Taliha Dias Perez Mendonça Adriana Gondim Toledo Setembro de 2019 Esta publicação tem o objetivo de informar e orientar sobre os protocolos de tratamento para a esporotricose em cães e gatos utilizados no Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman e no Centro de Controle de Zoonoses Paulo Dacorso Filho no município do Rio de Janeiro. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE - SMS SUBSECRETARIA DE VIGILÂNCIA, FISCALIZAÇÃO SANITÁRIA E CONTROLE DE ZOONOSES - SUBVISA Secretária: Ana Beatriz Busch Subsecretária: Márcia Farias Rolim PROTOCOLO DE TRATAMENTO DA ESPOROTRICOSE ANIMAL S/SUBVISA Patrícia Nuñez Bastos de Souza [1] Taliha Dias Perez Mendonça 2 Adriana Gondim Toledo 3 1. Coordenadora de Vigilância em Zoonoses da Subsecretaria de Vigilância, Fiscalização Sanitária e Controle de Zoonoses - cvzpatricia@gmail.com 2. Assessora do Gabinete da Secretaria Municipal de Saúde - taliha.subvisa@gmail.com 3. Assistente do Gabinete da Subsecretaria de Vigilância, Fiscalização Sanitária e Controle de Zoonoses - adrianatoledo10@gmail.com 1. Introdução A esporotricose é uma micose zoonótica que tem como agente etiológico um fungo do gênero Sporothrix. Sua transmissão ocorre pela inoculação do fungo presente no solo, unhas, feridas e secreções do animal infectado. O felino doméstico desempenha um papel importante na transmissão do agente. Na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2017 foram diagnosticados 4.021 casos novos da doença em animais, em 2018 foram 2.847 casos novos e em 2019, até o mês de julho foram notificados 1.628 animais com a doença, todos nas unidades de controle de zoonoses municipais (Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman e Centro de Controle de Zoonoses Paulo Dacorso Filho). Considerando que o tempo de tratamento dos animais é longo, podendo levar mais de 6 meses, tratar gatos com esporotricose tem sido um dos maiores entraves e o grande desafio para o controle da epidemia. A dimensão da endemia de esporotricose no estado do Rio de Janeiro é muito difícil de ser estimada, pois existem fatores que dificultam essa compreensão, como a baixa adesão de profissionais no processo de notificação, casos de animais errantes que não são diagnosticados e os atendimentos realizados em clínicas privadas por proprietários de um melhor poder socioeconômico. A esporotricose e outras zoonoses começaram a ser georreferenciadas pela atual gestão da SUBVISA. As informações geográficas se encontram disponibilizadas, conforme mapas abaixo (Figuras 1, 2 e 3), e podem ser encontradas no site da Vigilância Sanitária (http://www.rio.rj.gov.br/web/vigilanciasanitaria), para a população e profissionais de saúde. Figura 1- Mapa do Município do Rio de Janeiro, com casos novos de esporotricose, no ano de 2017. Figura 2- Mapa do Município do Rio de Janeiro, com casos novos de esporotricose, no ano de 2018. Figura 3- Mapa do Município do Rio de Janeiro, com casos novos de esporotricose, nos meses de janeiro a julho de 2019. 2. Objetivos Esta nota técnica tem por objetivo informar e orientar sobre os protocolos de tratamento para a esporotricose em cães e gatos utilizado no Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman no Rio de Janeiro, visando diminuir os casos de insucesso terapêutico, recidivas, abandonos de tratamento e óbitos, que dificultam o controle dessa zoonose. Neste contexto, esta nota recomenda o repasse destas informações para todas as clínicas veterinárias, hospitais veterinários, médicos veterinários e Instituições de Ensino e Pesquisa do Município do Rio de Janeiro. 