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OS ASPECTOS DA AVALIAÇÃO NA INCLUSÃO ESCOLAR 
 *******************************[1: Aluna do curso de graduação de Licenciatura em Letras]
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 Orientador: ____________ [2: Orientador: ___________]
		RESUMO 
A avaliação de alunos com necessidades educacionais especiais pede um olhar mais acolhedor e compreensivo, assim como estratégias voltadas para a solução e o estreitamento das diferenças. A educação inclusiva é tema recorrente e atual, porém incluir não é apenas o convívio no espaço físico do ambiente escolar, o aluno incluído neste espaço precisa de condições de avaliação que considerem suas limitações e ressalte sua progressão, e para que isso ocorra é essencial um conceito educacional e uma estratégia pedagógica que estimule a aprendizagem e tenha a verdadeira função de avaliar dentro da necessidade de cada educando. Este artigo tem como objetivo estudar e analisar os aspectos da avaliação escolar dos alunos inclusos do ponto de vista teórico, trazendo a observação de leis, métodos tradicionais e a importância da adaptação curricular. As ideias aqui expostas apontam que a inclusão escolar é uma oportunidade de estreitar e entender as diferenças, porém métodos ineficazes e enraizados pela sociedade precisam dar espaço ao novo. Somente com inovação, respeito às diferenças e uma visão humanizada e singular para com o educando, se obtém um caminho para um processo de avaliação mais justo e de fato igualitário. Este estudo utilizou-se de pesquisas bibliográficas e específicas da área de educação inclusiva e de avaliação de educandos inclusos.
Palavras-chave: Inclusão. Avaliação. Currículo adaptado.
 1. INTRODUÇÃO 
O processo de avaliação, quando bem executado, é um instrumento de oportunidade de crescimento teórico e social para os educandos com necessidades educacionais especiais. A avaliação com o olhar voltado para cada indivíduo de forma singular, e com as adaptações que preencham as suas necessidades educacionais, oferece oportunidades de aprendizagem para que todos os alunos possam assimilar determinado conteúdo, dando a todos por direito a oferta de poder fazer, independentemente de suas necessidades ou limitações.
De forma geral dentro das escolas brasileiras a mudança já se faz presente, e isso tem feito com que os educadores que são diretamente envolvidos na aquisição do saber, tenham uma maior reflexão sobre os padrões avaliativos. Muito tem se discutido e assim caem modelos antigos, que por sua vez dão espaço aos novos e tentam ser mais eficientes suprindo as necessidades dos alunos inclusos.
Um ambiente escolar justo, e atento às diversidades deve contribuir com os mais diversos suportes, sejam estes de ordem pratica ou teórica, e sempre com o foco voltado para o processo de aprendizagem de todos os educandos que compõem este ambiente escolar. O processo de avaliação dos educandos com necessidades educacionais especiais inseridos nas instituições de ensino regular por todo o país, ainda encontra muitas barreiras. Assim sendo, as concepções de aprendizagem, ensino e avaliação devem andar entrelaçadas, compondo um currículo justo e proveitoso para todos.
Só é possível compreender o conceito de avaliação escolar quando se expandem os sentidos e significados das bases que irão segmentar a ideia de ciclo de formação. E esta por sua vez, só possibilitará a sua compreensão quando os princípios de organização curricular e de ensino propostos também forem compreendidos.
Até nos processos avaliativos mais simples, sabe-se que na tomada de algumas decisões é preciso que alguns critérios e princípios sejam pontuados e levados em consideração de forma séria por toda a equipe escolar, sem deixar de incluir também os familiares.
