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AO JUÍZO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA _________________________________ Justiça Gratuita [nome], [nacionalidade], [estado civil], [profissão], portadora da Cédula de Identidade n° [nº da identidade] e inscrita no CPF sob o n° [nº do cpf] (doc. 01), residente e domiciliada na [endereço] (doc. 02), através de seu advogado e bastante procurador (doc.03), com endereço profissional na [endereço do escritório do patrono], vem à presença de Vossa Excelência propor a presente: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS DECORRENTES DE DESCUMPRIMENTO DE CONTRATO Em desfavor de [nome do réu], pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº [nº do cnpj], com sede na [endereço do réu], pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos: I. Dos Fatos: No dia 23 de maio de 2014, a Autora firmou contrato de promessa de compra e venda com a empresa Ré, cujo objeto era o imóvel situado à [...], no valor de R$ [...] (doc. 04). Pelo referido contrato a Autora comprometia-se em pagar diretamente à Ré o valor de [...], entre parcelas e intermediárias, e por meio de financiamento junto à Caixa Econômica Federal – CEF o saldo de [...]. Além do referido valor, a Autora ainda pagou [...] de despesas com cartório e [...] (três mil cento e trinta e cinco reais) referente ao ITBI. Posteriormente, no dia 18 de junho de 2014, após convocação realizada pela Ré, a Autora firmou contrato de financiamento com a CEF (doc. 05), tendo, portanto, adimplido com todas as suas obrigações junto à imobiliária (doc. 05 – 13). Convém apontar que a Autora, por meio do contrato de financiamento, também se comprometeu ao pagamento de Taxa de Construção, com valor variável mês a mês, até a conclusão e entrega da obra em favor da financiadora. Verifica-se porém que apesar de, como dito, ter adimplido todas as parcelas à que se comprometera, a Ré não procedeu com a entrega do imóvel à Autora na data aprazada, qual seja, maio de 2015, INEXISTINDO previsão de período de tolerância de 180 (cento e oitenta) dias, descumprindo portanto os termos do contrato por ela elaborado. Observa-se que a Ré procedeu com a entrega do imóvel somente no dia 15 de agosto de 2016, ou seja, 01 (UM) ANO E 04 (QUATRO) MESES após o término do prazo estipulado, mesmo diante de qualquer escusa legal, atuando com total desprezo à pessoa da Autora. Durante todo este tempo a Autora esteve pagando a taxa de construção referida à CEF (doc. 09 – 13), obrigação que se manteve dada a desídia da Ré, uma vez que cessaria com a conclusão da obra e a consequente entrega do imóvel. Ademais, a Autora permaneceu morando de favor na casa de parentes e os móveis e eletrodomésticos por ela adquiridos danificaram-se pelo decurso do tempo e a falta de uso. Fatos que associados à frustração de após utilizar todas as suas reservas financeiras para adquirir sua casa, ter seu sonho impedido pela desídia exclusiva da Ré, sem contar a ausência de informações acerca do motivo e a definição de uma data fixa para o término de sua via crucis, causou-lhe abalos de natureza psíquica, que ferem sua dignidade, passando do mero dissabor e configurando Dano Moral. Por fim, deve-se ponderar que a Autora é pessoa de parcos recursos, que apesar de encontrar-se trabalhando não possui condições de arcar com os custos do presente processo sem o comprometimento do seu sustento, situação agravada pelo acúmulo de encargos oriundos da atuação da Ré (doc. 14). Tendo tentado de todas as maneira solucionar a contenda de maneira suasória, inclusive dirigindo-se por diversas vezes até a sede da Ré visando negociar uma solução, não restou a Autora alternativa senão a propositura da presente ação. II. DO DIREITO: A) DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA: O Direito de Ação é preceito fundamental previsto no art. 5º, XXXIV, “a” da Constituição Federal, não podendo ser tolhido em virtude da impossibilidade