3. Recomendações Iniciais Durante todo o tratamento, o animal deverá permanecer isolado de outros animais, em ambiente limpo, livre de matéria orgânica, sem contato com terra, plantas, árvores e afins. Ressaltamos que o tratamento recomendado dependerá da avaliação individual de cada animal pelo médico veterinário, levando em consideração o seu estado geral e suas particularidades. O tratamento em alguns casos é longo, podendo levar mais de 6 meses. O exame clínico deverá ser feito a cada 30 dias ou a critério do médico veterinário. Em alguns animais é necessária a interrupção temporária do tratamento devido a reações adversas clínicas e/ou laboratoriais (até a melhora clínica do animal e/ou até que os parâmetros laboratoriais retornem aos limites de normalidade). É recomendado o monitoramento das enzimas hepáticas durante o tratamento. Com relação ao diagnóstico, todos os esforços no sentido de se conseguir a confirmação micológica da esporotricose devem ser tentados. Entretanto, em casos de exame micológico negativo e, ainda assim, forte suspeita clínico-epidemiológica, o tratamento e as recomendações devem ser seguidas pelo médico veterinário responsável, com a observação da resposta terapêutica. Os medicamentos prescritos (manipulados ou adquiridos prontos em formato de cápsulas) devem ser administrados via oral de forma integral sem o fracionamento da cápsula, preferencialmente, junto à alimentação para facilitar a absorção do fármaco, especialmente do itraconazol. Há estudos que comprovam a eficácia da administração das cápsulas abertas ou fechadas e, dessa forma, a administração das cápsulas abertas junto com o alimento úmido, diminui as chances de contato com o animal doente e o risco de contaminação do tutor com a esporotricose. 4. Tratamento inicial Casos que não receberam tratamento medicamentoso prévio para esporotricose. 4.1. Gatos com diagnóstico de esporotricose e com presença somente de lesões cutâneas. ? Gatos com peso maior ou igual a 2,5kg: itraconazol na dose de 100 mg/gato/dia, VO, até a cura clínica. ? Gatos com peso menor que 2,5kg: itraconazol na dose de 25mg/kg/dia, VO, até a cura clínica. 4.2. Gatos com diagnóstico de esporotricose, com lesão na região nasal e/ou presença de sinais respiratórios (espirros, secreção e/ou dispneia). ? Gatos com peso maior ou igual a 2,5kg: itraconazol na dose de 100 mg/gato/dia, VO, associado ao iodeto de potássio na dose de 2,5 a 5 mg/kg/dia, VO, até a cura clínica. ? Gatos com peso menor que 2,5kg: itraconazol na dose de 25mg/kg/dia, VO, associado ao iodeto de potássio na dose de 2,5 a 5 mg/kg/dia, VO, até a cura clínica. 4.3. Cães com diagnóstico de esporotricose e com presença somente de lesões cutâneas. ? Cetoconazol na dose de 5 a 10mg/kg/dia, VO, até a cura clínica. 4.4. Cães com diagnóstico de esporotricose e com lesão na região nasal e/ou presença de sinais respiratórios (espirros, secreção e/ou dispneia) ou que não responderam ao tratamento com cetoconazol. ? Itraconazol na dose de 5 a 10mg/kg/dia, VO, até a cura clínica. 5. Casos não responsivos ao tratamento com itraconazol Situação em que o animal (gato ou cão) não apresentou melhora do quadro clínico um mês após tratamento com itraconazol. Nestes casos, pode ser observada estagnação do quadro ou aumento do número de lesões. Recomenda-se realizar o tratamento associando o itraconazol ao iodeto de potássio. O iodeto deverá ser manipulado em farmácias de manipulação, em cápsulas, e as recomendações sobre a armazenagem em temperatura refrigerada devem ser seguidas. 5.1. Gatos: itraconazol (100mg/gato/dia para gatos acima de 2,5 kg de peso ou 25mg/kg/dia para gatos com peso inferior a 2,5 kg) associado a iodeto de potássio (2,5 a 5mg/kg/dia), VO, até a cura clínica. 5.2. Cães: itraconazol (5 a 10mg/kg/dia) associado a iodetode potássio (2,5 a 5mg/kg/dia), VO, até a cura clínica. OBS: Caso não haja resposta ao tratamento, sugere-se aumentar a dose do iodeto de potássio para 10 mg/kg/dia nos animais que não estiverem apresentando reações adversas clínicas ou laboratoriais. 6. Recidiva ou reinfecção Nas situações em que houver o reaparecimento das lesões de esporotricose após a cura do animal (recidiva) ou nos casos de uma nova infecção pelo fungo (reinfecção), o tratamento deverá ser feito pela administração da associação de itraconazol ao iodeto de potássio, nas doses anteriormente descritas para casos não responsivos. 