Perrenoud (1990), ressalta a complexidade da avaliação e mostra que a mesma é resultante de uma soma de fatores, e que estes, por sua vez, não são predeterminados, como uma cartilha a ser seguida. Este processo se consolida sob circunstancias que vão além das metodologias tradicionais, e do simples julgamento de certo ou errado. Acerca desta ideia e sobre o estudo do processo avaliativo, o autor, mostra que:
Não existem medidas automáticas, avaliações sem avaliador; nem se pode reduzir um ao estado de instrumento e o outro ao de objeto. Trata-se de atores que desenvolvem determinadas estratégias, para as quais a avaliação encerra uma aposta, sua carreira escolar, sua formação [...] Professor e aluno se envolvem num jogo complexo cujas regras não estão definidas em sua totalidade, que se estende ao longo de um curso escolar e no qual a avaliação restringe-se a um momento. (PERRENOUD, 1990 p.18).
Em face do exposto, acredita-se que avaliação faz parte de uma cadeia que interliga todo um processo, passando por diferentes critérios até se chegar a um resultado, considerando toda a vivência que antecede avaliação, esta por sua vez não é um evento isolado.
O ensino e avaliação de alunos com necessidades educacionais especiais ainda encontra muitas barreiras, uma vez que exige grandes modificações e o repensar inovado nas mais variadas vertentes do sistema de ensino, levando em conta que os alunos inclusos precisam se relacionar com os demais colegas, e que suas limitações não sejam motivo de empecilho para as tarefas do cotidiano escolar.
A avaliação é uma tarefa embasada em metodologias específicas e critérios planejados pelo currículo, e deve sopesar todo um processo que lhe antecede, considerando uma série de fatores e levando como base o Projeto Político Pedagógico de cada unidade escolar, que tem objetivos preestabelecidos e deve considerar todas as formas de diversidade em sua execução. O avaliar faz parte do cotidiano e da vivência humana em todas as suas esferas, e dentro do ambiente escolar tem suma importância. Nesse sentido acredita-se que:
Avaliar é indispensável em toda atividade humana e, portanto, em qualquer proposta de educação. Quanto a isto, acredito, estamos de acordo, do contrário, não teriam sentido às discussões que proponho fazer aqui. A avaliação é inerente e imprescindível, durante todo o processo educativo que se realize em um constante trabalho de ação-reflexão-ação, porque “educar é fazer ato de sujeito é problematizar o mundo para recriá-lo constantemente”.
(GADOTTI, 1984, p.90).
O processo avaliativo deve carregar o conceito de crescimento e evolução, para todos os educandos, uma vez que todos têm suas capacidades e limitações, sejam alunos de educação especial ou não. E as escolas, por sua vez, devem colaborar com o suporte, tanto no âmbito de acessibilidade e oportunidades iguais a todos, como também na inserção das diferenças em seus currículos, metodologias e processos avaliativos.
O principal objetivo deste artigo é levar uma reflexão mais profunda do processo avaliativo para educandos com necessidades educacionais especiais no ensino regular, analisar o processo avaliativo baseado no currículo e nas adaptações deste, expondo ideias que reforçam o sucesso destas adaptações. Com o foco voltado para a avaliação da aprendizagem, este artigo apresenta também um olhar sobre metodologias tradicionais e a importância de uma mudança constante, deixando para trás o simples ato de julgar e passando a enxergar o educando, mesmo com suas limitações, como um ser único e capaz de aprender.
O presente artigo justifica-se por refletir o processo avaliativo de alunos com deficiência com olhares que ultrapassam as ideias tradicionais que se tem sobre a aprendizagem, da responsabilidade das instituições de ensino na formação de todos os alunos, e das funções avaliativas como atividades que proporcionam novas ideias e adaptações que atinjam alunos inclusos e não inclusos, sempre levando em contaas diferenças e o ritmo de cada um.