de realização do pagamento dos custos com o processo. Em decorrência disso, é que a Lei nº 1.060/50 garante a Assistência Judiciária Gratuita a todo aquele que não puder, sem prejuízo ao sustento seu ou de sua família, arcar com tais despesas. Da mesma forma, o Código de Processo Civil regulamenta a concessão do referido benefício e determina em seu art. 98 que “a pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei”. Assim, verificando-se que a autora, apesar de se encontrar empregada, não dispõe de recursos para custear as referidas despesas, o que declara sob pena de lei através da Declaração de Hipossuficiência em anexo (doc. 14), mostra-se devida a concessão da gratuidade em seu favor. B) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA: Verifica-se não restar dúvidas de que a relação firmada entre as partes afigura-se como relação de consumo, uma vez que as atividades desenvolvidas pela Ré consistem na construção e comercialização de bens imóveis, sendo a Autora a destinatária final do produto. Com base em previsão constitucional (art. 5º, XXXII c/c art. 170, V) e nos preceitos da Política Nacional de Relações de Consumo resta configurado o dever do Estado a garantir a defesa do consumidor. Neste diapasão é que o legislador pátrio, através do art. 6º do Código de Defesa do Consumidor – CDC, possibilitou ao magistrado que conceda o benefício da inversão do ônus da prova quando restar configurada a verossimilhança das alegações ou a hipossuficiência do consumidor em relação ao fornecedor de bens ou serviços. “Art. 6 São direitos básicos do consumidor: [...] VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência;” (Grifos Nossos) Observa-se que a referida medida objetiva possibilitar o equilíbrio entre as partes e que a hipossuficiência aqui tratada não se limita a critérios financeiros, visando alcançar também a falta de acesso a meios técnicos que comprovem os fatos alegados. Assim, sendo a autora pessoa de parcos recursos e não dispondo de meios técnicos para comprovar as alegações aqui firmadas, estando estes todos em posse da Ré, mostra-se cabível a supracitada inversão. c) DA MULTA POR DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO CONTRATUAL: Conforme apontado em narrativas de fatos, o contrato firmado entre as partes é da modalidade de adesão, ou seja, fôra elaborado pela Ré sem que a Autora pudesse discutir ou modificar suas cláusulas. Ocorre que, o referido instrumento, apesar de prever diversas cláusulas penais em relação ao descumprimento das obrigações assumidas pela autora, resta silente em relação ao não atendimento daquelas direcionadas a Ré, vejamos: Cláusula Terceira – Do Descumprimento da Obrigação: Fica desde já estabelecido que na hipótese de atraso no pagamento de qualquer das parcelas o(a) PROMITENTE COMPRADOR(A) pagará a parcela inadimplida com os seguintes acréscimos decorrentes da mora: a) Correção monetária com base na variação do IGPM-FGV a ser aplicada sobre as quantias em débito, a partir da data de seus vencimentos até a data de seus efetivos pagamentos, nos termosda legislação em vigor; b) juros de mora de 1% (um por cento) ao mês ou fração, calculados sobre o total das quantias em débito monetariamente corrigidas, da data de seus respectivos vencimentos à data de seus efetivos pagamentos; c) multa moratória de 2% (dois por cento) sobre o valor total da dívida e seus acréscimos; d) honorários de advogados no percentual de 20% (vinte por cento) sobre o total do débito, se houver cobrança judicial, purga judicial de mora, com intervenção de advogado para seu recebimento. Na hipótese de acordo amigável, este percentual será de 10% (dez por cento). Tal fato denota uma abusiva onerosidade em desfavor da Autora, criando um latente desequilíbrio entre as partes contratantes, não sendo aceitável que somente o consumidor seja penalizado pelo inadimplemento, sobretudo por afrontar aos princípios da Política Nacional de Defesa do Consumidor, sendo