7. Critério para cura O critério de cura da esporotricose é clínico, com o desaparecimento de todos os sinais clínicos verificados ao longo do tratamento. É importante que o tratamento seja mantido por um mês após a cura do animal ou por dois meses, caso o animal tenha apresentado sinais respiratórios, para minimizar o risco de recidiva. 8. Eutanásia A eutanásia poderá ser indicada nas situações de resposta terapêutica insatisfatória, ou seja, casos nos quais se observe estagnação ou piora do quadro clínico. A indicação de eutanásia deverá sempre ser feita por um médico veterinário, após avaliação clínica do animal. O tutor ou responsável legal pelo animal deverá ser esclarecido sobre a eutanásia e o procedimento poderá ser realizado somente após sua autorização, por escrito, conforme preconizado na Resolução CFMV Nº 1000, de 11 de maio de 2012. 9. Conclusão O tratamento adequado da esporotricose é ferramenta essencial para o controle da epidemia existente no município do Rio de Janeiro. Consciente disso e considerando os casos de insucesso terapêutico, recidivas, abandonos de tratamento e óbitos, a S/SUBVISA apresenta neste documento uma sugestão de protocolo de tratamento, baseado na experiência adquirida em seus atendimentos e nas avaliações do Grupo de Trabalho de esporotricose, iniciado em 23/05/2017, e legalmente instituído pela Resolução SMS 3422 de 28 de setembro de 2017. 10. Considerações finais ? A fim de evitar a contaminação do tutor/responsável pelo tratamento do animal, recomendamos que os animais afetados pela esporotricose sejam sempre manipulados com luvas. ? Faz parte do protocolo terapêutico a indicação da castração dos gatos com esporotricose, devido ao hábito de brigas por território e incursões fora do seu domicílio. Os animais poderão ser submetidos ao procedimento cirúrgico após a avaliação clínica, quando não apresentarem lesões aparentes, mesmo que ainda estejam recebendo tratamento. ? Não é recomendado o uso de medicações tópicas nos animais doentes como cremes, loções, soluções e também são contraindicados os banhos, medicamentosos ou não, devido ao risco de transmissão. ? Em alguns casos é necessário o uso concomitante de antimicrobianos sistêmicos, devido à infecção bacteriana secundária das lesões. Essa recomendação é feita a critério do médico veterinário. ? Em casos de óbitos/eutanásias as carcaças deverão ser obrigatoriamente cremadas, não devendo ser enterradas por motivos de contaminação do ambiente. ? A esporotricose animal é uma doença de notificação obrigatória no município do rio de janeiro, baseada na Resolução SMS Nº 3784 de 21 de agosto de 2018. Os casos devem ser notificados no link disponível no site da Vigilância Sanitária http://www.rio.rj.gov.br/web/vigilanciasanitaria/esporotricose ? A educação em posse responsável é considerada a maior arma para o controle da esporotricose. Tutores devem ser sempre orientados a castrar e microchipar seus animais, e mantê-los em domicílio reduzindo assim as chances de contaminação. Informamos que o Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman, localizado na Avenida Bartolomeu de Gusmão, nº 1.120, no bairro de São Cristóvão, disponibiliza a cremação gratuita dos animais comprovadamente acometidos pela doença. Por último, a Coordenação de Vigilância em Zoonoses (S/SUBVISA/CVZ) encontra-se à disposição para dirimir quaisquer dúvidas e/ou prestar informações relativas à esta zoonose, no endereço Rua do lavradio, 180, 4º Andar, Centro, Rio de Janeiro/RJ, pelo telefone (21) 2224-5079 ou pelo e-mail coord.zoonoses@gmail.com 6. Referências Bibliográficas Gremião IDF, Menezes RC, Schubach TMP, Figueiredo ABF, Cavalcanti MCH, Pereira AS. Feline sporotrichosis: epidemiological and clinical aspects. Med Mycol. 2015, 53:15-21. Reis EG, Schubach TMP, Pereira SA, Silva JN, Carvalho BW, Quintana MSB, et al. Association of itraconazol and potassium iodide in the treatment of feline sporotrichosis: a prospective study. Med Mycol. 2016, 54(7):684-90. Schubach TMP, Menezes RC, Wanke B. Sporotrichosis. In: Greene CE, ed. Infectious Diseases of the Dog and Cat. 4th edn. Philadelphia: Saunders Elsevier; 2012. p. 645-650.