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8 Métodos descritivos São métodos que descrevem qualitativa e quantitativamente as amostras. Têm como objetivo caracterizar as propriedades sensoriais do produto alimentício. 8.1 Aspecto qualitativo a) características de aparência: - cor (tonalidade, luminosidade, uniformidade, pureza); - textura visual (liso/grosseiro, brilhante/fosco, enrugado, etc.); - tamanho e forma (dimensões e geometria); - interações entre pedaços ou partículas (aglomerado/solto, etc.). b) características de aroma: - sensações olfatórias (vanila, frutoso, floral, fantasia, herbáceo, etc.); - sensações nasais (pungente, refrescante, etc.). c) características de sabor: - sensações olfatórias (vanila, frutoso, floral, etc.); 8 ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS166 - sensações de gosto (doce, amargo, ácido, salgado); - sensações bucais (quente/frio, adstringente, metálico, pungente, etc.). d) características de textura oral: - propriedades mecânicas/reação do produto à pressão (dureza, vis- cosidade, fraturabilidade, elasticidade, etc.); - propriedades geométricas (relacionadas com o tamanho e orienta- ção das partículas no alimento: fibroso, granuloso, arenoso, flocu- lento, etc.); - propriedades relacionadas com a presença, liberação e adsorção da gordura ou óleo e da umidade no produto (suculência, oleo- sidade, etc.). 8.2 Aspecto quantitativo Na análise descritiva, o julgador também avalia o grau de inten- sidade com que cada atributo está presente no alimento. Para tanto, os julgadores devem ser treinados a usarem escalas de forma consistente com relação à equipe sensorial, com relação às amostras e por meio de todo o período de avaliação. Os métodos descritivos classificam-se em: - avaliação de atributos – testes de escalas; - perfil de textura; - perfil de sabor; - análise descritiva quantitativa – ADQ; - perfil livre; - tempo – intensidade; - teste da amostra única. MéTODOS DESCRITIVOS 167 8.3 testes de escala Na avaliação de atributos dos produtos alimentícios utilizam-se escalas que determinam a intensidade de cada atributo sensorial presente na amostra. Os métodos descritivos utilizam escalas de intervalo ou de proporção. Vantagens Dão a grandeza (intensidade da sensação) e a direção das diferen- ças entre as amostras. Pelas escalas é possível se descobrir o quanto as amostras diferem entre si e qual a amostra que apresenta maior intensi- dade do atributo sensorial que está sendo medido. Desvantagens Exigem maior treinamento e habilidade do julgador. Análise dos resultados A análise estatística dos resultados obtidos é realizada por análise de variância (ANOVA) e teste de média, como, por exemplo, o teste de Tukey (mais utilizado, Tabela 55, Anexo S) e o teste de DUNCAN (menos acurado). A metodologia para avaliação dos produtos alimentícios por tes- tes que se utilizam de escalas é normatizada pela ISO 4121 (2003) e NBR 14141 (1998). ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS168 8.3.1 Tipos de escala Podem ser classificadas quanto à sua estrutura; à sua posição; à sua polaridade; ao número de atributos analisados e ao tipo de avaliação. a) quanto à estrutura Escala estruturada ou de categoria (escala verbal ou nominal; es- cala numérica; escala mista) e escala não estruturada. a1) escala estruturada Consiste de intervalos que são rotulados, ou seja, categorizados com números ou adjetivos comuns ao dia a dia do julgador. As escalas estruturadas procuram, da melhor forma possível, manter intervalos iguais entre as categorias que as compõem. As escalas estruturadas podem ser: Escala verbal ou nominal Onde as categorias consistem de termos verbais, por exemplo: ausente levemente moderadamente muito extremamente ou nenhum fraco moderado forte muito forte MéTODOS DESCRITIVOS 169 Escala numérica Onde as categorias consistem de uma série numérica, por exemplo: 0 1 2 3 4 5 A vantagem da escala numérica é que a série de números indica intervalos constantes entre uma categoria e outra e oferece um zero bem definido. Enquanto que na escala nominal não se pode afirmar com certeza que o intervalo entre “fraco” e “moderado”, por exemplo, seja psicologicamente igual ao intervalo entre “forte” e “muito forte”. Escala mista Usa adjetivos verbais e números para marcar cada categoria, por exemplo: 0 nenhum fraco moderado forte muito forte 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Em relação ao número de categorias de uma escala, pode-se dizer que uma escala muito pequena oferece pouco poder de discriminação e que uma escala muito longa aumenta muito a variabilidade entre os julgadores, aumentando o erro experimental. Os pesquisadores sugerem que, para se determinar quantas categorias devem ser usadas, o analista sensorial pri- meiramente verifique quantas categorias o julgador pode conscientemente distinguir para aquele produto e, a partir deste resultado, pode-se adotar uma escala até duas vezes mais longa. A literatura apresenta geralmente escalas entre 5 e 15 pontos, sendo a escala de 9 categorias a mais utilizada. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS170 a2) escala não estruturada Consiste de uma linha inteira, ancorada nos extremos por termos que indicam a intensidade do atributo avaliado, por exemplo: muito fraco muito intenso ou imperceptível extremamente intenso Na escala não estruturada o julgador deve marcar um traço no ponto da escala que melhor represente a intensidade de sua sensação. Os dados são obtidos medindo-se a distância, em cm, que o julgador marcou ao longo da linha a partir do extremo esquerdo da escala. Linhas de 9 e de 15 cm são as mais utilizadas. Vantagens - a intensidade do atributo avaliado pode ser acuradamente marcada em qualquer ponto da escala; - a ausência de valores numéricos evita erro psicológico do julgador, ou seja, o julgador não é induzido a usar números de sua preferência. Desvantagem - é mais difícil para o julgador ser consistente em suas repetições porque a posição em uma linha não é tão fácil de ser lembrada quanto um número. MéTODOS DESCRITIVOS 171 A Figura 29 apresenta um modelo de ficha utilizada durante trei- namento dos julgadores a fim de desenvolver a sensibilidade e acuidade visual para o uso das escalas não estruturadas. O julgador deve assinalar na escala a porcentagem da área hachureada na figura, de acordo com sua percepção de intensidade na escala. Nome: Data: Assinale na escala, com um traço, a proporção da área hachurada nas figuras abaixo. Procure trabalhar mais com toda a sua sensibilidade e acuidade visual do que com o raciocínio puro. As três primeiras figuras são exemplos. nenhuma nenhuma nenhuma nenhuma nenhuma nenhuma nenhuma nenhuma nenhuma nenhuma nenhuma nenhuma nenhuma total total total total total total total total total total total total total figura 29 – Modelo de ficha para treinamento dos julgadores na utilização de escalas não estruturadas ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS172 Respostas corretas questão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 % da área hachurada 87,5 12,5 16,7 25 87,5 25 75 12,5 67 50 Para escala de 6 cm total 5,25 cm 0,75 cm 1,0 cm 1,5 cm 5,25 cm 1,5 cm 4,5 cm 0,75 cm 4,0 cm 3,0 cm b) quanto à posição b1) escala vertical b2) escala horizontal nenhum extremamente forte c) quanto à polaridade c1) escala unipolar Todos os termos usados especificam a intensidade de apenas um atributo sensorial (acidez, dureza, aroma baunilha, etc.), por exemplo: 0 1 2 3 4 5 6 7 8 nenhum fraco moderado forte muito forte MéTODOS DESCRITIVOS 173 0 nenhum fraco moderado forte muito forte 1 2 3 4 5 67 8 9 c2) escala bipolar Diferentes aspectos de uma mesma característica sensorial são avaliados ao mesmo tempo, por exemplo, para a análise da firmeza (du- reza) em salsichas enlatadas: d) quanto ao número de atributos analisados d1) escalas simples Apenas um atributo é avaliado. d2) escalas compostas Diversos atributos são avaliados ao mesmo tempo e, ao final, uma só nota é dada ao produto analisado, com o objetivo de avaliar a sua qualidade. Exemplo, para avaliação de vinho: 1 2 3 4 5 6 7 8 muito mole extremamente mole levemente mole nem mole nem firme moderadamente firme moderadamente mole levemente firme muito firme 9 extremamente firme ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS174 Atributo valor em pontos Aparência 2 Cor 2 Aroma e buquê 4 Acidez volátil 2 Acidez total 2 Doçura 1 Sabor 2 Amargo 2 Qualidade geral 2 total 19 Classificação final: - 17 a 19 pontos = vinho de qualidade superior; - 13 a 16 = vinho padrão; - 9 a 12 = vinho abaixo do padrão; - 1 a 8 = vinho inaceitável. Essas escalas praticamente não são mais utilizadas na análise sen- sorial moderna, porque amostras completamente diferentes com rela- ção aos atributos sensoriais podem receber a mesma classificação final. Muitos pesquisadores não recomendam o uso desse tipo de escala. e) quanto ao tipo de avaliação e1) escalas de intensidade Avaliam a intensidade geral (sabor, aroma, etc.) ou específica (aroma floral, amargo residual, rugosidade aparente, etc.) dos atributos MéTODOS DESCRITIVOS 175 sensoriais. O uso dessas escalas exige que os julgadores sejam treina- dos para reconhecer e avaliar a intensidade dos atributos sensoriais avaliados. e2) escalas de qualidade Avaliam a qualidade de produtos segundo padrões específicos. Neste