Desenvolvimento 
O direito Universal à educação e à escola para todos é garantido por lei e faz parte da realidade do Brasil, e os estabelecimentos de ensino regular do país têm a obrigatoriedade legal de acolher a todos. O Artigo 205 da Constituição Federal de 1988 nos mostra que:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
 O Artigo 58 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN n° 9394/96) trata da avaliação do grau de deficiência, ofertando a estadia escolar ao educando com necessidades educacionais especiais em estabelecimentos de ensino regular, dispõe sobre a mobilização de recursos e de pessoal especializado para atendimento individualizado. Caso o aluno não possa ser assistido em determinada instituição, será dever do Estado prover alguma outra que o atenda em suas necessidades.
Art. 58. Entende-se por educação especial para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.
§ 1° Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.
§ 2° O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.
§ 3° A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.
O artigo 59 da LDBEN (9394/96) dispõe mais especificamente sobre procedimentos didáticos, pedagógicos e metodológicos que garantam ao educando uma aprendizagem efetiva.
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:
I – Currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades;
II – Terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;
III – Professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comum;
IV – Educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V - Acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
E o artigo 60 da LDBEN (9394/96) dispõe sobre questões burocráticas e a regulamentação de instituições filantrópicas que trabalham com a finalidade em educação especial.
Art. 60. Os órgãos normativos do sistema de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo poder público.
Parágrafo único. O poder público adotará, como alternativa a preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo.
A lei garante a inclusão, e esta faz parte do cotidiano de muitos professores e instituições de ensino, mas infelizmente, dentro de muitas escolas a realidade vivida nem sempre acarreta em casos de sucesso. Por se tratar de algo novo, ainda existem metodologias que não atingem de forma eficaz os alunos de educação especial, e muitas vezes os casos de insucesso resultam de pensamentos arcaicos, uma vez que não é tão fácil lidar com a complexidade da educação especial. O pensamento renovado será sempre o melhor caminho. E sobre a importância das escolas regulares com orientação para a educação inclusiva, a Declaração de Salamanca nos diz:
[...] as escolas regulares com orientação para educação inclusiva são o meio mais eficaz no combate as atitudes discriminatórias, propiciando condições para o desenvolvimento de comunidade Integradas, base da construção da sociedade inclusiva e obtenção de uma real educação para todos (DECLARAÇÃO..., 1994, p.9).
A cognição se dá mediante a vivencia, e cada pessoa apresenta uma forma diferente de olhar para o mundo. O processo de avaliação deve considerar também esses olhares, e ter a sensibilidade de entender cada aluno além do ambiente escolar, com suas vivencias e necessidades que ultrapassam a sala de aula e que pesam no processo de ensino-aprendizagem.
A principal meta é usar a avaliação de forma diferenciada, indo além da aprovação ou reprovação. Ou seja, a avaliação não deve ser um ponto final que julga o saber e o não saber. Ela deve estreitar a obtenção e assimilação de informações tanto dos alunos, como também dos professores, e este, por sua vez, deve usar da avaliação como referencial para seguir o planejado ou mudar de estratégia, se baseando no desempenho dos educandos. Já para o aluno, a avaliação deve servir como instrumento viabilizador de aprendizagem, mostrando que se pode percorrer diversos caminhos para se chegar a um resultado esperado.
Sendo assim, as ideias que se tem sobre avaliação devem considerar as diferenças e limitações, para que alunos de ensino especial não sejam prejudicados por não poderem aprender como os demais. Acerca destas concepções, Hernandes nos mostra que:
Avaliação deve ser formativa, humana, inclusiva e coerente com o dinamismo da sociedade contemporânea, considerando as implicações para o aluno. Pode-se afirmar que o ensino, a aprendizagem e avaliação são partes integrantes de um processo, que é o currículo, não devendo ser consideradas isoladamente (HERNANDES, 2001).
Pode-se entender que é preciso, antes de mais nada, conhecer alguns fatores muito importantes que cerceiam a aprendizagem, o aspecto comportamental, os interesses e carências do educando incluso. Na formulação do planejamento deve-se incluir estratégias que façam com que essas dificuldades sejam superadas pelo aluno, dando a este a possibilidade de aprender e ao professor de ensinar, sempre dentro do conteúdo que é ofertado a toda turma. O currículo compõe esses fatores, que estão ligados entre si resultando em um todo.
