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Fichamento_de_O_Principe_de_Nicolau_Maqu

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Fichamento da obra: “O Príncipe”
NICOLAU MAQUIAVEL
Claudemir Carlos Pereira – RA 131126725
Ciências Sociais – 1° Ano - Diurno
Araraquara, 26 de setembro de 2013.
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DADOS DA OBRA
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo, Nova Cultural, 1999.
INTRODUÇÃO
Nicolau Maquiavel (1469-1527) nasceu em Florença, na parte central da península Itálica. Cresceu e foi educado em ambiente culto, pois seu pai era jurista do Principado e relativamente abastado. De 1478 a 1492, Florença foi governada por Lourenço de Médici, cognominado o Magnífico, importante poeta e patrono das artes do Renascimento Italiano. Na Itália do Renascimento reina grande confusão, a tirania impera em pequenos principados, governados despoticamente por casas reinantes sem tradição dinásticas e ou direitos contestáveis. A ilegitimidade do poder gera situações de crise e instabilidade permanentes. Somente o cálculo político, a astúcia, a ação rápida e fulminante contra os adversários são capazes de manter o príncipe. É nesse panorama de crise política que Maquiavel escreve sua obra mais famosa, O Príncipe, um valioso legado e conjunto de ideias elaboradas para a prática política, cujo objeto de suas reflexões é a realidade política, pensada como prática humana concreta, e o centro maior de seu interesse é o fenômeno do Poder.
IDÉIA CENTRAL
O Príncipe foi um manual (para época, no caso o Renascimento Cultural do Século XVI, eram também conhecidos como espelhos), escrito e destinado a um príncipe com o intuito de ensinar, ao mesmo, de como conquistar os Principados e como mantê-los.
OBJETIVO
Maquiavel trata com seus escritos, a temática referente à Conquista e Manutenção do fenômeno do Poder.
PROBLEMATIZAÇÃO
Maquiavel rompe com a realidade política de sua época, ou seja, rompe com os princípios morais e cristãos, as virtudes ditas clássicas, que de sua ótica, não servem para governar. Procura através de seus escritos, os fundamentos para legitimar o Poder. Ensina, ao príncipe, através de um estudo profundo da Antiguidade Clássica e juntamente com uma leitura dos fatos de sua época, mostrar através dos exemplos de personagens históricos, que nem sempre, a realidade política, dissecada á moda do Renascimento, é virtuosa, e que para manter o poder, o príncipe precisa fazer o que for necessário dado as circunstancias, sendo bom ou mau aquilo que for preciso para conquistar e manter o seu Poder.
RESUMO LÓGICO
Em linhas gerais, estarei estruturando este resumo, para fins didáticos e para melhor compreensão, conforme Arnaldo Cortina (1994) da seguinte forma:
Do Capítulo I ao XI: Maquiavel discorre sobre as diversas formas de principados e o modo através do qual podem ser adquiridos e mantidos;
Do Capítulo XII ao XIV: O objeto de sua análise é a necessidade da formação e organização das Forças Armadas e da análise da Arte da Guerra;
Do Capitulo XV ao XIX: Maquiavel tem como objetivo e reflexão a forma de como o Príncipe de proceder para continuar no Poder;
Do Capitulo XX ao XXIII: Assuntos de especial interesse do príncipe e as escolhas dos Ministros;
Do Capitulo XXIV ao XXVI: Contextualiza a situação da Itália em sua época.
DOS PRINCIPADOS
Capítulo I: Neste capitulo Maquiavel especifica os tipos de Principados e os modos pelos quais se conquistam. Conforme escreve: “(...) Os Principados ou são hereditários, e tem como senhor um príncipe pelo sangue (...)” (37). Neste caso é herdado pelo laço de sangue, e o outro tipo de principado, Maquiavel especifica como sendo “novo” e geralmente são adquiridos pela junção a um Estado adquirido.
Capítulo II: Maquiavel exorta o príncipe sobre o cuidado de não abandonar as tradições de seu antecessor, e orienta, sobre como o príncipe deve contemporizar com as situações novas e inusitantes. Ensina o príncipe a agir com inteligência comum para preservar o seu Estado, de forma que se faça amado e benquisto pelo povo, evitando ser odiado pelo mesmo. Cita alguns exemplos, sem muito aprofundamento, no caso do Duque de Ferrara e do Papa Júlio. Finaliza com o conselho sobre a facilidade do esquecimento de obras pelo povo, obras estas que sempre sofrem inovações e mudanças, e antecedem a edificação de outra.