caso, os julgadores são anteriormente muito bem treinados para os padrões de qualidade. extremamente ruim extremamente bom e3) escala hedônica Avalia o quanto o julgador gostou ou desgostou de uma deter- minada amostra. Aplicada a um público-alvo definido, é largamente utilizada, desde que foi desenvolvida por Peryam e Pilgrim (1957), para análise de preferência e aceitabilidade dos consumidores. A forma geral da escala é: 1 2 3 4 5 6 7 8 desgostei muito desgostei extremamente desgostei ligeiramente indiferente gostei moderadamente desgostei moderadamente gostei ligeiramente gostei muito 9 gostei extremamente ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS176 e4) escala de magnitude Nesse tipo de escala, primeiramente o julgador recebe uma refe- rência, à qual é assinalado certo valor com relação ao atributo avaliado. Exemplo: o julgador recebe um suco referência a cuja doçura ele atribui valor 10. Em seguida, o julgador recebe as amostras codificadas e é solicitado a avaliar a doçura com relação à amostra referência. Se uma amostra codificada parecer duas vezes mais doce que a referência, o julgador deve dar nota 20. Se a amostra codificada parecer ter a metade da doçura da amostra referência, o julgador deve dar nota 5, e assim por diante. Por tanto, o julgador é livre para construir sua própria escala, que não possui extremos e não possui limites. Exemplo de ficha de aplicação (Figura 30). tEstE DE EstImAção DA mAgNItUDE Prove primeiramente o biscoito referência (R) e assinale um valor para a sua maciez. A seguir, avalie a maciez das amostras codificadas com relação à referência. Se a maciez da amostra codificada for metade da amostra referência, assinale um valor equivalente à metade do valor dado à referência. Se a maciez da amostra codificada for duas vezes maior que a referência, dê o valor equivalente a duas vezes o valor assinalado para a referência. Amostras Maciez R 549 306 795 Comentários: figura 30 – Modelo de ficha para aplicação do teste de estimação de magnitude MéTODOS DESCRITIVOS 177 Exemplo de um teste utilizando escala estruturada: Foi desenvolvido um estudo dos padrões de firmeza (dureza para alimentos semissólidos) de salsichas do mercado, marcas A, B e C. Aplicou-se um teste de Escala Estruturada de zero a doze pontos, sendo o ponto zero equivalente a “nenhuma firmeza” e o ponto doze a referên- cia para “extremamente firme” (Tabela 16). Doze julgadores participa- ram nessa equipe. Pede-se: qual o resultado da análise? tabela 16 – Julgamentos obtidos no teste de escala estruturada de salsicha Amostra j1 j2 j3 j4 j5 j6 j7 j8 j9 j10 j11 j12 total A 6 8 3 11 6 9 10 6 11 3 6 7 86 B 2 5 2 4 3 2 2 3 4 1 4 3 35 C 4 3 1 5 3 7 7 5 6 2 8 5 56 total 12 16 6 20 12 18 19 14 21 6 18 15 177 Cálculo da ANOVA, demonstrada no Quadro 4. Fator de correção = 870,25 Causas de variação gl sq qm f Amostras 2 109,50 54,75 21,81** Julgadores 11 92,08 8,37 – Resíduo 22 55,17 2,51 – total 35 256,75 7,33 – quadro 4 – Análise de variância ** 1% de significância. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS178 Pela Tabela 51 (Anexo O) observamos que o valor limite de F, com 5% de significância: - Fator F crítico (G.L.amostra = 2, G.L.resíduo = 22) = 3,44 Pela Tabela 52 (Anexo P) observamos que o valor limite de F, com 1% de significância: - Fator F crítico (G.L.amostra = 2, G.L.resíduo = 22) = 5,72 Portanto, podemos afirmar que existe diferença significativa entre as amostras com 1% de significância. E desde que haja diferença, pode- mos determiná-la por um teste de média. Teste de Tukey DMS = q QMR n (8.1) - DMS = diferença mínima significativa; - q = valor extraído da Tabela 55, Anexo S, para n = 3 e n’ = 22 (necessária interpolação entre os valores de n’ = 20 e n’ = 24); - QMR = quadrado médio do resíduo; - n = n. de repetições (neste caso, n. de julgadores). Substituindo-se os valores, temos: DMS = 3,555 = 1,625 2,51 12 MéTODOS DESCRITIVOS 179 Médias das amostras: - salsicha A = 7,16 - salsicha B = 2,92 - salsicha C = 4,67 Diferenças entre as médias: | 7,16 − 2,92 | = 4,24 diferem entre si | 7,16 − 4,67 | = 2,49 diferem entre si | 4,67 − 2,92 | = 1,75 diferem entre si Conclui-se que todas as salsichas diferem entre si em relação à textura, com 5% de significância. A marca “A” é significativamente mais firme que as demais e a salsicha de marca “B” é significativamente menos firme que as demais amostras de mercado. 8.4 Perfil de textura Nesse teste sensorial realiza-se a descrição completa da textura da amostra. Foi desenvolvido por pesquisadores da General Food Cor- poration em 1963 e depois expandido por Civille e Szczesniak (1973) e por Civille e Liska (1975). A textura pode ser definida como a manifestação sensorial da es- trutura interna dos produtos em termos de: - reação à força medida como propriedades mecânicas (dureza/fir- meza, adesividade, coesividade, gomosidade, elasticidade, viscosi- dade), pelo sentido cinestético nos músculos da mão, dedos, língua, maxilar ou lábios; ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS180 - propriedades táteis, medidas com partículas geométricas (granu- losa, arenosa, cristalina, flocosa) ou propriedades de umidade (molhada, seca) e de gordura (oleosa) pelos nervos táteis na su- perfície da pele da mão, lábios ou língua. 8.4.1 Características de textura a) características mecânicas: Definidas no Quadro 5, dividem-se em: Primárias Secundárias Dureza Fragilidade ou fraturabilidade Coesividade Mastigabilidade Elasticidade Gomosidade Viscosidade Adesividade b) características geométricas: - relacionam forma e tamanho das partículas. Exemplo: partículas arenosas, grosseiras ou ásperas, granuloso (partículas grandes), pulverulento (relativo a pó), calcário (textura semelhante ao giz), aerado, cheio de bolhas, floculento, etc.; - relacionam forma e orientação das partículas. Exemplo: partículas fibrosas, partículas cristalinas/transparentes.c) teor de umidade: Seco, úmido, suculento, molhado, encharcado. MéTODOS DESCRITIVOS 181 d) teor de gordura: Oleoso, gorduroso. O método do perfil de textura segue o procedimento recomenda- do na ISO 11036 (1994), demonstrado na Figura 31. PERFIL DE TEXTURA INICIAL percepção na primeira mordida Dureza Viscosidade Fraturabilidade Qualquer, depende da estrutura superior do produto MASTIGAÇÃO percepção durante a mastigação Qualquer, depende da estrutura interna do produto RESÍDUO mudanças durante a mastigação Velocidade de quebra das partículas ou do produto Tipo de quebra ou rompimento Absorção de umidade Sensação na boca MECÂNICAS Gomosidade Mastigabilidade Adesividade MECÂNICAS GEOMÉTRICAS GEOMÉTRICAS figura 31 – Procedimento para avaliação da textura sugerido por BRANDT; SKINNER; COLEMAN, 1963 ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS182 Propriedades físicas sensoriais Primárias Dureza Força necessária para produzir uma certa deformação Força requerida para compressão de uma substância entre os dentes mo- lares (para sólidos) ou entre a língua e o palato (para semi-sólidos) Coesividade Extensão a que um material pode ser deformado antes da ruptura Grau ao qual uma substância é comprimida entre os dentes, antes de romper Viscosidade Velocidade de fluxo por unidade de força Força requerida para puxar um líquido da colher para a língua Elasticidade Velocidade na qual um material deformado volta à condição não deformada, depois que a força de deformação é removida Grau para o qual um produto volta à sua forma original, depois da com- pressão com os dentes Adesividade Energia necessária para superar as forças atrativas entre a superfície do alimento e a de outros materiais com os quais o alimento está em contato Força requerida para remover o mate- rial que adere à boca (palato) durante o processo normal de comer secundárias Fraturabilidade Força pela qual o material fratura; um produto com alto grau de dureza e baixo grau de coesividade Força pela qual uma amostra esmiga- lha, racha ou quebra em pedaços Mastigabilidade Energia requerida para mastigar um alimento sólido até a deglutição; é o produto - dureza × coesividade × elasticidade Tempo (s) requerido para mastigar uma amostra, a uma velocidade constante da aplicação de força, para reduzi-la à consistência adequada para a deglutição Gomosidade Energia requerida para desintegrar um alimento semissólido até estar pronto para a deglutição; é o produto de baixo grau de dureza × alto grau de coesividade Densidade que persiste durante a mastigação: energia requerida para desintegrar um alimento semissólido ao ponto ideal para a deglutição quadro 5 – Definições das características de textura Fonte: SZCZESNIAK; BRANDT; FRIEDMAN, 1963, p. 397. MéTODOS DESCRITIVOS 183 valor da escala n. de mastigação Produto marca ou tipo tamanho da amostra temperatura Dureza 1 queijo cremoso Philadelphia, Kraft cubos de 1,5cm/7 − 13°C 2 clara de ovo cozimento: 5’ 1,5 cm/temperatura ambiente 3 salsichas grandes, Schneiders pedaços de 1,5 cm/ 10 − 18°C 4 queijo Mild Cheddar, Kraft cubos de 1,5cm/10 − 18°C 5 azeitonas Stuffed, tamanho “Queen”, McLaren’s 1 azeitona, remoção de pimentão/10 − 18°C 6 amendoim tipo em lata, Cocktail Planters 1 noz/temperatura ambiente 7 cenouras cruas, frescas pedaços de 1,5 cm/ temperatura ambiente 8 amêndoas sem branquear, McNair 1 noz/temperatura ambiente 9 bala dura Dryden & Palmer ambiente viscosidade 1 água 2 mL/temperatura