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CONTESTAÇÃO À AÇÃO DE ALIMENTOS

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE PORTEIRAS, ESTADO DO CEARÁ.
Processo nº 
2819-47.2016
.8.
06
.
0149
Demandante: 
M.R.M Rep/ por Francisca Medeiros Dos Santos
Demandad
o
: 
José Sérgio Rodrigues
JOSÉ SÉRGIO RODRIGUES, vulgo ‘deca’, brasileiro, solteiro, desempregado, portador do RG nº 886519, expedida pela SSPDS/CE, inscrito no CPF sob o nº 249.085.763-00, Telefone: (088) 99814-78769707-1824, residente e domiciliado na Rua Padre Viana, nº 228, Centro, Brejo Santo-CE, vem, perante Vossa Excelência, por intermédio do Núcleo de Assistência Judiciária, por intermédio de convênio municipal, por seusprocuradores in fine assinados (procuração em anexo), com fulcro no art. 335, I, do CPC/15, na Lei 5.478/68, e nos demais dispositivos aplicáveis apresentar, tempestivamente, a presente
CONTESTAÇÃO
à Ação de Alimentos que lhe move M.R.M, representado por sua genitora FRANCISCA MEDEIROS DOS SANTOS, já fartamente qualificadas na ação em epígrafe, mediante os argumentos que passa a expor:
1
 - 
D
A GRATUIDADE DA JUSTIÇA
O contestante se declara necessitado financeiramente na forma da Lei 1.060/50, vale dizer, não tem condições de arcar com as despesas do processo, uma vez que é insuficiente seus recursos financeiros para pagar todas as despesas processuais, inclusive o recolhimento das custas iniciais.
Por oportuno, o Promovido ora formula pleito de gratuidade da justiça, o que faz por declaração de Hipossuficiência (documento em anexo), sob a égide do art. 99, caput, c/c 105, in fine, ambos do CPC/15 e na Lei 1.060/50, quando tal prerrogativa se encontra inserta no instrumento procuratório acostado.
2
 
–
 
D
OS FATOS CONTIDOS NA INICIAL
Trata-se de Ação de Alimentos proposta pelo RMP, cujo trâmite encontra-se na vara da Comarca de Porteiras-CE, onde pretende o Requerente a condenação do Requerido, ora contestante, ao pagamento de alimentos definitivos no patamar de 50% (cinqüenta por cento) do maior salário mínimo em vigor, o que equivale à quantia de R$468,50 (quatrocentos e sessenta e oito reais e cinqüenta centavos). 
Ao que se tem, a genitora do Promovente foram casados por um período de 02 meses, sendo fruto dessa união, o menor MAXUELDER RODRIGUES MEDEIROS, nascido em 28/03/1999, conforme documento acostado aos autos. Afere-se que a relação de parentesco é inconteste. 
Aduz que, com a separação, a genitora não tem condições de sozinha arcar com as despesas do filho, assim como da própria. 
Na mesma esteira, afirma que o Promovido possui emprego como comerciante, auferindo renda mensal e fixa, não podendo se negar a proporcionar o mínimo de auxílio mensal ao menor. 
Em sede de decisão interlocutória (fls. 13/14) este Douto Juízo fixou alimentos provisórios em 25% do salário mínimo, quantia que perfaz atualmente o valor de R$234,25 (duzentos e trinta e quatro reais e vinte e cinco centavos).
É o que de relevo tem a sintetizar.
3
 