cabível a inversão da Cláusula penal supracitada de modo a estabelecer o equilíbrio do contrato. O artigo 51, inciso IV do Código de Defesa do Consumidor, impõe a nulidade de “cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que [...] estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade. De outra banda, o artigo 422 do Código Civil prevê que “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução os princípios de probidade e boa-fé”. Logo, da interpretação combinada dos referidos artigos, extrai-se a necessidade da manutenção, desde o início da relação firmada, do atendimento ao equilíbrio do contrato. Aponta-se que a tese ora defendida integra o teor da decisão recentemente exarada pelo Ministro do STJ Antônio Carlos Ferreira, nos autos do AREsp 678345 DF 2015/005575-2, publicado em 05 de maio de 2015. No mesmo sentido: AREsp 703900 RS 2015/0089089-3 e AREsp 703900 RS 2015/0089089-3. No âmbito da Corte Maranhense, cita-se o seguinte julgado: APELAÇÃO CÍVEL. Ação Cominatória de Obrigação de Fazer Cumulada com Pedido de Indenização por Danos Materiais/Morais e Concessão de Tutela Antecipada. ATRASO NA ENTREGA DE IMÓVEL. responsabilidade civil. provimento PARCIAL. 1. A não incidência da cláusula penal para ambas as partes do contrato implica em notório desequilíbrio contratual, haja vista que o mesmo ônus que o consumidor/comprador deva suportar em caso de inadimplemento nas prestações também deve ser imposto ao fornecedor/vendedor caso este não efetue a entrega do bem no prazo fixado. 2. A correção monetária do saldo devedor não impõe lucro algum à construtora ou ônus algum ao consumidor, tratando-se de medida que visa apenas recompor o valor aquisitivo da moeda, que sofre natural decréscimo com o tempo. 3. Como forma de reequilibrar a relação contratual, deve-se determinar a substituição do INCC pelo IPCA, salvo se o INCC for inferior, a partir do término do prazo de tolerância de 180 dias.4. 1º Apelo não conhecido por ser extemporâneo. 5. 2º Apelo conhecido e parcialmente provido, vencido o Relator apenas quanto ao congelamento do saldo devedor, entendendo a maioria pelo seu deferimento após o prazo de tolerância de 180 (cento e oitenta) dias. 6. Por Maioria. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 3029- 51.2013.8.10.0001,Relator:Desembargado r RICARDO DUAILIBE) Pelo exposto, verifica-se devida a inversão da Cláusula Penal supracitada em favor da Autora, devendo esta incidir sobre o valor do imóvel, desde o prazo previsto para sua entrega, mantendo-se até que esta se efetive, recaindo também sobre os meses vindouros. Quanto aos débitos já consolidados apresenta-se a seguinte tabela: Valor do Imóvel Correção Monetária IPC-M Juros de 1% a.m. Multa TOTAL D) DO DANO MATERIAL: D.1) DO ALUGUEL: Infere-se do caso em discursão que a Autora, com base em instrumento contratual, passou a fazer jus ao recebimento do imóvel em maio de 2015, não obstante, por desídia exclusiva da Ré, ao descumprir a obrigação assumida, restou impedida de fluir livremente do referido bem. Caracterizando, portanto, o dever de indenizar o valor que se deixou de aferir a título de alugueis na forma de lucros cessantes, conforme art. 6, VI do CDC e art. 186 c/c 927, 402 e 403, todos do Código Civil. Art. 6º São direitos básicos do consumidor: [...] VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual. Bem como, as seguintes jurisprudências: [...] É o relatório. Decido. A irresignação não merece prosperar. 1. [...] 2. Quanto ao mérito recursal, vale afirmar, sobre a possibilidade de cumulação da multa contratual com os lucros cessantes, o Tribunal de origem consignou que "O atraso injustificado na entrega do imóvel dá ensejo à indenização pelo que a autora deixou de usufruir, porquanto deixou de auferir renda com os aluguéis que poderia ter recebido. Nesse caso, o prejuízo é presumido" (fl. 427, e- STJ). [...] Referido entendimento coaduna-se com a jurisprudência desta Corte, orientada no sentido de que o atraso na entrega do imóvel enseja a presunção de configuração de lucros cessantes, consistentes nos aluguéis que o autor deixou de auferir no período. Nesse sentido, os seguintes precedentes: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO INCAPAZ DE ALTERAR O JULGADO. LUCROS CESSANTES. ATRASO NA ENTREGA DE IMÓVEL. PRESUNÇÃO DE PREJUÍZO. PRECEDENTES. 