Capítulo III: Maquiavel escreve sobre as dificuldades encontradas pelo príncipe quando conquista novos principados. “(...) Dessa maneira, teus inimigos são todos os que se acham ofendidos porque ocupas o principado; e não podes considerar amigos os que ali te colocaram, pois que não podem estes ser satisfeitos como desejavam (...)” (41). De acordo com a natureza desses principados, é uma dificuldade comum, que os homens trocam com boa vontade de senhor, acreditando melhorar, e essa crença faz com que sejam volúveis e tomem armas contra o senhor atual. Maquiavel discorre das dificuldades encontradas pelo príncipe, quando conquista principados com línguas, hábitos e leis distintas, e exorta ao príncipe para agir de forma impetuosa e com grande capacidade para conservar o seu governo. “(...) Note-se que os homens devem ser mimados ou exterminados (...)” (43). Em outro trecho, Maquiavel compara os problemas do Estado com os problemas de saúde, ou seja, que todo príncipe prudente deve agir não apenas provendo o presente e sim também antecipando e precavendo o futuro das coisas. “(...) Se aos males se conhece com antecedência, o que é concedido apenas aos homens prudentes, rapidamente se pode curá-los; mas se, por estes ignorados, aumentam ao ponto de a todos se darem a conhecer, não terão aqueles males, mais remédios (...)” (45). Neste capítulo, relata os feitos do rei Luís XII da França, que tomou a cidade de Milão num átimo e num átimo a perdeu, pois este príncipe incorreu em atos e erros que causaram sua ruína, pois não era prudente e virtuoso, pois para Maquiavel: “(...) O desejo de conquistar é natural e comum, e os homens capazes de satisfazê-lo sempre serão louvados, jamais criticados (...)”(47).
Capítulo IV: Continuando sua argumentação de como manter os principados conquistados, Maquiavel usa do exemplo de Alexandre, o Grande; tendo este em poucos anos dominado a Ásia, e falecido logo após conquistar aqueles Estados, não hajam eles se rebelado contra os seus sucessores, no caso seus generais. Maquiavel escreve: “(...) Responderei que os principados cuja memória se mantém foram de duas maneiras governados: ou por um príncipe e auxiliado por seus ministros, os quais, no governo são servos e o exercem apenas, por favor, e concessão do senhor; ou por um príncipe e seus barões, os quais, não por graça daquele, mas por tradição de família; tem essa qualidade (...)” (49). No primeiro caso, os Estados governados por um príncipe e seus ministros, tem mais autoridade o príncipe, porque em seu principado inteiro não existe quem lhe seja superior; este uma vez perdendo seu principado, seu nome é facilmente esquecido e seu poder passa a outro. E no segundo caso, os barões tem posses e súditos próprios, que como senhores, estes os reconhecem e lhes devotam afeição natural, dificultando assim a um novo príncipe tomar o poder, pois a memória de seu antecessor é lembrada pela tradição. Alexandre fora bem sucedido na Ásia, pois encontrara um sistema de governo dirigido por um príncipe e seus ministros, e uma vez morto esse príncipe e eliminado seus ministros, o reino foi facilmente conquistado.
Capítulo V: Neste capítulo, Maquiavel chama a atenção do príncipe para a temática de como manter os Estados conquistados, que outrora possuíam leis próprias. Já no inicio do capítulo, orienta da seguinte maneira: “(...) Três maneiras há de preservar a posse de Estados acostumados a governar por leis próprias: primeiro, devasta-los; segundo, morar neles; terceiro, permitir que vivessem com suas leis, arrecadando um tributo e formando um governo de poucas pessoas (...)” (53). Maquiavel recorre aos fatos históricos da Antiguidade Clássica para validar a sua ideia, ou seja, de acordo com os exemplos: dos espartanos, mesmo com um governo oligárquico,instituído em Tebas e Atenas, perderam-nas. No caso dos romanos, em alguns momentos usaram da força e devastaram as “leis” nas cidades-estados africanas e foram bem sucedidos, porem fracassaram no caso das cidades-estados gregas, ao deixa-las livres com suas leis e ao final tendo que recorrer à força e destruir muitas cidades gregas para permanecerem no poder. Em linhas gerais, no final, Maquiavel exorta “que para preservar o poder, resta ao príncipe optar pela destruição desses Estados ou passar a residir neles”.