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D
A OBJEÇÃO
Ab initio, o Requerido tomou conhecimento da presente demanda através de mandado de citação às fls.23 dos autos. 
Por seu turno Excelência, a parte Demandada aproveita para restabelecer o primado da verdade a respeito dos fatos realmente acontecidos e tratados no bojo do processo. 
A parte Autora informa nos autos que o Réu trabalha como comerciante e que tem totais condições de pagar a pensão que ora requer, todavia, não logrou êxito em declinar os ganhos do mesmo. A situação do Demandado é grave e delicada. Vejamos:
Cumpre esclarecer meritíssimo que o Promovido, quando era casado com a genitora do Promovente, viveram uma época de vida no Estado de São Paulo. Notadamente, lá o genitor possuía um mercadinho, tendo chegado a ganhar renda para manter sua família. 
Atualmente, o contestante encontra-se numa situação financeira extremamente débil, pois fora acometido com AVC em 2015, sofrendo hemorragia cerebral com imagem tomográfica de seqüela, conforme vastos documentos em anexo. Ademais, o Demandado sofre constantemente com convulsões e ataques epilépticos, em decorrência do AVC sofrido, tendo já passado por exames de angiografia cerebral, internações e revisões clínicas (documentos anexos). O fato é que, o Demandado necessita fazer uso constante de medicação, tais como Captopril e Fenitoína, em consonância com receituário médico anexo. 
O réu, por sua vez, de fato efetuava o depósito de uma pensão em favor do filho. Todavia, quando veio embora para a cidade de Brejo Santo, sua situação se agravou ainda mais por conta da doença, o deixando, assim, impossibilitado de ingressar no mercado. No momento atual, o Promovido encontra-se desempregado, sobrevivendo da ajuda de familiares e amigos. A questão é tão penosa que o contestante está se alimentando na casa de uma irmã. 
Desta feita, não houve jamais escusas por parte do contestante em prestar alimentos ao filho, mais tão somente a exigência da mãe de que o Requerido oferte uma pensão além de sua real capacidade alimentar. 
O cenário é, Excelência, que o Sr. JOSÉ SÉRGIO RODRIGUES se encontra desempregado desde quando fora acometido com essa doença, possuindo, além do mais, derradeiras anotações na sua CTPS que datam do ano de ABRIL DE 2010, conforme documento que, desde já, requer a juntada. 
Notoriamente, o Demandado não tem potencialidade econômica para pensionar o Promovente no patamar pleiteado, qual seja, 50% (cinqüenta por cento) do salário mínimo em vigor, que, por seu turno, não condiz com a realidade, sendo completamente INCOMPATÍVEL com a real condição financeira do ALIMENTANTE. Além disso, também não pode suportar os alimentos provisórios definidos por este ínclito juízo, estes na razão de 25%.. 
É cediço que, a fixação dos alimentos deve nortear um binômio NECESSIDADE/POSSIBILIDADE, segundo o qual a verba alimentícia deve atender as necessidades do alimentando, bem como, as condições econômicas do alimentante, não podendo superar as forças econômicas deste, o que restaria em afronta ao PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. 
Pois bem, alega a genitora que é pessoa humilde, auferindo renda que mal dar para seu sustento e de sua prole, alem de ter que pagar despesas médicas e outras despesas normais de uma casa. Compulsando os autos, nos termos da lei processual de regência, cabe ao Autor, quanto aos fatos constitutivos de seu direito, o ônus da prova. Portanto, não juntou aos autos documentos hábeis que refletisse as reais despesas do infante, tais como gastos com saúde, comprovantes de alimentação, declaração escolar, ou qualquer outro documento capaz de traduzir a concreta necessidade do fornecimento da pensão. E mais, segundo o Contestante, o seu filho possui uma incapacidade psíquica, situação que o faz ser titular de um benefício previdenciário no importe de 01 (um) salário mínimo sacado pela genitora. 
Dessa forma, o dever de sustento em relação aos filhos é de ambos os genitores, sendo imperiosa, portanto, a repartição das despesas do Requerente entre seus responsáveis, na medida de suas possibilidades. 
Preleciona a jurista Maria Helena Diniz, em seu Código Civil Anotado, que: 
“imprescindível será que haja proporcionalidade na fixação dos alimentos entre as necessidades do alimentando e os recursos econômico-financeiros do alimentante, sendo que a equação desses dois fatores deverá ser feita, em cada caso concreto, levando-se em conta que a pensão alimentícia será sempre concedida ad necessitatem”.
Nesse sentido é a mais abalizada jurisprudência pátria, o que cabe como luva no caso em tela: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO - ALIMENTOS PROVISIONAIS - FIXAÇÃO - VALOR INCOMPATÍVEL COM A CAPACIDADE DE ALIMENTAR - DECOTE. O valor dos alimentos, mesmo considerada a provisoriedade, deve observar o binômio necessidade/possibilidade, na medida em que, no mesmo instante em que se procura atender às necessidades daquele que os reclama, há que se levar em conta os limites da possibilidade do responsável por sua prestação.Comprovada pelo alimentante a impossibilidade de pagamentodo "quantum" fixado provisoriamente pelo juiz do feito, o valor deve ser reduzido a patamar condizente com sua capacidade. Diante da realidade dos autos deve o valor fixado ser reduzido para 50% (cinqüenta por cento) do salário mínimo, montante razoável, compatível com o princípio da proporcionalidade e em vista da prova produzida." Agravo de Instrumento n.º1.0040.04.026831-6/001. Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Relator Des. Gouvêa Rios. j. 14 de junho de 2005).
Pelo entendimento doutrinário e jurisprudencial, depreende-se que o Judiciário deve apenas “tosquiar” o rendimento do pai a fim de satisfazer as necessidades dos filhos, dentro da necessidade e real possibilidade, jamais “esfolá-lo” a ponto de retirar a Dignidade Humana e prejudicar o seu próprio sustento. Também não se pode impor ao filho que viva à míngua de qualquer assistência material daquela (a mãe) que os trouxe à vida. A assistência material, cultural, afetiva, se possível, deve ser prestada conjunta e razoavelmente entre o pai e a mãe. 