1. Esta Corte Superior já firmou entendimento de que, descumprido o prazo para entrega do imóvel objeto do compromisso de compra e venda, é cabível a condenação por lucros cessantes, havendo presunção de prejuízo do promitente-comprador. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no Ag 1319473/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/06/2013, DJe 02/12/2013) AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA C/C PERDAS E DANOS E LUCROS CESSANTES. PRODUÇÃO PROBATÓRIA. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA. LIVRE CONVENCIMENTO DO MAGISTRADO. REEXAME DE PROVA EM SEDE ESPECIAL. INVIABILIDADE. SÚMULA 7/STJ. ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL. LUCROS CESSANTES. PRESUNÇÃO. CABIMENTO. RESCISÃO CONTRATUAL. DESCUMPRIMENTO DE ADITIVO CONTRATUAL. CULPA DA PROMITENTE- VENDEDORA. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (AgRg nos EDcl no AREsp 30.786/SC, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/08/2012, DJe 24/08/2012) (STJ - AREsp: 630819 DF 2014/0304964- 1, Relator: Ministro MARCO BUZZI, Datade Publicação: DJ 10/04/2015) PROCESSO CIVIL E CONSUMIDOR. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ATRASO EM ENTREGA DE OBRA RESIDENCIAL. COMPROVAÇÃO DA CULPA. ATRASO RECONHECIDO. SALDO DEVEDOR. CONGELAMENTO DEVIDO. PAGAMENTO DE DESPESAS DE ALUGUEL. DEVIDO. AGRAVO IMPROVIDO. I. Presentes os requisitos para concessão da tutela antecipada, posto que comprovado o atraso na entrega do imóvel pela construtora por mais um ano. II. Precedentes desta Corte enunciam que atrasos como o que se apresenta, justificam a concessão liminar, para congelamento do saldo devedor nos valores referentes à data inicialmente ajustada para entrega do bem. III. Agravo improvido. (TJ-MA - AI: 0514792013 MA 0011469- 39.2013.8.10.0000, Relator: MARIA DAS GRAÇAS DE CASTRO DUARTE MENDES, Data de Julgamento: 09/06/2014, QUINTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 16/06/2014) APELAÇÃO CÍVEL EM AÇÃO ORDINÁRIA. ATRASO NA ENTREGA DE IMÓVEL ADQUIRIDO NA PLANTA. ALUGUÉIS. LUCROS CESSANTES. APURAÇÃO EM SEDE DE LIQUIDAÇÃO. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. MAJORAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS. NÃO COMPROVAÇÃO DA DESPESA. CONSECTÁRIOS LEGAIS. FIXAÇÃO DE OFÍCIO. I. O atraso na entrega de imóvel adquirido na planta enseja pagamento de indenização por danos morais e lucros cessantes referentes aos aluguéis a que teria direito a parte se tivesse recebido o bem no prazo pactuado. II. [...] (TJ- MA - APL: 0584202013 MA 0005667- 91.2012.8.10.0001, Relator: VICENTE DE PAULA GOMES DE CASTRO, Data de Julgamento: 14/10/2014, SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 17/10/2014) Verifica-se que com base em pesquisa de preços, o aluguel que faz jus a requerente deve ser arbitrado no valor mensal de R$ 700,00 (setecentos reais), a contar do término da data para entrega, até a entrega do imóvel. Sendo valor consolidado devido o explicitado abaixo: Valor Mensal (R$) Número de Meses em Atraso TOTAL Portanto, com base no exposto, mostra-se devida a condenação da Ré à indenização por dano material, configurada com base em lucros cessantes, referente aos meses de aluguel vencidos no importe de R$ 10.500,00 (dez mil e quinhentos reais), bem como às prestações vincendas, até a entrega do imóvel. D.2) DO RESARCIMENTO DA TAXA DE CONSTRUÇÃO: Ainda com base na previsão do art. 6º, VI e do art. 186 c/c 927 do Código Civil, observa-se que o atraso na conclusão e entrega da obra fez incidir por um maior período de tempo a taxa de construção