ambiente 2 creme leve Sealtest, Neilson 2 mL/7 − 13°C 3 creme pesado Sealtest, Neilson 2 mL/7 − 13°C 4 leite evaporado Carnation 2 mL/7 − 13°C 5 mel Camp 2 mL/7 − 13°C 6 xarope de chocolate Hershey 2 mL/7 − 13°C 7 misturar: 125 mL de maionese e 30 mL de creme pesado Hellmann’s Sealtest, Neilson 2 mL/7 − 13°C 8 leite condensado Eaglebrand, Sweetened 2 mL/7 − 13°C quadro 6 – Escalas-padrão (continua) ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS184 valor da escala n. de mastigação Produto marca ou tipo tamanho da amostra temperatura fraturabilidade 1 bolo de milho Betty Crocker Mix cubo de 1,5 cm/temp. ambiente 2 suspiro Primo cubo de 1,5 cm/temp. ambiente 3 Cream Craker Nabisco ou Paulins quadrado de 1,5 cm/temp. ambiente 4 torrada Melba plano, pedaço retangular do interior/old London quadrado de 1,5 cm/temp. ambiente 5 biscoito de farelinho de trigo Weston quadrado de 1,5 cm/temp. ambiente 6 biscoito de gengibre Christies quadrado de 1,5 cm/temp. ambiente 7 pé-de-moleque Mc Cormick ped. peq. de 1,5 cm/temp. ambiente gomosidade 1 40% pasta de farinha Gold Medal ou Robin Hood 15 mL/temperatura ambiente 2 45% pasta de farinha Idem à anterior 15 mL/temperatura ambiente 3 50% pasta de farinha Idem à anterior 15 mL/temperatura ambiente 4 55% pasta de farinha Idem à anterior 15 mL/temperatura ambiente 5 60% pasta de farinha Idem à anterior 15 mL/temperatura ambiente mastigabilidade 1 10,3 pão de centeio corte central (fresco) cubo de 1,5 cm/temp. amb. 2 17,1 salsicha grande, sem a pele pedaço de 1,5 cm/ 10 − 21°C quadro 6 – Escalas-padrão (continua) MéTODOS DESCRITIVOS 185 valor da escala n. de mastigação Produto marca ou tipo tamanho da amostra temperatura mastigabilidade 3 25,0 bala de goma Chuckle 1 pedaço/temp. ambiente 4 31,8 bife 1,5 de grossura, grelhado (10') cada lado quadrado − 1,5 cm/ 60 − 85°C 5 33,6 bala “licorice” Laura Secord Mc Cornick 1/2 pedaço 6 37,3 caramelos Mc Cornick 1 pedaço/temp. ambiente 7 56,7 bisc. Tootsie Rolls peq., Tootsie Rool Co. 1 pedaço/temp. ambiente Adesividade 1 margarina Fleischmann 2 mL/7 − 13°C 2 queijo velveeta Kraft 1,5 cm/7 − 13°C 3 queijo cremoso Philadelphia 2 mL/7 − 13°C 4 mashmallow Kraft 2 mL/7 − 13°C 5 pasta de amendoim Smooth, Skippy 2 mL/7 − 13°C quadro 6 – Escalas-padrão Fonte: SZCZESNIAK; BRANDT; FRIEDMAN, 1963, p. 397. O método do perfil de textura foi definido como: análise sensorial da complexa textura de um alimento, em termos de suas características mecânicas, geométricas, gordura e umidade; a intensidade e ordem em que são percebidas desde a primeira mordida até a completa mastigação (BRANDT; SKINNER; COLEMAN, 1963). (conclusão) ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS186 8.4.2 Algumas técnicas para treinamento em textura a) dureza Campos e colaboradores (1989) recomendam apresentar as amos- tras ao acaso e pedir aos candidatos para ordená-las em ordem crescente de dureza. O atributo dureza é definido como a força requerida para morder a amostra com o dente molar. - queijo cremoso marca Philadelphia (cubos de 12,7 mm (½"), 7 − 13 °C); - queijo americano Kraft (amarelo, cubos de ½", 7 − 13 °C); - azeitona tamanho gigante (sem pimentão, comprima gentilmente para eliminar o pimentão (10 − 16 °C); - cenouras (fatias frescas, não cozidas, de ½", com 1" de diâmetro, temperatura ambiente); - bala dura. b) viscosidade Seguindo a linha dos autores, apresentar ao acaso os cinco pro- dutos e pedir aos candidatos para ordená-los em ordem crescente de viscosidade. Defina viscosidade como a força requerida para remover o produto de uma colher, derramando-o sobre a língua e succionando-o lentamente. - água (temperatura ambiente); - creme de leite (7 − 13 °C); - mel (7 − 13 °C); - xarope de chocolate (7 − 13 °C); - leite condensado (7 − 13 °C). MéTODOS DESCRITIVOS 187 c) escala geométrica Ainda na mesma linha dos autores, dispor os cinco produtos se- guintes em ordem aleatória e pedir para cada candidato associaruma determinada descrição geométrica a cada um, por exemplo, granuloso, fibroso, aerado, floculento ou cheio de bolinhas. - creme de trigo instantâneo (preparado seguindo as instruções da embalagem); - carne de frango enlatada; - mistura seca para chantilly (preparada seguindo as instruções da embalagem); - bacalhau congelado (fervido); - mistura seca ou enlatada de pudim de mandioca (preparada de acordo com instruções de embalagem). d) análises requeridas Os autores mencionam que é necessário tabular os 15 produtos, adequadamente ordenado ou associado. Os membros da equipe devem ter, no mínimo, 12 respostas corretas por repetição; são recomendadas três repetições. e) procedimento do teste de perfil de textura E, por fim, Campos e colaboradores (1989) acrescentam que geralmente o teste é aplicado em mesa redonda, onde seus membros se reúnem, traçam o perfil da textura do produto-teste e, em seguida, abrem discussão com o orientador do painel. O perfil de textura exige de 6 a 8 julgadores experientes e com treinamento específico na textura ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS188 do produto em questão. A metodologia empregada segue os padrões já definidos em termos de suas características mecânicas, geométricas, de gordura e umidade; o grau em que cada uma está presente e a ordem com que aparecem, desde a primeira mordida, na mastigação, até a fase residual (após a deglutição do produto). Porém, essa metodologia deve ser desenvolvida de forma específica para cada produto, de acordo com a sua natureza. Apresentamos, a seguir, exemplos de metodologias de perfil de textura desenvolvidas, para produtos cárneos e para análise de textura em bebidas. 8.4.3 Metodologia para traçar o perfil de textura de produtos cárneos De acordo com Teixeira (1986), segue a metodologia para traçar o perfil de textura: a) termos e procedimentos Coloca-se ¾ de polegada da amostra na boca, fricciona-se com os lábios e a língua, avaliando se a textura é: - grosseira: grau em que a amostra parece irregular; - abrasiva: grau em que a superfície da amostra parece áspera; - úmida/oleosa: a amostra parece úmida e/ou oleosa; - fragmentada: quantidade de material livre na superfície. b) primeira mordida Morde-se ¾ de polegada da amostra com os dentes incisivos e avalia-se a: MéTODOS DESCRITIVOS 189 - dureza: quantidade de força requerida na primeira mordida; - coesão: grau com que a amostra se deforma, após o corte dos dentes; - densidade: amostra é compacta ou não; - umidade: quantidade de suco presente. c) compressão parcial Posiciona-se ¾ de polegada da amostra entre os dentes molares, comprime-se levemente ⅓ da peça e determina-se a: - impressão: grau com que a amostra retém a marca dos dentes. d) mastigação Após o número indicado de mastigadas, avalia-se: - suculência (7 a 10): grau em que a umidade é liberada da amostra; - coesão da massa (15 a 20): grau com que as partículas permane- cem juntas; - rigidez da massa (15 a 20): grau com que as partículas parecem abrasivas; - umidade (20 a 25): grau de suculência; - mastigação: número de mastigadas necessárias para a deglutição do produto; - tamanho das partículas (durante toda a mastigação): - determina a magnitude; - acúmulo nos dentes (durante toda a mastigação): grau com que as partículas preenchem os espaços ao redor e nos dentes; - partículas duras (durante toda a mastigação): quantidade de ma- terial com dureza similar ao osso; ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS190 - cartilagem (ao final da mastigação): quantidade de tecido conec- tivo presente. e) descrição final Em ordem cronológica, descrevem-se as sensações de textura per- cebidas durante toda a mastigação. Após a deglutição, avaliam-se: - partículas: quantidade de material que permanece após a ingestão; - acúmulo nos dentes: quantidade de material acumulado ao redor, entre e sobre os dentes; - camada oleosa na boca: quantidade de resíduo oleoso que perma- nece na superfície da boca. 8.4.4 Análise de textura em bebidas: termos descritivos a) termos relacionados à viscosidade (força requerida para succionar o líquido de uma colher): - fino/ralo/fluido como a água Ex: água, chás; - espesso Ex: Milk-shake, suco de tomate. b) termos relacionados com a carbonatação (GÁS): - borbulhas Ex: refrigerantes em geral, club soda; - efervescente Ex: Cebion, sal de fruta, refrigerantes; - formigamento Ex: champanha; - espumante Ex: cerveja. MéTODOS DESCRITIVOS 191 c) termos relacionados ao corpo: - aguado; - encorpado. d) sensações na superfície bucal: - liso/macio Ex: leite; - polpudo/polposo Ex: suco de laranja, abacaxi (parte carnosa do fruto). - cremoso Ex: chocolate quente. e) cobrimento na cavidade oral: - pegajoso/agarrado Ex: frappé, milk-shake, licor; - delgado (formação de fina camada) Ex: leite; - melado/xaroposo/licoroso Ex: licor. f ) “afterfeel” (sensação residual) - fisiológico: - refrescante Ex: água, limonada; - quente, calor Ex: uísque, licor, café; - “matar a sede” Ex: água, coca-cola; - adstringente Ex: caqui verde (sensação de “amarra” na boca). 8.5 Perfil de sabor O método perfil de sabor foi desenvolvido por Arthur D. Little em 1940, avalia aroma e sabor e é considerado um método qualitativo e semiquantitativo. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS192 8.5.1 Procedimento do perfil de sabor Com o auxílio de um líder, os julgadores desenvolvem a lista de atributos sensoriais que caracterizam o produto alimentício, sugerem amostras referenciais para cada atributo relacionado na lista e definem, por escrito, cada termo descritivo. Após sessões continuadas de treina- mento, realiza-se a análise das amostras propriamente ditas. Em uma mesa redonda, inicialmente, cada julgador avalia individualmente as amostras. São mensuradas cinco características de sabor: - impressão do aroma de uma forma geral, avaliando seu impacto; - fatores perceptíveis do aroma e sabor (discriminação); - intensidade de cada fator; - ordem na qual os fatores são percebidos; - “aftertaste” ou sabor residual. Posteriormente realiza-se a discussão em grupo, por meio da qual as amostras serão reavaliadas para que a conclusão baseie-se apenas no que for consenso da equipe, com o objetivo de obter um resultado final. Os perfis de sabor não são construídos até que um consenso seja obtido. Consulte as recomendações da ISO 6564 (1985). Equipe de julgadores De cinco a oito julgadores selecionados e treinados. Para cada novo produto deve ser desenvolvido termos descritivos e amostras refe- renciais durante novo treinamento, recomendando-se o período de dois meses, duas vezes por semana, sessões de uma hora. MéTODOS DESCRITIVOS 193 Alguns termos utilizados para caracterizar o sabor Notas cítricas/Notas ácidas/Notas de raízes/Notas frutais/ Notas lactônicas (gordura do leite)/Notas verdes (capim fresco ou capim seco)/ Notas florais (perfumadas)/Notas passadas (de muito maduro)/Notas de “remédio” (guaiacol, eugenol, cravo)/Notas herbáceas (ervas aro- máticas)/Notas de “bala” (confeitado, doce)/Notas agressivas/ Aroma fantasia/Aroma alcoólico/Aroma “misturado”/Aroma típico ou caracte- rístico/Aroma cheio, equilibrado ou harmônico. Quanto à fruta: maduro/verde/sumo, suco/casca. Quanto ao sabor estranho: oxidado/alcoólico/acidificado (vina- gre)/remédio/mofo/ardido persistente, pungente (benzoato de sódio, dióxido de enxofre)/soda (residual químico)/contaminação com óleo de máquina/residual de solvente (embalagem), etc. Exemplo: uma análise descritiva de um refrigerante de limão 1) Impacto do aroma e fatores perceptíveis: o primeiro impacto pre- domina o aroma “casca” do limão, característico do siciliano, com leves notas de laranja que resultam no aroma adocicadoposterior. 2) Ordem de sensações na boca: 1º sensação de frescor / 2º sensação do gosto doce acentuado / 3º sensação de borbulhamento agra- dável / 4º gosto ácido, mascarado inicialmente pelo gosto muito doce. 3) Sabor residual: nota anestesiante, gosto levemente amargo com o doce predominando, leve sensação de adstringência. 4) Impressão global: refrigerante com sabor de limão típico, harmô- nico, bem equilibrado, apenas o doce está destoando no equilí- brio, mas está agradável. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS194 Críticas ao método de perfil de sabor - por esse método, a equipe de julgadores é composta por um nú- mero muito pequeno de indivíduos; - o treinamento dos julgadores é muito longo, portanto o método é muito dispendioso; - o líder da equipe ou julgadores de personalidade forte podem influir demasiadamente sobre os resultados obtidos; - o método de perfil de sabor não aplica análise estatística aos resul- tados obtidos. 8.6 Análise descritiva quantitativa (ADq) O método ADQ avalia todos os atributos sensoriais presentes no produto alimentício, quais sejam: aparência, aroma, sabor e textura. Em contraste, o método de perfil de sabor, descrito anteriormente, ava- lia apenas o aroma e o sabor. Esse método foi desenvolvido por Stone e Sidel da Tragon Corporation, em 1974. O ADQ é um método descritivo quantitativo, normatizado pela NBR 14140 (1998), o qual utiliza escalas não estruturadas de 9 a 15 cm, ancoradas um pouco aquém dos extremos com termos que indi- cam a intensidade do atributo que está sendo avaliado: fraco forte 8.6.1 Procedimento do ADQ A aplicação da ADQ envolve as seguintes etapas, relacionadas a seguir: MéTODOS DESCRITIVOS 195 1ª etapa - seleção de julgadores: a equipe deverá ser composta por no mínimo 10 a 12 julgadores selecionados e treinados para possuírem habilidade em verbalizar as sensações e trabalhar em grupo e demons- trar reprodutibilidade. Deve-se iniciar com um número de candidatos três vezes superior ao desejado. Os candidatos deverão ser aprovados nas três etapas básicas de avaliação. 2ª etapa - levantamento dos descritores/desenvolvimento da terminologia: os julgadores avaliam sensorialmente o produto e ver- balizam as sensações percebidas, discutindo-as em grupo com a ajuda do líder da equipe. O objetivo principal desta etapa é o levantamento dos descritores que caracterizam os produtos. Dois métodos podem ser utilizados para desenvolver uma lista de termos descritivos: a) método tradicional: oferecer o produto a cada julgador, solicitan- do que ele faça uma lista completa dos atributos sensoriais que caracterizam o produto. Em seguida, abre-se a discussão, sob a supervisão de um líder. Os termos descritivos mais utilizados irão compor a ficha de análise do produto que está sendo avaliado. b) método de rede (ou grid): As amostras são apresentadas aos pares ao julgador, a fim de serem listadas as diferenças e similaridades entre elas. Por exemplo: ao se comparar três diferentes formula- ções de salsichas, a lista de termos descritivos desenvolvida pelo método de grid será obtida comparando- se A × B, B × C e A × C. Em seguida, abre-se a discussão sob a supervisão de um líder. Os termos descritivos mais utilizados para descrever as diferenças irão compor a ficha de análise. 3ª etapa - treinamento: é realizado com os próprios produtos a serem avaliados e com os materiais de referência. Alguns sistemas modelos também podem ser utilizados durante o treinamento, por exemplo: pode- se adicionar um determinado aromatizante a uma das amostras com o ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS196 objetivo de uma determinada nota aromática ser melhor percebida no produto pelos julgadores, que poderão memorizá-la melhor. A NBR 14140 (1998) solicita apresentar amostras representativas dos extremos de escala para cada atributo sensorial. Também deve- se definir e especi- ficar a metodologia de análise para cada atributo sensorial. Após o treinamento, recomenda-se realizar uma nova seleção dos julgadores, a fim de determinar os que conseguem discriminar, apresen- tam boa reprodutibilidade e produzem resultados consistentes com os demais membros da equipe. 4ª etapa - teste sensorial: após o treinamento e a seleção final dos julgadores, os testes sensoriais podem ser conduzidos em condições que garantam a individualidade dos julgadores, bem como os demais requisitos necessários à avaliação. 5ª etapa - análise dos resultados: são avaliados por Análise de Variância (ANOVA) e um teste de média, normalmente o teste de TUKEY, para comparação das amostras. Os resultados são representados graficamente e a forma típica deste método é chamada de “gráfico- aranha” (spider-web). Dispõe-se no gráfico-aranha a intensidade média de cada atributo, tomando-se o ponto central como zero. Exemplo 1: ADQ aplicado à análise do perfil sensorial de cereais matinais para comprovação de alegações na embalagem Com o objetivo de conhecer os pontos fortes do cereal matinal marca “A”, para explorar na mídia com comprovação científica das ale- gações a serem realizadas na rotulagem das embalagens e também diag- nosticar os pontos fracos para projetar as melhorias necessárias, com- parou-se o cereal matinal sabor banana “A” com as marcas líderes de mercado “B”, “C” e “D”. Foram consideradas as orientações da norma ASTM E1958 (1998) sobre comprovação de alegações sensoriais. MéTODOS DESCRITIVOS 197 Após seleção prévia dos julgadores, realizou-se a etapa de desen- volvimento da terminologia e treinamento para a confirmação da defi- nição dos descritores levantados e a respectiva metodologia de análise para cada descritor. Também foram escolhidas as amostras representativas dos extremos de escala para cada descritor, demonstradas no Quadro 7. A ficha de análise desenvolvida está na Figura 32. Descritor Definição Referência máximo escala Aparência 1. Quantidade da fruta banana Quantidade aparente da fruta banana desidratada que aparece na porção equivalente a uma caixa Preparado de granola tradicional Jasmine e banana liofilizada (Liotécnica) 1:1 em volume 2. Caracterização da fruta banana Análise da aparência da banana desidratada, o quanto se mantém típica, íntegra e característica da fruta “in natura” Banana liofilizada da Liotécnica 3. Quantidade de grãos de aveia aparente Quantidade de grãos de aveia caracterizados e identificados em uma porção equivalente a uma caixa 100% flocos de aveia inteira da Ferla 4. Quantidade de aglomerados Quantidade de flocos aglomerados formando torrões ou grumos na porção equivalente a uma caixa Granola tradicional da marca Jasmine 5. Tonalidade da cor marrom Cor predominante que aparece na porção equivalente a uma caixa. Escala de tons em marrom, desde o claro até o escuro Tabela de cores Pantone 141C a 147C 6. Variedade de ingredientes Quantidade de ingredientes diferentes identificados em uma porção equivalente a uma caixa Amostra 135 (marca D) acrescida de frutas secas 7. Açúcar branco aparente Quantidade de açúcar branco aparente na superfície relativa a uma porção equivalente