Repensar o conceito de avaliação é repensar caminhos educacionais, novas ideias de aquisição do saber, do ensino propriamente dito, de educação e de ambiente escolar. Levando, inevitavelmente, ao pensamento de reformulações, de um Projeto Político Pedagógico que objetiva além do conteúdo escolar, também o aspecto moral, visando a formação de cidadania, e desmistificando a padronização. Sobre este aspecto conceitua-se que:
A avaliação sempre teve um papel de destaque na educação. Muitas vezes de preocupação. Na grande maioria das escolas, uma imposição. No caso de crianças com necessidades educativas especiais, quais são os procedimentos mais recomendados no que se refere à avaliação? Ou, como avaliar alunos de classes com educação inclusiva? Há múltiplos olhares, mas certamente há aqueles olhares que não abrem mão da avaliação do aluno. Esses olhares podem salopar a pretensão altiva da normalização, que não é mais do que a violenta imposição de uma suposta identidade, única, fictícia e sem fissuras, daquilo que é pensado como o normal. (SILVA, 1997; SKLIAR, 2003).
Entende-se que normalizar é o mesmo que escolher de forma arbitrária uma uniformização deidentidade, fazendo com que esta seja a única legítima e adequada aos padrões. E nessa ótica os portadores de necessidades educacionais especiais não se enquadram e também não conseguem quebrar as barreiras da convivência e da aceitação. Por isso o Projeto Político Pedagógico e avaliação devem caminhar juntos. Neste sentido, Vasconcelos nos mostra que:
Avaliação é uma questão político-pedagógica, e deve contemplar as concepções filosóficas do ser humano, de educação, de sociedade, o que implica uma reflexão crítica e continua da prática pedagógica da escola e de sua função social. Avaliar é acolher o aluno integralmente e, a partir daí decidir o que fazer, e como fazer. A ação avaliadora oferece subsídios para o educador refletir sobre suas práxis. (VASCONCELOS, 1994).
Dessa maneira, compreende-se que as condições sociais, afetivas, motoras e cognitivas compõem a essência de um ser humano. Todos esses fatores devem ser levados em consideração e são de suma importância na formação. Por isso, o processo avaliativo educacional deve pesar também esta essência, e não apenas a capacidade de assimilação de conteúdo. Assim como o resultado da metodologia proporciona ao professor uma reflexão do seu planejamento prévio.
As lutas que remetem à valorização e ao reconhecimento das diferenças são uma constante nos dias atuais, seja no ambiente escolar ou qualquer outra área da atmosfera social do indivíduo, para que alunos e quaisquer outros cidadãos tenham direito ao espaço que lhes cabe na sociedade, podendo ter suas necessidades supridas de forma igualitária. É de suma importância ofertar um suporte que atenda a essas necessidades e complexidades dos educandos, para que assim, se tenha de fato a equidade no processo avaliativo, levando em conta as diferenças e contribuindo para um processo igualitário de progressão. Luckesi nos diz que não podemos nos esquecer de que avaliação é um processo que não se dá nem se dará num vazio conceitual (Luckesi, 199, p. 28).
Destaca-se, que na avaliação, técnicas modificadas e suas instrumentalizações, a inserção da especificidade de critérios e a abolição de critérios promocionais devem ser levados em consideração.
Quando a avaliação se torna igualitária para educandos inclusos e não inclusos, o ambiente escolar, por sua vez, se torna mais democrático e abrangente, colaborando com a possibilidade de tantas formas que se tem de aprender. Essa visão de avaliação usa como ponto de partida a ideia de que todos têm capacidade de aprender, e de que todas as atividades no âmbito escolar são planejadas e findadas nesse grande leque de possibilidades que é a capacidade de aprendizagem por parte dos alunos.