firmada em contrato entre a Autora e a instituição financiadora (doc. Xx), uma vez que essa cessa com a conclusão da obra. Logo, pode-se concluir que os valores pagos a título da referida taxa também devem ser ressarcidos na forma de indenização por dano material, uma vez que ampliaram a onerosidade da obrigação assumida pela autora em relação a terceiros. PROCESSO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO ORDINÁRIA - COMPRA E VENDA - ATRASO NA CONSTRUÇÃO DO IMÓVEL - PAGAMENTO DO ALUGUEL E DA TAXA DE EVOLUÇÃO DE OBRA - TUTELA ANTECIPADA - REQUISITOS CONFIGURADOS - POSSIBILIDADE Preenchidos os requisitos constantes no art. 273, I e II, do CPC, confirma-se a decisão que determinou o pagamento de aluguel mensal e da taxa de evolução de obra até a efetiva entrega do imóvel objeto de compra e venda. (TJ-MG - AI: 10000150574465001 MG, Relator: Saldanha da Fonseca, Data de Julgamento: 02/11/0015, Câmaras Cíveis / 12ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 10/11/2015) MÊS DE REFERÊNCIA VALOR PAGO (R$) TOTAL Conclui-se pelo cabimento da condenação, a título de Dano Material, do valor dispendido em favor de terceiros no importe de [...]. E) DO DANO MORAL: Como apontado alhures, a Autora firmou contrato de promessa de compra e venda com a empresa Ré visando a aquisição de imóvel residencial, em verdade, seu primeiro imóvel, a realização do sonho da casa própria e da independência, tão caro a todos. Para isto, lançou mão de todas suas economias e do valor retido em seu FGTS, comprometendo boa parte de sua remuneração com parcelamentos, taxas e impostos. Não obstante, ante a desídia da Ré, caracterizada pelo atraso na entrega do imóvel, o referido sonho tornou-se um verdadeiro pesadelo, uma vez que é pessoa de parcos recursos que não pode arcar com o valor de um aluguel, obrigando-se a viver de favor na casa de parentes, tão pouco poderia desfazer o negócio referido, sob pena de perder o valor investido, ademais ante as condições de mercado dificilmente obteria outro financiamento. A condição imposta a Autora pela Ré a expos a situação degradante e abalos de ordem psicológica, atingindo a dignidade do contrato e até os preceitos constitucionais de garantia à dignidade humana. Não se confundindo, portanto, com o simples descumprimento de contrato e mera frustração ou dissabor, mas em verdadeiro dano moral in re ipsa, posto quê cristalino e presumido. Ademais, o fato da omissão de clausula penal em desfavor da Ré no contrato de adesão, denota o dolo de sua atuação, uma vez que figura como intensão de lesar sob expectativa da impunidade. O Código de Defesa do Consumidor prevê a indenização de danos em favor do consumidor, mesmo que de natureza moral, na forma de ser art. 6º, VI. Da mesma forma, o Código Civil também prevê a referida indenização em seu art. 186 c/c 927. A favor da tese, verifica-se unicidade na corte maranhense quanto ao entendimento da existência de dano moral nos referidos casos: APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL NA PLANTA ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL. DANO MORAL.CONFIGURADOS. MANUTENÇÃO DO QUANTUM ARBITRADO PELO JUÍZO A QUO. ANÁLISE DO CASO CONCRETO. OBEDIÊNCIA DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PORPORCIONALIDADE. TAXA DE ADMINISTRAÇÃO PAGA DIRETAMENTE À CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. INEXISTÊNCIA DE DANO MATERIAL. APELO CONHECIDO E IMPROVIDO. I -É incontroverso nos autos o atraso na entrega do imóvel. sendo a controvérsia, apenas no tocante a responsabilidade da construtora no atraso da obra e o dever de indenizar. contudo, é cediço que o descumprimento contratual, por si só, não tem o condão de ensejar o dever de indenizar. contudo, no caso dos autos, não se verifica qualquer motivo plausível para o atraso na entrega do imóvel, ficando caracterizado os danos morais causados aos apelados. II – [...]. IV- Apelo conhecido e improvido. Unanimidade.