Capítulo VI: Maquiavel orienta o príncipe a empreender pelos caminhos daqueles que foram bem sucedidos em seus governos, cita exemplos da história para incentivar ao príncipe a agir da mesma maneira, embora exorte que é impossível seguir á risca dado as circunstâncias de cada momento. Através dos exemplos dos grandes personagens, Maquiavel procura mostrar ao príncipe que este precisa ser virtuoso e corajoso, independente das dificuldades que forem impostas ao seu governo. O trabalho será difícil, principalmente no estabelecimento de uma nova ordem e de novas leis, mas que sendo virtuosos esses perigos e infortúnios serão superados.
Capítulo VII: Maquiavel faz uma leitura e interpretação acerca dos principados que são conquistados por certa facilidade, ou seja, pelas armas e fortuna de outros. Maquiavel discorre acerca do pouco esforço que os príncipes neste caso dispõe para dominar e como é penosa a preservação de seu Estado: “(...) O fato é que, como já foi dito, aqueles que não preparam antes os alicerces somente serão capazes de executar depois esse trabalho caso possuam grande capacidade, mas para desgosto do arquiteto e perigo para a construção (...)” (60). Maquiavel dado o comentário acima, repassa e ilustra tal fato com os relatos de príncipes de sua época. Orienta que nestes casos, é necessário ao príncipe ter espírito forte e ambição, fazer o que for necessário para manter o poder e dominar as armas e as leis: “(...) Portanto, se acreditas necessário, num principado novo, proteger-te contra os inimigos, fazer amigos, vencer seja pela força seja pela astúcia, tornar-te amado e temido pelo povo, ser seguido e respeitado pelos soldados, eliminar aqueles que podem ou devem ofender, renovar as instituições antigas por novas leis, ser severo e grato, magnânimo e liberal, acabar com a milícia desleal e formar uma nova, contar com as amizades de reis e príncipes, de sorte que te sejam solícitos no benefício e temerosos em ofender-te. (...)” (65).
Capítulo VIII: Maquiavel analisa os casos dos príncipes que conquistam o poder através da perversidade, por meios criminosos, contrários ás leis humanas e divinas, e também, sobre os príncipes que sobem ao poder pela maldade de seus compatriotas. Para exemplificar seu comentário, cita dois casos, um da Antiguidade – Agátocles Siciliano de Siracusa e um dos seus dias na Itália – Oliverotto de Fermo. “(...) Julgo que isso é resultado do modo como os atos de crueldade são bem ou mal praticados. Pode-se chamar de bem empregados (se for possível falar bem do mal) os que são executados de uma só vez, por causa da necessidade de cuidar da própria segurança, e que depois são colocados de lado, tornando-se, tanto quanto possível, benefícios para os súditos. Mal empregados são aqueles que, embora de início poucos, aumentam em vez de extinguir-se com o tempo (...)” (70). Para o primeiro caso, Maquiavel através de sua análise, escreve que é possível, ao príncipe, com a ajuda de Deus e dos homens, remediar as consequências (exemplo de Agátocles) e no segundo caso é impossível conservar-se no poder e manter a própria vida.
Capítulo IX: Neste capítulo, Maquiavel exemplifica outro caso de posse de principado, neste escreve sobre o principado civil, que não é conquistado, nem pela força e nem pela violência, mas sim pela conveniência de seus cidadãos, e o príncipe para alcança-lo, não necessita de muitos méritos e nem grande fortuna. Neste caso, estabelece uma dialética do poder, conforme escreve: “(...) Isso vem do fato de que o povo não quer ser governado nem oprimido pelos poderosos, e estes desejam governar e oprimir o povo (...)” (73). Destes dois apetites distintos resulta em principados, liberdade e desordem, e através do texto, Maquiavel trata dessa fina linha tênue do poder e seus cuidados. Para o príncipe, é necessário ser amigo do povo e obter o apoio dos poderosos. Sem o apoio do povo, nunca o príncipe estará seguro da hostilidade e sem o apoio dos poderosos, fica a mercê do abandono e do ataque. Conclui-se, que é necessário o príncipe ser prudente e pensar nos modos de agradar aos súditos (povo e poderosos) e destes serem necessários ao Estado, obtendo assim a lealdade em seu principado.