Segundo Luckesi (1994, p. 196), “A avaliação é uma apreciação qualitativa sobre dados relevantes do processo de ensino e aprendizagem que auxilia o educador a tomar decisões sobre o seu trabalho. ”
Nesse sentido, Tyler (1973, p.105) nos diz: “... o processo de avaliação é essencialmente o processo de determinar até que ponto os objetivos educativos foram realmente alcançados, mediante os programas de currículos de ensino. ”
Entende-se que o processo de avaliar reflete o anterior planejamento curricular, e a avaliação permite ao educador a constatação da eficácia ou não do currículo, podendo assim mantê-lo, ou replanejá-lo.
Avaliação fornece ao professor, de forma direta a coleta de dados para a verificação de aprendizagem dos alunos, e indiretamente proporciona uma análise mais abrangente da qualidade curricular e da metodologia de ensino adotada. Quando o processo avaliativo mostra resultados ascendentes, o professor tem a possibilidade de pautar pontos importantíssimos do seu trabalho. Ainda nesse sentido o processo de avaliação funciona como um retorno que auxilia no planejamento de ações de sucesso em sala de aula, sempre focando no aperfeiçoamento do ensino e da aprendizagem.
Gêneros de avaliação
Quando se fala em avaliação, diversos são os conceitos acerca do assunto. E sobre isso Both (2012), nos mostra que:
Se solicitássemos às pessoas em geral que formulassem conceitos de avaliação, com certeza, surgiriam inúmeros, mas, possivelmente, nenhum deles teria o mesmo teor e sentido. O que quero dizer é que não existe consenso absoluto sobre o conceito de avaliação aplicada à aprendizagem e ao desempenho humano, nem mesmo entre os corpos docente e discente. BOTH (2012, p. 102).
 
É possível compreender que não existe uma fórmula a ser seguida como padrão para o processo de avaliação, e nesse sentido o autor acrescenta que: “A divergência entre os conceitos de avaliação da aprendizagem nos meios educacionais e sociais não é um problema. O importante é que, seja qual for a perspectiva adotada, a avaliação prime pelo favorecimento da aprendizagem. ” (BOTH,2012, p.103).
Entre tantas particularidades e tópicos, o processo de avaliação evolui conforme os avanços e desenvolvimentos de pesquisa. Na realidade em sala de aula as perspectivas são variadas, e todos os aspectos que circundam o ambiente de ensino-aprendizagem são considerados no planejamento da avaliação. Com a ótica voltada para a avaliação, sendo esta, parte do processo de ensino-aprendizagem satisfatório, tem-se as concepções de avaliação de Luckesi (2001) e Perrenout (1999) que abordam as ideias de uma avaliação seletiva, visando o potencial dos melhores, um modelo de avaliação que mantém a ordem social e hierarquizada, e também o modo avaliativo que enxerga e trabalha a diferença visando o enriquecimento escolar e social.
No livro Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições, Luckesi (2001, p.63-84-85-118) discorre sobre três tipos de avaliação. A primeira é a avaliação classificatória, que se mostra disciplinatória quando se espera obediência por parte dos educandos, é também julgadora, separando o bom e o mau aluno, e estigmatizante, segregando alunos de baixo rendimento e rotulando-os como insuficientes, desqualificando-os e prejudicando ainda mais seu rendimento, fazendo com que os mesmos se sintam incapazes perante os demais. Sobre a visão da sociedade sobre os métodos de seleção e o papel do educador acerca deste método, Luckesi nos diz:
A curva estatística, dita normal, permanecerá normal. Assim sendo, a sociedade definida permanece como está, pois, a distribuição social das pessoas não pode ser alterada com a pratica pedagógica, mesmo dentro de seus limites [...] a gana conservadora da sociedade permite que faça da avaliação um instrumento nas mãos do professor autoritário para hostilizar os alunos, exigindo-lhes condutas das mais variadas, até mesmo as plenamente irrelevantes. Por ser “autoridade”, assume a postura de poder exigir a conduta que quiser, quaisquer que sejam. LUCKESI (2001, p. 84-85).