(TJ-MA - APL: 0154732015 MA 0026626-49.2013.8.10.0001, Relator: RAIMUNDO JOSÉ BARROS DE SOUSA, Data de Julgamento: 16/11/2015, QUINTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 17/11/2015) APELAÇÃO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL. DEVER DE INDENIZAR. DANOS MORAIS. LUCROS CESSANTES. CONGELAMENTO SALDO DEVEDOR. I – [...] II - Verificado o atraso injustificado na entrega de imóvel residencial, por culpa exclusiva da construtora/incorporadora, viável ao consumidor adquirente pleitear as perdas e danos daí decorrentes. Jurisprudência do STJ e do TJMA. III - Primeiro apelo provido e segundo desprovido. Sem interesse do MP. (TJ- MA - APL: 0178332015 MA 0046579- 96.2013.8.10.0001, Relator: MARCELO CARVALHO SILVA, Data de Julgamento: 16/06/2015, SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 25/06/2015) PROCESSUALCIVIL. APELAÇÃO. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. ATRASO NA ENTREGA DO BEM. EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO. IMPUTAÇÃO DE INADIMPLENTE. DANOS MORAIS CARACTERIZADOS. DANOS MATERIAIS NÃO COMPROVADOS. 1. [..]. 3. O atraso injustificado na entrega de imóvel em conjunto com a imputação arbitrária da construtora em cobrar contraprestações de forma integral e improrrogável, mesmo flagrantemente inadimplida a cláusula de entrega do bem, ultrapassa o mero dissabor das relações obrigacionais e adentra à seara da dignidade do contratante, que, de modo geral, adquire um imóvel como sonho a se realizar. Consubstanciados os fatos, caracteriza-se o dano moral indenizável. Valor mantido, por se encontrar em patamar justo e coerente com a finalidade coercitiva da indenização. 4. [...] 5. Recurso parcialmente provido. (TJ-MA - APL: 0489262014 MA 0011877- 61.2012.8.10.0001, Relator: LOURIVAL DE JESUS SEREJO SOUSA, Data de Julgamento: 26/11/2015, TERCEIRA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 03/12/2015) Importa, ainda trazer a baila o entendimento ventilado na jurisprudência pátria de que a indenização por dano moral deve-se revestir de característica didático-pedagógica, considerando o porte de quem a deve, de forma a impedir que o agressor conclua pela vantagem de perpetrar o ilícito pela modicidade da condenação. Neste sentido, cita-se ANTÔNIO JEOVÁ SANTOS: “a indenização do dano moral, além do caráter ressarcitório, serve também como sanção exemplar. A determinação do montante indenizatório deve ser fixado tendo em vista agravidade objetiva do dano causado e a repercussão que o dano teve na vida do prejudicado, o valor que faça com que o ofensor se evada de novas indenizações, evitando outras infrações danosas . Conjuga-se, assim, a teoria da sanção exemplar à do caráter ressarcitório, para que se tenha o esboço do quantum na mensuração do dano moral” (DANO MORAL INDENIZÁVEL, Lejus, 1997, p. 58) (Grifo Nosso) Bem como as seguintes jurisprudências: “[...] a indenização por dano moral objetiva compensar a dor moral sofrida pela vítima, punir o ofensor e desestimular este e a sociedade a cometerem atos desta natureza ” (STJ, REsp nº 332.589/MS, 3ª T., rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJU 14/04/2012, p. 216) (Grifo Nosso) “EMENTA DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. SUSPENSÃO DE ATENDIMENTO SOB ALEGAÇÃO DE INADIMPLÊNCIA. APRESENTAÇÃO DOS PAGAMENTOS PELA USUÁRIA. CULPA DE TERCEIROS. DESCABIMENTO. SERVIÇO DEFEITUOSO CONFIGURADO. DANO MORAL. CABIMENTO. CONSTATAÇÃO DA OFENSA À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. INEXISTÊNCIA DO DÉBITO. DECRETAÇÃO. APELO DESPROVIDO. I [...] III - No dano moral, o valor indenizatório deve observar, além do caráter reparatório da lesão sofrida, o escopo pedagógico-punitivo da indenização , cabendo, assim, ao prudente arbítrio dos juízes a adoção de critérios e parâmetros que norteiem as indenizações. IV - [...].” (TJ/MA, Apelação Cível nº 22.808/2011, rel. Min. Marcelo Carvalho Silva)(Grifo Nosso). “DIREITO DO CONSUMIDOR. AGÊNCIA DE VIAGEM. ERRO NA EMISSÃO DE