Capítulo X: Maquiavel discorre sobre a necessidade do príncipe, sendo este detentor de muito poder em seu Estado, preservar a si mesmo e ao seu principado, tendo este abundância de homens e riquezas, organizar um exército poderoso e próprio para defender-se de seus inimigos. Para isto é necessário, além do poder e das riquezas, ser temido pelo povo e pelo exército, conduzindo-os através de leis apropriadas, construir muralhas, ter uma boa administração de víveres, para em caso de guerra ou sítio, manter seu povo unido e seguro contra os seus inimigos. 
Capítulo XI: Maquiavel escreve sobre os principados eclesiásticos, em resumo, são principados dados a todo tipo de dificuldades e se conquistam através do mérito ou da fortuna. Discorre acerca de como se sustentam e mantem-se, devido à força e o poder da religião. Para Maquiavel são os únicos Estados que não se defendem não se governam e tem súditos. Estes embora aparentemente indefesos, não lhe são tirados e seus súditos, embora não são governados, não se livram de seus príncipes e nem o podem fazer e dessa maneira são os mais seguros e felizes. Pelo fato destes principados serem dirigidos por poderes divinos e que a razão do homem não alcança, são instituídos e mantidos por Deus. Maquiavel indaga sobre como a Igreja chegou a tanta grandeza no poder temporal, das façanhas de seus papas e suas virtudes, para estabelecer e preservar este poder.
ORGANIZAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS E ARTE DA GUERRA
Capítulo XII: Uma vez instituídos e conquistados os principados, Maquiavel discorre da necessidade de um príncipe estabelecer alicerces sólidos, e os principais fundamentos dos Estados, são terem boas leis e boas armas. Orienta o príncipe a evitar possuir exércitos de mercenários ou mistos, pois estará sujeito a ruína e exorta a ter as suas próprias armas e constituir um exército próprio, pois assim garante a sua segurança e a de seu povo.
Capítulo XIII: Através dos exemplos históricos, Maquiavel orienta o príncipe de como é necessário ser prudente e não se utilizar de forças mercenárias e mistas e que nenhum principado está assegurado se não tiverem suas próprias forças, estará ao sabor da fortuna e que nos momentos adversos não há virtude que o defenda. Exorta o príncipe sobre a necessidade de regulamentar e treinar seu próprio exército.
Capítulo XIV: Dado á época, neste capítulo, Maquiavel exorta o príncipe, que não deve ter outro objetivo, que não seja a guerra, seu regulamento e a disciplina de seus exércitos. O príncipe deve se preocupar sempre com a arte da guerra, seja pela prática ou pelo pensamento, e recomenda que este deva ler histórias de países e avaliar as ações dos grandes homens. Para Maquiavel: “(...) Um príncipe sábio deve prestar atenção a essas coisas e jamais permanecer ocioso nos tempos de paz; ao contrário, deve, com astúcia, ir juntando cabedal de que se possa servir nas adversidades, para sempre estar pronto a opor-lhes resistência (...)” (97).
MANUAL DE CONDUTA PARA O PRÍNCIPE
Capítulo XV: Neste capítulo, Maquiavel discorre sobre a questão da conduta do príncipe para continuar no Poder. Segundo o autor: “(...) Julguei adequado procurar a verdade pelo resultado das coisas, mais do que por aquilo que delas se possa imaginar (...)” (99). Maquiavel procura orientar o príncipe,dissecando a realidade das coisas e dos fatos, mostrando ao mesmo a natureza dos homens, para ele ninguém é virtuoso, segundo a moral e a religião. Os homens são maus, dado as paixões, volúveis e invejosos. Para Maquiavel o príncipe precisa aprender a ser mau, e que se sirva ou não disso de acordo com a necessidade. Neste capítulo, expõe as virtudes e os vícios dos homens e exorta a usá-las conforme as circunstâncias, tendo o príncipe a consciência de que neste campo, pode ou não manter o seu Poder e segurança. Resumindo fazer o que for necessário, independente, de ser bom ou mau, visando o bem maior, que é o estabelecimento e manutenção de seu poder e de seu Estado.