a uma caixa Sucrilhos da Kellogs quadro 7 – Definições e referências do grau máximo da escala ADQ cereais matinais sabor banana (continua) ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS198 Descritor Definição Referência máximo escala odor 8. Odor característico da banana Intensidade do odor característico da banana Banana caturra “in natura” madura (casca amarela com poucas pintas pretas) 9. Odor de ranço/oxidado Intensidade do odor oxidado Amostra 135 (referente cereal D) sabor 10. Doçura Intensidade do gosto doce caracterís- tico, associado à presença de açúcares Sucrilhos (Kellogs) 11. Sabor característico da banana Intensidadedo sabor de banana Polpa de banana caturra “in natura” madura (casca amarela com poucas pintas pretas) 12. Sabor da aveia Intensidade do sabor de aveia Flocos de aveia inteira da Quaker 13. Ranço Intensidade do sabor oxidado Castanha-do-pará rancificada 14. Queimado Intensidade do sabor de cereal queimado Flocos de aveia caramelizada e queimada no forno 15. Sabor de milho Intensidade do sabor característico de milho Flocos de milho sem açúcar Audição 16. Crocância Intensidade do som que estala durante a mastigação após dois minutos da adição do leite ao cereal matinal na proporção 40 g de cereal matinal para 50 mL de leite integral Sucrilhos (Kellogs) puro, sem a adição do leite textura 17. Dureza Força requerida para o rompimento do produto entre os dentes molares Banana liofilizada da Liotécnica 18. Mastigabilidade Número de mastigadas necessárias para reduzir uma colher de sopa (de medida) da amostra preparada com leite à consistência adequada para a deglutição, considerando-se a velocidade de uma mastigada/segundo Não utiliza escala quadro 7 – Definições e referências do grau máximo da escala ADQ cereais matinais sabor banana (conclusão) MéTODOS DESCRITIVOS 199 ADq CEREAl mAtINAl sABoR BANANA Nome: Data: Prove cuidadosamente as quatro porções de cereais matinais preparados com leite que lhe está sendo apresentado, avaliando inicialmente as características de aparência, e após,aroma e o sabor. Marque com um traço a intensidade percebida do atributo. Obrigado. APARêNCIA Quantidade da fruta banana desidratada imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso Caracterização da fruta banana imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso Quantidade de flocos de aveia aparente imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso figura 32 – Ficha de análise dos cereais matinais sabor banana marcas A, B, C e D (continua) ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS200 APARêNCIA Quantidade de aglomerados imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso Tonalidade predominante da cor (marrom Pantone 141C – 147C) imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso Variedade de ingredientes imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso figura 32 – Ficha de análise dos cereais matinais sabor banana marcas A, B, C e D (continua) MéTODOS DESCRITIVOS 201 APARêNCIA Açúcar branco aparente imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso oDoR Odor característico da banana imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso Odor de ranço/ oxidado imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso figura 32 – Ficha de análise dos cereais matinais sabor banana marcas A, B, C e D (continua) ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS202 sABoR Doçura imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso Sabor característico da banana imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso Sabor da aveia imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso figura 32 – Ficha de análise dos cereais matinais sabor banana marcas A, B, C e D (continua) MéTODOS DESCRITIVOS 203 sABoR Sabor oxidado/ ranço imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso Sabor queimado imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso Sabor de milho imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso figura 32 – Ficha de análise dos cereais matinais sabor banana marcas A, B, C e D (continua) ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS204 As 4 amostras preparadas com leite serão servidas novamente, aguardando-se o tempo de 2 minutos após a adição do leite para análise da crocância através da audição. Em seguida, proceder a análise da dureza e mastigabilidade, nesta ordem. AUDIção Crocância imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso tExtURA Dureza imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso imperceptível muito intenso mastigabilidade: Número de mastigadas necessárias para reduzir uma colher de sopa da amostra à consistência adequada para deglutição: = = = = figura 32 – Ficha de análise dos cereais matinais sabor banana marcas A, B, C e D (conclusão) MéTODOS DESCRITIVOS 205 tabela 17 – Médias de intensidade da escala de 10 pontos obtidas para cada descritor (com exceção da mastigabilidade que não utiliza escalas) A B C D Aparência Quantidade da fruta banana 1,74 b 4,84 a 2,66 ab 4,59 a Caracterização da fruta banana 1,38 b 4,48 a 2,24 ab 2,90 ab Quantidade de flocos de aveia aparente 2,91 b 3,83 b 7,91 a 6,52 a Quantidade de aglomerados 1,41 b 1,02 b 7,65 a 2,18 b Tonalidade da cor marrom predominante 3,21 b 3,50 b 7,27 a 6,93 a Variedade de ingredientes 3,19 b 5,79 a 3,73 ab 5,20 a Açúcar branco aparente 2,10 b 6,49 a 1,27 b 2,10 b odor Odor característico de banana 5,22 a 6,84 a 2,57 b 1,04 b Odor de ranço/oxidado 1,41 b 1,16 b 2,36 b 8,04 a sabor Doçura 5,12 b 7,97 a 2,83 c 1,92 c Sabor caracterítico da banana 5,57 a 4,34 b 2,93 b 2,68 b Sabor da aveia 3,90 a 3,42 a 5,52 a 3,66 a Sabor oxidado/ranço 1,39 b 1,74 b 3,44 b 7,24 a Sabor queimado 1,21 b 1,02 b 3,40 ab 5,57 a Sabor de milho 2,45 b 5,95 a 2,50 b 1,80 b Audição Crocância 6,72 a 4,25 b 3,93 b 3,11 b textura Dureza 3,78 ab 2,35 b 5,05 a 4,52 ab Mastigabilidade (n. mordidas até deglutição com 1 mastigada/segundo) 27,8 b 25,6 b 35,6 a 35,4 a Nota: Médias (n = 10 julgadores) a,b,c Médias na mesma linha com letras diferentes sobrescritas diferem entre si pelo teste de Tukey (p < 0,05) Quanto à aparência, tem-se: 1) Quantidade da fruta banana desidratada aparente O cereal matinal A têm uma quantidade significativamente menor ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS206 de banana desidratada aparente do que os cereais B e D (p < 0,01), não diferindo significativamente de C. 2) Caracterização da fruta banana O cereal matinal A apresenta a banana desidratada significativa- mente menos característica que o B (p < 0,05), porém não apre- senta diferença na caracterização da fruta banana para os cereais C e D. 3) Quantidade de flocos de aveia aparente Os cereais matinais C e D apresentam uma quantidade de flocos de aveia aparente significativamente maior (p < 0,01) do que os cereais A e B apresentam. 4) Quantidade de aglomerados O cereal matinal C apresenta uma quantidade de aglomerados significativamente maior (p < 0,01) que os cereais A, B e D. 5) Tonalidade da cor marrom predominante Os cereais matinais C e D apresentam a tonalidade da cor mar- rom significativamente mais intensa em relação aos cereais A e B(p < 0,01). 6) Variedade de ingredientes O cereal A tem a variedade de ingredientes significativamente menor que os cereais B e D (p < 0,01) e não difere do cereal C. 7) Açúcar branco aparente O cereal matinal B tem o açúcar branco aparente em proporção significativamente maior que os cereais A, C e D (p < 0,01). Concluindo-se: O cereal matinal A apresenta similaridades com B na aparência quanto à cor e menor quantidade de flocos de aveia aparente que os ce- reais C e D. Portanto, nosso cereal precisa utilizar açúcar mascavo e mais aveia flocos grandes se quiser estar associado às marcas mais naturais e integrais. O ponto fraco da marca B está na cobertura de açúcar branco. MéTODOS DESCRITIVOS 207 Ainda, a marca A está em desvantagem quanto à variedade de ingredientes, na quantidade e caracterização aparente da fruta banana. Uma particularidade do cereal C é a presença de aglomerados de cereais. Quanto ao odor: 8) Odor característico de banana Os cereais matinais A e B têm o odor característico de banana significativamente mais intenso (p < 0,01) que os cereais C e D. 9) Odor de ranço/ oxidado O cereal matinal D tem o odor de ranço/oxidado significativa- mente mais intenso (p < 0,001) do que os cereais A, B e C. Concluindo-se: Os cereais A e B são equivalentes e superiores na caracterização do odor banana, enquanto o cereal D tem a desvantagem de apresentar odor de ranço/ oxidado. Quanto ao sabor: 10) Doçura O cereal matinal B é significativamente mais doce que todos os demais cereais (p < 0,001). Os cereais C e D são significativamente menos doces que os cereais A e B. 11) Sabor característico da banana O cereal matinal A tem o sabor característico de banana significa- tivamente mais intenso que os cereais B, C e D (p < 0,01). 12) Sabor da aveia Os cereais matinais analisados não diferem entre si quanto à inten- sidade do sabor de aveia. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS208 13) Sabor oxidado/ ranço O cereal D tem o sabor oxidado/rançoso significativamente mais intenso (p < 0,01) que todos os outros cereais analisados. 