Verifica-se Excelência que de modo algum o Requerido se negou a prestar o seu dever de alimentar, dever este que decorre da lei e da moral, tanto é que sempre a ajudou com o que atualmente pode, no entanto, se faz necessário que esse valor seja ajustado a sua realidade econômica, consoante dispõe o art. 1.694, §1º do CC/02. In verbis:
Art. 1.694. (...)
§1º. Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. 
A jurisprudência também já firmou entendimento no sentindo de que a prestação alimentícia não pode colocar em risco o sustento do alimentante e daqueles que dele dependam: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIMENTOS PROVISÓRIOS. REVISÃO. RECURSO DESPROVIDO. Não é possível no âmbito angusto do recurso de agravo de instrumento proceder-se à análise valorativa das provas até então produzidas, porque tal importaria em julgamento antecipado do mérito da causa principal. Se é certo que o alimentante deve contribuir para a criação e educação da alimentanda, não é menos correto afirmar-se que tal papel deve ser desempenhado por ambos os genitores, segundo suas possibilidades, evitando-se, tanto quanto possível onerar-se o prestador da contribuição alimentar, expondo a menor ao risco de vir secar diante de si a própria fonte de onde provém o seu sustento. (TJDF; Rec. 2008.00.2.018025-9; Ac. 343.539; Primeira Turma Cível; Rel. Des. Lécio Resende; DJDFTE 02/03/2009; Pág. 44). (grifo nosso).
Insta calhar que, conforme preconiza a legislação civil vigente, a obrigação de prestar alimentos que vigora entre pais e filhos decorre do pátrio poder (poder familiar). Como se vê pela certidão de nascimento do Promovente, o mesmo já atingiu a maioridade civil, cessando, pois, a obrigação de prestar alimentos em razão do pátrio poder, e por conseguinte, o dever de assistência, salvo quando o alimentando prova estar necessitando dos alimentos, o que não é o caso dos autos, haja vista o benefício previdenciário que ora percebe mensalmente.
Ante o exposto e tudo mais que fora alinhavado, o Contestante suplica ser recebida a presença peça defensiva, ao passo que, no mérito, julgue IMPROCEDENTE o feito, em decorrência dos argumentos em liça ventilados, observados o postulado constitucional da DIGNIDADE HUMANA; de forma subsidiária, caso V. Exa., entenda de modo diverso, é da mais lídima justiça a RECONSIDERAÇÃO dos alimentos provisórios fixados em decisão, para fixá-los no patamar de 10,7% (dez vírgula sete por cento) do maior salário vigente.
3.1 DA RECONSIDERAÇÃO DOS ALIMENTOS PROVISÓRIOS
Verifica-se no caso em tela, que o ALIMENTANTE foi obrigado ao pagamento de alimentos provisórios no importe de 25% do salário mínimo. Entretanto, como fartamente explanado, NÃO HÁ POSSIBILIDADE do alimentante se submeter ao referido pagamento, tendo em vista que o mesmo se encontra desempregado e incapaz de forma permanente de retomar sua vida laboral, devido a doença grave e cerebral. 
A jurisprudência nacional se posiciona de modo cristalino no sentido da necessidade de compatibilizar a fixação dos alimentos, mesmo que provisórios as reais condições econômicas do alimentante. Vejamos:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS. CARÁTER PROVISÓRIO DA OBRIGAÇÃO. CRITÉRIO DE RAZOABILIDADE. ATENÇÃO AO BINÔMIO NECESSIDADE/POSSIBILIDADE. 1. Admite-se a fixação provisória de alimentos quando, rompida a relação matrimonial, necessita o ex-cônjuge alimentado de período para adequar-se a nova realidade profissional e financeira. 2. É princípio do direito alimentar que, observado o caso concreto, tanto quanto possível, a pensão seja fixada, considerando-se a capacidade do alimentante e o padrão de vida propiciada a alimentada. 3. Recurso Especial desprovido. (REsp. 1353941/RJ, Relª. Minª. Nancy Andrigui, 3ª T, Julg: 16/04/2013).
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALIMENTOS. FILHA MENOR. A fixação de alimentos, inclusive os provisórios, há de atender ao binômio necessidade/possibilidade. Situação que recomenda sejam mantidos os alimentos provisórios no patamar em que fixados até que, com as provas que serão produzidas, reste melhor visualizada a real situação financeira do alimentante e a necessidade da alimentanda. Necessária a instauração do contraditório, com ampla dilação probatória, a fim de propiciar plena análise do binômio necessidade/possibilidade. Agravo de instrumento desprovido. (AI 70058056797- TJ/RS, 7ª CC, Rel. Min. Jorge Luís Dall’agnol, julg: 26/02/2014). 
Nesse sentido, a condição financeira do Promovido/Alimentante, não comporta o valor peticionado pelo Promovente, nem mesmo o valor arbitrado a título de alimentos provisórios, uma vez que tais percentuais se revelam excessivamente onerosos, configurando completo desprezo ao princípio da dignidade humana, de índole constitucional.
Corroborando o dito alhures, colaciono o seguinte julgado:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA COM ALIMENTOS. EX-COMPANHEIRA. ALIMENTOS PROVISÓRIOS. REDUÇÃO. POSSIBILIDADE. ANÁLISE DO BINÔMIO LEGAL NECESSIDADE/POSSIBILIDADE. Demonstrada documentalmente, ainda que nesta fase de cognição sumária, que o encargo alimentar fixado liminarmente mostra-se excessivo diante das possibilidades do alimentante, pertinente a redução do pensionamento. AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70066097940, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sandra Brisolara Medeiros, Julgado em 25/08/2015).
À vista do exposto, requer a Vossa Excelência que se digne de reconsiderar a decisão que arbitrou os ALIMENTOS PROVISÓRIOS em elevado percentual, para arbitrá-los no percentual a 10,7% do salário mínimo, atualmente no valor de R$100,00 (cem) reais, em função da precaríssima condição do genitor.
4
 