Capítulo XVI: Maquiavel analisa a conduta do príncipe, no sentido deste para com seu povo, a respeito de ser ou não, liberal ou miserável em relação às riquezas. Para Maquiavel um príncipe extremamente liberal está dado à ruína e será odiado pelo seu povo, pois em momentos de adversidade terá que onerar a todos com tributos e impostos. Em contrapartida o príncipe também não pode ser extremamente avarento, pois também será odiado. A prudência neste assunto é necessária e um bom príncipe, saberá administrar suas finanças pessoais, será comedido e conforme a necessidade, ser parcimonioso com o povo. Dessa maneira, portanto, para o príncipe é mais prudente ter fama de miserável, o que provoca má reputação sem ódio, do que obter fama de liberal, e na adversidade, se ver forçado a tributar e onerar o povo, e por este motivo será odiado.
Capítulo XVII: Maquiavel expõe ao príncipe, um de seus dilemas, em relação ao seu governo: “Ser um príncipe amado ou um príncipe temido”. Para Maquiavel, o melhor seria serem os dois, mas como os homens são dados às paixões, nem sempre é possível, e como o fim maior, é a manutenção e estabelecimento de seu poder, é melhor ao príncipe ser temido, e conclui: “(...) Concluo, portanto (Voltando ao assunto sobre se é melhor ser temido ou amado), que um príncipe sábio, amando os homens como desejam eles ser amados, e sendo temido pelos homens como deseja ele ser temido, deve ter como base aquilo que é seu e não dos outros. Enfim, deve somente procurar evitar ser odiado, como ficou dito (...)” (108).
Capítulo XVIII: Maquiavel disseca a natureza humana, em vários trechos, compara as ações humanas, descreve a natureza humana como sendo metade humana e metade besta, e que todos os homens é dados a isto, e dada à circunstância, se for preciso o príncipe deve-se valer de sua natureza animalesca, pois no campo político vale fazer o que for preciso para conquistar e manter o poderem outros trechos exorta o príncipe a desenvolver as qualidades de leão e da raposa, pois no caso do leão para atemorizar os lobos (homens) com o uso da força e no caso da raposa, o uso da astucia, ou seja, ao príncipe virtuoso, nem sempre convém manter a palavra dada. Uma vez que as virtudes, tais como: piedade, fidelidade, humanismo, integridade e religiosidade, em alguns momentos, verem-se obrigado pelas circunstâncias, a ser contrário. Por isso, é necessário que tenha virtude e ser disposto a voltar-se para a direção a que os ventos e as mudanças da fortuna o impelirem. Valer-se do bem sempre, mas em caso de constrangido, valer-se do mal, pois no campo político, a natureza é falível e cheia de paixões.
Capítulo XIX: Maquiavel após dissecar a natureza anteriormente, orienta o príncipe sobre o cuidado de não ser desprezado e nem odiado. Que o príncipe possua boa reputação e valha-se da grandeza, Entende-se por desprezível, o príncipe que é considerado volúvel, leviano, efeminado, covarde e indeciso. O príncipe deve fazer conhecido os seus atos de grandeza, coragem, gravidade e fortaleza. Segundo Maquiavel, o príncipe capaz de obter tal reputação terá para si um governo que dificilmente será contra ele. Sendo amado e temido pelo povo, pouco devera importar com conspirações e revoltas. Tendo um Estado bem organizado e valendo-se da prudência, sempre terá em mente não reduzir o povo ao desespero, para não ser odiado e estimara os poderosos, para evitar conspirações e ataques.