O segundo tipo de avaliação é a diagnostica, a qual o autor nos diz que, “se investimos no processo, o resultado da aprendizagem, manifestado pelo estudante vai ser qualificado em satisfatório ou em insatisfatório”. O autor acrescenta ainda que, “se for satisfatório está bem; porém, se for insatisfatório, há que se intervir para que a aprendizagem se manifeste satisfatória”. (LUCKESI, 2001, p.63). Entende-se que a avaliação diagnóstica tem a finalidade de conhecer o nível de conhecimento de cada educando, para que o educador invista em estratégias que visam o resultado da aprendizagem (processo) e não apenas a nota (produto), visando com isso o desemprenho satisfatório do aluno.
E por fim, o autor aborda a avaliação participativa. Uma vez concluída a avaliação diagnóstica, a avaliação participativa aborda os acertos e erros de forma acolhedora, visando a descoberta da linha de raciocínio que se usou para se chegar ao resultado. Luckesi (2001, p. 118) aponta que, “os resultados deverão ser utilizados para diagnosticar a situação do aluno, tendo em vista o cumprimento das funções de autocompreensão”.
Perrenoud (1999, p. 36), por sua vez, no livro Avaliação da excelência à regulação das aprendizagens: entre duas logicas, enfatiza dois modelos de avaliação: tradicionale formativa. O autor nos diz que:
As hierarquias de excelência escolar teriam menos peso, durante a escolaridade e depois dela, se os principais interessados duvidassem da realidade de certas desigualdades que elas pretendem “refletir”, nem mais, nem menos [...] graças a essas crenças – fundadas ou não -, é possível transformar os julgamentos de êxito ou fracasso e depois tomar, como base nisso, decisões graves, que afetam a progressão no curso, a orientação ou certificação. PERRENOUD (1999, p. 36).
Pode-se entender que a avaliação tradicional aumenta as desigualdades e exclusões sociais, uma vez que trata todos como iguais, no sentido de capacidade de aprender, sem levar em consideração as necessidades e diferenças presentes em sala de aula.
A avaliação formativa, por sua vez, não se distancia da didática, não se preocupando com a classificação ou seleção, mas sim como uma intervenção que solucione as causas das dificuldades enfrentadas pelos alunos, como nos diz Perrenoud (1999, p. 164). “A avaliação formativa assume todo seu sentido no âmbito de uma estratégia pedagógica de luta contra o fracasso e as desigualdades, que está longe de ser sempre executada com coerência e continuidade”.
Pode-se conceituar que os autores concordam que a avaliação pode ser contrária ao processo de ensino-aprendizagem quando a mesma não se atenta às diferenças compondo um sentido hierárquico e julgador, e por outro lado, a avaliação com um sentido estratégico e focado em soluções para as necessidades individuais e desigualdades pode tornar a aquisição do saber em um processo mais justo e humanizado.
A importância do Currículo Adaptado na avaliação de alunos inclusos
A adaptação curricular torna o espaço escolar e as oportunidades de aprendizagens mais justos e igualitários. Acerca desta ideia a Declaração de Salamanca nos diz que:
O princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentam. Estas escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos, através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as respectivas comunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoios e de serviços para satisfazer o conjunto de necessidades especiais dentro da escola. (UNESCO, 1994, p. 11-12).
Conclui-se que a escola deve atender às diferenças, considerando a capacidade de aprendizagem conforme o ritmo de cada aluno inserido em sala de aula. Por isso a importância da adaptação da escola às necessidades educacionais de cada aluno, onde se insere também a relevância de currículo adaptado. Ainda nesse sentido, a avaliação por sua vez, não será um critério de cobrança pelo erro, ou reforço para obediência comportamental, mas sim uma minuciosa análise de todo o processo que serve para reorganização e o replanejamento das ações em sala de aula.