14) Sabor queimado O cereal matinal D tem sabor queimado significativamente mais intenso que os cereais A e B (p < 0,01), porém não difere signifi- cativamente do cereal C. 15) Sabor de milho O cereal B tem sabor de milho significativamente mais intenso que todos os demais cereais analisados (p < 0,001). Concluindo-se que no sabor: O cereal B é significativamente mais doce e tem sabor de milho significativamente mais intenso que todos os demais. O cereal A tem sabor característico de banana significativamente mais intenso que todos os demais. O cereal D tem sabor oxidado/ rançoso em relação a todos os outros e os cereais C e D apresentam sabor de queimado. Quanto à textura: 16) Crocância (avaliada na audição) O cereal matinal A é significativamente mais crocante do que todos os outros cereais (p < 0,05). 17) Dureza O cereal matinal C (média = 5,05) é significativamente mais duro do que o cereal B (2,35), no nível de 5% de erro, porém não difere dos cereais A (3,78) e D (4,52) quanto à dureza. 18) Mastigabilidade Os cereais matinais C e D têm mastigabilidade significativamen- te maior que os cereais A e B (p < 0,01). MéTODOS DESCRITIVOS 209 Concluindo-se que na textura: A crocância do cereal A é significativamente maior que B, C e D. O cereal A tem dureza e mastigabilidade similares ao cereal B. De uma forma geral, podemos dizer que o cereal A apresenta oportunidades de melhoria na aparência. Quanto à alegação na embalagem do cereal matinal A podemos comprovar que é significativamente mais saboroso, quanto ao sabor da fruta, e significativamente mais crocante que todos os demais concor- rentes no mercado. Os gráficos-aranha foram divididos por atributos de Aparência (Figura 33), Odor e Aroma (Figura 34) e Textura (Figura 35). Caracterização da fruta banana Quantidade de flocos de aveia aparente Quantidade de aglomerados Tonalidade predominante da cor Variedade de ingredientes Açúcar branco aparente Quantidade da fruta banana Gráfico-aranha – Aparência 8 6 4 2 0 A C B D figura 33 – Gráfico-aranha dos atributos de aparência dos cereais matinais A, B, C e D ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS210 A C B D Odor característico de banana Odor de ranço/oxidado Doçura Sabor característico da banana Sabor oxidado/ranço Sabor queimado Sabor de milho Sabor da aveia Gráfico-aranha – Odor e Aroma 0 2 4 6 8 10 figura 34 – Gráfico aranha dos atributos de odor e aroma dos cereais matinais A, B, C e D A C B D Crocância Mastigabilidade Dureza Gráfico-aranha – Textura 0 1 2 3 4 5 6 7 figura 35 – Gráfico-aranha dos atributos de textura dos cereais matinais A, B, C e D MéTODOS DESCRITIVOS 211 Exemplo 2: ADQ aplicado à análise de amostras de sidras A seguir é demonstrada a ficha de análise na Figura 36, com as amostras de referência para o grau máximo da escala e o treinamento uti- lizado para a realização de uma análise descritiva, comparando-se sidras fabricadas a partir das variedades de maçã: golden, fuji, gala e granny. Referências/padrões desenvolvidos para utilização do grau máxi- mo das escalas (muito intenso), na avaliação das sidras: - aroma perfumado: solução aquosa de 2-fenil-etanol - concentra- ção 100 ppm; - aroma frutado: polpa extraída da fruta, de acordo com as varie- dades utilizadas para fabricação da sidra: fuji, gala, golden e granny; - aroma fermentado: fermento fresco Fleischmann; - doçura: solução aquosa de sacarose - concentração 8,0%; - acidez: solução aquosa de ácido cítrico - concentração 1,0%; - adstringência: solução aquosa de ácido tânico - concentração 0,1%; - sensação de calor: solução alcoólica 50%. Durante treinamento específico, foram utilizadas outras referên- cias, com objetivo informativo e de desenvolvimento de vocabulário, tais como: - sensação pungente: solução aquosa de ácido fórmico 0,5%; - nota de herbáceo (ervas): solução de trans-2-hexanal 0,1% em óleo mineral; - aroma frutado: solução de b-ionona 0,1% em óleo mineral; - nota de amêndoa: solução aquosa de benzaldeído 0,1%; - nota adocicada: solução saturada de piperonal; - aroma rancificado: solução aquosa de ácido butírico - concentra- ção 100 ppm. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS212 Prove cuidadosamente o cálice de sidra que lhe está sendo apresentado, avaliando inicialmente as características de aroma, e após, o sabor e a textura. Marque com um traço a intensidade percebida do atributo. Obrigado. APARêNCIA Aroma Perfumado imperceptível muito intenso Aroma Frutado imperceptível muito intenso Aroma Fermentado imperceptível muito intenso sABoR Doçura imperceptível muito intenso Acidez imperceptível muito intenso Adstringência imperceptível muito intenso Sensação de calor imperceptível muito intenso tExtURA Corpo aguado fluido como água encorpado Sensações relativas à carbonatação imperceptível muito intenso Efervescência imperceptível muito intenso Formigamento imperceptível muito intenso figura 36 – Ficha de análise MéTODOS DESCRITIVOS 213 Para treinamento de textura em bebidas foram utilizadas as refe- rências descritas no capítulo 8 (ver 8.4.4 Análise de textura em bebidas), e para avaliação do corpo das bebidas, foram utilizadas sidras de di- versas marcas de mercado, acrescidas de espessantes, em concentrações crescentes, tais como: goma guar, goma arábica e carboximetilcelulose. Exemplo 3: gráfico-aranha obtido a partir de ADQ edulcorante aspartame Aranha (Gráfico 4) resultante de ADQ comparativo entre solu- ções do edulcorante aspartame e do açúcar como a referência. Comparação– aspartame vs. açúcar 10% (doçuras equivalentes) amargo residual amargo inicial doçura residual corpo doçura inicial secura na boca inicial secura na boca residual 10% de sacarose Aspartame (Nutrasweet) gráfico 4 – Gráfico-aranha representativo dos atributos que melhor caracterizam o edulcorante aspartame em relação ao padrão sacarose ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS214 Você encontra outro exemplo completo de ADQ no estudo de caso apresentado no capítulo 11. 8.6.2 Análise estatística dos resultados de ADQ Para a análise dos dados provenientes de equipes treinadas para teste descritivo é importante utilizar a análise de variância (ANOVA) para os principais efeitos: amostras e julgadores e o efeito interação amostra x julgador. A fonte de variação amostra × julgador permitirá verificar o grau de consenso entre os julgadores, fator importante para avaliar a validade dos resultados. Caso exista uma interação significativa, é necessário verificar sua gravidade e, caso os resultados não indiquem grande falta de consenso entre os julgadores, tentar identificar o jul- gador que não está em consenso com o grupo pelo gráfico das médias (amostras × julgadores) por atributos, excluir o julgador e executar no- vamente a ANOVA. Segue o esquema da análise, de um modo geral (Quadro 8). Modelo: Yij = Tratamento (T)i + Julgador (J)ij + T × J + eij (8.2) fontes de variação grau de liberdade soma dos quadrados quadrado médio f Tratamentos (T) T − 1 … … … Julgadores (J) J − 1 … … … Interação (T × J) (T − 1) × (J − 1) … … … Resíduo T × (J × r* − J) … … … total (T × J × r) − 1 … … … quadro 8 – Esquema geral da análise de variância com duas fontes de variação e sua interação * r = repetição. MéTODOS DESCRITIVOS 215 O procedimento estatístico visa verificar a acuidade dos julgadores sob os seguintes aspectos: - se os julgadores conseguem realmente discriminar as amostras, o fator F será significativo para o atributo; - se apresentam boa reprodutibilidade; - se os julgadores causam interação (T × J). O primeiro passo é calcular a análise de variância para cada atri- buto sensorial, utilizando dados obtidos dos julgadores e compilado em tabela, conforme exemplo na Tabela 18. O modelo da análise de variância, conforme ilustrado no Quadro 8, é para um atributo espe- cífico, obtendo- se o resultado exemplificado no Quadro 9 para o atri- buto aroma. tabela 18 – Exemplo de experimento com cinco julgadores, três amostras e três repetições, para atributos sensoriais julgador Amostra Rep. Aroma salgado Doce ácido Amargo Adstringente 1 Amostra 1 1 3,60 8,48 2,68 1,50 2,23 2,00 1 Amostra 1 2 3,50 8,48 2,68 1,48 1,78 2,13 1 Amostra 1 3 3,94 7,50 2,00 1,50 2,00 2,00 1 Amostra 2 1 9,00 8,20 2,90 1,50 2,13 2,08 … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … 5 Amostra 2 3 5,50 6,00 0,05 1,70 1,40 5,55 5 Amostra 3 1 6,00 5,00 0,00 3,25 0,10 7,70 5 Amostra 3 2 5,50 4,50 1,00 2,00 1,00 6,00 5 Amostra 3 3 7,19 4,00 0,05 4,40 0,05 7,40 Fonte: FARIA; YOTSUYANAGI, 2002. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS216 Teste de Hipótese para as amostras H0 : H1 : µ1 = µ2 = µ3 µ1 ≠ µ2 ≠ µ3 fonte de variação grau de liberdade soma dos quadrados quadrado médio valor de f Pr > f Modelo 14 209,918 14,994 17,18 0,0001 Erro 30 39,285 0,873 — — total 44 24,203 — — — quadro 9 – Análise de variância univariada para o atributo aroma Os graus de liberdade do modelo da análise de variância do Quadro 9 devem ser desdobrados em fatores principais e interações (Quadro 10). fonte de variação grau de liberdade soma dos quadrados quadrado médio valor de f Pr > f Amostra 2 99,801 49,901 57,16 0,0001 Julgador 4 12,572 3,143 3,60 0,0125 Amostra × Julgador 8 97,545 12,193 13,97 0,0001 quadro 10 – Desdobramento das fontes de variação do modelo analisado no Quadro 9 Análise dos resultados em nível de significância α de 5% de probabilidade: MéTODOS DESCRITIVOS 217 a) análise do fator amostra F2;30 = 3,32 segundo a Tabela 51 (Anexo O), e Famostra = 57,16; índice significativo, indicando que os julgadores perceberam diferenças sensoriais, entre pelo menos duas amostras testadas, necessitando veri- ficar a comparação entre as médias. b) teste de comparação das médias 1) Teste de comparação de todo e qualquer contraste entre as duas médias de tratamentos. Teste de diferença mínima significativa com erro de 5% de pro- babilidade do teste de Tukey para 3 amostras e 30 graus liberdade do resíduo q = 3,48 (Tabela 55, Anexo S). Tukey = q S² r = 3,48 = 1,88 0,873 3 (8.1) Onde QMR = quadrado médio do resíduo. Diferenças das médias pelo teste de Tukey: Amostra média grupo 1 3,68 b 2 3,34 b 3 6,23 a Pode-se concluir que as amostras 1 e 2 não diferem entre si, en- quanto diferem significativamente da amostra 3 com 5% de probabili- dade de erro. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS218 2) Teste de comparação dos contrastes entre as médias dos trata- mentos com amostra-padrão. Suponha-se que a amostra 1 seja a amostra-padrão. Neste caso, deve-se aplicar o teste de diferença mínima significativa do teste de Dunnett com 5% de probabilidade de erro, e 2 e 30 graus liberdade, respectivamente, para o tratamento e resíduo; temos D = 2,89 segundo a Tabela 54, Anexo R, bilateral, obtendo os seguintes resultados: Dunnett = D 2 × S² r = 2,89 = 1,77 2 × 0,873 3 (8.3) Diferenças das médias pelo teste de Dunnett: Amostra média grupo Padrão – 2 3,68 – 3,34 a Padrão – 3 3,68 – 6,23 b Pode-se concluir que a amostra 2 não difere do padrão, enquanto a amostra 3 difere significativamente da amostra-padrão a com 5% de probabilidade de erro. c) análise do fator julgador F4;30 = 2,69 segundo a Tabela 51 (Anexo O), e Fjulgador = 3,60; índice significativo, indicando que, apesar do treinamento, pelo menos um julgador usou diferentes porções da escala para expressar a sensação provocada por uma mesma amostra. Verificar se cada julgador está dis- criminando as amostras e sua repetibilidade. MéTODOS DESCRITIVOS 219 Observe no Quadro 11 que o julgador 2 não conseguiu discrimi- nar as amostras, bem como não conseguiu boa repetibilidade. Atributo – Aroma fonte de variação grau de liberdade soma dos quadrados quadrado médio valor de f Pr > f julgador 1 Amostra 2 66,682 33,341 90,18 0,0001 Repetibilidade 2 0,409 0,205 0,37 0,7786 julgador 2 Amostra 2 0,792 0,396 0,61 0,5725 Repetibilidade 2 4,500 2,250 2,32 0,1747 julgador 3 … … … … … … … … … … … … … … … … … … julgador 5 Amostra 2 57,125 28,563 46,21 0,0002 Repetibilidade 2 0,729 0,365 0,39 0,7627 quadro 11 – Análise de variância por julgador e atributo d) análise do fator interação (amostra × julgador) F8,30 = 2,27 segundo a Tabela 51 (Anexo O), e Famostra × julgador = 13,97; índice significativo, indicando problema grave no treinamento e seleção dos julgadores, isto é, na equipe pode haver pelo menos um jul- gador avaliando as amostras de forma contrária à equipe e os resultados devem ser interpretados com cautela. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS220 Uma das maneiras de verificar quais julgadores estão provocando a interação é fazer o gráfico por atributo das médias de cada tratamento por julgador, conforme exemplificado no Gráfico 5. Amostra 1 0 2 4 6 8 J5 J4 J3 J2 J1 10 Amostra 2 Amostra 3 gráfico 5 – Configuração dos julgadores × amostras de um atributo sensorial Analisando o Gráfico 5, verifica-se que o julgador 2 avaliou as amostras de uma forma diferente dos demais membros da equipe. Este julgador está inconsistente com os demais membros da equipe sensorial e gerando a interação (amostra× julgador). Em resumo, os principais aspectos da análise estatística do ADQ estão na análise do desempenho dos julgadores para julgar a validade dos resultados. Porém, o objetivo principal da análise dos resultados é determinar como os atributos sensoriais diferem entre as amostras. Portanto, uma sequência típica de análise pode ser: 1) análise multivariada (MANOVA): é pouco utilizada graças à sua sofisticação, o que para muitos se torna um impedimento; 2) análise de variância (ANOVA) para cada atributo; MéTODOS DESCRITIVOS 221 3) médias e comparações entre as médias para cada atributo; 4) análise multivariada de matriz dos escores médios dos atributos para as amostras (análise de componente principal – ACP, análise de clus- ters, escala multidimensional – EM) ou os escores individuais para todos os atributos por amostras (análise de procrustes) - gráficos; 5) outro gráfico característicos do método ADQ é o gráfico-aranha que apresenta as médias de intensidades dos atributos das amos- tras. Este gráfico permite uma visualização muito marcante e pre- cisa do perfil sensorial das amostras e das diferenças de intensidade dos atributos entre elas. 8.6.3 Considerações finais Quanto tempo é necessário para realizar-se um ADQ? A resposta é um longo tempo. Todas as etapas que descrevemos consomem tempo. O prazo para realização desta análise irá depender da qualificação e da motivação dos julgadores. Indicamos abaixo, a título de ilustração o consumo geral de tempo nas etapas de análise para um produto de na- tureza complexa indicado por Guinard (2006b). Definimos como pro- duto complexo aquele que apresenta importantes descritores em todos os grupos e inclui a análise de todos os grupos de atributos primários, na seguinte sequência: aparência, odor, sabor (aroma + gosto + irrita- ção química), textura e sensações bucais, sabores residuais e sensações residuais. Em suma, o tempo a ser gasto depende muito destes fatores: qualificação e motivação dos julgadores e a complexidade do produto. - Desenvolvimento da terminologia/ levantamento dos descritores: 4 a 8 sessões de uma hora; - Definições dos descritores (atributos secundários, terciários, etc.), avaliação dos protocolos de análise, referências das escalas: 4 a 6 sessões de 15 a 30 minutos; ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS222 - Treinamento do grupo: 4 a 6 sessões de 1 hora e 4 a 6 sessões de treinamento individual de 15 minutos de duração; - Análise descritiva propriamente dita: depende do número de amostras, do número de sessões e de repetições e da extensão da ficha de análise. Por exemplo, para análise de 15 amostras com 20 atributos, 3 repetições e 5 amostras por sessão resultam 9 sessões de aproximadamente 30 minutos de duração por julgador; - Total para este exemplo: 26 a 35 sessões. Se o painel sensorial estiver disponível todos os dias da semana, serão necessárias 5 a 7 semanas. Considerando-se que o painel disponibilize 3 dias da semana, a análise ocorrerá dentro de 8 a 12 semanas. Guinard e colaboradores (1997) apresentam resultados detalha- dos de uma análise de ADQ de sorvetes de baunilha com concentra- ções crescentes de açúcar e de gordura, com os parâmetros de análise de discriminação, reprodutibilidade e consistência dos julgadores, nor- malmente omitido em outras publicações. Recomendamos como mais um exemplo. 8.7 Perfil livre Tony Williams do Sensory Research Laboratories desenvolveu o método Perfil Livre (Free-Choice Profiling) e a publicação original do método foi realizada por Williams e Langron em 1984. Reconhecido como a metodologia mais inovadora de se conduzir uma análise descri- tiva, é chamado “livre” porque desde o princípio, até o fim da avaliação, o julgador tem a liberdade de usar os termos descritivos que desejar, na quantidade que desejar. Cada julgador desenvolve sua própria termino- logia e, portanto, sua própria ficha de análise quantitativa. Entretanto, o julgador deve usar os termos de forma consistente durante a avaliação dos produtos. O que desmistifica a ideia de que o perfil livre não requer MéTODOS DESCRITIVOS 223 qualquer treinamento. Como qualquer outro teste sensorial descritivo, requer treinamento para uso consistente da sua própria terminologia e o treinamento é realizado individualmente com cada julgador. O que fundamenta esta metodologia é que, independentemente da linguagem que está sendo utilizada para descrever os produtos, os julgadores estão descrevendo e classificando os mesmos produtos e a configuração geral do espaço sensorial dos produtos, derivado de suas avaliações, deve ser a mesma. É importante destacar que só foi possível a aplicação do perfil livre a partir do desenvolvimento da Análise Procrustes Generalizada (Generalised Procrustes Analysis – GPA), por Gower (1975), pois somente por meio desta técnica estatística é possível analisar os dados obtidos com o perfil livre. A análise procrustes generalizada permite o ajuste dos dados relativos ao uso de diferentes partes da escala pelos diferentes julgadores, manipulando os dados e combinando termos que aparecem para descrever e medir uma mesma característica sensorial. Esta combi- nação de termos fornece um único perfil do produto. Essa técnica se baseia no princípio de que as pessoas percebem as mesmas características nas amostras mesmo que se expressem de forma diferente (SILVA; DAMÁSIO, 1996). A combinação de termos necessária ao tratamento dos dados é de responsabilidade do analista sensorial, de forma que as palavras ou termos que definem cada parâmetro sensorial vêm mais do analista sen- sorial do que dos próprios julgadores, sendo esta uma crítica frequente ao método (FARIA; YOTSUYANAGI, 2002). 