ASSUNTOS DE ESPECIAL INTERESSE E ESCOLHA DOS MINISTROS
Capítulo XX: Maquiavel discorre das ações rotineiras e necessárias ao príncipe para o ordenamento de seu Estado. Em um primeiro momento, analisa a necessidade de desarmar os Estados conquistados, para se evitar conflitos e como conquistar os homens. Para o príncipe, em particular, é sábio agir conforme as circunstâncias, e para conquistar a confiança dos homens é necessário que supere alguns obstáculos e oposições, pois ao ser bem empreendido, ganha o respeito destes. Em um segundo momento, discorre sobre a necessidade de construção de fortalezas, a priori para conservação de seus Estados, e para manterem um refugio seguro, caso sejam atacados inesperadamente. Assim, como no caso das armas, as fortalezas são uteis ou não de acordo com as circunstâncias. Segundo Maquiavel: “(...) A melhor fortaleza de todas é não ser alvo do ódio do povo, porque, se contares com ela e tiveres o ódio popular, aquela não será capaz de salvar-te, pois nunca faltam aos povos rebelados príncipes de fora que queiram ajuda-los (...)” (129).
Capítulo XXI: Um dos pilares para o estabelecimento de seu governo, para o príncipe é a necessidade de realizar grandes atos e feitos, e bem como reconhecer quando qualquer de seus súditos realizarem algo fora do comum, sendo para o bem ou mal, o príncipe deve recompensá-lo ou puni-lo, dando margem a amplos comentários. O príncipe deve trabalhar diligentemente para alcançar a reputação de grande homem. Em alguns casos, é necessário, para sua boa estima saber ser verdadeiro amigo e verdadeiro inimigo, isto é, quando, sem nenhuma preocupação, proceder abertamente em favor de alguém, contra um terceiro, no caso, quando há guerra entre seus vizinhos. A prudência encontra-se justamente em conhecer a natureza dos inconvenientes e dotar uma postura o menos prejudicial para o seu bem. Maquiavel encerra orientando o príncipe a mostrar-se amante das virtudes e das artes, e estimular seus cidadãos a exercer suas atividades livremente, seja no comércio, na agricultura ou em qualquer outra área. Também convém ao príncipe em determinadas épocas do ano, oferecer ao povo, festas e espetáculos, dando mostras de sua afabilidade e mantendo sempre a majestade de sua dignidade e honra.
Capítulo XXII: Maquiavel orienta o príncipe sobre a importância da escolha dos seus ministros, uma vez que estes serões os seus representantes em diversos aspectos de seu governo. Para o príncipe a prudência na escolha é determinante para escolher entre os bons e os ruins, conforme descreve: “(...) E, uma vez que existem três espécies de cabeças – uma que compreende as coisas por si próprias, outra que sabe discernir o que os outros entendem e, por fim, uma terceira, que não entende nem por si nem sabe avaliar o trabalho dos outros. A primeira é excelente, a segunda muito boa e a terceira inútil (...)” (135). Estabelecidas essas premissas, cabe ao príncipe ser prudente em sua escolha e observar o comportamento de seus escolhidos, e para Maquiavel há um modo que nunca falha: “(...) Quando perceberes que o ministro pensa mais em si mesmo do que em ti, e que procura tirar proveito pessoal de todas as suas ações, podes estar certo de que não é bom, e nunca poderás confiar nele (...)” (136). E finalizando, para que o príncipe tenha a lealdade do ministro, é necessário que o honre e o torne rico, cuidando para que os muitos benefícios não corrompa este ministro.
Capítulo XXIII: Maquiavel exorta o príncipe a respeito do cuidado que dever ter com os aduladores e como evita-los. Uma das formas é a escolha de um corpo de conselheiros, na qual o príncipe deposite especial confiança e lhe deem liberdade. Com isto o príncipe deve ser prudente, saber consultar seus conselhos, ouvir-lhe a opinião e dada a conveniência acatar e deliberar suas decisões. Deve o príncipe fazer muitas indagações e ouvir com paciência, e depois de muita reflexãotirar suas conclusões, tendo assim a autoridade da palavra final.
DA SITUAÇÃO ITALIANA Á ÉPOCA DE MAQUIAVEL
Capítulo XXIV: Maquiavel relata em poucos exemplos, de como os príncipes italianos perderam seus Estados. Um dos motivos e defeito comum foi a falta destes príncipes de não terem fortalecidos seus principados com boas armas e boas leis e o outro motivo comum foi a falta da virtude e coragem para realizar aquilo que fosse preciso para manter os seus domínios.