O currículo adaptado é uma oportunidade de aprendizagem democrática nos estabelecimentos de ensino. Parte do princípio de que existe um currículo comum a ser seguido por todos os alunos, e que o foco principal deixa de ser as diferenças e limitações e passa a ser a capacidade de aprendizagem individual de cada educando. Com a ótica voltada ao ensino, entende-se que a adaptação curricular é instrumento oportunizador e não facilitador, uma vez que todos os alunos passam por desafios escolares, sejam eles portadores de necessidades educacionais especiais ou não. De acordo com Beyer (2006, p. 75):
O projeto Político Pedagógico inclusivo [...] objetiva não produzir uma categorização “alunos com e sem deficiência, com e sem distúrbios, com e sem necessidades especiais” (a adjetivação é ampla e fluente, conforme os vários diagnósticos possíveis). Para tal abordagem educacional não há dois grupos de alunos, porém apenas crianças que compõe a comunidade escolar e que apresentam necessidades variadas.
Percebe-se que a adaptação curricular não se baseia no acréscimo de atividades específicas para determinado grupo de alunos, tampouco na exclusão de conteúdos imprescindíveis para a formação do saber, aos quais todos os educandos devem ter acesso igualitário. Sobre a consideração da diversidade, os Parâmetros Curriculares Nacionais nos dizem que:
A escola, a considerar a diversidade, tem como valor máximo o respeito às diferenças, não o elogio à desigualdade. As diferenças não são obstáculos para o comprimento da ação educativa; podem e devem, portanto, ser fator de enriquecimento. (PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais, p. 96-97).
Entende-se, portanto, que inclusão não segrega e nem libera caminhos para vantagens ou privilégios, por isso todas as atividades devem ser executadas por todos os alunos, inclusos ou não. Uma vez que o real papel da inclusão é a convivência harmoniosa entre as diferenças, e não uma meta de padronização a ser alcançada por todos.
Considerando cada educando de maneira singular, com suas vivências particulares e necessidades educacionais específicas, o ato de avaliar não deve seguir os mesmos critérios e medidas. Cada especificidade pede um olhar distinto que se desvincula dos padrões, ofertando assim o máximo de proveito em todo o processo para alunos e professores.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - Adaptações Curriculares (Brasil, 1999) a avaliação do aluno com necessidades especiais deve focalizar:
[...] o processo avaliativo deve focalizar: o contexto da aula (metodologias, procedimentos didáticos, atuação do professor, relações interpessoais, individualização do ensino, condições físico-ambientais, flexibilidade curricular etc.) o contexto escolar (projeto pedagógico, funcionamento da equipe docente e técnica, currículo, clima organizacional, gestão, etc.) (Brasil, 1999, p. 57).
A flexibilização curricular, o replanejamento das ações propostas e a reflexão do real sentido de incluir, são alguns caminhos da educação inclusiva. E esses aspectos tornam a avaliação de alunos com necessidades educacionais especiais, mais coerentes. Uma avaliação justa, resultante de um ensino que inclui, acolhe e respeita as diferenças, contribui com a formação de uma sociedade que enxerga as diferenças como algo naturalmente habitual. Sobre esse aspecto, Jonsson nos diz que:
Para que as pessoas com deficiência realmente pudessem ter participação plena e igualmente de oportunidade, seria necessário que não se pensasse tanto em adaptar as pessoas à sociedade e sim em adaptar a sociedade às pessoas. (JONSSON, 1994, p. 61).
Conclui-se que o processo de incluir deve tornar o cidadão como parte integrante da sociedade, uma vez que as diferenças não podem ser vistas como uma problemática a ser resolvida, mas sim uma oportunidade de convivência respeitosa e tolerante, onde cada ser tem as suas necessidades admitidas, compreendidas e supridas.