PASSAGEM AÉREA. FRUSTRAÇÃO DE VIAGEM INTERNACIONAL E DE COMPROMISSOS OFICIAIS. PARÂMETROS PARA O ARBITRAMENTO DO VALOR DO DANO MORAL SOFRIDO. I. Para o correto e justo arbitramento da compensação do dano moral devem ser ponderados, à luz das circunstâncias do caso concreto, a capacidade econômica e a situação pessoal das partes, a gravidade e repercussão do dano e o nível de reprovação do ato doloso ou culposo do fornecedor. II. Conquanto a responsabilidade civil gravite sob o princípio da indenidade e por isso seja vocacionada à completa reparação do prejuízo, nos domínios do dano moral agrega-se o perfil didático cujo propósito é coibir a repetição de atos incondizentes com os deveres de qualidade e segurança dos serviços ofertados no mercado de consumo. III. Deve ser majorado o valor da compensação que não interpreta a combinação dos elementos que balizam o seu arbitramento, máxime a intensa repercussão do dano moral e a considerável censurabilidade da desídia do fornecedor. IV. Recurso conhecido e provido.” (TJ/DF, Apelação Cível nº 200401.1.104944-3, 6ª T., rel. Min. James Eduardo Oliveira)(Grifo Nosso). DIREITO PROCEESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE FIXOU VALOR A TÍTULO DE DANOS MORAIS. VALOR EXCESSIVO. PROVIMENTO DO AGRAVO. 1- A hipótese consiste em agravo de instrumento interposto contra decisão que fixou o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de reparação por danos morais a ser pago pela ora agravante em sede de liquidação de sentença. 2- Alega a União que não seria possível a condenação de danos morais com fundamento punitivo, o que ofenderia o princípio da legalidade. Entretanto, considero que o “caráter punitivo” utilizado na quantificação do dano moral não tem natureza de sanção propriamente dita, funcionando apenas como mais um dos indicadores que devem ser levados em conta nadifícil tarefa de quantificar o dano moral. Desta forma, o caráter punitivo, ou educativo, tem por objetivo, como dito acima, evitar que o ofensor “saia lucrando”, ou seja, que este considere que perpetrar o ilícito não lhe trouxe qualquer incoveniente. Ademais, vem sendo reconhecido o caráter punitivo (ou pedagógico) da reparação do dano moral pela jurisprudência dos tribunais brasileiros, mormente em casos onde há a verificação da presença do elemento subjetivo para a consumação do dano. 3- [...]. (Grifo Nosso). Diante das determinações do art. 292, V do CPC, visando a definição de um valor que atenda aos preceitos da razoabilidade, mas também considere o porte da empresa referida, bem como, a lucratividade do negócio firmado entre as partes, mostra-se devida a condenação da Ré, no que tange aos danos de ordem moral vivenciados pela autora, o importe de R$ [...]. III. DO PEDIDO: Pelo exposto e visando restaurar a ordem jurídica passa-se a requerer o que segue: a) Seja deferido em favor da Autora o benefício da Assistência Judiciária Gratuita na forma do art. 98 do CPC; b) Seja concedida em favor da Autora a inversão do ônus da prova na forma do art. 6º, VIII do CDC; c) Cite-se a Ré para, caso queira, contestar a presente ação, sob pena de ser-lhe impostos os efeitos da revelia, admitindo-se como verdadeiros todos os fatos ora articulados; d) Seja ao final julgada totalmente PROCEDENTE a presente ação, reconhecendo-se a inversão da Cláusula Penal em desfavor da Ré e a consequente obrigação ao pagamento de [...], na forma descrita acima; seja a Ré condenada ao pagamento de indenização por danos materiais no importe de [...], [...] referente a aluguel e [...] a título de restituição da taxa de construção; seja ainda condenada ao pagamento de indenização por Danos Morais no valor de [...]. Protesta-se provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, sobretudo o depoimento pessoal das partes, provas documentais e testemunhais. Dar-se-á a causa o valor de [...]. Nestes termos, Pede deferimento. São Luís, 21 de setembro de 2016. [nome doadvogado] OAB/MA nº [...]