–
 DOS
 
PEDIDOS
Destarte, requer a Vossa Excelência que se digne a:
Receber em todos os seus termos a peça defensiva para, primeiramente, CONCEDER os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA ao Demandado, com a consequente extensão as despesas cartorárias, por ser pobre na acepção jurídica do termo, conforme a Lei 1.060/50;
Roga o Contestante a DESCONSIDERAÇÃO da decisão que arbitrou os alimentos provisórios em elevado percentual, para fixá-los no importe de 10,7% (dez vírgula sete por cento), do maior salário mínimo em vigor, equivalendo ao montante de R$100,00 (cem) reais, mediante os fatos alinhavados na contestação; 
No mérito, JULGAR IMPROCEDENTE O PLEITO AUTORAL, isentando o Demandado da obrigação alimentar em favor da prole, haja vista a cessação da maioridade civil, aliado a grave doença acometida que torna o Demandado incapaz de atividades laborais; Se este não for o entendimento de Vossa Excelência, REQUER, subsidiariamente, seja reduzida a pensão ora fixada para, torná-la definitiva, no percentual de 10,7% (dez vírgula sete por cento), do maior salário mínimo em vigor, equivalendo ao montante de R$100 (cem) reais, a ser pago mediante depósito em conta da genitora;A INTIMAÇÃO do MP para acompanhar o feito até o final, ex vi dos arts. 178, II e 279 do CPC/15;
O aprazamento de Audiência de conciliação, tendo em conta não se opor o Promovido pela sessão sobredita, além do que, o direito em questão admite autocomposição;
De tudo intimar o Demandado através de carta precatória, nos termos do art. 260 e seguintes do NCPC;
Protesta provar o alegado por todas as formas de direito admissíveis, maiormente por meio do depoimento pessoal da genitora do Demandante e do Demandado, bem como outras que V. Exa., julgue necessárias ao deslinde do presente feito, além da oitiva de testemunhas arroladas e convidadas a comparecer independente de intimação (art. 369 do CPC/15).
 Nestes termos
		 pede e espera DEFERIMENTO.
Brejo Santo-CE, 14 de Junho de 2017.
		
 Bel. Johan Jacó de Lima				 Bela. Cícera Marise C. Souza
 Advogado-OAB/CE 29.081				 Advogada-OAB/CE 27.622

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