2. CONCLUSÃO 
A inclusão escolar prevista por lei mantém os holofotes voltados para a sua direção, tanto por sua importância como por sua complexidade. E no processo de avaliação, o olhar voltado de forma singular para cada educando é peça fundamental para a oportunidade igualitária e democrática, onde a visão do educador é capaz de transformar a realidade do educando
Quando todos têm a mesma chance de aprender tem-se o enriquecimento da convivência nos estabelecimentos de ensino, e os itens que compõem o currículo passam a ser instrumentos que viabilizam o processo de ensino-aprendizagem, por isso a importância do planejamento coerente do mesmo, que uma vez bem pensado acarreta em ações de sucesso.
O conceito de avaliação tradicional, tão estigmatizante para os diferentes, deve ceder espaço para novas reflexões acerca de metodologias e aplicabilidade de ações, excluindo-se assim a visão do julgamento embasado apenas no certoe errado, passando a focar na essência do ser e na formação do cidadão.
Avaliação exerce papel fundamental no âmbito escolar e cotidiano, uma vez que julgamentos, qualificações e desaprovações fazem parte da vivência humana. Por outro lado, existe a necessidade de uma avaliação despadronizada, pois os ritmos e as necessidades de cada educando não seguem um padrão predeterminado. E nesse sentido, a avaliação resulta de um planejamento e de uma metodologia que inclua essas diferenças.
Entendendo as concepções e métodos de avaliação apresentados neste artigo, sabe-se que um currículo que oferte o suporte e atendimento às necessidades individuais garante um ensino, uma aprendizagem e uma avaliação justos e igualitários, pensados de forma a incluir a todos os alunos. E o resultado dessas ações traz a reflexão e o possível aperfeiçoamento deste currículo.
A adaptação curricular tem como seu principal foco as inúmeras possibilidades de realização de uma mesma ação por alunos com as mais diversas necessidades educacionais especiais, oportunizando a aquisição do saber através de adequações previamente pensadas. Extinguindo-se o conceito de facilitação ou vantagem, e viabilizando de fato a participação de toda a comunidade escolar.
Entendendo que as limitações e dificuldades devem ser considerados na composição curricular, deve-se estreitar as barreiras das diferenças, fazendo com que estas sejam parte da vivência habitual, considerar e cumprir o currículo adaptado, partindo da capacidade e da necessidade individual, entender cada educando como ser único, e ter como base o respeito às diferenças, são itens indispensáveis para uma avaliação justificável e funcional que enxerga além da sala de aula a formação de educandos em cidadãos do amanhã, sendo estes construtores de um mundo mais justo, igualitário e inclusivo.
REFERÊNCIAS
BEYER, Hugo Otto. Por que Lev Vygotsky, quando se propõe uma educação inclusiva? Revista do Centro de Educação. Edição n° 26, 2006. Disponível em: http://coralx.ufsm.br/vevce/ceesp/2005/02/a7.htm - Acesso em 20/03/2019
BOTH, Ivo José. Avaliação: “voz da consciência” da aprendizagem. Curitiba.InterSaberes, 2012.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: adaptações curriculares. Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1999.
_____. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_205_.asp – Acesso em 05/04/2019. 
_____. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: n° 9394/96. Brasília: 1996.
GADOTTI, M. Educação e poder: introdução à Pedagogia do conflito. São Paulo. Cortez, 1984.
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JONSSON, T. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: wva, 1997.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 1996.
PERRENOUD, Phillippe. Avaliação Da Excelência à regulação das aprendizagens – entre duas logicas. Porto Alegre: Artes Medicas Sul, 1999.
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TYLER, R. W. Princípios Básicos de Currículo e Ensino. Porto Alegre, Globo, 1973. 
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VASCONCELOS, Celso Santos. Avaliação: Concepção Dialética – Libertadora do Processo de Avaliação Escolar, São Paulo: Libertad, 1994.

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