8.7.1 Procedimento do perfil livre No início, seu procedimento é semelhante ao ADQ (Tabela 19). Apresentam-se as amostras do produto a ser avaliado e solicita-se que cada julgador desenvolva uma lista própria de descritores e definições. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS224 tabela 19 – Comparação das etapas utilizadas no ADQ e no Perfil Livre ADq Perfil livre 1. Seleção inicial dos julgadores 2. Listas individuais de termos descritivos (atributos) 3. Lista consenso de atributos 4. Ficha/glossário 5. Treinamento (uso de escalas, amostras) 6. Padronizar extremidades das escalas 7. Seleção final de julgadores (ANOVA): habilidade de utilizar as escalas, repetibilidade e concordância com a equipe 8. Avaliação das amostras 9. Análise estatística: ANOVA e Teste de média. Análise de Componentes Principais 1. Seleção inicial dos julgadores 2. Listas individuais de termos descritivos (atributos) 3. Treinamento individual, definições 4. Ficha/glossário 5. Avaliação das amostras 6. Análise Estatística: Análise Procrustes Generalizada Com essas listas de termos, são confeccionadas as fichas de avalia- ção individual, com uma escala de intensidade para cada termo, assim como suas definições. Deste modo, cada julgador avalia as amostras utilizando seus próprios descritores. As definições dos atributos devem estar claras não somente para o julgador como também para o respon- sável pela análise, pois essa informação é muito importante para a in- terpretação dos resultados. Dois julgadores poderão avaliar a mesma característica, porém utilizando distintos termos e esse fato poderá ser detectado pela comparação das definições. É necessário: - 10 a 15 julgadores; - três repetições por amostra; - coerência/consistência no uso dos atributos e escalas ao longo do experimento. MéTODOS DESCRITIVOS 225 a) análise dos dados A única técnica estatística que se pode aplicar é a Análise Procrustes Generalizada (GPA). O fundamento dessa análise é aproximar as confi- gurações de cada julgador a uma configuração média, ou consenso, maxi- mizandoas similaridades geométricas. Os resultados de cada julgador são considerados coordenadas num espaço multidimensional. Essas coordenadas são transformadas, evitando as fontes de variação quanto ao uso de diferentes partes da escala, diferentes interpretações dos termos descritivos e uso de diferentes intervalos de valores. Os resultados da GPA permitem detectar os julgadores que apresentam problemas de diferenças de percepção e de falta de repetibilidade. Desta forma, se um determinado julgador apresenta alguns desses problemas, pode-se eliminar seus dados para voltar a aplicar a GPA com os dados restantes (ORESKOVICK; KEIN; SUTHERLAND, 1991). Os programas comercializados para a aplicação da Análise Procrustes Generalizada (GPA) são: GENSTAT, da Inglaterra, e SENSTOOLS (OP&P Research), da Holanda. 8.7.2 Perfil Livre Flash É uma variação do Perfil Livre, desenvolvida pelos cientistas sen- soriais franceses Jean-Marc Sieffermann e Julien Delarue. É uma técnica baseada na combinação do Perfil Livre com a análise comparativa de um conjunto de produtos. Para ganhar tempo, as fases de familiarização com o produto, geração dos atributos e classificação dos atributos são inte- gradas em uma única etapa. As características principais do método são: - Avaliação comparativa de todo o conjunto de produtos. Os jul- gadores ordenam os produtos (é permitido o empate de ordens) ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS226 atributo por atributo. Este procedimento força os julgadores a ter foco nas diferenças perceptíveis e tão somente usar atributos discriminativos. De acordo com os autores, a familiarização com o conjunto de produtos deixa de ser uma questão crítica porque os julgadores têm acesso simultâneo a todos os produtos e às suas diferenças. - Os julgadores desenvolvem e usam sua própria lista de descritores. Os autores alegam que não é necessário o treinamento para que o julgador utilize os descritores de forma consistente. Porque cada julgador gera seu próprio espaço por produto e os dados são ana- lisados por GPA – Procrustes. - Os julgadores de Perfil Livre Flash devem ter experiência em aná- lise sensorial e não no produto. Isto significa que os julgadores podem entender mais facilmente as intruções do líder, gerar des- critores não hedônicos e discriminações, como também comunicar sobre as suas percepções eficientemente. Foi realizada uma comparação dos métodos descritivos Perfil Livre Flash versus perfil convencional para análise do sabor de iogurtes de morango e de queijos frescos com damascos por Delarue e Sieffermann (2004). Os dois métodos produziram os mesmo resultados para os iogurtes, mas não para os queijos. De modo geral, o Perfil Flash resul- tou em maior discriminação das amostras do que o perfil convencional. Neste estudo, o Perfil Flash foi realizado em quatro sessões. Na pri- meira, os julgadores foram solicitados a gerar os descritores que eles conseguiam discriminar entre as amostras. Todos os descritores gerados foram reunidos e demonstrados a todos os julgadores no início da se- gunda sessão, com a oportunidade de eles melhorarem e atualizarem as suas listas. Os julgadores, então, ordenaram todas as suas amostras para cada descritor (atributo) da sua lista. Empates foram permitidos e os julgadores poderiam reanalisar as amostras quantas vezes desejassem. A terceira e a quarta sessão foram as replicações da análise sensorial. Na MéTODOS DESCRITIVOS 227 média, as sessões tiveram a duração de 40 a 75 minutos. As sessões do método convencional tiveram a duração entre 30 a 40 minutos, porém com um número maior de sessões. Como já ilustrado no item 8.6.3, o método convencional pode utilizar 26 a 35 sessões para este produto. As vantagens do Perfil Flash são o resultado rápido e o fato de promover uma boa discriminação entre as amostras. As desvantagens incluem a necessidade de julgadores experientes e a necessidade do pro- grama GPA – Procrustes. 8.8 tempo-Intensidade (t-I) O teste tempo-intensidade (T-I) envolve o monitoramento de determinados atributos e suas intensidades com o passar do tempo. É de- finido como uma medida da velocidade, duração e intensidade de esti- mulação por um único estímulo (Gráfico 6). Das curvas T-I são obtidos principalmente três parâmetros: tempo para alcançar a intensidade máxima, intensidade máxima e duração total ou persistência do sabor residual. A análise dos dados T-I geralmente consiste em sumarizar as curvas de julgadores individuais, promovendo suas médias. As curvas individuais se apresentam de formas diferentes, sendo que o desvio- padrão das curvas médias é frequentemente amplo. É um método muito útil na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e encontra maior aplicação no estudo de adoçantes e edulco- rantes. Para que um edulcorante seja de boa aceitabilidade deve apre- sentar perfil de doçura razoavelmente similar ao da sacarose, pratica- mente livre de amargor e outros sabores. O ideal é que o gosto doce aparente ocorra em um ou dois segundos e persista por aproximada- mente 30 segundos. Para comparações entre os diversos adoçantes e edulcorantes é essencial o estudo de soluções que apresentem o mesmo nível de doçura. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS228 Por meio desse método, é possível caracterizar curvas T-I de dife- rentes adoçantes e edulcorantes quanto ao seu impacto de doçura, in- tensidade máxima e persistência do sabor residual, como também suas diferentes combinações. A American Dietetic Association (ADA), em 2004, por meio de relatório, expressa sua preocupação mundial com a ingestão dos açúcares adicionados aos alimentos e bebidas, os quais apresentam evidências clínicas diretas com problemas de obesidade (classificado como epidemia: dos 6 bilhões de habitantes do planeta, 1,4 bilhão estão com excesso de peso), de cárie dental e o efeito da frutose no aumento de triglicerídeos. E recomenda a substituição do açúcar por edulcorantes permitidos na legislação, observando-se que o gosto doce está associado à sensação de prazer e satisfação do ser humano (aumenta o nível de serotonina) e as últimas pesquisas comprovam que o prazer pelo gosto doce é inato, portanto, inevitável. estimulação 120 20 10 5 (a) B/A = gosto remanescente (b) C/(A + C) = adaptação C Adaptação Gosto remanescente In te ns id ad e seg A 20 B gráfico 6 – Curva de tempo-intensidade e definição de adaptação e gosto remanescente MéTODOS DESCRITIVOS 229 8.9 teste da amostra única Apenas uma amostra é servida ao julgador, por sessão, para avalia- ção da presença de qualquer odor ou sabor estranho no produto testado. O julgador pode avaliar a amostra numa escala numérica ou indicar a presença ou ausência de alguma característica em particular. É necessário um grupo de 6 a 10 julgadores treinados e experientes. O mo- delo de ficha indicado na Figura 37 é o mais utilizado. É muito aplicado em análise de produtos não perecíveis com prazo de validade vencido, produtos conservados sob refrigeração, como também em contamina- ções, principal exemplo: residual de solventes em embalagens que mi- gram para o produto alimentício. tEstE DE AmostRA ÚNICA Prove esta amostra cuidadosamente. Você pode detectar qualquer sabor estranho? ( ) sim ( ) não Em caso positivo, descreva esse sabor: Descrição Intensidade Traços Regular Forte Comentários: figura 37 – Modelo de ficha para aplicação do teste de amostra única