Capítulo XXV: Segundo Maquiavel, o príncipe virtuoso é aquele que enfrenta os maiores perigos, suporta e vence as adversidades. A virtude tem o direito de lançar mão de todas as armas possíveis para sobrepujar a "fortuna" (acaso): “(...) Comparo-a a um desses rios impetuosos que, quando se enfurecem, transbordam pelas planícies, acabam com as arvores, as construções, arrastam montes de terra de um ponto a outro; tudo foge diante dele, tudo se submete a seu ímpeto, sem conseguir detê-lo, e, embora as coisas aconteçam assim, não é menos verdade que os homens, quando a calmaria retorna, são capazes de fazer consertos e barragens, de sorte que, em outra cheia, aqueles rios estarão correndo por um canal, e seu ímpeto não será nem tão livre nem tão nocivo (...)” (144). O príncipe virtuoso não é aquele que se submete a razões superiores ou que confia a uma justiça abstrata ou a Deus, mas é aquele que ajusta as suas ações, que observa as suas capacidades e age com obstinação. Será bem sucedido aquele que conseguir agir segundo as exigências do momento, segundo as peculiaridades de cada situação de fato. Ora com prudência, ora com ímpeto, ora com violência, ora com arte, ora com paciência, ora com impaciência. Em suas palavras: “(...) Concluo, assim, que se mudando a sorte, e conservando os homens, obstinadamente, o seu modo de proceder, são felizes (...) porque a fortuna é mulher e, para ter-lhe o domínio, mister se faz bater nela e contraria-la. E costuma-se reconhecer que a mulher se deixa subjugar mais por estes do que por aqueles que agem de maneira indiferente. A fortuna, como mulher, é sempre amiga dos jovens, pois são menos circunspectos, mais impetuosos e com maior audácia a dominam (...)” (146).
Capítulo XXVI: Maquiavel parte da experiência real de seu tempo e retrata a triste realidade da Itália: um amontoado de principados, sem identidade nenhuma entre eles, sem possuírem um exercito próprio. Uma península quase sem vida, a Itália descreve, espera por um príncipe que fosse capaz de curar suas feridas, de por fim aos saques dos bárbaros, á tributação e a desonra. Aguarda por um príncipe que fosse seguir os exemplos da Antiguidade Clássica e reunisse a si todas as províncias, em uma única bandeira e formar uma tropa própria para defender-se dos estrangeiros. Para Maquiavel, o momento era propicio para tal príncipe, bastasse apenas que fosse virtuoso e corajoso, que domine a fortuna e unificasse a Itália com suas boas armas e sua Virtù. Finaliza sua obra, com um dos versos de Petrarca:
“(...) A virtude tomará armas contra o furor e será curto o combate, pois o antigo valor não está morto nos corações italianos (...)” (151).
CONCLUSÃO
Suas reflexões sobre a política do seu tempo e seus estudos sobre a tradição clássica levaram Maquiavel a produzir uma obra marcada por uma leitura não teocêntrica do poder e seu exercício, defendendo o realismo político. O Príncipe, publicada em 1513, tornou-se um marco do pensamento político moderno e granjeou ao autor uma legião de admiradores e de detratores. Observamos alguns aspectos relevantes da obra de Maquiavel relativos à conquista do poder e as formas para preservá-lo. A vida regida pela Virtú e pela Fortuna. A Virtú seria a característica de adaptação aos contextos, qualidade dos corajosos, daqueles que captam o instante oportuno com virilidade e a Fortuna é vista como uma deusa, mulher, caprichosa, inconstante e volúvel que possui riquezas, a honra e a glória, cornucópia aberta aos apelos humanos, disposta a ser seduzida pelos homens de Virtú. As lições históricas, principalmente os clássicos da antiguidade, são utilizadas por Maquiavel para justificar seu argumento e também como uma maneira de antever os sinais da fortuna e minimizar seus efeitos negativos.
No Príncipe ele trata do jogo entre ser e parecer que é uma fonte constante para os ataques à obra de Maquiavel e responsável pelo surgimento do adjetivo “maquiavélico”. No entanto, devemos registrar que o pensador tinha como perspectiva demonstrar o funcionamento do poder e mostrar como as coisas são e não como deveriam ser.
 
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